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Tipos de Fibras Musculares FIBRAS MUSCULARES ESQUELÉTICAS: As células musculares são alongadas, e por isso são chamadas fibras musculares. A fibra muscular é formada durante o desenvolvimento embrionário pela fusão de pequenas células musculares, denominadas mioblastos. Esses mioblastos se fundem uns aos outros para formar longas células multinucleadas conhecidas como miotubos, os quais sintetizam constituintes citoplasmáticos e elementos contráteis, as miofibrilas. As miofibrilas são constituídas por arranjos específicos de miofilamentos, estruturas proteicas responsáveis pela capacidade contrátil da célula. Nas fibras musculares esqueléticas, os numerosos núcleos se localizam na periferia das fibras, nas proximidades do sarcolema. Essa localização nuclear característica ajuda a distinguir o músculo esquelético do músculo cardíaco, ambos com estriações transversais, uma vez que, no músculo cardíaco, os núcleos são poucos e centrais. As fibras musculares estão organizadas em grupos de feixes, sendo o conjunto de feixes envolvidos por tecido conjuntivo denso • Epimísio: É uma membrana de tecido conjuntivo que envolve o músculo. Do epimísio partem finos septos de tecido conjuntivo que se dirigem para o interior do músculo, separando os feixes. Esses septos constituem o perimísio • Perimísio: Membrana de tecido conjuntivo que envolve um feixe de fibras. • Endomísio: Membrana de tecido conjuntivo que envolve uma fibra (célula) muscular. É formado pela lâmina basal da fibra muscular, associada a fibras reticulares e é constituído por algumas células do tecido conjuntivo, que mantém as fibras musculares unidas, possibilitando que a força de contração gerada por cada fibra individualmente atue sobre o músculo inteiro. As células possuem uma pequena quantidade de retículo endoplasmático rugoso e ribossomos. O retículo endoplasmático liso (geralmente chamado de retículo sarcoplasmático) é bem desenvolvido e armazena íons Ca2+, importantes para o processo de contração. As mitocôndrias são numerosas e fornecem energia ao processo. Para a obtenção da energia, armazenam glicogênio e gotículas lipídicas. Elas contêm ainda pigmentos de mioglobina, que são proteínas transportadoras de oxigênio semelhantes à hemoglobina, mas menores do que essa. As fibras musculares são ricas em filamentos de actina e de miosina, responsáveis pela sua contração. Os filamentos contráteis de actina e miosina são abundantes e envoltos por invaginações da membrana plasmática, pelas cisternas do retículo sarcoplasmático e pelas mitocôndrias, resultando nas miofibrilas, dispostas longitudinalmente nas células e com 1 a 2 μm de diâmetro. As fibras musculares esqueléticas não são todas iguais em composição e função. Por exemplo, o conteúdo de mioglobina, proteína de cor vermelha que se liga ao oxigênio nas fibras musculares, varia entre as fibras musculares. As fibras musculares esqueléticas que apresentam alto conteúdo de mioglobina são chamadas fibras musculares vermelhas e aparecem mais escuras (a carne das asas e coxas do frango); aquelas que apresentam baixo conteúdo de mioglobina são chamadas fibras musculares brancas e são mais claras (a carne branca do peito do frango). As fibras musculares vermelhas também contêm mais mitocôndrias e são servidas por mais capilares sanguíneos. As fibras musculares esqueléticas também se contraem e relaxam em velocidades diferentes e variam as reações metabólicas que usam para gerar ATP e a rapidez com a qual fadigam. O ciclo glicose-ácido graxo explica a preferência do tecido muscular pelos ácidos graxos durante atividade moderada de longa duração, ou seja, nas fibras lentas. Em contraste, durante o exercício de alta intensidade, nas fibras rápidas, há aumento na disponibilidade e na taxa de oxidação de glicose. Já as fibras ultrarrápidas utilizam lactato como reposição rápida de energia. Por exemplo, uma fibra é classificada como lenta ou rápida dependendo da rapidez com a qual a ATPase nas suas cabeças de miosina hidrolisa o ATP. Com base em todas essas características estruturais e funcionais, as fibras musculares esqueléticas são classificadas em três tipos principais: 1. Fibras oxidativas lentas (Tipo I) 2. Fibras oxidativo-glicolíticas rápidas (Tipo II A) 3. Fibras glicolíticas rápidas (Tipo II B) FIBRAS OXIDATIVAS LENTAS (TIPO I): As fibras oxidativas lentas (OL) possuem cor vermelha escura porque contêm grandes quantidades de mioglobina (proteína que contém ferro, semelhante à hemoglobina) e muitos capilares sanguíneos. Uma vez que possuem muitas mitocôndrias grandes, as fibras OL geram ATP principalmente por respiração aeróbica, motivo pelo qual são chamadas de fibras oxidativas. Diz-se que essas fibras são “lentas” porque a ATPase nas cabeças de miosina hidrolisa ATP de maneira relativamente devagar e o ciclo de contração procede em ritmo mais lento que nas fibras “rápidas”. Em consequência disso, as fibras OL apresentam velocidade de contração lenta. Seus abalos musculares duram 100 a 200 ms e levam mais tempo para chegar à tensão de pico. No entanto, fibras lentas são bastante resistentes à fadiga e capazes de contrações mais prolongadas e sustentadas por muitas horas. Essas fibras de contração lenta resistentes à fadiga são adaptadas para a manutenção da postura e para atividades aeróbicas de resistência como corrida de maratona, que requer maior resistência devido às longas distâncias. Além disso, o tempo para repor energia dessas fibras é maior. As fibras vermelhas (lentas) são menores que as fibras rápidas e são inervadas por fibras nervosas menores. Além disso, se comparadas às fibras rápidas, as fibras lentas têm um sistema de vascularização mais extenso, com maior quantidade de capilares para suprir quantidades extras de oxigênio. Cerca de metade das fibras de um músculo esquelético típico é composta por fibras oxidativas lentas (vermelha), porém essa proporção pode variar conforme a atividade do músculo, regime de treinamento do indivíduo e fatores genéticos. FIBRAS OXIDATIVO-GLICOLÍTICAS RÁPIDAS (TIPO II A): As fibras oxidativo-glicolíticas rápidas (OGR) são normalmente as fibras maiores. Assim como as fibras oxidativas lentas, elas contêm grandes quantidades de mioglobina e muitos capilares sanguíneos (se comparada aos outros tipos de fibras, as fibras OGR possuem uma quantidade intermediária de capilares). Elas também apresentam uma quantidade intermediária de mitocôndrias, bem como o tamanho dessas organelas. Desse modo, também têm uma aparência vermelho-escura. As fibras OGR podem gerar quantidade de ATP considerável por respiração aeróbica, o que lhes confere resistência moderadamente elevada à fadiga. Uma vez que seu nível intracelular de glicogênio é alto, elas também geram ATP por glicólise anaeróbica. As fibras OGR são de contrações rápidas porque a ATPase nas suas cabeças de miosina hidrolisa ATP 3 a 5 vezes mais rapidamente que a ATPase na miosina das fibras OL, tornando sua velocidade de contração maior. Assim, os abalos das fibras OGR alcançam a tensão de pico mais rápido que as fibras OL, porém têm duração mais breve – menos de 100 ms. As fibras OGR contribuem para atividades como a caminhada e a corrida de velocidade. FIBRAS GLICOLÍTICAS RÁPIDAS (TIPO II B): As fibras glicolíticas rápidas (GR) apresentam baixo conteúdo de mioglobina, relativamente poucas mitocôndrias e poucos capilares sanguíneos e se mostram de cor branca. As fibras rápidas, em geral, são grandes para obter uma grande força de contração. Elas contêm grandes quantidades de glicogênio e geram ATP principalmente por glicólise. Devido à capacidade de hidrolisar ATP com rapidez, as fibras GR se contraem forte e rapidamente. Essas fibras de contração rápida são adaptadas para movimentos anaeróbicos intensos de curta duração, como levantamento de peso ou arremesso de bola, porémfadigam logo. Programas de treinamento de força que colocam a pessoa em atividades que requerem grande força para curtos períodos aumentam o tamanho, a força e o conteúdo de glicogênio das fibras glicolíticas rápidas. As fibras GR de um levantador de peso podem ser 50% maiores que aquelas de pessoas sedentárias ou de um atleta de resistência por conta da síntese mais intensa de proteínas musculares. O resultado geral é o crescimento muscular decorrente da hipertrofia das fibras GR. FIBRAS TIPO I – muito resistentes à fadiga; relacionadas a atividades aeróbicas de alta resistência FIBRAS TIPO II A – moderadamente resistentes à fadiga; alta tensão muscular FIBRAS TIPO II B – não são resistentes à fadiga; relacionadas a movimentos anaeróbicos intensos AMINOÁCIDOS ESSENCIAIS DE CADEIA RAMIFICADA (BCAA’S): Aminoácidos são as unidades básicas formadoras das proteínas. Podemos classificá-los em dois grupos principais: os aminoácidos essenciais e os não essenciais. Existem 20 diferentes tipos de aminoácidos independente do ser vivo. Os aminoácidos são subdivididos em essenciais e não essenciais. Os essenciais são aqueles que não podem ser sintetizados endogenamente e devem ser obtidos a partir do alimento, já os aminoácidos não essenciais são aqueles que o organismo é capaz de sintetizar. Podem ser encontrados em diversos alimentos, como carnes vermelhas, ovos, queijo, feijão, lentilha, amêndoas, amendoim e arroz. Em humanos saudáveis, nove aminoácidos são considerados essenciais, uma vez que não podem ser sintetizados endogenamente e, portanto, devem ser ingeridos por meio da dieta. Dentre os aminoácidos essenciais, se incluem os três aminoácidos de cadeia ramificada (BCAA), ou seja, leucina, valina e isoleucina, que apresentam, respectivamente, concentração plasmática média de 120, 220 e 63 µmol/L; concentração intramuscular na forma livre média de 133, 253 e 68 µmol/L de água intracelular; e concentração na proteína muscular humana de 59,5, 43,5 e 41,9 mmol/100 g de proteína. A concentração de BCAA também difere em relação ao tipo de fibra muscular, sendo 20-30% maior em fibras de contração lenta em comparação àquelas de contração rápida. Os BCAAs correspondem a cerca de 35% dos aminoácidos essenciais em proteínas musculares e, uma vez que a massa muscular de humanos é de cerca de 40-45% da massa corporal total, verifica-se que grande quantidade de BCAA está presente em proteínas musculares. Em indivíduos adultos, BCAAs são relevantes para a manutenção da proteína corporal além de serem fonte de nitrogênio para a síntese de alanina e glutamina. Existem evidências demonstrando o papel fundamental dos BCAAs – especialmente a leucina – na regulação de processos anabólicos envolvendo tanto a síntese quanto a degradação proteica muscular. Além disso, BCAAs apresentam potenciais efeitos terapêuticos, uma vez que esses aminoácidos podem atenuar a perda de massa magra durante a redução de massa corporal; favorecer o processo de cicatrização; melhorar o balanço proteico muscular em indivíduos idosos; e propiciar efeitos benéficos no tratamento de patologias hepáticas e renais. No que concerne a nutrição esportiva, os BCAAs são extensivamente utilizados por atletas baseado na premissa de que esses aminoácidos podem promover anabolismo proteico muscular, atuar em relação à fadiga central, favorecer a secreção de insulina, melhorar a imunocompetência, diminuir o grau de lesão muscular induzido pelo exercício físico e aumentar a performance de indivíduos que se exercitam em ambientes quentes. A leucina influencia o controle de curto prazo da etapa de tradução da síntese proteica e este efeito é sinérgico com a insulina, que é um hormônio anabólico, com papel crítico na manutenção da síntese proteica muscular. Contudo, a insulina de modo isolado não é suficiente para estimular a síntese proteica muscular no estado pós- absortivo, sendo necessária a ingestão de proteínas ou de aminoácidos para restaurar completamente as taxas de síntese proteica. É proposto que o efeito da insulina na síntese proteica muscular esteja relacionado ao papel desse hormônio em potencializar o sistema de tradução de proteínas, ao invés de regular diretamente tal processo, ou seja, a insulina exerce um efeito permissivo sobre a síntese proteica na presença de aminoácidos. Aliado a isto, cabe ressaltar que a administração oral de leucina produz ligeiro e transitório aumento na concentração de insulina sérica, fato este que age também de modo permissivo para a estimulação da síntese proteica induzida por este aminoácido. A leucina, que é um tipo de aminoácido de cadeia ramificada e essencial, pode fomentar efeitos intracelulares sobre a mTOR que é uma quinase específica aumentando síntese proteica. Então o próprio BCAA pode também induzir síntese proteica. Os aminoácidos de cadeia ramificada também estão envolvidos no processo de geração de energia, sendo utilizados apenas em situações extremas na qual estes aminoácidos serão utilizados para geração de energia. Valina e Isoleucina sofrerão reações e produzirão um componente chamado Propionil COA que depois vai gerar o Succinil COA que é o intermediário do Ciclo De Krebs, então a Valina e a Isoleucina podem entrar no Ciclo De Krebs para produção de energia, porque a função do Ciclo de Krebs consiste na geração de energia. A Leucina vai gerar Acetoacetato e Acetil COA tanto quanto a Isoleucina, porém também pode gerar Acetil COA. Acetil COA é um intermediário energético que vai iniciar o Ciclo De Krebs, então é o intermediário energético fundamental. O Acetil COA e da Leucina produzindo Acetoacetato, o Acetoacetato é um corpo cetônico que serve de energia também, só que apenas em casos extremos. HIPERTROFIA MUSCULAR: A hiperplasia (produção de fibras musculares) só ocorre durante o período embrionário. Assim, com uma combinação de exercícios físicos e alimentação adequada, é possível aumentar a massa muscular por meio da hipertrofia muscular, pois ela é responsável por aumentar o diâmetro das fibras musculares através da ativação de células satélites, localizadas entre a membrana e a lâmina basal. As células satélites são incorporadas às fibras musculares, aumentando a quantidade de DNA e de recursos nucleares, o que permite o aumento de proteínas. O efeito da hipertrofia muscular também decorre da presença dos BCAA’s Durante exercícios resistivos e de estiramento, ocorre proliferação e fusão das células e produção de pequenas lesões no músculo (que estimulam a síntese proteica), que após o treino são reparadas e geram hipertrofia. O número de células satélites no músculo varia com a idade, o tipo muscular, a nutrição e a demanda. APROFUNDANDO – METABOLISMO DOS BCAAs No tocante ao metabolismo dos BCAAs, inicialmente cabe ressaltar as vias bioquímicas envolvidas no catabolismo desses aminoácidos. Diferentemente de outros aminoácidos, que são oxidados primariamente no tecido hepático, o sistema enzimático mais ativo para a oxidação dos BCAAs está localizado no músculo esquelético. Apesar do fígado não poder diretamente catabolizar os BCAAs, o mesmo apresenta um sistema muito ativo para a degradação dos cetoácidos de cadeia ramificada oriundos dos correspondentes BCAAs. Essa distribuição tecidual específica do catabolismo dos BCAAs decorre da distribuição única das duas primeiras enzimas envolvidas no catabolismo dos BCAAs: 1. aminotransferase de aminoácidos de cadeia ramificada (ATACR) – que catalisa a transaminação dos ACR (BCAAs), em reação reversível. 2. complexo enzimático desidrogenase de cetoácidos de cadeia ramificada (DCCR) – que catalisa a descarboxilação oxidativa dos cetoácidos de cadeia ramificada, em reação irreversível. A primeira reação envolvida no catabolismo dos ACR é a transaminaçãopelas isoenzimas ATACR – que são enzimas dependentes de piridoxal-fosfato (vitamina B6) –, e que aceitam os três ACR como substratos. No que concerne à atividade tecidual da enzima ATACR (atividade por grama de tecido úmido), verifica-se elevada atividade no coração e rim, atividade intermediária no músculo esquelético e baixa atividade no fígado. Em células de mamíferos, duas ATACR estão presentes, sendo uma mitocondrial e outra citosólica. A partir da reação catalisada pela ATACR, os ACR são convertidos nos seus respectivos cetoácidos: a leucina é convertida em α-cetoisocaproato (KIC) a isoleucina em α-ceto-βmetilvalerato (KMV) a valina em α-cetoisovalerato (KIV) Posteriormente à reação catalisada pela enzima ATACR e à consequente formação dos cetoácidos de cadeia ramificada, esses podem sofrer descarboxilação oxidativa mediada pelo complexo enzimático DCCR – presente na superfície interna da membrana interna mitocondrial. Por meio da reação catalisada pelo complexo DCCR, os cetoácidos de cadeia ramificada KIC, KMV e KIV são convertidos em isovaleril-CoA, 2-metilbutiril-CoA e isobutiril-CoA, respectivamente. α-cetoisocaproato (KIC) isovaleril-CoA α-ceto-βmetilvalerato (KMV) 2-metilbutiril-CoA α-cetoisovalerato (KIV) isobutiril-CoA A atividade da DCCR é maior no fígado, intermediária no rim e coração, e comparativamente baixa no músculo, tecido adiposo e cérebro. A DCCR é a principal enzima regulatória na via catabólica dos ACR, sendo considerada a etapa controladora do fluxo do catabolismo dos ACR. Concomitantemente, verifica-se que na reação catalisada pela ATACR há a conversão de α-cetoglutarato – aceptor de nitrogênio oriundo dos ACR – em glutamato. A partir do glutamato pode ocorrer a síntese de outros aminoácidos, como alanina e glutamina. Desse modo, a transaminação dos ACR fornece mecanismos para transferir o nitrogênio dos ACR de acordo com a necessidade do tecido por glutamato e outros aminoácidos não-essenciais. Além disso, cabe ressaltar que as isoenzimas ATACR em mamíferos são muitos específicas para ACR e glutamato, sendo a preferência de substratos a seguinte: isoleucina > valina >> glutamato A atividade do complexo DCCR – diferentemente da atividade da ATACR – é altamente regulada por um ciclo de fosforilação/desfosforilação. A enzima DCCR quinase (DCCRQ) promove a inativação da DCCR por meio da fosforilação da subunidade E1α desse complexo, enquanto a DCCR fosfatase (DCCRF) é responsável pela ativação do complexo por meio da desfosforilação da subunidade E1α. A ativação do complexo DCCR pode ser obtida em curto prazo pela inibição da atividade da enzima DCCRQ por meio do KIC – produto resultante da transaminação da leucina. Análogos estruturais do KIC, incluindo o octanoato, α-cloro-isocaproato e o ácido clofíbrico, também promovem a ativação do complexo DCCR por meio da inibição direta da DCCRQ. Os mecanismos de controle de longo prazo incluem: 1. diminuição da expressão gênica das subunidades da DCCR por meio da baixa ingestão de proteínas. 2. aumento da expressão da DCCRQ induzida pela dieta com baixo teor de proteínas e por hormônios da tireoide. 3. diminuição da expressão da DCCRQ decorrente da alta ingestão de proteínas, jejum, glicocorticóides e clofibrato. A partir desses fatos, verifica-se que a atividade da DCCR é significativamente diminuída em animais alimentados com dietas hipoprotéicas ou tratados com hormônios da tireoide, porém a atividade da DCCR aumenta em animais submetidos ao jejum, diabetes, sepse, câncer, uremia, infecções e doenças inflamatórias causadas por endotoxemia e citocinas. Posteriormente à segunda etapa do catabolismo dos ACR mediada pela DCCR, os produtos dessa reação – derivados de acil-CoA de cadeia ramificada – sofrem oxidação por meio de duas diferentes desidrogenases. Após essa etapa, as vias catabólicas de cada um dos ACR passam a divergir. A leucina é cetogênica, uma vez que forma acetil-CoA e acetoacetato, enquanto a valina é glicogênica, devido ao fato de ser convertida em succinil- CoA – intermediário do ciclo de Krebs. Tanto a isoleucina quanto a valina são metabolizadas para succinato via metilmalonil-CoA. O outro produto do metabolismo da isoleucina é o acetoacetato e, desse modo, a isoleucina pode ser considerada como um aminoácido glicogênico e cetogênico. Aminoácidos de cadeia ramificada e regulação da síntese protéica muscular ACR são essenciais na dieta e, portanto, relevantes na regulação da síntese protéica muscular. A administração endovenosa de glicose e de várias misturas de aminoácidos, por um período de uma hora, em ratos previamente privados de alimentação, demonstrou que a infusão de ACR e glicose aumenta a síntese protéica no músculo esquelético tão eficientemente quanto uma mistura contendo glicose e todos os aminoácidos. Esse fato sugere que o efeito anabólico de uma mistura completa de aminoácidos pode ser reproduzido pelo fornecimento de uma mistura contendo apenas os três. Contudo, o efeito da mistura dos três ACR sobre a síntese protéica muscular pode ser atribuído ao aminoácido leucina, uma vez que em estudo com músculo esquelético perfundido, foi verificado que o fornecimento de leucina isoladamente estimula a síntese protéica muscular tão efetivamente como a mistura dos três ACR. A leucina exerce os seus efeitos em nível pós-transcricional e mais comumente durante a fase de iniciação da tradução do RNA-mensageiro em proteína. O mecanismo pelo qual a leucina estimula a tradução de proteínas está relacionado ao fato de o aumento da concentração intracelular desse aminoácido promover a ativação de uma proteína quinase denominada alvo da rapamicina em mamíferos (mammalian Target of Rapamycin - mTOR). O mTOR estimula a síntese protéica principalmente por meio de três proteínas regulatórias chaves: a proteína quinase ribossomal S6 de 70 kDA (p70S6k) a proteína 1 ligante do fator de iniciação eucariótico 4E (4E-BP1) o fator de iniciação eucariótico 4G (eIF4G) A 4E-BP1 é uma inibidora do fator de iniciação da tradução protéica conhecido como eIF4E. Quando a 4E-BP1 é fosforilada, o eIF4E é liberado e pode unir-se ao eIF4G – o qual está também sob o controle do mTOR – e ao eIF4A, o que forma o complexo eIF4F. A montagem desse complexo é necessária para a continuação da etapa de iniciação da tradução do RNA- mensageiro em proteína. A mTOR também ativa a p70S6k, que estimula a iniciação da tradução bem como a elongação da síntese protéica por diferentes mecanismos. A p70S6k, quando ativada, fosforila e inativa a enzima quinase do fator de elongação 2 (eEF2K), fato este que permite que o eEF2 seja ativado, o que promove a elongação. Consistente com esses fatos, a administração de leucina para ratos induz hiperfosforilação da 4E-BP1, promove formação do complexo eIF4F, causa hiperfosforilação da p70S6k e estimula a síntese protéica. Similarmente, dietas para ratos contendo 20% de proteína estimulam a síntese protéica hepática e muscular, que é associada ao aumento da fosforilação da 4E-BP1 e à consequente redução da ligação do eIF4E para a 4E- BP1, além do aumento da formação do complexo eIF4F. Esses fatos permitem relacionar a resposta anabólica sobre a síntese protéica muscular induzida pela ingestão de proteínas, por meio da capacidade do mTOR detectar alterações na concentração intracelular de leucina. Leucina, insulina e síntese protéica muscular A leucina influencia o controle de curto prazo da etapa de tradução da síntese protéica e este efeito é sinérgico com a insulina, que é um hormônio anabólico, com papel crítico na manutenção da síntese protéica muscular. Contudo, a insulina de modo isolado não é suficiente para estimular a síntese protéica muscular no estado pós- absortivo, sendo necessária a ingestão de proteínas ou de aminoácidospara restaurar completamente as taxas de síntese proteica. É proposto que o efeito da insulina na síntese proteica muscular esteja relacionado ao papel desse hormônio em potencializar o sistema de tradução de proteínas, ao invés de regular diretamente tal processo, ou seja, a insulina exerce um efeito permissivo sobre a síntese protéica na presença de aminoácidos. Aliado a isto, cabe ressaltar que a administração oral de leucina produz ligeiro e transitório aumento na concentração de insulina sérica, fato este que age também de modo permissivo para a estimulação da síntese protéica induzida por este aminoácido. Em estudos sobre a interação entre os efeitos estimulatórios da leucina e da insulina sobre a síntese protéica no músculo esquelético, verifica-se que a administração de somatostatina – a qual inibe a secreção de insulina – atenua o aumento induzido pela leucina sobre a fosforilação da 4E-BP1 e da p70S6k, porém não tem efeito sobre a associação do eIF4E e eIF4G. Além disso, estudos em ratos diabéticos demonstram que parte da resposta da leucina sobre a síntese protéica no músculo esquelético ocorre tanto por meio de mecanismos independentes de insulina quanto dependentes de insulina. Portanto, conclui-se que os efeitos estimulatórios da leucina sobre a síntese proteica muscular ocorrem por mecanismos dependentes de insulina, que incluem a sinalização mediada pela proteína mTOR para a 4E-BP1 e a p70S6k, enquanto os efeitos independentes de insulina são mediados por um mecanismo ainda não totalmente esclarecido, que envolve a fosforilação do eIF4G e/ou sua associação com o eIF4E. Metabolismo de aminoácidos de cadeia ramificada durante o exercício físico Durante o exercício físico ocorre a captação de diversos aminoácidos – predominantemente ACR – pelo tecido muscular. Se o exercício físico é prolongado, verifica-se significativa liberação de ACR pelo tecido hepático, aliada à diminuição da concentração plasmática de ACR – por exemplo, a concentração plasmática de leucina diminui entre 11 e 33%. O músculo esquelético humano pode oxidar ao menos seis aminoácidos (leucina, isoleucina, valina, aspartato, glutamato e asparagina), todavia, durante o exercício físico, os ACR são preferencialmente oxidados. Como a amônia é tóxica e a sua conversão em uréia acontece no fígado, o NH4+ produzido nos outros tecidos, para ser transportado ao fígado, é incorporado em compostos não tóxicos e que atravessam as membranas com facilidade: glutamina, na maioria dos tecidos extra-hepáticos, e alanina, no músculo. A enzima DCCR é a enzima limitante do fluxo das reações envolvidas na oxidação dos ACR, com cerca de 5-8% na forma ativa (desfosforilada) no repouso e 20-25% na forma ativa durante o exercício. A ativação da DCCR é relacionada à: concentração de ACR e de cetoácidos de cadeia ramificada na fibra muscular. depleção do glicogênio muscular. diminuição do pH e da razão ATP:ADP. A correlação inversa entre ativação do complexo DCCR e concentração muscular de glicogênio sustenta o fato que estratégias de suplementação com carboidratos durante o exercício físico promovem efeito poupador da oxidação de aminoácidos por meio da diminuição da atividade do complexo DCCR. Cabe destacar que o aumento da ativação do complexo DCCR (e da oxidação de leucina) ocorre predominantemente durante o exercício intenso (70-80% VO2 max) e prolongado, enquanto que em intensidades de exercício inferiores, o grau de ativação é reduzido. O treinamento de endurance - caracterizado pelo alto volume (tempo e repetições) e baixa intensidade (carga) de trabalho - resulta em efeito poupador da oxidação de proteínas decorrente da redução da atividade do Aminoácidos são degradados no músculo para servir como combustível, entretanto essa reação gera amônia. O grupo amino dos ACR é transaminado com o α- cetoglutarato para formar glutamato. A amônia se aliará ao glutamato para ser eliminada lá no fígado, pois é altamente tóxica. O glutamato pode: 1. ser transformado em glutamina por meio de uma reação catalisada pela glutamina sintetase. 2. Pode ter seu grupo amino retirado (transaminação). O piruvato (vindo da via glicolítica) também poderá sofrer o mesmo processo, ambos pela ação da alanina aminotransferase. Assim, haverá a formação de alanina e de α-cetoglutarato, os quais serão transportados pelo sangue até o fígado. No fígado, a alanina e o α-cetoglutarato sofrerão o incremento de um grupamento amino (aminação) por meio da alanina aminotransferase, originando piruvato e glutamato. O glutamato que está associado com a amônia vinda dos músculos consegue enfim liberá-la. complexo DCCR, apesar do aumento da capacidade total de oxidação de ACR. Desse modo, essas adaptações induzidas pelo treinamento de endurance diminuiriam a contribuição de ACR para o fornecimento de energia; contudo, em período de estresse nutricional (baixa ingestão de energia ou de carboidratos) ou metabólico (treinamento exaustivo ou exercícios prolongados e intensos), a quantidade diária de oxidação de aminoácidos poderia exceder àquela observada em indivíduos sedentários ou em indivíduos com atividade física em nível recreacional. Exercício de endurance, imunocompetência e aminoácidos de cadeia ramificada O sistema imune é influenciado agudamente, e em menor extensão, cronicamente, pelo exercício. Dados epidemiológicos e experimentais sugerem que o exercício moderado aumenta a imunocompetência, enquanto que durante o treinamento intenso e após um evento competitivo ocorre aumento da incidência de infecções do trato respiratório superior (ITRS) em atletas. O exercício intenso e prolongado está associado com temporária imunossupressão que afeta macrófagos, neutrófilos e linfócitos. Os mecanismos envolvidos não estão completamente elucidados, porém são multifatoriais, incluindo ações hormonais – por exemplo, catecolaminas, as quais têm como principais representantes a dopamina (neurotransmissor do prazer), epinefrina ou adrenalina e norepinefrina ou noradrenalina (vasoconstritor) e cortisol (hormônio do estresse) – inibição da síntese de citocinas por macrófagos e linfócitos T e diminuição da concentração plasmática de glutamina, que é o aminoácido livre mais abundante no plasma e no tecido muscular, e é utilizado em altas taxas por células de divisão rápida, incluindo leucócitos, para fornecer energia e favorecer a biossíntese de nucleotídeos. Uma vez que o exercício prolongado e intenso causa diminuição das concentrações plasmática e muscular de glutamina, esse fato pode repercutir sobre a imunocompetência do atleta, aumentando a incidência de ITRS. Os ACR podem atuar como precursores da síntese de glutamina no tecido muscular. Esses aminoácidos fornecem grupamentos amino em reações de transaminação, as quais acarretam na formação de glutamato que, posteriormente, na reação catalisada pela enzima glutamina sintetase, participa da síntese de glutamina. Nesse contexto, alguns estudos têm avaliado a efetividade da suplementação com ACR para manter a concentração plasmática de glutamina e modificar a resposta imune frente ao exercício de endurance exaustivo.
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