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Victoria Karoline Libório Cardoso Insuficiência cardíaca Introdução Trata-se de uma síndrome clínica sistêmica complexa e progressiva. Características: incapacidade do coração de bombear sangue adequadamente. Ou seja, os ventrículos se enchem e esvaziam de forma inadequada. Obs: os homens possuem incidência e prevalência de IC maior que as mulheres, porém 50% dos casos são em mulheres, já que essas têm maior expectativa de vida do que os homens. Fatores de risco ● Hipertensão arterial sistêmica. ● Diabetes. ● Dislipidemia. ● Obesidade. ● Envelhecimento. Obs: no Brasil, a principal etiologia da IC é a cardiopatia isquêmica crônica associada à HAS. Tipos de IC Classificação anatômica: de acordo com o lado do coração afetado. ● IC esquerda: é a mais comum; geralmente ocorre pela insuficiência ventricular esquerda em contrair ou relaxar. ● IC direita: insuficiência ventricular direita, geralmente ocorre por insuficiência direita. ○ Outras causas: cor pulmonale, hipertensão pulmonar primária e tromboembolism o pulmonar. ● ICC (IC congestiva) ou biventricular: insuficiência nos dois lados, geralmente iniciada no lado esquerdo, acometendo posteriormente o lado direito. Classificação funcional: de acordo com a função alterada. Ou de acordo com o débito cardíaco. ● IC sistólica: incapacidade dos ventrículos de bombearem e ejetarem o sangue para as artérias (pulmonar e aorta) - dificuldade na contração. ○ No ecocardiog.: fração de ejeção reduzida. ○ Principais etiologias: cardiopatia hipertensiva, doença coronariana, valvopatias, cardiomiopatia dilatada idiopática, cardiomiopatia alcoólica e chagas. ● IC diastólica: restrição do relaxamento ventricular e do enchimento diastólico. ○ No eco: fração de ejeção preservada, ou seja, capacidade contrátil inalterada. ○ Principais etiologias: cardiopatia hipertensiva na fase hipertrófica, fibrose isquêmica, cardiomiopatia hipertrófica hereditária, cardiomiopatias restritivas e desordens endomiocárdicas. Obs: uma diástole sem alterações permite que a pressão intracavitária não aumente durante o relaxamento dos ventrículos. Victoria Karoline Libório Cardoso Classificação do débito cardíaco: pode ocorrer em baixo ou alto débito. ● Alto débito: aumento do trabalho cardíaco na ausência de alterações orgânicas no miocárdio. Ocorre na tentativa de suprir a alta demanda metabólica ou por fístulas arteriovenosas. ○ Principais etiologias: anemia grave, treotoxicose, sepse, beribéri e cirrose. ● Baixo débito: (maioria dos casos) geralmente ocorre por disfunção cardíaca sistólica, ou seja, há incapacidade do coração em bombear adequadamente. Fisiopatologia da IC Causa mais comum: redução da contratilidade miocárdica - função sistólica alterada. ● Geralmente a IC é no ventrículo esquerdo. ● Origens: infarto agudo do miocárdio (IAM), cardiopatia hipertensiva em fase dilatada e miocardiopatias. Outras causas: condições que interferem no enchimento ventricular (função diastólica alterada - 2° mais comum), anormalidades mecânicas, distúrbios da frequência e do ritmo cardíaco, cardiopatia pulmonar e estados de alto débito cardíaco. Manifestações iniciais da disfunção hemodinâmica: redução do volume de ejeção e elevação das pressões de enchimento ventricular, com efeitos em cascata nos reflexos cardíacos, na perfusão e na função dos órgãos sistêmicos. ● Locais das respostas compensatórias: sistema cardiovascular, neuro-hormonal e na fisiologia renal. Resposta cardiovascular: mecanismo Frank-Starling - quanto maior o volume diastólico final, maior será o débito cardíaco e fração de ejeção. ● O alto volume diastólico final estira as fibras musculares do coração e essas, por reflexo miogênico, mantém o débito cardíaco. Respostas neuro-hormonais: ● Liberação de norepinefrina: ocorre pelos nervos simpáticos do coração; isso eleva a FC, aumenta a contratilidade do miocárdio e intensifica a resistência vascular. ● Ativação sistema renina-angiotensina-ald osterona e liberação do peptídeo natriurético atrial: responsáveis por ajustar os volumes de enchimento e pressão. Consequências desses reflexos: esses mecanismos compensatórios mantém a homeostasia, o que mantém o bom funcionamento do coração. ● Ponto negativo: com o passar do tempo há cardiotoxicidade e remodelamento cardíaco (indução de apoptose de miócitos, piorando os sintomas da síndrome). Sendo assim, a terapêutica da insuficiência cardíaca visa inibir esses mecanismos basicamente pelo bloqueio neural e do sistema renina - angiotensina - aldosterona. Quadro clínico Inicialmente, o paciente fica assintomático por um longo período e quando a sintomatologia começa, eles são decorrentes do baixo débito e/ou da síndrome congestiva. Sintomatologia do baixo débito: ● Síncope. ● Palpitações. ● Intolerância a exercícios. ● Fadiga. Sintomatologia da congestão: Victoria Karoline Libório Cardoso ● Insuficiência do ventrículo esquerdo: congestão pulmonar, dispneia ao esforço, dispneia paroxística noturna (dificuldades de respiração após deitar-se para dormir), ortopneia e tosse seca. ● Insuficiência do ventrículo direito: congestão sistêmica, edema de membros inferiores, turgência jugular, reflexo hepatojugular, hepatomegalia congestiva e saciedade precoce. ● Outros achados no enchimento ventricular elevado e no débito cardíaco reduzido: arritmias, extrassístoles, pressão venosa jugular elevada, presença de estertores pulmonares e de 3° e 4° bulha cardíaca. ○ 3° bulha: sinaliza um coração dilatado, com alta complacência - IC sistólica. ○ 4° bulha: sinaliza um coração com hipertrofia concêntrica, pouca complacência e dificuldade de relaxamento - IC diastólica. Diagnóstico É basicamente clínico, baseado nos Critérios de Framingham, no qual permite o diagnóstico de IC com a presença de 2 critérios maiores ou 1 maior e 2 menores. Critérios maiores: ● Dispneia paroxística noturna. ● Turgência de jugular. ● Estertores pulmonares. ● Cardiomegalia. ● Edema agudo de pulmão. ● Galope de 3° bulha. ● Pressão venosa aumentada (> 16mmHg). ● Refluxo hepatojugular. ● Perda de peso > 4,5 kg em 5 dias de resposta ao tratamento. Critérios menores: ● Edema maleolar bilateral. ● Hepatomegalia. ● Derrame pleural. ● Dispneia aos esforços. ● Tosse noturna. ● Capacidade vital < ⅓ do previsto. ● Taquicardia (> 120 bpm). Exames complementares Eletrocardiograma (ECG): avalia o ritmo cardíaco; identifica um infarto do miocárdio prévio e detecta evidências de uma hipertrofia ventricular esquerda. Radiografia de tórax: visualização de uma possível cardiomegalia com sinais de congestão pulmonar. Ecodopplercardiograma: método rápido, seguro e muito disponível; substitui o raio-X de tórax; fornece informações anatômicas e funcionais. BNP - Peptídeo Natriurético do tipo B: elevado valor preditivo negativo (afasta suspeitas de IC), sendo de fácil obtenção. Sofre influência de fatores como idade, IMC e função renal, por isso usa-se dois pontos de corte. ● < 100: exclui-se IC. ● > 400: provável IC. Classificação do paciente com IC Classificação baseada na classe funcional: ● Classe I: ausência de sintomas (dispnéia) durante atividades cotidianas. ● Classe II: sintomas desencadeados por atividades cotidianas. Victoria Karoline Libório Cardoso ● Classe III: sintomas desencadeados por atividades menos intensas que as cotidianas ou aos pequenos esforços. ● Classe IV: sintomas em repouso. Classificação baseadaem estágios: ● Estágio A: alto risco de IC; sem anormalidade estrutural ou funcional; sem sinais ou sintomas. ● Estágio B: doença cardíaca estrutural desenvolvida, fortemente associada à IC, mas sem sinais e sintomas. ● Estágio C: insuficiência cardíaca sintomática associada à doença cardíaca estrutural subjacente. ● Estágio D: doença cardíaca estrutural avançada e sintomas acentuados de IC em repouso, apesar de terapêutica máxima. Tratamento Tratamento não farmacológico: ● Dieta com baixa ingestão de sódio, restrição hídrica (1 a 1,5L) em pacientes com risco de hipervolemia e controle do peso corporal. ● Álcool com ingesta moderada (exceção de pacientes com miocardia alcóolica) e o tabaco deve ser suprimido. ● Vacina contra influenza anualmente e contra pneumococos com intervalo de 3 a 5 anos. ● Planejamento familiar e adoção de medidas anti-estresse. ● Exercícios físicos com 60-85% da frequência máxima obtida no teste de esforço. ● Evitar o uso de AINE’s e inibidores da COX-2, pois provocam retenção hidrossalina e elevação da PA. ● Pacientes com classe funcional IV devem evitar viagens aéreas ou dirigir veículos. Tratamento farmacológico ● Inibidores da enzima conversora de angiotensina: prescritos a todos os pacientes. ○ Captopril ou enalapril. ● Betabloqueadores: redução do antagonismo da atividade simpático, promovendo uma melhora clínica e da função ventricular. Pode ser administrado com IECA ou BRA. ○ Bisoprolol, nebivolol, carvedilol. ● Bloqueadores dos receptores de angiotensina II (BRA): para pacientes com intolerância aos IECA’s ou com tosse seca após utilização de captopril ou enalapril. Reduzem os níveis de aldosterona e catecolaminas, promovendo vasodilatação arterial com consequente diminuição da resistência vascular periférica. ○ Candesartan ou losartan. ● Antagonista de aldosterona: indicado para pacientes sintomáticos com disfunção diastólica, de classe funcional III e IV. ○ Espironolactona. ● Diuréticos: natriurese, contribuindo para a melhora do estado volêmico. Indicado para pacientes sintomáticos com sinais e sintomas de congestão. ○ Furosemida ou hidroclorotiazida. ● Hidralazina + nitrato: para pacientes com contraindicação ao IECA. Victoria Karoline Libório Cardoso ● Digoxina (digitálico): indicado para pacientes com disfunção sistólica, associada à frequência ventricular elevada na fibrilação atrial, com sintomas atuais ou prévios. ○ Digoxina. ● Anticoagulantes e antiagregantes plaquetários: indicados para pacientes com fibrilação atrial, trombo em ventrículo esquerdo ou embolia prévia. Tratamento cirúrgico ● Revascularização do miocárdio: indicada para pacientes com sintomas de IC e angina pectoris ou com doença arterial coronariana subjacente sem angina. ● Cirurgia da valva mitral: indicada para pacientes com disfunção ventricular esquerda e grave insuficiência valvar mitral. Remodelamento cirúrgico do ventrículo esquerdo: ● Transplante cardíaco: melhor modalidade de tratamento cirúrgico para pacientes com IC terminal. Prognóstico Uma vez instalada, a disfunção ventricular sistólica normalmente progride. A mortalidade dos pacientes com IC é geralmente de forma súbita ou por progressiva falência de bomba. Extra Fatores precipitantes: má adesão ao tratamento, infecções, sobrecarga de volume, embolia pulmonar, isquemia miocárdica, crise hipertensiva e arritmias. Pacientes com IC descompensada: pode apresentar sinais clínicos de congestão pulmonar e/ou de baixo débito cardíaco; a partir disso a classificação é de acordo com a hemodinâmica. nepresilina - empresto: resposta excelente, mas caro. peptideo natriuretico + valsartam.
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