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UNIVERSIDADE PAULISTA- UNIP EAD 
 
 
 
 PROJETO DE PESQUISA APRESENTADO À UNIP INTERATIVA 
 
 
 
 GILSON DINIZ VIEIRA 1875538 
 
 
 
 
DESAFIOS DO ENSINO GRAMATICAL PADRÃO EM SALA DE AULA E O 
PAPEL DO PROFESSOR SOB A ÓTICA DO PRECONCEITO LINGUÍSTICO 
 
 
 
 
 
 
 
Brasília – DF 
2020 
 
 
 
GILSON DINIZ VIEIRA 1875538 
 
 
 
 
 
 
DESAFIOS DO ENSINO GRAMATICAL PADRÃO EM SALA DE AULA E O 
PAPEL DO PROFESSOR SOB A ÓTICA DO PRECONCEITO LINGUÍSTICO 
 
 
 
 
 
 Projeto de trabalho apresentado à 
 Unip interativa polo Sudoeste DF 
 curso de Letras/Português como 
 requisito para a elaboração de TC 
 
 
 
 
 
Brasília – DF 
2020 
 GILSON DINIZ VIEIRA 1875538 
 
 
 
 
 
 
DESAFIOS DO ENSINO GRAMATICAL PADRÃO EM SALA DE AULA E O 
PAPEL DO PROFESSOR SOB A ÓTICA DO PRECONCEITO LINGUÍSTICO 
 
 
Trabalho monográfico apresentado sob a forma de trabalho de curso como requisito para 
graduação (licenciatura) em Letras/Português à Universidade Paulista UNIP EaD 
Professora orientadora: Fabiana Freire 
 
 
 
 
Conceito final: 
 
Data da avaliação: 
 
Professores avaliadores: 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Dedico esse trabalho primeiramente à 
Deus, pois, sem Ele, nada seria, a 
minha família, a todos os professores 
do curso, a minha orientadora e a todos 
que de alguma forma contribuíram para 
que esse projeto se realizasse. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 Agradeço a todos os professores e amigos o carinho e ajuda dispensados. Em especial 
agradeço a Deus que me concedeu durante todo esse período força e perseverança para a 
realização deste trabalho. 
 Menções honrosas também a toda equipe de funcionários da universidade paulista, 
dentre os quais, o pessoal de apoio, pois, sem eles, não seria possível o encaminhamento de 
dúvidas e sugestões ao corpo docente para a conclusão do referido trabalho de curso. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Deus é nosso refúgio e 
fortaleza, socorro bem presente 
na angústia. 
 
Salmo 46,1 
 
 
 
 
 
 
RESUMO 
 
 
 
 Partindo do pressuposto que nem todos têm acesso à educação de forma homogênea na 
rede educacional, ainda mais, em se tratando de um país de dimensões continentais como o 
Brasil, é notório que a diversificação da língua portuguesa é uma realidade em que podemos 
observar de maneira bem contundente, basta andarmos um pouco pelas grandes metrópoles, 
que encontramos formas bem distintas da língua portuguesa sobre um mesmo tema tratado, 
conversado, ou nomeando um item, lugar, etc. o que acaba por contribuir pra um movimento 
que vem ganhando infelizmente força, o chamado preconceito linguístico. 
 Este trabalho foi concebido buscando saber se os alunos da rede pública são vítimas de 
preconceitos relacionados à pluralidade da língua portuguesa que já trazem do seu meio 
social e familiar e se o preconceito praticado sobre esses alunos trazem em seu bojo, outros 
preconceitos que se caracterizam por preterir esses alunos à uma educação sem atributos 
didáticos e manipulado de tal forma que haja um domínio das elites não só na questão 
linguística, mas também na vida social desses alunos. É nesse sentido que este estudo tem 
por objetivo principal, analisar se há preconceito social e linguístico no ensino da língua 
portuguesa na sua variante padrão. Também procuramos destacar o papel do professor nesse 
contexto, e de como o corpo docente, pode trabalhar esse aluno que fora “excluído”. 
 
Palavras chaves: preconceito, língua portuguesa, diversidade, exclusão. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
ABSTRACT 
 
 Assuming that not everyone has access to education homogeneously in the educational 
network, even more, when it comes to a country of continental dimensions such as Brazil it 
is notorious that the diversification of the Portuguese language is a reality in which we can 
observe in a very blunt way, just walk a little through the great metropolises, that we find 
very different forms of the Portuguese language on the same theme treated, talked about, or 
naming an item, place, etc. which ends up contributing to a movement that has 
unfortunately gained strength, the called linguistic prejudice. 
 This work was conceived seeking to know if the students of the public network are 
victims of prejudices related to the plurality of the Portuguese language that already bring 
from their social and family environment and if the prejudice practiced on these students 
bring in their bulge, other prejudices that are characterized by depree these students to an 
education without didactic attributes and manipulated in such a way that there is a domain 
of elites not only in the linguistic issue , but also in the social life of these students. It is in 
this sense that this study has as its main objective to analyze whether there is social and 
linguistic prejudice in the teaching of the Portuguese language in its standard variant. We 
also try to highlight the role of the teacher in this context, and how the faculty can work 
this student who had been "excluded". 
 
 
Keywords: prejudice, Portuguese, language, diversity, exclusion. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
SUMÁRIO 
 
INTRODUÇÃO............................................................................................... 6 
 Objetivos .........................................................................................................7 
 CAPÍTULO I..................................................................................................10 
1 Discriminação e preconceitos linguísticos. 
1.2 Estereótipos................................................................................................11 
1.3 Falha no acesso à educação........................................................................13 
CAPÍTULO II..................................................................................................14 
2. Materialização no campo ideológico como forma de dominação e poder. 
2.2 O papel da gramática normativa.................................................................19 
CAPÍTULO III..................................................................................................21 
3. Abordagem do PCN sob a ótica do preconceito linguístico 
Referências........................................................................................................266 
 
 
 
INTRODUÇÃO 
 
 O substantivo masculino preconceito (linguístico) indica uma ideia ou opinião 
antecipada, preconcebida sem um conhecimento, análise ou reflexão sobre o assunto, sendo 
sinônimo de prejuízo e prejulgamento. Esse é o tema central deste TC, cujo elementos que 
influenciam este espinhoso tema será dissecado nos capítulos que se seguirão. 
 Optou-se por meio do tema em suma, expor o problema existente nos falantes da língua 
portuguesa, o chamado: preconceito linguístico, e de maneira bem sucinta, pode-se dizer que 
esse preconceito, advém em parte, do próprio seio escolar, e que vem favorecer os falantes 
da chamada língua padrão, este prejulgamento se mantém ativo por meio de ideologias das 
elites e, que se processa utilizando um discurso às vezes claro e compreensível, e outras 
vezes velado e discreto, mas sempre com a intenção de subjugar as demais variações 
linguísticas, como se saber a norma culta, fosse sinônimo de superioridade e o não saber, 
fizesse do outro um indivíduo desprezível como afirma Bagno (2009, p.29) 
 É esse o discurso, muitas vezes não explicitado, 
oculto na atitude quem se vale de seu conhecimento da 
gramática normativa como um instrumento de distinção, 
como se saber a regência “correta” do verbo implicar, 
implicasse em algum tipo de vantagem, de superioridade 
intelectual, de senha secreta para o ingresso num círculo 
de privilegiados. 
 
 
 No campo de estudos linguísticos, a discussão sobre diferentes concepções de gramática 
já vem sendo feita há um tempo considerável e, no contexto do ensino da língua portuguesa 
no Brasil, a discussão sobre o ensino da gramática também não é recente. Questionam-se 
posições, apresentam-se novas soluções, formulam-se novas concepções, descartam-se (ou 
revalorizam-se) modelos antigos. O tema continua vivo entre autores e pesquisadores e, 
muitas vezes, com visões radicalmente diferentes. Entretanto, uma posição pelo menos vem 
se mostrando quase que consensual entre eles; questiona-se a crença de que aprender o modo 
 7 
padrão da língua, significa aprender regras gramaticais fixas e termos técnicos 
 
OBJETIVOS 
 O objetivo geral desse trabalho de curso, é fazer uma análise dos desafios do ensino da 
gramática normativa em classe, e da aplicabilidade de outros métodos no que tange formas 
alternativas de aprendizagem, afim de incluir o aluno vitimizado pelo preconceito 
linguístico, bem como analisar o papel do professor no contexto à situação exposta. O tema 
aludido, engloba a questão do preconceito linguístico, observado sob uma ótica da 
sociolinguística e da análise do discurso, pois, entende-se que: “Tudo que é ideológico possui 
um significado e remete a algo situado fora de si mesmo. Em outros termos, tudo que é 
ideológico é um signo. Sem signos não existe ideologia.” Bakhtin (2010, p.31) 
 São objetivos específicos desse trabalho; expor o problema do aluno e dos falantes em 
geral de língua portuguesa, que são subjugados e depreciados pelo uso coloquial da língua 
em detrimento dos falantes da chamada língua padrão; Compreender o papel atenuante do 
professor no aluno vitimizado, pelo preconceito linguístico; Apontar caminhos onde os 
alunos possam ser encorajados a seguir o aprendizado da língua padrão, sem, contudo, 
constranger ou oprimir o discente, estimulando-o sempre. 
 O tema central escolhido é de suma importância na atualidade, pois, é através de uma 
comunicação clara e sem atalhos gramaticais, que somos vistos de forma bem sucinta no 
meio em que vivemos, sabemos do peso que a comunicação objetiva exerce no trabalho os 
quais escolhemos, ou fomos escolhidos, sabe-se que a maneira como falamos o idioma 
português padrão, abrirá ou fechará oportunidades nas mais diversas áreas da vida, todavia, 
como já exposto na introdução, o ensino de qualidade não atinge a todos de forma igual, daí 
começam os problemas que perdurará na vida dessa pessoa, com mais contundência , o 
problema enfrentado pelos não falantes da forma não padrão, é à exclusão social e o 
preconceito diário enfrentado por essa pessoa. 
 Provavelmente é mais fácil aprender a língua padrão, em um sistema de linguagens 
baseado tão somente em princípios abstratos, ou em regras relacionadas à comunicação “de 
ouvido” a mergulhar na gramática normativa da língua portuguesa, onde podemos 
 
 8 
 observar em um pequeno sobrevoo, que para o aluno, advindo das classes menos abastardas, 
onde o ensino é deficiente e desestimulante e que, via de regra, já encontra um ambiente 
marginal em classe, por não ter tido o mesmo ensino nas séries do ensino fundamental do 
que seus pares advindos de situação socio econômica melhores. 
 Deste modo, optou-se, por trazer os desafios do corpo docente e da família no contexto 
da aprendizagem da língua padrão, e trazer para dentro do campo social os excluídos pelo 
preconceito linguístico. Observa-se pelo ângulo dinâmico, que a norma padrão, então 
chamada de padronização linguística, pode ser entendida como um fenômeno regulador 
entre membros de uma comunidade linguística e a relação que esta tem com seu meio. 
 A língua como se sabe, é tida como algo vivo, e em constante movimento e 
transformação. Como o uso linguístico padrão não tem valor inseparável, ele constantemente 
se aclimatiza em mudanças e novas necessidades, e isso em um movimento contínuo e 
retilíneo. A quem diga que a padronização da língua tem um viés excludente e, portanto, 
antagônico, pois, se, de um lado temos uma classe dominante do uso culto da língua, na outra 
ponta, temos os excluídos linguísticos, onde, todos usufruem da mesma gramática, mas com 
visões divergentes sobre o emaranhado de regras gramaticais, onde estes compreendem de 
forma mais objetiva, em detrimento daqueles, que apenas leem de forma rasa e pouco 
didática. 
 Em meio a contemporaneidade, e ao advento da tecnologia, perdem-se princípios como: 
a bondade, o espirito de solidariedade, o senso de igualdade, o coletivismo e por conseguinte, 
a um estreitamento da capacidade de repulsa das pessoas em relação a isso. Por efeito dessa 
discrepância, criou-se um grande obstáculo em saber como educar os menos favorecidos na 
atual sociedade. A gramática normativa é um precioso caminho de recuperação desses 
princípios. Além é claro, de oportunizar, e resgatar o espirito de humanidade que fora 
perdido, ela é uma ponte eficaz para o desenvolvimento e inserção do público marginalizado 
quer seja na escrita, no vocabulário e, principalmente, na realocação do indivíduos na esfera 
social onde aqueles que por motivos diversos, não aprenderam de forma eficaz a base 
elementar da norma padrão da língua portuguesa, e que por isto são tidos como uma espécie 
de sub classe de falantes do idioma. Todavia, este cenário está em transformação, há um 
esforço contínuodos governos em propiciar (como um todo) um ensino de mais qualidade 
 
 9 
no campo educacional; investimentos mais robustos e em novas abordagens educacionais 
nas séries iniciais do ensino fundamental, veem aumentando com o passar dos anos como 
apontam dados do MEC, investimentos estes também mostram que a distância entre o 
investimento na educação básica e na educação superior vem caindo. Em 2000, essa 
diferença era de 11 vezes, em 2008 caiu para 5,6 vezes, o que é muito próximo do patamar 
da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), que reúne os 
países ricos. 
 O governo triplicou o orçamento do Ministério da Educação nos últimos 
oito anos, passando de R$ 17,4 bilhões em 2003 para R$ 51 bilhões em 
2010. Se forem incluídos nesta conta os recursos da transferência do Fundo 
de Financiamento ao Estudante do Ensino Superior (Fies), do salário 
educação e da quarta parte do repasse estadual, o valor passa de R$ 19,1 
bilhões em 2003 para R$ 59,1 bilhões em 2010. O valor do investimento 
por aluno evolui em todas as etapas da educação básica e se mantém estável 
na educação superior. O investimento por aluno, que era de R$ 1,6 mil em 
2000, saltou para R$ 3 mil, e a meta é a de atingir R$ 3,5 mil. “O aumento 
de 0,8% do PIB (Produto Interno Bruto) foi todo destinado à educação 
básica.” 
 portal.mec.gov.br/component/tags/tag/34580-investimento-em-educacao 
 
 Destarte, observa-se que o exposto deste trabalho de curso, com a colaboração de autores 
renomados e fontes governamentais, reporta-se a um estudo de como alcançar formas sobre 
o melhor método de debater, posicionar, expor e apontar meios de estreitar essa lacuna que 
se criou entre os falantes da língua portuguesa no que tange a forma padrão. 
 Este trabalho de curso foi desenvolvido de forma monográfica com colaboração de fontes 
externas, todavia, o ponto de vista, bem como as sugestões, indagações, apontamentos, 
reflexões, foi pensada no plano monocrático, optei por fazer uma análise acerca do binômio: 
questão-solução, onde de forma bem sucinta, busquei compreender que o esboço até aqui 
sobre a resolução de questões problemáticas, têm um viés mais didático do que apenas o 
apontamento da situação-problema propriamente dita. Esse trabalho foi pensado como um 
referencial, e desta forma, é claro por si só, não pode ser usado como fonte intrínseca para 
uma reflexão aprofundada sobre a abordagem do professor em sala de aula, bem como da 
sociedade como um todo. A intenção objetiva e de permitir o leitor a se posicionar não de 
forma global, pois, o tema é peculiar e contraditório, desta forma, o uso deste trabalho foi 
pensado de forma referencial em relação aos problemas expostos. 
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 CAPÍTULO I 
 
 1 Discriminação e preconceito linguístico. 
 
 O tema trago à baila abarca a questão do preconceito linguístico analisados sob uma ótica 
da sociolinguística e da análise do discurso, sendo assim, usa-se da palavra para convencer 
e criar uma ideia de que tudo vai bem ou de que o atributo ligado à qualidade existe, mas a 
averiguação é bem diferente do discurso. O balizamento acerca desse estudo, foi motivado 
pelo propósito de se verificar se há ou não hostilidade e preconceito das elites para com as 
camadas sociais desprotegidas que coabitam nas escolas públicas, se esse preconceito se 
materializa por meio da linguagem e se por meio da execução dos que controlam o sistema 
de ensino, procura-se manter esses indivíduos à margem de um crescimento real de 
qualidade no país. 
 
 
 Diz-se que o “brasileiro não sabe Português” 
e que “Português é muito difícil”. Estes são 
alguns dos mitos que compõem um preconceito 
muito presente na cultura brasileira: o 
linguístico. Tudo por causa da confusão que se 
faz entre língua e gramática normativa (que não 
é a língua, mas só uma descrição parcial dela). 
 Revista nova escola, 1999 edição maio P. 16 
 
 
 
 Sabemos que é inquestionável e estritamente importante aprender o correto uso da língua 
portuguesa, principalmente na sua norma padrão, e a melhor forma de “construir” o 
indivíduo dominante neste tema, sem sombra de dúvida é no ambiente escolar, com especial 
atenção nas séries iniciais do ensino fundamental, é fato sabido que a pessoa que domina a 
variante padrão, destacar-se-á em sua vida acadêmica, profissional e, até mesmo na sua 
jornada ordinária. 
 
 11 
 
 E é por essa razão, que se têm nas instituições acadêmicas, uma inquietação com o ensino 
da língua portuguesa na sua modalidade culta, em que é estabelecida nos meios oficiais. Não 
obstante, o que realmente aflige, não é a imposição de que se aprenda a norma padrão, mas 
que se discriminem as demais variedades linguísticas, que se posterguem as demais formas 
de discorrer à marginalização, unicamente por serem distintas. 
 Essas práticas obscuras se nivelam e são tão sórdidas quanto qualquer tipo de segregação 
ou preconceito concebido pelo ser humano, como método de manter afastados os desiguais. 
É nesta forma ardilosa, e muitas vezes velada, que as camadas mais abastardas da sociedade 
desempenha seu poderio simbólico manejando a “plebe linguística”, para isso adotam toda 
uma narrativa positivista que nem sempre se revela em benesses para a casta menos 
favorecida e sem recursos da coletividade. 
 Este mecanismo também é observado na escola que juntamente com a base da pirâmide 
social, igualmente é vítima e em sua metodologia acadêmica replica em mais vítimas que 
implicará em um círculo vicioso de criação e expansão de excluídos linguísticos. 
 
 
 
1.2 ESTERIÓTIPOS 
 
 
 Estereótipos e preconceitos (nesse caso o linguístico) são ideias preconcebidas e 
caricaturadas de uma pessoa ou grupo. Eles são via de regra negativos, e costumam ter 
consequências nefastas para a pessoa que é vitimizada por essa mazela. Aprender a 
identificá-los permite ao indivíduo e principalmente ao corpo acadêmico, reinserir os 
excluídos no meio escolar e na sociedade e, em uma visão macro, na sociedade como um 
todo. 
 O preconceito linguístico de forma geral, pode afetar qualquer pessoa em qualquer 
momento da sua vida. É uma opinião que é construída unicamente a partir dos traços reais 
ou assumidos de caráter de uma pessoa ou grupo de pessoas. 
 12 
 O preconceito pode ser positivo ou negativo, mas em todos os casos é baseado nas 
características externas de uma pessoa, não em sua singularidade. 
 Estereótipos e preconceitos, sejam positivos ou negativos, sempre têm impacto na pessoa 
que é vítima. No caso de estereótipos positivos, fortalecem os laços sociais através da ideia 
de pertencimento a um grupo; eles constroem confiança e identificaçãouns com os outros. 
E tão logo inserido neste grupo, é que geralmente a outra face da moeda é revelada, 
geralmente replicando o sentimento de repulsa, o que é traduzido por preconceito a quem 
não faz parte daquele meio. Estereótipos e preconceitos podem resultar em assédio, abuso 
ou violência psicológica. 
 É de suma importância para a unidade da língua portuguesa, e erradicação do preconceito 
linguístico. O papel do professor deve ser o de protagonista; identificando, resgatando e 
criando meios os quais podem fazer com que o aluno não falante do chamado português 
oficial, venha a ter seu lugar respeitado em classe. 
 Vale destacar que o problema é ainda maior do que se possa imaginar, existem muitas 
variáveis que criam, agravam e expande o preconceito linguístico, o desafio em um país de 
dimensões continentais como o Brasil, torna-o quase ou muito difícil extinguir o preconceito, 
o que pode ser um mero regionalismo para alguns falantes de determinada região brasileira, 
pode ser tido como algo estranho e causar repulsa noutras. Bagno já mencionou na sua obra 
“Preconceito linguístico: como é, como se faz” 49ª, 2007 P. 15, que mesmos intelectuais 
renomados na área do ensino como Darcy Ribeiro, já cometeram erros em pautar a unidade 
da língua portuguesa no Brasil, como podemos observar em um trecho de sua autoria: 
 
 
 
 É de assinalar que, apesar de feitos pela 
fusão de matrizes tão diferenciadas, os 
brasileiros são, hoje, um dos povos mais 
homogêneos linguística e culturalmente e 
também um dos mais integrados socialmente da 
Terra. Falam uma mesma língua, sem dialetos. 
Folha de S. Paulo, 5/2/95. 
 
 
 
 
 
 
1.3 Falha no acesso à educação 13 
 
 Sabe-se que o acesso ao ensino de qualidade no país é prerrogativa de uma parcela de 
privilegiados, somado a um sistema educacional não homogêneo, cria-se um cenário perfeito 
de sub classes de falantes distintos da língua portuguesa padrão, excluindo assim uma 
parcela significativa de brasileiros que perdura à margem da supremacia da norma padrão. 
destarte, de modo semelhante como existem milhões de brasileiros sem terra, sem escola, 
sem teto, sem trabalho, sem saúde, também existem milhões de brasileiros sem língua. 
 Acredita-se igualmente que por trás desse preconceito as outras variantes linguísticas 
há um preconceito social, que abrange a etnia, a cor, a sexualidade e que considera a questão 
monetária como uma propriedade para um alto grau de destaque na sociedade, assim 
dizendo, são preconceitos “materializados pela linguagem” Leite (2008, p. 17). 
 Busca-se, por conseguinte, ao longo deste trabalho, delinear como o preconceito é um 
fato bastante nítido e vivenciado dentro das instituições de ensino de todo o país por estas 
retratarem o que ocorre na sociedade. O ambiente escolar deve ter o papel de sociabilizar o 
indivíduo, propiciando que as variações linguísticas de cada cidadão não tenham uma 
ingerência nas práticas sociais de cada um. Não obstante, na prática, não é o que ocorre, pois 
sempre têm os que dominam a norma padrão e a educação direcionando os alunos das escolas 
públicas para chegarem em status sociais de ante mão selecionados 
 É notório que, se acreditarmos na narrativa da língua exclusiva, encontram-se milhões 
de pessoas no país que não têm acesso a essa língua, que é usada à exaustão no regramento 
literário, escrita culta e também exercida pelos acadêmicos de forma geral, pelas instituições 
oficiais, pelos órgãos do poder: são os excluídos. 
 Nesse contexto é importante salientar que a língua portuguesa, assim como outras, está 
sempre se modificando ao longo do tempo e do espaço geográfico. Ela absorve novas palavras, 
assume gírias e, de tanto ser usada, pode até contrair expressões. Isso acontece a todo momento, 
mesmo que de forma imperceptível. Um país grande como o Brasil contém diferentes formas de 
se falar o português, com regionalismos que podem causar ruídos na comunicação, quando saem 
de seus estados de origem. Problemas à vista ou sinal de riqueza linguística? “Palavras como 
“escanear”, “deletar”, “mouse” não estão causando nenhum problema para a língua 
 
 14 
 
 portuguesa.” Pois, embora seja palavras “aportuguesadas” seu entendimento é bem simples e 
bastante usual no cotidiano. 
 Pode-se concluir até o momento, que a população sem alfabetização escolar, portanto, 
não pode usar essa mesma variante linguística para se comunicar, muito embora, entre eles 
haja uma perfeita comunicação em que se entendem de forma coerente, harmônica e sem 
adversidade. É correto afirmar que essa variação não padrão existe, e já não deve subsistir à 
margem da comunidade como se nada representasse. Tem que ser respeitada no indivíduo 
que aspira saberes acadêmicos, pois não há intenção de desrespeito ou menosprezo do 
cidadão que usa a língua não padrão para com os ditos conhecedores da norma. 
 O que há, é o direito universal dos seres humanos em se comunicar e essa comunicação 
tem funcionado muito bem até o dado momento em questão. 
 
 
 
CAPÍTULO II 
 
2 Materialização no campo ideológico como forma de dominação e poder. 
 
 O dilema do discurso é significativo para que se perceba como a classe predominante 
tem usado a linguagem para manobrar e se impor à massa sem que, muitas vezes, esse ato 
de predomínio seja se quer percebido. O domínio ideológico é fato concreto, e se esconde 
por trás dos símbolos. 
 Num sentido abrangente, sem entrar no mérito da dominação, podemos comprovar os 
símbolos presentes na sociedade em todos os seus recônditos e aí, poderíamos citar como 
exemplo o pão e o vinho para os cristãos simbolizando a morte de Cristo, as armas 
simbolizando o exército ou uma mulher com uma venda e uma balança simbolizando a 
justiça. Esses símbolos per si nada dizem, mas utilizados pelo homem forma consciência, 
 15 
 
 pois a ideologia surge no meio e dos signos, "da interação semiótica de um grupo social" 
Bakhtin, (2010, p. 36) 
 Para o autor, a palavra, além de constituir o mais puro signo ideológico no 
estabelecimento e manutenção das relações sociais, ainda serve de suporte para todo signo 
não-verbal, sendo eles também entendidos como signos ideológicos. Temos, pois, que todo 
signo - verbal ou não – só existe enquanto tal devido à carga ideológica que comporta, de 
forma a tornar possível tanto a formação das subjetividades, quanto os processos de interação 
humana. 
Segundo o autor: 
 
A palavra acompanha e comenta todo ato ideológico. Os processos 
de compreensão de todos os fenômenos ideológicos (um quadro, 
uma peça musical, um ritual ou um comportamento humano) não 
podem operar sem a participação do discurso interior. Todas as 
manifestações da criação ideológica – todos os signos não-verbais 
– banham-se no discurso e não podem ser nem totalmente isoladas 
nem totalmente separadas dele. (Bakhtin 1997, p. 37) 
 
 
 Quanto á sociedade que é necessária para que haja comunicação, sabe-se que não existeapenas uma sociedade, mas “sociedades” e que estas produzem seu próprio conceito de 
ideologia, por outra, sua própria ideologia, por conseguinte cria e recria sua própria 
linguagem por ser a língua dinâmica e viva que cada época assume formas e significados 
diferentes. 
 Analisando a língua sob um olhar histórico, percebemos este fato e fica claro que não 
se pode deter a fala. Esta muda com o passar do tempo e este fenômeno nem sempre é notado 
pelo indivíduo, só sendo percebido mais tarde em outro momento. É a chamada sincronia e 
diacronia há muito estudada por Saussure. Este se prendeu ao estudo sincrônico abrindo mão 
das questões diacrônicas. No entanto é bom lembrar que nem por isso descartou-as como 
 
 
 16 
 
sem valor, apenas priorizou a língua a fala e a sincronia à diacronia. Citando essa escolha de 
Saussure, Bakhtin comenta: “Destaquemos esta tese fundamental de Saussure: a língua se 
opõe à fala como o social ao individual. A fala é, assim, absolutamente individual.” (2010, 
p. 88). 
 Portanto uma observação incisiva e pontual que confirma o que é observável às claras 
na obra de Saussure. Porém é bom lembrar que "a fala, com seu caráter individual e acidental, 
é soberana; razão pela qual é regida por leis completamente diferentes das que regem o 
sistema da língua." Bakhtin (2010, p. 90). Não se pode, portanto, querer a língua imutável, 
parada no tempo, pois toda norma, todo sistema está sempre em transformação. Um sistema 
de escrita já não é o que era em algum tempo que passou e quando escrevo, o que escrevo já 
se encontra em transformação. Ao chegar às mãos de outro para leitura se transformará mais 
ainda e quanto mais o tempo decorrer mais estará transformado estes escritos. Conforme 
Bakhtin (2010, p. 94): 
 
Todo sistema de normas sociais encontra-se numa posição 
análoga; somente existe relacionado à consciência subjetiva dos 
indivíduos que participam da coletividade regida por essas 
normas. São assim os sistemas de normas morais, jurídicas, 
estéticas (tais normas realmente existem), etc. Certamente, 
essas normas variam. 
 
 Portanto, uma imposição de uma língua padrão onde já se percebe que há confrontos 
ideológicos dentro de uma mesma sociedade sendo que nessa sociedade percebe-se uma 
divisão de classes que criam o seu mundo, seus gostos e sua linguagem. Diante de uma 
imposição de uma classe sobre outra há automaticamente uma reação contrária o que é 
absolutamente normal em todas as esferas humanas, pois toda ação gera uma reação. 
 
 
 
 
 
 17 
 
2.1 O uso da norma padrão da língua como forma de poder e dominação. 
 
 Considerando que a língua, na visão de Bakthin, é um fato social e que sua existência 
ocorre devido à necessidade de comunicação, vamos considerar a questão da dominação e 
poder que é exercido por uma determinada classe da sociedade que cria todo um sistema 
ideológico visando esse controle e a cria porque a palavra é o signo ideológico por natureza 
"por isso é o lugar privilegiado para a manifestação da ideologia; retrata as diferentes formas 
de significar a realidade, segundo vozes e pontos de vista daqueles que a empregam." 
Brandão (2011, p. 9). Então torna-se possível à elite exercer seu poder sobre as demais 
classes sociais. 
 Por meio da língua há uma imposição de status que ocorre por meio da gramática 
normativa, pois, esta é tida como única fonte do bem falar. Dessa forma a elite exerce toda 
a sua coerção sobre os que vivem à margem da sociedade. E isso, como já dito reflete na 
escola. Ademais quando uma ideologia é imposta a uma classe social por meio de um 
discurso falso e autoritário verifica-se a desumanização do ser humano que é tratado como 
objeto tornando-se usado como se coisas fossem colaborando obviamente para uma 
crescente desumanização também das relações sociais. Passa-se a não considerar o outro e 
impera mais uma vez o interesse capitalista que dita as normas econômicas e de poder. Tudo 
que for possível será feito para que se alcance o maior e mais amplo espaço de dominação e 
o poder simbólico é peça fundamental nesse intento. E é por não querer perder o poder de 
dominação que a classe dominante usa todas as possibilidades possíveis oferecidas pela 
língua como por exemplo a polifonia como afirma Voese: 
 
 
Pode-se também entender a polifonia como o reflexo de uma das dimensões da 
estrutura social e que diz respeito ao conflito que leva os indivíduos a manterem a 
integridade do grupo, zelando e reforçando as características de um modo de 
enunciar através não só da reprodução de um ethos, como também da incorporação 
estratégica de enunciados de segmentos sociais conflitantes, atividade em que a 
realidade social, de um certo modo, orientará as escolhas do indivíduo quanto aos 
itens lexicais, modalizações, operações argumentativas, gêneros, estilo etc. 
Voese (2004, p. 49). 
 
 18 
 
 Dessa forma, o grupo dominante, por não querer perder o status que ocupa não permitirá 
que o restante da sociedade faça parte do seu ciclo, nem mesmo na linguagem. A liberdade 
de expressão tão aclamada entre os indivíduos de uma sociedade democrática é perdida de 
maneira substancial quando percebemos o quanto a classe dominada pelas elites se atém às 
semióticas dominantes a ponto de perder, muito cedo, toda e qualquer verdadeira liberdade 
de expressão. 
 Tudo que é produzido pelo mundo capitalista quer nos chegue pela família, pelos 
equipamentos culturais que nos rodeiam ou pela linguagem está diretamente ligada entre as 
grandes máquinas de dominação mundial e propagandas corporativistas que buscam o 
domínio por meio das ideias, das ideologias. A classe dominante, então expressa-se por meio 
de discursos que permeiam a massa todos os dias e de diversas maneiras para que haja um 
convencimento geral de que o que se faz é o melhor para a classe desfavorecida 
economicamente inclusive no meio educacional. Para engendrar por esse caminho 
pernicioso e maquiavélico das elites se faz necessário então a Análise do Discurso que tem 
como definição na concepção de Orlandi (2012, p. 15): 
 
A Análise de Discurso, como seu próprio nome indica, não trata 
da língua, não trata da gramática, embora todas essas coisas lhe 
interessem. Ela trata do discurso. E a palavra discurso, 
etimologicamente, tem em si a ideia de curso, de percurso, de 
movimento, prática de linguagem: com o estudo do discurso 
observa-se o homem falando. 
 
 
 
 A linguagem como meio de manifestação da ideologia é usada pelas elites para 
dominação das massas e como a escola reflete o que se processa na sociedade também ela 
não foge a essa dominação. É importante lembrar que a própria escola é vítima de 
dominação, mas que essa dominação ocorre de cima para baixo e muitas vezes nem é 
percebida pelos estudantes, professores e demais funcionários. Contribui para essa forma de 
educação o sistema liberal de governo que se prende totalmente a questões financeira e visa 
o lucro em um país capitalista. Dessa forma o discurso por uma educação de qualidade mais 
uma vez é anunciado, mas a necessidade de controlar as massas selecionando os melhores19 
 
permanece o que inviabiliza a qualidade como um todo. E para que essa ideologia seja aceita 
como algo normal é necessário que a ideia das elites se torne lugar comum entre as massas, 
pois do contrário poderia haver manifestações contrárias. Chega-se então às concepções 
marxista de que a ideologia nada mais é do que "um instrumento de dominação de classe 
porque a classe dominante faz com que suas ideias passem a ser ideias de todos." Brandão 
(2011, p. 11). 
 
 
 
2.2 O Papel da gramática normativa. 
 
 O ser humano possui a capacidade incrível da palavra que é ainda mais fantástica quando 
associamos a isso a habilidade de ler e escrever que torna "possível a ligação entre tempos, 
espaços e relacionamentos". Gomes (2007, p. 17). No entanto algo que acontece 
naturalmente e serve para a convivência e interação humana e que deveria ser respeitada, 
não poucas vezes é usada como arma para com o próprio ser humano, que descobrindo o 
poder do discurso e as possibilidades infindáveis possibilitadas pela língua a usa como meio 
de manobra e dominação. Também é necessário para a classe que exerce o poder dominar a 
mente e as vontades dos dominados além do domínio social. Clara está, portanto, que nos 
referimos às "condições cognitivas [...] tais como desejos, planos e crenças." VanDijk (2008, 
p. 41), que podem ser exercidos com mais altivez pela classe dominante se houver o controle 
por meio do poder simbólico. De acordo com VanDijk (2008, p. 47): 
 
Dado que elites simbólicas detêm um grande controle sobre o modo de 
influência exercida por meio dos gêneros, dos tópicos, das argumentações, 
dos estilos, da retórica ou da apresentação da escrita e da ala públicas, o 
poder simbólico delas considerável, embora exercido dentro de um 
conjunto de limitações. 
 
 20 
 
 A fala e a escrita não são exceções nesse emaranhado de domínio e poder, mas são 
elementos essenciais para o controle simbólico do qual não quer abrir mão as elites. E o 
início desse domínio se dá na escola. A elite procura fazer no meio escolar o mesmo que faz 
no meio social não educacional que é manter o controle do ensino e, consequentemente, dos 
estudantes que na escola entram. Utilizam-se dos livros didáticos, dos materiais de ensino e 
de toda estrutura possível da escola para dominar chegando mesmo aos professores que às 
vezes inconscientemente reproduzem os discursos da elite colaborando para um controle 
mais eficiente. 
 Claro que o discurso de quem domina é o da melhoria e o constrangimento global força 
no sentido de que se pense a educação em termos de qualidade, mas na prática não é o que 
acontece e os investimentos não alcançam seus objetivos. O discurso é incoerente com a 
prática. E os que frequentam as escolas, principalmente as escolas públicas, não veem as tão 
desejadas qualidades chegarem. O que há de fato são investimentos maciços no sentido de 
ludibriar com propagandas e farto material que tratam do sistema de ensino, da pedagogia, 
da língua padrão. Sempre no intuito de convencer o público e os que atuam na área de que o 
percurso feito e por fazer da educação está correto e têm trazido bons frutos. Conforme 
VanDijk (2008, p. 51): 
 
 
No setor educacional, o constrangimento global no sentido de evitar 
questões "polêmicas", censura as opiniões sociais e políticas mais radicais, 
inconsistentes com as ideologias sociopolíticas dominantes. Mais 
concretamente, as organizações oficiais ou as empresas podem fornecer 
materiais educacionais gratuitos, peças de propaganda em revistas sobre 
pedagogia, ou dispor de outras formas para influenciar os professores e o 
conteúdo dos textos didáticos. 
 
 
 Dessa forma mantem-se um controle já no início da vida estudantil do aluno por meio 
daqueles que deveriam ser exatamente o oposto de pessoas dominadas. Pelo fato da fala e 
escrita serem poderosas para um controle mais eficiente a questão do controle por meio do 
discurso torna-se atuante em toda sua inteireza no meio educacional. 
 21 
 
 Embora existam vários tipos de discurso que proliferam em meio à sociedade é 
importante para essa exposição que se refira ao discurso educacional que surge por meio dos 
livros didáticos que, por ter uma enorme capacidade de penetração atinge uma capacidade 
muito grande de exercer o poder, pois todos os cidadãos ou pelo menos a maioria sofre um 
processo de educação formal, pois o conhecimento e as atitudes manifestados e transmitidos 
por esse material pedagógico, mais uma vez, refletem o consenso dominante, quando não 
interesses dos grupos e instituições mais poderosos da sociedade. Ou seja, é mais uma vez o 
poder das elites que é manifestado nos livros didáticos para que, dessa forma, dominem o 
público estudantil moldando-os à sua imagem e semelhança e mantendo-os de acordo com 
sua vontade. Quanto ao debate ou crítica que poderiam advir em sala de aula é minimizada 
ou censurada de uma vez. 
 É bem verdade que o que se deseja com o ensino de língua portuguesa é que haja uma 
boa comunicação entre quem fala e quem ouve, ou seja, há uma boa intenção em quem 
ensina o português. Aquele que ensina, no entanto, segue os ditames organizados em livros 
didáticos e estes nem sempre são organizados de maneira a que o aluno consiga ter uma ideia 
do todo. Mas por que, embora tenha-se debatido tanto o assunto concernente à melhor forma 
de ensinar língua portuguesa, não se adota os resultados positivos concluídos nas academias 
é uma incógnita. Prova irrefutável de que as pesquisas nas academias se tornam acúmulos 
de conhecimentos que na prática não chegam àqueles que poderiam se beneficiar com elas. 
 
 
 
CAPÍTULO III 
 
3. Abordagem do PCN sob a ótica do preconceito linguístico. 
 Os Parâmetros Curriculares Nacional, são orientações que existem por força de lei, tendo 
em vista que surgiram para “atender ao disposto na Constituição Federal de 1988, que 
estabelece a criação de um “currículo mínimo nacional” (Marinho (2007, p.77). 
 22 
 
 Logo no início do PCN destinado à Língua Portuguesa, na apresentação, somos 
informados que "o respeito à diversidade é o principal eixo da proposta e, para a área, não 
poderia ser diferente: as indicações deste documento procurarão ser coerentes com os 
princípios legais" PCN (2010, p. 4). 
 O que já podemos entender como um respeito ao direito do outro de ser diferente. Dessa 
forma é que entendemos a linguagem e a consideramos como a principal fonte de 
comunicação, de interação humana. Tentar diminuir isso é causar um ato de violência contra 
o ser humano é tirar-lhe a principal fonte de expressão. Considerando esse ponto de vista 
que não é consenso na sociedade, pois temos uma classe dominante que não considera as 
demais variantes linguísticas, é que torna-se louvável a absorção nos PCN de informações 
que afirmam ser a linguagem um importante fator de interação como neste tópico: "Não há 
linguagem no vazio, seu grande objetivo é a interação, a comunicaçãocom o outro, dentro 
de um espaço social, como, por exemplo, a língua, produto humano e social [...]. PCN (2010, 
p.5). Portanto, uma afirmação que solidifica o fato de ser a língua um importante meio de 
interação humana. Também deve-se considerara que a sociedade igualitária é um mito e que 
essa desigualdade social é refletida nas escolas e absorvidas por quem a frequenta. Fica 
porém evidente, ao analisar os PCN, que estes avançaram em sua abordagem referente à 
linguagem e que o campo de atuação dos professores nas escolas se tornaram mais 
abrangentes com possibilidades de discussão das demais variações linguísticas, questões 
sociais, políticas e familiares. A realidade social de quem estuda passou a ser levada em 
conta não ficando os PCN presos tão somente a questões atinentes à esfera elitista da 
sociedade. Os PCN alertam, por exemplo, para o fato de que o homem transforma os espaços 
em que vive e afirma que a linguagem é um reduto de possibilidades: 
 
Nas práticas sociais, o homem cria a linguagem verbal, a fala. Na 
e com a linguagem, o homem reproduz e transforma espaços 
produtivos. A linguagem verbal é um sementeiro infinito de 
possibilidades de seleção e confrontos entre os agentes sociais 
coletivos. A linguagem verbal é um dos meios que homem possui 
para representar, organizar e transmitir de forma específica o 
pensamento. PCN (2010, p. 5). 
 
 
 23 
 
 Nada mais coerente com a realidade em que se vive no momento, tendo em vista que, 
querendo ou não a criação verbal das massas aí está para provar que existe a diversidade e 
que ela deve ser aceita e não ignorada. Ademais isso indica uma mudança de postura dos 
órgãos oficiais envolvidos com a educação que "se deram conta da necessidade de mudar os 
conceitos de língua vigentes nas nossas escolas e na nossa cultura." Bagno (2002, p. 25). 
Então o que podemos perceber é que há um novo tratamento para o ensino de língua 
portuguesa estando os PCN buscando uma sintonização mais adequada e propondo 
conteúdos mais antenados com os estudos linguísticos quer seja oferecendo conteúdo mais 
de acordo com a realidade local e da escola, quer seja oferecendo uma linguagem mais de 
acordo com a realidade social do aluno. 
 Não há, no entanto, uma fuga do ensino da língua padrão que deve ser considerada, pois 
é a que molda e norte ia qualquer pretensão de ascensão além de ser o padrão oficializado 
no país. No entanto é sempre bom que se alerte para o que é desejável e o que é praticável 
no país, pois o que ocorre é bem diferente na prática. Percebe-se, por exemplo, uma 
dificuldade dos professores em colocar todas essas questões em prática ficando toda essa 
retórica somente no papel. A escola pública, principalmente ela, fica relegada a segundo 
plano e constata-se, sem grandes esforços, um fracasso demasiado na educação. Tem-se boas 
leis, bons planos didáticos, mas quando chega o momento de colocá-los em prática os 
objetivos qualitativos não são alcançados e com os PCNS não é diferente, pois os resultados 
obtidos em sala de aula não correspondem à qualidade desejável na educação. Questiona-se 
então o fato do porque os PCNS estarem tão interessados na diversidade e no pluralismo 
linguístico. Que fatores levaram os gestores da educação perceberem que mais do que 
gramática é necessário imbuir o aluno, usando o ensino de língua portuguesa, de uma 
conscientização do mundo em que vive e da sociedade que o rodeia De acordo com Marinho: 
 
É importante interrogar, por exemplo, neste momento da história 
da educação no Brasil, que razões explicariam um maior interesse 
tanto pelo estabelecimento e controle do currículo formal, por 
parte dos gestores da educação, quanto pelo crescimento dos 
estudos nesse campo. E esse interesse reaparece, particularmente, 
num momento em que se volta também para o estudo das 
disciplinas escolares enquanto práticas culturais e em que se 
reivindicam a diversidade, o respeito e o favorecimento das 
diferenças. Marinho (2007, p. 81). 
 24 
 
 Outra questão que lança dúvidas sobre as boas intenções que podem ser lidas nos PCNs 
é que o MEC lança as propostas fundamentadas nos estudos científicos feitos nas 
Academias, ou seja, os conhecimentos acadêmicos são utilizados, quem se sobressai é o 
MEC enquanto sujeito jurídico na empreitada. Isso deixa como que um ar de algo armado 
em que o próprio MEC não acredita e que aparecerá nos textos apenas como algo direcionado 
pelos que, de fato, estudam, mas que na prática se tomará inviável em todas as suas nuances. 
Assim, mais uma vez toma-se oportuna as palavras de Marinho quando afirma que "Os 
autores (se considerados enquanto os sujeitos que escrevem o texto) não tem o estatuo 
jurídico dessa categoria - apenas produzem o discurso para a instituição que representam: o 
MEC, autor jurídico." Marinho (2007, p. 192). 
 Vê-se assim que há um uso dos conhecimentos dos autores, mas não uma garantia de 
que de fato seu uso não se dará mais intensivamente como algo político e adequado ao 
momento. Não foge à regra, portanto, de qualquer outro aparato que o estado usa para 
controlar as massas de forma ideológica utilizando para isso a escola. A diferença é que 
agora os meios são mais sofisticados pois tomou-se o cuidado de manter os pesquisadores 
ao lado do estado utilizando-os a partir dos seus trabalhos científicos sem, no entanto, fazê-
los ativamente conhecidos. É bem verdade que no final das obras que tratam dos PCNs há 
uma bibliografia dos autores que foram referências para a pesquisa e conclusão do trabalho, 
mas é certo que o envolvimento dos professores das escolas públicas nessa questão é 
pequena, pois o próprio tempo para pesquisa que lhes resta não permite tal atitude. Portanto 
o questionamento por meio da leitura das obras citadas é muito baixo. As críticas, portanto, 
resumem-se aos conhecimentos enciclopédicos que o professor eventualmente tenha e sua 
ressonância, com certeza, será bem limitada. Quanto aos questionamentos que poderiam 
advir dos leitores não especializados são praticamente nulos, pois, "aponta o seu papel de 
'formigueiro laborioso e agressivo', para o especialista, e de 'sistema fixo e intangível', para 
o leitor não especializado." Marinho (2007, p. 196-97). 
 Mais uma vez tem-se, como já dito um discurso que não corresponde à realidade da 
educação no país e que de maneira velada esconde toda uma discriminação, pois mostra uma 
realidade de igualdade, diversidade e compreensão que não é manifesta na prática e que não 
há interesse nenhum dos dirigentes políticos, governamentais e gestores da educação fazer 
cumprir. E não faz cumprir porque não há interesse nas opiniões da classe marginalizada do 
 25 
 
país. É lhes dado escola e enche-se as salas de aula de alunos, mas não se leva em conta a 
qualidade do ensino. O importante é que o Brasil está quantitativamente com muitos alunos 
na escola, a qualidade se discute depois, já está no papel e isso é um grande passo aos olhos 
dos gestores da educação. Considerando o Brasil podemos afirmar que há o preconceito 
devido à cor, à religião, a questões sexuais e a classes sociais. Embora isso não seja aceitável 
essa é a verdadeira questão social no Brasil. Esses são os verdadeiros motivos da exclusão 
social no país. É palpável a falta de interesse da classe dominante em resolver esses 
problemas e quando o fazem é de forma escassae a conta gotas. Por isso quando um aluno 
que possui todos ou algum dos problemas, acima chega à escola é discriminado. Do 
preconceito, que surge sem nenhuma formalização, sem nenhuma base cientifica em que se 
apoiar, é que se chega à discriminação do indivíduo que, vítima de tal processo, se recolhe 
permanecendo à margem da sociedade ou, no caso da escola, não participa de maneira efetiva 
a ponto de adquirir ou considerar o conhecimento e o aprendizado como algo sem 
importância ou inatingível de forma que pouco ou nada contribuirá para o seu crescimento 
social e profissional. A escola já o relegou à incapacidade, já o sentenciou à incompetência. 
 Diante do exposto, pode-se concluir que a erradicação do chamado preconceito 
linguístico, é um caminho ainda longo, que depende não só de políticas afirmativas de 
inclusão por parte do poder público, mas do esforço conjunto da sociedade como um todo. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 26 
 
REFERÊNCIAS 
 
 
BAGNO, Marcos. A norma oculta: língua e poder na sociedade brasileira. São Paulo: 
Parábola, 2003 
----Não é errado falar assim! em defesa do português brasileiro. São Paulo: Parábola, 2010. 
---- Português brasileiro? um convite à pesquisa. São Paulo: Parábola, 2002. 
----Preconceito linguístico: o que é, como se faz. São Paulo: Loyola, 2003. 
BAKHTIN, Mikhail. Marxismo e filosofia da linguagem. São Paulo: Hucitec, 2010. 
BRANDÃO, Helena H. Nagamine. Introdução à análise do discurso. Campinas, SP: 
Unicamp, 2004. 
LEITE, Marli Quadros. Preconceito e intolerância na linguagem. São Paulo: Contexto, 
2008. 
ORLANDI, Eni Puccinelli. Análise de discurso: princípios e procedimentos. Campinas, 
SP: Pontes Editores, 2012. 
VOESE, Ingo. Análise do discurso e o ensino de língua portuguesa. São Paulo: Cortez, 
2004. 
PARAMETROS CURRICULARES NACIONAIS: ensino médio / Ministério da 
Educação, Secretaria de Educação Média e Tecnológica - Brasília: 2002

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