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Os acidentes por abelhas em animais domésticos são muito recorrentes e sérios, e podem ser fatais em decorrência da indução de graves reações tóxicas e alérgicas. São mais comuns nos cães em virtude de seus comportamentos curiosos.Toxicose por abelhas em animais domésticos As abelhas possuem um órgão inoculador de veneno, chamado ferrão, contendo glândulas veneníferas anexas. A espécie de abelha mais comum a causar esses acidentes, é a Apis mellifera. Apis mellifera. Fonte: Google Imagens Composição do veneno e mecanismo de ação: O veneno das abelhas é composto por aminas biogênicas, peptídeos e proteínas. A melitina, um dos peptídeos do veneno, perfaz 50% do veneno seco e é responsável pelos efeitos lesivos. A Fosfolipase A2, perfaz 12% do veneno seco e produz efeito hemolítico. Outro princípio ativo é a Fosfatase Ácida, que exerce atividade alergênica. Há também histamina, apamina, hialuronidase e fator degranulador de mastócitos. A quantidade de veneno seco varia entre 0,2 a 0,5 mg, sendo que em uma ferroada a abelha teria a capacidade de injetar em torno de 0,1 mg de veneno. A melitina é citotóxica, cardiotóxica e hemolítica. Atua diminuindo a tensão superficial da água da membrana plasmática, destruindo as membranas biológicas. Diminuindo sua resistência, causa lise de membranas. A melitina age de forma sinérgica com a Fosfolipase A2 sobre os fosfolipídios de membrana. A apamina é neurotóxica e interfere na permeabilidade do potássio pelas membranas celulares, causando diminuição do fluxo de potássio, levando a uma despolarização excessiva das células. Causa no animal convulsão, hiperatividade e espasmos. O degranulador de mastócito provoca o eritrema, edema e a dor no local da ferroada, sinais desencadeados por reação de hipersensibilidade, que ocorre pela liberação da histamina dos mastócitos. Essa histamina, bem como a que já existe no veneno (a concentração de histamina e serotonina no veneno depende da espécie), provoca vasodilatação e aumenta a permeabilidade vascular, facilitando a difusão da toxina nos tecidos e inflamação. Edema após ferroadas por abelhas. Fonte: Google Imagens Sinais Clínicos: Geralmente, as áreas mais afetadas nos animais são a ocular, nasal e oral, mas precisamente no focinho. Porém em um acidente por múltiplas picadas, as ferroadas ocorrem por todo o corpo. O acidente que envolve uma única ou poucas picadas, se caracteriza por uma reação inflamatória local. Porém, se esse mesmo acidente ocorre em um animal sensibilizado, haverá o desencadeamento de uma reação de hipersensibilidade do tipo I ou choque anafilático. Outra situação possível seria o acidente por múltiplas picadas, caracterizado como grave. Nesse caso, os animais acometidos apresentam ferrões por todo o corpo, agitação, náuseas, êmese, diarreia, hemoglobinúria, necrose tubular, insuficiência renal, hipotensão, taquicardia, taquipneia, edema pulmonar, CID, mialgia, tremores, espasmos, convulsões e coma. Lesões após retirada de ferrões. Fonte: Google Imagens Diagnóstico: O diagnóstico se dá por anamnese e histórico relatado pelo proprietário, pelos sinais clínicos apresentados pelo paciente e pela presença dos ferrões no animal, bem como exames laboratoriais como hemograma, bioquímico e urinálise. Achados laboratoriais: Devido ao efeito hemolítico do veneno haverá hematócrito e hemoglobina diminuídos, além de trombocitopenia e hipoproteinemia. A hemoglobinúria é evidente e causa necrose tubular aguda. Na urinálise também é visto proteinúria, bilirrubinúria, hematúria, azotemia e há presença de leucócitos e descamação celular. No leucograma nota-se leucocitose de neutrofilia com desvio a esquerda. Os dados de hemogasometria (diminuição do pH e do bicarbonato) indicam acidose metabólica. O aumento do hormônio ACTH na circulação (ocasionado por uma das substâncias do veneno) deprime a resposta imuno-celular, o que deixa os animais acidentados mais susceptíveis às infecções secundárias. Tratamento: Não há um antiveneno específico, o animal deve receber um tratamento de suporte e monitoração constante. Fluidoterapia (solução fisiológica ou ringer) para manter o animal hidratado e evitar problemas renais graves. Oxigenioterapia para garantir ventilação. Adrenalina na dose adequada para fazer hipertensão e dilatação das vias aéreas. Anti-histamínico (por exemplo, cloridrato de prometazina) e corticosteroide (por exemplo, dexametasona). Antibiótico para evitar o desenvolvimento de bactérias no local (por exemplo, enrofloxacina), anti-hemorrágico (por exemplo, transamin). Os ferrões devem ser retirados de maneira cuidadosa, com pinças planas ou bisturi, pois um erro na remoção dos ferrões e o médico veterinário estará inoculando mais toxina no paciente de forma rápida. Caso o animal tenha recebido apenas uma picada e não desenvolveu sinais mais graves, o indicado é usar bolsa de gelo no local da ferroada que certamente estará sensível e com edema. Paciente recebendo oxigenioterapia. Fonte: Google Imagens Prognóstico Está intimamente relacionado com a quantidade de picadas, com a quantidade de veneno que o animal recebeu e a sensibilidade do animal ao veneno. É importante que o paciente realize exames de sangue para verificação de hemólise, CID, ou trombocitopenia, bem como analisar o débito urinário e as concentrações séricas de eletrólitos, ureia e creatinina. Bons estudos! Lydia Leticia Referências SPINOSA, Helenice de Souza; GÓRNIAK, Silvana Lima; PALERMO-NETO, João. Toxicologia aplicada à medicina veterinária. Barueri: Manole, 2008. 942 p. SOUSA, Jéssica Maria da Silva. Toxicose por picada de abelhas em cão. Pubvet, [S.L.], v. 12, n. 3, p. 1-3, mar. 2018. Editora MV Valero. http://dx.doi.org/10.22256/pubvet.v12n3a60.1-3.
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