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1 Carolina Gondim – 5º semestre (2020.2) Infecções das Vias Aéreas Superiores CONCEITOS • Via aéreas superiores: o Cavidade Nasal; o Faringe; o Laringe; • Resfriado X Gripe; o Resfriado: doença localizada das vias aéreas superiores, especialmente o nariz. O resfriado pode causar sintomas sistêmicos? Sim, leves, como mal estar e febre baixa; o Gripe: doença sistêmica, potencialmente grave, causada pelo vírus influenza, que pode matar; • Rinite: inflamação na mucosa nasal. Ela causa prurido, espirro, obstrução nasal; o Existem vários tipos, alérgica (atópica), viral (infecciosa), inflamações por outros motivos; RESFRIADO COMUM • Doença benigna e autolimitada: todo mundo tem e todo mundo melhora sozinho. NINGUÉM MORRE DE RESFRIADO; • É uma SINDROME clínica; o Grupo de doenças benignas auto limitadas; o Vários tipos de vírus; • Doença aguda mais comum do mundo: se espalha muito; • Adulto: 2-3x/ ano. Crianças: 5-7x/ano; • Fardo econômico: porque as pessoas faltam o trabalho, a escola... ETIOLOGIA • Mais de 200 vírus • Rinovirus (cerca de 100 subtipos) – mais comum (30- 50% dos casos); • Coronavirus (10-15% dos casos) – está espalhado no mundo há muito tempo; • Influenza e parainfluenza também podem fazer resfriado comum; • Mesma clínica – não é possível diferenciar qual é o tipo de vírus pela clínica; TRANSMISSÃO • Contato com as mãos da pessoa infectada; • Pequenas gotículas (espirro e tosse); • Grandes gotículas (contato interpessoal); • Superfícies contaminadas; • LAVAR AS MÃOS, COBRIR BOCA E NARIZ AO ESPIRRAR/TOSSIR; • É MUITO DIFÍCIL DE PREVENIR; FATORES DE RISCO • Exposição a crianças que vão para creches/escolinha; • Estresse psicológico; • Sedentarismo; • Pouco sono; • Doenças crônicas; • Desnutrição; • Imunossupressão; • Tabagismo; MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS • Depende da resposta imunológica do indivíduo; • Rinite, congestão nasal, espirro, prurido, rinorreia; • Odinofagia, tosse, mal-estar leve; 2 Carolina Gondim – 5º semestre (2020.2) • Conjuntivite; • Febre é incomum em adultos; o Se o paciente apresenta febre alta, devemos começar a pensar em gripe! EVOLUÇÃO TÍPICA • Prurido nasal e rinorreia; o Hialina OU purulenta – não ajuda! • Espirros, mal estar, cefaleia; • Tosse; o Pode ser produtiva (secreção de via alta) o Sem crépitos (resfriado comum não atinge vias aéreas inferiores, por tanto não faz crepito) • Se febre, febre baixa; • Incubação: 24-72 horas; • Duração: 3-10 dias; • Pode durar mais se comorbidades; DIAGNÓSTICO • CLÍNICO; • História + exame físico; o Conjuntivite, edema de mucosa nasal, congestão nasal, enantema em orofaringe; • Não necessita de exames complementares; o Radiologia, culturas; o No cenário vigente, é feito exame complementar para afastar COVID-19; DIAGNÓSTICOS DIFERENCIAIS • Rinite alérgica; o Não costuma fazer tosse, dor de garganta, PODE, MAS NÃO É HABITUAL; • Faringite; o Odinofagia mais intensa, costuma poupar o nariz; • Sinusite; o Sintomas adicionais; • Gripe; o Quadro mais sistêmico – febre mais alta, maior acometimento do estado geral, cefaleia, mialgia; COMPLICAÇÕES • Sinusite; • Comprometimento do trato respiratório inferior (pneumonia); • Otite: por causar edema, pode originar uma obstrução da tuba auditiva e realizar uma otite bacteriana; • Exacerbação de doenças que o paciente já tinha: asma, DPOC; TRATAMENTO • Doença autolimitada • Sintomas leves – pode não ser necessária terapia • Orientar o paciente: retorno se não houver melhora no tempo esperado ou se pior; • Se necessário, tratamento sintomático: o Analgesia (paracetamol, dipirona, AINEs) ▪ Orientar ao paciente a não tomar por muito tempo! o Associação de anti-histaminicos e descongestionantes (melhor do que cada componente isoladamente); o Cromoglicato sódico – spray nasal (efeito anti- inflamatório); o Xaropes, spray nasal, solução salina, expectorantes – benefício incerto; o Antibiótico, antivirais, vitaminas – sem benefícios; SINUSITE/RINOSSINUSITE • Inflamação na cavidade nasal e seios paranasais; • Doença comum: por ano 1 em cada 7 adultos tem; • Causa mais comum: VÍRUS (95%); o Geralmente em associação com resfriado comum – é a evolução do vírus do resfriado comum. Portanto, não tem indicação de antibiótico; • Principal desafio: diferenciar da infecção bacteriana (apenas cerca de 2% das sinusites são bacterianas); CLASSIFICAÇÃO • Aguda: <4 semanas; o Viral; o Bacteriana não complicada; É para ter no máximo esses sintomas e mais nada! “O resfriado comum vai passar com médico, sem o médico, apesar do médico!” “A sinusite é um dos principais culpados do uso indevido de antibióticos!” 3 Carolina Gondim – 5º semestre (2020.2) o Bacteriana complicada; • Subaguda: 4-12 semanas; • Crônica: > 12 semanas; • Recorrente: 4 ou mais episódios de aguda/ano; FATORES DE RISCO • Idoso (faixa etária mais acometida: 45-64 anos); • Tabagismo; • Viagem aérea; • Exposição a mudanças de pressão atmosférica; • Natação; • Asma e alergias respiratórias; • Doenças odontológicas; • Imunodeficiência; FISIOPATOLOGIA • Grande maioria viral (rinovírus, influenza, parainfluenza) • Rinite viral que de forma secundaria vai acometer os seios da face • Sinusite bacteriana: (0,5-2%) o É a complicação de um quadro viral, rinite alérgica, obstruções nasais o Bactéria infecta cavidade que já estava infectada MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS • Congestão nasal, obstrução nasal, secreção nasal purulenta (geralmente há mais de uma semana) o A secreção vai ser purulenta independentemente se a sinusite for viral ou bactéria; • Dor em face, sensação de “pressão em face” (não necessariamente à palpação); o Piora ao baixar a cabeça; • Pode ter febre, fadiga, tosse, hiposmia ou anosmia, pressão em ouvidos, cefaleia, halitose; • Pode ter edema e dor em seios da face, mas o exame físico geralmente é inespecífico; • Os sintomas da viral e da bacteriana se sobrepõem; • Não existem critérios clínicos para distinguir com segurança se a sinusite é viral ou bacteriana – o curso clínico que é diferente; • Viral; o Autolimitada, resolução 7-10 dias. Pode durar mais, com melhora do quadro; o Febre é incomum, ocorre no início do quadro e melhora; • Bacteriana: > 10 dias; o Sintomas podem ser mais intensos; COMPLICAÇÕES • Raras: de etiologia bacteriana (que já é rara, e a complicação é mais rara ainda); • A infecção se estende além dos seios da face; • SNC, órbita, tecidos adjacentes; • Complicações: DIAGNÓSTICO – SINUSITE AGUDA • Não existe indicação de exames de imagem em sinusite aguda não complicada clinicamente diagnosticada o Baixíssima sensibilidade e especificidade do Raio- X: Se o raio x vier normal, não afasta; se os seios da face vierem esculhambado, não signifique que está assim por causa da sinusite – não vai mudar a conduta; o Tem indicação quando se está diante de uma sinusite crônica, recorrente, com suspeita de complicações ou apresenta suspeita de complicações (febre muito alta, queda do estado geral, sepse, meningite) • Nível hidroaéreo, edema de mucosa, bolhas nos seios da face – são inespecíficos, podem acontecer em pacientes assintomáticos e paciente com resfriado; o TC 4 Carolina Gondim – 5º semestre (2020.2) o Achados inespecíficos o Podem ocorrer em pacientes assintomáticos e resfriado • Radiografia – baixa sensibilidade e especificidade DIAGNÓSTICO E AVALIAÇÃO IN ICIAL • Rinossinusite aguda (RSA) não complicada: CLÍNICO! o Se o paciente tem < 4 semanas de secreção nasal purulenta + Obstrução nasal, dor/pressão na face ou ambos – ESTÁ FEITO O DIAGNÓSTICO; o Outros sintomas: anosmia, pressão nos ouvidos, tosse, cefaleia; o Classificação:▪ RSA não complicada viral: < 10 dias e os sintomas não estão piorando (ou já apresenta melhora) ▪ RSA não complicada bacteriana: > 10 dias ou sintomas mais intensos, evolução com piora – “Dupla piora”; • RSA bacteriana complicada: Cefaleia persistentes, periorbitais, alterações de visão, alterações oculares, paralisia de nervos cranianos, alteração de estado mental, meningismo, sinais de HIC • Exames de imagem e microbiologia (cultura) – quando complicada • Algoritmos: TRATAMENTO RSA AGUDA • RSA viral; o Autolimitada; o Tratamento sintomático: tratar o que o paciente está sentindo; ▪ Analgésicos/antipiréticos: paracetamol, dipirona, AINEs ▪ Irrigação nasal com solução salina: pode reduzir necessidade de drogas ▪ Corticóides nasais: curto prazo, melhora sintomática; ▪ Descongestionantes nasais, anti histamínicos, mucolíticos: melhora subjetiva, sem evidências • RSA bacteriana; o Pode ser autolimitada; o ATB para todos? NÃO, avalie antes! o Terapia sintomática + avaliar ATB; ▪ Pode ser quadro auto limitado; ▪ Pacientes imunocompetentes, quadro não complicado, bom follow up → Não precisa de ATB; “Paciente chega para mim no 5º dia de sintoma, eu não tenho como diferenciar uma coisa da outra. Iai? Antibiótico logo?! NÃO. Primeiro, a chance de ser bacteriana é muito pequena. Segundo, e mesmo que seja bacteriana, o risco de complicação é muito pequeno também, portanto, ela pode se resolver sozinha! Logo, ao chegar um paciente nessa situação, o correto é OBSERVAR. Não Melhorou ou piorou, aí sim, antibiótico.” 5 Carolina Gondim – 5º semestre (2020.2) o Em caso de observação; ▪ Ausência de melhora em 7 dias ou qualquer piora – ATB; ▪ Sinais de complicação – investigar; o Antibiótico empírico: não há indicação de cultura se não complicada; o Se melhora com ATB, tratar por 5-7 dias o Em caso de piora ou ausência de melhora: afastar suspeita de complicação e tratar com segunda linha de ATB; o Corticoides sistêmicos; ▪ Polêmico (para RSA aguda) porque tem muito efeito colateral; ▪ Pode oferecer melhora clínica; ▪ Às vezes é necessário porque tem um quadro inflamatório muito grande; • Algoritmo para o tratamento de uma RSA não complicada; OTITE MÉDIA AGUDA • Infecção/inflamação do ouvido médio o Causa fluido em ouvido médio e inflamação de sua mucosa; o O ouvido médio é drenado pela tuba auditiva de Eustaquio; “Rinite alérgica e IVAS pode complicar com otite, porque obstrui a drenagem da tuba – causa uma retenção de fluido – a secreção fica retida – ocorre a infecção.” • Uma das causas mais frequentes de uso de ATB no mundo; o 80% até aos 6 anos; • Mais comum em crianças → Diminui a incidência com a idade; • Complicações graves raras, porém, podem ocorrer (mais frequentemente que a sinusite); • Fisiopatologia: FISIOPATOLOGIA E ETIOLOGIA • Em crianças, a tuba é mais facilmente obstruída; • Pode ser uma complicação de uma rinite alérgica, outras IVAS; • A maioria dos casos é infecção bacteriana: S. Pneumoniae, H. Influenzae, estreptococo, S. aureus, M. catarrhalis; • Infecção viral muitas vezes é evento inicial porque, começa com um resfriado; • Fúngica → bem mais raro; MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS • Precedido de quadro de outra IVA ou rinite alérgica • Otalgia, diminuição da acuidade auditiva: Dor leve, moderada ou intensa - geralmente unilateral • Se rompimento da membrana timpânica: alívio da dor e otorreia; Obstrução Retenção de fluido Supuração da secreção retida 6 Carolina Gondim – 5º semestre (2020.2) o Diferente de otite externa, que tem secreção. Na otite média a secreção fica contida e aumenta a pressão e por isso que vem a dor – quando rompe a membrana, alivia a pressão e a dor melhora; • Febre, desequilíbrio; • Atenção: Febre alta, dor retroauricular intensa, paralisia facial → complicações da otite; DIAGNÓSTICO • Clínica + otoscopia: o Abaulamento da membrana timpânica o Eritema; o Opacidade o Nível hidroaéreo; o Redução de mobilidade com otoscópio pneumático; o Bolhas (miringite bolhosa) TRATAMENTO • Alívio sintomático; • Antibioticoterapia; o Primeira escolha: amoxicilina + clavulanato; o 875/125 mg, 12/12 h, 7-10 dias; o Ausência de melhora com 48-72 horas → reavaliar! Algum sinal de complicação? ▪ Não? Muda o antibiótico! ▪ Sim? Exame de imagem, etc; • Falha inicial; o Dose aumentada de amoxicilina+clavulanato por mais 10 dias; o Quinolonas respiratórias (levofloxacino, moxifloxacino); • Se ruptura de membrana, acrescentar ATB tópico; FARINGITE AGUDA • Uma das doenças mais comuns da prática clínica; • A maior parte é viral e auto limitada; • Grande sobreposição de sintomas com faringite bacteriana: Streptococcus de grupo A – a bacteriana é auto limitada, porém ele pode fazer complicações: febre reumática, glomerulonefrite pós streptococcus, coreia de sydenham, síndrome pandas (complicações não supurativas) • Etiologias mais graves: HIV • Complicações potencialmente graves (obstrução de vias aéreas) • Pico na infância e adolescência: 50% dos casos antes dos 18 anos • Após 40 anos incidência reduz • Faringites agudas não infecciosa: o Alérgica; o Tabagismo; o Exposição a ar seco; CLÍNICA DA FARINGITE AGUDA INFECCIOSA • Dor de garganta que piora ao deglutir; • Linfadenopatia pode ocorrer (é mais característica da bacteriana, mas pode ocorrer na viral); • Febre, cefaleia, astenia; • Geralmente não é possível determinar a etiologia pela clínica; • Vírus e Streptococcos do grupo A; FARINGITE AGUDA INFECCIOSA VIRAL • Causa mais comum (25-45% dos casos); • Adenovirus, rinovírus, coronavirus; • Enterovirus, influenza, parainfluenza, VSR; 7 Carolina Gondim – 5º semestre (2020.2) • Associação com outros sinais de IVAS: fadiga, obstrução nasal, tosse, coriza, conjuntivite, espirros, rouquidão, otalgia, desconforto em seios da face; o Faringite bacteriana → pega a garganta (só a garganta); o Faringite viral → primeiro tem um quadro de resfriado e aí depois pega a garganta (nariz + garganta); • Febre baixa (exceção: influenza), adenopatia discreta, úlceras orais; o Febre alta falar a favor de bactéria; • Exantema → muito sugestivo de um quaro viral; “A pele não sofre alteração de textura, apenas fica vermelhinho.” FARINGITE STREPTOCOCCOS DO GRUPO A • Causa bacteriana mais frequente (5-15%); • Início abrupto de odinofagia, febre, edema orofaríngeo, exsudato tonsilar e adenopatia proeminente (cervical anterior); • Petéquias no palato; • Rash escarlatiniforme; COMPLICAÇÕES • Complicações Supurativas: é a presença da infecção, a presença do “bixo”; • Complicações Não Supurativas: mais tardias, causadas por uma reação imunológica; FARINGITE AGUDA INFECCIOSA – OUTROS AGENTES • Outras bactérias; • HIV agudo, gonorreia, sífilis; • EBV, CMV (mononucleose e síndrome mono like); AVALIAÇÃO • Excluir complicações; • Identificar agentes tratáveis; • Diferenciar entre vírus e estreptococo do grupo A (suporte x ATB) • Suspeita forte de quadro viral; o Não é necessário teste para estreptococo; 8 Carolina Gondim – 5º semestre (2020.2) o Terapia de suporte (melhora em 5-7 dias); • Sintomas compatíveis com estreptococo e ausência de síndrome viral; o Teste microbiológico (teste rápido) – geralmente não tem nas emergências, então na prática, vai pela clínica mesmo o Overlap de sintomas clínicos; o Geralmente não é recomendado tratar sem confirmação microbiológica; o Na dúvida de quem testar? ▪ Teste as pessoas que tem: exsudato tonsilar, linfadenopatia cervical anterior, febre, ausência de tosse; SEGUIMENTO • Quadro presumido viral; o Ausência de melhora 5-7 dias: reavaliar; oConsiderar outras causas ou complicações; • Estreptococo o Melhora após 24-72 horas de terapia; o Ausência de melhora: considerar outras causas ou complicações; • Mononucleose, HIV, agentes resistentes, infecções secundárias → esses amiguinhos também fazem faringite; TRATAMENTO • Reduzir intensidade e duração dos sintomas; • Prevenir complicações supurativas; • Prevenir não supurativas (febre reumática); • Prevenir transmissão;
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