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Didática do Ensino Superior O Contexto do Ensino Superior: Educação, Sociedade e Profissão Docente Responsável pelo Conteúdo: Prof.ª Dr.ª Rita Maria Lino Tarcia Prof.ª Me. Jane Garcia de Carvalho Prof.ª Me. Júlia de Cássia Pereira do Nascimento Revisão Textual: Prof.ª Me. Selma Aparecida Cesarin 5 O Contexto do Ensino Superior: Educação, Sociedade e Profissão Docente Nesta unidade, trabalharemos os seguintes tópicos: • Introdução • Como o conhecimento é produzido? • Visão da Sociedade • Sociedade contemporânea - Sociedade do conhecimento • Definição de Conhecimento • Contexto atual e as novas relações com o saber • Final do monopólio das IES – Instituições de Ensino Superior • Ciclo de Renovação do Conhecimento • Novas relações no Trabalho • Ciberespaço e Tecnologia • Educação a distância • Conclusões voltadas para o Ensino Superior Fonte: Thinkstock · Análise crítica do papel da didática e da prática de ensino na formação inicial e continuada do professor que atuará neste nível de ensino. Normalmente com a correria do dia a dia, não nos organizamos e deixamos para o último momento o acesso ao estudo, o que implicará o não aprofundamento no material trabalhado ou, ainda, a perda dos prazos para o lançamento das atividades solicitadas. Assim, organize seus estudos de maneira que entrem na sua rotina. Por exemplo, você poderá escolher um dia ao longo da semana ou um determinado horário todos ou alguns dias e determinar como o seu “momento do estudo”. No material de cada Unidade, há videoaulas e leituras indicadas, assim como sugestões de materiais complementares, elementos didáticos que ampliarão sua interpretação e auxiliarão o pleno entendimento dos temas abordados. Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discussão, pois estes ajudarão a verificar o quanto você absorveu do conteúdo, além de propiciar o contato com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e aprendizagem. 6 Unidade: O Contexto do Ensino Superior: Educação, Sociedade e Profissão Docente Contextualização Você já parou para pensar nos avanços ocorridos na Educação, por conta das transformações verificadas na Sociedade e no modo de pensar de seus integrantes? Leia a poesia a seguir e compare, assim como o autor, a Educação antiga e a moderna. Encontramos muitas diferenças? Inovações? Ou será que continuamos a ensinar e aprender da mesma forma? A discussão do ensino antigo com o ensino moderno An tig o Eu venho dos opressores; Nasci de um regime austero! Com cediços professores Venho ensinar o que eu quero. Tiro do livro a lição E imponho uma educação Puramente radical. Sou mestre e não sou amigo; Eu sou o ENSINO ANTIGO; Me chamo TRADICIONAL! → M od er no Eu sou um ensino novo, Nasci da necessidade Da integração do povo À sua sociedade. Debato, ensino e aprendo, Pesquiso em vídeos ou lendo Em jornal, livro ou revista. Serei seu amigo eterno, Me chamo ENSINO MODERNO, Sou INTERACIONISTA! An tig o Na minha concepção, Na classe aluno não fala. Por falta de educação É logo expulso da sala! Afinal de contas eu Não posso perder o meu Tempo com coisas banais. Aluno é só para ouvir, Fazer o que eu sugerir, Ser passivo e nada mais. → M od er no Eu escuto e incentivo, Dou-lhe vez e o oriento; Entendo que ele, ativo, Tem mais aproveitamento. Ensino-lhe o que me cabe, Aproveito o que ele sabe, Não sou mero professor. Estimulo o seu progresso. Portanto, neste processo Eu sou um mediador. An tig o Eu inicio e concluo Criticando aos reprovados, Pois sou correto, possuo Programas pré-fabricados. Para aluno inteligente O livro é suficiente, Conversa, enfim, não tem graça. Eu lanço a educação, Ensino, tomo a lição; O restante, ele que o faça! → M od er no Eu pesquiso; eu examino Qualquer possibilidade Que possa unir o ensino À sua realidade. O aluno constrói temas; Eu esclareço os problemas, Preparando-lhe pra vida. Além da educação, A escola é a extensão Do seu lar; da sua lida. 7 An tig o Nos tempos que já se somem Eu disse, com o MOBRAL, Que tem que ter pátria, o homem, Educação e moral. Que a educação primária É meta prioritária: Se o aluno assina o nome Já é cidadão e vota, A vida muda de rota E não morrerá mais de fome → M od er no Asseguro, no presente, Que ele tem outras razões; Que precisa urgentemente Desenvolver profissões. Assim, criei disciplinas Onde ele tem oficinas Pra lapidar seu talento. Quando já possui a prática, Com a ajuda da didática Seu sucesso é cem por cento. ↓ M od er no E assim vou seguindo aos poucos Construindo a minha história: Sem mentir, sem fazer loucos, Sem ferir, sem palmatória. Dentro da necessidade De cada comunidade Quero orientar meu povo, Torná-lo culto e feliz LEVANDO A TODO O PAÍS A LUZ DO ENSINO NOVO. Fonte: Alfrânio de Brito. A discussão do ensino antigo com o ensino moderno. Campina Grande. Outubro de 2000. <http://goo.gl/MnY3gi>. Acesso em: dez. 2010. Ficou curioso(a) quanto a estas mudanças? Sobre o contexto no qual toda a Educação e, portanto, o Ensino Superior está inserido? Então, vamos aos estudos! 8 Unidade: O Contexto do Ensino Superior: Educação, Sociedade e Profissão Docente Introdução Você deve saber que os egressos de cursos de Pós-Graduação lato sensu podem desenvolver a atividade docente no Ensino Superior. Essa seria a qualificação mínima exigida pelo CONSELHO NACIONAL DE EDUCAÇÃO para que o Professor possa atuar no Ensino Superior em nível de graduação, segundo a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, LDB nº 9.394/96. Há, portanto, amparo legal para a docência universitária, aos egressos dos programas lato sensu, conforme ressalta a LDB. Vamos conhecê-los melhor? TÍTULO V Capítulo IV Da Educação Superior Art. 52 As universidades são instituições pluridisciplinares de formação dos quadros profissionais de nível superior, de pesquisa, de extensão e de domínio e cultivo do saber humano, que se caracterizam por: (Regulamentado pelo Decreto n. 2306/97) I - produção intelectual institucionalizada mediante o estudo sistemático dos temas e problemas relevantes, tanto do ponto de vista científico e cultural, quanto regional, e nacional; II - um terço do corpo docente, pelo menos, com titulação acadêmica de mestrado ou doutorado; [...] 1 TÍTULO VI Dos Profissionais da Educação Art. 66º. A preparação para o exercício do magistério superior far-se-á em nível de pós-graduação, prioritariamente2 em programas de mestrado e doutorado. É preciso que os futuros docentes possam sentir-se capazes de atuar de acordo com as necessidades da sociedade atual, entendendo o contexto no qual se insere o Ensino Superior, seu papel como professor universitário, a competência que lhe é exigida e todas as relações que se estabelecem entre professores e alunos, assim como estar apto a trabalhar as ligações entre o que se vive na instituição e as experiências do dia a dia, fora do ambiente de ensino. Por este motivo, nesta unidade, vamos discutir o contexto no qual se insere o Ensino Superior. 1 Grifo nosso. 2 Idem. 9 Como o conhecimento é produzido? Ao pensarmos nos futuros professores e em sua atuação, vale a pena alertar para características importantes, como o conhecimento que é produzido no Ensino Superior e nosso papel como educadores neste nível de ensino. Visão da Sociedade Não é possível definir um modelo de Sociedade ideal como produto final da ação e da evolução humana. O que se considera é em termos de tendências gerais, ou seja, a otimização do comportamento individual e do comportamento coletivo, sendo que esse último se refere particularmente à organização social e política da sociedade (MIZUKAMI, 1986, p.63). Nesse caso, tais tendências podem definir inúmeras possibilidades e direções para a ação educativa. O fato é que toda intervenção no âmbito da educação gera desequilíbrio e, segundo Piaget, a aprendizagem acontece no movimento natural de superação do desequilíbrioem direção à reequilibração. Mesmo diante do progresso comprovado em muitas áreas da Ciência, os desafios do mundo atual tornam-se ainda maiores. Identificam-se nas tendências globais vários processos concorrentes e, algumas vezes, até contraditórios, de: democratização, globalização, regionalização, polarização, marginalização e fragmentação, entre outros. Todas as novas tendências interferem nas decisões pedagógicas e no desenvolvimento da prática docente e pedem respostas coerentes e adequadas. Igualmente importantes são as mudanças imperativas de desenvolvimento econômico e tecnológico e as modificações nas estratégias de desenvolvimento; que deveriam procurar um desenvolvimento sustentável humano, em que o crescimento econômico servisse ao desenvolvimento social e assegurasse um meio ambiente sustentável (UNESCO, 1999, p.12) . Cabe à Educação a busca de soluções para as novas situações problema que surgem dos diferentes processos vivenciados pelas sociedades atuais. Considerando as contribuições de Paulo Freire (1997), o homem cria a Educação e a cultura na medida em que, integrando-se nas condições de seu contexto de vida, reflete e busca respostas aos desafios que encontra. Nesse ponto reside a ação educacional que busca soluções para os desafios impostos pelo contexto sócio-histórico deste novo milênio. Segundo Peter Drucker (1997), o principal recurso das sociedades atuais é o conhecimento e os grupos sociais mais importantes serão constituídos pelos trabalhadores do conhecimento; por esse motivo, o autor caracteriza essa sociedade como a do conhecimento. 10 Unidade: O Contexto do Ensino Superior: Educação, Sociedade e Profissão Docente Pierre Lévy (1999), filósofo contemporâneo, acredita que nesta sociedade dinâmica e desafiadora em que vivemos atualmente, o conhecimento passa a ser fruto do coletivo e, tendo passado pela expansão física na superfície do Planeta, a Humanidade tece agora uma enorme rede digital que aos poucos conecta tudo a todos, as culturas nacionais perdem seu limite geográfico e fundem-se em uma cultura globalizada. Para finalizar a visão de Sociedade, trazemos as contribuições de Edgar Morin (2000). Ele salienta a necessidade de compreensão da História nessa era planetária que se expressa pelo estabelecimento da comunicação entre todos os pontos da superfície da Terra, e de percepção de que todas as partes do mundo tornam-se solidárias diante da crise que marca o século XXI. A crise planetária na qual “todos os seres humanos confrontados de agora em diante aos mesmos problemas de vida e de morte, partilham um destino comum” no Planeta (MORIN, 2000, p.16). Sociedade contemporânea – Sociedade do conhecimento O mundo moderno caracterizou-se por sua racionalidade. Todas as ações deveriam ser racionalmente elaboradas, baseadas nas leis universais, as quais regiam todos os indivíduos, independente de suas diferenças. Um mundo limpo e organizado para todos. Neste contexto, o conhecimento surge como uma representação fiel do mundo, como se fosse uma fotografia, que mostrasse exatamente o que estava ocorrendo. Havia nesta área a presença de taxonomia, ou seja, as pessoas assim como coisas eram classificadas por categorias consubstanciadas em normal ou patológico. Neste tipo de pensamento e organização do conhecimento, não havia lugar para dúvidas, pois o objetivo era uma verdade única para todas as coisas e que regesse as ações de todas as pessoas. O mundo pós-moderno trouxe a novidade da globalização. Todos se comunicavam e as informações eram interligadas, surgiam dúvidas, encontravam-se soluções. A comunicação global trouxe novos contextos aos quais as pessoas foram aos poucos se adaptando. O conhecimento passa a ser construído a partir da visão da realidade e não mais aceito como algo catalogado. A realidade não é única, ela é múltipla, feita de contrastes e com isso o conhecimento deixa de ser uniforme, pois cada realidade pede uma forma de pensar. As ciências passam a pesquisar não mais catalogando, mas utilizando o método hermenêutico, de interpretação. E onde cabe interpretação, cabem diferenças, pois cada ser humano é único, sendo sua interpretação também única, de acordo com os conhecimentos adquiridos e acumulados. Surge então um novo tipo de sociedade, a Sociedade do Conhecimento, na qual deter conhecimento significa também deter o poder e a soberania. Privilegia-se o domínio do conhecimento científico e tecnológico, trazendo à sociedade que o detêm inovações, descobertas e maior desenvolvimento pessoal e social, com geração de empregos, saúde e maiores investimentos na Educação. Com esta nova visão de Sociedade, também a Educação foi-se modificando e se interando das novas formas de construção do conhecimento. O contexto social ficou mais complexo, as relações humanas, especialmente entre professores e alunos, acontecem de forma globalizada, com uma diferente interpretação da realidade. Surge a necessidade de o processo educacional 11 levar em conta o fato do ser humano não ser fragmentado, constituindo-se num todo que envolve sentimento, razão, habilidades, atitudes, valores e conhecimento. Na sociedade do conhecimento ou da informação, as pessoas envolvidas com Educação devem se preocupar com o desenvolvimento total dos alunos, promovendo uma real educação. E educar nesta sociedade significa: [...] incentivar a autonomia individual e a solidariedade, prevenir insucessos e lutar contra as desigualdades, favorecer o ensino experimental e o espírito científico, abrir novos horizontes, aliando a compreensão das origens e raízes à identidade da inovação científica e tecnológica, condições essenciais à mudança orientada para um desenvolvimento humano integral (BELLUZZO, 2005). Por esse motivo, a sociedade do conhecimento é também chamada de sociedade da aprendizagem, constituindo-se a escola, em qualquer nível, um local de informação, estímulo e circulação de saberes, que poderá mobilizar-se, transformar-se e produzir novos conhecimentos. É preciso frisar também o papel da Universidade na descoberta e construção do conhecimento. Se pensarmos no Ensino Superior, veremos que, como Instituição, a Universidade brasileira é muito jovem, pois tem menos de um século. A Universidade pública é mais jovem ainda, com menos de setenta anos. Mas, mesmo assim, já contribuiu muito para a Sociedade em termos de produção do conhecimento, para o desenvolvimento do país, na formação de profissionais e na inclusão da comunidade interna e externa em suas ações. A sociedade contemporânea privilegia o conhecimento na evolução das carreiras profissionais. Neste ponto, as universidades têm papel relevante nesta produção, por serem locais de formação profissional formal, tendo como objetivos promover a aprendizagem, a pesquisa e a divulgação das descobertas, auxiliando a participação de profissionais de diferentes áreas na Sociedade e colaborando com sua formação contínua. Se assim é, a Educação, especialmente aquela desenvolvida no Ensino Superior, que deve estimular a criação cultural e o desenvolvimento do espírito científico e do pensamento reflexivo, apresenta-se como elemento indispensável para que os homens possam progredir em face de ideais de paz, liberdade e justiça social (Delors, 2003). Defi nição de Conhecimento Considerando as contribuições teóricas de Jean Piaget, o conhecimento humano é essencialmente ativo. “Conhecer um objeto é agir sobre e transformá-lo” (PIAGET citado por MIZUKAMI, 1986, p.64). Ainda na perspectiva interacionista, o homem se constrói e é sujeito “na medida em que, integrado em seu contexto, reflete sobre ele e com ele se compromete, tomando consciência de sua historicidade” (MIZUKAMI, 1986, p.90). A realidade desafia constantemente o homem e este responde a cada desafio de forma original, inovadora. O conhecimento não se define como receitas ou modelos de respostas prontas para serem reproduzidas, mas há tantas possibilidades quantos forem os desafiose as vivências, de modo a definir várias respostas diferentes. 12 Unidade: O Contexto do Ensino Superior: Educação, Sociedade e Profissão Docente Cada resposta que o homem dá aos desafios que sociedade apresenta não só modifica a realidade, mas também transforma o próprio sujeito. Para Mizukami (1986), a construção e o desenvolvimento do conhecimento têm relação com o processo de conscientização, o conhecimento é elaborado a partir da relação reflexiva entre pensamento e prática, superando, dessa forma, a dicotomia entre sujeito e objeto. Nessa perspectiva, na sociedade do conhecimento, os seres humanos são fundamentais porque o conhecimento não é impessoal, ele está sempre incorporado a uma pessoa, por ela é transportado, criado, ampliado, aperfeiçoado e disseminado. Nesse caso, a pessoa instruída, o empregado instruído representa a sociedade na qual o conhecimento tornou-se recurso principal. Segundo Drucker: [...] o conceito de pessoa instruída terá de ser um conceito universal, precisamente porque a sociedade atual é uma sociedade de conhecimentos e é global – em seu dinheiro, sua economia, suas carreiras, sua tecnologia, suas questões básicas e, acima de tudo, em suas informações. Ela requer um grupo de liderança[...] (1997, p.166). Estas pessoas devem ser universalmente instruídas e precisam concentrar seu conhecimento no presente e na modelagem do futuro. Finalmente, Foucault sintetiza a visão de conhecimento descrita anteriormente: [...] não é, então, para ser buscado apenas em formulações teóricas, como as da filosofia ou da ciência; ele pode e deve ser analisado em todo o modo de falar, fazer ou se comportar em que o indivíduo aparece ou atua como sujeito de aprendizado, como sujeito ético ou jurídico, como sujeito consciente de si mesmo e dos outros[...] (FOUCAULT, citado por LECHTE, 2002, p.131). Contexto atual e as novas relações com o saber Ao observarmos o mundo atual e a presença da tecnologia no cotidiano das pessoas, identificamos mudanças importantes nas relações que estabelecemos com o Conhecimento. Na história da Humanidade, pudemos observar o quanto as sociedades expandiram e ocuparam toda a superfície do Planeta. Neste início de milênio, acompanhamos a construção de uma grande rede digital que conecta tudo a todos. Segundo Pierre Lévy (1999), nossas culturas nacionais fundem-se lentamente em uma cultura globalizada e cibernética, é o nascimento da cibercultura. Certamente o tema cibercultura é bastante polêmico e causa-nos inquietações acerca das alterações que vivenciaremos nas nossas relações com os demais seres humanos, perguntamo- nos como o processo de digitalização do mundo afetará a cultura, as artes, a política e todas as áreas do Conhecimento. 13 Neste momento, é importante identificar o nascimento da cibercultura, ainda não podemos discutir seus benefícios e suas consequências para a humanidade. Reconhecer que como educadores estaremos à frente das transformações e seremos chamados a construir novas relações com o Conhecimento e com as ciências já é um grande desafio. Depois de compreendermos esse movimento, poderemos refletir acerca da nossa prática docente junto com os alunos que cada vez mais conhecem e dominam as tecnologias e estabelecem novas relações com o mundo. Final do monopólio das IES – Instituições de Ensino Superior Diante do cenário descrito anteriormente, é possível afirmar que vivemos o final da era de transmissão de saberes prontos e acabados, definidos como verdades absolutas que devem ser assimiladas e reproduzidas. Tempos atrás, o Conhecimento era restrito ao meio acadêmico. Os alunos só teriam acesso ao saber se estivessem nas Universidades e se atendessem às orientações e determinações da Instituição. Por outro lado, os professores eram os detentores do Conhecimento e responsáveis pela transmissão desse Conhecimento pronto e finalizado, considerado como verdade. Os alunos assimilavam o Conhecimento e assumiam uma postura reativa, passiva. Eles aguardavam que o professor ministrasse a aula e registravam todo o Conhecimento para ser posteriormente reproduzido. Nesse caso, o professor assumia papel de destaque no processo educativo e o ensino era efetivamente mais importante do que a aprendizagem dos alunos. Atualmente, o aluno e todos nós podemos buscar o Conhecimento em diferentes fontes, base de dados ou sites. Existem novas formas de acesso à informação como a navegação em hipertextos e hiperlinks, os buscadores e outros mecanismos de pesquisa que facilitam o processo. O conhecimento está disponível na grande rede digital e é possível que cada um de nós procure e selecione o que é mais importante e necessário para resolver seus problemas e inquietações e para construir seus próprios conhecimentos. Sendo assim, o professor deixa de ter o controle do saber e novas relações interpessoais se estabelecem entre ele e os alunos e entre os próprios alunos. As práticas colaborativas ganham espaço e a construção do conhecimento se define pela troca de experiências e saberes entre todos os participantes do processo educativo. Certamente, novos papéis se definem para a ação docente, a ação discente passa a ser significativa para o delineamento de novos processos de ensino e de aprendizagem. Ainda não temos as respostas prontas para esses desafios, mas precisaremos construir juntos, de forma colaborativa e solidária, as características e os elementos das novas situações de aprendizagem que assumiremos nos próximos anos. 14 Unidade: O Contexto do Ensino Superior: Educação, Sociedade e Profissão Docente Ciclo de Renovação do Conhecimento O filósofo Pierre Lévy (1999) constata três grandes mudanças com relação ao saber, uma delas diz respeito ao ciclo de renovação do Conhecimento. Atualmente, é possível identificar uma grande velocidade no surgimento e na renovação dos saberes, é a obsolescência do Conhecimento. A ciência sempre evoluiu, mas não de forma tão rápida como nos últimos anos. Os novos conhecimentos são produzidos continuamente, em fluxo, o que nos o obriga a estudarmos e nos atualizamos com a mesma intensidade. Essa dinâmica gera um movimento nas ciências e precisamos encontrar formas de acompanharmos essa produção científica contínua e também participarmos dela, gerando novos conhecimentos. O ciclo de vida de um conhecimento passou de 20 ou 25 anos para 8 ou 10 anos. Com o passar dos anos, esse ciclo poderá ser 2 ou 5 anos. Esse movimento da produção das ciências gera uma base de instabilidade que nos causa ansiedade e com a qual precisamos aprender a conviver. Considerando que como professores no Ensino Superior trabalhamos com os conhecimentos, novos e não tão novos, precisaremos construir programas de ensino mais dinâmicos que possibilitem aulas mais interativas e colaborativas. Novas relações no Trabalho A outra mudança identificada por Lévy (1999) diz respeito às novas relações do saber no trabalho, definindo uma nova natureza para ele. O filósofo acredita que a transação do Conhecimento será a base das relações de trabalho e, portanto, a transmissão do conhecimento adquirido assim como a troca de experiências vivenciadas pelos profissionais serão importantes para a busca e produção de novos conhecimentos. Todos os profissionais assumem o papel de pesquisador diante das diferentes situações novas que surgem no cotidiano profissional. A visão investigativa é um diferencial, na medida em que os profissionais buscam respostas, individualmente ou em grupos colaborativos. Não temos respostas prontas para as novas situações que surgem e, por esse motivo, é necessário transmitir os conhecimentos adquiridos, partilhar as experiências vividas e construir novos conhecimentos. Diante dessa mudança, podemos afirmar que professores que atuam diretamente na formação dos futuros profissionais se encontram frente a um desafio. Cabe refletir como criar condições para que nossos alunos assumam uma postura mais ativa com relação ao conhecimento,desenvolvam maior autonomia em suas reflexões de modo que elas subsidiem suas decisões. Nós formamos nossos alunos para serem empreendedores neste novo espaço de conhecimentos? 15 Ciberespaço e Tecnologia Finalmente, a terceira e última mudança identificada por Pierre Lévy (1999) tem relação com a Tecnologia, mais especificamente a Informática, suporte digitalizado da comunicação e da informação. Por meio da tecnologia, podemos trabalhar com as informações de maneira interativa, além de garantir que todas elas estejam interligadas, possibilitando novas formas de acesso e de utilização. As novas tecnologias influenciam nossas funções cognitivas. Nós utilizamos a memória para reter informações que poderão ser guardadas por meio de banco de dados, de hiperdocumentos ou arquivos digitais de diferentes formatos. As simulações que podem ser realizadas com auxílio de tecnologia amplificam nossa imaginação e alteram nosso raciocínio e os sensores digitais e as realidades virtuais interferem na nossa percepção. São transformações que estão por vir, que chegam aos poucos, mas que, como professores, precisamos refletir sobre elas e identificarmos sua relação com nossa prática docente. Educação a distância Diante do contexto que estamos discutindo, é necessário abordarmos a questão da Educação a Distância. Você está fazendo este curso na modalidade a distância e o que isso significa para você? Um grande desafio, talvez, uma nova experiência ou a construção de novos conhecimentos acompanhada do desenvolvimento de novas competências. A educação a distância é para você um desafio ou um grande problema? O desafio da educação a distância não reside no uso de novas técnicas e recursos de ensino, na sua relação com as redes de comunicação ou com as hipermídias. A EaD propõe uma nova visão da pedagogia, propõe uma educação voltada para a aprendizagem individualizada, mas inserida em uma grande rede que incentiva a aprendizagem colaborativa e coletiva. Parece controverso, mas acredito que é desafiador e inquietante. Conclusões voltadas para o Ensino Superior É certo que a globalização trouxe a facilidade de interligação das informações. As pessoas passaram a interpretar estas informações, porém de acordo com os conhecimentos já adquiridos e acumulados ao longo de suas vidas. Entendemos por Sociedade do Conhecimento, a sociedade na qual vivemos na atualidade, em que todos desejam o domínio do conhecimento, seja científico, seja tecnológico. Esta sociedade contemporânea privilegia o conhecimento na evolução das carreiras profissionais. Devemos, portanto, analisar como as universidades estão lidando com tanta informação, na formação de novos profissionais, vez que é nas universidades que as pessoas procuram formação e qualificação para desenvolver suas atividades no mercado de trabalho. A Universidade deve 16 Unidade: O Contexto do Ensino Superior: Educação, Sociedade e Profissão Docente produzir conhecimento. Para tanto, deve estar aberta ao diálogo com as diferentes fontes de produção de conhecimento, inclusive incorporando as diferentes produções. A produção de conhecimento pelas universidades teve de lidar com a velocidade da informação. A diversidade cultural e produtiva, aliada às diferentes atividades desenvolvidas pelas pessoas, pede atualizações e produções constantes. Há também a necessidade de acesso, por parte dos pesquisadores, a diferentes tecnologias que permitam novas descobertas em menor tempo. É preciso também que se perceba que a produção científica, antes monopólio das universidades, hoje acontece em múltiplos espaços, como ONGs, laboratórios, mídia, imprensa etc. É preciso que haja uma ampliação do universo da discussão do conhecimento científico. Com tantas mudanças em termos de produção e reconhecimento de novos conhecimentos, há necessidade de mudança também na prática do docente, o qual não pode mais agir como se ele fosse o centro e o detentor de todo conhecimento e saber. O aluno também tem acesso aos novos conhecimentos. O docente deve, portanto, mudar sua docência por conta das mudanças na Sociedade e na produção do Conhecimento. É de se esperar que com as novas exigências da Sociedade do Conhecimento haja uma crise no perfil das carreiras profissionais, pois agora se procura um novo profissional, um profissional mais completo. E se a Universidade trabalha diretamente na formação de profissionais, ela deve repensar a organização de seus currículos para atender à demanda do mercado. Vejamos: se antes havia a adoção de um currículo mínimo, com conteúdos divididos em disciplinas, para todo o país, o trabalho docente era transmitir estes conteúdos básicos para seus alunos. Hoje, as diretrizes curriculares procuram atender aos perfis profissionais diferenciados, havendo um trabalho com a docência mais abrangente e mais amplo, no sentido de atender aos objetivos a serem alcançados, de acordo com as competências das diretrizes. A Sociedade do Conhecimento pede uma mudança do processo de Ensino para o Processo de Aprendizagem, pois suas exigências levam o aluno a buscar informações, sabendo pesquisar, selecionar informações, criticar estas informações, assimilar seus interesses, construir novos conhecimentos, enfim aprender. E o professor universitário precisa estar em constante atualização para entender e trabalhar as mudanças que ocorrem com velocidade cada vez maior e afetam o trabalho, as relações, a educação e a sociedade como um todo. 17 Material Complementar Sites: Dilemas da educação superior no mundo globalizado: sociedade do conheci- mento ou economia do conhecimento? Educ. Soc., Campinas, v. 28, n. 98, apr. 2007. http://goo.gl/cqg9qH Leituras: O futuro da educação em uma sociedade do conhecimento: o argumento radical em defesa de um currículo centrado em disciplinas YOUNG, Michael P. D. Universidade de Londres. http://goo.gl/15p8T3 O ensino Universitário: seu cenário e seus protagonistas ZABALZA, Miguel A. Porto Alegre: Artmed, 2004, p. 58-66. http://goo.gl/kdQ95v 18 Unidade: O Contexto do Ensino Superior: Educação, Sociedade e Profissão Docente Referências BELLUZZO, Regina Célia Baptista. A Educação na Sociedade do Conhecimento. 2005. Disponível em http://www.serprofessoruniversitario.pro.br/ler.php?modulo=10&texto=501 Acesso mar.2010 BRASIL. Lei 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. Diário Oficial da República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 1996. Disponível em http://portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/lei9394_ldbn1.pdf Acesso em fev.2010. Acesso mar.2010 DELORS, J. Educação: Um Tesouro a Descobrir: Relatório Para a UNESCO da Comissão Internacional. 8. ed. São Paulo: Cortez, 2003. DRUCKER, Peter. Sociedade Pós-Capitalista. São Paulo: Pioneira, 1997. FREIRE, Paulo Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. Rio de Janeiro: Editora Paz e Terra, 1997 LECHTE, J. 50 Pensadores contemporâneos essenciais. Difel: Brasil, 2002 LÉVY, Pierre. Cibercultura. São Paulo: Ed.34. 1999. MIZUKAMI, Maria da Graça N. Ensino: as abordagens do processo. São Paulo: EPU, 1986. MORIN, Edgar. Os sete saberes necessários à Educação do Futuro. 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