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O CTB e suas 
Regulamentações 
 
 
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CIRCULAÇÃO INTERNA 
Biblioteca online, sem valor comercial. Proibida a venda e a reprodução. 
Textos extraídos do livro: Processo administrativo de trânsito: análise e comentários da Legislação Brasileira Lei 
9.503/97 e suas Regulamentações, de André Luis Souza de Moura. 
 
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Introdução 
 
Este estudo busca desenvolver o necessário entendimento entre a teoria e a prática 
dos atos e das rotinas dos profissionais do trânsito, sejam esses, fiscalizadores, gestores, 
julgadores e educadores. 
Que este estudo sirva como parâmetro para uma reflexão de todos esses 
profissionais citados, e também, para que sirva como uma pesquisa, ou então, como um 
balizador sobre os pontos mais polêmicos e instigantes da aplicabilidade da norma de 
trânsito em nosso Estado e Pais. 
O universo jurídico se renova a cada obra, individual ou coletiva, que vem a 
público, consolidando o conhecimento, bem maior da sociedade e que não pode se 
caracterizar como monopólio em um Estado verdadeiramente democrático. O 
conhecimento é e deve ser de todos e por todos compartilhado. 
A mobilidade dos centros urbanos, em amplo crescimento, e as comunicações 
entre os diversos pontos geográficos de nosso país, historicamente concentradas nas vias 
terrestres, compõem uma realidade social, econômica, educacional, política e cultural, 
que fizeram por dar coro a um novo ramo do Direito, o Direito de Trânsito, ainda pouco 
explorado nas instituições de ensino e nos programas de pós-graduação, lato e stricto 
sensu. Exemplo maior desse movimento jurídico, o (novo) Código de Trânsito Brasileiro, 
instituído pela Lei 9.503197, e que passou a ser objeto de regulamentação basicamente a 
partir da década pretérita, como ocorreu com as Resoluções 217/2006 e 404/2012, 
expedidas pelo Conselho Nacional de Trânsito - Contran, que ora se destacam porque 
pertinentes ao tema específico deste trabalho, ou seja, a Autuação de Infração de Trânsito 
e o seu devido processo legal. 
No alinhamento, o devido processo legal, não apenas sob seu aspecto formal, mas 
também substancial, vem explicitado de forma minuciosa e esclarecedora, desaguando na 
abordagem das sanções legais, tais como as duas formas de suspensão do direito de 
dirigir, e, a mais grave, a cassação desse mesmo direito, revelando o espaço jurídico 
pesquisado com juízo descritivo e crítico. 
 
Desejamos a todos, bons estudos! 
 
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Sumário 
 
Capítulo 1- DO AUTO DE INFRAÇÃO DE TRÂNSITO............................... 3 
 
Capítulo 2 - DO DEVIDO PROC ESSO LEGAL............................................ 23 
 
Capítulo 3 - DA SUSPENSÃO DO DIREITO DE DJRIGJR........................... 43 
 
Capítulo 4 - O PROCESSO ADMINISTRATIVO: CONFLITO COM O 
PRINCÍPIO CONSTITUCIONAL DO ART. 37 DA CRFB/88...................... 
 
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CONSIDERAÇÕES FINAIS .......................................................................... 66 
 
REFERÊNCIAS.............................................................................................. 70 
 
ATIVIDADES AVALIATIVAS..................................................................... 71 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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Capítulo 1 
DO AUTO DE INFRAÇÃO DE TRÂNSITO 
 
1.1 - DO ATO ADMINISTRATIVO 
 
"Assim, ao praticar um determinado ato administrativo, a Administração 
Pública ficará adstrita ao efeito jurídico único, no caso de atos vinculados, 
ou aos efeitos jurídicos legalmente possíveis, no caso de atos discricionários. 
De qualquer forma, não é a Administração Pública, mas a lei aplicável que 
determina quais são os efeitos jurídicos resultantes (mesmo quando for 
possível a sua eleição dentre vários legalmente previstos) da prática de um 
determinado ato administrativo. " 
Maffini, 2009 
 
O contexto atual do trânsito no País é algo muito impactante na vida de nossas 
pessoas e na realidade da Administração Pública. 
O Código de Trânsito Brasileiro, Lei 9.503/97, está entre as dez Leis mais 
completas e rigorosas de trânsito do mundo. 
Temos convicção de que, entre os aspectos relevantes que qualificam a nossa Lei 
atual, evidenciam-se os seguintes: Resgate de Valores Sociais, Municipalização, 
Educação para o Trânsito, Responsabilidade, Devido Processo Legal (matéria deste 
trabalho), Tipificação dos Crimes de Trânsito e Punição. 
Vamos analisar esses aspectos relevantes em um breve histórico: 
 
1.1.1 - Resgate de Valores Sociais 
 
Se analisarmos o Estado Democrático de Direito em que vivemos, podemos 
visualizar em todo o ordenamento jurídico a busca pelos mais elementares valores sociais 
através de nossas Leis. 
Basta vermos a Lei de Diretrizes e Bases da Educação, o Estatuto da Criança e do 
Adolescente, o Estatuto do Idoso, o Código de Defesa do Consumidor, a Lei Maria da 
Penha e, inclusive, o Código de Trânsito Brasileiro. 
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Todas as Leis, atualmente, tutelam os valores sociais. 
No CTB, evidenciamos esse aspecto ao encontrarmos termos como: respeito à 
vida, respeito ao meio ambiente, à cidadania etc... 
Por ce1io que essa análise se faz no ponto de vista elementar para fundamentar o 
presente estudo, caso não fosse assim, teríamos que adentrar aspectos filosóficos e 
sociológicos para aprofundar um pouco mais essa contextualização. 
Cabe frisar que a mudança de um Estado Ditatorial para o Estado Democrático é 
o ponto de partida para essa constatação, todavia, nosso Estado Democrático de Direito 
com seus acertos e suas falhas, possíveis ele correções, é um marco imprescindível e 
irrenunciável para os avanços da sociedade brasileira. 
 
1.1.2 - Municipalização 
 
Diferente do que a maioria de nossa população interpretou sobre esse aspecto, a 
municipalização do trânsito referida pela Lei 9.503/97 não se resume na criação do 
Agente Municipal de Trânsito. 
Muito pelo contrário! 
A criação dos Agentes Municipais é uma faculdade, uma possibilidade do gestor 
público. 
O dever, a obrigatoriedade legal desse gestor é criar a estrutura mínima de trânsito 
em seu Município, ou seja, nomear uma autoridade de trânsito (senão o prefeito o é), 
decidir se cria, ou não, o seu próprio contingente de agentes municipais (se não, deve 
conveniar com o Estado para que a Polícia Militar possa agir em nome do município) e 
criar a Junta Administrativa de Recursos - JARI, a qual dará guarida para o direito 
constitucional da ampla defesa e do contraditório - o devido processo legal - objeto do 
presente estudo. 
Não obstante, conforme previsão legal no CTB, o Município tem sua 
responsabilidade direta pela competência que a Lei determinou. 
Isso faz com que aconteçam algumas distorções. Exemplo 
 
1 - Área Azul: 
Conforme o art. 24 do CTB: (in verbis) 
 
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Art. 24. Compete aos órgãos e entidades executivos de trânsito dos 
Municípios, no âmbito de sua circunscrição: 
(...) 
VI - executar afiscalização de trânsito, autuar e aplicar as medidas 
administrativas cabíveis, por infrações de circulação, estacionamento 
e parada previstas neste Código, no exercício regular do Poder de 
Polícia de Trânsito. 
 
Cabe ressaltar que os estacionamentos rotativos (área azul) com suas definições 
emanadas pela Resolução 302/Contran/2009, são de competência dos Municípios e 
observam os princípios constitucionais, em especial, o direito de ir e vir no espaço 
democrático; todavia, o condutor/proprietário, quando desrespeitar a regulamentação 
desse espaço, estará passivo de punição prevista no art. 256 do CBT, qual seja: multa. 
Parece elementar, mas o detalhe reside no valor dessa multa. 
Deve ser observado o constante no art. 258 e seus incisos do CTB. 
Qualquer outro valor pode gerar as responsabilidades legais para a Autoridade 
Municipal de Trânsito, inclusive Improbidade Administrativa. 
E o segundo exemplo diz respeito aos veículos de tração humana ou animal. 
Segundo previsão legal do § 1° do art. 141 do CTB têm-se que (in verbis) 
 
§ 1° A autorização para conduzir veículos de propulsão humana e de 
tração animal ficará a cargo dos Municípios. 
 
Ou seja, a Autoridade de Trânsito Municipal deve adotar as medidas pertinentes 
legais e executivas no que diz respeito à autorização para a condução de bicicletas 
elétricas e carroças (entre outros) bem como a identificação dos respectivos veículos e 
seus proprietários. 
Na maioria dos casos, os Municípios aguardam que essa regulamentação, tanto no 
que diz respeito ao condutor como ao veículo, seja efetuada por parte dos Órgãos 
Executivos Estaduais - Detrans; todavia, esses até podem ser os facilitadores 
operacionais, por terem o gerenciamento e controle do sistema informatizado, no entanto, 
somente disponibilizam a estrutura mediante convênio com o Órgão de Trânsito 
Municipal. 
 
 
 
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1.1.3 Educação para o Trânsito 
 
Merece destaque esse tema, como um aspecto relevante do CTB, uma vez que tem 
em seu capítulo VI, do art. 74, ao 79, as bases para a educação no trânsito em nosso País. 
Na primeira norma deste capítulo, art. 74 o legislador foi taxativo em estabelecer: 
(in verbis) 
 
Art. 74. A educação para o trânsito é um direito de todos e constitui 
dever prioritário para os componentes do sistema nacional de trânsito. 
 
Eis a importância da educação. A começar pela divulgação e pelo estudo da 
composição e da competência do Sistema Nacional de Trânsito. 
E ainda, quem nunca escutou no rádio ou na televisão, ou não leu em algum jornal 
ou até mesmo nas redes sociais, que temos que criar uma lei para colocar o trânsito 
como matéria na escola? 
Bem; em nosso Código de Trânsito, desde sua promulgação em 1997, resta 
explicitada no art. 76 a seguinte norma: (in verbis) 
 
Art. 76. A educação para o trânsito será promovida na pré-escola e 
nas escolas de 1º, 2° e 3º graus, por meio de planejamento e ações 
coordenadas entre os órgãos e entidades do Sistema Nacional de 
Trânsito e de Educação, da União, dos Estados, do Distrito Federal e 
dos Municípios, nas respectivas áreas de autuação. 
 
Logo, não precisamos criar Lei alguma, mas, sim, precisamos de Gestor Público 
com conhecimento da Lei 9.503/97 pois, assim, com a transmissão de conhecimentos e 
capacitação de professores é possível, mesmo nos Municípios, o desenvolvimento da 
educação para o trânsito, nas escolas. 
Estamos em momento muito propenso para uma maior reflexão, uma vez que a 
ONU e a OMS decretaram no ano de 2011 a Década Mundial de Ações no Trânsito. 
Diante deste fato, esperamos que não só o Poder Público, mas também todas os segmentos 
da sociedade civil organizada e entidades de classe formem parcerias em prol do 
patrimônio mais precioso do ser humano, qual seja, "a vida". 
 
1.1.4 Responsabilidade 
 
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Diferentemente do que a Lei anterior preconizava, o CTB distribuiu a 
responsabilidade não somente para o condutor/infrator, mas também para o proprietário, 
para o transportador e o embarcador. 
Prova está no que diz respeito à identificação elo condutor em caso ele infração 
apurada mediante equipamento eletrônico. 
 
 
Conforme prevê o § 7° do art. 257 do CTB, não sendo imediata a identificação elo 
infrator, o proprietário do veículo terá quinze dias ele prazo, após a Notificação de 
Autuação (estudaremos o assunto mais adiante) para apresentá-lo, na forma em que 
dispuser o Contran, ao fim do qual, não o fazendo, será considerado responsável pela 
infração. 
Eis uma prova do princípio da responsabilidade do proprietário do veículo. 
É diferente a situação, quando o proprietário for pessoa jurídica, conforme a 
Regulamentação dada pelo § 8º do mesmo art. 257 do CTB, combinado com a 
Resolução 393/Contran/2011 a qual traz a seguinte normativa: (in verbis) 
 
Resolução 393, de 25.10.2011 
Altera a Resolução 151, de 08.10.2003, do Conselho Nacional de 
Trânsito/Contran, que dispõe sobre a unificação de procedimentos 
para imposição de penalidade de multa a pessoa jurídica proprietária 
de veículos por não identificação de condutor infrator. 
O Conselho Nacional de Trânsito - Contran, no uso das atribuições que 
lhe confere o inc. I, do art. 12, da Lei 9.503, de 23.09.1997, que institui 
o Código de Trânsito Brasileiro, e c01iforme o Decreto 4. 711, de 29. 
05.2003, que dispõe sobre a coordenação do Sistema Nacional de 
Trânsito, 
Considerando o que consta nos Processos Administrativos 
80000.04702012010-63 e 80000.00868112010-73, resolve: 
Art. l°. O caput do art. 2º da Resolução 151, de 08.10.2003, do 
Contran, passa a vigorar com a seguinte redação: 
"Art. 2º. O valor da penalidade de multa de que trata o artigo anterior 
será obtido multiplicando-se o valor previsto para a multa originária 
pelo número de infrações iguais cometidas no período de doze meses". 
Art. 2º. Esta Resolução entra em vigor na data de sua publicação. Júlio 
Ferraz Arcoverde - Presidente. 
 
Para saber mais sobre a Década de Ação pela Segurança no Trânsito acesse: 
http://www.denatran.gov.br/download/decada/Proposta%20ANTP-CEDATT-
Instituto%20de%20Engenharia%20SP.pdf. 
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Logo, uma vez que a pessoa jurídica não possui CNH, a sua responsabilidade 
consiste na apresentação do referido condutor/infrator, sob pena de pagamento do maior 
valor da multa. 
 
1.1.5 Tipificação dos Crimes de Trânsito 
 
Esse princípio é muito relevante no CTB, uma vez que aos infratores envolvidos 
nos delitos de lesão corporal culposa, com os agravantes de conduzir sob influência de 
álcool ou qualquer outra substância psicoativa que determine dependência, ou 
participando em via pública, de corrida, disputa ou competição automobilística, de 
exibição ou demonstração de perícia em manobra de veículo automotor, não autorizada 
pela autoridade competente - e, ainda, existe previsão legal para o alcance da Lei 9.099/95 
no que diz res- peito à transação penal - assim, o infrator autuado em flagrante, 
devidamente homologado pela autoridade de polícia judiciária, terá em seu prontuário o 
registro do cometimento do delito, não sendo mais, se cometer outro delito de trânsito, 
caracterizadocomo primário, conforme o § 1° do art. 291 do CTB. 
Nos demais delitos em espécie, do CTB, é possível o instituto da transação penal, 
conforme estabelece o caput do artigo 291. 
 
1.1.6 Punição 
 
Pois bem. Nesse princípio temos a constatação de que o falatório popular da tal 
indústria da multa é passível de reforma. 
Primeiro porque, além de não acreditar em tal indústria, por já ter sido agente de 
fiscalização, digo que não existe. 
E segundo, porque, mesmo se interpretarmos que exista tal indústria, não existe a 
possibilidade de qualquer agente de fiscalização autuar algum condutor que não tenha 
cometido alguma infração. 
Assim, para quem acha que existe a tal indústria da multa, deixo uma convocação: 
Vamos quebrá-la? É só não cometer nenhuma infração. 
O CTB, em seu art. 256, tem taxativamente sete punições: 
1) Advertência por escrito (regulamentada pela Resolução 
404/Contran/2012, a qual entrará em vigor em julho de 2013 conforme 
Resolução 424/2012); 
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2) Multa (ou seja, é penalidade e não pode ser encarada pela autoridade 
competente como simples arrecadação uma vez que existe o art. 320 do CTB, 
a Resolução 191 do Contran, a Lei 8.429/92 - Improbidade Administrativa, a 
Lei Fiscal e alguns apontamentos de Tribunais de Contas de alguns Estados); 
3) A Suspensão do Direito de Dirigir (essa acontece após o somatório de 20 
pontos, pelo cometimento de algumas infrações específicas do CTB ou por 
determinação judicial); 
4) A apreensão do veículo (conforme descrevemos no princípio da 
responsabilidade); 
5) A cassação da CNH (a qual até 2012 nunca fora regulamentada no Estado 
do RS); 
6) A cassação da permissão (no entendimento deste autor, um equívoco do 
legislador, uma vez que, observados o devido processo legal e o prazo de 
validade da permissão que é de 12 meses, dificilmente pode ser aplicada); e 
por fim 
7) A frequência obrigatória em curso de reciclagem (penalidade esta 
geralmente aplicada em consonância com a suspensão do direito de dirigir). 
 
Assim, temos que a multa é uma penalidade tal como a multa prevista na Lei 
tributária, não podendo ser utilizada pelo gestor como um mero marco arrecadatório. 
E por fim, o Devido Processo Legal, aspecto este, objeto de uma análise mais 
minuciosa neste estudo. 
Para que todos os envolvidos na temática do trânsito possam aprofundar os seus 
conhecimentos, diversos segmentos da nossa Administração Pública no Estado do Rio 
Grande do Sul e várias Instituições da Sociedade Civil Organizada, vêm desenvolvendo 
cursos, palestras e variados eventos sobre os aspectos evidenciados acima. 
O presente estudo pretende esclarecer o quanto é necessário entendermos e 
aceitarmos que o tema Trânsito deve ser encara- do como uma ciência. 
Precisamos cada vez mais de um olhar específico de cada área, humana e exata, 
para que, a partir de então, após a maturidade em cada ciência, se possa atuar em conjunto 
e transdisciplinarmente. 
O grande e grave problema é que iniciamos o processo de maneira inversa, ou 
seja, tentamos trabalhar de forma transversal um conteúdo muito amplo, específico e que 
não dispunha de um olhar mais científico por parte de seus operadores. 
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Como nos diz Santos: 
 
Apesar da garantia legal, por intermédio de um direito humano 
fundamental específico erigido pelo código de trânsito, de um trânsito 
em condições seguras, a realidade é caótica e notória, com estradas 
precárias, vítimas diárias, desrespeito constante, prejuízos 
econômicos, ausência de comprometimento de todos com o direito 
fundamental promulgado, gerando uma crise na sociedade em 
encontrar soluções que correspondam aos anseios de um trânsito de 
realidade distinta do nosso dia a dia. (2009, p. 26) 
 
Assim, imperioso se faz aprofundarmos o estudo sobre Direito de Trânsito e mais 
especificamente ainda, sobre o complexo Processo Administrativo de Trânsito. 
Primeiramente, precisamos lembrar que todo o ato emanado pelo ente público, 
nomeado pela autoridade competente (prefeito ou governador), como por exemplo, a 
autoridade de trânsito; para ter sua validade, devem ser observados os mais elementares 
princípios do direito administrativo, ou seja: deve observar "o interesse público, a 
legalidade, a impessoalidade , a moralidade , a publicidade, a eficiência, a motivação e a 
razoabilidade. " 
Esse entendimento advém de nossa Constituição Federal e é, sem dúvida alguma, 
um dos pilares de um Estado Democrático de Direito. 
Não se pode esquecer, nem querer desvirtuar, que estes princípios constitucionais 
não respeitam uma hierarquia entre si, conforme ensina o mestre Humberto Ávila: 
 
A busca de uma definição mais precisa de princípios jurídicos é 
necessária. Não tanto pela diferença da denominação, mas pela 
distinção estrutural entre os fenômenos jurídicos que se procura 
descrever mediante o emprego de diversas categorias jurídicas. Ora, 
tanto a doutrina como a jurisprudência são unânimes em afirmar que 
as normas jurídicas mais importantes de um ordenamento jurídico são 
os princípios. Do próprio ordenamento jurídico brasileiro constam 
normas positiva ou doutrinariamente denominadas de princípios, 
alguns fundamentais, outros gerais. Sua definição não pode, por isso, 
ser equívoca, antes deve ser de tal forma formulada, que a sua 
aplicação diante do caso concreto possa ser intersubjetivamente 
controlável. 
 
Permitindo que, observado um, se possa anular os demais. Não é isso, sendo 
completamente equivocado este entendimento. O que a norma exige, é uma aplicação 
conjunta deles, permitindo assim, uma eficácia no atendimento do interesse público. 
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Nesse sentido, ensina Celso Antônio Bandeira de Mello, no que diz respeito à 
hierarquia das normas: 
 
Violar um princípio é muito mais grave que transgredir uma norma 
qualquer. A desatenção ao princípio implica ofensa não apenas a um 
específico mandamento obrigatório, mas a todo o sistema de 
comandos. É a mais grave forma de ilegalidade ou 
inconstitucionalidade, conforme o escalão do princípio atingido, 
porque representa insurgência contra todo o sistema, subversão de 
seus valores fundamentais, contumélia irremissível a seu arcabouço 
lógico e corrosão de sua estrutura mestra. 
 
É flagrante a soberba estatal no que diz respeito à ordem ou ao surgimento dos 
princípios da administração pública. 
Conforme já escrevi em: "A Supremacia do interesse público sobre o interesse 
privado e a garantia absoluta da Administração Pública sobre o particular". 
Dentre os princípios elementares do direito administrativo, no que tange ao 
princípio do "Interesse Público", poderíamos dizer que é o mais relevante no que diz 
respeito à máxima da autoridade ou da soberba aplicada por parte da administração 
pública para os seus cidadãos. 
Muito embora nossa doutrina diga peremptoriamente que não existe hierarquia 
entre os princípios e que a aplicação desses deve ser harmonizada, sob a tutela do tal 
"interesse público" alguns atos administrativos praticados pelos agentes públicos 
configuram-se totalmente distanciados elos demais princípios do direito administrativo e, 
consequentemente, retratamuma errada interpretação e desigual, entre o Estado e o 
Cidadão, ou seja, entre o administrador e o administrado. 
O princípio do Interesse Público diz respeito à coisa pública, a "res publica" , à 
satisfação do interesse público, ou seja, a favor elo povo e não contra ele, porém, em 
sobreposição quando existir colisão ele direitos. 
Constitui-se assim em um elos vetores, se não o mais relevante, no que diz respeito 
ao regime jurídico-administrativo, como nos leciona o professor Rafael Maffini em seu 
Direito Administrativo, entre outros doutrinadores, apesar ele que existe a possibilidade 
ela correção ou ela revisão de seus atos, conforme restou sumulado pelo Supremo 
Tribunal Federal na Súmula 473. 
É nesse princípio que temos também, o muito falado "poder ele polícia" que se 
caracteriza pelo dever/poder ela administração pública; em outras palavras, por sua 
finalidade. 
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Ocorre que, diante ela fé pública e em decorrência desse poder de polícia, a 
administração pública coloca-se muito distante no quesito igualdade para com os seus 
administrados. 
Essa desigualdade, aliada à falta ele conhecimento jurídico-administrativo elos 
nossos servidores públicos, faz com que os seus atos, ou seja, os atos administrativos 
emanados por toda a administração sejam fortes, vorazes e em ordem decrescente, como 
se fossem emanados de cima para baixo. Uma gangorra, na qual no topo, está o 
administrador, e no nível inferior, o administrado. 
O problema é que os princípios administrativos existem para a garantia do povo 
e não somente, ou exclusivamente, para as garantias do Estado. 
O princípio do Interesse Público, se bem observado, visa entre outros aspectos o 
cumprimento de todos os demais princípios do direito administrativo, como, por exemplo, 
a legalidade, a impessoalidade, a moralidade, a publicidade, a eficiência, a motivação e a 
razoabilidade. Por quê? Simples. Porque a razão maior de ser do Estado, a sua finalidade, 
é a satisfação do povo. Logo, é o interesse público que permeia, ou deveria permear os 
atos da administração. 
Como isso não ocorre, temos por de trás desta interpretação e aliada à fé pública 
e à legitimidade dos atos administrativos, uma inversão de valores e de aplicabilidade do 
princípio do Interesse Público. 
Esta inversão faz com que o público se sobreponha ao privado. 
O povo se inclina para a Administração Pública. 
As garantias do público ficam evidentemente sobrepostas às garantias da 
sociedade. 
Se estivéssemos falando de um regime autoritário, tudo bem. Porém estamos 
analisando um momento vivido em um Estado Democrático de Direito. 
Estamos instigando uma visão de que o Estado e sua concepção político-jurídica 
são necessários e advêm para e pelo povo, e não ao contrário. 
O princípio do Interesse Público deve ser bem mais debatido e muito melhor 
aplicado por parte da administração pública em geral, sob pena de estar ela própria 
infringindo os mais elementares pilares da nossa Constituição e do nosso regime 
democrático. 
 Ou seja, em nosso entendimento e na doutrina também, não existe hierarquia 
entre os princípios; todavia, INSISTE a administração pública em não observar tais 
considerações. Logo, como parte interessada e priorizando os interesses coletivos de 
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nossa sociedade, cabe a essa mesma Administração Pública ou revisar seus atos eivados 
de vícios ou então, ter reformados seus erros diante do Poder Judiciário. 
Neste sentido, é necessário que o agente público trate o ato de lavratura do Auto 
de Infração de Trânsito (AIT) como um "ato administrativo", como um fato jurídico 
perfeito, existente no mundo jurídico, tal qual o magnífico e clássico Pontes de Miranda 
ensina: "Fato jurídico é, pois, o fato ou o complexo de fatos sobre o qual incidiu a regra 
jurídica; portanto, o fato de que dimana, agora, ou mais tarde, talvez condicionalmente, 
ou talvez não diname, eficácia jurídica. Não importa se é singular, ou complexo, desde 
que, conceptualmente, tenha unidade." 
A problemática reside justamente no entendimento e no esclarecimento por parte 
do Órgão de Trânsito - OTR, do seu papel e do que está fazendo em prol de seus cidadãos. 
Tanto é verdade que o Conselho Nacional de Trânsito - Contran, editou na data 
de 10.12.201 O, com publicação em 22.12.2010, a Resolução 371 que aprova o 
Manual Brasileiro de Fiscalização de Trânsito, volume I - Infrações de competência 
municipal, incluindo as concorrentes dos órgãos e entidades esta- duais de trânsito e 
rodoviários. 
Surgem então, após quatorze anos de promulgação de nossa lei de trânsito, 
especificações essenciais para o ato coercitivo dos agentes. 
É um bom sinal para o amadurecimento do tema do Direito de Trânsito como uma 
especialidade do Direito Contemporâneo. 
O momento do preenchimento do AIT deve ser entendido por parte de todos, como 
o momento crucial em que a Administração Pública tem de agir em prol da coletividade, 
por isso, deve ser tratado como um Ato Jurídico Perfeito. 
Errar o seu preenchimento é deixar de poder agir em nome da Administração 
Pública quando da constatação de um ato infracional. 
Este entendimento ainda não existe. Prova é que muitos agentes de fiscalização 
ainda dizem: "Estão desfazendo o meu trabalho!" quando tem um AIT anulado, mas, na 
realidade, foi ele mesmo, esse Agente, que não entendeu e não encarou a sua atividade 
em nome da Administração Pública, cometendo o que o Direito Administrativo chama de 
"ato falho", da mesma forma que acontece com muitos outros atos administrativos 
efetuados por gestores públicos que desconhecem os limites de suas competências. 
 
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Textos extraídos do livro: Processo administrativo de trânsito: análise e comentários da Legislação Brasileira Lei 
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1.2 - DA LAVRATURA DO AUTO DE INFRAÇÃO DE TRÂNSITO 
 
Entendido, pois, que o preenchimento, ou seja, a lavratura de um Auto de Infração 
de Trânsito é um ato administrativo, passamos então a explorar os requisitos de sua 
existência. 
Nossa matéria encontra guarida na normatização do Capítulo XVIII, Do Processo 
Administrativo, Seção 1 - Da Autuação, art. 280 e seguintes da Lei 9.503/97 que instituiu 
o Código de Trânsito Brasileiro, sendo observadas ainda, as Resoluções 2 l 7/2006 e 
404/12, ambas do Conselho Nacional de Trânsito (Contran). 
Em primeiro lugar, é preciso lembrar que obrigatoriamente todos os campos do 
respectivo AIT devem ser preenchidos corretamente, com a maior clareza e objetividade 
possível, pois aquela simples "multa" não é um formulário em que se respondem 
perguntas, mas um Ato Administrativo, e, como tal, precisa obedecer ao art. 37 da 
Constituição Federal. 
Exemplo categórico é o bendito "logradouro". 
Logradouro é o local do cometimento do ato infracional, logo, deve estar 
devidamente identificado com a mais pura realidade possível. 
Deve ser descrito criteriosamente o local (rua, avenida, travessa, alameda, beco, 
praça ou rodovia) com o seu numeral, quilômetro, ou então, não sendo possível identificar 
com exatidão o número ou o km, exige-se a descrição de um ponto de referência que 
permita à autoridade de trânsito responsável pelo AIT que irá homologar o pertinente 
AIT, não ter dúvida desse local. Exemplo: "próximo ao n. ou ao km tal, no sentidocentro-
bairro ou Município tal - Município tal etc..." 
Nunca algo vago como: "Av. Ipiranga", na medida em que, em Porto Alegre, no 
RS, por exemplo, a Avenida Ipiranga possui uma grande extensão atravessando mais de 
quatro bairros. Outro exemplo é registrar como logradouro a "BR 116", uma das mais 
extensas rodovias no RS e no País. 
Além do logradouro, todos os campos do AIT devem estar corretamente 
preenchidos, e nesse ponto, cabe salientar a motivação de determinadas condutas 
infracionais. 
No preâmbulo de nossa conversa, ressaltei a importância do Manual Brasileiro de 
Fiscalização de Trânsito, pois, conforme o entendimento deste autor e pesquisador na 
área, necessária se fazia tal medida desde o surgimento da Lei 9.503/97 - o CTB. 
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Existem, em nossa Legislação de Trânsito, alguns artigos que descrevem mais de 
uma conduta infracional, exemplo: 
 
Art. 208. Avançar o sinal vermelho do semáforo ou o de parada 
obrigatória. 
Esse é um típico caso também, de motivação do ART. Sobre motivação, 
temos a seguinte definição por Maffini: 
Por motivação ou fundamentação entenda-se o dever de a 
Administração Pública externar, prévia ou contemporaneamente, quais 
fundamentos fático-jurídicos embasam a sua atuação, bem como sua 
conexão com o resultado pretendido. Dessa forma, não basta a 
divulgação tão somente do resultado da conduta administrativa, 
apresentando-se necessária também a divulgação das razões que 
levaram à sua concretização. 
 
Lembramos que Motivação do Ato Administrativo é, hoje em dia e 
doutrinariamente, necessária em todos os Atos da Administração. 
No caso da tipificação infracional do supracitado art. 208 do CTB, indaga-se: Qual 
conduta incorreta foi cometida? 
O infrator avançou o sinal vermelho ou a parada obrigatória? 
Ou cometeu as duas infrações ao mesmo tempo? 
A motivação do AIT irá sanar essa dúvida, devendo estar explícita na lavratura do 
AIT para a correta aplicação da sanção administrativa, ou seja, da multa e suas 
consequências. 
Observem como é importante a motivação e seus reflexos. Primeiramente os atos 
devem ser motivados, por si só; em segundo lugar, tal motivação acaba influenciando os 
aspectos da legitimidade dos atos, da publicidade dos mesmos e por fim, da eficácia ou 
finalidade de sua origem. 
O motivo de uma autuação de trânsito é a infração cometida. 
Recentemente em análise de DEFESA de autuação, o Órgão Autuador da Cidade 
de Prto Alegre/RS assim se manifestou: 
 
Processo D20m0174063-9 Auto de Infração: 1.711.787 
Órgão Autuador: 288.010 
Parecer 
O Requerente, qualificado nos autos de fl. 01, comparece à Empresa 
Pública de Transporte e Circulação - EPTC -para contestar infração 
constante no art. 181, VIII do CTB. Em sua defesa alega não existir 
faixa de pedestres no local indicado no Auto de Infração. 
Ao analisarmos a defesa percebe-se que, embora o requerente não 
tenha comprovado o não cometimento de ato infracional, não existe 
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16 
 
faixa de pedestres 110 número predial 445 da rua Lima e Silva (fls. 
15 e 16), tendo o agente de trânsito equivocando-se na lavratura do 
Auto de Infração, tomando-se insubsistente o Auto de Infração. 
Assim, com base no exposto, manifesto-me pelo acolhimento da defesa 
e a desconstituição do Auto de Infração. 
É a parecer. 
Porto Alegre, 25 de julho de 2011. 
 
Ainda, em um Auto de Infração que foi lavrado, no quesito FORMA, totalmente 
irregular, no que tange ao LOGRADOURO na Capital do Estado do RS: 
 
Inexiste o logradouro Padre Tomé n. 274. A rua Padre Tomé, na área 
central de Porto Alegre, inicia-se na Av. Mauá e tem seu fim na rua dos 
Andradas (Rua da Praia). No seu fim, junto a Rua dos Andradas, sequer 
existe semáforo e a última numeração existente na rua Padre Tomé é 
n. 200; 
A lavratura de um Auto de Infração de Trânsito é um ATO ADMINIS- 
TRATIVO, logo, esse Ato Administrativo deve ter observado os 
Princípios Básicos do Direito Administrativo, no caso em tela, a 
FORMALIDADE. 
Assim, Comunicamos o deferimento da defesa interposta pelo 
proprietário do veículo, com relação ao Auto de Infração de Trânsito 
de número 121101/BM02845376, o qual restou cancelado, não 
gerando qualquer efeito. 
Porto Alegre, 22 de dezembro de 2011. 
Pref Mun. de Porto Alegre. 
 
Falar e entender o Auto de Infração de Trânsito como ato administrativo, é, sem 
dúvida alguma, entender e cumprir com esses requisitos elementares do direito 
administrativo e jamais confundir a discricionariedade com a subjetividade do agente 
público. 
A discricionariedade, em um primeiro momento, merece ser observada sob dois 
aspectos: o técnico e o usual, ou seja, os preceitos normativos e a situação fática do 
cotidiano das várias especificidades ela administração pública. 
Com esse enfoque, temos que para os agentes públicos, tecnicamente falando, 
resta a concreta e minuciosa análise da lei e de sua eficácia, dentro da proporcionalidade 
e da realidade que o fato requeira. 
A não observação dessas considerações distanciaria os conceitos de 
discricionariedade, alcançando as características unicamente do poder vinculado. 
Como nos leciona o professor Maffini, 
 
A discricionariedade não decorre de falta de regras legais que 
preve1am a atuação administrativa. E de ser lembrado que, no Direito 
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Administrativo, a falta de regras legais sobre uma de- terminada 
conduta não induz a liberdades, mas à proibição. Do mesmo modo, a 
discricionariedade não resulta das entrelinhas de regras legais. Não se 
trata, pois, de uma espécie de sobra da lei; ao contrário, a 
discricionariedade consiste numa técnica de concretização do 
princípio da legalidade, que decorre de uma atribuição legal expressa 
de competência. 
 
O grande perigo é o conflito sobre o entendimento desse Poder da Administração 
Pública por parte de seus agentes com a subjetividade dos mesmos. 
Em todos os atos administrativos, observar os limites da discricionariedade é 
observar uma forma ou uma condição preestabelecida por essa mesma administração 
pública de como agir em alguns determinados atos. 
Agir única e exclusivamente pela sua interpretação é agir com a observância de 
sua subjetividade e na da discricionariedade como Poder, aproximando-se, e muito, da 
arbitrariedade. 
Na sua aplicação, os agentes públicos devem observar uma possibilidade, dentre 
várias possíveis, para sua aplicação, levando-se em conta os critérios e princípios da 
ordem jurídica e é claro o binômio conveniência e oportunidade. 
Tratando-se de discricionariedade da administração pública, poderíamos dizer que 
a lei admite ou possibilita uma margem de liberdade ao agente público. Todavia, este, 
deve observar os critérios de validade, podendo ocorrer o controle por parte do poder 
jurisdicional no que tange à juridicidade da ação administrativa. 
Logo, conclui-se que alguns fatores são exigidos para a legalidade do exercício do 
poder discricionário: adequação da conduta escolhida pelo agente à finalidade que a lei 
expressa e verificação dos motivos inspiradores da conduta. 
Por outro lado, todos os atos administrativos podem ser submetidos à apreciação 
judicialde sua legalidade, e essa é a natural decorrência do princípio da legalidade. No 
que se refere aos atos discricionários, é importante distinguir dois aspectos. Podem eles 
sofrer controle judicial em relação a todos os elementos vinculados, ou seja, aqueles sobre 
os quais não tem o agente a liberdade quanto à decisão a tomar. No entanto, o controle 
judicial não poderá chegar ao ponto de o juiz substituir o administrador. 
Conclui-se, assim, que o controle judicial alcançará todos os aspectos de 
legalidade dos atos administrativos, não podendo, todavia, estender-se à valoração da 
conduta que a lei conferiu ao administrador. 
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Nos dias atuais, temos doutrinariamente, sob a exegese dos princípios da 
razoabilidade e da proporcionalidade, os valores que podem ensejar o controle da 
discricionariedade, enfrentando situações que, embora com aparência de legalidade, 
chegam a refletir em alguns casos o abuso de poder, o qual atrevo-me a chamar de 
"soberba estatal". 
No entanto, conforme anteriormente já refletido no que tange à "a supremacia do 
Interesse Público sobre o Interesse Privado", invocar o controle por parte do Poder 
Judiciário em relação aos atos e limites dos agentes públicos, preponderantemente, 
necessita de flagrante óbice administrativo por parte da própria administração, no que diz 
respeito aos pressupostos formais e legais de seus atos. 
Ou seja, aos agentes públicos restam os limites da norma positiva em conjunto 
com os critérios previamente normatizados pela administração pública para o seu 
cumprimento, nunca a subjetividade própria, acima de qualquer interesse e da legalidade. 
 
1.3 DOS PRAZOS 
 
Encontrando-se nosso Estado sob a supremacia e a tutela de um Estado 
Democrático de Direito, originado de nossa Constituição de 1988, imperioso se faz 
conjecturar os reflexos advindos dessa mudança de paradigma entre o pré e o pós-1988. 
Teórica e subjetivamente, os avanços adquiridos em nossa Constituição servem 
de garantias individuais e coletivas, para os mais diferentes enfrentamentos entre titulares 
de direitos em posição vertical igualitária. Sim, posição igualitária, uma vez que, mesmo 
defendendo interesses contraditórios, possuem garantias e princípios legais que os 
colocam em igualdade de posição. 
Esta é uma, senão a fundamental, característica diferente da posição, da postura e 
dos reflexos causados pelo Estado - lato sensu, no dia a dia de cada cidadão. 
Sempre que, em uma discussão, em um enfrentamento, temos de um lado a 
Administração Pública, nunca se visualiza a igualdade de posição entre as palies. A 
diferença é crucial e significativa. 
Por vários aspectos e é claro, pelos próprios princípios do direito administrativo, 
com ênfase à presunção de legitimidade, moralidade, legalidade e os demais. 
O que atualmente cabe referir é que a presunção de legitimidade é relativa e pode 
ser rechaçada quando outros tantos princípios não são devidamente observados como o 
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da proporcionalidade, formalidade e o da boa-fé objetiva dessa mesma Administração 
Pública. 
Como originariamente a História nos coloca diante de um Estado, uma 
Administração Pública assistencial e sempre agindo para o povo, são flagrantes os 
resultados de incidência desse Estado na vida em sociedade. 
Para que possamos ter a eficácia e a garantia das normas constitucionais em todo 
o nosso conjunto jurídico e na práxis, necessitamos, pois, observar os limites de atuação 
desse mesmo Estado para com os direitos e garantias individuais. 
 Nosso grande problema é que na teoria, nossa Constituição e os fundamentos do 
Direito Administrativo podem, sim, fazer uma significativa diferença na observância e no 
cumprimento de normas fundamentais para a aplicabilidade de nosso Estado 
Democrat1co de Direito; todavia, nossos cidadãos desconhecem isso, e o pior, ou mais 
triste, nossos servidores públicos, de qualquer esfera federativa, também desconhecem. 
O direito administrativo, se bem aplicado, seria um balizador essencial entre as 
garantias sociais para a atuação legal da Ad- ministração Pública e a nossa sociedade, mas 
não é com isso que nos deparamos. 
Por falta de conhecimento e por utilização intrínseca ele uma "soberba estatal", 
cada vez mais se identifica uma diferença gritante entre as partes e sua posição, sempre 
que uma delas representa a administração pública. E como se fosse uma gangorra. 
A atuação dessa administração pública acaba por ser ferrenha, voraz, 
desigualitária e, muitas vezes, com reflexos relevantes. 
Há limite para a atuação dessa administração pública no dia a dia de cada 
cidadão? Se desejarmos cumprir com todas as normas esculpidas na Constituição cidadã, 
é evidente que sim. Existem limites. E esses limites são os mesmos que garantem a viela 
de cidadãos iguais em sociedade. Ou seja, se cada cidadão deve cumprir com o seu papel 
e ser o mais correto possível, mais ainda o Estado; não basta apenas ao administrador 
exarar normas para os administrados, a eficácia e a garantia de uma sociedade 
democrática e legal permeiam os bons costumes e o cumprimento das leis primeiramente 
e preponderantemente por parte do administrador e seus representantes para que o resto 
ela sociedade, além de as cumprir, saiba que está em igualdade de direitos para com a 
administração pública. 
Os limites elo Estado são os limites e as garantias do nosso Estado democrático 
de direito. 
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Conforme resta estabelecido no CTB e considerando o já capitulado no item 1.1 
deste título, os atos administrativos oriundos da lavratura dos autos de infração ele trânsito 
elevem, necessariamente, observarem os seus prazos para a sua eficácia legal; senão, 
vejamos. 
Primeiramente, é oportuno salientar que a regra da Lei 9.503/97 é a efetiva 
abordagem. 
Medida diferente e excepcional, é normatizada no § 3° do art. 280 e tem a 
necessidade de motivação de sua não observância. 
Logo, pode ocorrer a chamada "multa pelas costas"? Sim, mas o agente deve 
descrever no próprio Auto de Infração de Trânsito os motivos relevantes da não 
abordagem. 
Em seguida deve-se observar que, da data do cometimento de uma infração de 
trânsito, o Órgão de Trânsito responsável pelo fato ocorrido deve adotar primeiramente 
a formal idade de homologar o referido Auto de Infração de Trânsito para que o mesmo 
possa ser cadastrado e inserido no Sistema Informatizado de Infração de Trânsito, o SIT. 
Para que o Auto de Infração de Trânsito seja homologado e inserido no sistema, 
deve ser observado se o mesmo foi preenchi- do dentro de todos os princípios 
administrativos. 
Aqui notamos a fragilidade e a forma amadora, ou o descaso com que nossos 
gestores públicos tratam o tema trânsito, pois inúmeros Autos de Infração de Trânsito são 
homologados sem preencherem os requisitos mínimos dos atos administrativos. 
Nossos governos entram e saem enaltecendo a bandeira e as propostas públicas 
com políticas sobre educação, segurança e saúde, basicamente, e o trânsito? 
Ah, o trânsito! Para essa vaga, coloca-se um de seus cabos eleitorais com maior 
destaque, ou, com maior possibilidade de trazer votos. 
Logo, pouco importase esse futuro gestor público de trânsito conhece ou tem 
aptidão para a função, se é ou técnico. Politicamente, é ele quem vai executar. 
Com o surgimento do CTB, um de seus aspectos relevantes é a questão da 
municipalização do trânsito; todavia, o que nossos Municípios ainda têm carência de 
entendimento é o que significa essa municipalização. 
Na grande maioria, identificam nesse princípio da Lei 9.503197 , única e 
especificamente, o surgimento dos agentes municipais de trânsito. 
Engano. O princípio da municipalização do trânsito contido no CTB nada mais é 
do que a possibilidade dele, Município, criar seus agentes. 
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Mas vejam: a possibilidade. Não a obrigatoriedade. 
O que realmente importa, e isso sim é obrigação do Município, é criar a sua 
estrutura mínima de trânsito, ou seja, nomear uma autoridade municipal de trânsito (no 
silêncio, o Prefeito), criar um corpo próprio de agentes de fiscalização ou então 
conveniar com o Estado (com a participação do Detran e do Cetran) para que seja possível 
à Polícia Militar atuar em nome do Município, e criar e compor a JARI, Junta 
Administrativa de Recursos de Infração ele Trânsito, a qual tem competência legal para 
a execução do devido processo legal, que irá garantir o princípio constitucional da ampla 
defesa e do contraditório e também tratar das questões ele educação para o trânsito. 
Essa é a estrutura mínima do órgão de trânsito municipal. Por exemplo, no que diz 
respeito à participação da Polícia Militar do Estado do RS, a chamada Brigada Mi litar, 
antes de alguém imaginar um retrocesso, gostaria de refletir que a Constituição Estadual 
do RS, em seu "art. 122 traz que trânsito é sua atribuição e é sim segurança pública" , 
logo, nunca a Brigada Militar deixou legalmente de atuar em nossas vias, no entanto, por 
mais de uma década, abdicou sim, inquestionavelmente de sua função. 
Qual o cenário que temos com isso? 
Aqui no RS, por exemplo (2012), aproximadamente mais de quatro gaúchos 
perderam a vida por dia em nossas vias públicas. 
Mais do que isso, o índice de mortalidade no trânsito é maior do que qualquer 
outro crime ou delito, segundo as fontes de estatísticas do IGP - Instituto Geral de 
Perícias, e da SSP - Secreta- ria de Segurança Pública/RS. 
Contextualizadas essas reflexões, voltemos aos prazos dos Autos de Infração de 
Trânsito. 
A homologação do Auto de Infração de Trânsito emitida, deve ser feita pela 
Autoridade de Trânsito ou algum servidor público de carreira, devidamente constituído 
por ato administrativo para tal, junto ao sistema informatizado de Infração de Trânsito. 
Após a homologação, registra-se o Auto de Infração de Trânsito no sistema 
informatizado e, no prazo máximo regulamentar de trinta dias do cometimento da suposta 
infração, deve ser emitida a NAIT -Notificação de Autuação por Infração de Trânsito. 
Para a análise das defesas e dos recursos, de primeira e de segunda instância, 
buscamos no conceito geral do direito administrativo o prazo para que a administração 
pública efetue o encerramento da análise e a aplicação de efetiva penalidade, qual seja: 
cinco anos. 
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Imperioso se faz o seguinte comentário: Se desejamos uma atuação firme, forte e 
eficaz por parte dos entes federativos que atuam no trânsito, Municípios, Estados e 
União, bem como, se o trânsito mata mais do que qualquer outro delito ou crime em nosso 
Estado (país), devemos aprender a cobrar de nossas autoridades uma melhor eficácia e 
comprometimento administrativo e burocrático por parte da administração pública no que 
diz respeito à celeridade do devido processo legal administrativo, sob pena de 
vislumbrarmos nesse aspecto, a desídia, o descaso, a negligência, ou então, o atestado 
público da incompetência da administração pública, que deixa de analisar processos por 
mais de cinco anos. 
Esse prazo não sendo observado, nada mais cabe à Administração Pública do que, 
de ofício, fundamentar a sua preclusão e, por consequência, o instituto da prescrição da 
intenção punitiva ao infrator. 
 
Atividades de Síntese 
 
Vimos neste capítulo, alguns aspectos históricos do CTB e como é 
processado a autuação de trânsito. Faça uma síntese das principais ideias 
deste capítulo. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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Capítulo 2 
DO DEVIDO PROCESSO LEGAL 
 
"É um direito e garantia individual o Princípio Constitucional do Devido 
Processo Legal. Tal princípio pode ser percebido num conjunto de 
determinações legais presentes no texto constitucional, mais precisamente no 
próprio corpo do art. 5º, qual seja, os incisos XXXV, XXXVI, XXXVII, XXXIX, 
XL, XLV, XLVI etc. Esse princípio informa que ninguém, brasileiro ou 
estrangeiro, será privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo 
legal. Este direito e garantia ao devido processo legal pressupõe: a) 
elaboração regular e correta da lei, bem como sua razoabilidade, senso de 
justiça e enquadra- mento conforme aquilo que preceitua a Constituição; b) 
o sentido de lei aqui é em sentido amplo, lato e não stricto e c) aplicação 
judicial da lei, através de instrumento hábil à sua realização e aplicação." 
Pacheco, 2010 
 
Em que pese as desigualdades das partes nas lides de nossos Tribunais quando 
uma delas é a Administração Pública, é possível constatar que, se não existisse o Direito 
Administrativo, isso poderia ser pior. Será? Vejamos: Dentro do nosso Estado 
Democrático de Direito, o Direito Administrativo (pedagogicamente falando) nada mais 
é do que uma garantia para a sociedade dos cumprimentos por parte do Estado (lato sensu) 
dos princípios e das garantias constitucionais, logo, balizada na própria Constituição e 
nos princípios norteadores do direito administrativo, contidos no art. 37. 
Ocorre que, para o direito administrativo ser eficaz, deve ser, além de entendido e 
conhecido por parte da própria administração pública, respeitado e obedecido. No 
entanto, na prática muitas ações dessa administração pública ocorrem maquiadas por um 
tal de "interesse público". Interesse esse que acaba, em alguns casos, por distanciar os 
atos estatais dos princípios constitucionais e do Direito Administrativo evidenciando-se 
assim, uma "soberba estatal", ou seja, um flagrante de desigualdade entre o público e o 
privado. 
A contrario sensu, pensamos então se não existisse o direito administrativo. Seria 
a administração pública balizada somente pelo direito civil? Em igualdade com todo e 
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qualquer cidadão? Essa reflexão não tem como prosperar diante das características do 
nosso estado Democrático de Direito. Não podemos esquecer de que politicamente, nosso 
Estado é constituído de Território, População e Governo. E, para dar equilíbrio e 
harmonia entre esses entes, surge o Direito Público e mais especificamente o Direito 
Administrativo como tutela da sociedade para os atosda administração pública. 
Podemos concluir que, diante do nosso Estado Brasileiro e conforme estabelecido 
em nossa Constituição, são fundamentais os princípios e as garantias sociais estabelecidos 
pelo Direito Administrativo para uma maior eficácia e uma possível equidade nas relações 
entre o público e o privado. Devemos não só conhecer e acreditar nessa parte teórica, 
como também fiscalizar e exigir o cumprimento de todos os seus fundamentos por parte 
de nossos gestores públicos. Utopia? Creio que não. Sonho! Possível com a formação de 
um povo mais político, participativo e educado. 
 
2.1 - DAS NOTIFICAÇÕES - NAIT, NIP E NJJ 
 
Conforme restou normatizado na Resolução 404/Contran/2012, após a verificação 
da regularidade e da consistência do Auto de Infração, a autoridade de trânsito expedirá, 
no prazo máximo de [30 trinta] dias, contados da data do cometimento da infração, a 
Notifica ao, a Autuação de Infração de Trânsito (NAIT) dirigida ao proprietário do 
veículo, na qual deverão constar os dados mínimos definidos no art. 280 do CTB e nas 
demais regulamentações específicas do Contran. 
Não sendo observados esses prazos e essas formalidades, o Auto de Infração de 
Trânsito resta passível de anulação com a Decadência de direito para a Administração 
Pública. 
Os procedimentos para a notificação podem utilizar a remessa postal, sendo que a 
expedição se caracterizará pela entrega da notificação da autuação pelo órgão ou entidade 
de trânsito à empresa responsável por seu envio. 
A não expedição da NAIT no prazo regulamentado de 30 dias enseja o 
arquivamento do auto de infração por parte do Órgão Autuador. 
Vejamos a seguinte Jurisprudência: 
 
Processual civil. Recurso especial. Art. 105, III, "a" e "c", da 
CF/1988. Administrativo. Infração de trânsito. 
Homologação/julgamento do auto de infração. Súmula 7/STJ. 
Penalidade. Prévia notificação. Ampla defesa e contraditório. 
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Aplicação analógica da Súmula 127/STJ. O Código de Trânsito 
impôs mais de uma notificação para consolidar a penalidade de 
multa. Afirmação das garantias pétreas constitucionais no 
procedimento administrativo. Súmula 312/STJ. Auto de 
infração. Condutor (não proprietário) autuado em flagrante. 
Multa relativa ao veículo. Notificação do proprietário. Matéria 
apreciada pela 1ª Seção pelo rito do art. 543-c, cio CPC, e da 
Resolução STJ 8/2008 (REsp. 1.092.154/RS). Ausência de 
assinatura no auto de infração. Necessidade de expedição de 
Notificação de Autuação. Devido processo legal. Violação cio art. 
535, II, do CPC. Inocorrência. 1. O recurso especial não é senil ao 
exame de questões que demandam o revolvimento do contexto fático- 
probatório dos autos, em face do óbice erigido pela Súmula 07/STJ 
2. No caso sub judice, o Tribunal local, no que respeita à 
homologação/julgamento dos autos de infração, analisou a questão 
à luz do contexto fático-probatório engendrado nos autos, verbis: 
(jls. 495, e-STJ) "Ao contrário do que afirma o embargante, o 
julgamento/homologação dos autos de infração de trânsito é ato 
meramente formal, tal qual exposto nas jls. 142 e seguintes dos 
autos". 3. Súmula 312/STJ": No processo administrativo para 
imposição de multa de trânsito, são necessárias as notificações da 
autuação e da aplicação da pena decorrente da infração ". 4. 
Sobressai inequívoco do CTB (art. 280, caput) que à lavratura do auto 
de infração segue-se a primeira notificação in faciem (art. 280, VI) 
ou, se detectada a falta à distância, mediante comunicação 
documental (art. 281, parágrafo único, do CTB), ambas 
propiciadoras da primeira defesa, cuja previsão resta encartada no 
art. 314, parágrafo único, do CTB em consonância com as Resoluções 
568180 e 829192 (art. 2º e l respectivamente, do Contran). 5. Superada 
a fase acima e concluindo-se nesse estágio do procedimento pela 
imputação da sanção, nova notificação deve ser expedida para 
satisfação da contraprestação ao cometimento do ilícito administrativo 
ou oferecimento de recurso (art. 282, do CTB). Nessa última hipótese, 
a instância administrativa somente se encerra nos termos dos arts. 288 
e 290, do CTB. 6. Revelando-se pro- cedente a imputação da 
penalidade, após obedecido o devido processo legal, a autoridade 
administrativa recolherá, sob o pálio da legalidade, a famigerada 
multa pretendida abocanhar açodadamente. 
 
E continua: 
 
7. A ausência de notificação do infrator no praza máximo de 30 
(trinta) dias da infração, implica na decadência do direito de punir 
do Estado, consoante entendimento consolidado pela Primeira Seção 
desta Corte Superior, segundo o qual: "o comando constante do art. 
281, parágrafo único, II, do CTB, é no sentido de que, uma vez não 
havendo notificação do infrator para defesa dentro do lapso de trinta 
dias, opera-se a decadência do direito de punir do Estado" (EREsp. 
803.487/RS, Rei. Min. José Delgado, DJ de 06.11.2006). 8. O auto de 
infração, em ocorrendo a decadência supra, deve ser arquiW1do e seu 
registro julgado insubsistente, consoante o preceito do art. 281, 
parágrafo único, III, do Código de Trânsito Brasileiro, sendo, 
portanto, nulo o respectivo procedimento administrativo. 9. A 
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26 
 
notificação endereçada ao proprietário do veículo ou ao motorista 
infrator objetiva permitir o recolhimento da multa com o desconto 
previsto no art. 284 do CTB. É pacífico o entendimento desta Corte de 
que a penalidade de multa por infração de trânsito deverá ser 
precedida da devida notificação do infrator, sob pena de ferimento aos 
princípios do contraditório e da ampla defesa. O proprietário do 
veículo responde solidariamente com o condutor do veículo. Em outras 
palavras, a responsabilidade do dono da coisa é presumida, 
invertendo-se, em razão disso, o ônus da prova. 10. Deveras, não 
obstante superada a questão atinente à validade da primeira 
notificação feita em flagrante ao condutor do veículo, notadamente 
porque o Código de Trânsito Brasileiro, em seu art. 280, VI, determina 
que deverá constar do auto de infração a assinatura do infrator, sem 
fazer qualquer distinção entre proprietário ou condutor do veículo, esta 
Corte, à luz da exegese do art. 257, §§ ] 2º, 3º e 7° do CTB e do art. 2º 
e 3º da Resolução 14912003/Contran, concluiu que: "(...) nova 
Notificação de Autuação deve ser expedida, mesmo em caso de 
notificação in faciem, quando a infração for relativa ao veículo e, 
portanto, de responsabilidade do proprietário que não estava na 
condução do veículo". (REsp. 824.437/RS, Rei. Min. Eliana Calmon) 
11. A análise do thema, à luz da novel jurisprudência desta Corte e da 
legislação atinente à matéria, conduz à seguinte conclusão: a) a 
notificação in faciem do condutor em flagrante, mediante a assinatura 
do auto de infração, valerá como notificação da autuação quando a 
infração for de responsabilidade do condutor e sendo a infração de 
responsabilidade do proprietário este estiver conduzindo o veículo; b) 
no caso de a infração ser de responsabilidade do proprietário e este 
não estiver conduzindo o veículo, a autoridade de trânsito expedirá, no 
prazo máximo de 30 (trinta) dias contados da data do cometimento da 
infração a Notificação da Autuação dirigida ao proprietário do 
veículo, na qual deverão constar,no mínimo, os dados definidos no art. 
280 do CTB e em regulamentação específica ( art. 3º da Resolução 
14912003/Contran ). 12. A Primeira Seção, quando do julgamento do 
REsp. 1.092.154/RS, representativo da controvérsia (art. 543-C, do 
CPC), reafirmou o entendimento de que: (...) 1. O Código de Trânsito 
Brasileiro (Lei 9.503197) prevê uma primeira Notificação de 
Autuação, para apresentação de defesa (art. 280), e uma segunda 
notificação, posteriormente, informando do prosseguimento do 
processo, para que se defenda o apenado da sanção aplicada (art. 281). 
2. A sanção é ilegal, por cerceamento de defesa, quando inobservados 
os prazos estabelecidos. 3. O art. 281, parágrafo único, II, do CTB 
prevê que será arquivado o auto de infração e julgado insubsistente o 
respectivo registro se não for expedida a notificação da autuação 
dentro de 30 dias. Por isso, não havendo a notificação do infrator para 
defesa no prazo de trinta dias, opera-se a decadência do direito de 
punir do Estado, não havendo que se falar em reinício do 
procedimento administrativo. 4. Descabe a aplicação analógica dos 
arts. 219 e 220 do CPC para admitir seja renovada a notificação, no 
prazo de trinta dias do trânsito em julgado da decisão que anulou 
parcialmente o procedimento administrativo. (...) (Rei. Min. Castro 
Meira, Primeira Seção, julgado em 12.08.2009, DJ de 31.08.2009) 
13.Consectariamente, "não sendo possível colher a assinatura do 
condutor, seja pela falta de flagrante, seja pela sua recusa, a 
autoridade de trânsito deverá proceder à notificação via postal no 
prazo de trinta dias, preservando-se, assim, o jus puniendi estatal" . 
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(2ª T. - REsp. 732.505/RS - Rei. Min. Castro Meira -j. em 19.05.2005 
- DJ 01.08.2005, p. 425) 
 
Conclusão: 
 
ln casu, em se tratando de imposição de penalidades decorrentes de 
autuações em flagrante, e à míngua de assinatura do infrator nos 3 
(três) autos de infração às fls. 105/110 (e-STJ), cumpria à autoridade 
de trânsito a expedição de Notificação de Autuação, em observância 
ao devido processo legal no processo administrativo. Por outro lado, 
os 4 (quatro) autos de infração às fls. 150, 151, 155 e 157 (e-STJ) 
ostentam a assinatura do infrator, de sorte que, consoante assentado, 
valem como notificação da autuação e conjuram a necessidade de 
expedição de Notificação de Autuação. 15. Os embargos de declaração 
que enfrentam explicitamente a questão embargada não ensejam 
recurso especial pela violação do art. 535, II, do CPC, mercê de o 
magistrado não estar obrigado a rebater, um a um, os argumentos 
trazidos pela parte, desde que os fundamentos utilizados tenham sido 
suficientes para embasar a decisão. 16. Recurso especial parcialmente 
conhecido e, nessa parte, parcialmente provido. (REsp. 1.195.178 -
Rei. Mio. Luiz Fux -DJ 17.12.2010) 
 
A Notificação de Autuação por Infração de Trânsito estabelecerá a data do término 
do prazo para a apresentação da Defesa da Autuação pelo proprietário do veículo e/ou 
pelo condutor infrator devidamente identificado, que não será inferior a 15 (quinze) dias, 
contados a partir da data da notificação da autuação ou publicação por edital quando for 
necessária. 
A autoridade de trânsito poderá socorrer-se de meios tecnológicos para verificação 
da regularidade e da consistência do auto de infração. 
Neste ponto cabe ressaltar a inclusão de equipamentos eletrônicos como 
controladores de velocidade conhecidos como "pardais", e de cruzamentos de semáfaros 
ou de paradas obrigatórias, conhecidos como "caetanos". Aliás, para melhor eficácia e 
garantia do devido processo legal, os gestores públicos deveriam dar maior atenção aos 
chamados "caetanos", uma vez que o Código de Trânsito Brasileiro considera esse 
equipamento (desde que devidamente homologado pelo Inmetro) como o mecanismo 
mais eficaz para a tipificação da infração contida no art. 208. 
Os dados do condutor identificado no auto de infração deverão constar na 
notificação da autuação. 
Sendo a infração de responsabilidade do condutor, e este não sendo identificado 
no ato do cometimento da infração, ou seja, não existindo abordagem, a notificação da 
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autuação deverá ser acompanhada do Formulário de Identificação do Condutor Infrator, 
que deverá conter, no mínimo: 
 
 a identificação do órgão ou entidade de trânsito responsável pela autuação; 
 os campos para o preenchimento da identificação do condutor infrator com 
o seu respectivo nome e números de registro dos documentos de 
habilitação, identificação e CPF; 
 campo para a assinatura do proprietário do veículo; campo para a 
assinatura do condutor infrator; 
 a placa do veículo e número do auto de infração; 
 a data do término do prazo para a identificação do condutor infrator e 
interposição de defesa da autuação; 
 o esclarecimento das consequências da não identificação do condutor 
infrator, nos termos dos §§ 7º e 8º do art. 257 do CTB; bem como as 
instruções para que o Formulário de Identificação do Condutor Infrator 
seja acompanhado de cópia reprográfica legível do documento de 
habilitação do condutor infrator e do documento de identificação do 
proprietário do veículo ou seu representante legal, o qual, neste caso, 
deverá juntar documento que comprove a representação (procuração ou 
Contrato Social). 
 
E ainda, esclarecimento de que a indicação do condutor infrator somente será 
acatada e produzirá efeitos legais se o formulário de identificação do condutor estiver 
corretamente preenchido sem rasuras com assinaturas originais do condutor e do 
proprietário do veículo, ambas com firma reconhecida por autenticidade, e acompanhado 
de cópia reprográfica legível dos documentos relacionados acima; o endereço para 
entrega do Formulário de Identificação do Condutor Infrator; esclarecimento sobre a 
reponsabilidade nas esferas penal, cível e administrativa, pela veracidade das informações 
e dos documentos fornecidos. 
Na impossibilidade da coleta da assinatura do condutor infrator além dos 
documentos relacionados acima, deverá ser anexado a Formulário de Identificação do 
Condutor Infrator o ofício do representante legal do Órgão ou Entidade identificando o 
condutor infrator, acompanhado de cópia de documento que comprove a condução do 
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veículo no momento, do cometimento da infração, para veículo registrado em nome de 
Órgãos ou Entidades da Administração Pública direta ou indireta da União, dos Estados, 
do Distrito Federal ou dos Municípios com cópia, autenticada em cartório, ou pelo órgão 
de trânsito responsável pela autuação, de documento onde conste cláusula de 
responsabilidade por infrações cometidas pelo condutor e comprove a posse do veículo 
pelo condutor no momento do cometimento da infração, para veículos registrados em 
nome das demais pessoas jurídicas. 
No caso de identificação de condutor infrator em que a situação se enquadre nas 
condutas previstas nos incisos do art. 162 do CTB, serão lavrados, sem prejuízo das 
demais sanções administrativas e criminais previstas no CTB, os respectivos autos de 
infração, quais sejam: ao proprietário do veículo, por infraçãodo art. 163 do CTB; e ao 
condutor indicado pela infração cometida de acordo com as condutas previstas nos incisos 
do art. 162 do CTB. 
Ocorrendo a situação descrita acima, o prazo para a expedição da Notificação de 
Autuação por Infração de Trânsito de que trata o inc. II, parágrafo único, do art. 281 do 
CTB, será contado a partir da data do protocolo elo Formulário de Identificação do 
Condutor Infrator junto ao órgão autuador. 
Em se tratando de condutor estrangeiro, além do atendi- mento das normas já 
descritas, deverão ser apresentadas cópias dos documentos previstos em legislação 
específica. 
Não acatada a indicação do condutor infrator, a Autoridade de Trânsito aplicará a 
penalidade, expedindo notificação na forma do art. 282 do CTB. 
O Formulário de Identificação do Condutor Infrator poderá ser substituído por 
outro documento, desde que contenha as informações mínimas exigidas neste artigo. 
Os órgãos de trânsito deverão adaptar seu sistema de informática para possibilitar 
o acompanhamento e averiguações das informações de reincidência de indicação de 
condutor infrator, articulando-se, para este fim, com outros órgãos da Administração 
Pública. 
Constatada irregularidade na indicação de condutor infrator capaz de configurar 
ilícito penal, a Autoridade ele Trânsito deverá comunicar o fato à autoridade competente. 
Não havendo a identificação elo condutor infrator até o término do prazo fixado 
na Notificação da Autuação ou seja identificação for feita em desacordo com o 
estabelecido na legislação (Resolução 404/Contran/2012), proprietário do veículo seja 
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considerado responsável pela infração cometida, respeitado o disposto na supracitada 
Resolução. 
No caso de o proprietário do veículo ser pessoa jurídica, será imposta multa, nos 
termos do § 8º elo art. 257 elo CTB, agora também, devidamente regulamentado pela 
Resolução 393/2011 elo Contran, expedindo-se a notificação desta ao proprietário do 
veículo, nos termos de regulamentação específica. 
No caso de o veículo ser objeto de penhor ou de contrato de arrendamento 
mercantil, comodato, aluguel ou arrendamento não vinculado a financiamento, o 
possuidor, regularmente constituído e devidamente registrado no órgão executivo de 
trânsito do Estado ou do Distrito Federal (Detran), nos termos de regulamentação 
específica, equipara-se ao proprietário do veículo. 
Passado esse tema, temos então a expedição da Notificação de Autuação por 
Infração de Trânsito, a NATT, a qual não pode ser superior a trinta dias do cometimento 
da suposta infração. 
Essa notificação dá ao proprietário/condutor o direito de ingressar com a 
DEFESA. 
DEFESA ao órgão autuador, mesmo que o material impresso contenha os dados 
do Detran, o qual é o gerenciador do Sistema Informatizado de Infração de Trânsito - SIT, 
deve ser sempre apresentada para o órgão rodoviário autuador. Exemplo: Prefeitura 
Municipal, DNIT - PRF, DERs - PREs, Prefeitura Municipal, Agentes Municipais de 
Trânsito e Polícias Militares. 
Conforme previsão legal no CTB, da apresentação de DEFESA, o órgão autuador 
tem o prazo de 30 dias para julgamento, conforme o art. 285. Não ocorrendo esse 
julgamento dentro do prazo previsto no art. 285, deve o órgão autuador conceder o 
chamado "efeito suspensivo ". 
O efeito suspensivo possui efeitos tanto no prontuário do condutor, no que diz 
respeito aos pontos, quanto no registro do veículo no que diz respeito à multa. 
Embora tenha dito que esse estudo não visa servir como padrão ou simplesmente 
trazer modelo de como se defender, mas sim, teorizar um tema tão importante e emergente 
em nosso país, aqui cabe ressaltar que por ocasião da defesa, o cidadão deve exaurir os 
óbices existentes no caso e não se limitar às questões de formalidade até porque se está 
explicitando o princípio da oportunidade no que diz respeito ao direito administrativo, 
bem como o art. 8° da Resolução 404 do Contran: 
 
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Art. 8º. Interposta a Defesa da Autuação, nos termos do § 3º do art. 3º 
desta Resolução, caberá à autoridade competente apreciá-la, inclusive 
quanto ao mérito. (in verbis) 
 
Não podemos deixar de analisar os "Limites do Poder- Dever da autotutela da 
Administração Pública com base no caput do art. 54, Lei 9784199." 
Embora para alguns doutrinadores o Poder de Autotulela da Administração 
Pública seja tratado como um princípio, existe outra corrente doutrinária, contemporânea, 
que trata o tema como um Poder-Dever Administrativo. 
Por esse Poder-Dever Administrativo entendemos a prerrogativa que possui a 
Administração Pública de manter-se permanentemente controlada tanto em relação à 
legalidade em sentido amplo (validade de suas condutas) quanto em relação ao mérito 
administrativo (conveniência e oportunidade). 
Possui regramento originário na Constituição, em seu art. 74, sendo também 
resultado da própria submissão da Administração Pública à ordem jurídica. 
Neste sentido, para o professor Rafael Maffini, pode-se afirmar "que a autotutela 
administrativa é subproduto do principio da legalidade." 
Especificamente no que tange à análise elo Poder-Dever da Autotutela sob a 
norma contida no caput do art. 54 da Lei 9.784/99 a qual regula o Processo 
Administrativo no âmbito da administração Pública Federal, temos que a lei foi expressa: 
o direito da Administração de anular atos administrativos que tenham produzido efeitos 
favoráveis para os administrados decai em cinco anos, contados da data em que 
foram praticados, ressalvando-se apenas a hipótese de comprovada má-fé." 
Como esclarece o mestre Celso Antônio Bandeira de Mello 12, não se trata ele 
um "não exercido tempestivo de um meio, de uma via, previsto para defesa de um direto 
que se entenda ameaçado ou violado." 
Trata-se, pura e simplesmente, da omissão do tempestivo exercício da própria 
pretensão substantiva (não adjetiva) da Administração, isto é, de seu poder-dever; logo, 
o que estará em pauta, in casu, é o não exercício, a bom tempo, do que corresponderia no 
Direito Privado, ao próprio exercício do direito. 
Ou seja, configura-se situação de decadência antes que de prescrição. 
A norma em epígrafe trata, na espécie, de limitação ao poder de autotutela da 
Administração, agora conve1iida em direito positivo em nome do cada vez mais 
consolidado princípio da segurança jurídica e de seu corolário, o princípio da proteção à 
confiança. Como esclarece o citado professor Celso Antônio Bandeira de Mello, o 
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princípio da segurança jurídica é da própria "essência do Direito, notadamente de um 
Estado Democrático de Direito, de tal sorte que faz parte do sistema constitucional como 
um todo." 
Existem outros instrumentos de concretização da autotutela da administração 
pública; todavia, devemos ter bem claro que essa prerrogativa deve ser permanente e, 
embora possa ter instrumento de formalização, como no caso específico da prescrição ou 
decadência do caput do art. 54 da Lei 9.784/99, não fica somente vinculado a esse caso. 
Esse permanente, Poder-Dever de autocontrole de que é atuar a Administração 
Publica estará casuisticamente submetido a limites formais, materiais

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