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AVALIAÇÃO PRÉ-ANESTÉSICA SBCMC III - 2021.1 Anestesiologia INTRODUÇÃO ● A avaliação pré-anestésica deve ser feita ambulatorialmente, antes de toda e qualquer cirurgia. ○ Visa diminuir atrasos e suspensão de cirurgias - ao passar pelo anestesista, são verificadas todas as patologias do paciente, se há descompensação e etc. ■ Diante de qualquer alteração, devemos cancelar o procedimento, corrigir o problema e só depois remarcar o procedimento. ● Pode ser realizada na sala cirúrgica, em casos de urgências. ● É o único momento em que o médico anestesista terá contato com o paciente - estabelece a relação médico-paciente. Objetivos: ● Reduzir morbimortalidade: ○ Determinar as condições físicas do paciente. ○ Estimar o risco anestésico-cirúrgico. ○ Paciente está na sua melhor condição? ○ Exames complementares. ○ Otimizar medicações. ○ Orientações. ○ Solicitar avaliações (cárdio, pneumo, endócrino, neuro) ● Reduzir a ansiedade. ● Medicação pré-anestésica; ○ Não é muito utilizado no SUS, porque muitos pacientes não passam pelo ambulatório. ○ O Midazolam é o mais utilizado, tira a ansiedade e faz uma amnésia anterógrada, acalmando o paciente - anestesia segura ALGORITMO DO ANESTESISTA O paciente para ser submetido a uma anestesia/cirurgia precisa estar em sua melhor condição, o que depende de uma avaliação de seu estado de saúde e doenças associadas. ● O paciente só é submetido ao procedimento se não tiver doenças associadas ou se as tiver mas de forma compensada. ● O paciente com doenças associadas descompensadas deve ser submetido a tratamento, podendo remarcar seu procedimento cirúrgico para um segundo momento, quando estiver compensado. ANAMNESE ● Doenças e medicações em uso? ● Já recebeu alguma anestesia antes? ○ Que tipo? ○ Houve intercorrências? Alergias, via aérea difícil de intubar... ● Alguém na família já teve problemas com anestesias? ○ Hipertermia Maligna: patologia relacionada a um gene, e portanto hereditária, associada a alguns tipos de anestésicos, mais especificamente o gás Halotano + Succinilcolina. O paciente tem um aumento exagerado no consumo de O2, o que leva à falência de múltiplos órgãos e óbito. ■ Muito comum na região Sul do BR. ■ Possui evolução muito rápida e grande mortalidade. Hábitos e Vícios: ● Tabagismo: ○ Cirurgias Curtas: menos chance de complicações ○ Cirurgias Longas: há mais risco de pneumonias - devido a intubação - aumento da atividade secretiva. ○ DPOC: aumenta as chances de complicações respiratórias no pós-operatório. ○ O ideal é suspender o tabagismo 06 semanas antes do procedimento cirúrgico, mas se não for possível, é necessário suspender no mínimo 24h antes. ■ O paciente tabagista tem um número aumentado de carboxihemoglobina (monóxido de carbono + Hb), que compete com o O2 dentro da Hb, isso atrapalha o transporte de O2 no organismo, o que é ruim tanto no intra-operatório no momento da anestesia, quanto no pós-operatório na cicatrização da ferida cirúrgica. ○ Suspender o tabagismo antes da cirurgia vai reduzir os níveis de carboxihemoglobina, melhorando a disponibilidade de O2 nos tecidos. ● Alcoolismo: ○ O álcool é metabolizado no fígado, por enzimas do citocromo P450. O mesmo citocromo faz a metabolização de grande parte (95%) dos anestésicos. ○ Perfil do Paciente: ■ Uso Crônico - Socialmente: citocromo P450 mais elevado - metabolização do álcool mais rápida - aumentar a dose do anestésico para que o paciente durma. ■ Paciente Normal: dose X do anestésico. Paciente Etilista Social: dose X+1, X+2 ou até 2X do anestésico. ■ Uso Crônico - Cirrose Hepática: o paciente hepatopata não tem as enzimas do citocromo P450 funcionando bem, porque o fígado tá lesado. Então a gente precisa reduzir a anestesia, porque ele não vai metabolizar bem. ■ Paciente Normal: dose X do anestésico. Paciente Hepatopata: dose X/2 ou até X/4 do anestésico. ■ Uso Agudo: o fígado desse paciente sofre com uma cirrose alcoólica aguda, então vai funcionar como o do paciente hepatopata, ou seja, com redução da atividade do citocromo P450. Logo, a dose do anestésico é reduzida. ■ Paciente Normal: dose X do anestésico. Paciente que faz uso agudo de álcool: dose X/2 do anestésico. ● Cocaína: ○ A cocaína diminui a recaptação de noradrenalina na fenda sináptica, consequentemente o paciente terá mais noradrenalina circulando no corpo, o problema disso é que a maior parte das drogas anestésicas libera ou estimula a liberação de noradrenalina. ○ Pode causar arritmias e resposta exageradas aos vasopressores (hipotensão intensa) - precisa usar drogas de resgate para reverter a hipotensão (pode causar hipertensão rebote, levando a morte) ○ Evitar drogas arritmogênicas como halotano, pancurônio (relaxante muscular) e cetamina (anestésico geral venoso) ● Observar outras condições como hepatite e HIV, principalmente em usuários de drogas injetáveis. Alergias: ● Mais comuns: ○ Antibióticos (penicilinas) ○ AINEs (diclofenaco e dipirona, principalmente) ● Cuidado com alergia ao Látex: é mais comum do que se imagina ○ O risco de alergia ao látex aumenta para crianças com espinha bífida e anormalidades urogenitais. ■ Os nascidos com espinha bífida são expostos muito precocemente à cirurgia, muitas vezes logo ao nascer, o que causa uma hipersensibilidade. Data da Última Menstruação: ● Atraso menstrual => beta-HCG ○ A maioria dos anestésicos, principalmente os inalatórios, são teratogênicos. ● Possibilidade de teratogênese e abortamento no primeiro trimestre de gravidez. ● Cirurgia eletiva = suspende. ISDA - Sistema Cardiovascular: ● HAS? ICC? Arritmia? ○ A HAS é uma doença muito frequente, a mais comum entre os pacientes. ■ As medicações em uso não devem ser suspendidas, principalmente os beta-bloqueadores para que não haja rebote de hipertensão e taquicardia. ■ Manter os anti-hipertensivos inclusive no dia da cirurgia e, se necessário, pode tomar água com o comprimido. ○ Se a PA estiver bem controlada, podemos fazer a cirurgia. Se a PA estiver descontrolada (acima de 180 x 110), o correto é suspender a cirurgia se for eletiva, pois há um aumento no risco de complicações. ■ É evidente que na prática a gente vai usar o bom senso. Às vezes um paciente espera por anos pela cirurgia e chega no dia marcado ele tá hipertenso, não vamos suspender a cirurgia mais uma vez e fazer ele esperar de novo sabe-se lá até quando, vamos repensar a anestesia, dar um sedativo com um anti-hipertensivo e observar o paciente antes de fazer a indução anestésica. Mas na teoria, sempre devemos suspender quando a PA estiver descontrolada. ● Quando o paciente apresenta complicações, as mais frequentes são as do sistema cardiovascular. ● Questionar dispneia aos esforços, dor precordial, palpitações, arritmias e edemas. ● Capacidade Funcional: é um bom parâmetro de reserva cardiovascular. !!! ○ Vamos avaliar o consumo metabólico do paciente levando em consideração suas atividades do cotidiano; ■ Tomar banho, caminhar, subir escadas, etc. ○ É importante fazer em todos os pacientes. ○ Quanto menor o MET, menor é a capacidade funcional do paciente e menor vai ser a indução anestésica. ■ Paciente corre maratona => tem boa capacidade funcional => 10 MET ■ Paciente caminhano dia-a-dia, consegue varrer a casa toda => capacidade funcional mediana => 04 MET ■ Paciente fica dispneico aos mínimos esforços, não consegue caminhar nem dentro de casa => capacidade funcional muito baixa => 01 MET ISDA - Sistema Respiratório: ● Asma? DPOC? Tosse, dispneia, expectoração, chiado e história pregressa de asma brônquica? ● Paciente está na sua melhor condição possível? ○ Se o paciente apresentar alterações respiratórias, a gente precisa investigar qual a causa dessas alterações. ● Paciente com resfriado comum (IVAS): ○ Postergar a cirurgia, principalmente em crianças, pois a árvore brônquica já está irritada e se fizer a intubação vai irritar mais ainda. ○ Remarcar no mínimo após 15 dias - mantém hiperreatividade brônquica. ○ Risco maior de complicações respiratórias; ■ Broncoespasmo, laringoespasmo. ISDA - Sistema Endócrino: ● Diabetes: ○ Doença muito frequente que aumenta o risco cardiovascular. ○ Tendência à nefropatia (IRC) e à aterosclerose precoce. ○ Dificuldade para movimentação do pescoço - difícil intubação. ○ É necessário suspender hipoglicemiante oral e insulina NPH no dia da cirurgia; ■ O paciente vai estar em jejum, então a glicemia vai estar naturalmente baixa. ○ Manter esquema dextro + insulina simples, conforme necessário. ● Hipotireoidismo: ○ Cuidado na reposição volêmica! Deve ser lenta, pois o paciente já é hipervolêmico por natureza ISDA- Sistema Hematológico: ● Anemia: ○ É comum, geralmente ferropriva ou por perdas. ○ Se necessário corrigir antes da cirurgia: reposição de Fe... ■ Evitar transfusões desnecessárias ○ Hb mínimo depende do paciente e da cirurgia. ○ Sempre usar bom senso. ● Coagulopatias: ○ A anamnese é fundamental. ○ Interrogar sangramentos, hematomas e história familiar. ■ Sangramento de gengiva e difícil cicatrização, podem indicar Hemofilia. ○ Diante da suspeita de coagulopatias ou para pacientes que fazem uso de anticoagulantes é importante solicitar coagulograma. ○ Paciente com coagulograma alterado não pode receber raquianestesia ou peridural - risco de hematoma subdural. ISDA - Sistema Gastrointestinal: ● "Estômago Cheio": ○ Esvaziamento gástrico lentificado - acalasia, doenças do esôfago e obstruções intestinais, obesidade, diabetes e gestantes. ○ Risco de aspiração pulmonar - o conteúdo ácido gástrico vai corroer brônquios e pulmão, levando o paciente a óbito. ● História de Hepatopatia Crônica: ○ Coagulopatia. ○ Ascite - o anestésico fica acumulado no líquido abdominal e é reabsorvido depois, então a droga fica no corpo por um período maior. ○ Diminuição da metabolização de drogas. Obesidade: ● Esvaziamento gástrico lentificado. ● Problemas de ventilação e intubação (hipoxemia); ○ O paciente obeso tem a via aérea mais fechada e existe uma dificuldade para hiperextensão da cabeça. ○ Como a caixa torácica do obeso é aumentada, o abdome não consegue relaxar o diafragma, então a ventilação fica difícil. ● Relaxamento abdominal inadequado; ○ Para corrigir isso, a gente faz uma dose de bloq. neuromuscular maior. ○ Atenção nessa dose, porque existe o risco do paciente acordar e não conseguir respirar - o diafragma relaxa e não volta por conta da droga. ● Acúmulo de drogas lipossolúveis retardando o despertar do paciente. ● Associação: ○ Hipertensão e DM. ○ Maior volume de suco gástrico - risco de aspiração. ○ Maior risco cardiovascular. ○ Maior mortalidade. *Obs: a dose de anestésico precisa ser muito bem calculada levando em consideração o perfil do paciente e o tempo da cirurgia, o interessante é que quando possível o paciente seja logo acordado e extubado, porque isso permite a rotatividade da sala de cirurgia. **Se a dose do anestésico é muito alta, o paciente sofre uma depressão respiratória e não vai ser extubado logo. Da mesma forma, se a dose é muito baixa ele vai acordar durante a cirurgia. EXAME FÍSICO Boca, nariz e orofaringe: dentes frouxos, prótese dentária, macroglossia, macrognatia ou micrognatia, abertura da boca. ● Pacientes com fraturas de face: intubação vai nasal. Sistema Respiratório: roncos, sibilos e estertores. ● O paciente que ronca tem a ventilação mais dificultosa. Sistema Cardiovascular: verificar pressão arterial, pulsos e ausculta. ● Verificar se os pulsos estão simétricos e aferir PA pela artéria radial. ● Presença de sopros na ausculta => encaminhar para avaliação com cardiologista. INTUBAÇÃO !!! Previsão de Intubação Difícil: ● Trauma de vias aéreas ou face; ● Instabilidade da coluna cervical; ○ O paciente vai estar de colar cervical, isso dificulta a intubação porque a gente não vai poder hiperextender o pescoço. ● Pequena abertura da boca; ● Pescoço curto e musculoso (obesidade); ● Sequelas de queimadura cervical; ● Tumores de pescoço; ● História prévia de intubação difícil; ● Distância tireomentoniana diminuída; ● Mallampati. Classificação de Mallampati: ● É a relação entre o tamanho da língua com o da faringe. ● O paciente deve ficar na posição sentada, com a cabeça em posição neutra, boca aberta e língua protruída; ○ A fonação ("AAAAAA") melhora falsamente a visibilidade. ● A classificação depende das estruturas visíveis nesta posição. EXAMES COMPLEMENTARES ● É um item controverso - não tem um consenso do que solicitar. ● Os protocolos variam muito e dependem do anestesista e do ASA do paciente. Evidências: ● Excesso de exames não diminui o risco de complicações e aumenta o custo ● Não existe consenso absoluto sobre que exames pedir ● Uso bom senso + anamnese + exame físico ● Pacientes jovens e sem doenças, em geral não necessitam de exame. Os exames que podem ser feitos são: ● Hemograma - Hb e Ht. ● Raio-X de tórax: desvio de traquéia, cardiomegalia e derrame pleural. ● ECG: avaliar se há sinais de IAM pregresso, isquemia miocárdica e arritmias. ● Creatinina e Ureia: pedir principalmente para pacientes com HAS e DM para pesquisar lesões em órgãos alvo. ● Eletrólitos: avaliar o uso de diuréticos e doenças renais ○ Destaque para o Potássio - hiperpotassemia pode atrapalhar a indução anestésica e ser incompatível com a vida. ● Coagulograma: somente quando há indicação - história prévia. ● Glicemia. CLASSIFICAÇÃO DE RISCO ● Lembrar sempre do risco X benefício - non nocere ● Existem 02 métodos para avaliar o risco de acordo com o procedimento cirúrgico: critérios de Goldman (avalia risco cardiovascular) e ASA (avalia estado físico) Goldman: leva em consideração a doença cirúrgica. Estado Físico ASA/ASAPS: leva em consideração as doenças sistêmicas, excluindo a doença cirúrgica. !!! ● Quanto maior o ASA, maior é o risco (ASA I < ASA VI). ● Classificação: ○ ASA I: paciente sadio, sem doenças prévias. ■ Não tabagista; ■ Não etilista. ○ ASA II: distúrbio sistêmico leve a moderado, controlado e sem limitações funcionais (ex: HAS e DM compensadas). ■ Etilista social; ■ Tabagista social. ■ Gestantes; ■ Doença pulmonar leve. ○ ASA III: distúrbio sistêmico descompensado. ■ Etilista crônico; ■ Tabagista crônico; ■ IMC > 40; ■ IAM ou AVE há mais de 03 meses. ○ ASA IV: paciente com alteração sistêmica grave que ameaça a vida. ■ Sepse; ■ IAM ou AVE há menos de 03 meses; ■ Insuficiência Respiratória Aguda; ■ DRC terminal. ○ ASA V: paciente morimundo - pode morrer se for anestesiado, mas não é esperado que sobreviva pelas próximas 24h sem a cirurgia. Ex: gangrena bolhosa + sepse; trauma severo; ruptura de aorta. ○ ASA VI: paciente em morte encefálica, que será submetido à cirurgia para doação deórgãos. ● Quando a cirurgia for de emergência, adiciona-se o prefixo "E" - por exemplo, paciente jovem saudável que será submetido à apendicectomia é ASA I - E. JEJUM ● É necessário para prevenção da aspiração pulmonar de conteúdo gástrico; ● Se o paciente não estiver em jejum e não é possível esperar o tempo (urgência ou emergência), pode fazer uma anestesia geral, regional ou local, associado a uma sequência rápida com manobra de Sellick ou IOT acordado; ○ Manobra de Sellick: compressão do esôfago junto a traqueia para prevenir a regurgitação/refluxo. ● É obrigatório em cirurgias eletivas - sempre! Se o paciente não estiver em jejum, deve-se suspender o procedimento cirúrgico. SUSPENSÃO DE MEDICAÇÕES ● A maioria dos medicamentos são mantidos. ● Não suspender: ○ Anti-hipertensivos ○ AAS - não suspender nas raquianestesias ● Suspender: ○ Antidepressivos (Inibidores da MAO) - pelo menos 03 semanas antes ○ Fitoterápicos (Ginseng e Gingko Biloba - alteram o coagulograma) ○ Hipoglicemiantes Orais ○ Anticoagulantes (Marevan, Clexane...) TERMO DE CONSENTIMENTO ● É obrigatório pelo Código de Ética Médica ● Precisamos explicar para o paciente os prós e contras da indução anestésica ○ Risco X Benefício ● O procedimento anestésico deve ser uma decisão consciente - o paciente deve tomar as decisões relativas ao seu tratamento.
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