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UNIVERSIDADE PAULISTA- UNIP EAD PROJETO DE PESQUISA APRESENTADO À UNIP INTERATIVA GILSON DINIZ VIEIRA 1875538 DESAFIOS DO ENSINO GRAMATICAL PADRÃO EM SALA DE AULA E O PAPEL DO PROFESSOR SOB A ÓTICA DO PRECONCEITO LINGUÍSTICO Brasília – DF 2020 GILSON DINIZ VIEIRA 1875538 DESAFIOS DO ENSINO GRAMATICAL PADRÃO EM SALA DE AULA E O PAPEL DO PROFESSOR SOB A ÓTICA DO PRECONCEITO LINGUÍSTICO Projeto de trabalho apresentado à Unip interativa polo Sudoeste DF curso de Letras/Português como requisito para a elaboração de TC Brasília – DF 2020 GILSON DINIZ VIEIRA 1875538 DESAFIOS DO ENSINO GRAMATICAL PADRÃO EM SALA DE AULA E O PAPEL DO PROFESSOR SOB A ÓTICA DO PRECONCEITO LINGUÍSTICO Trabalho monográfico apresentado sob a forma de trabalho de curso como requisito para graduação (licenciatura) em Letras/Português à Universidade Paulista UNIP EaD Professora orientadora: Fabiana Freire Conceito final: Data da avaliação: Professores avaliadores: Dedico esse trabalho primeiramente à Deus, pois, sem Ele, nada seria, a minha família, a todos os professores do curso, a minha orientadora e a todos que de alguma forma contribuíram para que esse projeto se realizasse. Agradeço a todos os professores e amigos o carinho e ajuda dispensados. Em especial agradeço a Deus que me concedeu durante todo esse período força e perseverança para a realização deste trabalho. Menções honrosas também a toda equipe de funcionários da universidade paulista, dentre os quais, o pessoal de apoio, pois, sem eles, não seria possível o encaminhamento de dúvidas e sugestões ao corpo docente para a conclusão do referido trabalho de curso. Deus é nosso refúgio e fortaleza, socorro bem presente na angústia. Salmo 46,1 RESUMO Partindo do pressuposto que nem todos têm acesso à educação de forma homogênea na rede educacional, ainda mais, em se tratando de um país de dimensões continentais como o Brasil, é notório que a diversificação da língua portuguesa é uma realidade em que podemos observar de maneira bem contundente, basta andarmos um pouco pelas grandes metrópoles, que encontramos formas bem distintas da língua portuguesa sobre um mesmo tema tratado, conversado, ou nomeando um item, lugar, etc. o que acaba por contribuir pra um movimento que vem ganhando infelizmente força, o chamado preconceito linguístico. Este trabalho foi concebido buscando saber se os alunos da rede pública são vítimas de preconceitos relacionados à pluralidade da língua portuguesa que já trazem do seu meio social e familiar e se o preconceito praticado sobre esses alunos trazem em seu bojo, outros preconceitos que se caracterizam por preterir esses alunos à uma educação sem atributos didáticos e manipulado de tal forma que haja um domínio das elites não só na questão linguística, mas também na vida social desses alunos. É nesse sentido que este estudo tem por objetivo principal, analisar se há preconceito social e linguístico no ensino da língua portuguesa na sua variante padrão. Também procuramos destacar o papel do professor nesse contexto, e de como o corpo docente, pode trabalhar esse aluno que fora “excluído”. Palavras chaves: preconceito, língua portuguesa, diversidade, exclusão. ABSTRACT Assuming that not everyone has access to education homogeneously in the educational network, even more, when it comes to a country of continental dimensions such as Brazil it is notorious that the diversification of the Portuguese language is a reality in which we can observe in a very blunt way, just walk a little through the great metropolises, that we find very different forms of the Portuguese language on the same theme treated, talked about, or naming an item, place, etc. which ends up contributing to a movement that has unfortunately gained strength, the called linguistic prejudice. This work was conceived seeking to know if the students of the public network are victims of prejudices related to the plurality of the Portuguese language that already bring from their social and family environment and if the prejudice practiced on these students bring in their bulge, other prejudices that are characterized by depree these students to an education without didactic attributes and manipulated in such a way that there is a domain of elites not only in the linguistic issue , but also in the social life of these students. It is in this sense that this study has as its main objective to analyze whether there is social and linguistic prejudice in the teaching of the Portuguese language in its standard variant. We also try to highlight the role of the teacher in this context, and how the faculty can work this student who had been "excluded". Keywords: prejudice, Portuguese, language, diversity, exclusion. SUMÁRIO INTRODUÇÃO............................................................................................... 6 Objetivos .........................................................................................................7 CAPÍTULO I..................................................................................................10 1 Discriminação e preconceitos linguísticos. 1.2 Estereótipos................................................................................................11 1.3 Falha no acesso à educação........................................................................13 CAPÍTULO II..................................................................................................14 2. Materialização no campo ideológico como forma de dominação e poder. 2.2 O papel da gramática normativa.................................................................19 CAPÍTULO III..................................................................................................21 3. Abordagem do PCN sob a ótica do preconceito linguístico Referências........................................................................................................266 INTRODUÇÃO O substantivo masculino preconceito (linguístico) indica uma ideia ou opinião antecipada, preconcebida sem um conhecimento, análise ou reflexão sobre o assunto, sendo sinônimo de prejuízo e prejulgamento. Esse é o tema central deste TC, cujo elementos que influenciam este espinhoso tema será dissecado nos capítulos que se seguirão. Optou-se por meio do tema em suma, expor o problema existente nos falantes da língua portuguesa, o chamado: preconceito linguístico, e de maneira bem sucinta, pode-se dizer que esse preconceito, advém em parte, do próprio seio escolar, e que vem favorecer os falantes da chamada língua padrão, este prejulgamento se mantém ativo por meio de ideologias das elites e, que se processa utilizando um discurso às vezes claro e compreensível, e outras vezes velado e discreto, mas sempre com a intenção de subjugar as demais variações linguísticas, como se saber a norma culta, fosse sinônimo de superioridade e o não saber, fizesse do outro um indivíduo desprezível como afirma Bagno (2009, p.29) É esse o discurso, muitas vezes não explicitado, oculto na atitude quem se vale de seu conhecimento da gramática normativa como um instrumento de distinção, como se saber a regência “correta” do verbo implicar, implicasse em algum tipo de vantagem, de superioridade intelectual, de senha secreta para o ingresso num círculo de privilegiados. No campo de estudos linguísticos, a discussão sobre diferentes concepções de gramática já vem sendo feita há um tempo considerável e, no contexto do ensino da língua portuguesa no Brasil, a discussão sobre o ensino da gramática também não é recente. Questionam-se posições, apresentam-se novas soluções, formulam-se novas concepções, descartam-se (ou revalorizam-se) modelos antigos. O tema continua vivo entre autores e pesquisadores e, muitas vezes, com visões radicalmente diferentes. Entretanto, uma posição pelo menos vem se mostrando quase que consensual entre eles; questiona-se a crença de que aprender o modo 7 padrão da língua, significa aprender regras gramaticais fixas e termos técnicos OBJETIVOS O objetivo geral desse trabalho de curso, é fazer uma análise dos desafios do ensino da gramática normativa em classe, e da aplicabilidade de outros métodos no que tange formas alternativas de aprendizagem, afim de incluir o aluno vitimizado pelo preconceito linguístico, bem como analisar o papel do professor no contexto à situação exposta. O tema aludido, engloba a questão do preconceito linguístico, observado sob uma ótica da sociolinguística e da análise do discurso, pois, entende-se que: “Tudo que é ideológico possui um significado e remete a algo situado fora de si mesmo. Em outros termos, tudo que é ideológico é um signo. Sem signos não existe ideologia.” Bakhtin (2010, p.31) São objetivos específicos desse trabalho; expor o problema do aluno e dos falantes em geral de língua portuguesa, que são subjugados e depreciados pelo uso coloquial da língua em detrimento dos falantes da chamada língua padrão; Compreender o papel atenuante do professor no aluno vitimizado, pelo preconceito linguístico; Apontar caminhos onde os alunos possam ser encorajados a seguir o aprendizado da língua padrão, sem, contudo, constranger ou oprimir o discente, estimulando-o sempre. O tema central escolhido é de suma importância na atualidade, pois, é através de uma comunicação clara e sem atalhos gramaticais, que somos vistos de forma bem sucinta no meio em que vivemos, sabemos do peso que a comunicação objetiva exerce no trabalho os quais escolhemos, ou fomos escolhidos, sabe-se que a maneira como falamos o idioma português padrão, abrirá ou fechará oportunidades nas mais diversas áreas da vida, todavia, como já exposto na introdução, o ensino de qualidade não atinge a todos de forma igual, daí começam os problemas que perdurará na vida dessa pessoa, com mais contundência , o problema enfrentado pelos não falantes da forma não padrão, é à exclusão social e o preconceito diário enfrentado por essa pessoa. Provavelmente é mais fácil aprender a língua padrão, em um sistema de linguagens baseado tão somente em princípios abstratos, ou em regras relacionadas à comunicação “de ouvido” a mergulhar na gramática normativa da língua portuguesa, onde podemos 8 observar em um pequeno sobrevoo, que para o aluno, advindo das classes menos abastardas, onde o ensino é deficiente e desestimulante e que, via de regra, já encontra um ambiente marginal em classe, por não ter tido o mesmo ensino nas séries do ensino fundamental do que seus pares advindos de situação socio econômica melhores. Deste modo, optou-se, por trazer os desafios do corpo docente e da família no contexto da aprendizagem da língua padrão, e trazer para dentro do campo social os excluídos pelo preconceito linguístico. Observa-se pelo ângulo dinâmico, que a norma padrão, então chamada de padronização linguística, pode ser entendida como um fenômeno regulador entre membros de uma comunidade linguística e a relação que esta tem com seu meio. A língua como se sabe, é tida como algo vivo, e em constante movimento e transformação. Como o uso linguístico padrão não tem valor inseparável, ele constantemente se aclimatiza em mudanças e novas necessidades, e isso em um movimento contínuo e retilíneo. A quem diga que a padronização da língua tem um viés excludente e, portanto, antagônico, pois, se, de um lado temos uma classe dominante do uso culto da língua, na outra ponta, temos os excluídos linguísticos, onde, todos usufruem da mesma gramática, mas com visões divergentes sobre o emaranhado de regras gramaticais, onde estes compreendem de forma mais objetiva, em detrimento daqueles, que apenas leem de forma rasa e pouco didática. Em meio a contemporaneidade, e ao advento da tecnologia, perdem-se princípios como: a bondade, o espirito de solidariedade, o senso de igualdade, o coletivismo e por conseguinte, a um estreitamento da capacidade de repulsa das pessoas em relação a isso. Por efeito dessa discrepância, criou-se um grande obstáculo em saber como educar os menos favorecidos na atual sociedade. A gramática normativa é um precioso caminho de recuperação desses princípios. Além é claro, de oportunizar, e resgatar o espirito de humanidade que fora perdido, ela é uma ponte eficaz para o desenvolvimento e inserção do público marginalizado quer seja na escrita, no vocabulário e, principalmente, na realocação do indivíduos na esfera social onde aqueles que por motivos diversos, não aprenderam de forma eficaz a base elementar da norma padrão da língua portuguesa, e que por isto são tidos como uma espécie de sub classe de falantes do idioma. Todavia, este cenário está em transformação, há um esforço contínuodos governos em propiciar (como um todo) um ensino de mais qualidade 9 no campo educacional; investimentos mais robustos e em novas abordagens educacionais nas séries iniciais do ensino fundamental, veem aumentando com o passar dos anos como apontam dados do MEC, investimentos estes também mostram que a distância entre o investimento na educação básica e na educação superior vem caindo. Em 2000, essa diferença era de 11 vezes, em 2008 caiu para 5,6 vezes, o que é muito próximo do patamar da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), que reúne os países ricos. O governo triplicou o orçamento do Ministério da Educação nos últimos oito anos, passando de R$ 17,4 bilhões em 2003 para R$ 51 bilhões em 2010. Se forem incluídos nesta conta os recursos da transferência do Fundo de Financiamento ao Estudante do Ensino Superior (Fies), do salário educação e da quarta parte do repasse estadual, o valor passa de R$ 19,1 bilhões em 2003 para R$ 59,1 bilhões em 2010. O valor do investimento por aluno evolui em todas as etapas da educação básica e se mantém estável na educação superior. O investimento por aluno, que era de R$ 1,6 mil em 2000, saltou para R$ 3 mil, e a meta é a de atingir R$ 3,5 mil. “O aumento de 0,8% do PIB (Produto Interno Bruto) foi todo destinado à educação básica.” portal.mec.gov.br/component/tags/tag/34580-investimento-em-educacao Destarte, observa-se que o exposto deste trabalho de curso, com a colaboração de autores renomados e fontes governamentais, reporta-se a um estudo de como alcançar formas sobre o melhor método de debater, posicionar, expor e apontar meios de estreitar essa lacuna que se criou entre os falantes da língua portuguesa no que tange a forma padrão. Este trabalho de curso foi desenvolvido de forma monográfica com colaboração de fontes externas, todavia, o ponto de vista, bem como as sugestões, indagações, apontamentos, reflexões, foi pensada no plano monocrático, optei por fazer uma análise acerca do binômio: questão-solução, onde de forma bem sucinta, busquei compreender que o esboço até aqui sobre a resolução de questões problemáticas, têm um viés mais didático do que apenas o apontamento da situação-problema propriamente dita. Esse trabalho foi pensado como um referencial, e desta forma, é claro por si só, não pode ser usado como fonte intrínseca para uma reflexão aprofundada sobre a abordagem do professor em sala de aula, bem como da sociedade como um todo. A intenção objetiva e de permitir o leitor a se posicionar não de forma global, pois, o tema é peculiar e contraditório, desta forma, o uso deste trabalho foi pensado de forma referencial em relação aos problemas expostos. 10 CAPÍTULO I 1 Discriminação e preconceito linguístico. O tema trago à baila abarca a questão do preconceito linguístico analisados sob uma ótica da sociolinguística e da análise do discurso, sendo assim, usa-se da palavra para convencer e criar uma ideia de que tudo vai bem ou de que o atributo ligado à qualidade existe, mas a averiguação é bem diferente do discurso. O balizamento acerca desse estudo, foi motivado pelo propósito de se verificar se há ou não hostilidade e preconceito das elites para com as camadas sociais desprotegidas que coabitam nas escolas públicas, se esse preconceito se materializa por meio da linguagem e se por meio da execução dos que controlam o sistema de ensino, procura-se manter esses indivíduos à margem de um crescimento real de qualidade no país. Diz-se que o “brasileiro não sabe Português” e que “Português é muito difícil”. Estes são alguns dos mitos que compõem um preconceito muito presente na cultura brasileira: o linguístico. Tudo por causa da confusão que se faz entre língua e gramática normativa (que não é a língua, mas só uma descrição parcial dela). Revista nova escola, 1999 edição maio P. 16 Sabemos que é inquestionável e estritamente importante aprender o correto uso da língua portuguesa, principalmente na sua norma padrão, e a melhor forma de “construir” o indivíduo dominante neste tema, sem sombra de dúvida é no ambiente escolar, com especial atenção nas séries iniciais do ensino fundamental, é fato sabido que a pessoa que domina a variante padrão, destacar-se-á em sua vida acadêmica, profissional e, até mesmo na sua jornada ordinária. 11 E é por essa razão, que se têm nas instituições acadêmicas, uma inquietação com o ensino da língua portuguesa na sua modalidade culta, em que é estabelecida nos meios oficiais. Não obstante, o que realmente aflige, não é a imposição de que se aprenda a norma padrão, mas que se discriminem as demais variedades linguísticas, que se posterguem as demais formas de discorrer à marginalização, unicamente por serem distintas. Essas práticas obscuras se nivelam e são tão sórdidas quanto qualquer tipo de segregação ou preconceito concebido pelo ser humano, como método de manter afastados os desiguais. É nesta forma ardilosa, e muitas vezes velada, que as camadas mais abastardas da sociedade desempenha seu poderio simbólico manejando a “plebe linguística”, para isso adotam toda uma narrativa positivista que nem sempre se revela em benesses para a casta menos favorecida e sem recursos da coletividade. Este mecanismo também é observado na escola que juntamente com a base da pirâmide social, igualmente é vítima e em sua metodologia acadêmica replica em mais vítimas que implicará em um círculo vicioso de criação e expansão de excluídos linguísticos. 1.2 ESTERIÓTIPOS Estereótipos e preconceitos (nesse caso o linguístico) são ideias preconcebidas e caricaturadas de uma pessoa ou grupo. Eles são via de regra negativos, e costumam ter consequências nefastas para a pessoa que é vitimizada por essa mazela. Aprender a identificá-los permite ao indivíduo e principalmente ao corpo acadêmico, reinserir os excluídos no meio escolar e na sociedade e, em uma visão macro, na sociedade como um todo. O preconceito linguístico de forma geral, pode afetar qualquer pessoa em qualquer momento da sua vida. É uma opinião que é construída unicamente a partir dos traços reais ou assumidos de caráter de uma pessoa ou grupo de pessoas. 12 O preconceito pode ser positivo ou negativo, mas em todos os casos é baseado nas características externas de uma pessoa, não em sua singularidade. Estereótipos e preconceitos, sejam positivos ou negativos, sempre têm impacto na pessoa que é vítima. No caso de estereótipos positivos, fortalecem os laços sociais através da ideia de pertencimento a um grupo; eles constroem confiança e identificaçãouns com os outros. E tão logo inserido neste grupo, é que geralmente a outra face da moeda é revelada, geralmente replicando o sentimento de repulsa, o que é traduzido por preconceito a quem não faz parte daquele meio. Estereótipos e preconceitos podem resultar em assédio, abuso ou violência psicológica. É de suma importância para a unidade da língua portuguesa, e erradicação do preconceito linguístico. O papel do professor deve ser o de protagonista; identificando, resgatando e criando meios os quais podem fazer com que o aluno não falante do chamado português oficial, venha a ter seu lugar respeitado em classe. Vale destacar que o problema é ainda maior do que se possa imaginar, existem muitas variáveis que criam, agravam e expande o preconceito linguístico, o desafio em um país de dimensões continentais como o Brasil, torna-o quase ou muito difícil extinguir o preconceito, o que pode ser um mero regionalismo para alguns falantes de determinada região brasileira, pode ser tido como algo estranho e causar repulsa noutras. Bagno já mencionou na sua obra “Preconceito linguístico: como é, como se faz” 49ª, 2007 P. 15, que mesmos intelectuais renomados na área do ensino como Darcy Ribeiro, já cometeram erros em pautar a unidade da língua portuguesa no Brasil, como podemos observar em um trecho de sua autoria: É de assinalar que, apesar de feitos pela fusão de matrizes tão diferenciadas, os brasileiros são, hoje, um dos povos mais homogêneos linguística e culturalmente e também um dos mais integrados socialmente da Terra. Falam uma mesma língua, sem dialetos. Folha de S. Paulo, 5/2/95. 1.3 Falha no acesso à educação 13 Sabe-se que o acesso ao ensino de qualidade no país é prerrogativa de uma parcela de privilegiados, somado a um sistema educacional não homogêneo, cria-se um cenário perfeito de sub classes de falantes distintos da língua portuguesa padrão, excluindo assim uma parcela significativa de brasileiros que perdura à margem da supremacia da norma padrão. destarte, de modo semelhante como existem milhões de brasileiros sem terra, sem escola, sem teto, sem trabalho, sem saúde, também existem milhões de brasileiros sem língua. Acredita-se igualmente que por trás desse preconceito as outras variantes linguísticas há um preconceito social, que abrange a etnia, a cor, a sexualidade e que considera a questão monetária como uma propriedade para um alto grau de destaque na sociedade, assim dizendo, são preconceitos “materializados pela linguagem” Leite (2008, p. 17). Busca-se, por conseguinte, ao longo deste trabalho, delinear como o preconceito é um fato bastante nítido e vivenciado dentro das instituições de ensino de todo o país por estas retratarem o que ocorre na sociedade. O ambiente escolar deve ter o papel de sociabilizar o indivíduo, propiciando que as variações linguísticas de cada cidadão não tenham uma ingerência nas práticas sociais de cada um. Não obstante, na prática, não é o que ocorre, pois sempre têm os que dominam a norma padrão e a educação direcionando os alunos das escolas públicas para chegarem em status sociais de ante mão selecionados É notório que, se acreditarmos na narrativa da língua exclusiva, encontram-se milhões de pessoas no país que não têm acesso a essa língua, que é usada à exaustão no regramento literário, escrita culta e também exercida pelos acadêmicos de forma geral, pelas instituições oficiais, pelos órgãos do poder: são os excluídos. Nesse contexto é importante salientar que a língua portuguesa, assim como outras, está sempre se modificando ao longo do tempo e do espaço geográfico. Ela absorve novas palavras, assume gírias e, de tanto ser usada, pode até contrair expressões. Isso acontece a todo momento, mesmo que de forma imperceptível. Um país grande como o Brasil contém diferentes formas de se falar o português, com regionalismos que podem causar ruídos na comunicação, quando saem de seus estados de origem. Problemas à vista ou sinal de riqueza linguística? “Palavras como “escanear”, “deletar”, “mouse” não estão causando nenhum problema para a língua 14 portuguesa.” Pois, embora seja palavras “aportuguesadas” seu entendimento é bem simples e bastante usual no cotidiano. Pode-se concluir até o momento, que a população sem alfabetização escolar, portanto, não pode usar essa mesma variante linguística para se comunicar, muito embora, entre eles haja uma perfeita comunicação em que se entendem de forma coerente, harmônica e sem adversidade. É correto afirmar que essa variação não padrão existe, e já não deve subsistir à margem da comunidade como se nada representasse. Tem que ser respeitada no indivíduo que aspira saberes acadêmicos, pois não há intenção de desrespeito ou menosprezo do cidadão que usa a língua não padrão para com os ditos conhecedores da norma. O que há, é o direito universal dos seres humanos em se comunicar e essa comunicação tem funcionado muito bem até o dado momento em questão. CAPÍTULO II 2 Materialização no campo ideológico como forma de dominação e poder. O dilema do discurso é significativo para que se perceba como a classe predominante tem usado a linguagem para manobrar e se impor à massa sem que, muitas vezes, esse ato de predomínio seja se quer percebido. O domínio ideológico é fato concreto, e se esconde por trás dos símbolos. Num sentido abrangente, sem entrar no mérito da dominação, podemos comprovar os símbolos presentes na sociedade em todos os seus recônditos e aí, poderíamos citar como exemplo o pão e o vinho para os cristãos simbolizando a morte de Cristo, as armas simbolizando o exército ou uma mulher com uma venda e uma balança simbolizando a justiça. Esses símbolos per si nada dizem, mas utilizados pelo homem forma consciência, 15 pois a ideologia surge no meio e dos signos, "da interação semiótica de um grupo social" Bakhtin, (2010, p. 36) Para o autor, a palavra, além de constituir o mais puro signo ideológico no estabelecimento e manutenção das relações sociais, ainda serve de suporte para todo signo não-verbal, sendo eles também entendidos como signos ideológicos. Temos, pois, que todo signo - verbal ou não – só existe enquanto tal devido à carga ideológica que comporta, de forma a tornar possível tanto a formação das subjetividades, quanto os processos de interação humana. Segundo o autor: A palavra acompanha e comenta todo ato ideológico. Os processos de compreensão de todos os fenômenos ideológicos (um quadro, uma peça musical, um ritual ou um comportamento humano) não podem operar sem a participação do discurso interior. Todas as manifestações da criação ideológica – todos os signos não-verbais – banham-se no discurso e não podem ser nem totalmente isoladas nem totalmente separadas dele. (Bakhtin 1997, p. 37) Quanto á sociedade que é necessária para que haja comunicação, sabe-se que não existeapenas uma sociedade, mas “sociedades” e que estas produzem seu próprio conceito de ideologia, por outra, sua própria ideologia, por conseguinte cria e recria sua própria linguagem por ser a língua dinâmica e viva que cada época assume formas e significados diferentes. Analisando a língua sob um olhar histórico, percebemos este fato e fica claro que não se pode deter a fala. Esta muda com o passar do tempo e este fenômeno nem sempre é notado pelo indivíduo, só sendo percebido mais tarde em outro momento. É a chamada sincronia e diacronia há muito estudada por Saussure. Este se prendeu ao estudo sincrônico abrindo mão das questões diacrônicas. No entanto é bom lembrar que nem por isso descartou-as como 16 sem valor, apenas priorizou a língua a fala e a sincronia à diacronia. Citando essa escolha de Saussure, Bakhtin comenta: “Destaquemos esta tese fundamental de Saussure: a língua se opõe à fala como o social ao individual. A fala é, assim, absolutamente individual.” (2010, p. 88). Portanto uma observação incisiva e pontual que confirma o que é observável às claras na obra de Saussure. Porém é bom lembrar que "a fala, com seu caráter individual e acidental, é soberana; razão pela qual é regida por leis completamente diferentes das que regem o sistema da língua." Bakhtin (2010, p. 90). Não se pode, portanto, querer a língua imutável, parada no tempo, pois toda norma, todo sistema está sempre em transformação. Um sistema de escrita já não é o que era em algum tempo que passou e quando escrevo, o que escrevo já se encontra em transformação. Ao chegar às mãos de outro para leitura se transformará mais ainda e quanto mais o tempo decorrer mais estará transformado estes escritos. Conforme Bakhtin (2010, p. 94): Todo sistema de normas sociais encontra-se numa posição análoga; somente existe relacionado à consciência subjetiva dos indivíduos que participam da coletividade regida por essas normas. São assim os sistemas de normas morais, jurídicas, estéticas (tais normas realmente existem), etc. Certamente, essas normas variam. Portanto, uma imposição de uma língua padrão onde já se percebe que há confrontos ideológicos dentro de uma mesma sociedade sendo que nessa sociedade percebe-se uma divisão de classes que criam o seu mundo, seus gostos e sua linguagem. Diante de uma imposição de uma classe sobre outra há automaticamente uma reação contrária o que é absolutamente normal em todas as esferas humanas, pois toda ação gera uma reação. 17 2.1 O uso da norma padrão da língua como forma de poder e dominação. Considerando que a língua, na visão de Bakthin, é um fato social e que sua existência ocorre devido à necessidade de comunicação, vamos considerar a questão da dominação e poder que é exercido por uma determinada classe da sociedade que cria todo um sistema ideológico visando esse controle e a cria porque a palavra é o signo ideológico por natureza "por isso é o lugar privilegiado para a manifestação da ideologia; retrata as diferentes formas de significar a realidade, segundo vozes e pontos de vista daqueles que a empregam." Brandão (2011, p. 9). Então torna-se possível à elite exercer seu poder sobre as demais classes sociais. Por meio da língua há uma imposição de status que ocorre por meio da gramática normativa, pois, esta é tida como única fonte do bem falar. Dessa forma a elite exerce toda a sua coerção sobre os que vivem à margem da sociedade. E isso, como já dito reflete na escola. Ademais quando uma ideologia é imposta a uma classe social por meio de um discurso falso e autoritário verifica-se a desumanização do ser humano que é tratado como objeto tornando-se usado como se coisas fossem colaborando obviamente para uma crescente desumanização também das relações sociais. Passa-se a não considerar o outro e impera mais uma vez o interesse capitalista que dita as normas econômicas e de poder. Tudo que for possível será feito para que se alcance o maior e mais amplo espaço de dominação e o poder simbólico é peça fundamental nesse intento. E é por não querer perder o poder de dominação que a classe dominante usa todas as possibilidades possíveis oferecidas pela língua como por exemplo a polifonia como afirma Voese: Pode-se também entender a polifonia como o reflexo de uma das dimensões da estrutura social e que diz respeito ao conflito que leva os indivíduos a manterem a integridade do grupo, zelando e reforçando as características de um modo de enunciar através não só da reprodução de um ethos, como também da incorporação estratégica de enunciados de segmentos sociais conflitantes, atividade em que a realidade social, de um certo modo, orientará as escolhas do indivíduo quanto aos itens lexicais, modalizações, operações argumentativas, gêneros, estilo etc. Voese (2004, p. 49). 18 Dessa forma, o grupo dominante, por não querer perder o status que ocupa não permitirá que o restante da sociedade faça parte do seu ciclo, nem mesmo na linguagem. A liberdade de expressão tão aclamada entre os indivíduos de uma sociedade democrática é perdida de maneira substancial quando percebemos o quanto a classe dominada pelas elites se atém às semióticas dominantes a ponto de perder, muito cedo, toda e qualquer verdadeira liberdade de expressão. Tudo que é produzido pelo mundo capitalista quer nos chegue pela família, pelos equipamentos culturais que nos rodeiam ou pela linguagem está diretamente ligada entre as grandes máquinas de dominação mundial e propagandas corporativistas que buscam o domínio por meio das ideias, das ideologias. A classe dominante, então expressa-se por meio de discursos que permeiam a massa todos os dias e de diversas maneiras para que haja um convencimento geral de que o que se faz é o melhor para a classe desfavorecida economicamente inclusive no meio educacional. Para engendrar por esse caminho pernicioso e maquiavélico das elites se faz necessário então a Análise do Discurso que tem como definição na concepção de Orlandi (2012, p. 15): A Análise de Discurso, como seu próprio nome indica, não trata da língua, não trata da gramática, embora todas essas coisas lhe interessem. Ela trata do discurso. E a palavra discurso, etimologicamente, tem em si a ideia de curso, de percurso, de movimento, prática de linguagem: com o estudo do discurso observa-se o homem falando. A linguagem como meio de manifestação da ideologia é usada pelas elites para dominação das massas e como a escola reflete o que se processa na sociedade também ela não foge a essa dominação. É importante lembrar que a própria escola é vítima de dominação, mas que essa dominação ocorre de cima para baixo e muitas vezes nem é percebida pelos estudantes, professores e demais funcionários. Contribui para essa forma de educação o sistema liberal de governo que se prende totalmente a questões financeira e visa o lucro em um país capitalista. Dessa forma o discurso por uma educação de qualidade mais uma vez é anunciado, mas a necessidade de controlar as massas selecionando os melhores19 permanece o que inviabiliza a qualidade como um todo. E para que essa ideologia seja aceita como algo normal é necessário que a ideia das elites se torne lugar comum entre as massas, pois do contrário poderia haver manifestações contrárias. Chega-se então às concepções marxista de que a ideologia nada mais é do que "um instrumento de dominação de classe porque a classe dominante faz com que suas ideias passem a ser ideias de todos." Brandão (2011, p. 11). 2.2 O Papel da gramática normativa. O ser humano possui a capacidade incrível da palavra que é ainda mais fantástica quando associamos a isso a habilidade de ler e escrever que torna "possível a ligação entre tempos, espaços e relacionamentos". Gomes (2007, p. 17). No entanto algo que acontece naturalmente e serve para a convivência e interação humana e que deveria ser respeitada, não poucas vezes é usada como arma para com o próprio ser humano, que descobrindo o poder do discurso e as possibilidades infindáveis possibilitadas pela língua a usa como meio de manobra e dominação. Também é necessário para a classe que exerce o poder dominar a mente e as vontades dos dominados além do domínio social. Clara está, portanto, que nos referimos às "condições cognitivas [...] tais como desejos, planos e crenças." VanDijk (2008, p. 41), que podem ser exercidos com mais altivez pela classe dominante se houver o controle por meio do poder simbólico. De acordo com VanDijk (2008, p. 47): Dado que elites simbólicas detêm um grande controle sobre o modo de influência exercida por meio dos gêneros, dos tópicos, das argumentações, dos estilos, da retórica ou da apresentação da escrita e da ala públicas, o poder simbólico delas considerável, embora exercido dentro de um conjunto de limitações. 20 A fala e a escrita não são exceções nesse emaranhado de domínio e poder, mas são elementos essenciais para o controle simbólico do qual não quer abrir mão as elites. E o início desse domínio se dá na escola. A elite procura fazer no meio escolar o mesmo que faz no meio social não educacional que é manter o controle do ensino e, consequentemente, dos estudantes que na escola entram. Utilizam-se dos livros didáticos, dos materiais de ensino e de toda estrutura possível da escola para dominar chegando mesmo aos professores que às vezes inconscientemente reproduzem os discursos da elite colaborando para um controle mais eficiente. Claro que o discurso de quem domina é o da melhoria e o constrangimento global força no sentido de que se pense a educação em termos de qualidade, mas na prática não é o que acontece e os investimentos não alcançam seus objetivos. O discurso é incoerente com a prática. E os que frequentam as escolas, principalmente as escolas públicas, não veem as tão desejadas qualidades chegarem. O que há de fato são investimentos maciços no sentido de ludibriar com propagandas e farto material que tratam do sistema de ensino, da pedagogia, da língua padrão. Sempre no intuito de convencer o público e os que atuam na área de que o percurso feito e por fazer da educação está correto e têm trazido bons frutos. Conforme VanDijk (2008, p. 51): No setor educacional, o constrangimento global no sentido de evitar questões "polêmicas", censura as opiniões sociais e políticas mais radicais, inconsistentes com as ideologias sociopolíticas dominantes. Mais concretamente, as organizações oficiais ou as empresas podem fornecer materiais educacionais gratuitos, peças de propaganda em revistas sobre pedagogia, ou dispor de outras formas para influenciar os professores e o conteúdo dos textos didáticos. Dessa forma mantem-se um controle já no início da vida estudantil do aluno por meio daqueles que deveriam ser exatamente o oposto de pessoas dominadas. Pelo fato da fala e escrita serem poderosas para um controle mais eficiente a questão do controle por meio do discurso torna-se atuante em toda sua inteireza no meio educacional. 21 Embora existam vários tipos de discurso que proliferam em meio à sociedade é importante para essa exposição que se refira ao discurso educacional que surge por meio dos livros didáticos que, por ter uma enorme capacidade de penetração atinge uma capacidade muito grande de exercer o poder, pois todos os cidadãos ou pelo menos a maioria sofre um processo de educação formal, pois o conhecimento e as atitudes manifestados e transmitidos por esse material pedagógico, mais uma vez, refletem o consenso dominante, quando não interesses dos grupos e instituições mais poderosos da sociedade. Ou seja, é mais uma vez o poder das elites que é manifestado nos livros didáticos para que, dessa forma, dominem o público estudantil moldando-os à sua imagem e semelhança e mantendo-os de acordo com sua vontade. Quanto ao debate ou crítica que poderiam advir em sala de aula é minimizada ou censurada de uma vez. É bem verdade que o que se deseja com o ensino de língua portuguesa é que haja uma boa comunicação entre quem fala e quem ouve, ou seja, há uma boa intenção em quem ensina o português. Aquele que ensina, no entanto, segue os ditames organizados em livros didáticos e estes nem sempre são organizados de maneira a que o aluno consiga ter uma ideia do todo. Mas por que, embora tenha-se debatido tanto o assunto concernente à melhor forma de ensinar língua portuguesa, não se adota os resultados positivos concluídos nas academias é uma incógnita. Prova irrefutável de que as pesquisas nas academias se tornam acúmulos de conhecimentos que na prática não chegam àqueles que poderiam se beneficiar com elas. CAPÍTULO III 3. Abordagem do PCN sob a ótica do preconceito linguístico. Os Parâmetros Curriculares Nacional, são orientações que existem por força de lei, tendo em vista que surgiram para “atender ao disposto na Constituição Federal de 1988, que estabelece a criação de um “currículo mínimo nacional” (Marinho (2007, p.77). 22 Logo no início do PCN destinado à Língua Portuguesa, na apresentação, somos informados que "o respeito à diversidade é o principal eixo da proposta e, para a área, não poderia ser diferente: as indicações deste documento procurarão ser coerentes com os princípios legais" PCN (2010, p. 4). O que já podemos entender como um respeito ao direito do outro de ser diferente. Dessa forma é que entendemos a linguagem e a consideramos como a principal fonte de comunicação, de interação humana. Tentar diminuir isso é causar um ato de violência contra o ser humano é tirar-lhe a principal fonte de expressão. Considerando esse ponto de vista que não é consenso na sociedade, pois temos uma classe dominante que não considera as demais variantes linguísticas, é que torna-se louvável a absorção nos PCN de informações que afirmam ser a linguagem um importante fator de interação como neste tópico: "Não há linguagem no vazio, seu grande objetivo é a interação, a comunicaçãocom o outro, dentro de um espaço social, como, por exemplo, a língua, produto humano e social [...]. PCN (2010, p.5). Portanto, uma afirmação que solidifica o fato de ser a língua um importante meio de interação humana. Também deve-se considerara que a sociedade igualitária é um mito e que essa desigualdade social é refletida nas escolas e absorvidas por quem a frequenta. Fica porém evidente, ao analisar os PCN, que estes avançaram em sua abordagem referente à linguagem e que o campo de atuação dos professores nas escolas se tornaram mais abrangentes com possibilidades de discussão das demais variações linguísticas, questões sociais, políticas e familiares. A realidade social de quem estuda passou a ser levada em conta não ficando os PCN presos tão somente a questões atinentes à esfera elitista da sociedade. Os PCN alertam, por exemplo, para o fato de que o homem transforma os espaços em que vive e afirma que a linguagem é um reduto de possibilidades: Nas práticas sociais, o homem cria a linguagem verbal, a fala. Na e com a linguagem, o homem reproduz e transforma espaços produtivos. A linguagem verbal é um sementeiro infinito de possibilidades de seleção e confrontos entre os agentes sociais coletivos. A linguagem verbal é um dos meios que homem possui para representar, organizar e transmitir de forma específica o pensamento. PCN (2010, p. 5). 23 Nada mais coerente com a realidade em que se vive no momento, tendo em vista que, querendo ou não a criação verbal das massas aí está para provar que existe a diversidade e que ela deve ser aceita e não ignorada. Ademais isso indica uma mudança de postura dos órgãos oficiais envolvidos com a educação que "se deram conta da necessidade de mudar os conceitos de língua vigentes nas nossas escolas e na nossa cultura." Bagno (2002, p. 25). Então o que podemos perceber é que há um novo tratamento para o ensino de língua portuguesa estando os PCN buscando uma sintonização mais adequada e propondo conteúdos mais antenados com os estudos linguísticos quer seja oferecendo conteúdo mais de acordo com a realidade local e da escola, quer seja oferecendo uma linguagem mais de acordo com a realidade social do aluno. Não há, no entanto, uma fuga do ensino da língua padrão que deve ser considerada, pois é a que molda e norte ia qualquer pretensão de ascensão além de ser o padrão oficializado no país. No entanto é sempre bom que se alerte para o que é desejável e o que é praticável no país, pois o que ocorre é bem diferente na prática. Percebe-se, por exemplo, uma dificuldade dos professores em colocar todas essas questões em prática ficando toda essa retórica somente no papel. A escola pública, principalmente ela, fica relegada a segundo plano e constata-se, sem grandes esforços, um fracasso demasiado na educação. Tem-se boas leis, bons planos didáticos, mas quando chega o momento de colocá-los em prática os objetivos qualitativos não são alcançados e com os PCNS não é diferente, pois os resultados obtidos em sala de aula não correspondem à qualidade desejável na educação. Questiona-se então o fato do porque os PCNS estarem tão interessados na diversidade e no pluralismo linguístico. Que fatores levaram os gestores da educação perceberem que mais do que gramática é necessário imbuir o aluno, usando o ensino de língua portuguesa, de uma conscientização do mundo em que vive e da sociedade que o rodeia De acordo com Marinho: É importante interrogar, por exemplo, neste momento da história da educação no Brasil, que razões explicariam um maior interesse tanto pelo estabelecimento e controle do currículo formal, por parte dos gestores da educação, quanto pelo crescimento dos estudos nesse campo. E esse interesse reaparece, particularmente, num momento em que se volta também para o estudo das disciplinas escolares enquanto práticas culturais e em que se reivindicam a diversidade, o respeito e o favorecimento das diferenças. Marinho (2007, p. 81). 24 Outra questão que lança dúvidas sobre as boas intenções que podem ser lidas nos PCNs é que o MEC lança as propostas fundamentadas nos estudos científicos feitos nas Academias, ou seja, os conhecimentos acadêmicos são utilizados, quem se sobressai é o MEC enquanto sujeito jurídico na empreitada. Isso deixa como que um ar de algo armado em que o próprio MEC não acredita e que aparecerá nos textos apenas como algo direcionado pelos que, de fato, estudam, mas que na prática se tomará inviável em todas as suas nuances. Assim, mais uma vez toma-se oportuna as palavras de Marinho quando afirma que "Os autores (se considerados enquanto os sujeitos que escrevem o texto) não tem o estatuo jurídico dessa categoria - apenas produzem o discurso para a instituição que representam: o MEC, autor jurídico." Marinho (2007, p. 192). Vê-se assim que há um uso dos conhecimentos dos autores, mas não uma garantia de que de fato seu uso não se dará mais intensivamente como algo político e adequado ao momento. Não foge à regra, portanto, de qualquer outro aparato que o estado usa para controlar as massas de forma ideológica utilizando para isso a escola. A diferença é que agora os meios são mais sofisticados pois tomou-se o cuidado de manter os pesquisadores ao lado do estado utilizando-os a partir dos seus trabalhos científicos sem, no entanto, fazê- los ativamente conhecidos. É bem verdade que no final das obras que tratam dos PCNs há uma bibliografia dos autores que foram referências para a pesquisa e conclusão do trabalho, mas é certo que o envolvimento dos professores das escolas públicas nessa questão é pequena, pois o próprio tempo para pesquisa que lhes resta não permite tal atitude. Portanto o questionamento por meio da leitura das obras citadas é muito baixo. As críticas, portanto, resumem-se aos conhecimentos enciclopédicos que o professor eventualmente tenha e sua ressonância, com certeza, será bem limitada. Quanto aos questionamentos que poderiam advir dos leitores não especializados são praticamente nulos, pois, "aponta o seu papel de 'formigueiro laborioso e agressivo', para o especialista, e de 'sistema fixo e intangível', para o leitor não especializado." Marinho (2007, p. 196-97). Mais uma vez tem-se, como já dito um discurso que não corresponde à realidade da educação no país e que de maneira velada esconde toda uma discriminação, pois mostra uma realidade de igualdade, diversidade e compreensão que não é manifesta na prática e que não há interesse nenhum dos dirigentes políticos, governamentais e gestores da educação fazer cumprir. E não faz cumprir porque não há interesse nas opiniões da classe marginalizada do 25 país. É lhes dado escola e enche-se as salas de aula de alunos, mas não se leva em conta a qualidade do ensino. O importante é que o Brasil está quantitativamente com muitos alunos na escola, a qualidade se discute depois, já está no papel e isso é um grande passo aos olhos dos gestores da educação. Considerando o Brasil podemos afirmar que há o preconceito devido à cor, à religião, a questões sexuais e a classes sociais. Embora isso não seja aceitável essa é a verdadeira questão social no Brasil. Esses são os verdadeiros motivos da exclusão social no país. É palpável a falta de interesse da classe dominante em resolver esses problemas e quando o fazem é de forma escassae a conta gotas. Por isso quando um aluno que possui todos ou algum dos problemas, acima chega à escola é discriminado. Do preconceito, que surge sem nenhuma formalização, sem nenhuma base cientifica em que se apoiar, é que se chega à discriminação do indivíduo que, vítima de tal processo, se recolhe permanecendo à margem da sociedade ou, no caso da escola, não participa de maneira efetiva a ponto de adquirir ou considerar o conhecimento e o aprendizado como algo sem importância ou inatingível de forma que pouco ou nada contribuirá para o seu crescimento social e profissional. A escola já o relegou à incapacidade, já o sentenciou à incompetência. Diante do exposto, pode-se concluir que a erradicação do chamado preconceito linguístico, é um caminho ainda longo, que depende não só de políticas afirmativas de inclusão por parte do poder público, mas do esforço conjunto da sociedade como um todo. 26 REFERÊNCIAS BAGNO, Marcos. A norma oculta: língua e poder na sociedade brasileira. São Paulo: Parábola, 2003 ----Não é errado falar assim! em defesa do português brasileiro. São Paulo: Parábola, 2010. ---- Português brasileiro? um convite à pesquisa. São Paulo: Parábola, 2002. ----Preconceito linguístico: o que é, como se faz. São Paulo: Loyola, 2003. BAKHTIN, Mikhail. Marxismo e filosofia da linguagem. São Paulo: Hucitec, 2010. BRANDÃO, Helena H. Nagamine. Introdução à análise do discurso. Campinas, SP: Unicamp, 2004. LEITE, Marli Quadros. Preconceito e intolerância na linguagem. São Paulo: Contexto, 2008. ORLANDI, Eni Puccinelli. Análise de discurso: princípios e procedimentos. Campinas, SP: Pontes Editores, 2012. VOESE, Ingo. Análise do discurso e o ensino de língua portuguesa. São Paulo: Cortez, 2004. PARAMETROS CURRICULARES NACIONAIS: ensino médio / Ministério da Educação, Secretaria de Educação Média e Tecnológica - Brasília: 2002
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