Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Natália Finatto – Biomedicina 2021 ESTRUTURA DOS ÁCIDOS NUCLEICOS A molécula de DNA é formada por duas cadeias que se pareiam de forma helicoidal. Estas cadeias são formadas por subunidades chamadas nucleotídeos. Cada um dos nucleotídeos é formado por uma base nitrogenada, um açúcar e um fosfato. DNA e RNA possuem 4 bases nitrogenadas: - Purinas: adenina e guanina – DNA e RNA - Pirimidinas: citosina e timina – DNA citosina e uracila – RNA As purinas são sempre formadas por uma estrutura básica de dois anéis enquanto as pirimidinas somente por um anel. Açúcares: são pentoses, são duas que compõem os ácidos nucleicos: - Ribose – forma o RNA; - Desoxirribose – forma o DNA. Única diferença entre a ribose e a desoxirribose é que a ribose possui um grupo hidroxila no carbono 2, que está ausente na desoxirribose. No carbono 1’ do açúcar tem a ligação da base nitrogenada. No carbono 3’ do açúcar tem uma hidroxila. No carbono 5’ do açúcar tem a ligação do fosfato. Quando temos somente a base nitrogenada ligada ao açúcar, a estrutura é chamada de nucleosídeo e quando temos o nucleosídeo ligado aos fosfatos chamamos a estrutura de nucleotídeo. Os nucleotídeos são ligados uns aos outros por pontes dissulfeto (ligação covalente extremamente estável). É importante sempre identificar como é formada essa ligação, lembrando que se forma entre o fosfato ligado ao carbono 5’ e o -OH ligado ao carbono 3’ do próximo nucleotídeo. Todos os nucleotídeos de uma cadeia têm uma mesma orientação relativa porque o C5’ está sempre voltado para a mesma direção que o C5’ do nucleotídeo seguinte. Na extremidade 5’ da cadeia, um grupo fosfato aparece, e na outra extremidade tem sempre um grupo 3’-OH. Essa característica de direcionalidade das cadeias polinucleotídicas é extremamente importante; todas as reações químicas que envolvem polimerização de nucleotídeos ocorrem sempre pela adição de um nucleotídeo na extremidade 3’-OH de uma cadeia. Outra Natália Finatto – Biomedicina 2021 característica muito importante é que as cadeias se deslocam em orientação inversa em relação uma a outra quando tem o pareamento, então falamos que elas são antiparalelas: 5’ → 3’ 3’ → 5’ As duas cadeias do ácido nucleico são unidas por pontes de hidrogênio entre os pares de bases nitrogenadas. A pareia com T → 2 pontes de H G pareia com C → 3 pontes de H (mais estável) Efeitos hidrofóbicos, forças de Van de Waals e forças iônicas também atuam na estabilidade da dupla fita de DNA. RESUMO • Os blocos de construção do DNA são os nucleotídeos que são compostos por uma base, um açúcar e um fosfato; • Estes nucleotídeos se unem por pontes de fosfodiéster para formar uma fita de ácido nucleico que tem uma extremidade 5’ e uma 3’; • As fitas de ácido nucleico se pareiam para formar a estrutura do DNA por pontes de hidrogênio, sendo duas entre os pares timina e adenina e três entre os pares guanina e citosina; • Esse pareamento é antiparalelo, então, tem a extremidade 3’-OH e a 5’-fosfato; • Uma vez formado o pareamento, automaticamente as duplas fitas assumem a estrutura de dupla hélice do DNA. CONSEQUÊNCIAS DA ESTRUTURA DO DNA Açúcar + fosfato = arcabouço – invariável Sequência de bases = informação – variável Como consequência dessa estrutura em dupla hélice, na ponte extrema do DNA tem os grupamentos fosfato e do enrolamento tem a formação de 2 sulcos, o menor e o maior; nestes sulcos tem a exposição da sequência de nucleotídeos sem a necessidade de separação das duas hélices; nestas regiões, as proteínas que precisam interagir com a molécula de DNA conseguem reconhecer a sequência de bases sem separar a dupla hélice. CONFORMAÇÕES DO DNA Além da forma principal do DNA, que é a forma B, também se descreveu outras formar de ocorrência mias rara da molécula de DNA, que são a forma A e a forma Z. A forma A aparece principalmente em momentos de menor hidratação da molécula de DNA, in vitro. A forma Z é voltada para a esquerda, enquanto as formas A e B são voltadas para a direita. Natália Finatto – Biomedicina 2021 DESNATURAÇÃO E RENATURAÇÃO DO DNA A capacidade da molécula de DNA de se desnaturar e renaturar é uma característica fundamental para os processos de replicação, transcrição e recombinação. A desnaturação é o processo de separação das duplas fitas com rompimento das pontes de H, mas sem rompimento das pontes fosfodiéster e isto acontece quando a solução de DNA tem sua temperatura elevada ou quando há mudanças de pH e das forças iônicas do meio. Quando se volta às condições químico-físicas iniciais as duplas hélices voltam a parear e a estrutura volta ao normal. Das duplas fitas dá para estimar a temperatura de fusão que é a temperatura na qual 50% do DNA se encontra desnaturado. Os pares G-C formam 3 pontes de H enquanto os pares A-T formam 2 pontes, então, quanto maior a porcentagem de pares G-C, mais difícil é a desnaturação, ou seja, maior a temperatura de fusão, pois mais energia será necessária para romper as 3 pontes de H. Sempre que se tem fitas de ácido nucleico com sequências complementares, elas vão formar dupla hélice, seja entre 2 fitas ou dentro de uma única fita, bem comum no RNA, também pode haver pareamento entre 2 moléculas de DNA ou uma fita de DNA e uma fita de RNA, desde que se tenha regiões de sequências complementares. Este pareamento entre moléculas de ácido nucleico de origens diferentes é chamado de hibridização. ESTRUTURA DO RNA A pentose é a ribose, que apresenta um grupo hidroxila no C2’ e a base nitrogenada é a uracila, que tem ausência de uma metila. Pelo fato de a ribose apresentar uma hidroxila 2’ livre apresenta maior reatividade e, também pelo fato de o RNA ser fita simples, conferem as moléculas de RNA uma reatividade muito maior do que o DNA, mas uma menor estabilidade. Uma molécula de RNAm pode ter uma vida em torno de 2 minutos, enquanto uma molécula de DNA pode sobreviver por centenas e até milhares de anos. Por ser fita simples, quando há sequências complementares dentro dessa fita, há formação de pareamentos intramoleculares. Isto faz com que os RNAs possam assumir estruturas tridimensionais, que são muito importantes para sua função, principalmente no caso dos RNAt e RNAr. Dentro das células tem 3 classes de RNAs: 1- RNAr – RNA ribossomal (75%); 2- RNAt – RNA transportador (10-15%); 3- RNAm – RNA mensageiro (1 a 5%) – tem uma maior diversidade, pois representam todos genes que são expressos em nossas células. 4- Outros: hnRNA, snRNA, miRNA. Ribozima: RNA com atividade catalítica. As primeiras moléculas que deram origem à vida foram os RNAs pois eles podem ter 2 funções: sequência de bases que armazenam informações e capacidade catalítica. Natália Finatto – Biomedicina 2021 REPLICAÇÃO DO DNA Cada uma das fitas de DNA em um processo de replicação funciona como um molde para a síntese de uma nova fita por meio do mecanismo de pareamento de bases. Como cada fita nova dupla é formada por uma fita de DNA antiga mais um nova, a replicação do DNA é um processo semiconservativo. Em que momento ocorre a duplicação do DNA na célula? Os genes que regulam o ciclo celular ativam os elementos que irão iniciar a replicação e cada replicon/unidade de replicação é ativado uma única vez por ciclo celular no estágio S (síntese); em humanos a replicação dura cerca de 8h. CARACTERÍSTICAS DA REPLICAÇÃO1. Se inicia em pontos específicos do DNA que são as origens de replicação; 2. A partir de uma origem, a dupla fita se abre formando 2 forquilhas de replicação; 3. Em procariotos existe somente uma origem de replicação, enquanto em eucariotos há muitas origens. ORIGENS DE REPLICAÇÃO EM PROCARIOTOS Há somente uma origem, pois eles têm cromossomos pequenos e circulares. Há uma abertura das fitas e duas forquilhas se formam, estas seguem em direções opostas até se encontrarem em 180º na região da origem formando dois cromossomos novos, cada um formado por uma fita antiga/parental e uma fita nova recém sintetizada. Natália Finatto – Biomedicina 2021 FORQUILHAS DE REPLICAÇÃO É a região do DNA na qual existe uma transição entre a dupla fita parental e as fitas recém sintetizadas, é nesta região que vai se localizar a enzima DNA polimerase e os demais componentes do aparato de replicação do DNA. A replicação é bidirecional pois forma duas forquilhas que vão em direção opostas. ORIGENS DE REPLICAÇÃO EM EUCARIOTOS Há muitas origens de replicação e a partir de cada origem há formação de duas forquilhas que vão migrar em direções opostas até que se encontrem. APARATO PROTEICO NECESSÁRIO À REPLICAÇÃO As DNA polimerases sintetizam o DNA e existem 5 tipos descritos da E. coli e até 15 em eucariotos. O que as DNA polimerases necessitam para produzir novos DNAs? 1- Um molde de DNA a ser copiado – onde vão pegar as informações para produzir novas fitas; 2- Um primer/oligonucleotídeo iniciador – as DNA polimerases não são capazes de iniciar uma cadeia de DNA, ou seja, elas não são capazes de unir dois nucleotídeos que estejam livres no núcleo e iniciar uma nova fita, então, elas necessitam de um pequeno fragmento que já esteja pareado com a fita molde de DNA, elas só vão conseguir estender essas pequenas fitas e adicionar nucleotídeos na extremidade 3’-OH desta fita/iniciador; 3- Desoxirribonucleotídeos (dNTPs) – matéria-prima (A, G, C ou T), para construção da nova fita, precisam ligar a 3 grupamentos fosfato pois há necessidade de rompimento dessa ligação durante o processo de síntese; Natália Finatto – Biomedicina 2021 4- Cátions bivalentes (Mg 2+) – atuam como cofatores destas enzimas e são essenciais à sua função. DEMAIS PROTEÍNAS NECESSÁRIAS À DUPLICAÇÃO Helicase: é a primeira enzima a atuar – promove a separação da dupla hélice para o início da duplicação. Girase: enzima da família das topoisomerases que auxilia no desenrolamento do DNA. Primase: enzima que sintetiza os primeiros primers que são formados de RNA. DNA polimerase: vai fazer a colocação e correção dos nucleotídeos nas novas fitas de DNA. A primase sintetiza os primers de RNA; tem capacidade de unir dois nucleotídeos e começar uma nova fita; sintetiza pequenos fragmentos de RNA, são formados in vivo por pequenas moléculas de RNA que vão ter que ser retirados das novas fitas. As proteínas SSB (proteínas de ligação da fita simples) se ligam às cadeias molde separadas pela helicase, impedindo que estas voltem a se ligar, mantendo a estabilidade da forquilha de replicação e são importantes para manter a molécula de DNA disponível para ser lida pela DNA polimerase. As topoisomerases (girases em procariotos) removem o efeito gerado pela abertura das fitas na forquilha de replicação. Quando o DNA é aberto na região da forquilha, as regiões adjacentes vão ficar super torcidas, este efeito vai impedir que as forquilhas progridam. Quando há o efeito de separação das fitas, as regiões adjacentes ficam super torcidas e isto só pode progredir até o momento em que há tanta super torção nessa região que a forquilha tranca e as fitas não conseguem mais se separar, por esta razão, temos as enzimas topoisomerases que vão cortar uma das fitas do DNA e vão remover a super torção à frente das forquilhas. MECANISMOS DE SÍNTESE DE DNA A adição de nucleotídeos ocorre sempre na extremidade 3’ das fitas de DNA. Os nucleotídeos trifosfatos são adicionados em uma reação em que Natália Finatto – Biomedicina 2021 se rompe a ligação entre o primeiro e o segundo fosfato e esses dois grupamentos fosfato são liberados na forma de pirofosfato. As DNA polimerases somente incorporam nucleotídeos na extremidade 3’ da cadeia nascente, ou seja, a síntese é sempre no sentido 5’→3’. Se tem duas fitas antiparalelas e a forquilha sempre progride na mesma direção, como as duas fitas são sintetizadas ao mesmo tempo e na mesma direção? A fita 5’→3’ é a fita líder ou fita continua, a outra fita é a descontínua, por isso dizemos que a replicação é semi-descontínua. Mas como a DNA polimerase consegue coordenar a síntese sempre no sentido 5’→3’ e a forquilha prosseguir em uma só direção? Isso acontece por meio da formação de uma alça na fita descontínua do DNA, de forma que ela passe através da DNA polimerase permitindo a síntese pela enzima na mesma localização no centro da forquilha. Isto é possível porque a DNA polimerase III dos procariotos e a DNA polimerase dos eucariotos são enzimas formadas por muitas cadeias polipeptídicas que se combinam para formar a estrutura. Então ela tem 2 núcleos de polimerase, um que se localiza em cada uma das fitas e, também tem uma estrutura chamada grampo deslizante que pode se ligar e desligar do DNA formando a alça. A fita descontinua é sintetizada em pedaços (fragmentos de Okazaki) mas nossas moléculas de DNA são contínuas, então, é necessário unir os fragmentos ao final do processo de replicação, como isto acontece? Acontece por meio de outra atividade enzimática 5’→3’da DNA polimerase, é uma atividade de exonuclease → capacidade de remover os blocos de RNA formado pelos primers, então, a primase sintetiza o primer, a DNA polimerase III alonga esse primer de RNA formando um fragmento de Okazaki, ela prossegue até encontrar outro fragmento e para unir esses fragmentos, a DNA polimerase I remove, através da exonuclease, os primers de RNA e a ligase faz a ligação dos fragmentos, e assim, a fita descontínua também se torna contínua. Dessa forma, as enzimas DNA polimerases possuem mais de uma atividade catalítica, a principal delas é a síntese do DNA, porém, algumas possuem outras atividades: Exonucleases 5’→3’ = remoção dos primers de RNA; Natália Finatto – Biomedicina 2021 Exonucleases 3’→5’ = correção de erros – remoção de nucleotídeos mal pareados (isto reduz a taxa de mutações no DNA). TRANSCRIÇÃO E PROCESSAMENTO DE RNAs EXPRESSÃO GÊNICA Processo pelo qual a informação contida no DNA é transcrita em uma sequência de nucleotídeos de RNA que será traduzida para uma sequência de aminoácidos que vai formar uma proteína. Esse processo é tão importante que foi chamado de Dogma Central da Biologia Molecular. GENE Sequência de DNA que dá origem a um RNA estável. Se este RNA for um mRNA, dará origem a uma proteína. Os demais RNAs são chamados de não-codificantes. TRANSCRIÇÃO Processo pelo qual são sintetizados todos os RNAs da célula; é a primeira etapa da expressão gênica e o ponto principal onde ocorre o seu controle nos procariotos; reflete o estado fisiológico da célula. Na transcrição, somente os produtos daqueles genes que vão ser transcritos são necessários naquele momento para a célula. O processo de transcrição éextremamente variável e o universo de RNAs que está sendo sintetizado num determinado momento em uma célula é completamente diferente do processo que está sendo realizado em outro tipo de celular. O mRNA é sintetizado pelo mesmo processo de pareamento de bases complementares usado na replicação, com a diferença de que ele corresponde a somente uma das fitas da dupla hélice. Apenas uma das fitas de DNA é utilizado como molde para a síntese de RNA, e essa fita é lida 3’→5’. Natália Finatto – Biomedicina 2021 A fita codificante não participa da transcrição. Apenas um filamento de DNA é o molde para transcrição gênica, mas esse filamento varia com o gene. O sentido da transcrição é sempre o mesmo para qualquer gene e começa da ponta 3’ do molde de DNA e da ponta 5’ do RNA transcrito. Assim, os genes transcritos em sentidos diferentes usam filamentos opostos do DNA como molde. SÍNTESE DE RNA Quem faz a síntese de RNA é a RNA polimerase, que atua sempre no sentido 5’→3’ e não necessita de primer. As RNA polimerases são formadas por várias cadeias polipeptídicas e são sujeitas a erros, então possuem um sistema de correção de erros. Nas bactérias têm a RNA polimerase bacteriana que é formada por 5 subunidades que formam o núcleo da enzima. Tem uma sexta subunidade que se liga de forma mais fraca ao núcleo da enzima e ela pode se desligar após a síntese de RNA; é responsável pelo reconhecimento dos promotores procarióticos. Já nos eucariotos, têm 3 tipos de RNA: RNA polimerase I: síntese de rRNA. RNA polimerase II: precursores de mRNA (hRNAs) e alguns snRNAs. RNA polimerase III: tRNAs e RNA 5S, RNA 7S e alguns snRNAs. ETAPAS DA TRANSCRIÇÃO 1. RECONHECIMENTO Importante porque as RNA polimerases têm que saber quais genes têm que ser transcritos naquele tipo celular e naquele momento e isso acontece por meio do reconhecimento das sequências promotoras. Se convencionou enumerar o primeiro nucleotídeo que é incorporado numa cadeia de RNA e o nucleotídeo +1, e todos nucleotídeos que estão a seguir deste, tem uma numeração crescente positiva; os nucleotídeos que estão localizados antes do primeiro nucleotídeo a ser incorporado na RNA tem uma numeração negativa e a região promotora se encontra na região que fica antes (montante) do ponto de início +1. Natália Finatto – Biomedicina 2021 A sequência de vários genes em procariotos foi comparada entre si e se observou que nas regiões -35 e –10 existiam sequências de nucleotídeos que apareciam com alta frequência, por exemplo, um T em torno de 69%. 2. INICIAÇÃO E ALONGAMENTO Em procariotos quem faz o reconhecimento dos promotores é a RNA polimerase quando ela está completa, unida a sua subunidade sigma, quando se ligam, encontram a região promotora para promover a separação das duas fitas para formar a bolha de transcrição. Quando a bolha está aberta, a RNA polimerase começa sintetizar cadeias curtas (2-8 nucleotídeos) e isso se repete até que a subunidade sigma se desliga do núcleo da enzima e neste momento tem a possibilidade da RNA polimerase progredir a síntese, então o estágio de iniciação passa para o estágio de alongamento da cadeia de RNA nascente. Já nos eucariotos, a própria RNA polimerase não é capaz de reconhecer a sequência promotora, então, proteínas acessórias são necessárias para esse reconhecimento, as quais as RNA polimerases vão se ancorar para o início do processo. Se tem uma sequência de genes, são os fatores de transcrição que vão reconhecer e se ligar à sequência promotora, e essa ligação forma uma cascata; quando se tem vários fatores ligados em sequência, terá uma estrutura proteica a qual a RNA polimerase vai poder se ancorar e iniciar o processo de síntese de RNA. Uma vez iniciada a síntese de RNA, o DNA é desenrolado formando uma bolha de transcrição, então, a RNA polimerase passa a etapa de alongamento, na qual a síntese prossegue até que é encontrado um sinal na molécula de DNA que vai indicar para a RNA polimerase que o RNA está completo e que ela pode encerrar a síntese. 3. TÉRMINO Em procariotos ocorre quando se forma uma sequência em grampo no RNA nascente, então tem um pareamento dentro da molécula de RNA; a formação dessa estrutura (grampo) desestabiliza a ligação da RNA polimerase no molde de DNA e faz o enceramento da síntese; as vezes pode ser acoplado à uma proteína acessória que é a proteína RO. Natália Finatto – Biomedicina 2021 Em eucariotos têm uma sequência de nucleotídeos que aparece no RNA nascente, que é um sinal de clivagem por uma enzima chamada endonuclease, que corta a molécula de RNA que está sendo sintetizada e juntamente tem uma enzima que vai adicionar uma sequência de nucleotídeos contendo adenina no final do mRNA. Então, a etapa de clivagem e poliadenização leva ao fim da síntese do RNA nos eucariotos. PROCESSAMENTO DE RNA Nos procariotos, os processos de transcrição e tradução acontecem de forma acoplada, uma vez que há separação entre núcleo e citoplasma. Nos eucariotos, além de ter uma separação espacial, tem algumas informações no RNA mensageiro que precisam ser retiradas para ter um RNA mensageiro “maduro” e essas etapas são chamadas de processamento, no qual todos RNAs sofrem após a síntese. O primeiro RNA que é transcrito a partir do DNA é chamado de transcrito primário, pré-mRNA ou hnRNA e ele precisa ser modicado para ser um mRNA maduro → processamento → 3 etapas: 1ª ETAPA Adição do CAP que fica na extremidade 5’ do mRNA e se constitui de uma guanina ligada de 5’ para 5’, então ela é ligada de forma inversa, além disso, possui uma metila na posição 7. A função dessa estrutura é ser um sinal para que esse RNA, quando chega ao citoplasma, seja traduzido; também funciona como uma proteção contra as RNAses (enzimas que degradam RNA). 2ª ETAPA Ao final da transcrição temos enzimas que adicionam 200 adeninas na extremidade 3’ dos RNAs e a cauda poliA confere estabilidade aos mRNA quando chegam ao citoplasma. 3ª ETAPA Splicing → retirada de íntrons. O mecanismo de splicing envolve duas reações de Natália Finatto – Biomedicina 2021 transesterificação para a retirada de regiões que não codificam aminoácidos que se encontram no meio dos genes que são chamados de íntrons. As regiões que codificam aminoácidos são chamadas de éxons e o objetivo é que elas sejam mantidas no mRNA maduro, e que essas regiões não informativas sejam removidas. Um gene eucariótico possui vários íntrons. 2 reações químicas ocorrem nesse processo: - Quebra da ligação entre o éxon que está acima ou a 5’ do íntron e por meio da extremidade 5’ do íntron há um ponto dentro do próprio íntron que é chamado de ponto de ramificação. - Envolve a ligação do primeiro éxon ao segundo éxon liberando o íntron em uma estrutura em formato de laço e o RNA processado, então, corresponde somente à sequência dos dois éxons. O processo de splicing é catalisado pelo spliceossomo, que são apresentados com 5 RNAs nucleases pequenas (snRNAs) + 150 proteínas livres ou complexadas aos RNAs (snRNPs). Quando se comparou a sequência de vários íntrons e éxons se observou que existiam alguma sequência de consenso que eram encontradas tanto na extremidade 5’ quanto na 3’ do íntron, como também no final do primeiro éxon e no iníciodo éxon seguinte. Outra sequência de consenso importante é a adenina que constitui aquele ponto de ramificação que é essencial para a remoção de um íntron. As snRNPs contém, então, pequenos RNAs que são essenciais para o pareamento e reconhecimento das sequências de consenso no início e no final dos íntrons. Então, o processo acontece em várias etapas e as subunidades do spliceossomo se encontram separadas dentro do núcleo, então, o processo de splicing, primeiramente, a subunidade 1 vai reconhecer o sítio de splicing 5’, a 2 reconhece o ponto de ramificação. Essas subunidades se unem e atraem a ligação das demais subunidades; então, Natália Finatto – Biomedicina 2021 o spliceossomo completo catalisa as duas transesterificações, removendo os íntrons. Além dos spliceossomos, há um segundo tipo de splicing: auto-splicing → tem 2 grupos de íntrons que catalisam o próprio splicing e esses íntrons tem atividades catalíticas sendo, então, consideradas ribozimas. Três classes de recomposição de RNA Nem sempre o splicing acontece da mesma forma em um mesmo gene. A maioria dos genes eucarióticos sofre o processo de splicing alternativo; os genes humanos dão origem a mais de um tipo de proteína por meio desse processo. Exemplo: o gene da calcitonina que possui 6 éxons que são transcritos em um mesmo RNA primário, mas é processado de forma diferente em 2 tecidos → na tireoide, o RNA mensageiro maduro é composto somente pela sequência dos primeiros 4 éxons e são traduzidos na proteína calcitonina; no hipotálamo, o mesmo gene é processado dando origem a um RNA mensageiro maduro que contem o 1º, 2º, 3º, 5º e 6º éxons (perde o 4º), a proteína sintetizada é diferente da calcitonina. Uma vez pronto o RNA, tendo reconhecido o seu CAP na extremidade 5’, e cauda poliA na extremidade 3’, tendo sofrido splicing correspondendo somente à sequência dos éxons, o RNA vai ser combinado à uma série de proteínas transportadoras para promover o transporte por meio dos poros nucleares para o citoplasma, lá, as proteínas se desligam do mRNA e ele vai estar pronto para ser traduzido pelos ribossomos. TRADUÇÃO – SÍNTESE DE PROTEÍNAS TRADUÇÃO Processo pelo qual o RNA maduro é lido ou compreendido pelo maquinário ribossômico e pelos tRNAs resultando na síntese de proteínas. A informação do mRNA precisa ser convertida em uma sequência de aminoácidos para acontecer a síntese de proteínas. Isso ocorre por meio do código genético. Natália Finatto – Biomedicina 2021 CÓDIGO GENÉTICO É formado por códons que são constituídos de 3 nucleotídeos (triplets) e cada códon corresponde a um único aminoácido; não há sobreposição na leitura da sequência de códons, ou seja: AUG GUG CGA AGC CCC → sequência do mRNA Cada triplet é lido um após o outro, sendo que cada nucleotídeo pertence somente àquele códon, então, a leitura seria AUG e depois GUG. Temos aminoácidos que podem ser codificados por um único códon, como é o caso da metionina, que é sempre codificado por AUG, mas tem o caso de aminoácidos que podem ser codificados por 6 códons, como é o caso da arginina, que é codificada por AGA, AGG, CGU, CGC, CGA e CGG. Quando se tem mais de um códon para o mesmo aminoácido, geralmente a diferença entre esses códons é na terceira posição do códon; isso significa que nosso código genético é redundante pois podemos ter mais de um códon codificando o mesmo aminoácido. Esse evento (mais de um códon codifica o mesmo aminoácido) se deve ao chamado pareamento oscilante da terceira base do códon com a primeira base do anticódon. Por uma questão de distância espacial, o pareamento da terceira base do códon aceita pareamentos um pouco inusuais com a primeira base do anticódon. O código genético é universal, então, os mesmos códons significam os mesmos aminoácidos em quase todos os organismos. Em um mRNA, não é o primeiro nucleotídeo que vai ser traduzido em um aminoácido, mas sim, o primeiro códon “AUG”, que sempre corresponde a uma metionina. A leitura desse mRNA vai seguir em múltiplos de 3 nucleotídeos, cada códon é formado por 3 nucleotídeos e essa leitura vai prosseguir até aparecer códons de terminação. Essa sequência do mRNA que fica entre o primeiro AUG e o stop códon é conhecida como fase aberta de leitura ou open-reading-frame. Além disso, no mRNA, tem uma região que fica a 5’ do primeiro AUG que é conhecida como região 5’UTR (5’ não traduzida) e, também após o stop códon há a 3’ uma região chamada 3’ UTR (3’ não traduzida). 5’UTR: importante para o início da síntese proteica. 3’UTR: importante para regulação da expressão gênica. Natália Finatto – Biomedicina 2021 Estruturas necessárias para a tradução: mRNA, tRNA e rRNA. tRNAs Têm uma estrutura semelhante à uma folha de trevo em 2 dimensões, que, em 3 dimensões fica semelhante à estrutura de um L invertido apresentando duas regiões que são as mais importantes para sua função. Essas duas regiões são: - Braço aceptor: está na extremidade 3’, é onde há a ligação do aminoácido; - Braço do anticódon: onde é encontrado a sequência de anticódon que vai parear com o códon do mRNA. Ativação dos tRNAs: processo de ligação do tRNA ao aminoácido correspondente; essa região é catalisada pelas enzimas aminoacil-tRNA- sintetases; é um processo que confere exatidão à síntese proteica porque não há como corrigir o aminoácido incorporado durante o processo de síntese, então, nessa etapa há o reconhecimento do tRNA e de seu aminoácido; se um aminoácido errado for ligado ao tRNA, as aminoacil-tRNA- sintetases são capazes de corrigir o erro. rRNAs São formados por duas subunidades: uma maior e uma menor. No citoplasma, essas subunidades estão, normalmente, separadas, só se unem no momento da síntese proteica. Os ribossomos procarióticos têm sua subunidade maior formada por 2 rRNAs e 31 proteínas e a subunidade menor tem 1 rRNA chamada de 16S e 21 proteínas. Ribossomo completo: 70S. Os ribossomos eucarióticos têm sua subunidade maior formada por 3 rRNAs e 50 proteínas e a subunidade menor tem 1 rRNA e 33 proteínas. Ribossomo completo: 80S. S = coeficiente de sedimentação. Quando as 2 subunidades de um ribossomo estão unidas, há a formação de 2 sítios ativos que são o sítio P (peptidil) e o sítio A (aminoacil). Natália Finatto – Biomedicina 2021 FASES DA TRADUÇÃO 1. INÍCIO/INICIAÇÃO Em procariotos, a subunidade menor do ribossomo vai reconhecer, por meio do rRNA 16S uma sequência rica em purinas, que é a sequência Shine-Dalgarno (RBS). Em eucariotos, para o início do processo de síntese proteica, precisa do mRNA, que vai ser traduzido e processado com CAP e cauda poli-A, a subunidade menor do ribossomo, o primeiro tRNA (que vai codificar uma metionina) e proteínas acessórias que vão se ligar e desligar, ajudando a guiar as estruturas chamadas de fatores de iniciação. A subunidade menor do ribossomo se liga à fatores de iniciação e ela vai percorrer o mRNA até encontrar o primeiro códon AUG. A seguir, o primeiro tRNA, que vai ter o anticódon que pareia com AUG e está com uma metionina, se liga ao complexo de iniciação. Nesse momento, fatores de iniciação se desligam e permitem a chegada da subunidade maior do ribossomo, levando à formação do ribossomo completo, formando os dois sítiosativos P e A. Natália Finatto – Biomedicina 2021 2. ALONGAMENTO Após a iniciação, temos um tRNA que está ligado ao sítio P contendo vários aminoácidos ligados e o tRNA que vai chegar no sítio A pareando seu anticódon com o códon que está exposto nesse sítio. Esse tRNA vem ligado a fatores de alongamento que vão se desligar do mesmo, e nesse momento, há a possibilidade da formação da cadeia polipeptídica: ligação peptídica que está ligada ao sítio P e o aminoácido seguinte que chegou no sítio A. Formação da ligação peptídica: cadeia nascente no sítio P, o novo tRNA no sítio A e há um ataque do grupo “C=O” no grupo amina, formando a ligação. Nesse momento, a sequência de aminoácidos do sítio P passa para o sítio A → processo de translocação → o tRNA que estava no sítio P vai ser eliminado e a cadeia nascente que estava ligada ao tRNA do sítio A vai ser transferida para o sítio P e o sítio A fica disponível para expor um novo códon e a chegada de um novo tRNA. Dessa forma, a síntese vai prosseguir de forma cíclica. Resumo do processo Ligação da subunidade menor → encontro do primeiro AUG → ligação do primeiro tRNA → ligação da subunidade maior → ligação do próximo tRNA → formação da ligação peptídica → translocação do ribossomo → o que estava no sítio A passa para o sítio P → a etapa de alongamento vai prosseguir → até surgir um stop códon no mRNA. 3. TÉRMINO Não existe tRNA correspondente aos stop códons. O que acontece é que esses códons são reconhecidos por proteínas chamadas fatores de liberação. Esses fatores se ligam ao stop códon e eles desencadeiam a desmontagem das duas subunidades do ribossomo e a liberação da cadeia polipeptídica formada, e, também do mRNA. Essas duas subunidades do ribossomo ficam disponíveis para uma nova síntese proteica. Polissomos: mRNAs e E. coli são traduzidos simultaneamente por vários ribossomos. Gene: é uma sequência de DNA que dá origem a um RNA estável, se esse RNA for um mRNA, dará origem a uma proteína. Natália Finatto – Biomedicina 2021 ORGANIZAÇÃO DO GENOMA E CONTROLE DA EXPRESSÃO GÊNICA EM PROCARIOTOS DEFINIÇÃO DE GENOMA O genoma compreende o conjunto completo do material genético de um organismo, ou seja, a sequência completa de nucleotídeos do seu DNA compreendida em todos seus cromossomos. Existem diferenças na organização da informação genética entre organismos procariotos e eucariotos. Em geral, os procariotos possuem somente um cromossomo, apenas uma cópia de cada cromossomo (são haploides), seus genomas são circulares e de tamanho muito pequeno. ORGANIZAÇÃO DO GENOMA PROCARIÓTICO O genoma dos procariotos é organizado de uma forma que proporciona economia de espaço e de energia para a replicação do organismo, então, é um genoma extremamente econômico pois os procariotos são organismos de replicação rápida. Uma bactéria E. coli leva cerca de 20 minutos para se replicar e formar uma nova bactéria CARACTERÍSTICAS GERAIS 1. Moléculas de DNA circulares, em sua maioria; 2. São organismos haplóides; 3. Quase todo genoma tem função codificante ou regulatório; 4. Não possuem íntrons; 5. Presença de sequências codificantes em ambas as fitas de DNA; 6. Coorientação entre replicação e transcrição; 7. Presença de unidades genéticas acessórias (plasmídeos, bacteriófagos, elementos genéticos transponíveis); 8. Organização dos genes em operons. UNIDADES GENÉTICAS ACESSÓRIAS Plasmídeos: são pequenos elementos extracromossômicos circulares com capacidade de replicação autônoma, ou seja, independente do cromossomo bacteriano principal, os plasmídeos possuem poucos genes, e em geral, esses genes codificam a resistência aos antimicrobianos ou a toxinas. Natália Finatto – Biomedicina 2021 Exemplos de plasmídeo: além dos mais de 300 plasmídeos naturais, existe um número crescente de plasmídeos artificiais que são ferramentas importantes nas técnicas de biologia molecular, sendo utilizados principalmente como vetores de clonagem. Os plasmídeos podem ser transferidos entre bactérias por meio de um fenômeno conhecido como conjugação bacteriana, e dessa forma, a resistência antimicrobiana também pode ser transferida entre bactérias. Bacteriófagos: são vírus que infectam bactérias, esses vírus, em geral, podem seguir duas vias quando infectam bactérias. Então, podem usar toda maquinaria bacteriana para se reproduzir até romper a célula bacteriana, que é o ciclo lítico, ou o DNA dos bacteriófagos pode permanecer incorporado no genoma da bactéria por muito tempo, sendo replicado juntamente com esse genoma, esse é o ciclo lisogênico. Devido a algum estímulo, o bacteriófago que está dentro do ciclo lisogênico pode sofrer um processo chamado indução, no qual o DNA do fago é liberado e entra no ciclo lítico rompendo a bactéria hospedeira. Elementos genéticos transponíveis: são sequências de DNA que codificam enzimas capazes de catalisar a sua própria replicação e transferência para outros sítios do genoma, são também conhecidos como “DNA egoísta” ou possíveis parasitas genômicos. Natália Finatto – Biomedicina 2021 ÓPEROS Um operon é um padrão organizacional frequente encontrado em bactérias, cerca de 25% dos genes de E. coli apresentam esse tipo de padrão organizacional, no qual vários genes que ficam um ao lado do outro compartilham uma região regulatória, essa região é formada por uma sequência promotora, que é onde vai se ligar a RNA polimerase, e por uma sequência operadora onde vão se ligar várias proteínas regulatórias. Num operon, todos os genes são transcritos em um único mRNA, que é chamado de policistrônico pois codifica várias proteínas. Um exemplo de operon é o operon da lactose, também conhecido como “Lac operon”, nesse operon é onde se encontram os genes bacterianos necessários para que a bactéria utilize o açúcar lactose como fonte de energia, e para isso ela precisa romper a ligação entre as subunidades galactose e glicose produzindo a enzima beta-galactosidase. O Lac operon é composto por 3 genes estruturais: Z, Y e A. O gene Z codifica a enzima beta-galactosidase, o gene Y codifica a permease, que faz a entrada da lactose nas células e o gene A codifica a enzima transacetylase, cujo papel não está claro ainda. Então, esses 3 genes estruturais são transcritos em um único mRNA e desses 3 genes tem a região promotora e sobreposta a essa região tem a região operadora. Também faz parte desse operon o gene lacI que codifica uma molécula que é conhecida como o repressor. Na ausência de lactose, o produto do gene lacI, que é a molécula do repressor, se liga à região operadora, bloqueando a ligação da enzima RNA polimerase e não permite que o mRNA do operon seja produzido. Natália Finatto – Biomedicina 2021 Quando a lactose está presente, a allolactose vai se combinar ao repressor e o repressor não consegue mais se ligar na região operadora, nesse caso a RNA polimerase fica livre para transcrever esse operon, produzindo o mRNA chamado policistrônico que pode ser traduzido nas 3 diferentes proteínas que são codificadas pelo operon. A beta-galactosidade vai quebraras moléculas de lactose presentes até esgotar a lactose, e quando não tiver mais lactose, ela se desliga do repressor e ele fica livre para se combinar no promotor e voltar a bloquear a expressão desse operon. Assim, vemos como o operon é sensível à presença ou ausência da lactose que é o substrato para os 3 genes estruturais. Porém, as bactérias preferem glicose como fonte de energia, pois é uma fonte mais facilmente metabolizável, então, elas possuem uma segunda maneira de regular esse operon. Na presença de lactose e glicose, a allolacotose se combina com o repressor, o repressor muda de conformação e não consegue mais se ligar ao operador e a RNA polimerase fica livre para transcrever, e ela produz uma quantidade pequena de mRNA que é chamado de transcrição basal. Mas quando a bactéria não tiver mais glicose para utilizar, ela precisa passar do nível basal de expressão de mRNA para um nível mais alto. Como a bactéria funciona na presença ou ausência de glicose? Quando existe glicose na célula bacteriana, há uma grande quantidade de ATP e quando os níveis de glicose nas bactérias estão baixos o ATP é convertido em AMP cíclico, ou seja, o AMP cíclico atua como um sensor dos níveis de glicose na bactéria. Quando há pouca glicose na célula bacteriana, os níveis de AMP cíclico sobem e esse AMP cíclico se combina a uma proteína chamada CAP (proteína ativadora de catabólico) que é uma proteína estimulante da ligação da RNA polimerase ao promotor, ou seja, ela faz com que a RNA polimerase se ligue mais fortemente à região promotora e então, ela transcreve de uma forma Natália Finatto – Biomedicina 2021 mais ativa esses genes e produz mais enzimas para a metabolização da lactose. Então, quando não há glicose, mas há lactose, a allolactose se combina ao repressor e a regulação do operon fica bloqueada e ao mesmo tempo o AMP cíclico se liga à proteína CAP estimulando a expressão desse operon e levando a um nível de expressão mais ativado. Resumindo: o operon lac está sob um controle duplo: negativo → pela ação da proteína repressora – permite à bactéria regular a expressão dos genes de acordo com a presença ou ausência de lactose. positivo → pela ação do complexo cAMP:CAP – permite à bactéria ativar a expressão do operon para a metabolização de outros dissacarídeos quando os níveis de glicose estão baixos na bactéria. Então, a principal unidade de regulação da expressão gênica nos procariotos é o operon. ORGANIZAÇÃO DO GENOMA DE EUCARIOTOS CARACTERÍSTICAS DO GENOMA 1. Empacotamento em cromossomos O genoma humano é organizado em 23 pares de cromossomos. Cada cromossomo é uma molécula de DNA altamente compactada, se fosse possível esticar essas moléculas de DNA, uma ao lado da outra, esse DNA apresentaria um comprimento total de quase 2 metros, portanto, se faz necessário uma compactação organizada que permita o processo de replicação. A estrutura cromossômica é reversível, então, ela precisa ser desempacotada para que o DNA seja acessível aos processos de replicação e transcrição. O DNA menos compactado é chamado de cromatina. Se há dois metros de comprimento de DNA, e ele precisa caber dentro do núcleo, terá vários graus diferentes de compactação. Nucleossomo: primeira etapa de empacotamento; consiste no enrolamento da molécula de DNA ao redor de um núcleo formado por histonas, que são proteínas com características básicas e por isso possui afinidade pelo ácido desoxirribonucleico. O DNA enrolado ao redor do núcleo de histona com caudas N-terminais de histonas é chamado nucleossoma. As caudas N-terminais se projetam do nucleossomo e alterações químicas nessas caudas podem aumentar ou diminuir a afinidade do Natália Finatto – Biomedicina 2021 DNA pelas histonas. Resumindo: a dupla hélice é enrolada nas histonas formando nucleossomo. Solenóide: segunda etapa de empacotamento; a fita com os nucleossomos é enrolada várias vezes ao redor de si mesma; o solenóide é compactado em forma de alças que se prendem a um arcabouço do cromossomo por proteínas ácidas, e esse arcabouço também vai se dobrar muitas vezes até formar o cromossomo em estágio mais condensado que é um momento da divisão celular. Em momentos em que a célula não está dividindo essa estrutura fica mais frouxa e não se consegue ver os cromossomos individualizados no núcleo celular. 2. Genoma extranuclear Há moléculas que se encontram nas mitocôndrias, ou seja, fora do núcleo. O genoma mitocondrial possui várias moléculas de DNA, as mitocôndrias se autoduplicam e segregam ao acaso, além de ter herança materna. Em algum momento da fecundação, o espermatozoide vai inserir apenas seu núcleo dentro do óvulo, sendo que as mitocôndrias ficam na causa do espermatozoide. O DNA mitocondrial é uma molécula de DNA circular, cuja estrutura é parecida com o DNA dos procariotos. - Genoma nuclear x genoma mitocondrial O genoma nuclear, embora seja milhões de vezes maior que o genoma mitocondrial, aparece em 23 a 24 cromossomos diferentes e 25 mil genes; já no genoma mitocondrial, tem 37 genes e é organizado em um único cromossomo circular. 3. Genes interrompidos Os genes eucarióticos são compostos por éxons e íntrons. Éxons: sequencias codificantes de aminoácidos. Íntrons: sequencias intervenientes que existem entre os éxons e que não codificam aminoácidos, sendo removidos nos momentos do splicing. Quanto mais complexo for o organismo eucariótico maiores vão ser seus íntrons, os humanos têm íntrons que são em geral maiores que os éxons. É importante não confundir íntron com sequência não codificantes. Os íntrons são aquelas sequências que não codificam aminoácidos que estão dentro dos genes, já as sequências de DNA que não codificam aminoácidos e ficam entre os genes são chamadas de DNA intergênico. 4. Regiões não-codificantes Composição do genoma humano O conteúdo de DNA do genoma haplóide é relacionado com a complexidade morfológica em procariotos, mas varia amplamente entre eucariotos → número de genes e quantidade de sequências não-codificantes. Natália Finatto – Biomedicina 2021 5. Sequências repetitivas Dentro das sequências de DNA não-codificante se descobriu a existência de muitas sequências de DNA que se repetem. Famílias gênicas: são os genes que temos mais de uma cópia no nosso genoma. Exemplo: genes que codificam as cadeias polipeptídicas que formam a molécula de hemoglobina, uma família codifica a cadeia alfa e outra a cadeia beta. A maior parte do nosso DNA repetitivo é constituído de sequências não-codificadoras e essas sequências podem estar uma ao lado (em tandem) da outra ou dispersas. Sequências repetidas em tandem: São divididas em três classes: Esses três tipos de sequências possuem um lugar preferencial nos cromossomos. Os satélites são encontrados próximos aos centrômeros, os minissatélites próximos às regiões dos telômeros e os microssatélites são amplamente dispersos nos cromossomos. Uma característica das sequências repetitivas muito importante é que o número de vezes que a unidade se repete é altamente variável entre os indivíduos, em um cromossomo pode ter 3 repetições e no cromossomo homólogo pode ter 4, por exemplo. Existem centenas de locos de microssatélites dispersos nos cromossomos humanos e podem ser utilizados para identificação individual (paternidade e criminalístico). Sequências repetitivas dispersas: SINEs: elementos dispersoscurtos, os elementos Alu são um exemplo, são sequencias de cerca de 300 pares de bases que se repetem mais de um milhão de vezes e correspondem a 7% do genoma. LINEs: são elementos longos e o principal exemplo é a família L1 que se repetem 6 milhões de vezes e possuem 100.000 cópias. Natália Finatto – Biomedicina 2021 A origem dessas sequências são as regiões chamadas transposons também conhecidos por genes egoístas/saltadores pois conseguem se duplicar e saltar de um genoma para outro (eucariotos e procariotos). VARIABILIDADE DO GENOMA DE EUCARIOTOS A sequência do DNA pode variar entre os indivíduos de uma população. Se um gene ou sequência do genoma tem duas ou mais formas alternativas que ocorrem com frequência superior a 1% da população, dizemos que este gene é polimórfico. PRINCIPAIS TIPOS DE POLIMORFISMOS 1. Bi-alélicos: possui 2 alelos: o SNPs e o INDELs. ➔ SNPs (single nucleotide plymorphisms) • São variações em uma única base na sequência de DNA; • Ocorrem, em média, a cada 300 nt do genoma humano; • Já foram identificados cerca de 11 milhões de SNPs no genoma humano; • Estima-se que existam cerca de 165 mil SNPs nos 20 a 25 mil genes humanos; • Se estiverem localizados dentro da sequência codificante de um gene, podem afetar a sequência de aminoácidos da proteína que o gene codifica; • Quando a troca de nucleotídeos ocorre em uma região promotora de um gene ou em uma região regulatória que não vai levar alteração na sequência aminoácidos da proteína os SNPs podem afetar a quantidade de proteína que é produdiza; • Se os SNPs não se localizarem dentro de um gene ou mesmo estando dentro, mas não levarem à troca de um aminoácido por outro, podem não ter efeito algum. ➔ InDels (Inserções e Deleções) Natália Finatto – Biomedicina 2021 2. Sequências repetitivas em tandem 3. CNVs (Variações no Número de Cópias) • Se observou no genoma humano que podemos ter sequências muito grandes de centenas até milhões de pares de bases que podem ser semelhantes aos InDels deletadas ou inseridas no nosso genoma; • A diferença básica de classificação entre InDels e CNVs é o tamanho. • Essas variações foram observadas em grande parte do nosso genoma, as vezes tem importância fenotípica ou clínica e as vezes não. Não esqueça: • A sequência de DNA varia entre os indivíduos; • Variantes comuns são chamadas de polimorfismos; • Podem envolver um, alguns, centenas ou até milhões de nucleotídeos; • Dependendo de sua localização no genoma podem afetar características ou não; • Podem ser usados para identificação de criminosos, pessoas desaparecidas, investigação de paternidade e muitas outras aplicações. CONTROLE DA EXPRESSÃO GÊNICA EM EUCARIOTOS Todas as células de um indivíduo possuem o mesmo genoma, por exemplo, na espécie humana este genoma corresponde a 23 pares de cromossomos. Por isso, células com o mesmo genoma possuem características diferentes e formam órgãos diferentes, como por exemplo, o rim, o fígado e o intestino. As diferenças entre os vários tipos celulares dependem dos produtos funcionais resultantes de genes particulares que a célula expressa e da sua interação com o ambiente. Na célula uma série de fatores influenciam quais genes serão transcritos e em que quantidade, isto é feito por meio da regulação da expressão gênica. Expressão gênica é a tradução das informações que estão codificadas no gene em um produto funcional, como proteínas. A expressão gênica pode ser influenciada por fatores ambientais, gerando o fenótipo do organismo e pode ser regulada por meio de várias etapas, sendo elas: 1. Epigenética; 2. Etapa transcricional; 3. Etapa de processamento do RNA mensageiro; Natália Finatto – Biomedicina 2021 4. Etapa relacionada à regulação da estabilidade do RNA mensageiro; 5. Etapa relacionada ao nível traducional; 6. Etapa de modificação pós-traducional. EPIGENÉTICA Nessa etapa ocorrem modificações no DNA, como metilação e acetilação, que interferem na sua compactação. A metilação consiste em adição de grupos metil a bases nitrogenadas do DNA e a acetilação consiste na adição de grupos acetil nas histonas. A acetilação de histonas e a metilação de bases nitrogenadas do DNA influenciam sobre quais sequências estão disponíveis ou não para a transcrição, ou seja, para o processo de produção de proteínas. Precisamos ressaltar as diferenças entre heterocromatina e eucromatina para entendermos melhor a acetilação e a metilação, já que a acetilação e metilação afetam diretamente esses tipos de organização do DNA. O cromossomo é formado pela cromatina que é composta de uma molécula de DNA enrolada em proteínas → histonas. Oito histonas se associam formando octâmeros. O DNA se enrola duas vezes ao redor desses octâmeros, sendo fixado a eles pela histona 1, formando os nucleossomos. A organização do DNA em nucleossomos é que permite a sua alta compactação. Os domínios do cromossomo que possuem cromatina altamente condensada são chamados de heterocromatina e os domínios que possuem cromatina pouco condensada são chamados de eucromatina. A heterocromatina é formada, em sua maioria, por sequências repetitivas de DNA que não participam da produção de proteínas ou RNA funcional. Possui nucleossomos menos espaçados que não permitem o acesso das moléculas que participam do processo de transcrição, como por exemplo, a RNA polímerase. Natália Finatto – Biomedicina 2021 A eucromatina é composta por sequências de nucleotídeos que participam da produção de proteínas ou RNA funcional. Possui nucleossomos mais espaçados que permitem o acesso das moléculas que participam do processo de transcrição. Na acetilação, as enzimas acetiltransferase adicionam grupos acetil às proteínas histonas o que desestabiliza a estrutura do nucleossomo. → Essa desestabilização permite que o DNA se separe das histonas e que as moleculas que participam do processo de transcrição tenham acesso ao DNA. A restauração da ligação do DNA às histonas ocorre quando a enzima desacetilase remove os grupos acetil das histonas. Outro fator que interfere na estrutura da cromatina é a metilação do DNA. A metilação consiste na adição de grupos metil a bases nitrogenadas do DNA. A metilação acontece nas bases citosina, sendo que o DNA fortemente metilado está ligado à repressão da transcrição. A metilação da citosina é mais comum quando esta base está adjacente à guanina no mesmo filamento. Regioes do DNA com muitas bases citosina e guanina no mesmo filamento são chamadas de ilhas de CpG, que são geralmente encontradas perto dos sítios de ínicio de transcrição. As ilhas de CpG encontram-se metiladas quando os genes não estão sendo transcritos. Quando os genes estão sendo transcritos, as ilhas de CpG tem os grupos metil removidos antes do início da transcrição. ETAPA TRANSICIONAL Nesta etapa, a regulação gênica atua de forma a limitar ou acentuar a produção de proteínas, o que pode ser feito por meio de vários mecanismos que envolvem diversos elementos regulatórios. Para explicar melhor estes mecanismos que podem influenciar na produção de proteínas, utilizaremos como exemplo a produção de melanina nos seres humanos. A cor da pele é resultado da influência de vários fatores, dentreeles a produção de melanina por células chamadas melanócitos. Os melanócitos são células especializadas localizadas na epiderme e que tem a função de produzir grânulos de melanina, os quais são transferidos aos queratinócitos. Os grânulos de melanina se localizam em posição supranuclear, protegendo o DNA destas células dos efeitos nocivos do sol. Quando nos expomos ao sol por um certo tempo, nossa pele começa a se bronzear. Este bronzeamento inicial é causado pelo escurecimento da melanina pré-existente nas células da epiderme Natália Finatto – Biomedicina 2021 e, também pelo aumento da velocidade de transferência dos grânulos de melanina para estas células. Se esta exposição ao sol continuar, a produção de melanina aumenta, é neste ponto que age a regulação gênica na etapa transcricional, que aumentará a síntese de RNA mensageiro que dará origem aos grânulos de melanina, a produção de mRNA é acelerada pela atuação de proteínas ativadoras. Estas proteínas não participam da síntese de RNA, mas se ligam a região promotora para atrair e posicionar corretamente a RNA polimerase II para o início da transcrição. As proteínas ativadoras possuem um ou mais domínios funcionais que modulam a transcrição. O domínio é uma região da proteína reguladora que interage com outras proteínas com o DNA e com outras moléculas do meio. Estes domínios podem ser: 1. Um domínio que reconhece uma sequência reguladora no DNA; 2. Um domínio que interage com uma ou mais proteínas do aparelho de transcrição; 3. Um domínio que interage com proteínas ligadas a sequências reguladoras vizinhas do DNA de tal modo que estas proteínas atuem cooperativamente na regulação da transcrição; 4. Um domínio que influencia na condensação da cromatina, seja de forma direta ou indireta; 5. Um domínio que atua como sensor das condições fisiológicas dentro da célula. No entanto, se essa exposição ao sol diminui ou cessa, a produção acelerada dos grãos de melanina não continua no mesmo ritmo. Para que isso ocorra, atuam as proteínas repressoras que irão reprimir a transcrição. Isso ocorre porque as proteínas repressoras se ligam ao promotor, impedindo a ligação do aparelho de transcrição. Outro mecanismo seria a sua ligação ao aparelho de transcrição, o que impede ou dificulta o processo transcricional. CONTROLE PÓS- TRANSCRICIONAL DA EXPRESSÃO GÊNICA EM EUCARIOTOS MUTAÇÃO E REPARO
Compartilhar