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1 Curso Ênfase © 2019 EXECUÇÃO PENAL – FELIPE ALMEIDA AULA7 - T RABALHO DO PRESO 1 TRABALHO DO PRESO Iniciar-se-á o estudo sobre o trabalho do preso. A Lei de Execução Penal regulamenta o trabalho do preso, que pode ser interno ou externo. A LEP, Lei 7.210 inicia a disciplina do trabalho do preso no art. 28. Art. 28. O trabalho do condenado, como dever social e condição de dignidade humana, terá finalidade educativa e produtiva. O art. 28 inicia a matéria explicando que o trabalho do preso não serve como um mecanismo para agravar a pena, ou seja, tornar mais dura a pena que o apenado tenha de cumprir. Na verdade, o trabalho do preso é uma verdadeira engrenagem dentro desse processo ressocializador, dentro do tratamento penitenciário pensado e elaborado pela LEP. O trabalho do preso deve possuir escopo ressocializador, devendo funcionar como uma grande engrenagem nessa grande máquina ressocializadora que foi pensada pelo legislador na Lei 7.210. O trabalho do preso possui uma verdadeira função social, que é justamente o escopo ressocializador, um dos elementos do tratamento educativo que a LEP pensou para a pessoa do condenado. § 1º Aplicam-se à organização e aos métodos de trabalho as precauções relativas à segurança e à higiene. § 2º O trabalho do preso não está sujeito ao regime da Consolidação das Leis do Trabalho. Não se aplica a CLT ao trabalho do preso. O art. 29 regulamenta a contraprestação devida ao preso pela atividade laborativa por ele desenvolvida. Art. 29. O trabalho do preso será remunerado, mediante prévia tabela, não podendo ser inferior a 3/4 (três quartos) do salário mínimo. O preso não pode perceber como contraprestação da sua atividade laborativa menos de 75% do salário mínimo vigente. Trata-se do pecúlio, diferentemente do que se vê no direito previdenciário, o pecúlio é a contraprestação pelo trabalho desenvolvido pelo preso, a remuneração. Execução Penal – Felipe Almeida Aula7 - Trabalho do Preso 2 Curso Ênfase © 2019 A doutrina costuma apresentar três modalidades de pecúlio: o pecúlio reserva, o pecúlio garantia e o pecúlio disponível. O pecúlio reserva é retido e é entregue ao preso por ocasião da sua liberação, ele é depositado na caderneta de poupança e entregue ao preso por ocasião de sua liberdade. O pecúlio garantia referir-se-á as indenizações devidas pelo preso em razão do delito praticado assim como para custear as despesas que o Estado teve com relação a sua detenção. Por fim, há o pecúlio disponível que é aquele entregue ao preso para as despesas pessoais e mesmo para que ele possa mandar para a família. Por vezes o preso desempenha a atividade laborativa e por vezes esse pecúlio é a única fonte de renda de determinada família, que dependia daquele provedor que se encontra na condição de prisioneiro. Portanto, de acordo com a doutrina, são três as modalidades de pecúlio. O § 1º que trata da destinação da remuneração do pecúlio do preso disciplina: § 1° O produto da remuneração pelo trabalho deverá atender: a) à indenização dos danos causados pelo crime, desde que determinados judicialmente e não reparados por outros meios; Refere-se ao pecúlio garantia. b) à assistência à família; É o pecúlio disponível. c) a pequenas despesas pessoais; Também é o pecúlio disponível. d) ao ressarcimento ao Estado das despesas realizadas com a manutenção do condenado, em proporção a ser fixada e sem prejuízo da destinação prevista nas letras anteriores. Pecúlio garantia. § 2º Ressalvadas outras aplicações legais, será depositada a parte restante para constituição do pecúlio, em Caderneta de Poupança, que será entregue ao condenado quando posto em liberdade. O § 2º trata do pecúlio reserva, que é justamente aquele que será disponibilizado para o apenado por ocasião da sua libertação. Execução Penal – Felipe Almeida Aula7 - Trabalho do Preso 3 Curso Ênfase © 2019 Art. 30. As tarefas executadas como prestação de serviço à comunidade não serão remuneradas. O art. 30 trata de uma modalidade de pena restritiva de direitos, elas não serão remuneradas na medida em que são a própria pena alternativa que foi objeto de substituição pela pena privativa de liberdade. Alguns aspectos da disciplina geral do trabalho do preso são objeto de controvérsia por parte da doutrina. Boa parte da doutrina questiona a não submissão do apenado às regras da CLT na medida em que ele não poderia estar em tratamento desigual com o trabalhador livre. Da mesma forma, existe críticas por parte da doutrina com relação a remuneração do preso ser inferior ao salário mínimo. Como é possível observar na redação da lei a percepção do pecúlio deve ser de no mínimo 75% do salário mínimo, ou seja, ele pode receber 3/4 do salário mínimo. Parte da doutrina questiona mormente a apropriação que o Estado teria desse trabalho em condições inferiores ao piso salarial nacional, que seria de certa forma inconstitucional por violar direitos dos trabalhadores, direitos sociais, liberdade para o trabalho, também constitucionalmente prevista no art. 5º, inciso XIII da CF/88. Existe todo um questionamento posto que o trabalho, enquanto instrumento da dignidade da pessoa humana, não poderia submeter o sujeito à percepção de salário menor do que o piso no país, tanto é que algumas Constituições Estaduais prevem expressamente que a remuneração do preso deve estar em igualdade com a do trabalhador livre. Ex: Constituição do Estado do Rio de Janeiro. Continuando a análise do trabalho do preso, é importante tratar das duas possibilidades do trabalho do preso, que pode se desenvolver de forma interna, chamado de trabalho intramuros, sendo justamente a atividade laborativa desenvolvida dentro da prisão, como tem o trabalho externo, que é o trabalho extramuro, concedido como um direito da execução penal em uma das modalidades de autorização de saída temporária. 1.1 T RABALHO INT ERNO O trabalho interno tem sua disciplina iniciada no art. 31. Art. 31. O condenado à pena privativa de liberdade está obrigado ao trabalho na medida de suas aptidões e capacidade. Parágrafo único. Para o preso provisório, o trabalho não é obrigatório e só poderá ser executado no interior do estabelecimento. Execução Penal – Felipe Almeida Aula7 - Trabalho do Preso 4 Curso Ênfase © 2019 O parágrafo único trata do preso cautelar, o preso que ainda não tem contra si uma sentença penal condenatória. O trabalho interno é facultativo para o preso cautelar e, não se pode deixar de ressaltar que a própria Lei de Execuções Penais quando trata do preso político, em seu art. 200 diz: Art. 200. O condenado por crime político não está obrigado ao trabalho. O preso condenado por crime político não está obrigado ao trabalho da mesma forma que o preso provisório tem o trabalho como facultativo. A questão que precisa ser enfrentada é justamente a compatibilidade dessa expressão contida no art. 31 que diz que " o condenado a pena privativa de liberdade está obrigado ao trabalho" com a vedação constitucional dos trabalhos forçados. Como compatibilizar esses trabalhos obrigatórios previstos no art. 31 com a vedação que se viu por ocasião do princípio da humanidade das penas com o trabalho forçado? O trabalho obrigatório é trabalho forçado? Embora na doutrina há quem entenda que o art. 31 não teria sido recepcionado pela CF/88, na medida em que ela veda os trabalhos forçados, não é esse o entendimento majoritário. A Corte Interamericana de Direitos Humanos, quando enfrentou a temática envolvendo os trabalhos forçados entendeu que trabalhos forçados não é o trabalho obrigatório, posto que otrabalho obrigatório, como foi anteriormente mencionado, é uma verdadeira engrenagem dentro do processo ressocializador, possui uma função social. Quando a Corte fala dos trabalhos forçados, ela não trata do trabalho obrigatório, contudo daquele trabalho imposto ao preso que em última análise ofende a dignidade da pessoa humana, ou seja, são os trabalhos aviltantes, que acabam expondo o preso e de certa forma acabam violando sua dignidade de ser humano. EXEMPLO: trabalhos das penas de gales, alguns países ainda se valem de trabalhos forçados, presos que são colocados com bolas de ferro na beira da estrada quebrando pedras, ou seja, trabalhos que ofendem a dignidade da pessoa humana, que se mostram como violação da dignidade da pessoa humana, aviltante como diz a Corte, esses são vedados dado que são considerados trabalhos forçados. Execução Penal – Felipe Almeida Aula7 - Trabalho do Preso 5 Curso Ênfase © 2019 O trabalho obrigatório não necessariamente será considerado como trabalho forçado e o art. 31 é considerado pela maioria como constitucional na medida em que o trabalho obrigatório funcionará como uma engrenagem dentro do processo ressocializador. Portanto, o trabalho obrigatório não é o que a Constituição procurou vedar, lembrando que ao preso provisório é facultativo, apenas em atividades internas, o trabalho e o preso condenado por crime político não está obrigado ao trabalho. Art. 32. Na atribuição do trabalho deverão ser levadas em conta a habilitação, a condição pessoal e as necessidades futuras do preso, bem como as oportunidades oferecidas pelo mercado. § 1º Deverá ser limitado, tanto quanto possível, o artesanato sem expressão econômica, salvo nas regiões de turismo. Justamente para que o sujeito possa com o seu trabalho ter alguma remuneração, na medida que nas regiões de turismo o artesanato é valorizado. § 2º Os maiores de 60 (sessenta) anos poderão solicitar ocupação adequada à sua idade. Ostentam a condição de idoso. § 3º Os doentes ou deficientes físicos somente exercerão atividades apropriadas ao seu estado. O art. 33 tratará da jornada de trabalho do preso. Art. 33. A jornada normal de trabalho não será inferior a 6 (seis) nem superior a 8 (oito) horas, com descanso nos domingos e feriados. Parágrafo único. Poderá ser atribuído horário especial de trabalho aos presos designados para os serviços de conservação e manutenção do estabelecimento penal. Pode ser que haja necessidade de se fazer um reparo ou uma manutenção em horário excepcional, em horário noturno por exemplo, ou mesmo nos fins de semana e há essa previsão legal no parágrafo único. 1.2 T RABALHO EXT ERNO Execução Penal – Felipe Almeida Aula7 - Trabalho do Preso 6 Curso Ênfase © 2019 O trabalho externo, na maioria das vezes é concedido na forma de um direito da execução, na chamada autorização de saída temporária. Entenda como funciona a dinâmica do trabalho externo, do trabalho do preso que obtêm autorização para sair e trabalhar fora da prisão. Normalmente, está acostumados a perceber essa modalidade de trabalho tão somente no regime semiaberto, quando o sujeito obtêm as autorizações de saída na modalidade de saída temporária para desenvolver atividade laborativa fora da prisão, todavia a própria LEP e o Código Penal admitem, excepcionalmente, que presos do regime fechado também obtenham autorização de saída temporária para o trabalho. O art. 36 da LEP inicia a disciplina do trabalho externo. Art. 36. O trabalho externo será admissível para os presos em regime fechado somente em serviço ou obras públicas realizadas por órgãos da Administração Direta ou Indireta, ou entidades privadas, desde que tomadas as cautelas contra a fuga e em favor da disciplina. O art. 36 estabelece alguns requisitos. Preso no regime fechado pode sair para trabalhar? Pode, desde que o trabalho seja em obras públicas realizadas por órgãos da Administração Direta ou Indireta, ou entidades privadas, desde que tomadas as cautelas contra a fuga e em favor da disciplina. A expressão final em negrito é justamente a vigilância direta, ou seja, a escolta. Para que o preso em regime fechado saia da prisão para trabalhar, ele depende da vigilância direta, que é, talvez na prática, o inviabilizador dessa saída para trabalho externo do preso do regime fechado, na medida em que se sabe que a maioria das unidades prisionais do país funcionam com efetivo de agentes penitenciários muito aquém do necessário e por isso, não se tem, por uma questão de segurança, a possibilidade de se retirar um agente para que ele possa escoltar o preso para realizar trabalho externo quando a segurança de toda a unidade prisional seria prejudicada. Além desse requisito temos os seguintes: § 1º O limite máximo do número de presos será de 10% (dez por cento) do total de empregados na obra. § 2º Caberá ao órgão da administração, à entidade ou à empresa empreiteira a remuneração desse trabalho. Execução Penal – Felipe Almeida Aula7 - Trabalho do Preso 7 Curso Ênfase © 2019 § 3º A prestação de trabalho à entidade privada depende do consentimento expresso do preso. Tem-se de ressaltar também um requisito de natureza objetiva para a autorização de trabalho externo do preso em regime fechado. O art. 37 da LEP diz: Art. 37. A prestação de trabalho externo, a ser autorizada pela direção do estabelecimento, dependerá de aptidão, disciplina e responsabilidade, além do cumprimento mínimo de 1/6 (um sexto) da pena. Quem possui o poder de autorizar a prestação de trabalho externo do preso em regime fechado é a autoridade administrativa, o diretor do estabelecimento prisional. Trata-se de uma atividade administrativa da execução da pena. Exige-se do indivíduo, não havendo diferenciação entre crime comum, crime hediondo ou equiparado, o cumprimento de 1/6 da pena. Então, o sujeito tem que trabalhar em obras públicas, ou em obras que são desenvolvidas pela Administração Pública ou entidades privadas, tem que ser autorizado pelo diretor, ele deve ter bom comportamento, responsabilidade, disciplina, aptidão e tenha cumprido 1/6 da sua pena como diz o art. 37. Parágrafo único. Revogar-se-á a autorização de trabalho externo ao preso que vier a praticar fato definido como crime, for punido por falta grave, ou tiver comportamento contrário aos requisitos estabelecidos neste artigo. Trata-se da disciplina do trabalho externo do preso em regime fechado, que é a exceção e o próprio Código Penal prevê a possibilidade do trabalho externo do preso em regime fechado quando estabelece no art. 34, § 3º. § 3º - O trabalho externo é admissível, no regime fechado, em serviços ou obras públicas. O Código Penal, regulamentado pela LEP, permite o trabalho externo do preso em regime fechado. Os requisitos são encontrados na LEP e a previsão geral se encontra no Código Penal. O trabalho externo no regime fechado é a exceção, a regra, no direito de execução penal para a concessão de trabalho externo é para aquele preso que está em cumprimento de pena no regime semiaberto, nesse caso as regras se modificam. O Execução Penal – Felipe Almeida Aula7 - Trabalho do Preso 8 Curso Ênfase © 2019 Código Penal em seu art. 35, § 2º quando trata das regras do regime semiaberto diz: § 2º- O trabalho externo é admissível, bem como a freqüência a cursos supletivos profissionalizantes, de instrução de segundo grau ou superior. No regime semiaberto, o trabalho externo vem no formato de direito da execução penal. Há previsão na LEP das chamadas autorizações de saída temporária, que verifica no momento oportuno em que se examina todos os requisitos. No art. 122 da LEP está previsto que: Art.122. Os condenados que cumprem pena em regime semi-aberto poderão obter autorização para saída temporária do estabelecimento, sem vigilância direta, nos seguintes casos: I - visita à família; II - freqüência a curso supletivo profissionalizante, bem como de instrução do 2º grau ou superior, na Comarca do Juízo da Execução; III - participação em atividades que concorram para o retorno ao convívio social. A primeira diferença do trabalho externo do regime fechado para o regime semiaberto é que no caso do regime semiaberto não há a vigilância do preso. O inciso III traz uma previsão genérica e, normalmente, é utilizado para a concessão do trabalho externo. Existem requisitos próprios trazidos pelo art. 123 que se analisa no momento oportuno. Art. 123. A autorização será concedida por ato motivado do Juiz da execução, ouvidos o Ministério Público e a administração penitenciária e dependerá da satisfação dos seguintes requisitos: I - comportamento adequado; II - cumprimento mínimo de 1/6 (um sexto) da pena, se o condenado for primário, e 1/4 (um quarto), se reincidente; III- compatibilidade do benefício com os objetivos da pena. Ver-se-á no momento oportuno as questões envolvendo esse lapso temporal de 1/6 e 1/4 e as controvérsias existentes sobre esse período, quando tratarmos da autorização de saída temporária, enquanto espécie do gênero autorização de saída. O certo é que a possibilidade do trabalho externo existe, tanto no regime fechado como no regime semiaberto. Viu-se que o regime fechado é a exceção, devendo ter Execução Penal – Felipe Almeida Aula7 - Trabalho do Preso 9 Curso Ênfase © 2019 cumprido 1/6 da pena, o trabalho deve ser em obras públicas, com escolta e por ato do diretor. No regime semiaberto não há necessidade de escolta, não há vigilância direta, é concedido pelo juiz da execução, sendo na verdade um direito da execução, que será visto quando se tratar da parte especial.
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