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SILVA,W.R; MELO,L.C. (orgs.).Pesquisa e Ensino de Língua Materna e Literatura: diálogos entre formador e professor.São Paulo: Mercado das Letras, 2009. Universidade Federal do Tocantins Edhymally Kuellenny1 O livro “Pesquisa e Ensino de Língua Materna e Literatura: diálogos entre formador e professor”, organizado por Wagner R. Silva e Lívia C. de Melo é um trabalho que conforme descreve Eliane Moraes2 “convida-nos a fazer algumas reflexões sobre o processo de ensino e aprendizagem da língua materna e literatura nas salas da Educação Infantil e do Ensino Básico”. O mesmo é dividido em 3 partes. A primeira, Políticas Educacionais no Ensino de língua materna, dividido em dois capítulos, mostra as principais políticas educacionais no Brasil. Questiona de forma singular se essas políticas saciam o anseio3 da educação brasileira. Mostra, ainda, a participação do professor tocantinense na formulação do Referencial Curricular do Estado do Tocantins (RC/TO). O 1º Capítulo, História de ausência da participação docente na construção de políticas educacionais, trata, principalmente,das políticas educacionais (no Brasil), as propostas que dessas políticas surgiram e o envolvimento do professor nessa elaboração. Como a própria autora, Kátia Cristina, afirma: “ O presente trabalho pretende analisar as políticas públicas propostas no setor educacional(...) identificando o nível de participação dos docentes na elaboração e implementação dos referidos projetos”(p.20) A autora cita o 9º artigo da LDB que afirma que a União além de estabelecer diretrizes para a Educação Básica deve também garantir avaliações nacionais4 objetivando a definição de prioridades e a melhoria da qualidade de Ensino. Uma dessas avaliações,a Prova Brasil, é analisada por Cristina. Quais seriam as possíveis contribuições de uma ‘avaliação’ como essa que , segundo a autora citou, tem como objetivo: a) Avaliar o nível de alfabetização dos educandos nos anos iniciais do ensino fundamental; 1 Acadêmica do 5º Período de Letras- Campus de Araguaína 2 UFG/Campus Jataí.Capa do livro 3 Definir as necessidades e prioridades do ensino. Será que essas políticas são capazes de fazê-lo? 4 Tanto para o Ensino Básico quanto para o Fundamental e Médio. b) Oferecer às redes de ensino um resultado da qualidade do ensino, prevenindo o diagnóstico tardio das dificuldades de aprendizagem;e c) Concorrer para a melhoria da qualidade de ensino e redução das desigualdades, em consonância com as metas e políticas estabelecidas pelas diretrizes da educação nacional. Apesar de apresentarem (de maneira sucinta) os objetivos , segundo a autora, não foram apresentadas metodologias a serem utilizadas na elaboração e aplicação dessas provas. Além de não haver envolvimento do docente no processo de discussão dessas avaliações. No capítulo 2, Teoria Acadêmica e prática docente em Referencial Curricular, os autores , Wagner R. Silva e Lívia C. Melo, pretendem mostrar que o Referencial Curricular do Tocantins(RC/TO) não é plágio, nem cópia. E apresentam argumentos suficientes para desfazer ou desconstruir essas formas nominais que o haviam categorizado. Segundo os autores: “ o RC/TO configura situações novas de circulação, produção e recepção enunciativa, em função de demandas pedagógicas locais mais específicas, ainda que passagens completas do intertexto,PCN, sejam reproduzidas”(negrito meu; p.47) Uma das citações dos autores afirma que: “...toda vez que repetimos ou relatamos o que alguém disse, até mesmo quando produzimos as supostas citações epsis verbis, estamos transformando, reformando, reformulando, recriando e modificando uma fala em outra” (Marcuschi, 2001.p.48) (p. 47) Os autores afirmam que em muitas passagens as formas “parecem substituídas exclusivamente para diferenciar o referencial estadual(RC/TO) do referencial nacional (PCN)” (itálico meu, p.56). Sendo assim, “os propósitos da publicação não foram completamente alcançados”(p.60), pois parece reproduzir os mesmos problemas dos PCN. Como, ausência de propostas de práticas efetivas para a sala de aula. A segunda parte do livro, Ensino de Língua Materna, divida em 3 capítulos, analisa as práticas de ensino de língua no ensino básico e fundamental. No capítulo 3,Prática do professor de língua materna orientada por programa de gerenciamento da aprendizagem, a autora, Juliane Pereira Sales, apresenta um estudo de caso sobre prática de leitura por uma professora, com 22 anos de experiência, do 3º ano em uma escola no interior do Tocantins5. O capítulo 4, Prática de alfabetização sob olhar de professoras, os autores, Wagner R. Silva e Eliziane de Paula S. Barboza, apresentam um método de alfabetização categorizado como tradicional passando pelo moderno, 5 Ananás- Tocantins retornando ao tradicional, fazendo assim uma mistura entre esses dois métodos, objetivando a inovação ao processo de alfabetização local. No capítulo 5, Análise Linguística no Ensino Fundamental: professores e alunos como sujeitos da aprendizagem, os autores, Luiza Helena O. da Silva, Eliziane P. S. Barbosa e Elisângela T. Silva, discute os aspectos que envolvem a formação do professor de língua materna da educação básica. No início do artigo, as autoras falam do ensino de gramática normativa onde diversidade de usos não é respeitada. As autoras afirmam que nem sempre o professor tem consciência dos efeitos e implicações de sua prática , a violência simbólica e cultural a que se presta, os sinlenciamentos e apagamentos que produz. Sobre o assunto Bagno(2008) afirma que: “Cada um de nós, professor ou não, precisa elevar o grau da própria auto-estima lingüística:recusar com veemência os velhos argumentos que visem menosprezar o saber lingüístico individual de cada um de nós. Temos de nos impor como falantes competentes de nossa língua materna”(p.140) Segundo as autoras, apesar do desejo de inovação no ensino de língua, a prática tradicional, ainda gira em torno da identidade do professor, e para reforçarem essa afirmação, citam Mendonça(2006): “A tentativa de aliar uma nova perspectiva a formas conhecidas de ensinar é natural como um processo de apropriação, por parte do docente, de uma proposta teórico-metodológica diferente da sua prática cotidiana.Isso se explica porque não é possível, para o professor, desvencilhar-se da sua própria identidade profissional, o que seria negar a si mesmo, de uma hora para outra...”(p.135) As autoras criticam as políticas de formação continuada quando essas se mostram ineficientes em explicar o motivo de se adotar novas posturas em sala de aula, ou seja, novas concepções de língua, de ensino de língua e de gramática. Seria a substituição do mero dever fazer pelo por que fazer assim ou de outro modo, considerando o professor como sujeito e interlocutor, e não mero receptor/reprodutor de práticas pensadas. Este capítulo apresenta uma proposta de atividade bastante interessante, onde uma professora busca, juntamente com os alunos, uma definição mais simples para a classe gramatical Artigo. É uma prática que se aplicada para ensino de outras classes gramaticais, obteria resultados surpreendentes. A terceira e ultima parte do livro,Ensino de Literatura, dividida em 2 capítulos, analisa o letramento literário no ensino básico e fundamental. No capítulo 6, as autoras, Hilda G. D. Magalhães e Eliziane P. S. Barbosa, pretendem “analisar o tratamento dão aos textos literários na cartilha Alfabetização Série Brasil” (p.151). As mesmas afirmam que as atividades dessa cartilha deveriam priorizar o prazer pela leitura, pois “ o ‘gostar de ler’ levará certamente a um ‘saber ler’”(p.154), mas nem sempre o contrário acontece. E defendem que o ser humanoé preparado para gostar de ler, já que é uma prática prazerosa, pois desperta emoção, sensibilidade e a imaginação do leitor. Criticam a cartilha, pois a grande parte dos textos literários são usados como pretexto para ensino de gramática e ortografia, e apenas um terço é trabalhado adequadamente, explorando “ a emoção e a sensibilidade”(p.158) Luft(2009) afirma que: “Lendo a gente aprende até sem sentir, cresce fica mais poderoso e mais forte como individuo, mais integrado no mundo, mais curioso” (p. 22).E que “ os primeiros anos são fundamentais não apenas por serem os primeiros , mas por construírem a base do que seremos, faremos e aprenderemos depois”(p.22) O mais interessante desse capítulo é que não só aponta os problemas, mas aponta possíveis soluções, com sugestões práticas para trabalhar em sala de aula. O capítulo 7 , Literatura em sala de aula: investigando materiais de apoio didático, Melo e Magalhães, pretendem refletir sobre a maneira como é trabalhado o letramento literário no livro didático de Língua Portuguesa do Ensino Fundamental II. As autoras definem o ‘fenômeno’ letramento literário como “ um meio de inserir a sociedade numa prática de escrita particularizada, é um meio específico de formar leitores”(p.172) Criticam o livro didático Português:Leitura, produção e gramática pois, segundo as autoras, os textos literários que aparecem no livro “ desconsideram a imaginação, a criatividade..., são reduzidos a pretexto para a prática de fixação de normas gramaticais”(p.174), quando não, utilizam apenas questões de decodificação,questões essas que são objetivas6. Segundo as autoras, o livro desconsidera o principal papel do texto literário, que seria permitir o sonho, o imaginário, a fantasia. Apresenta apenas leituras prontas, e é, muitas vezes, o único suporte do professor, o que as autoras chamam de muletas. E afirmam que “cabe ao professor, fazer bom uso da obra” soltar essas muletas! Este é, sem dúvida, um excelente trabalho.Recomendo-o a todos os professores ( e futuros) de Lingua materna e Literatura. São pesquisas que contribuirão de maneira significativa no ensino do país. 6 A resposta pode ser encontrada no texto, sem que o aluno precise pensar e analisar, despertar o senso crítico do aluno. Referências: BAGNO,Marcos.Preconceito Linguístico: o que é, como se faz, 50º Ed.São Paulo:Loyola,2008. LUFT,Lya.Brasileiro gosta de ler? Revista Veja,p.22, Agosto de 2009. SILVA,W.R; MELO,L.C. (orgs.).Pesquisa e Ensino de Língua Materna e Literatura: diálogos entre formador e professor.São Paulo: Mercado das Letras, 2009.
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