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IEL II - Aula 22 - Um Instrumento de Descoberta e Interpretação, de Candido Texto que contribui para o estudo do romance brasileiro. Fala sobre esse momento inicial do romance no Brasil, pensando na primeira metade do século XIX, entre o momento de Independência do Brasil até os anos 70, 80 do século XIX. Apenas da década de 30 que começam as primeiras tentativas de escrita de ficção em prosa, no Brasil, e isso se dá com escritores, atualmente, considerados secundários, ainda que importantes em outros aspectos. Começa o capítulo fazendo considerações mais gerais do romance enquanto forma e sobre sua popularização no período romântico europeu. Faz uma caracterização dessa forma, especialmente no segundo parágrafo. Diz que o romance rompe com as formas que delimitavam os gêneros, é anticlássico e irregular (não apresenta uma estrutura reconhecível à primeira vista). O romance seria a combinação entre pesquisa lírica (elemento da fantasia) e estudo sistemático da realidade (elemento documental). Consegue apreender algo da poesia e algo da ciência. Aponta o vínculo do triunfo do romance com alguns traços da estética romântica. Menciona também aspectos sociológicos, como a ampliação do público leitor e a participação mais efetiva do público na cultura. Retoma também o tema da semelhança entre a forma do romance moderno e a antiga epopeia. Há no romance amplitude e ambições equivalentes à epopeia. Mas há uma diferença crucial: no caso do romance, há um desprendimento em relação à dimensão do mito e um enraizamento mais sólido na vida cotidiana moderna. O que tem como consequência o que Moretti chamou de enchimentos. No item seguinte, Candido vai passar a discutir em maior detalhe a questão do vínculo da forma do romance com a realidade. Candido fala sobre um certo realismo dos românticos, algo que ele desenvolverá adiante. Adiantará também um certo levantamento da realidade local que o romance romântico em seus inícios no Brasil irá realizar e que tem a ver com o lado documental do romance. E isso possibilitará pensar em um traço em comum entre os primeiros romancista brasileiros e o que Candido chamará de realismo dos românticos. Ele vincula essa tendência ao nacionalismo literário. Candido está historicizando um pouco o que ele chama de sistema literário no Brasil, ou seja, um conjunto articulado de autores, obras e público, e que tem como resultado uma espécie de continuidade literária. Haveria duas tendências que estão simultaneamente atuando na intelectualidade brasileira no período pós-independência, de uma lado o desejo de integração do país ao mundo, do outro o desejo de afirmar a particularidade brasileira. O romantismo europeu retoma a natureza, porque esse é um vínculo que está sendo perdido, objetivando também criticar o presente técnico-industrial que está se impondo. No Brasil, essa valorização da natureza tem o sentido de afirmação das potencialidades do país, visto que esses elementos do progresso ainda não estavam aparecendo, ainda que houvesse um desejo da elite intelectual do Brasil daquele período em relação a isso. Não se trata de criticar o presente, mas reforçar a grandeza do país como tal. Nesse momento, o que nós conseguimos constatar pela simples leitura do romance romântico brasileiro do XIX é essa descrição abundante de lugares, paisagens e cenas do Brasil. Há um lado produtivo nessa tendência, que foi o levantamento das diferenças regionais e sociais que o romance foi capaz de fazer. Fazer literatura e fazer romance implica atualizar a cultura literária brasileira e trazer essas formas literárias, como o romance, forma moderna que possui prestigio na Europa e que permite ao país se atualizar culturalmente, mostrando como aqui também era possível produzir cultura de alto nível. Está apontando a tendência do romance para o levantamento de questões locais do país, assim, o romance vira uma espécie de instrumento de investigação da realidade social brasileira. Aponta a função que o romance romântico desempenhou de investigar a realidade brasileira, esses traços até então desconhecidos no Brasil. Mas havia poucas realizações artísticas de alto nível, o romance romântico brasileiro em seus inícios não chega a atingir o mesmo grau de qualidade literária. De um lado tem um ganho na função social que o romance desempenha enquanto instrumento de descoberta e investigação da realidade brasileira, mas isso implicou em uma redução no grau de realização artística. A literatura brasileira acabou por suprir a falta de desenvolvimento de outras áreas, como a historiografia e a geografia. Dica de Leitura: Candido, “Literatura e cultura de 1900 a 1945”, in: Literatura e sociedade. - fala sobre os recursos literários que impregnaram outras formas de expressão no Brasil do século XIX. A literatura acabou ocupando o papel central na vida intelectual brasileira. Os primeiro escritores, dentro do espírito de atualizar a cultura brasileira e colocá-la em pé de igualdade do que está sendo produzido na cultura ocidental como um todo, farão suas primeiras tentativas de romance. Cosmopolitismo seria o olhar do intelectual brasileiro para aquilo estava sendo produzido na Europa e servia de parâmetro do que estaria sendo produzido de mais moderno. Os primeiros autores tiverem que enfrentar algumas dificuldades técnicas de saber construir um enredo coerente, conseguir acomodar a linguagem literária à linguagem prosaica do cotidiano e acomodar a matéria social local a essa forma literária europeia, que havia sido moldada a partir de um realidade social completamente diferente. A dificuldade não é apenas um dificuldade de aprimorar seu domínio técnico e artístico, mas também de como você junta uma forma que tem no seu eixo um tipo de enredo que supõe um indivíduo livre e independente (o romance europeu) em uma sociedade em que as pessoas não eram livres e independentes, uma sociedade escravista (realidade brasileira). Como falar em independência e liberdade em uma sociedade em que a maior parte da população é formada por escravos e pessoas livres que dependem de favores de pessoas poderosas? Dicas de Leitura: Roberto Schwarz, “As ideias fora do lugar” e “A importação do romance e suas contradições em Alencar”, in: Ao vencedor as batatas. - Nesses dois capítulos, Schwarz descreve o deslocamento dessas ideias liberais (como de igualdade e liberdade) em função das relações sociais efetivamente vigentes na sociedade brasileira desse período. Tendência extensiva da literatura - expressão utilizada por Candido para caracterizar o romance romântico brasileiro do século XIX e o seu principal ganho em nosso país. Havia uma complexidade própria da realidade brasileira que os primeiros escritores tiveram dificuldade de empreender, o que fez parecer que a sociedade brasileira era mais atrasada ou rústica do que outras. Macedo, com A Moreninha, vai estabilizar e enraizar a forma do romance, e definir um pouco a linha do romance de costumes no Brasil. Mas ainda há uma espécie de discrepância que surge da tentativa de transpor o romance realista para o cenário brasileiro. Schwarz vai argumentar que o primeiro Machado fará uma movimento que parece ser um recuo, e não tratará dos grandes temas que fariam parte do realismo europeu, ou ao menos os colocará em segundo plano, em primeiro plano estará o problema da dependência, das relações de favor. E Machado faz isso para recompor o romance de outro modo. Em Iaiá Garcia, a relação de favor é o motor que organiza a estrutura do romance. Na primeira fase, Machado ainda apostava na possibilidade de humanizar essa relação de favor e educar a elite, fazendo com que pudesse se constituir um tipo de relação mais igualitária entre o dependentee seu protetor, está apostando em uma auto transformação da elite proprietária. Para Schwarz, nesse ponto final da primeira fase, Machado parece perceber a limitação de seu projeto, há uma espécie de desilusão. Temos, então, a publicação de Memória Póstumas de Brás Cubas, a obra que, corrosivamente, expõe essa brutalidade incurável da elite brasileira proprietária que lança seus dependentes a uma situação de extrema precariedade. Para Candido, se existe uma irrealidade nos romances românticos brasileiros isso não se dá nos tipos sociais, mas nas situações narrativas, no enredo a que eles estão submetidos. Schwarz e Candido estão falando de uma certa incompatibilidade em juntar os tipos brasileiros aos enredos europeus a que os autores ainda são muito fiéis. É importante salientar como os autores vão se articulando uns aos outros, o que possibilita o desenvolvimento de uma tradição não apenas dos ganhos, mas dos problemas que os autores brasileiros anteriores não foram capazes de resolver. Próxima aula: Antonio Candido, “Dialética da malandragem”.
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