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IEL II - Aula 24 - Análise dos Contos O Enfermeiro e Terpsícore Sobre o trabalho: é preciso ter equilíbrio no texto, pensar em como hierarquizar as informações. O Enfermeiro No início do conto, o narrador coloca-se em uma posição de humildade, mas que, após sabermos do desenrolar do conto em seu conjunto, percebemos que ele solicita quase a conivência do leitor em relação ao crime que ele cometeu. É um narrador não confiável, mas é importante qualificar essa não confiabilidade do narrador. Nesse caso, ele não é confiável no sentido de que a narrativa é interessada, e não no sentido de que ele inventa os fatos. Há um efeito cômico que atravessa o conto inteiro. Essa não confiabilidade produz esse efeito cômico, mas não é um narrador que tenta enganar o leitor, porque o leitor percebe o quanto é engraçado os movimentos que ele faz para tentar se justificar e se colocar nessas posições que não são propriamente a dele. Uma parte interessante do conto é a modificação que vai se instaurando no interior de Procópio. Procópio faz uma espécie de barganha com a justiça divina. Já enganou os homens e agora está tentando enganar Deus. Ele tenta enganar a si mesmo mais do que tenta enganar o leitor. É importante também observar o gesto de corrigir o Sermão da Montanha, ele está corrigindo a palavra de Jesus. Isso indica uma posição que se assemelha à posição de poder do coronel. E, mais que isso, indicaria um desprezo por qualquer senso de justiça. Sobre o trabalho: evitem as generalizações na conclusão. Coronel, no Brasil pode significar duas coisas: a patente militar (que não tem consequências no conto), ou o proprietário rural que controla o poder político, social e econômico de determinada região, que seria a definição que mais se aproxima do personagem do conto. Terpsícore No geral, temos um narrador que narra com uma relativa distância e, ao mesmo tempo, certa simpatia pelos personagens que são foco da história. Prega-se um pouco a renuncia ao prazer imediato em nome de um outro ganho que irá se obter no futuro. Porfírio sabe que essa postura de dedicação ao trabalho é insuficiente para se poder viver. Em contraste, ele irá valorizar a possibilidade de se obter o prazer mesmo que isso implique em problemas de outra ordem. É um conflito mais complexo do que aparenta ser. Há a questão do direito desses personagens pobres ao prazer. Restará a eles apenas a confiança no milagre, no acaso, na sorte da loteria, que contra todas as expectativas realistas acaba acontecendo. E com isso vem a dúvida, gastar ou poupar? Renunciar ou ceder ao prazer? Dadas as condições colocadas no conto, há algo de insuficiente e irracional na própria ideia de poupança. Não há recriminação ou julgamento explicitamente colocado pelo narrador. Há apenas, talvez, um leve desencanto na narração do final do conto. Fica sugerido que eles irão voltar a ter as mesmas dificuldades financeiras de antes.