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Direto-ao-Direito-Direito-Penal-Parte-Especial

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APRESENTAÇÃO: 
Esta é uma apostila feita unicamente por mim e distribuída gratuitamente 
para colaborar com os (assim como eu) estudantes de Direito nos estudos e no 
processo de aprovação do tão sonhado concurso público. O foco da apostila são os 
concursos públicos para ingresso nos cargos de juiz de direito e promotor de justiça. 
As apostilas utilizaram como base o curso do G7 Jurídico (Ministério 
Público e Magistratura) do ano de 2.020 e podem vir a sofrer atualizações para se 
adequar à legislação superveniente. Não houve cópia de nenhum material fornecido 
pelo referido curso, razão pela qual não há violação de nenhum direito autoral. 
As notas de rodapé muitas vezes trazem comentários feitos 
exclusivamente pelo autor da presente apostila como forma de chamar atenção para 
alguns pontos de reflexão. 
Caso este material tenha sido útil no tão difícil e custoso processo de 
preparação cobrarei como retribuição o relato sobre o seu êxito no tão sonhado 
concurso. A melhor forma de “me pagar” é com a sua aprovação. 
Qualquer sugestão buscando o aprimoramento deste material será muito 
bem-vinda: e sinta-se à vontade para encaminhar por e-mail. Sucesso na empreitada e 
bons estudos. Aguardo o convite para o churrasco da posse. Como diria o saudoso e 
inspirador mestre Luiz Flávio Gomes: AVANTE! 
Atenciosamente, 
DANILO MENESES. 
 
 
 
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HOMICÍDIO 
 Introdução: 
- conceito: eliminação da vida humana extrauterina praticada por outra pessoa; 
- eliminação da vida humana intrauterina  crime de aborto; 
- a conduta deve necessariamente ser causada por outra pessoa; 
- objetividade jurídica: o bem jurídico protegido pelo crime é a vida humana 
extrauterina; 
- artigo 5º, caput da CRFB/88: assegura a todas as pessoas o direito à vida; 
- teoria constitucional do Direito Penal  a criação de crimes e 
a cominação de penas somente possui legitimidade quando 
possui fundamento de validade nos valores protegidos pela 
Constituição Federal; 
- vida humana extrauterina: a vida humana autônoma se inicia pela 
realização do primeiro ato respiratório – que possui como mecanismo de 
prova a docimasia hidrostática de Galeno1 ou docimasia respiratória; 
- basta a existência de vida humana, independente da 
viabilidade do ser nascente – não importa se o nascido morrerá 
logo em seguida; 
 
 Homicídio simples: 
- previsão legal: artigo 121, caput do Código Penal; 
- trata-se de modalidade fundamental do crime de homicídio; 
- é o tipo penal mais curto do ordenamento brasileiro; 
- tipo penal: matar alguém; 
- pena: reclusão de seis meses a vinte anos; 
- hediondez: o homicídio simples em regra não é crime hediondo2; 
- crime hediondo: o homicídio simples é considerado crime hediondo 
quando praticado em atividade típica de grupo de extermínio, ainda que 
cometido por um só agente; 
- importante: o homicídio qualificado é crime hediondo; 
- na prática, dificilmente um homicídio praticado em atividade 
típica de grupo de extermínio será um homicídio simples; 
- núcleo do tipo: matar; 
- matar é eliminar a vida de outra pessoa; 
- crime de ação livre: admite qualquer meio de execução (pode ser 
praticado de diferentes formas) – podendo inclusive ser praticado por 
 
1 A prática é tema de medicina legal. 
2 Crime hediondo é aquele expressamente previsto em lei como tal. 
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omissão (quando quem deixa de agir tinha o dever de fazê-lo para evitar o 
resultado3); 
- transmissão dolosa do vírus HIV: para certo setor doutrinária 
tal pode ser uma forma de cometer o crime de homicídio 
(tentado ou consumado); 
- posição do STF  no HC 98.712 decidiu a Corte 
Suprema que a transmissão dolosa do vírus HIV não 
configura crime de homicídio tentado ou 
consumado, podendo caracterizar os crimes de: 
lesão corporal gravíssima (enfermidade incurável) + 
crime de perigo de contágio venéreo (previsto no 
artigo 130 do Código Penal Brasileiro); 
- transmissão dolosa do COVID-19: há setor doutrinário que 
entende que pode configurar o crime de homicídio (na 
modalidade tentada ou consumada); 
- ainda não há posição do STF neste ponto; 
- sujeito ativo: crime comum ou geral (pode ser praticado por qualquer pessoa); 
- é perfeitamente compatível com o concurso de pessoas, seja na 
coautoria, seja na participação; 
- crime praticado por xifópagos: tratam-se dos chamados “irmãos 
siameses” ou “indivíduos duplos”; 
 
- caso um queira praticar o crime, mas o outro não, em caso de 
possível separação futura, deve ser condenado um e absolvido 
o outro – em caso de impossibilidade de separação deve 
ocorrer a absolvição para os dois (tendo em vista a 
impossibilidade do cumprimento da pena – que penalizaria o 
inocente); 
- aplicação do princípio in dubio pro reo; 
- sujeito passivo: qualquer pessoa após o nascimento e desde que esteja viva; 
- caso já esteja morto, trata-se de crime impossível pela impropriedade 
absoluta do objeto material; 
 
3 Exemplo: mãe que deixa de amamentar o filho com a intenção de mata-lo de fome, vindo a criança a 
falecer. 
 5 
 
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- crime bi comum: o crime é comum em relação ao sujeito ativo e em 
relação ao sujeito passivo; 
- crime praticado contra irmãos xifópagos: caso o autor mate os dois 
irmãos, haverá dois homicídios em concurso – a existência de concurso 
material ou concurso formal impróprio dependerá do caso concreto 
(embora as duas regras atraiam a incidência do cúmulo material de penas); 
- caso o autor queira matar somente um e acabe matando o 
outro: há dolo direto em relação a um e dolo eventual em 
relação ao outro; 
- Lei de Segurança Nacional: a depender da qualidade da vítima pode 
incidir o artigo 29 da Lei 7.170/83; 
- sujeitos passivos: Presidente da República + Presidente da 
Câmara dos Deputados + Presidente do Senado + Presidente do 
STF; 
- para incidência da Lei de Segurança Nacional a conduta deve 
ser praticada com motivação política; 
- genocídio: a conduta de matar alguém pode configurar o crime de 
genocídio – previsto no artigo 1º, alínea “a” da Lei 2.889/56; 
- aplica-se tal tipo no caso em que o autor, com a intenção de 
destruir, no todo ou em parte, grupo nacional, étnico, racial ou 
religioso, mata membros do grupo; 
- genocídio – mesmo realizado por meio da eliminação da vida 
de membros do grupo – não é crime contra a vida, sendo crime 
contra a humanidade (crime contra a diversidade humana4); 
- elemento subjetivo: dolo (direto ou eventual); 
- dolo do homicídio: animus necandi ou animus occidendi; 
- basta o dolo, sendo desnecessária a existência de finalidade específica 
(elemento subjetivo especial do tipo); 
- existência de finalidade específica  pode caracterizar: 
- qualificadora: filho mata o pai para ficar com o dinheiro do 
pai (motivo torpe); 
- causa de diminuição da pena: pai mata o estuprador da sua 
filha (homicídio privilegiado – relevante valor moral); 
- consumação: quando a vítima morre (crime material ou causal – crime de resultado); 
- morte da vítimapara o Direito Penal: cessação da atividade encefálica 
(vulgarmente conhecida como morte cerebral5); 
 
4 De competência do juízo comum – estadual ou federal, a depender do caso concreto. 
5 Tecnicamente, creio que a expressão “morte encefálica” seja mais precisa – o encéfalo é parte 
específica do cérebro. 
 6 
 
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- previsão legal: artigo 3º, caput da Lei 9.434/97 (Lei dos 
Transplantes); 
- prova da morte: exame necroscópico (espécie de exame de corpo de delito); 
- tal exame prova a morte e tenta esclarecer a sua respectiva causa6; 
- crime instantâneo VS crime instantâneo de efeitos permanentes: 
- crime instantâneo: se consuma em um momento 
determinado, sem continuidade no tempo; 
- crime instantâneo de efeitos permanentes: se consuma em 
um momento determinado, mas seus efeitos se prolongam no 
tempo independentemente da vontade do agente; 
- crime permanente: se consuma em um momento 
determinado, mas seus efeitos se prolongam no tempo pela 
vontade do agente; 
- posição amplamente dominante: o homicídio é um crime 
instantâneo; 
- há quem entenda que o homicídio é um crime 
instantâneo com efeitos permanentes; 
- tentativa: a tentativa é cabível em todas as modalidades de homicídio doloso; 
- o homicídio é um crime plurissubsistente (conduta composta por dois ou 
mais atos); 
- tentativa branca VS tentativa vermelha: 
- tentativa branca ou incruenta: a vítima não é atingida; 
- tentativa vermelha ou cruenta: a vítima é atingida (ferida em 
sua integridade corporal); 
 
 Homicídio Privilegiado: 
- previsão legal: artigo 121, §1º do Código Penal; 
- tipo penal: se o agente comete o crime impelido por motivo de relevante valor social 
ou moral, ou sob o domínio de violenta emoção, logo em seguida à injusta provocação 
da vítima, o juiz pode reduzir a pena de um sexto a um terço; 
- natureza jurídica: causa de diminuição de pena; 
- tecnicamente não se trata de uma hipótese de privilégio7, mas da 
incidência de uma causa de diminuição de pena; 
- o Código Penal é técnico e chama tal hipótese de minorante (causa de 
diminuição da pena); 
- incidência na 3ª e última fase da dosimetria da pena no critério trifásico; 
 
6 Como titular da Delegacia de Homicídios, considero tal exame essencial para esclarecimento do 
ocorrido e reconstrução dos fatos. 
7 Privilégio é o contrário da qualificadora: os limites da pena em abstrato são alterados para menor. 
 7 
 
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- diminuição da pena: segundo o texto da lei o juiz pode diminuir a pena de 1/6 a 1/3; 
- “pode”: não se trata de ato discricionário – caracterizada uma das 
situações previstas no tipo o juiz deve necessariamente diminuir a pena, 
“podendo” apenas escolher o quantum de diminuição; 
- artigo 483 do CPP: trata da ordem de votação dos quesitos; 
- cabe aos jurados decidirem sobre os quesitos 
relativos às causas de diminuição de pena 
(competência do júri para tal) – não é competência 
do juiz singular decidir se o privilégio está ou não 
presente, mas competência dos jurados8; 
- incomunicabilidade do privilégio: o privilégio não se comunica no concurso de 
pessoas; 
- trata-se de circunstância subjetiva (natureza pessoal); 
- hediondez: homicídio privilegiado não é crime hediondo (por falta de previsão legal); 
- ademais, existe uma incompatibilidade lógica entre o rigor do crime 
hediondo e a brandura do privilégio; 
- hipóteses de privilégio: 
- motivo de relevante valor social  o motivo deve se referir a um valor 
compartilhado pela sociedade e de grande relevância (interesse coletivo); 
- exemplo: matar um traidor da pátria; 
- motivo de relevante valor moral  o motivo diz respeito a um interesse 
particular do agente ou de pessoa que guarde proximidade com ele 
(interesse particular); 
- exemplo: eutanásia 9 – homicídio praticado diante da 
compaixão diante do sofrimento da vítima; 
- requisitos da eutanásia: doença em estado 
avançado + grave sofrimento físico ou mental em 
função da doença + impossibilidade científica de 
cura; 
- espécies de eutanásia: 
- eutanásia em sentido estrito (também conhecida 
como homicídio piedoso, compassivo, médico, 
caritativo ou consensual)  modo comissivo de 
abreviar a vida de alguém – antecipando sua morte 
 
8 Trata-se de argumento importante, mas que, no meu ver, não justifica todas as situações. Em caso de 
cometimento de crime doloso contra a vida por autoridade detentora de foro por prerrogativa de 
função, caso o Tribunal competente reconheça a causa de diminuição, ele também está adstrito à sua 
aplicação (podendo alterar apenas o quantum). Mesmo sendo competente para ambas as análises 
(existência da causa e aplicação da diminuição da pena) não pode o órgão colegiado reconhecê-la e 
simplesmente optar por não diminuir a pena. 
9 A eutanásia no Brasil é hipótese de homicídio privilegiado – baseando-se na ideia de que a vida é um 
bem jurídico indisponível (e em razão disso o consentimento da vítima é incapaz de excluir o crime). 
 8 
 
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(neste caso o agente deve fazer algo para ceifar a 
vida da vítima) – e configura homicídio privilegiado; 
- ortotanásia (também conhecida como eutanásia 
por omissão, moral ou terapêutica)  modo 
omissivo de abreviar a vida de alguém – configura 
homicídio privilegiado10; 
- distanásia (ou obstinação terapêutica)  refere-
se à situação em que a medicina prorroga 
artificialmente a vida de forma dolorosa – a 
cessação dessa prorrogação não é crime (fato 
atípico); 
- mistanásia (ou eutanásia social11)  extermínio 
da vida de forma precoce e miserável, provocada 
pelo descaso, desídia e até mesmo pela maldade do 
agente, podendo ocorrer em três situações: 
 falta de atendimento médico 
adequado pelo sistema de saúde (fato 
atípico); 
 erro médico (homicídio culposo); 
 má-fé do responsável pelo 
atendimento (homicídio doloso); 
- domínio de violenta emoção após a injusta provocação da vítima  o 
Código Penal adotou o critério subjetivo (concepção subjetiva ou 
subjetivista) vez que deve ser levado em conta o aspecto emocional e 
psicológico do agente; 
- domínio de violenta emoção: a emoção é a alteração da 
psique humana de natureza transitória e para incidência do 
privilégio ela deve ser violenta, de grandes proporções e capaz 
de alterar o comportamento psicológico do agente, não 
bastando mera influência, devendo o agente estar dominado 
por ela12; 
- injusta provocação da vítima: a provocação injusta pode ser 
criminosa ou também fato atípico – é a provocação que o 
agente não está obrigado a suportar; 
 
10 O artigo 41 do Código de Ética Médica proíbe expressamente tanto a eutanásia quanto a ortotanásia. 
O mesmo artigo define que o médico não pode se valer de meios terapêuticos inúteis ou desnecessários 
– mas tal dispositivo não autoriza a ortotanásia e sim proíbe que o médico “invente métodos” para 
tentar manter a vida do paciente. 
11 A nomenclatura é ruim e equivocada vez que não há nada de “eutanásia” (vontade de cessar o 
sofrimento) neste caso. 
12 O domínio de violenta paixão não autoriza a incidência do privilégio: seja por falta de previsão legal, 
seja por incompatibilidade lógica, já que a paixão é duradoura (e se prolonga no tempo).9 
 
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- a injusta provocação pode ser dirigida ao agente 
ou à pessoa a ele próxima (por laços de parentesco 
ou afinidade)13; 
- injusta agressão: pode configurar legítima defesa; 
- reação imediata: a reação deve se dar logo em seguida à 
injusta provocação da vítima; 
- não há definição legal de tempo, mas não é 
admitido o hiato temporal considerável e dilatado; 
- a reação imediata deve se basear no momento em 
que o agente tomou conhecimento da provocação 
injusta – e não na data da provocação em si; 
- diferenças com a atenuante do artigo 65, inciso III, alínea “c”: 
PRIVILÉGIO ATENUANTE GENÉRICA 
- previsão legal: artigo 121, §1º, CP; - previsão legal: artigo 65, inciso III, 
alínea “c” do CP; 
- aplicabilidade: homicídio doloso; - aplicabilidade: qualquer crime; 
- domínio de violenta emoção; - influência de violenta emoção; 
- injusta provocação da vítima; - ato injusto da vítima; 
- reação de imediatidade: logo em 
seguida; 
- em qualquer momento; 
 
 Homicídio Qualificado: 
- previsão legal: artigo 121, §2º do Código Penal; 
- hediondez: toda forma de homicídio qualificado é crime hediondo; 
- o homicídio qualificado, qualquer que seja a qualificadora, é crime 
hediondo, seja na modalidade consumado, seja crime tentado; 
- inciso I  homicídio cometido mediante paga ou promessa de recompensa, ou por 
outro motivo torpe; 
- qualificadora de natureza pessoal (subjetiva) – vez que diz respeito ao 
motivo do crime; 
- em função disso a qualificadora não se comunica no concurso 
de pessoas; 
- interpretação analógica ou intra legem: há previsão de modalidades 
específicas e casuísticas14 seguidas de uma fórmula genérica15; 
- paga: trata-se do homicídio mercenário ou homicídio por mandato 
remunerado; 
- a motivação do agente é a cupidez (ambição desenfreada, 
busca descontrolada por dinheiro); 
 
13 A doutrina entende que a injusta provocação pode ser dirigida até mesmo a um animal. 
14 Mediante paga ou promessa de recompensa. 
15 Outro motivo torpe. 
 10 
 
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- trata-se de crime plurissubjetivo, plurilateral ou de concurso 
necessário16; 
- pagamento prévio: o recebimento do pagamento é anterior à 
prática do homicídio; 
- natureza econômica da recompensa: não há necessidade de 
que a vantagem possuía natureza econômica, vez que o 
homicídio não é crime contra o patrimônio, mas crime contra a 
vida (exemplo: favores sexuais); 
- promessa de recompensa: trata-se do homicídio mercenário ou homicídio 
por mandato remunerado; 
- a motivação do agente é a cupidez (ambição desenfreada, 
busca descontrolada por dinheiro); 
- trata-se de crime plurissubjetivo, plurilateral ou de concurso 
necessário; 
- pagamento posterior: o recebimento do pagamento é 
posterior à prática do homicídio (pagamento convencionado 
para o futuro); 
- neste caso mesmo que a recompensa não seja de 
fato paga, a qualificadora deve incidir; 
- natureza econômica da recompensa: não há necessidade de 
que a vantagem possuía natureza econômica, vez que o 
homicídio não é crime contra o patrimônio, mas crime contra a 
vida (exemplo: favores sexuais); 
- motivo torpe: trata-se do homicídio cometido por motivo vil, ignóbil, 
asqueroso, socialmente reprovável ou repugnante17; 
- vingança: a doutrina sustenta que a vingança não é 
necessariamente um motivo torpe, podendo ser a depender do 
que deu causa a esta vingança; 
EXEMPLOS 
- vingança motivada pela vontade de recuperar 
“boca de fumo”  motivo torpe; 
- vingança do pai em relação ao vizinho que 
estuprou a filha  não é motivo torpe; 
- ciúmes: no passado entendiam que o ciúme não era um 
motivo torpe – quem mata por ciúmes mata por amor18; 
 
16 O tipo penal reclama a presença de pelo menos duas pessoas: mandante (quem paga ou promete a 
recompensa) + executor ou sicário (quem mata em razão do pagamento ou da promessa de 
recompensa). 
17 Exemplo: matar os pais para receber a herança + matar o colega que está na prova oral disputando o 
cargo de promotor com o autor. 
18 Trata-se de visão machista e reprovável – típica do processo de coisificação do ser humano. 
 11 
 
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- jurisprudência do STJ: a Corte Superior19 entende 
que tanto os ciúmes quanto a vingança somente 
poderão ser classificados como motivo torpe a 
depender do caso concreto20; 
- inciso II  homicídio cometido por motivo fútil; 
- motivo fútil: motivo pequeno, insignificante, de pouca importância, 
desproporcional diante do resultado produzido; 
- o motivo fútil causa perplexidade (do tipo: “não acredito que 
ele matou por isso”); 
- exemplo: matar o dono do bar porque a cerveja por ele 
oferecida estava quente; 
- qualificadora de natureza pessoal (subjetiva) – vez que diz respeito ao 
motivo do crime; 
- ausência de motivo: 
- 1ª posição: a ausência de motivo pode ser comparada ao 
motivo fútil (posição institucional do Ministério Público21); 
- 2ª posição: a ausência de motivo não pode ser comparada ao 
motivo fútil, vez que se trataria de analogia em desfavor do réu 
(posição do STJ22); 
- inciso III  homicídio cometido com emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia, 
tortura ou outro meio insidioso ou cruel, ou de que possa resultar perigo comum; 
- qualificadora de natureza objetiva – vez que diz respeito aos meios de 
execução do crime (podendo se comunicar para demais coautores ou 
partícipes – desde que de conhecimento dos demais agentes); 
- interpretação analógica ou intra legem: há previsão de modalidades 
específicas e casuísticas seguidas de uma fórmula genérica; 
- meio insidioso: também chamado de meio sub-reptício (meio 
fraudulento). Neste caso o autor mata a vítima sem deixar ela perceber 
que está sendo atacada; 
 
19 Neste sentido: AgRg no AResp. 363.919. 
20 A matéria normalmente é de competência do júri popular (decidir pela incidência da qualificadora). 
21 Fundamento: já que o motivo pequeno é fútil, mais justificativa existe para que a ausência de motivo 
também seja fútil. 
22 Neste sentido: HC 152.548. Pessoalmente (por ser delegado de polícia lotado em um Grupo 
Especializado de Investigação de Homicídios) entendo que a falta de prova quanto ao motivo não deve 
ser confundida com a desproporcionalidade do motivo. Ademais, entender que a falta de prova quanto 
ao que levou o agente a cometer o crime deveria se equiparar à futilidade no seu cometimento é clara 
analogia em desfavor do réu – trata-se de mecanismo que atraiu a incidência de uma norma mais 
gravosa para o acusado em função da ausência de elementos de informações e provas (o que, de forma 
reflexa, constitui “falha” do esclarecimento da motivação pela persecução penal). A situação do réu não 
pode ser agravada por insuficiência no mecanismo de persecução penal oficial (a ausência de motivo de 
fato refere-se à existência de um motivo não conhecido pela persecução penal – motivo desconhecido). 
 12 
 
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- exemplo: tirar o óleo de freio do carro da vítima que vai 
descer uma serra; 
- meio cruel: causa inútil e desnecessário sofrimento físico ou mental à 
vítima23; 
-exemplo: em vez de atirar na vítima com um tiro de pistola na 
cabeça, o autor dá vários tiros em regiões não vitais até 
posteriormente atirar em zonas vitais e matar a vítima; 
- reiteração de golpes: trata-se de indicativo de meio cruel, mas 
não significa necessariamente meio cruel; 
- o meio cruel é um meio de execução do homicídio: somente 
incide a qualificadora quando o agente se vale do meio cruel 
para matar a vítima (crueldade como meio de execução do 
homicídio); 
- uso de meio cruel após a morte da vítima: não 
incide a qualificadora (exemplo: picar a vítima em 
pedaços depois dela já estar morta24); 
- meio de que possa resultar perigo comum: perigo refere-se à 
probabilidade de dano e perigo comum se dirige a um número 
indeterminado de pessoas; 
- exemplo: dar tiro de metralhadora em alguém que se 
encontra em uma festa – com várias pessoas próximas; 
- não se exige a provocação efetiva do dano, bastando a 
possibilidade de resultar perigo comum; 
- prova da existência de perigo comum no caso 
concreto: deve o agente responder pela prática do 
crime de homicídio qualificado e também pela 
prática do crime de perigo comum25 (previsto nos 
artigos 250 e seguintes do Código Penal); 
- veneno: trata-se do venefício (homicídio qualificado pelo emprego de 
veneno); 
- prova pericial: a incidência desta qualificadora depende de 
prova pericial (exame toxicológico); 
- veneno: substância de origem química ou biológica capaz de 
matar quando introduzida no organismo humano; 
- a natureza da substância enquanto veneno deve ser apurada 
no caso concreto – há substância inofensivas que, para 
determinadas pessoas, podem funcionar como veneno 
(exemplo: anestesia para alérgicos); 
 
23 O agente poderia optar por matar a vítima de uma forma menos dolorosa, mas opta pelo meio de 
execução mais sofrido. 
24 Neste caso há concurso de crimes: homicídio + destruição de cadáver (artigo 211 do Código Penal). 
25 Não se trata de bis in idem por tratar-se de bem jurídicos distintos. 
 13 
 
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- o veneno pode qualificar o homicídio como: meio insidioso26 + 
meio cruel27 + meio de que possa resultar perigo comum28; 
- fogo: produto da combustão de substâncias inflamáveis do qual resulta 
luz e calor; 
- o fogo, em regra, trata-se de meio de que possa resultar 
perigo comum; 
- o fogo também pode qualificar o homicídio enquanto meio 
cruel29; 
- explosivo: produto capaz de destruir objetos em geral mediante 
detonação e estrondo; 
- explosivo, via de regra, trata-se de meio de que possa resultar 
perigo comum (exemplo: colocar uma bomba em um carro de 
alguém em via pública); 
- excepcionalmente o explosivo também pode 
qualificar o homicídio enquanto meio cruel; 
- asfixia: supressão da função respiratória com origem mecânica ou 
tóxica30; 
- em regra a asfixia caracteriza meio cruel (exemplo: enterrar 
uma vítima viva); 
- a asfixia também pode ser um meio insidioso 
(exemplo: uso de gás sem cheiro que causa 
intoxicação e morte); 
- asfixia mecânica: 
- estrangulamento  constrição do pescoço da 
vítima pelo uso da força com a utilização de algum 
objeto ou de qualquer outra fonte que não o peso 
da própria vítima; 
- esganadura  constrição do pescoço da vítima 
pelo próprio agressor, sem o uso de nenhum 
objeto; 
 
26 Exemplo: veneno inoculado sem o conhecimento da vítima. 
27 Exemplo: amarrar a vítima e inocular lentamente pequenas quantidades de veneno até causar a 
morte. 
28 Exemplo: colocar veneno na caixa de água da vítima – podendo atingir outras pessoas que residem na 
residência da vítima. 
29 Micro-ondas – prender as pessoas em pneus e colocar fogo nelas ainda com vida. 
30 Como delegado de polícia infelizmente tive de lidar com uma situação em que os pais saíram da 
residência – sem energia – e deixaram uma vela acesa. Três crianças ficaram no local. Uma das velas caiu 
e um fogo se iniciou, falecendo duas delas em função da toxicidade da fumaça oriunda da queima do 
colchão. Ver as duas criancinhas – com um futuro pela frente – na mesa da realização de necropsia (no 
Instituto Médico Legal) foi uma das cenas mais tristes que lidei. Talvez não apenas mais triste do que ver 
o choro de desespero – carregado de culpa – dos pais. Por motivos que não me cabe aqui discutir, não 
autuei nenhum dos dois em flagrante. 
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- enforcamento  constrição do pescoço da vítima 
provocada pelo seu próprio peso (a vítima está 
envolva em uma corda ou em objeto similar); 
- sufocação  uso de algum objeto que impeça a 
entrada de ar pelo nariz ou pela boca da vítima; 
- afogamento  ingestão excessiva de líquidos de 
forma a comprometer a função respiratória; 
- soterramento  submersão de uma pessoa em 
meio sólido (exemplo: buraco na terra em que a 
pessoa é colocada – com terra em cima); 
- imprensamento  impedimento da função 
respiratória pela colocação de um peso sobre o 
diafragma da vítima; 
- asfixia tóxica: 
- inalação/uso de gás asfixiante  utiliza-se um gás 
que causa comprometimento na função respiratória 
ao ser inalado; 
- confinamento  colocação de uma pessoa em 
recinto fechado no qual não há renovação de 
oxigênio, causando asfixia por excesso de gás 
carbônico; 
- tortura: trata-se de meio cruel por excelência – homicídio qualificado pela 
tortura é causar sua morte com o emprego de meio cruel, causando à 
vítima intenso e desnecessário sofrimento físico e/ou mental; 
- homicídio qualificado pela tortura VS tortura qualificada pela 
morte31  eis as diferenças; 
- homicídio qualificado pela tortura: 
- crime hediondo; 
- crime de competência do Tribunal do 
Júri; 
- elemento subjetivo: dolo32; 
- tortura qualificada pela morte: 
- crime equiparado a hediondo; 
- crime de competência do juiz singular 
(juízo comum estadual ou federal); 
- elemento subjetivo: crime 
preterdoloso33; 
 
31 Prevista no artigo 1º, §3º da Lei 9.455/97. 
32 O sujeito quer matar a vítima (animus necandi) e para realizar seu objetivo emprega a tortura como 
um meio. 
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- inciso IV  homicídio cometido à traição, emboscada, dissimulação ou outro recurso 
que dificulte ou torne impossível a defesa do ofendido; 
- qualificadora de natureza objetiva – vez que diz respeito aos modos de 
execução do crime (podendo se comunicar para demais coautores ou 
partícipes – desde que de conhecimento dos demais agentes); 
- exceção: traição (tem natureza subjetiva); 
- interpretação analógica ou intra legem: há previsão de modalidades 
específicas e casuísticas seguidas de uma fórmula genérica; 
- a traição, a emboscada e a dissimulação são espécies de 
recursos que dificultam ou tornam impossível a defesa do 
ofendido (podendo surgir no caso concreto outros modos de 
praticar o crime que dificultam ou tornam impossível a defesa 
da vítima); 
- recurso que dificulte a defesa do ofendido VS recurso que 
torna impossível a defesa do ofendido  é muito mais fácil 
sustentar, na prática, o recurso que apenas dificulte a defesa do 
ofendido34; 
- traição: pode ser física ou moral e é sempre caracterizada pela existência 
de confiança preexistente35 – que foi quebrada com a conduta do agente; 
- exemplo: mulher que mata o marido enquanto ele dorme 
(traição física) + fazer comque o amigo com pouca acuidade 
visual caia da montanha (traição moral); 
- homicídio qualificado pela traição  homicídio proditorium; 
- qualificadora de natureza subjetiva (só diz respeito à pessoa 
pela qual a vítima depositava a confiança) – não se comunica 
no concurso de agentes; 
- o homicídio qualificado pela traição é crime 
próprio ou especial – somente pode ser praticado 
pela pessoa em que a vítima depositava legítima 
confiança; 
- emboscada: chamada de tocaia ou casinha na literatura brasileira – 
aguardar escondido a passagem da vítima para ataca-la sem que ela 
perceba o ataque; 
- também chamado de homicídio ex insidiis, agguato ou guet-
apens; 
 
33 Não há dolo de matar: o agente tem o dolo de torturar a vítima e por culpa produz a sua morte. 
34 Como delegado de polícia titular da Delegacia de Homicídios nunca indiciei nenhum autor pela prática 
de homicídio qualificado pela utilização de recurso que impossibilite a defesa do ofendido – sempre o 
indiciamento se deu pela utilização de recurso que dificulte tal defesa (não há razão para tentar provar 
o plus se o minus já é suficiente para fazer incidir a qualificadora). 
35 A confiança deve ser verdadeira, sob pena de incidir a qualificadora da dissimulação – em caso de 
falsa confiança (uso de ardil ou artifício por parte do agente para conquistar a confiança da vítima). 
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- dissimulação: trata-se da atuação disfarçada, fraudulenta e que oculta a 
verdadeira intenção do agente; 
- dissimulação material VS dissimulação moral: 
- dissimulação material: utilização de algum 
instrumento, objeto ou aparato para matar a vítima 
com uma chance menor de defesa; 
- dissimulação moral: utilização de conversa 
enganosa, ardil que busca aproximação da vítima 
para criação de uma falsa relação de confiança; 
- a dissimulação não se confunde com a traição: na traição a 
nota característica é a confiança preexistente e verdadeira da 
vítima no agente, enquanto na dissimulação tal confiança é 
forjada ou falsa; 
- recurso que dificulte ou torne impossível a defesa da vítima36: 
- exemplo de recurso que dificulta a defesa da vítima: surpresa; 
- superioridade de armas e superioridade de agentes: elas, por 
si só, não atraem a incidência da qualificadora (entendimento 
da doutrina e da jurisprudência) – exige-se a análise do caso 
concreto (surpresa no ataque); 
- inciso V  homicídio cometido para assegurar a execução, ocultação, impunidade ou 
vantagem de outro crime; 
- trata-se do homicídio qualificado pela conexão – o homicídio está ligado a 
outro crime; 
- não incide a qualificadora quando o homicídio é utilizado para assegurar a 
execução, ocultação, impunidade ou vantagem de uma contravenção 
penal37; 
- conexão que qualifica o homicídio: 
- conexão teleológica  homicídio cometido para assegurar a 
execução de outro crime; 
- conexão consequencial  homicídio cometido para assegurar 
a ocultação, impunidade ou vantagem de outro crime; 
- conexão teleológica: primeiro o agente pratica o homicídio para depois 
praticar o outro crime; 
- exemplo: agente mata o segurança para posteriormente 
sequestrar o empresário38; 
 
36 Em concursos do Ministério Público o candidato deve sempre utilizar a fórmula “recurso que dificulte 
a defesa da vítima” – pelos motivos já explanados na nota de rodapé nº 34. 
37 O Código Penal fala expressamente em “outro crime”. 
38 Neste caso o agente deve responder pela prática dos dois crimes em concurso. Caso o agente cometa 
o homicídio e haja desistência voluntária em relação ao segundo crime a qualificadora da conexão não 
deve ser afastada (fundamento: teoria da atividade – artigo 4º do Código Penal). 
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- latrocínio39: homicídio praticado para assegurar a prática 
(execução) de um crime de roubo; 
- conexão consequencial: primeiro o agente pratica o outro crime e depois 
pratica o homicídio; 
- exemplo: sujeito estupra uma mulher e posteriormente a 
mata pelo fato da vítima ter reconhecido o autor; 
- conexão ocasional: o homicídio é praticado em razão da ocasião, da 
facilidade provocada pelo outro crime; 
- exemplo: sujeito entre em uma residência para praticar um 
furto e depois resolve matar o dono da casa; 
- a conexão ocasional produz efeitos no processo penal, 
notadamente para fins de competência – tal conexão não 
qualifica o homicídio por falta de previsão legal; 
- inciso VI  homicídio contra mulher em razão da condição do sexo feminino; 
- também conhecido como feminicídio; 
- incluído no Código Penal pela Lei 13.104/201540; 
- conceito: feminicídio é o homicídio doloso cometido contra mulher por 
razões da condição de sexo feminino; 
- feminicídio VS femicídio: este último refere-se ao homicídio 
de mulher – pouco importando a condição do sexo feminino 
como móvel para o cometimento do crime (todo feminicídio é 
femicídio, mas nem todo femicídio é feminicídio); 
- hediondez: trata-se de crime hediondo; 
- competência para julgamento: Tribunal do Júri; 
- razões de condição do sexo feminino: o §2º-A trouxe uma norma penal 
explicativa com a menção de que “considera-se que há razões de condição 
de sexo feminino quando o crime envolve”: 
- inciso I  violência doméstica e familiar; 
- não se trata de violência doméstica E familiar, mas 
violência doméstica OU familiar41; 
- não basta tratar-se de violência doméstica ou 
familiar, devendo o crime se pautar em razões de 
condição do sexo feminino; 
- exemplo: irmão que mata a irmã para 
receber a herança sozinho (homicídio 
praticado contra a mulher no âmbito 
 
39 Trata-se de crime especial, situação específica criada pelo legislador. 
40 Não pode incidir sobre fatos ocorridos antes da data de entrada em vigor da citada lei. 
41 Existe violência doméstica sem violência familiar e também violência familiar sem violência doméstica 
– o entendimento da jurisprudência é que se deve compreender como OU a conjunção E. 
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doméstico e familiar que não constitui 
feminicídio); 
- inciso II  menosprezo ou discriminação à condição de 
mulher; 
- exemplo: homem mata a colega de trabalho 
porque ela foi promovida no lugar dele 
(móvel/motivo do crime – o homem não aceita 
perder para a mulher); 
- natureza da qualificadora: há uma discussão; 
- 1ª posição: subjetiva, vez que a própria lei exige “razões de 
condição do sexo feminino” como motivo fundante da ação do 
agente (posição minoritária); 
- trata-se de posição mais técnica e mais sintonizada 
com a legislação brasileira (com o texto da lei); 
- 2ª posição: objetiva (posição do STJ42); 
- fundamento da posição do STJ: basta o homicídio 
ser praticado contra a mulher que a qualificadora 
estaria caracterizada – trata-se de posição de índole 
política que permite (na prática) a cumulação com 
outra qualificadora objetiva43; 
- sujeitos do delito: 
- sujeito ativo: crime comum ou geral (pode ser cometido por 
qualquer pessoa – homem ou mulher); 
- sujeito passivo: crime próprio (deve ser necessariamente 
mulher44); 
- transexual: há quem defenda que tanto transexual 
homem como transexual mulher pode ser vítima de 
feminicídio –outros entendem que apenas 
transexuais que são mulher – biologicamente 
falando – podem ser vítima de feminicídio (posição 
que parece mais acertada); 
- causas de aumento de pena do crime de feminicídio45 (artigo 121, §7º do 
Código Penal46): 
- inciso I  crime praticado durante a gestação ou nos 3 (três) 
meses posteriores ao parto; 
 
42 Neste sentido: STJ, HC 433.898. 
43 Curiosamente, por ser objetiva, permite a incidência do privilégio – essa orientação permite a 
existência de feminicídio privilegiado. 
44 Homem nunca pode ser sujeito passivo de feminicídio. 
45 Incidem na 3ª fase de dosimetria da pena – como o crime, em regra, é de competência do Tribunal do 
Júri, a competência para reconhecimento da majorante é do tribunal popular. 
46 Aumento: 1/3 até 1/2. 
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- a fragilidade da mulher47 (acentuada na gestação) 
justifica o aumento da pena – não o bastasse matar 
uma mulher neste período ainda revela um maior 
grau de reprovação da conduta do autor; 
- feminicídio VS aborto: caso o agente conheça a 
situação de gravidez da vítima e ocorra aborto deve 
ser responsabilidade pelo crime de feminicídio 
majorado e pelo crime de aborto sem o 
consentimento da gestante (em concurso formal 
impróprio ou imperfeito); 
- gravidez múltipla: caso o agente tenha 
conhecimento de tal situação deve 
haver a responsabilização também pelo 
duplo aborto – caso não saiba sobre a 
multiplicidade da gravidez (ausência de 
dolo direto e eventual) deve responder 
apenas por um aborto; 
- casos em que o agente não sabia e não devia 
saber da gravidez: não incide a causa de aumento 
da pena nem o crime de aborto – inadmissível 
responsabilidade penal objetiva; 
- crime praticado nos 3 (três) meses posteriores ao 
parto: somente incide a majorante quando o agente 
tem conhecimento que pratica o homicídio neste 
lapso temporal posterior ao parto – o fundamento 
da majorante é a extrema dependência do recém 
nascido em relação a mãe (neste período); 
- segundo a medicina a gestação 
humana deveria durar 12 (doze) meses, 
porém o organismo humano não 
consegue suportar tal prazo, sendo os 3 
(três) meses posteriores ao parto 
praticamente uma gestação fora da 
barriga da mãe; 
- inciso II  crime praticado contra pessoa menor de 14 
(quatorze) anos, maior de 60 (sessenta) anos, com deficiência o 
portadora de doenças degenerativas que acarretem condição 
limitante ou de vulnerabilidade física ou mental; 
- o agente deve conhecer a situação especial da 
vítima (proibição da responsabilidade objetiva em 
direito penal); 
 
47 Seja física, seja emocional. 
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- a deficiência deve ser interpretada em sintonia 
com o Estatuto da Pessoa com Deficiência; 
- fundamento da majorante: maior fragilidade da 
vítima + reprovabilidade acentuada da conduta do 
agente; 
- inciso III  crime praticado na presença física ou virtual de 
descendente ou ascendente da vítima; 
- nos tempos atuais a presença da vítima capaz de 
atrair a majorante não é apenas física, sendo 
também virtual; 
- fundamento da majorante: exibicionismo do autor 
+ efeitos traumáticos causados em quem presencia 
a prática do crime; 
- inciso IV  crime praticado em descumprimento das medidas 
protetivas de urgência previstas nos incisos I, II e III do caput do 
artigo 22 da Lei 11.340/06 (Lei Maria da Penha); 
- o descumprimento de medidas protetivas de 
urgência da Lei Maria da Penha configura crime do 
artigo 24-A da referida lei – modalidade especial de 
desobediência; 
- a prática do feminicídio concomitante ao 
descumprimento de medida protetiva de urgência 
sempre absorveu (consunção) o crime do artigo 24-
A da Lei Maria da Penha – atualmente também o 
ocorre a absorção, mas há incidência da presente 
causa de aumento de pena; 
- inciso VII  homicídio contra integrantes dos órgãos de segurança pública; 
- o projeto do Pacote Anticrime criava um inciso VIII trazendo a 
qualificadora do uso de arma de fogo de uso proibido ou restrito – tal 
dispositivo foi vetado pelo Presidente da República; 
- previsão legal: se o homicídio é cometido contra autoridade ou agente 
descrito nos artigos 142 e 144 da Constituição Federal, integrantes do 
sistema prisional e da Força Nacional de Segurança Pública, no exercício da 
função ou em decorrência dela, ou contra seu cônjuge, companheiro ou 
parente consanguíneo até o terceiro grau, em razão dessa condição; 
- hediondez: trata-se de homicídio qualificado (crime hediondo); 
- criação: a qualificadora foi criada pela Lei 13.142/15; 
- nomenclatura: a doutrina em geral tem chamado tal modalidade de 
homicídio funcional; 
- fundamentos da qualificadora: maior gravidade da conduta criminosa 
(ofende a própria estrutura do Estado Democrático de Direito) + grande 
 21 
 
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sensação de insegurança coletiva + normalmente denota pertencimento do 
agente a organizações criminosas48; 
- alcance: 
- crime praticado contra autoridade ou agente descrito nos 
artigos 142 e 144 da CRFB/88  o artigo 142 cita os membros 
das Forças Armadas (Marinha + Exército + Aeronáutica) 
enquanto o artigo 144 cita os membros da segurança pública 
(exemplo: Polícia Federal + Polícia Rodoviária Federal + Polícias 
Civis dos Estados + Polícias Militares + Bombeiros Militares); 
- trata-se de norma penal em branco de fundo 
constitucional – o complemento da norma penal 
em branco está na CRFB/88; 
- crime praticado contra Guardas 
Municipais/Guardas Civis/Guarda Metropolitana49 
 deve incidir a qualificadora 50 , visto que tal 
instituição é tratada no artigo 144 da CRFB/88 
(artigo 144, §8º); 
- crime praticado contra agente de polícia 
Legislativa  não incide a qualificadora, vez que tal 
instituição não se encontra presente no artigo 144 
da CRFB/88 (princípio da reserva legal); 
- crime praticado contra integrante da Polícia Penal 
(federal ou estadual)  incide a qualificadora, vez 
que os integrantes da polícia penal estão previstos 
no artigo 144 da CRFB/88 – ademais, os policiais 
penais são integrantes do sistema prisional; 
- crime praticado contra integrantes do sistema 
prisional  incide a qualificadora, vez que eles 
atuam na fase administrativa da execução da pena 
privativa de liberdade e da medida de segurança 
detentiva (exemplo: carcereiro + agentes 
penitenciários + diretores do estabelecimento 
prisional + policiais penais); 
- crime praticado contra integrantes da Força 
Nacional de Segurança Pública  os integrantes da 
Força Nacional são recrutados nos Estados em 
geral51 (tanto da Polícia Militar, quanto da Polícia 
Civil e Polícia Científica) – incide a qualificadora; 
 
48 Geralmente as organizações criminosas são as únicas a atacar membros da segurança pública. 
49 A nomenclatura varia de acordo com a legislação municipal. 
50 Atualmente as Guardas Municipais assumiram papéis semelhantes ao da Polícia Militar – papel típico 
de segurança pública. 
51 São convocados pelo Ministério da Justiça e Segurança Pública. 
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- crime praticado no exercício da função ou em razão dela é 
indispensável a comprovação do nexo entre a função 
desempenhada e o cometimento do crime para incidência da 
qualificadora (exercício da função + em razão da função); 
- fora das duas hipóteses não há incidência da 
qualificadora (exemplo: homicídio cometido por 
circunstâncias pessoais – briga de trânsito); 
- crime cometido em razão da função + vítima que 
não ostenta mais a função pública: não incide a 
qualificadora (o tipo penal fala em agente ou 
autoridade – perdida tal condição, não incide a 
qualificadora); 
- cônjuge, companheiro ou parente consanguíneo até terceiro 
grau, em razão dessa condição  o crime deve 
necessariamente ser praticado em razão da função – nexo 
entre o cometimento do crime a atuação do agente que detém 
a função pública; 
- críticas: o dispositivo abrange apenas os parentes 
consanguíneos (parentesco biológico) e 
desconsidera o parentesco civil52 + não incide a 
qualificadora no parentesco por afinidade; 
- importante: membros do Poder Judiciário e do Ministério 
Público: o legislador, lamentavelmente, não inclui os membros 
do Ministério Público e do Poder Judiciário no rol de incidência 
da qualificadora; 
 
 Homicídio Híbrido: 
- conceito: nome dado ao homicídio ao mesmo tempo privilegiado e qualificado; 
- possibilidade: é possível que o homicídio seja ao mesmo tempo privilegiado e 
qualificado (posição do STJ e do STF); 
- requisito para existência: qualificadora de natureza objetiva – vez que o privilégio é 
incompatível com a existência de qualificadoras subjetivas; 
- os jurados respondem quesitos formulados a eles: são votadas primeiras 
as teses de defesa e depois as teses de acusação (artigo 483, §3º, incisos I e 
II do Código de Processo Penal) – depois da votação dos privilégios serão 
votadas as qualificadoras  reconhecido o privilégio está 
automaticamente negada toda e qualquer qualificadora de natureza 
subjetiva; 
 
52 A regra constitucional do artigo 227, §6º diz que os filhos, havidos ou não da relação de casamento, 
terão os mesmos direitos e qualificações – proibidas quaisquer normas discriminatórias em razão da 
filiação. No caso de processo de adoção não incide a qualificadora (o que é absurdamente criticável). 
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- devem ser quesitadas as qualificadoras objetivas 
apresentadas pela acusação e constante da pronúncia (mesmo 
no caso de reconhecimento do privilégio); 
- possibilidade = privilégio + qualificadora objetiva; 
- hediondez: há duas posições sobre o tema: 
- 1ª posição  o homicídio privilegiado e qualificado ao mesmo tempo53 
não é crime hediondo (neste sentido: STJ, HC 153.728) – seja por falta de 
previsão legal, seja pela incompatibilidade lógica entre o privilégio e a 
hediondez; 
- 2ª posição  o homicídio híbrido é crime hediondo, vez que ele na 
verdade é um homicídio qualificado e enquanto tal deve ser reconhecido 
com hediondo – o privilégio se limita a diminuir a pena (posição 
minoritária); 
 
 Homicídio e parentesco: 
- o homicídio praticado em função do parentesco (por si só) não configura 
qualificadora do crime; 
- algumas hipóteses de parentesco caracteriza agravante genérica (artigo 61, inciso II, 
alínea “e” do Código Penal); 
- nomenclaturas do homicídio envolvendo parentesco: 
- parricídio  homicídio do pai; 
- matricídio  homicídio da mãe; 
- fratricídio  homicídio do irmão; 
- filicídio  homicídio do filho; 
- uxoricídio  homicídio do cônjuge virago (esposa); 
- conjucídio  matar o cônjuge varão (esposo); 
 
 Homicídio e premeditação: 
- a premeditação, por si só, não qualifica o homicídio – ela muita vezes significa uma 
resistência do agente criminoso no que tange à prática do crime; 
 
 Causas de aumento de pena (majorantes) no homicídio doloso; 
- previsão legal: artigo 121, §4º, 2ª parte; 
- tipo penal: sendo doloso o homicídio, a pena é aumentada de 1/3 (um terço) se o 
crime é praticado contra pessoa menor de 14 (quatorze) anos ou maior de 60 
(sessenta) anos; 
- menor de 14 anos; 
 
53 Homicídio híbrido. 
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- maior de 60 anos; 
- elemento subjetivo: o agente deve ter conhecimento da idade da vítima (proibição da 
responsabilidade objetiva); 
- fundamento da majorante: maior fragilidade da vítima + maior reprovabilidade da 
conduta covarde do agente; 
- bis in idem: no feminicídio é causa de aumento de pena a vítima ser menor de 14 
(quatorze) anos e maior que 60 (sessenta) anos – não devem incidir as duas 
majorantes no caso concreto (vedação ao bis in idem – dupla punição com 
fundamento no mesmo fato); 
 
 Pontos importantes sobre o crime de homicídio: 
- milícia privada e grupo de extermínio: 
- previsão legal: artigo 121, §6º do Código Penal Brasileiro; 
- tipo penal: a pena é aumentada de 1/3 até 1/2 se o crime for praticado 
por milícia privada, sob o pretexto de prestação de serviço de segurança ou 
por grupo de extermínio; 
- natureza jurídica: causa de aumento de pena (incide na terceira fase de 
dosimetria da pena) – tratando-se de majorante, cabe aos jurados julgar 
pela incidência da presente causa de aumento; 
- milícia privada  a palavra miliciana refere-se ao militar (embora 
atualmente tal nomenclatura tenha ganhado conotação negativa) – milícia 
privada seria uma força de caráter militar paralela e alheia ao Estado; 
- trata-se de agrupamento armado e estruturado de civis, 
inclusive com a participação de militares, fora das suas funções, 
com a alegada finalidade de restaurar a paz em locais 
dominados pela criminalidade; 
- a desídia, fracasso e inoperância da segurança pública faz 
surgir um terreno fértil para o surgimento de milícias privadas; 
- para incidência da causa de aumento de pena é essencial que 
o crime seja cometido por milícia privada sob o pretexto de 
prestação de serviço de segurança; 
- grupo de extermínio  trata-se de associação de matadores compostas 
por civis e também por militares fora de suas funções (também conhecidos 
como justiceiros) que buscam eliminar pessoas consideradas perigosas ou 
indesejáveis à convivência social; 
- também são chamados de guerreiros da paz; 
- os grupos de extermínio existem na sociedade em função de 
incentivos sociais para que eles desempenhem sua atividade – 
muitas vezes há, inclusive, incentivos financeiros e também a 
aceitação tácita por parte das autoridades estatais; 
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- criação da majorante: a citada majorante foi criada pela Lei 12.720/2012 
e a lei dos crimes hediondos não citou expressamente o §6º do artigo 121 
em seu rol; 
- hediondez: na prática dificilmente tal crime não incidirá em alguma 
qualificadora – embora a lei dos crimes hediondos não preveja 
expressamente o homicídio praticado por milícia privada e por grupo de 
extermínio como crime hediondo, normalmente tal crime ocorrerá de 
forma qualificada e todo homicídio qualificado é crime hediondo; 
 
FURTO 
 Furto simples: 
- previsão legal: artigo 155, caput do Código Penal Brasileiro; 
- tipo penal: subtrair, para si ou para outrem, coisa alheia móvel; 
- pena: reclusão de 1 (um) a 4 (quatro) anos e multa; 
- crime de médio potencial ofensivo (cabível suspensão condicional do 
processo – artigo 89 da Lei 9.099/95); 
- crime contra o patrimônio: todas as modalidades de furto são crimes contra o 
patrimônio; 
- bem jurídicoprotegido: propriedade + posse legítima; 
- o crime de furto reforça a proteção oferecida pelo Direito Civil ao 
patrimônio da pessoa; 
- posse ilegítima: o tipo penal não protege nem pode proteger a posse 
ilegítima (posse contrária ao Direito); 
- detenção: o tipo penal não protege a detenção, seja porque ela não 
integra o patrimônio das pessoas, seja porque ela não produz nenhum 
efeito jurídico; 
- o detentor também é chamado de fâmulo da posse ou servo 
da posse – o detentor usa a coisa em nome de outro; 
- disponibilidade do bem jurídico: o patrimônio é um bem jurídico 
disponível (a melhor técnica seria a de condicionar à representação a 
persecução penal de todo crime contra o patrimônio – ocorrido sem 
violência ou grave ameaça à pessoa); 
- embora seja a melhor técnica, na prática o crime de furto é de 
ação penal pública incondicionada (apenas o estelionato 
passou a ser de ação penal pública condicionada à 
representação – com o Pacote Anticrime); 
- consentimento da vítima (antes ou durante a subtração)  
exclui o crime; 
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- consentimento da vítima posterior ao fato 
criminoso não exclui o crime – não torna o fato 
atípico; 
- objeto material: coisa alheia móvel; 
- coisa  objeto ou bem em geral (o ser humano não é coisa, logo não 
pode ser objeto material de um furto54); 
- objetos ou instrumentos ligados ao corpo humano (exemplo: 
próteses + peruca) são coisas – e podem ser furtadas; 
- partes do corpo humano também podem ser subtraídas 
(exemplo: cabelo); 
- órgãos vitais do corpo humano não podem ser 
objeto material de furto; 
- caso tais subtrações possuam fins de 
transplantes atrai a incidência de tipo 
penal específico – Lei 9.434/97; 
- cadáver  a subtração de cadáver caracteriza o 
crime do artigo 211 do Código Penal – não se trata 
de crime contra o patrimônio vez que o cadáver é 
coisa fora do comércio (trata-se de crime contra o 
sentimento religioso – respeito aos mortos); 
- em situações excepcionais o cadáver 
pode pertencer a uma pessoa física ou 
jurídica e apresentar valor econômico 
(exemplo: corpo de propriedade de uma 
instituição de ensino para estudo de 
anatomia) – nestes casos o cadáver 
pode ser objeto do crime de furto; 
- semoventes e animais em geral: semoventes são os seres que 
se movem por conta própria (exemplo: animais em geral) – 
podem ser objeto material de furto desde que dotado de valor 
econômico e pertencente ao patrimônio de alguém55; 
- abigeato  terminologia criado no Brasil para se 
referir ao furto de gado; 
- energia: segundo o §3º do artigo 155 “equipara-se à coisa 
móvel a energia elétrica ou qualquer outra que tenha valor 
econômico”; 
- trata-se de norma penal explicativa; 
 
54 A subtração de um ser humano pode caracterizar o crime de sequestros (artigo 148 do Código Penal) 
ou extorsão mediante sequestro (artigo 149 do Código Penal) – pode ainda caracterizar o crime de 
subtração de incapazes (artigo 249 do Código Penal). 
55 Há uma qualificadora que pode incidir na subtração de semoventes. 
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- tais energias podem ser objeto material do delito 
de furto; 
- exemplo de energias: energia eólica + energia 
mecânica + energia nuclear + energia atômica + 
energia genética56; 
- energia intelectual: não é possível a subtração da 
energia intelectual porque ela é indestacável do ser 
humano (não existe furto de ideias); 
- subtração de sinal de TV a cabo: segundo o STF 
(HC 97.261) não se trata de crime de furto; 
- o STJ tem entendimento em sentido 
contrário (neste sentido: RHC 30.847) – 
é perfeitamente possível o furto de sinal 
de TV a cabo; 
- alheia  algo que pertence a outra pessoa (elemento normativo do 
tipo57); 
- subtração de coisa própria (pensando que era alheia): crime 
impossível; 
- res nullius: coisa de ninguém (sem dono, nunca teve dono58) 
- quem se apodera do bem não pratica furto; 
- res derelicta: coisa abandonada (já teve dono, mas não tem 
mais – o titular do bem dispôs da coisa); 
- quem se apodera do bem não pratica furto; 
- res desperdicta: coisa perdida (a coisa deve necessariamente 
estar em local público ou aberto ao público); 
- quem se apodera de coisa perdida não pratica do 
crime de furto, mas pode vir a praticar o crime de 
apropriação de coisa achada (artigo 169, parágrafo 
único, inciso II do Código Penal); 
- importante: a coisa não é considerada perdida – 
para o direito penal – se ela se encontrava em local 
particular (neste caso trata-se de furto); 
- coisas de uso comum (exemplo: água + ar): não pode ser 
objeto material do crime de furto, vez que não integram o 
patrimônio de ninguém; 
- tais coisas podem ser objeto de furto se destacada 
da sua origem e explorada por pessoa determinada, 
 
56 Exemplo: subtração de sêmen. 
57 Demanda na interpretação um juízo de valor para compreensão do verdadeiro significado da 
expressão. 
58 Exemplo: cachorro que nasceu na rua. 
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possuindo valor econômico (exemplo: cilindro de 
oxigênio utilizado em prática de mergulho esportivo 
+ água engarrafada); 
- móvel  todo bem corpóreo suscetível de apreensão e transporte; 
- bens imóveis não podem ser objeto material de furto (tal bem 
não pode ser apreendido e transportado); 
- bens incorpóreos não podem ser objeto de furto – 
insuscetíveis de apreensão e transporte; 
- direito penal VS direito civil: o conceito de bem móvel varia de 
acordo com estes ramos de Direito – no Direito Civil há o 
conceito de bem imóvel por equiparação, não aplicado ao 
Direito Penal; 
- tudo que pode ser apreendido e transportado é 
bem móvel para o Direito Penal; 
- furto famélico: 
- a palavra famélico59 vem de fome – o furto famélico é aquele 
praticado por pessoas em extremo estado de miserabilidade 
para saciar a fome da própria pessoa ou de pessoa a ela ligada 
(com o fim da preservação da vida e da saúde); 
- estado de necessidade VS estado de precisão: o furto famélico 
não é crime em função do estado de necessidade (excludente 
de ilicitude); 
- somente incide a regra (furto famélico) caso a 
subtração se dê unicamente em relação a bens de 
extrema necessidade; 
- é possível também sustentar que o fato pode ser 
atípico em função da incidência do princípio da 
insignificância; 
- estado de precisão: situação de dificuldade 
econômica enfrentada por grande parte das 
pessoas – a subtração praticada neste caso 
caracteriza crime de furto; 
- núcleo do tipo: subtrair; 
- subtração = inversão da posse (o bem passa da posse da vítima para a 
posse do agente); 
- a inversão da posse ocorre em duas hipóteses: 
- o bem é retirado da vítima; 
 
59 No furto famélico podem ser subtraídos alimentos, bebidas ou medicamentos. 
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- a vítima entrega o bem ao agente e este, indevidamente, 
retira este bem da esfera de vigilância da vítima60; 
- distinção entre fruto e apropriação indébita: recai sobre a natureza da 
posse; 
- furto  posse vigiada; 
- apropriação indébita61  posse desvigiada; 
- trata-se de crime de forma livre (admite qualquer meiode execução); 
- o furto pode ser praticado na presença da vítima, desde que o 
agente não empregue grave ameaça ou violência em desfavor 
da vítima; 
- é possível praticar o furto mesmo sem o contato físico com a 
coisa subtraída – é perfeitamente possível que o agente 
subtraia algo sem tocar o bem subtraído (exemplo: chamar o 
gado para sair da fazenda vizinha e entrar na fazenda do autor 
do crime); 
- sujeito ativo: o furto é crime comum ou geral – podendo ser praticado por qualquer 
pessoa (com exceção do proprietário do bem62); 
- dependendo do sujeito ativo do furto pode surgir uma qualificadora 
(exemplo: pessoa que conta com especial confiança da vítima – furto 
qualificado por abuso de confiança); 
- furto qualificado por abuso de confiança é crime próprio ou 
especial; 
- importante: ladrão que furta ladrão pratica novo furto – a vítima do 
segundo furto continua sendo o proprietário do bem; 
- furto de coisa própria: impossível, vez que a coisa tem necessariamente 
de ser alheia; 
- penhor: caso o agente subtraia algo de que ele é proprietário 
e deixou empenhado com outra pessoa, pratica crime de 
exercício arbitrário das próprias razões (artigo 346 do Código 
Penal63); 
- famulato: o simples detentor do bem é chamado no Direito Civil de 
fâmulo da posse – o detentor da coisa faz seu uso em nome alheio; 
- caso o detentor da coisa resolva subtrair o bem se trata de 
famulato (furto praticado pelo fâmulo da posse em relação à 
coisa detida); 
 
60 Exemplo: “A” pede o celular de “B” para ver e logo em seguida sai correndo com o aparelho celular na 
mão. 
61 Na apropriação indébita a vítima entrega para o agente que recebe a coisa de boa fé (dolo 
subsequente). No estelionato o agente já recebe a coisa de má fé (dolo antecedente). 
62 A coisa deve necessariamente ser alheia. 
63 Crime contra a administração da justiça. 
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- no Brasil a palavra famulato é comumente utilizada como 
furto praticado por empregado doméstico; 
- sujeito passivo: proprietário ou possuidor legítimo do bem; 
- necessidade de identificação do sujeito passivo: é perfeitamente possível 
a caracterização do furto mesmo sem a identificação da vítima; 
- identificação da vítima = dispensável; 
- elemento subjetivo: dolo; 
- o furto é um crime exclusivamente doloso – não existe furto culposo64; 
- dolo do furto: animus furandi; 
- elemento subjetivo específico: animus rem sibi habendi (intenção de se 
assenhorar da coisa compreendida na expressão “para si ou para outrem”); 
- em função de tal exigência o “furto de uso” não é crime – falta 
a intenção de se assenhorar definitivamente da coisa; 
- finalidade lucrativa: embora normalmente presente, não é necessária 
para caracterização do crime; 
- é possível a prática do furto por vingança, finalidade amorosa, 
fanatismo político ou religioso (e por outros motivos); 
- furto VS exercício arbitrário das próprias razões: 
- o crime de exercício arbitrário das próprias razões é crime contra a 
administração da justiça e está previsto no artigo 345 do Código Penal; 
- subtrair um bem para pagamento de dívida não paga configura exercício 
arbitrário das próprias razões – o agente busca ser ressarcido de uma 
dívida que não foi paga; 
- momento consumativo: a jurisprudência se inclinou pela adoção da teoria da amotio; 
- o furto se consuma no momento da inversão da posse do bem – 
entendimento do STF (HD 114.329) e do STJ (REsp. 1.524.450); 
- a consumação do furto não depende da posse mansa e pacífica do bem; 
- crime material ou causal: a consumação depende do resultado 
naturalístico – inversão da posse com prejuízo ao patrimônio da vítima; 
- para consumação do furto não é necessário que a coisa seja levada para 
outro local; 
- destruição da coisa: o furto também se consuma no caso em que o agente 
destrói a coisa subtraída; 
- crime instantâneo: o furto se consuma em um momento determinado, 
sem continuidade no tempo; 
 
64 O único crime contra o patrimônio que admite a modalidade culposa (no Código Penal) é a receptação 
(artigo 180, §3º). 
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- furto como crime permanente  é possível o furto como 
crime permanente (consumação se prolonga no tempo em 
função da vontade do agente); 
- exemplo: furto de energia elétrica; 
- tentativa: é perfeitamente possível a tentativa em todas as espécies de furto (simples 
+ privilegiado + qualificado) vez que se trata de crime plurissubsistente65; 
 
 Furto noturno: 
- previsão legal: artigo 155, §1º do Código Penal; 
- tipo legal: “a pena aumenta-se de um terço se o crime é praticado durante o repouso 
noturno”; 
- natureza jurídica: causa de aumento de pena66 – a ser aplicada na terceira 
fase da dosimetria; 
- nomenclatura: furto circunstanciado ou furto majorado; 
- aplicabilidade: durante muito tempo prevaleceu o entendimento de que a majorante 
somente era aplicável ao furto simples, não sendo aplicada ao furto qualificado; 
- tratava-se de interpretação topográfica do tipo penal; 
- entendimento atual67: a majorante do repouso noturno é aplicável ao 
furto simples e ao furto qualificado; 
- fundamento: o Código Penal adota um critério objetivo – o furto praticado durante o 
repouso noturno possui sua execução facilitada em função da menor vigilância da 
vítima sobre o bem subtraído; 
- repouso noturno: o termo não se equipara à “noite68”; 
- trata-se do hiato entre o período em que as pessoas se recolhem para 
descansar e o período em que as pessoas despertam para a vida cotidiana; 
- o conceito é variável – a título de exemplo os intervalos são 
distintos entre o ambiente rural e o ambiente urbano; 
- casa habitada: incidência da majorante VS necessidade da casa estar habitada; 
- entendimento antigo sustentava que para incidência da majorante é 
necessário que se tratasse de casa que fosse habitada; 
- o entendimento atual é de que não é necessário que a casa seja habitada 
ou que haja pessoas no local para incidência da majorante – a lógica é de 
que o patrimônio fica mais suscetível a ser subtraído durante a noite; 
- o fato de ser horário do repouso noturno e acidentalmente a 
vítima estiver acordada, não deve ser afastada a majorante; 
 
65 Crime cuja conduta constitui-se de dois ou mais atos. 
66 Não é qualificadora. 
67 Do STF (HC 135.952) e do STJ (HC 306.450). 
68 O conceito astrológico de noite é o “período que vai do crepúsculo à aurora”. 
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- caso o ambiente estivesse totalmente incompatível com o 
repouso noturno (exemplo: festa no local) não incide a 
majorante; 
- furto praticado durante o dia: tal majorante jamais se aplica ao furto praticado 
durante o dia (mesmo que a vítima esteja em repouso69); 
 
 Furto privilegiado: 
- previsão legal: artigo 155, §2º do Código Penal; 
- nomenclaturas: furto de pequeno valor + furto mínimo; 
- tipo penal: “se o criminoso é primário e é de pequeno valor a coisa furtada, o juiz 
pode substituir a pena de reclusão pela de detenção, diminuí-la de um a dois terços ou 
aplicar somente a pena de multa”; 
- requisitos: 
- agente primário (requisito subjetivo)  primário é todo aquele que não é 
reincidente (conceito por exclusão); 
- pequeno valor da coisa (requisito objetivo)  a jurisprudência firmouum 
critério objetivo, dizendo ser coisa de pequeno valor aquela que não 
ultrapassa 1 (um) salário mínimo – o pequeno valor da coisa deve ser 
provado por meio de um auto de avaliação; 
- a coisa de pequeno valor independe das condições 
econômicas da vítima – o critério é puramente objetivo; 
- coisa de valor insignificante: neste caso o fato é atípico em 
função da aplicação do princípio da insignificância – a 
jurisprudência tem considerado coisa de valor insignificante 
aquela que não ultrapassa 20% do salário mínimo; 
- efeitos do privilégio: o Código Penal prevê três consequências para a incidência do 
privilégio70; 
- substituição da pena de reclusão por detenção; 
- diminuição da pena de 1/3 a 2/371; 
- aplicação unicamente da pena de multa; 
- observação: é perfeitamente possível o furto privilegiado participado 
durante o repouso noturno + também é possível o furto privilegiado 
qualificado72 desde que a qualificadora seja de ordem objetiva; 
 
 
69 Não se trata de repouso noturno. 
70 Presentes os requisitos legais e caracteriza o privilégio, o juiz está obrigado a aplicar uma das três 
hipóteses citadas. 
71 Os dois primeiros efeitos podem ser cumulados entre si. 
72 Durante muito tempo a jurisprudência defendeu que apenas o furto simples poderia ser privilegiado. 
Atualmente a jurisprudência entende perfeitamente possível o furto híbrido ou furto privilegiado 
qualificado (Súmula 511 do STJ). 
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 Furto qualificado: 
- §4º do artigo 155: traz algumas qualificadoras do crime de furto (a pena é de reclusão 
de dois a oito anos e multa se o crime é cometido): 
- as qualificadores dizem respeito aos meios de execução do furto que 
tornam o crime mais grave; 
- o furto qualificado do §4º é um crime de elevado potencial ofensivo – 
inadmissível a incidência dos institutos da Lei 9.099/95; 
- hipóteses de qualificadoras do §4º: 
- inciso I  furto praticado com destruição ou rompimento de obstáculo à 
subtração da coisa; 
- obstáculo: instrumento, objeto ou barreira que protege o bem 
e dificulta a sua subtração; 
- externo VS interno: 
- obstáculo externo: cadeado; 
- obstáculo interno: grade de proteção 
de residência; 
- ativo VS passivo: 
- obstáculo ativo: além de defender o 
bem, pode fazer um mal ao agente 
(cerca elétrica); 
- obstáculo passivo: se limita a proteger 
o bem (porta + janela); 
- cão de guarda: prevalece (posição majoritária) 
que o cão de guarda pode ser considerado um 
obstáculo – assim caso o agente mate o cão de 
guarda para ter acesso ao bem deve ser 
responsabilizado por furto qualificado pela 
destruição de obstáculo; 
- destruição: fazer desaparecer; 
- rompimento: o obstáculo continua existindo, porém é 
inutilizado; 
- tanto na destruição quanto no rompimento há também um 
dano ao patrimônio – o crime de dano do artigo 163 do Código 
Penal resta absorvido pelo crime de furto qualificado (princípio 
da consunção); 
- o dano será absorvido quando a destruição ou 
rompimento de obstáculo está ligado à subtração 
do bem – ausente a ligação, há concurso de crimes; 
- não incide a qualificadora na mera remoção de um obstáculo 
– ou mesmo na sua desativação; 
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- exemplo: o ato de tirar uma telha para acesso à 
residência não atrai a qualificadora; 
- violência contra a coisa: a destruição ou rompimento de 
obstáculo representa uma violência contra a coisa; 
- havendo violência contra a pessoa o crime trata-se 
de roubo, não de furto; 
- exceção: a violência contra a coisa pode 
caracterizar crime de roubo quando ela representa 
uma grave ameaça – exemplo: atirar contra um 
cachorro para intimidar a vítima e acessar a sua 
residência para subtrair bens de lá (configura grave 
ameaça); 
- exame de corpo de delito: a incidência da qualificadora 
depende da existência de exame de corpo de delito (direto ou 
indireto); 
- obstáculo à subtração da coisa73: 
- 1ª posição: o obstáculo deve ser estranho à coisa 
subtraída para incidência da qualificadora; 
- quebrar o vidro de um veículo para 
furtar o próprio veículo não atrai a 
qualificadora – quebrar o vídeo do 
veículo para subtrair uma bolsa que lá 
se encontra atrai a qualificadora; 
- 2ª posição: o obstáculo pode ser estranho à coisa 
ou também integrar a própria coisa; 
- inciso II  furto praticado com abuso de confiança, fraude, escalada ou 
destreza; 
- abuso de confiança: confiança é um sentimento de 
credibilidade que uma pessoa deposita na outra (famulato – 
furto praticado com abuso de confiança); 
- é imprescindível que o agente se aproveite da 
confiança nele depositada para praticar o crime – 
não incide a qualificadora se o agente (mesmo 
tendo a confiança da vítima) não abuse da relação 
de confiança existente; 
- a qualificadora pode se derivar de uma relação de 
trabalho (empregatícia) ou de outra relação 
qualquer – mesmo que a relação não seja antiga74, 
incide a qualificadora; 
 
73 O tema é muito polêmico na jurisprudência. 
74 Deve ser aferida ou não a existência de confiança. 
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- fraude: artifício + ardil + outro meio fraudulento; 
- artifício = fraude material (o agente se utiliza de 
algum instrumento ou objeto para ludibriar a 
vítima); 
- ardil = fraude moral (o agente se utilizada da 
conversa enganosa para ludibriar a vítima); 
- qualquer outro meio fraudulento = via residual (o 
agente se utiliza de qualquer outro meio 
fraudulento que não o artifício e o ardil); 
- furto qualificado pela fraude VS estelionato - 
- pontos em comum: crimes contra o patrimônio 
que tem a fraude como meio de execução; 
- estelionato: a fraude é elementar do delito (não 
há estelionato sem fraude) + núcleo do tipo 
(obter75); 
- furto mediante fraude: a fraude funciona como 
qualificadora + núcleo do tipo (subtrair76); 
- golpe do test drive e golpe do manobrista  
tecnicamente falando tais atos caracterizam 
estelionato (a vítima entrega o bem para o agente 
enganada pela fraude) – a jurisprudência no 
entanto firmou entendimento no sentido de que o 
crime é de furto mediante fraude77 (acredita-se que 
questões de política criminal orientou tal decisão 
dos tribunais, visto que as apólices de seguro 
normalmente cobrem o crime de furto mediante 
fraude e não cobrem o crime de estelionato); 
- escalada78: utilização de via anormal para entrar ou sair de um 
recinto fechado em que o furto foi praticado ou virá a ser 
praticado; 
- neste caso não pode haver nenhum tipo de 
violência contra a coisa – havendo tal violência 
configura-se a qualificadora de destruição ou 
rompimento de obstáculo; 
- caso ocorra violência contra a pessoa o crime 
passa a ser de roubo; 
 
75 O agente utiliza a fraude para enganar a vítima de forma que ela entregue ao agente o bem. 
76 O agente utiliza da fraude para diminuir a vigilância dela sobre o bem, facilitando a subtração. 
77 Neste sentido: STJ, REsp. 672.987. 
78 A ideia de que somente o furto praticado “subindo” no obstáculo constitui escalada é equivocada: a 
título de exemplo a escavação de um túnel constitui escalada. 
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