Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Homicídio Simples Art. 121, caput, CP. A) Bem jurídico protegido. - Inicialmente cumpre esclarecer que os crimes dolosos contra a vida serão julgados pelo tribunal do júri, tais como o crime de homicídio, Induzimento, instigação ou auxílio a suicídio ou a automutilação, (Redação dada pela Lei nº 13.968, de 2019), o infanticídio e o aborto. - O bem jurídico protegido é a vida em sentido amplo, mas a vida não é um direito absoluto, já que existe exceção na própria constituição (pena de morte no caso de guerra declarada (Art. 84, XIX, CF) e em causas de exclusão da ilicitude. - O bem juridicamente protegido é a vida extrauterina. - Questão de ordem prática: a proteção da vida no crime de homicídio começa e termina a partir de qual momento ? Início – com o início do parto que ocorre com a dilatação do colo do útero e rompimento da membrana aminótica ou incisões das camadas abdominais (cesárea). Mesmo havendo vida intrauterina se houver o início do parto é possível haver o homicídio. Término – com a morte encefálica, ou seja, com a cessação da atividade encefálica, nos termos do Art. 3º da Lei 9.434/97. O EXAME DE CORPO DE DELITO via de regra é indispensável, via de regra, seja de forma direta ou indireta (por meio de informações prestadas por testemunhas ou análise de documentos) devendo ser confeccionado um laudo pericial. B) Tipo objetivo - Ele está no Art. 121, caput, CP, e ocorre na seguinte situação: “Matar alguém” Pena - reclusão, de seis a vinte anos. Veja que a conduta do agente é matar (tirar a vida) alguém (outro ser humano). - A conduta de matar pode ser executada pelos mais variados meios, sendo um crime de execução livre, a exemplo de utilização de instrumento perfuro cortantes (faca), ou cortantes (faca) ou ainda perfuro contundentes (projétil de arma de fogo). - Além disso o crime deve ser praticado contra outro ser humano, já que a expressão “alguém” abrange apenas seres humanos. Por outro lado, se houver a morte de um animal por exemplo, não há que se falar em crime de homicídio, podendo haver outro crime previsto em nosso ordenamento. C) Consumação e tentativa. - A consumação do crime ocorre com a morte da vítima, mais precisamente com a cessação da atividade encefálica, nos termos do Art. 3º da Lei 9.434/97. Percebe-se que o homicídio é um crime material, sendo necessário haver o exame de corpo delito e via de regra deve haver a realização da perícia tanatoscópica no caso de morte ou perícia traumatológica no caso de tentativa de homicídio. OBS: Recaindo a conduta sobre pessoa já sem vida (cadáver), o crime é impossível (Art. 17 CP) por absoluta impropriedade do objeto. Será um crime impossível, também, no caso do agente utilizar meio absolutamente ineficaz. (Ex. sujeito utilizar arma de fogo sem munição para matar outra). - A tentativa é possível, já que se pode fracionar o intercrimines (delito plurissubsistente) sendo determinante para a configuração do crime tentado do homicídio que o agente tenha efetivamente a intenção de matar e o crime não venha a se consumar por circunstâncias alheias à vontade do agente. D) Tipo subjetivo. - O homicídio simples é um crime doloso, devendo existir o animus necandi, consistente na intenção específica de matar, sendo um crime que pode ser executado pelas formas mais variadas possíveis e por qualquer motivo, deve-se analisar os meios de execução e também a motivação da vítima para evidenciar a intenção de matar. - O referido crime pode ser praticado de forma livre, podendo ser praticado por ação, por omissão, por meios diretos, indiretos, materiais ou morais. OBS: Questão: como diferenciar o intenção de matar com outros crimes com resultado morte ? A diferença será na intenção específica do agente já que no crime de homicídio o dolo deve ser de matar e não por exemplo de lesionar a vítima (lesão corporal com resultado morte) ou de praticar a subtração do seus bens moveis com resultado morte (latrocínio) E) Sujeito ativo e passivo. - O sujeito ativo e passivo pode ser qualquer pessoa Crimes contraCrimes contra A vida e a pessoaA vida e a pessoa OBS: Causa de aumento de pena em razão do sujeito passivo - Art. 121, § 4º, CP - sendo doloso o homicídio a pena é aumentada de um terço se o crime é praticado contra: Pessoa menor de 14 anos OU Pessoa maior de 60 anos Fique atento na teoria da atividade e também no fato de que o agente deve ter conhecimento da idade da vítima. Homicídio Privilegiado Art. 121, § 1º, CP. - O homicídio privilegiado está previsto no Art. 121, § 1º do CP com seguinte redação (causa de diminuição de pena aplicável na 3ª fase da dosimetria da pena). § 1º Se o agente comete o crime impelido por motivo de relevante valor social ou moral, ou sob o domínio de violenta emoção, logo em seguida a injusta provocação da vítima, o juiz pode reduzir a pena de um sexto a um terço. - Inicialmente cumpre destacar que caso esta causa de diminuição de pena seja reconhecida ela representa um direito público subjetivo, devendo o juiz proceder à diminuição. - Cabe à defesa provar que o motivo é relevante devendo gozar de importância coletiva e individual. 1ª) Se o agente comete o crime impelido por motivo de relevante valor social ou moral. - Valor social: é aquele motivo que atende aos interesses da coletividade. Ex: morte de político corrupto por uma pessoa revoltada com a situação de impunidade. - Valor moral: é aquele que liga-se a interesses individuais. Ex: Pai que mata o estuprador da filha é um interesse egoisticamente considerado. OBS: Distinção: Eutanásia - também chamado de homicídio piedoso na qual o agente antecipa a morte da vítima a pedido ou com o consentimento desta, com a finalidade de abreviar-lhe o sofrimento. Distanásia – é a morte lenta, prolongada, com muito sofrimento. É uma atitude médica. Ex: A pessoa é mantida viva por aparelhos sem qualquer chance de sobrevida. Visa-se salvar a vida de um paciente terminal. Ortotanásia – é a suspensão de meios medicamentosos ou artificiais de vida de um paciente em coma irreversível e considerado com morte encefálica. A eutanásia quando o agente causa a morte de uma pessoa a pedido desta, pois a vítima não suporta mais as dores impostas por uma doença por compaixão, seria um caso de relevante valor moral. 2ª) Se o agente comete o crime sob o domínio de violenta emoção, logo em seguida a injusta provocação da vítima. - Requisitos: a) Domínio de violenta emoção – o domínio quer dizer que o agente está completamente dominado pela situação, perdendo-se a capacidade de autocontrole. b) Emoção – é um estado de ânimo caracterizado por uma viva excitação de sentimento. c) Logo em seguida – pressupõe uma relação de imediatidade, de proximidade com a provocação. Admite-se alguns minutos, mas não horas ou dias. d) Injusta provocação da vítima – normalmente são provocações verbais (insultos, pilhérias). CUIDADO ! Não confundir com injusta agressão. OBS 1: Se o agente atua sob influência de violenta emoção ? Se o agente tiver uma reação da provocação da vítima que demore algumas horas ou dias, não havendo relação de imediatidade entre a provocação da vítima e a agressão do sujeito ativo do crime, poderá agir sob a influência de violenta emoção, que não torna o homicídio privilegiado, mas sim é uma circunstância atenuante genérica (aplicada na 2ª fase da dosimetria da pena) prevista no Art. 65,III, c) do CP. OBS 2: O homicídio qualificado privilegiado ao mesmo tempo é crime hediondo ? Para que o crime seja hediondo ele deve estar inserido no Art. 1º da Lei 8072/90 que estabelece no inciso I que o homicídio qualificado e o homicídio simples quanto praticado em atividade típica de grupo de extermínio são crimes hediondos. Podem ocorrer situações em que existe homicídio privilegiado pelos motivos (ordem subjetivo) e qualificado em relação aos meios de execução do crime (qualificadora de ordem objetiva). Ex: O agente que matou mediante meio cruel (emprego de fogo e tortura qualificamo crime de homicídio) o estuprador de sua filha (motivo de relevante valor moral é uma causa de diminuição de pena). Os tribunais superiores vem entendendo que o homicídio privilegiado NÃO é crime HEDIONDO por ausência de previsão legal, pois somente será considerado hediondo, nos termos do Art. 1º, I, da Lei n. 8.072/1990 o Homicídio qualificado ou o Homicídio simples quando praticado em atividade típica de grupo de extermínio, ainda que cometido por um só agente. O segundo argumento é o de que o privilégio é incompatível com a hediondez do crime. Homicídio Qualificado Art. 121, § 2º, CP. - O homicídio será qualificado quando cometido nas seguintes situações: I - mediante paga ou promessa de recompensa, ou por outro motivo torpe. a) Paga ou promessa de recompensa - É o chamado Homicídio mercenário ou por mandato remunerado. - É um crime de concurso necessário pois existe a pessoa que ordena a execução (mandante que efetuou o pagamento ou a promessa de pagamento) e existe a pessoa que executa o crime motivado pelo pagamento ou promessa de pagamento. - Paga ou a promessa de recompensa. OBS: Questão de ordem prática : Deverá o mandante responder também, pelo homicídio qualificado pelo fato de ter prometido vantagem para que alguém o praticasse (VIA de regra só há a qualificação do crime para quem EXECUTA o crime motivado pelo pagamento ou promessa de pagamento) ? Parcela da doutrina – entende que NÃO, porque todas as qualificadoras devem ser consideradas como circunstâncias, e neste caso de caráter pessoal. STJ – entendimento mais recente deste Tribunal é no sentido de NÃO comunicar a circunstância ao MANDANTE, ou seja, apenas quem EXECUTA O CRIME é que terá a incidência da qualificadora, isto porque: “No homicídio a qualificadora de ter sido praticado mediante paga ou promessa de recompensa é circunstância de caráter pessoal, e portanto, ex vi art. 30 C.P., incomunicável.” (REsp 1415502 / MG, Relator: Ministro Félix Ficher, 5ª Turma, DJE 17.02.2017) b) Motivo torpe – torpe é o motivo abjeto que causa repugnância, nojo, sensação de repulsa pelo fato praticado pelo agente percebe-se, que o inciso I, Art. 121, § 2º, CP se vale da chamada interpretação analógica. Ex: Podem ocorrer outra situação de motivo torpe que sejam semelhantes ao caso de homicídio mercenário a exemplo de matar parentes para receber a herança ou seguro de vida. OBS 1: Questão de ordem prática: A vingança pode ou não ser considerado motivo torpe ? Depende do caso concreto. STJ – possui entendimento mais recente no seguinte sentido: “1. A vingança como motivo é aquela que mais vivamente ofende a moralidade média, o senso ético social comum. É o motivo abjeto, repugnante, indigno. A realidade fática, as características do acontecimento, as peculiaridades relevantes e as condições das pessoas envolvidas é que nortearão o intérprete na acolhida ou na repulsa do gravame. 2. Embora reprovável, não se pode acoimar de repugnante o sentimento do acusado no presente caso, que matou a vítima para vingar a morte de seu pai, a qual ocorreu quando o réu era criança e de forma violenta, pois, depois de ser morto, seu pai fora jogado aos porcos. Tal circunstância, no passado, afasta, de plano, a apontada torpeza do motivo.” (REsp 1637001 / PR , Ministro ROGERIO SCHIETTI CRUZ, T6 - SEXTA TURMA, DJe 19/12/2017) OBS 2: Questão de ordem prática: O ciúme pode ou não ser considerado motivo torpe ? Depende do caso concreto. STJ - Esta Corte possui jurisprudência no sentido de que, a depender do contexto, o ciúme pode caracterizar o motivo torpe que qualifica o crime de homicídio, cabendo ao Tribunal do Júri tal valoração, caso a caso. Precedentes.( AgRg no AREsp 1134833 / SP, Ministro JOEL ILAN PACIORNIK, T5 - QUINTA TURMA, DJe 01/02/2018) Ex: O sentimento de posse em relação a outra pessoa, com submissão a situações humilhantes ou violentas, acrescido do ciúme desmedido, a depender das circunstâncias do caso concreto, pode caracterizar o motivo torpe. Ex 1: O marido que mata a mulher por ciúmes porque esta o traiu pode não ser considerado motivo torpe mas sim alegação de motivo de relevante valor moral. Ex 2: O marido que mata a esposa porque esta estava com determinada roupa ou porque vai a determinados lugares pode ser considerado um motivo torpe. II - por motivo fútil. a) Motivo fútil – fútil é o motivo insignificante, que faz com que o comportamento do agente seja desproporcional. Ex 1: Pessoa que mata o seu devedor que não havia quitado em tempo hábil sua dívida. Ex 2: Pessoa que mata outra pessoa por conta de uma discussão no transito. OBS 1: Questão de ordem prática – a ausência de motivo pode ser considerada motivo fútil ? A doutrina majoritária esclarece que o crime cometido por ausência de motivos NÃO configura motivo fútil, por falta de previsão legal, devendo ser respeitado o princípio da legalidade. OBS 2: Questão de ordem prática – a embriaguez dolosa exclui o motivo fútil ? STJ – “1. Pela adoção da teoria da actio libera in causa (embriaguez preordenada), somente nas hipóteses de embriaguez decorrente de "caso fortuito" ou "forma maior" é que haverá a possibilidade de redução da responsabilidade penal do agente (culpabilidade), nos termos dos §§ 1º e 2º do art. 28 do Código Penal. 2. Em que pese o estado de embriaguez possa, em tese, reduzir ou eliminar a capacidade do autor de entender o caráter ilícito ou determinar-se de acordo com esse entendimento, tal circunstância não afasta o reconhecimento da eventual futilidade de sua conduta. Precedentes do STJ.(...) Processo REsp 908396 / MG - RECURSO ESPECIAL 2006/0257094-3 - Órgão Julgador T5 - QUINTA TURMA - Data do Julgamento 03/03/2009 Data da Publicação/Fonte DJe 30/03/2009 “1. Consta que o Paciente foi denunciado pela prática, em tese, de homicídio triplamente qualificado (motivo fútil, emprego de meio cruel e recurso que impossibilitou a defesa da vítima), por duas vezes, em concurso formal, uma vez que "a denúncia sustenta que o paciente praticou homicídio doloso, na modalidade de dolo eventual, ao assumir o risco de produzir o resultado, ao conduzir veículo automotor, qual seja, camionete Toyota Hilux, em alta velocidade, aproximadamente 134 km/h, em local cuja velocidade regulamentar é de 40 km/h", além do que "o paciente se encontrava em estado de embriaguez". 3. Quanto ao pedido de exclusão das qualificadoras descritas na denúncia, sustenta a impetração a incompatibilidade entre o dolo eventual e as qualificadoras do homicídio. Todavia, o fato de o Paciente ter assumido o risco de produzir o resultado morte, aspecto caracterizador do dolo eventual, não exclui a possibilidade de o crime ter sido praticado por motivo fútil, uma vez que o dolo do agente, direto ou indireto, não se confunde com o motivo que ensejou a conduta, não se afigurando, em princípio, a apontada incompatibilidade. Precedente. (HC 118071 / MT, Ministra LAURITA VAZ, T5 - QUINTA TURMA, DJe 01/02/2011) III - com emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia, tortura ou outro meio insidioso ou cruel, ou de que possa resultar perigo comum. a) Emprego de veneno – trate-se um meio insidioso, ou seja, deve ser ministrado na vítima sem que esta perceba que está ingerindo o veneno. Vale lembrar que o veneno é qualquer substância que venha a ofender o organismo de outra pessoa, podendo ser inclusive alimentos comuns a exemplo do açúcar para o diabético. Ou seja, leva-se em consideração as peculiaridade fisiológicas da vítima. Tanto existem substâncias que são essencialmente venenosas, quanto também existem substâncias que são apenas eventualmente venenosas. OBS: Caso uma pessoa seja forçada a ingerir veneno, haverá a incidência da qualificadora ? NÃO, neste caso poderá haver eventualmente o reconhecimento de outra qualificadora a exemplo de utilização de meio cruel. b) Fogo – trata-se de meio cruel que causa um intenso sofrimento físico e que também pode resultar perigo comum à coletividade. c) Explosivo – meio que resultaperigo comum. d) Tortura – trata-se de um meio que causa um intenso sofrimento físico ou mental e no caso o resultado morte era perseguido pelo agente, tendo escolhido o sofrimento atroz da vítima como meio de alcançá-lo. OBS: No crime de tortura qualificado pelo resultado morte a intenção do agente não é matar a vítima dolosamente, mas sim causar-lhe um intenso sofrimento físico ou mental para alcançar alguma finalidade trazida pela lei de tortura a exemplo de torturar a vítima para obter informação ou confissão desta. IV - à traição, de emboscada, ou mediante dissimulação ou outro recurso que dificulte ou torne impossível a defesa do ofendido. a) Traição – a doutrina classifica esta qualificadora em traição material e traição moral. A chamada traição material significa enganar e ser infiel consistindo em um um ataque desleal, repentino e inesperado. A doutrina entende também que a traição também pode se configurar quando existe uma quebra de confiança entre os sujeitos e há o cometimento do homicídio (traição moral). b) Emboscada - pressupõe ocultamento do agente para executar o crime de homicídio a exemplo da “tocaia”. c) Dissimular - tem o sentido de ocultar a intenção homicida, fazendo-se passar por amigo, conselheiro. d) Ou outro recurso que dificulte ou torne impossível a defesa do ofendido – todos os exemplo acima são circunstância que irão dificultar ou tornar impossível a defesa do ofendido, porém o legislador autoriza que outras situações semelhantes às anteriores também possa qualificar o crime. Ex1: Jogar areia ou ácido nos olhos da vítima podem dificultar a sua defesa e qualificar o crime de homicídio. Ex2: Matar a vítima enquanto ele está dormindo pode tornar impossível a defesa da vítima. V - para assegurar a execução, a ocultação, a impunidade ou vantagem de outro crime. a) Assegurar a execução de outro crime - Comete-se o crime de homicídio para tornar segura a prática de um crime futuro (conexão teleológica). Ex: Comete-se o homicídio dos seguranças da agência bancária para facilitar o roubo ao banco no dia seguinte. b) Assegurar a ocultação, a impunidade ou vantagem de outro crime. - Neste caso exista a chamada conexão consequencial pois o agente tem a finalidade de assegurar a ocultação, impunidade ou vantagem de um crime já cometido – crime pretérito. Assegurar a ocultação: pretende-se manter desconhecida a infração penal já praticada. Ex: Matar a mulher que foi estuprada para ocultar o crime estupro. Assegurar a impunidade: a infração penal é conhecida, mas sua autoria ainda se encontra ignorada. Ex: A pessoa matar a única testemunha ocular do crime de estupro para manter a sua autoria ignorada. Assegurar a vantagem de outro crime: o agente comete um crime anterior em que existe alguma vantagem(normalmente patrimonial) e comete-se o homicídio posteriormente para assegurar esta vantagem. Ex: Pessoa comete o crime de roubo a um banco com um comparsa e posteriormente mata o comparsa para assegurar toda a vantagem do crime de roubo. Crimes Contra mulher por razões da condição do sexo feminino (feminicídio) (Incluído pela Lei nº 13.104, de 2015). Inicialmente cumpre destacar que o Brasil já vinha adotando medidas legislativas voltadas para a necessária e diferenciada proteção da mulher, como a Promulgação da Convenção Interamericana para prevenir, punir e erradicar a violência contra a mulher concluída em Belém do Pará em 09 de junho de 1994, mas editada pelo Decreto nº 1.973 de 1 de agosto de 1996, que estabelece nos Arts 1º, 3º e 4º, respectivamente: Artigo 1 - Para os efeitos desta Convenção, entender-se-á por violência contra a mulher qualquer ato ou conduta baseada no gênero, que cause morte, dano ou sofrimento físico, sexual ou psicológico à mulher, tanto na esfera pública como na esfera privada. Artigo 3 -Toda mulher tem direito a uma vida livre de violência, tanto na esfera pública como na esfera privada. Artigo 4 - Toda mulher tem direito ao reconhecimento, desfrute, exercício e proteção de todos os direitos humanos e liberdades consagrados em todos os instrumentos regionais e internacionais relativos aos direitos humanos. Estes direitos abrangem, entre outros: a) direito a que se respeite sua vida; Subsequentemente, seguindo as determinações contidas na aludida Convenção, em 7 de agosto de 2006 foi publicada a Lei 11.340, popularmente conhecida como Lei Maria da Penha, criando mecanismos para coibir a violência doméstica e familiar contra a mulher. Em 9 de março de 2015, indo mais além, foi publicada a Lei nº 13.104 que criou uma modalidade de homicídio qualificado, o chamado feminicídio, que ocorre quando uma mulher vem a ser vítima de homicídio simplesmente por razões de condição do sexo feminino. Entretanto, não é pelo fato de uma mulher figurar como sujeito passivo que sempre estará caracterizado o crime. Para que reste configurada a qualificadora o crime deve ocorrer em razões de condição do sexo feminino, o que efetivamente ocorrerá, nos termos do § 2ª – A, do Art. 121, CP, quando o crime envolve: I - violência doméstica e familiar; Quanto a esta primeira situação, quem define o que é violência doméstica e familiar contra a mulher é o Art. 5º da Lei 11.340/2006 que possui a seguinte redação: Art. 5o Para os efeitos desta Lei, configura violência doméstica e familiar contra a mulher qualquer ação ou omissão baseada no gênero que lhe cause morte, lesão, sofrimento físico, sexual ou psicológico e dano moral ou patrimonial: (Vide Lei complementar nº 150, de 2015) I - no âmbito da unidade doméstica, compreendida como o espaço de convívio permanente de pessoas, com ou sem vínculo familiar, inclusive as esporadicamente agregadas; II - no âmbito da família, compreendida como a comunidade formada por indivíduos que são ou se consideram aparentados, unidos por laços naturais, por afinidade ou por vontade expressa; III - em qualquer relação íntima de afeto, na qual o agressor conviva ou tenha convivido com a ofendida, independentemente de coabitação. Parágrafo único. As relações pessoais enunciadas neste artigo independem de orientação sexual. Como bem esclarece o autor Renato Brasileiro de Lima a Lei Maria da Penha visou conferir uma proteção diferenciada ao gênero feminino, que pode ter uma maior vulnerabilidade nas situações legais estabelecidas nos incisos acima. A contrario sensu, se uma mulher for vítima de determinada violência, mas o delito não tiver sido executado no ambiente doméstico, familiar ou em qualquer relação íntima de afeto (ex: Briga de vizinhos), não terá aplicação a Lei 11.340/2006. A primeira consideração que pode ser feita ao Art. 5º da Lei Maria da Penha é que a conjunção aditiva “e” foi utilizada de maneira imprópria quando se refere à violência doméstica E familiar contra a mulher, pois fica a impressão equivocada de que as hipóteses de violência fossem sempre praticadas no âmbito doméstico e, concomitantemente, entre familiares. Mas na verdade a violências pode ser perpetrada em qualquer das situações elencadas no Art. 5º, incisos I - ambiente doméstico, II - ambiente familiar OU III – qualquer relação íntima de afeto. Portanto, melhor teria andado o legislador se tivesse optado pela expressão “violência doméstica OU familiar contra a mulher”. Para o autor Renato Brasileiro de Lima a Lei Maria da Penha terá aplicabilidade, em síntese, quando estiverem presentes 3 pressupostos cumulativos: 1º) sujeito passivo mulher; 2º) Prática de violência física, psicológica, sexual, patrimonial ou moral, bastando o cometimento de qualquer das violências previstas nos incisos I a V do Art. 7º da Lei Maria da Penha; 3º) Violência dolosa praticada no âmbito da unidade doméstica, familiar ou em qualquer relação íntima de afeto situações em que se presume uma maior vulnerabilidade da mulher. Vamos então passar a analisar cada um destes pressupostos: 1º) sujeito passivo mulher. Antes de falar do sujeito passivo para fins de incidência da Lei Maria da Penhacumpre fazer considerações quanto o sujeito ativo para fins de aplicação da lei. Esclarece a doutrina que o agressor poderá ser tanto o homem (união heterossexual) como outra mulher (união homoafetiva). Isto decorre inclusive do disposto no parágrafo único do Art. 5º da lei que estabelece que “as relações pessoais enunciadas neste artigo independem de orientação sexual.” Todavia, como adverte o autor Renato Brasileiro, quando a violência for perpetrada por uma mulher contra outra não há que se falar em presunção absoluta de vulnerabilidade do gênero feminino, mas sim presunção relativa. Em outras palavras, para a configuração de violência doméstica e familiar contra a mulher, é indispensável que a vítima esteja em situação de hipossuficiência física ou econômica, em condição de vulnerabilidade, enfim, que a infração penal tenha motivação a opressão à mulher. Neste contexto o STJ já se posicionou que: “1. Delito contra honra, envolvendo irmãs, não configura hipótese de incidência da Lei nº 11.340/06, que tem como objeto a mulher numa perspectiva de gênero e em condições de hipossuficiência ou inferioridade física e econômica. Sujeito passivo da violência doméstica, objeto da referida lei, é a mulher. Sujeito ativo pode ser tanto o homem quanto a mulher, desde que fique caracterizado o vínculo de relação doméstica, familiar ou de afetividade. 3. No caso, havendo apenas desavenças e ofensas entre irmãs, não há qualquer motivação de gênero ou situação de vulnerabilidade que caracterize situação de relação íntima que possa causar violência doméstica ou familiar contra a mulher. Não se aplica a Lei nº 11.340/06.” (Conflito de Competência 88027 / MG, S3 - TERCEIRA SEÇÃO, Ministro OG FERNANDES, DJe 18/12/2008)” “ O objeto de tutela da Lei Maria da Penha é a mulher em situação de vulnerabilidade , não só em ralação ao cônjuge ou companheiro, mas também em face de qualquer outro familiar ou pessoa que conviva com a vítima, independentemente do gênero do agressor. Logo é perfeitamente possível a incidência da Lei 11.340/2006 nas relações entre mãe e filha. Afinal, quando se trata de violência doméstica e familiar contra a mulher, o sujeito ativo do crime pode ser tanto o homem como a mulher, desde que esteja presente o estado de vulnerabilidade caraterizado por uma relação de poder e submissão. (HC 277.561/ AL, Min Jorge Mussi, 5ª Turma, DJE 6.11.2014) Feitas as considerações acima quanto ao sujeito ativo, cumpre elucidar que especificamente em relação ao sujeito passivo de violência doméstica e familiar há uma exigência especial: ser mulher. Por isso, estão protegidas pela Lei Maria da Penha não apenas as esposas, companheiras, amantes, namoradas ou ex-namoradas, como também filhas e netas do agressor, sua mãe, sogra, avó, ou qualquer outro parente do sexo feminino com a qual haja relação doméstica, familiar ou íntima de afeto. Ou seja, a doutrina e jurisprudência majoritária entende ser inviável a aplicação da Lei Maria da Penha nas hipóteses de violência contra pessoas do sexo masculino. Quanto ao sujeito passivo ainda surge uma problematização trazida pelo autor Rogério Greco: quem pode ser considerada mulher, para efeitos de reconhecimento do homicídio qualificado (ou de qualquer outro crime) ? Para responder a esta problemática surgem três critérios para definir o conceito de mulher para fins de reconhecimento da qualificadora: a) Natureza psicológica - neste caso embora alguém seja do sexo masculino psicologicamente acredita ser mulher, como pode ocorrer com os casos de transexualismo ou síndrome da disforia sexual. Neste caso como preceitua Genival Veloso França (fundamentos da medicina legal) existe uma aversão ou negação ao sexo de origem, o que leva esses indivíduos a protestarem e insistirem numa forma de cura por meio de cirurgia de reversão genital, assumindo, assim, a identidade do seu desejado gênero. b) Natureza biológica - identifica-se a mulher de acordo com a sua concepção genética ou cromossômica. Para este critério não haveria feminicídio se houvesse a cirurgia de neocolpovulvoplastia, pois é uma cirurgia de alteração estética, mas não genética. c) Critério Jurídico – para este critério, somente será considerada mulher aquela que for portadora de um registro oficial (certidão de nascimento, documento ou de identidade) em que figure expressamente, o seu sexo feminino. OBS: Apesar de não existir uniformidade quanto a adoção dos critérios acima para fins de configuração da qualificadora do feminicídio, sigo o entendimento de Rogério Greco que adora o critério jurídico já que traduz como sendo o que traz uma maior segurança jurídica exigida pelo direito. Além disso, como estamos diante de uma norma penal incriminadora, que deve ser interpretada o mais restritivamente possível, evitando-se uma indevida ampliação do seu conteúdo que ofenderia, frontalmente, o princípio da legalidade. 2º) Prática de violência física, psicológica, sexual, patrimonial ou moral, bastando o cometimento de qualquer das violências previstas nos incisos I a V do Art. 7º da Lei Maria da Penha Inicialmente cumpre destacar que na esfera penal a expressão violência designa apenas a violência física ou corporal. Ou seja, o emprego de força física sobre o corpo da vítima de modo a facilitar a execução de determinado crime, a exemplo do roubo e do crime de estupro. Em sentido diverso, a Lei Maria da Penha utiliza o termo “violência” em sentido amplo, abrangendo não apenas a violência física, como também a violência psicológica, sexual, patrimonial e moral. A caracterização da violência doméstica e familiar contra a mulher não exige a presença simultânea e cumulativa de todos os requisitos do Art. 7º. Ou seja, para o reconhecimento da violência contra a mulher, basta a presença alternativa de um dos incisos do Art. 7º, em combinação alternativa com um dos pressupostos do Art. 5º. Parte da doutrina entende, inclusive, que o rol do Art. 7º da Lei Maria da Penha NÃO é TAXATIVO, tendo em vista que o legislador utiliza a expressão “entre outras”. Logo é possível o reconhecimento de outras formas de violência doméstica e familiar contra a mulher, tendo-se uma verdadeira hipótese de interpretação analógica. Conforme o Art. 7º da Lei Maria da Penha: São formas de violência doméstica e familiar contra a mulher, entre outras: I - a violência física, entendida como qualquer conduta que ofenda sua integridade ou saúde corporal; II - a violência psicológica, entendida como qualquer conduta que lhe cause dano emocional e diminuição da autoestima ou que lhe prejudique e perturbe o pleno desenvolvimento ou que vise degradar ou controlar suas ações, comportamentos, crenças e decisões, mediante ameaça, constrangimento, humilhação, manipulação, isolamento, vigilância constante, perseguição contumaz, insulto, chantagem, ridicularização, exploração e limitação do direito de ir e vir ou qualquer outro meio que lhe cause prejuízo à saúde psicológica e à autodeterminação; III - a violência sexual, entendida como qualquer conduta que a constranja a presenciar, a manter ou a participar de relação sexual não desejada, mediante intimidação, ameaça, coação ou uso da força; que a induza a comercializar ou a utilizar, de qualquer modo, a sua sexualidade, que a impeça de usar qualquer método contraceptivo ou que a force ao matrimônio, à gravidez, ao aborto ou à prostituição, mediante coação, chantagem, suborno ou manipulação; ou que limite ou anule o exercício de seus direitos sexuais e reprodutivos. OBS: Questão de ordem prática – especificamente em relação aos crimes contra a liberdade sexual, previstos no Art. 213 e 216-A, o fato de o crime ser cometido no contexto de violência e familiar contra a mulher altera a ação penal ? A doutrina e a jurisprudência possuem entendimento que NÃO, pois a Lei Maria da Penha não fez ressalva quanto ao assunto. IV - a violência patrimonial, entendida como qualquer conduta que configure retenção, subtração, destruição parcialou total de seus objetos, instrumentos de trabalho, documentos pessoais, bens, valores e direitos ou recursos econômicos, incluindo os destinados a satisfazer suas necessidades; OBS: Questão de ordem prática – são aplicáveis aos crimes contra o patrimônio praticados no contexto da violência doméstica e familiar contra a mulher as imunidades absolutas (Art. 181, CP) e relativas (Art. 182, CP) ? Parte da doutrina sustenta que diante do silêncio da Lei Maria da Penha, que não contém qualquer dispositivo expresso vedando a aplicação dos Art. 181 e 182 do CP, o ideal é concluir que a imunidades absolutas e relativas continuam sendo aplicáveis às infrações penais praticadas no contexto de violência doméstica e familiar contra a mulher. Quando a lei quis afastar a possibilidade de aplicação de tais imunidades a determinada espécie de crime, o fez de forma expressa, a exemplo de crimes praticados contra o patrimônio do idoso. V - a violência moral, entendida como qualquer conduta que configure calúnia, difamação ou injúria. 3º) Violência dolosa praticada no âmbito da unidade doméstica, familiar ou em qualquer relação íntima de afeto situações em que se presume uma maior vulnerabilidade da mulher. a) Âmbito da unidade doméstica – compreendida como o espaço de convívio permanente de pessoas, com ou sem vínculo familiar, inclusive as esporadicamente agregadas. O simples fato de uma violência ser praticada contra uma mulher no âmbito da unidade doméstica não a transforma em hipótese fática sujeita aos gravames da Lei Maria da Penha. Para tanto, é indispensável que o agressor e a vítima façam parte desta mesma unidade. Ex: Arquiteta sofre violência quando estava finalizando o trabalho na residência de um cliente que a agrediu porque não gostou do trabalho, não haverá a incidência da lei Maria da Penha. b) Âmbito da unidade familiar – compreendida como a comunidade formada por indivíduos que são ou se consideram aparentados, unidos por laços naturais, por afinidade ou por vontade expressa. O traço peculiar dessa hipótese é a existência de vínculos familiares, pouco importando o local de cometimento da violência, que não necessariamente precisa ser o espaço caseiro. Ex: Em caso concreto irmão foi ao apartamento de sua irmã, com vontade livre e consciente, fazendo várias ameaças de causar-lhe mal injusto e grave, além de ter provocado danos materiais em seu carro, causando-lhe sofrimento psicológico e dano moral e patrimonial, no intuito de forçá-la a abrir mão do controle da pensão que a mãe de ambos recebe, concluiu o STJ trata-se de feito de competência do Juizado de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher (REsp, 1.239.850/DF, 5ª Turma, Min. Laurita Vaz, Dje. 16.02.12). Ex: Caso concreto em que a violência foi empregada contra cunhada do acusado, que vivia há mais de um ano com o casal sob o mesmo teto, conclui o STJ ser possível a incidência da Lei Maria da Penha, nos termos do Art. 5º, II, da Lei nº 11.340/2006. c) Qualquer relação íntima de afeto, na qual o agressor conviva ou tenha convivido com a ofendida independentemente de coabitação – Sem embargo de opiniões em sentido contrário, o autor Renato Brasileiro entende que a relação íntima de afeto deve ser interpretada restritivamente, no sentido de abranger apenas relacionamentos dotados de conotação sexual ou amorosa. Por consequência, a simples amizade, por mais próxima que seja, não pode ser etiquetada a priori como relação íntima de afeto, vez que em tais situações dificilmente estará presente a situação de vulnerabilidade. Nesta hipótese, inclusive dispensa-se o requisito da coabitação, podendo a relação não ser doméstica nem familiar. Ex: Especificamente em relação ao NAMORO como espécie de relação íntima de afeto, há precedentes do STJ no sentido de que a aplicabilidade da Lei Maria da Penha deve ser analisada no caso concreto, não se podendo ampliar o termo relação íntima de afeto para abarcar relacionamento passageiro, fugaz ou esporádico. Todavia, verificando- se nexo de causalidade entre a conduta criminosa e a relação de intimidade entre o agressor e a vítima, que estaria sendo ameaçada de morte após romper o namoro de quase dois anos, deve ser aplicada a Lei Maria da Penha, pouco importando que tenha havido ou não coabitação. Neste sentido: “I. A Terceira Seção deste Superior Tribunal de Justiça vem firmando entendimento jurisprudencial no sentido da configuração de violência doméstica contra a mulher, ensejando a aplicação da Lei nº 11.340/2006, a agressão cometida por ex-namorado. I - Em tais circunstâncias, há o pressuposto de uma relação íntima de afeto a ser protegida, por ocasião do anterior convívio do agressor com a vítima, ainda que não tenham coabitado. (HC 181217 / RS, Ministro GILSON DIPP, 5ª Turma, DJe 04/11/2011) II - menosprezo ou discriminação à condição de mulher. O menosprezo pode ser entendido no sentido de desprezo, sentimento de aversão, repulsa, repugnância a uma pessoa do sexo feminino. Por sua vez, discriminação tem o sentido de tratar de forma diferente, distinguir pelo fato da condição da vítima ser mulher. OBS: Uma análise criminológico crítica da Lei Maria da Penha – Professora Marília Montenegro. A força simbólica do nome. Todas as mulheres podem ser tratadas como Maria da Penha ? A lei maria da penha traz medidas protetivas e preventivas mas o enfoque dado na prática para a Lei é de mais repressão penal do agressor que é um integrante da família e um dia poderá retornar a esta. A figura da mulher como objeto do homem ainda é muito forte na sociedade brasileira, tanto é que o número de agressões físicas e morais visíveis às mulheres é altíssimo. Com bem elucida Hannah Arent na sua concepção sobre violência “O domínio pela pura violência advém de onde o poder está sendo perdido”, este talvez seja o maior significado da violência doméstica: sua utilização como último recurso de poder contra o chamado “sexo frágil” que se rebela, ou seja, a busca incessante do sexo masculino pelo poder perdido. Na maioria dos casos analisados pela autora a mulher não procura uma resposta punitiva, mas uma ajuda para resolver o seu conflito. Muitas vezes, o conflito é oriundo de um problema de natureza cível, como a separação, a partilha de bens, pensão alimentícia, ou até mesmo o problema é ajudar o agressor, como nos casos de alcoolismo. No juizado antes do advento da Lei Maria da Penha existia a possibilidade de diálogo, mas com o advento desta este foi tolhido, existindo inclusive entendimento do STF no sentido de a ação penal nos casos de lesão leve serem incondicionadas. Existe apenas uma função simbólica do direito penal que não resolve o problema da violência de gênero, o passo principal para minorar os conflitos de gênero são ações prevenção e educação, além da busca do diálogo que capacitem homens e mulheres a mudares de fato a sua mentalidade e os seus comportamentos, e tudo isso está bem distante do Direito Penal. VII - contra autoridade ou agente descrito nos arts. 142 e 144 da Constituição Federal, integrantes do sistema prisional e da Força Nacional de Segurança Pública, no exercício da função ou em decorrência dela, ou contra seu cônjuge, companheiro ou parente consanguíneo até terceiro grau, em razão dessa condição: (Incluído pela Lei nº 13.142, de 2015) De acordo com a redação constante do inciso VII do § 2º do Art. 121 do CP, são considerados sujeitos passivos os integrantes: I - Forças Armadas, constituídas pela Marinha, pelo Exército e pela Aeronáutica (Art. 142, CF); II – Polícia Federal (Art. 144, I, CF) II - Polícia Rodoviária e Ferroviária Federal (Art. 144, II e III, CF); III – Polícias Civis (ARt. 144, IV, CF); IV – Polícias Militares e Corpo de Bombeiros Miliares (Art. 144, V, CF); V – Guarda Municipais (Art. 144, § 8º, CF) VI – Sistema Prisional VII – Força Nacional de Segurança Pública. A primeira questão que pode surgir quando da análise da qualificadora em estudo é qual é a abrangência da palavra AUTORIDADE? Isto ocorre porque o próprio Código Penal utiliza a expressão: “contra autoridade OU agente”. Para alguns autores, como Francisco Dirceu Barros usando a interpretação analógica, entende este autor que a ratio legis não foi alcançar todas as espécies de autoridades do Brasil mas sim aquelas que possuem funções semelhantes às definidas no próprio inciso, neste caso, em tese poderiam ser abrangidos inclusive integrantes do Ministério Público e do Poder Judiciário. Discordando deste autor, Rogério Greco elucida que o Código Penal ao utilizar o termo autoridade e logo em seguida elenca os Art. 142 e 144 CF quis dizer o legislador que não há a possibilidade de ampliar o seu espectro de abrangência para outras autoridades diversas das Forças Armadas e dos Agentes de Segurança Pública. Desta forma estão abrangidas pela qualificadora apenas aqueles que exerçam função policial lato sensu e integrantes do sistema prisional, e não as demais autoridades, mesmo que ligadas de alguma forma à justiça penal. A segunda questão que decorre da análise desta qualificadora é a de que o crime de homicídio deve ser praticado enquanto as autoridades ou agentes estejam no exercício da função ou em decorrência dela. Não é o fato de a vítima de homicídio ser uma autoridade ou agente descrito nos Art. 142 e 144 da CF que automaticamente o homicídio será qualificado. Ex: Durante uma discussão de futebol o agente acaba causando a morte de um policial militar que se encontrava no interior de um bar. Por outro lado, seria possível em tese a extensão da qualificadora mesmo que o agente esteja aposentado se o crime de homicídio ser der em decorrência da função que ele exercia. A terceira questão da qualificadora é quanto a possibilidade de extensão a cônjuge, companheiro ou parente consanguíneo até terceiro grau, em razão dessa condição. Parentes consanguíneos seriam pai, mãe e filho (1º grau), irmãos, avós e netos (2ºgrau) e tios, sobrinhos, bisa-vos e bisnetos (3º grau). Existe discussão quanto a expressão utilizada pelo legislador que leva em consideração, além do cônjuge e do companheiro, apenas os parentes consanguíneos, razão pela qual os parentes por afinidade NÃO estão abrangidos pela qualificadora em estudo, a exemplo de sogro, sogra, genro, nora, padrasto, madrasta, enteados e cunhados. Por outro lado, como ficaria a situação do filho adotivo que possui parentesco civil e não consanguíneo ? Para alguns autores, como Rogério Greco, apesar de a Constituição Federal proibir quaisquer designações discriminatórias NÃO existe consanguinidade quando o filho for adotivo, mesmo que não possamos utilizar esta expressão discriminatória. Ou seja, não há relação de sangue que permita o reconhecimento do tronco comum em relação ao filho adotivo, razão pela qual não poderia ser aplicada a qualificadora em estudo ao filho adotivo de um policial, pois caso contrário estaríamos utilizando uma analogia in malam partem. Isto não impede, todavia, que haja o reconhecimento de outra qualificadora. Por outro lado, outros autores como Francisco Dirceu Barros como a própria Constituição Federal equipara os filhos adotivos aos consanguíneos admitem a incidência da qualificadora, pois não haveria analogia in malam partem já que não existe lacuna já que a própria Constituição Federal não admite discriminações. Homicídio Culposo Art. 121, § 3º, CP. Devemos lembrar que o crime culposo é uma exceção estabelecida no parágrafo único do Art. 14 do CP, havendo previsão expressa quanto à possibilidade de punição pelo crime de homicídio culposo. Trata-se de um tipo penal aberto já que existe uma descrição incompleta do modelo da conduta proibida, que precisa ser completado pela norma geral que impõe a observância do dever de cuidado. Ou seja, além de se verificar no caso concreto se o agente deixou de observar um dever de cuidado objetivo que lhe competia, há a necessidade inafastável de verificar se a conduta produziu algum resultado. Ex: Pai que não coloca rede de proteção no 30 º andar do prédio e o filho se pendura no parapeito da janela, mas antes de cair o pai a segura e retira. Não será responsabilizado pela tentativa de homicídio culposo. Outra característica fundamental para a configuração do homicídio culposo é a aferição da previsibilidade do resultado, pois se o fato escapar totalmente à sua previsibilidade o resultado não pode ser atribuído, mas sim ao caso fortuito ou força maior. Como preleciona Nelson Hungria é previsível o fato sob o prisma penal quando a previsão do seu advento, no caso concreto, podia ser exigida do homem normal, do tipo comum de sensibilidade ético-social. Ex: Pessoa cumpre todas as regras de trânsito e de segurança mas uma pessoa aparece do nada e se joga no carro porque queria suicidar-se. Vale ressaltar que a culpa da vítima pode concorrer com a do agente, inexistindo compensação de culpas. OBS 1: No caso de ocorrer homicídio culposo decorrente da direção de veículo automotor será aplicado o Art. 302 do Código de Trânsito Brasileiro (Lei 9.503/97) em face do princípio da especialidade que possui uma pena mais rigorosa, neste sentido: Art. 302. Praticar homicídio culposo na direção de veículo automotor: Penas - detenção, de dois a quatro anos, e suspensão ou proibição de se obter a permissão ou a habilitação para dirigir veículo automotor. § 1o No homicídio culposo cometido na direção de veículo automotor, a pena é aumentada de 1/3 (um terço) à metade, se o agente: (Incluído pela Lei nº 12.971, de 2014) (Vigência) I - não possuir Permissão para Dirigir ou Carteira de Habilitação; (Incluído pela Lei nº 12.971, de 2014) (Vigência) II - praticá-lo em faixa de pedestres ou na calçada; (Incluído pela Lei nº 12.971, de 2014) (Vigência) III - deixar de prestar socorro, quando possível fazê-lo sem risco pessoal, à vítima do acidente; (Incluído pela Lei nº 12.971, de 2014) (Vigência) IV - no exercício de sua profissão ou atividade, estiver conduzindo veículo de transporte de passageiros. § 3o Se o agente conduz veículo automotor sob a influência de álcool ou de qualquer outra substância psicoativa que determine dependência: (Incluído pela Lei nº 13.546, de 2017) (Vigência) – NOVA QUALIFICADORA. Penas - reclusão, de cinco a oito anos, e suspensão ou proibição do direito de se obter a permissão ou a habilitação para dirigir veículo automotor. (Incluído pela Lei nº 13.546, de 2017) (Vigência) Art. 303. Praticar lesão corporal culposa na direção de veículo automotor: Penas - detenção, de seis meses a dois anos e suspensão ou proibição de se obter a permissão ou a habilitação para dirigir veículo automotor. § 2o A pena privativa de liberdade é de reclusão de dois a cinco anos, sem prejuízo das outras penas previstas neste artigo, se o agente conduz o veículo com capacidade psicomotora alterada em razão da influência de álcool ou de outra substância psicoativa que determine dependência, e se do crime resultar lesão corporal de natureza grave ougravíssima. (Incluído pela Lei nº 13.546, de 2017) – NOVA QUALIFICADORA. OBS 2 – Homicídio culposo (culpa consciente) x Homicídio doloso (dolo Eventual) na condução de veículo automotor com embriaguez ao volante. Não é incomum existir a discussão quanto a desclassificação do homicídio doloso (dolo eventual) que seguiu o rito do tribunal do júri para homicídio culposo (culpa consciente) em sede de plenário de julgamento. Nestes casos os Tribunais Superiores vem entendendo que o deslinde da controvérsia acerca do elemento subjetivo do tipo fica reservado ao Tribunal do Júri, mais especificamente ao Conselho de Sentença. Neste sentido, os seguintes julgados do STJ: 1. O deslinde da controvérsia sobre o elemento subjetivo do crime, especificamente, se o acusado atuou com dolo eventual ou culpa consciente, fica reservado ao Tribunal do Juri, juiz natural da causa, na qual a defesa poderá exercer amplamente a tese contrária à imputação penal. Precedentes. 2. Havendo elementos indiciários que subsidiem, comrazoabilidade, as versões conflitantes acerca da existência de dolo, ainda que eventual, a divergência deve ser solvida pelo Conselho de Sentença, evitando-se a indevida invasão da sua competência constitucional. 3. Agravo regimental desprovido. (AgRg no REsp 1417752 / SC, 5ª Turma, Ministro RIBEIRO DANTAS, DJe 21/03/2018). 1. De acordo com a jurisprudência desta Corte Superior "havendo elementos nos autos que, a princípio, podem configurar o dolo eventual, como in casu (presença de embriaguez ao volante, direção em zigue- zague e na contramão, em rodovia federal de intenso movimento), o julgamento acerca da sua ocorrência ou da culpa consciente compete à Corte Popular, juiz natural da causa, de acordo com a narrativa dos fatos constantes da denúncia e com o auxílio do conjunto fático probatório produzido no âmbito do devido processo legal" 2. Agravo regimental a que se nega provimento. (AgInt no AREsp 1144049 / GO, Ministro RIBEIRO DANTAS, T5 - QUINTA TURMA, DJe 19/12/2017) OBS 3: Perdão Judicial – Art. 121, § 5º, CP. Somente será cabível o perdão judicial nas hipóteses de homicídio culposo. Aquele que comprovar a existência de um vínculo afetivo de importância significativa entre ele e a vítima (pai/filho, marido/mulher, grandes amigos), tem direito público subjetivo à concessão do perdão judicial. É possível a extensão do perdão judicial ao homicídio culposo praticado na direção de veículo automotor previsto no Art. 302 do CTB pois se trata de uma analogia em favor do réu Homicídio com causa de aumento de pena (majorante) 1.5.1 Causas de aumento de pena do - Art. 121, § 4º, CP. 1º) No homicídio culposo a pena pode ser aumentada de 1/3 (um terço) : a) Se o crime resulta de inobservância de regra técnica de profissão, arte ou ofício. Nesta hipótese, diferentemente da imperícia, o agente tem aptidão para desempenhar o a sua arte, profissão ou ofício, mas acaba por provocar a morte de alguém em razão de seu descaso, deliberadamente desatendendo aos conhecimentos técnicos que possui. Esta causa de aumento de pena só tem aplicação na hipótese de crime culposo praticado por profissional capacitado tecnicamente para o exercício da profissão, arte ou ofício. É a chamada culpa profissional. b) Se o agente deixa de prestar imediato socorro à vítima. Neste caso aumento de pena se dá por conta de uma insensibilidade para com o sofrimento alheio, cuja autoria lhe é atribuída Atenção no crime de homicídio culposo, em vez de configurar o crime de omissão de socorro (Art. 135 do CP), se o agente deixa de prestar imediato socorro à vítima, podendo fazê-lo e não havendo qualquer risco pessoal a ele, a sua pena será aumentada de um terço. OBS: Se a vítima a vítima é socorrida imediatamente por terceiros, bem como se há morte instantânea, não incide o aumento de pena, tendo em vista que estas circunstâncias tornam inviável a assistência. OBS: Se o agente NÃO agiu com culpa, mas mesmo assim deixa de prestar socorro à vítima, responderá pelo crime de omissão de socorro, nos termos do Art. 135 do Código Penal. c) Se o agente não procura diminuir as consequências do seu ato. O que a lei exige é que na medida do possível o agente venha a atenuar o dano que causou à vítima. d) Se o agente foge para evitar prisão em flagrante. 2º) No homicídio doloso a pena pode ser aumentada de 1/3 (um terço) : Se o crime é praticado contra: Pessoa menor de 14 anos OU Pessoa maior de 60 anos Neste caso deve-se ter atenção quanto a teoria da atividade, levando-se em consideração o momento da ação ou omissão para fins de configuração da majorante. Além disso, para poder ser aplicável é indispensável que o o agente tenha conhecimento da idade da vítima. Homicídio praticado por milícia privada sob o pretexto de prestação de serviço de segurança, ou por grupo de extermínio – Art. 121, § 6º, CP. O § 6º do art. 121 do Código Penal, diz que a pena é aumentada de 1/3 (um terço) até a metade se o crime for praticado por milícia privada, sob o pretexto de prestação de serviço de segurança, ou por grupo de extermínio. Ao se referir à milícia privada está dizendo respeito àquela de natureza paramilitar, isto é, a uma organização não estatal, que atua ilegalmente, mediante o emprego da força, com a utilização de armas, impondo seu regime de terror em uma determinada localidade. Podemos tomar como parâmetro, para efeitos de definição de milícia privada, as lições do sociólogo Ignácio Cano, citado no Relatório Final da Comissão Parlamentar de Inquérito da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (pág. 36), quando aponta as seguintes características que lhe são peculiares: 1. Controle de um território e da população que nele habita por parte de um grupo armado irregular; 2. O caráter coativo desse controle; 3. O ânimo de lucro individual como motivação central; 4. Um discurso de legitimação referido à proteção dos moradores e à instauração de uma ordem; 5. A participação ativa e reconhecida dos agentes do Estado. Se o homicídio, portanto, for praticado por algum membro integrante de milícia privada, sob o pretexto de prestação de serviço de segurança, a pena deverá ser especialmente aumentada de 1/3 (um terço) até a metade. Assim, por exemplo, imagine-se a hipótese em que um integrante da milícia, agindo de acordo com a ordem emanada do grupo, mate alguém porque se atribuía à vítima a prática frequente de crimes contra o patrimônio naquela região, ou mesmo que a milícia determine a morte de um traficante que, anteriormente, ocupava o local no qual levava a efeito o tráfico ilícito de drogas. As mortes, portanto, são produzidas sob o falso argumento de estar se levando a efeito a segurança do local, com a eliminação de criminosos. Nesses casos, todos aqueles que compõem a milícia deverão responder pelo delito de homicídio, com a pena especialmente agravada, uma vez que os seus integrantes atuam em concurso de pessoas, e a execução do crime praticada por um deles é considerada como uma simples divisão de tarefas, de acordo com a teoria do domínio funcional sobre o fato. Por sua vez, embora não faça parte de uma milícia, com as características acima apontadas, poderá ocorrer que o homicídio tenha sido praticado por alguém pertencente a um grupo de extermínio, ou seja, um grupo, via de regra, de“justiceiros”, que procura eliminar aqueles que, segundo seus conceitos, por algum motivo, merecem morrer. Podem ser contratados para a empreitada de morte, ou podem cometer, gratuitamente, os crimes de homicídio de acordo com a“filosofia”do grupo criminoso, que escolhe suas vitimas para que seja realizada uma “limpeza social”. Conforme esclarecimentos do Deputado Federal Nilmário Miranda, Presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara Federal: “a ação dos grupos de extermínio consiste numa das principais fontes de violação dos direitos humanos e de ameaça ao Estado de direito no país. Essas quadrilhas agem normalmente nas periferias dos grandes centros urbanos e têm seus correspondentes nos jagunços do interior. Usam estratégia de ocultar os corpos de suas vítimas para se furtar à ação da justiça, sendo que os mais ousados chegam a exibir publicamente sua crueldade. Surgem como decorrência da perda de credibilidade nas instituições da justiça e de segurança pública e da certeza da impunidade, resultante da incapacidade de organismos competentes em resolver o problema. Os embriões dos grupos de extermínio nascem quando comerciantes e outros empresários recrutam matadores de aluguel, frequentemente policiais militares e civis, para o que chamam "limpar" o "seu bairro" ou "sua cidade" Causa de aumento de pena no feminicídio Art. 121, § 7º, CP. Antes de analisarmos cada uma das hipóteses de aumento de pena, vale ressaltar que embora a segunda parte do § 4º, do art. 121 do Código Penal tenha uma redação parecida com aquela trazida pelo § 7º do mesmo artigo, asseverando que se o crime de homicídio doloso for praticado contra pessoa menor de 14 (catorze) anosou maior de 60 (sessenta) anos, a pena será aumentada de 1/3 (um terço), havendo, mesmo que parcialmente, um conflito aparente de normas, devemos concluir que as referidas majorantes cuidam de situações distintas, aplicando-se, pois, o chamado princípio da especialidade, Ou seja, quando estivermos diante de um feminicídio, e se a vítima for menor de 14 (catorze) anos ou maior de 60 (sessenta) anos, como prevê em os dois parágrafos, deverá ser aplicado o § 7º, do art. 121 do estatuto repressivo. Dessa forma, o § 4º, nas hipóteses mencionadas, será aplicado por exclusão, ou seja, quando não se tratar de feminicídio, aplica-se o § 4º do art. 121 do diploma penal. Ao contrário do que ocorre no § 4º, do art. 121 do Código Penal, onde foi determinado o aumento de 1/3 (um terço), no § 7º do mesmo artigo determinou a lei que a pena seria aumentada entre o percentual mínimo de 1/3 (um terço) até a metade. Assim, o julgador poderá percorrer entre os limites mínimo e máximo. No entanto, qual será o critério para que, no caso concreto, possa o julgador determinar o percentual a ser aplicado? Existe alguma regra a ser observada que permita a escolha de um percentual, partindo do mínimo, podendo chegar ao máximo de aumento? O critério que norteará o julgador, segundo o posicionamento de Rogério Greco será o princípio da culpabilidade. Quanto maior o juízo de reprovação no caso concreto, maior será a possibilidade de aumento. Como se percebe, não deixa de ser também um critério subjetivo mas, de qualquer forma, o juiz deverá motivar a sua decisão, esclarecendo as razões pelas quais não optou pela aplicação do percentual mínimo. Na verdade, como o processo é dialético, ou seja, é feito de partes, tanto a aplicação do percentual mínimo, ou qualquer outro em patamar superior devem ser fundamentados, porque o órgão acusador e a defesa precisam tomar conhecimento dessa fundamentação para que possam, querendo, ingressar com algum tipo de recurso, caso venham a dela discordar. Dessa forma, em sendo condenado o agente que praticou o feminicídio, quando da aplicação da pena, o juiz deverá fazer incidir no terceiro momento do critério trifásico, previsto no art. 68 do Código Penal, o aumento de 1/3 (um terço) até a metade, se o crime for praticado: I – durante a gestação ou nos 3 (três) meses posteriores ao parto. para que as causas de aumento de pena previstas pelo inciso I,do § 7º, do art. 121 do Código Penal possam ser aplicadas é preciso que, anteriormente, tenham ingressado na esfera de conhecimento do agente, ou seja, para que o autor do feminicídio possa ter sua pena majorada, quando da sua conduta tinha que saber, obrigatoriamente, que a vítima encontrava-se grávida ou que, há três meses, tinha dado realizado seu parto. Caso contrário, ou seja, se tais fatos não forem do conhecimento do agente, será impossível a aplicação das referidas majorantes, sob pena de adortarmos a tão repudiada responsabilidade penal objetiva, também conhecida como responsabilidade penal sem culpa ou pelo resultado. Na primeira parte do inciso I sub exame, podemos extrair as seguintes hipóteses, partindo do pressuposto que o agente conhecia a gravidez da vítima, e que agia com a finalidade de praticar um feminicídio: A mulher e o feto sobrevivem – nesse caso, o agente deverá responder pela tentativa de feminicídio e pela tentativa de aborto; A mulher e o feto morrem – aqui, deverá responder pelo feminicídio consumado e pelo aborto consumado; A mulher morre e o feto sobrevive – nessa hipótese, teremos um feminicídio consumado, em concurso com uma tentativa de aborto; A mulher sobrevive e o feto morre – in casu, será responsabilizado pelo feminicídio tentado, em concurso com o aborto consumado. Se o agente causa a morte da mulher por razões da condição de sexo feminino, nos 3 (três) meses posteriores ao parto, também terá sua pena majorada. Aqui, conta-se o primeiro dia do prazo de 3 (três) meses na data em que praticou a conduta, e não no momento do resultado morte. Assim, por exemplo, se o agente deu início ao atos de execução do crime de feminicídio, agredindo a vítima a facadas, e essa vem a falecer somente uma semana após as agressões, para efeito de contagem do prazo de 3 (três) meses será levado em consideração o dia em que desferiu os golpes, conforme determina o art. 4º do Código Penal, que diz que se considera praticado o crime no momento da ação ou da omissão, ainda que outro seja o momento do resultado. II – contra pessoa menor de 14 (catorze) anos, maior de 60 (sessenta) anos ou com deficiência; Tal como ocorre com o inciso I analisado anteriormente, para que as majorantes constantes do inciso II sejam aplicadas ao agente é preciso que todas elas tenham ingressado na sua esfera de conhecimento, pois, caso contrário, poderá ser alegado o chamado erro de tipo, afastando-se, consequentemente, o aumento de pena. Deverá, ainda, ser demonstrado nos autos, através de documento hábil que a vítima era menor de 14 (catorze) anos, ou seja, não tinha ainda completado 14 (catorze) anos, ou era maior de 60 (sessenta) anos. Tal prova deve ser feita através de certidão de nascimento, expedida pelo registro civil ou documento que lhe substitua, a exemplo da carteira de identidade, conforme determina o parágrafo único do art. 155 do Código de Processo Penal, de acordo com a redação que lhe foi conferida pela Lei nº 11.690, de 9 de junho de 1990, que diz que somente quanto ao estado das pessoas serão observadas as restrições estabelecidas na lei civil. A deficiência da vítima, que pode ser tanto a física ou mental, poderá ser comprovada através de um laudo pericial, ou por outros meios capazes de afastar a dúvida. Assim, por exemplo, imagine-se a hipótese em que o agente cause a morte de sua mulher, paraplégica, fato esse que era do conhecimento de todos. Aqui, v. G, a paraplegia da vítima poderá ser demonstrada, inclusive, através da prova testemunhal, não havendo necessidade de laudo médico. O que se quer, na verdade, é que o julgador tenha certeza absoluta dos fatos que conduzirão a um aumento de pena considerável, quando da aplicação do art. 68 do Código Penal. Em ocorrendo a hipótese de feminicídio contra uma criança (menor de 12 anos de idade) ou uma mulher maior de 60 (sessenta), não será aplicada a circunstância agravante prevista na alínea h, do art. 61 do Código Penal, pois, caso contrário, estaríamos levando a efeito o chamado bis in idem, onde um mesmo fato incidiria duas vezes em prejuízo do agente. Nesses casos, terá aplicação o inciso II,do § 7º do art. 121 do Código Penal, também devido à sua especialidade. III - na presença de descendente ou de ascendente da vítima. Além do agente, que prática o feminicídio, ter que saber que as pessoas que se encontravam presentes quando da sua ação criminosa eram descendentes ou ascendentes da vítima, para que a referida causa de aumento de pena possa ser aplicada é preciso, também, que haja prova do parentesco nos autos, produzida através dos documentos necessários (certidão de nascimento, documento de identidade etc.), conforme preconiza o parágrafo único, do art. 155 do Código de Processo Penal referido anteriormente. Aqui, o fato de matar a vítima na presença de seu descendente ou ascendente sofre um maior juízo de reprovação, uma vez que o agente produzirá, nessas pessoas, um trauma quase que irremediável. Assim, exemplificando, raciocinemos com a hipótese onde o marido mata a sua esposa na presença de seu filho, que contava na época dos fatos com apenas 7 anos de idade. O trauma dessa cena violenta o acompanhará a vida toda. Infelizmente, tal fato tem sido comum e faz com que aquele que presenciou a morte brutal de sua mãe cresça, ou mesmo conviva até a sua morte, com problemas psicológicos seríssimos, repercutindo na sua vida em sociedade. OBS: Destaque! 1º) Transmissão dolosa de vírus HIV. Parcela da doutrina e da jurisprudência vem se posicionando no sentido de a transmissão dolosa de vírus HIV aoutra pessoa continua sendo tipificada como crime de homicídio consumado ou tentado, pois ainda não existe cura definitiva, mesmo que o “coquetel de medicamentos” permita uma sobrevida considerável. Por outro lado, o entendimento mais recente do STJ que inclusive segue entendimento do STF é no sentido de a conduta de praticar ato sexual com a finalidade de transmitir AIDS não configura crime doloso contra a vida, sendo tipificado como lesão corporal gravíssima por enfermidade incurável, consoante Art. 129, §2º, II, CP, neste sentido: Processo HC 160982 / DF HABEAS CORPUS 2010/0016927-3 Relator(a) Ministra LAURITA VAZ (1120) Órgão Julgador T5 - QUINTA TURMA Data do Julgamento 17/05/2012 Data da Publicação/Fonte DJe 28/05/2012 RT vol. 925 p. 663 Ementa HABEAS CORPUS. ART. 129, § 2.º, INCISO II, DO CÓDIGO PENAL. PACIENTE QUE TRANSMITIU ENFERMIDADE INCURÁVEL À OFENDIDA (SÍNDROME DA IMUNODEFICIÊNCIA ADQUIRIDA). VÍTIMA CUJA MOLÉSTIA PERMANECE ASSINTOMÁTICA. DESINFLUENCIA PARA A CARACTERIZAÇÃO DA CONDUTA. PEDIDO DE DESCLASSIFICAÇÃO PARA UM DOS CRIMES PREVISTOS NO CAPÍTULO III, TÍTULO I, PARTE ESPECIAL, DO CÓDIGO PENAL. IMPOSSIBILIDADE. E DE DEMONSTRAÇÃO SOBRE O ESTADO DE SAÚDE DO PACIENTE. HABEAS CORPUS PARCIALMENTE CONHECIDO E, NESSA EXTENSÃO, DENEGADO. 1. O Supremo Tribunal Federal, no julgamento do HC 98.712/ RJ, Rel. Min. MARCO AURÉLIO (1.ª Turma, DJe de 17/12/2010), firmou a compreensão de que a conduta de praticar ato sexual com a finalidade de transmitir AIDS não configura crime doloso contra a vida. Assim não há constrangimento ilegal a ser reparado de ofício, em razão de não ter sido o caso julgado pelo Tribunal do Júri. 2. O ato de propagar síndrome da imunodeficiência adquirida não é tratado no Capítulo III, Título I, da Parte Especial, do Código Penal (art. 130 e seguintes), onde não há menção a enfermidades sem cura. Inclusive, nos debates havidos no julgamento do HC 98.712/RJ, o eminente Ministro RICARDO LEWANDOWSKI, ao excluir a possibilidade de a Suprema Corte, naquele caso, conferir ao delito a classificação de "Perigo de contágio de moléstia grave" (art. 131, do Código Penal), esclareceu que, "no atual estágio da ciência, a enfermidade é incurável, quer dizer, ela não é só grave, nos termos do art. 131". 3. Na hipótese de transmissão dolosa de doença incurável, a conduta deverá será apenada com mais rigor do que o ato de contaminar outra pessoa com moléstia grave, conforme previsão clara do art. 129, § 2.º inciso II, do Código Penal. 4. A alegação de que a Vítima não manifestou sintomas não serve para afastar a configuração do delito previsto no art. 129, § 2, inciso II, do Código Penal. É de notória sabença que o contaminado pelo vírus do HIV necessita de constante acompanhamento médico e de administração de remédios específicos, o que aumenta as probabilidades de que a enfermidade permaneça assintomática. Porém, o tratamento não enseja a cura da moléstia. 5. Não pode ser conhecido o pedido de sursis humanitário se não há, nos autos, notícias de que tal pretensão foi avaliada pelas instâncias antecedentes, nem qualquer informação acerca do estado de saúde do Paciente. 6. Habeas corpus parcialmente conhecido e, nessa extensão, denegado.
Compartilhar