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Noite de Almirante - Análise

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Tuany de Menezes Oliveira 7260640 Noturno – Turma 1 (19:30) IEL II 
 
Ironias, Contradições e a Inconstância da Vida no conto "Noite de Almirante" de 
Machado de Assis 
 
Nada é permanente, exceto a mudança. 
(Heráclito) 
 
A Inconstância das Coisas do Mundo 
 
Nasce o Sol e não dura mais que um dia, 
Depois da Luz se segue a noite escura, 
Em tristes sombras morre a formosura, 
Em contínuas tristezas e alegria. 
 
Porém, se acaba o Sol, por que nascia? 
Se é tão formosa a Luz, por que não dura? 
Como a beleza assim se transfigura? 
Como o gosto da pena assim se fia? 
 
Mas no Sol, e na Luz falta a firmeza, 
Na formosura não se dê constância, 
E na alegria sinta-se a tristeza, 
 
Começa o mundo enfim pela ignorância, 
E tem qualquer dos bens por natureza. 
A firmeza somente na inconstância. 
(Gregório de Matos) 
 
- Pode crer que pensei muito e muito em você. 
Sinhá Inácia que lhe diga se não chorei muito... 
Mas o coração mudou... Mudou.... 
(Machado de Assis) 
 
 
 
Deolindo Venta-Grande é uma alcunha de bordo, “a fina flor dos marujos”, que, ao 
retornar de uma longa viagem de instrução, espera reencontrar sua amada Genoveva, uma 
cabocla “de vinte anos, esperta, olho negro e atrevido”, que, antes de sua partida, jurou “por 
Deus que está no céu” fidelidade, celebrando o “contrato”. Porém, ao regressar, com “grande 
ar de felicidade nos olhos”, é informado de que sua amada foi viver com um outro homem, o 
mascate José Diogo, e, após reencontrá-la, confirma a informação. No reencontro, Genoveva 
explica ao antigo amante, sem tentar se defender de nada, que quando fez juras de amor a ele, 
elas eram verdadeiras, contudo, após sua partida, as coisas mudaram e ela começou a gostar 
de um outro moço. Assim, após ameaçar se matar, Deolindo retorna de onde veio “com um ar 
velho e triste”. Ao final, Genoveva conta a uma amiga sobre as ameaças de Deolindo e afirma 
que ele não irá fazer isso, visto que, “Deolindo é assim mesmo, diz as coisas, mas não faz”. E, 
dessa maneira, o conto “Noite de Almirante”, de Machado de Assis, termina com Deolindo 
não apenas não tendo se matado, mas, além disso, omitindo dos companheiros a realidade e 
fingindo ter vivido “uma grande noite” de almirante. 
 Contos são narrativas breves, centradas em um único acontecimento e, podemos dizer 
que, tudo que organiza o conto tem relação com o efeito pretendido pelo autor. A forma, ou os 
procedimentos técnicos, e o conteúdo não se separam, eles estão entrelaçados, e sempre há 
uma lógica interna que organiza a obra e lhe dá um significado particular. Meu objetivo, nesse 
trabalho, foi realizar uma análise interpretativa do conto "Noite de Almirante", a partir do que 
essa obra diz e da maneira como ela diz. Minha hipótese era de que esse conto falava sobre as 
ironias, contradições, ambiguidades e inconstâncias da vida e, a partir de uma decomposição 
do texto, pretendo, no decorrer do trabalho, confirmar essa hipótese, além de mostrar outros 
elementos que possibilitam ainda outras e múltiplas interpretações. 
 As contradições começam no título do conto, já que almirante é a mais alta patente da 
marinha, enquanto Deolindo, que deveria ter uma noite de almirante, é apenas um marujo. Os 
nomes próprios dos personagens também estão repletos de contradições. Salgueiro (2013), em 
um artigo que analisa esse conto à luz da onomástica, afirma que, o nome Deolindo pode ser 
decomposto em duas partes Deo e lindo, que podem significar, respectivamente, Deus e lindo 
(que remete tanto à beleza quanto a pureza e autenticidade), que contrasta com Venta-Grande, 
que significa nariz grande (alusão a uma aparência física fora dos padrões). Genoveva, que do 
alemão significa "aquela que tece coroas", é uma variação do étimo grego Penélope, "a que 
desfia tecidos" e nos remete ao clássico "Odisseia", em que Penélope, esposa do marinheiro 
Ulisses, o espera por anos tecendo um manto dia e noite para enganar seus pretendentes, e 
contrasta com a história de Genoveva, que não aguenta esperar meses pelo seu marinheiro. E, 
finalmente, em José Diogo, Salgueiro (2013) destaca que, Diogo é uma das acepções para 
nomear o Diabo, enquanto José, do hebraico, significa “aumente-me (Deus) a família”, sendo 
que José Diogo teve sua família aumentada ao seduzir Genoveva e, de certa forma, graças a 
Deolindo (que aqui poderia representar Deus). 
De acordo com Candido (1995), é preciso perceber, ao ler Machado de Assis, "(...) os 
fenômenos de ambiguidade que pululam na sua ficção, obrigando a uma leitura mais exigente, 
graças à qual a normalidade e o senso das conveniências constituem apenas o disfarce de um 
universo mais complicado e por vezes turvo" (p. 24). As ambiguidades presentes nos nomes 
próprios, apontadas por Salgueiro (2013), podem tanto propiciar uma interpretação da obra 
como um embate entre Deus e o Diabo, como o próprio autor sugere, como reforçar a minha 
hipótese de que ela se constrói através de contradições, que vão além dos nomes, e que nos 
levam a compreendê-la como uma obra que fala das contradições da vida. 
O conto é narrado em terceira pessoa e há a presença marcada do narrador. O sujeito 
que narra é diferente do sujeito que viveu a história, visto que ele já sabe o desfecho, tendo 
assim maior mobilidade, ele pode interromper, retardar a ação, seu horizonte é mais vasto, ele 
possuí um conhecimento do todo. Nesse conto, há momentos em que o narrador atua de uma 
maneira e há momentos em que o narrador atua de outra maneira, fazendo um movimento ora 
de aproximação, ora de distanciamento. Além disso, em alguns momentos, o narrador narra de 
forma irônica e crítica, como, por exemplo, quando ao questionar sobre o mal que Genoveva 
teria feito a Deolindo ele diz: “que mal lhe fez esta pedra que caiu de cima? Qualquer mestre 
de física lhe explicaria a queda das pedras”, ou, ao falar sobre os brincos que Deolindo dá a 
sua amada, ele diz: os brincos “não eram nem poderiam ser ricos; eram mesmo de mau gosto, 
mas faziam uma vista de todos os diabos”. 
Segundo Vianna (2011, p. 288), há no conto "uma voz narrativa incerta, que registra 
com dubiedade a sua posição, de maneira que tal procedimento estende tal imprecisão a todo 
o arranjo narrativo". A autora defende que, o narrador não assume apenas um ponto de vista e, 
no geral, divide o foco narrativo entre Deolindo e Genoveva, ainda que, predominantemente, 
ele se aproxime mais do ponto de vista de Deolindo do que do ponto de vista de sua amada. 
Ela destaca ainda dois importantes momentos em que o narrador se distancia de Deolindo e 
deixa de nos apresentar aquilo que está se passando na cabeça do marujo como uma estratégia 
para aumentar a tensão e a dúvida do leitor: o momento em que ele recebe a grande notícia da 
quebra do contrato pela velha Inácia e vai ao encontro de Genoveva e o narrador diz: “Deixo 
de notar o que pensou em todo caminho; não pensou nada”, e ao final do conto, no momento 
em que ele diz: “Parece que teve vergonha da realidade e preferiu mentir”. 
As ironias e movimentações do narrador nos levam também à possível interpretação 
do conto como uma obra que fala sobre as contradições e inconstâncias da vida, afinal todo o 
conto é organizado pelo narrador, tudo passa por seu olhar, e o narrador, ainda que durante a 
maior parte do tempo se aproxime do ponto de vista do marujo, nos apresenta caracterizações 
de Genoveva que dão espaço para que o leitor tire suas próprias conclusões sobre a história 
que está sendo narrada. Nos parece que Genoveva não quis fazer mal a Deolindo, mas apenas 
enxerga o mundo de uma forma diferente da dele, como o narrador diz: “faltava-lhe o padrão 
moral das ações”, não era nada proposital, apenas involuntário. E o próprio narrador, em sua 
própria inconstância, ora se aproxima do ponto de vista de um, ora se aproxima do ponto de 
vista do outro, fazendo com que sentimentosambíguos e contraditórios acompanhem o leitor 
durante todo o conto e para além dele. 
É evidente que, as personagens são mais do que aquilo que o narrador nos apresenta, 
vão além das caracterizações diretas apresentadas. Há na história os seguintes personagens: 
Deolindo, Genoveva, Inácia, José Diogo, os amigos de trabalho de Deolindo e uma amiga e 
vizinha de Genoveva, sendo os quatro primeiros os mais importantes na trama. Deolindo não 
possuí descrição física detalhada, tudo o que sabemos é que seu apelido era Venta-Grande, o 
que sugere que ele tinha um nariz grande, sua profissão era marujo e ele nutria uma grande 
expectativa em relação à Genoveva. Deolindo passa por uma transformação, no início ele tem 
um ar de felicidade nos olhos, é rápido, enquanto, ao final do conto, o narrador o apresenta 
como cabisbaixo e lento, não mais impetuoso como era, e com um ar velho e triste. O fato de 
Deolindo ser um marujo pode ser também significativa, visto que há uma recorrente ligação 
entre o mar e o sentimento amoroso, o amante sonhador, velejando nesse local de fascínio e 
navegando sem um cais, com os pés fora do chão, o que entraria em contraste com a ideia da 
cabocla com os pés no chão, em terra firma, metáfora para o realismo. 
Deolindo, ainda que seja apresentado como alguém que leva muito a sério as juras e os 
contratos, demonstra ao longo do conto, através de algumas atitudes, que também não cumpri 
tudo aquilo que fala e promete. Ele tem a possibilidade de fugir com Genoveva, mas desiste, 
pensa em matar Genoveva ou José Diogo, mas também não o faz, diz que iria embora durante 
seu reencontro com Genoveva, mas permanece e conta a ela muitas histórias, diz a ela que se 
mataria, mas não se mata e, por fim, fingi ter tido uma grande noite, quando não a teve, ou 
seja, há discrepâncias entre aquilo que Deolindo fala e aquilo que Deolindo faz. E uma grande 
contradição reside no fato do marujo cobrar da cabocla uma atitude de compromisso que ele 
muitas vezes também não tem. Ao mesmo tempo, há uma forte contradição no final do conto 
quando Genoveva, que também não faz o que promete, diz que Deolindo não se matará, pois 
ele “é assim mesmo; diz as coisas, mas não faz”. 
Não obstante, essa contradição final pode ser também uma chave para entendermos o 
ponto de vista de Genoveva, ela fez o que fez, pois não acreditava que Deolindo voltaria de 
fato. Essa personagem é descrita como sendo uma ”caboclinha de vinte anos, esperta, olho 
negro e atrevido”. Ela mora na Gamboa na casa da velha Inácia e, nesse ponto, a ambientação 
torna-se fundamental para uma possível interpretação do conto, visto que ela implica uma 
caracterização social da personagem. A casa em que Genoveva morava era uma rotulazinha 
escura, portal rachado do sol e, pelos elementos que temos, nos parece que Dona Inácia não 
tinha com Genoveva uma boa relação. Quando faz o juramento, Genoveva parece um pouco 
relutante (ainda que, inicialmente, ainda não saibamos quem está sendo relutante no diálogo), 
após a partida de Deolindo, ainda que sinta um aperto no coração e pense que “’lhe ia dar uma 
coisa’. Não lhe dá nada, felizmente”, e Genoveva não consegue esperar nem por alguns meses 
a volta de Deolindo. Tudo isso pode colocar em questão a veracidade do amor que Genoveva 
sentia por Deolindo, nos levando a interpretar a atitude da cabocla como uma busca por uma 
ascensão social, visto que, em seguida, somos informados de que Genoveva mora agora em 
Praia Formosa, em “uma rótula pintada de novo”. 
Conforme afirma Bosi (2007, p. 113), 
 
A situação da jura virou bruscamente assimétrica. O trato verbal foi rompido 
por um dos lados, e o bem supremo que ele selava, o amor de Genoveva, ela 
mesma o transferiu para um terceiro, talvez mais atraente, por certo menos 
pobre. A realidade era assim, para que negá-la? “Uma vez que o mascate 
venceu o marujo, a razão era do mascate, e cumpria declará-lo.” Essa 
“simplicidade”, essa “candura”, mantida após a traição, parece ao narrador 
muito próxima da natureza, que não conheceria pecado, nem culpa, nem 
remorso, apenas necessidades. 
 
 Essa ideia dá uma nova interpretação ao conto que, apesar de interessante, acredito ser 
simplificadora demais. Genoveva é, a todo tempo, descrita pelo narrador através de palavras 
contraditórias, como “candura e cinismo”, “insolência e simplicidade” e vemos também em 
suas atitudes essa ambiguidade e essas contradições, por exemplo quando, sem saber como, 
ela amanheceu gostando de outro rapaz. E pode o leitor julgar suas atitudes, se compadecer do 
sofrimento do marujo (este também um personagem cheio de ambiguidades), mas não seria o 
ser humano cheio de ambiguidades e identidades contraditórias? Não seria a própria vida tão 
contraditória e inconstante quanto Genoveva? Não seriam as relações amorosas todas calcadas 
em interesses pessoais de ambas as partes? A própria velha Inácia, ao ser questionada sobre a 
cabocla diz ao marujo que “não era nada, uma dessas coisas que aparecem na vida”. O tempo 
causa em Genoveva uma transformação, assim como todos nós somos constantemente pelo 
tempo transformados e temos mudados nossos pensamentos e sentimentos. 
 Por fim, resta falar sobre José Diogo e a velha Inácia. Do primeiro, não temos muitas 
informações, sabemos apenas ser um mascate que muito cortejou Genoveva até conquistar seu 
amor. Da segunda, sabemos ser uma personagem mais velha que os outros, ter um importante 
papel na separação inicial do casal, já que é ela quem dissuadiu-os de fugir juntos para morar 
no interior, e ter também um importante papel no momento da reviravolta no enredo e no nó 
da narrativa (introdução do conflito). Inácia é uma personagem que estabelece relações morais 
e do decoro e reside nisso sua má relação com Genoveva, visto que a cabocla foge do ideal 
feminino de mulher submissa vigente na organização patriarcal daquela sociedade. Inácia se 
incomoda, por exemplo, com as conversas entre Genoveva e José Diogo em sua porta, que 
podem difamar sua casa, e julga maluca a cabocla. Apesar disso, há uma contradição entre seu 
nome próprio e suas atitudes visto que, como afirma Salgueiro (2013, p. 42), 
 
Inácia, que – se num mergulho etimológico nos despistaria para “ígnea” ou 
“ignara” – significa no jargão dos marinheiros “norma de serviço, 
regulamento”, exatamente a função que ela não cumpre, para desalento de 
Deolindo, outra vez desconstruindo-se o sentido inscrito em um nome 
próprio, reapropriado ironicamente. Em mais um achado às avessas, o modo 
como “Inácia” deveria agir – como “norma” – engana. Aqui, o nome nem 
vigia nem pune. 
 
 Assim, a partir do exposto, já caminhando para uma amarração final desse movimento 
analítico podemos depreender do conto que: há um narrador em terceira pessoa que muda sua 
atitude durante a história realizando movimentos de aproximação e distanciamento e narra de 
forma irônica e crítica em determinados momentos; há um enredo que implica em uma brusca 
mudança, uma reviravolta; a ambientação, no que diz respeito ao mar e a terra, pode ser vista 
como sendo simbólica e implicadora de uma caracterização psicológica dos personagens, o 
mar representando o sonhador, o ingênuo, em contraste com a terra representando o realista, 
o pé no chão, e, no que diz respeito a casa em Gamboa e na Praia Formosa como implicadora 
de caracterização social, mostrando a ascensão social da cabocla; o tempo, sendo fundamental 
na trama, atua também sobre os personagens, no caso de Genoveva causando transformação e 
no caso de Deolindo continuidade; e, os personagens possuem comportamentos e atitudes ora 
contraditórios, ora semelhantes, mas expectativas claramente contraditórias e, entre eles, se 
estabelecem relações pressionadas por convenções sociais, morais e do decoro, assim como as 
relações que envolvem dinheiro e ascensão social. 
 No parágrafo anterior, grifei algumas palavras que sustentamminha hipótese de ser 
esse um conto que trata das ironias, contradições e inconstâncias da vida, através das ironias, 
contradições e inconstâncias que ocorrem na vida e na história de amor da cabocla Genoveva 
e do marujo Deolindo. Bozzeto Junior (2008) defende, em sua análise do ideal e do real a 
partir de uma abordagem irônica desse conto, que, possivelmente, Machado de Assis estaria 
utilizando a aventura amorosa de Deolindo para evidenciar imperfeições da natureza humana, 
contradições que permeiam as relações sociais e que tornam a vida repleta de ambiguidades, 
sendo uma delas a decorrente do contraste entre aquilo que se almeja como ideal e aquilo que 
de fato podemos obter no plano real. Todavia, sem irmos tão além e permanecendo apenas no 
texto do conto, concluímos, sem sermos conclusivos, que “Noite de Almirante” é uma obra 
que evidencia as ironias, ambiguidades e contradições da vida humana e, principalmente, a 
inconstância, nossa única certeza, quando na vida nada é permanente. 
 
Referências Bibliográficas 
 
ASSIS, Machado de. Noite de almirante. In: 50 Contos de Machado de Assis. Selecionados por John Gledson. 
São Paulo: Companhia das Letras, 2007. 
 
 
BOSI, Alfredo. A máscara e a fenda. In: BOSI, Alfredo. Machado de Assis: O enigma do olhar. São Paulo: 
WMF Martins Fontes, 2007, p. 73-125. 
 
 
BOZZETO JUNIOR, André. O Ideal e o Real: uma Abordagem Irônica para o Conto "Noite de Almirante". In: 
Signo. Santa Cruz do Sul, v. 33, n° especial, p. 21-28, jul.-dez., 2008. Disponível em: 
<http://online.unisc.br/seer/index.php/signo/index>. Acesso em: 14 de outubro de 2017. 
 
 
CANDIDO, Antônio. Esquema de Machado de Assis. In: CANDIDO, Antônio. Vários Escritos. São Paulo: 
Duas Cidades, 1995, p. 17-39. 
 
 
SALGUEIRO, Wilberth. Nomes não mentem (quase nunca): “Noite de almirante”, de Machado de Assis, à luz 
da onomástica. In: SALGUEIRO, Wilberth. Prosa sobre prosa: Machado de Assis, Guimarães Rosa, Reinaldo 
Santos Neves e outras ficções. Vitória: EDUFES, 2013, p. 31-43. 
 
 
VIANNA, Carla C. M. Entre a Ilusão e a Desilusão: a Negação do Baque em Noite de Almirante. In: Cadernos 
do IL. Porto Alegre, n.º 43, dezembro de 2011. p. 283-294. Disponível em: 
<http://www.seer.ufrgs.br/cadernosdoil/>. Acesso em: 14 de outubro de 2017.

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