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CURSO DE INTRODUÇÃO AO ZEN BUDISMO CURSO DE INTRODUÇÃO AO ZEN BUDISMO Texto de Apoio 2019 CURSO DE INTRODUÇÃO AO ZEN BUDISMO 1. Introdução A Comunidade Zen Budista, Zendo Brasil é vinculada ao Templo Taikozan Tenzuizenji, da Tradição Zen Budista Soto Shu, ou Soto Zen - Japão , e tem por Primaz Fundadora, 1 Monja Shingetsu Coen Roshi. A missão de difundir os ensinamentos de Xaquiamuni Buda está no desenvolvimento de todas as suas atividades: a prática do Zazen – meditação sentada, recomendada pelos fundadores do Japão, Mestre Eihei Dogen Daiosho, século XIII e Mestre Keizan Jokin Daiosho, século XIV, a realização de cerimônias, preces, palestras, oficinas temáticas, cursos de introdução e aprofundamento do Zen Budismo. A Tradição Zen Budista Soto Zen tem por pilares a Paz, os Direitos Humanos e o Meio Ambiente, com atuação voltada às questões da atualidade, por meio dos ensinamentos de Xaquiamuni Buda. O Curso de Introdução ao Zen Budismo tem por objetivos tornar acessível a história e ensinamentos de Xaquiamuni Buda e promover a conscientização de valores e caminhos de autotransformação para uma sociedade mais justa e pacífica. A metodologia adotada buscará promover a vivência dos ensinamentos e a sua integração à realidade dos participantes, os sensibilizando para o desenvolvimento de capacidades de entendimento e atuação nessa realidade. 1 http://global.sotozen-net.or.jp/por/what/denomination/ http://global.sotozen-net.or.jp/por/what/denomination/ CURSO DE INTRODUÇÃO AO ZEN BUDISMO O Curso de Introdução ao Zen Budismo, a organização dos conteúdos, bem como as metodologias a serem adotadas, está organizado considerando os “Três Tesouros Budistas”, por meio de aulas teórico-práticas, integradas e participativas As orientações desta Escola bem como a de todas as correntes Budistas estão apoiadas e fundamentadas nos “Três Tesouros, ou Três Joias”: ❖ Buda, o ser venerável, aquele (a) que despertou; também se refere a Xaquiamuni Buda ❖ Darma, a Lei Verdadeira, os ensinamentos. ❖ Sanga, a comunidade que pratica o Darma de Buda. A fé nos Três Tesouros tem sido a característica religiosa de todo o Budismo. Segundo ele “alguns professores ocidentais argumentam que, por não haver uma divindade, o Budismo de Xaquiamuni Buda não é uma religião, mas um sistema de éticas, moralidade e filosofia. Entretanto, tais professores desconsideram a natureza religiosa da fé nos Três Tesouros. Se o Budismo não fosse mais que um sistema filosófico e ético, não teria sobrevivido até os nossos dias como a fé de bilhões de pessoas...o estudo profundo da filosofia budista pode fazer budólogos, mas não um budista. Como no tempo de Buda Xaquiamuni, ser budista significa ter fé religiosa nos Três Tesouros. ” Buda é uma palavra sânscrita que significa “desperto, iluminado”. Aquele que acessou a verdade. O Buda Histórico, chamado de Xaquiamuni, deixou ensinamentos transmitidos e compreendidos como “verdade última”, e assim, denominado “Darma”. E, quando seus ensinamentos são compreendidos e vividos, surge a Sanga. “Buda, Darma e Sanga, interligados - três tesouros, formam uma grande joia. ” Uma das preces importantes nas comunidades budistas é a seguinte: Eu me refugio em Buda, o ser mais venerável. Eu me refugio no Darma, a Lei livre de apegos. Eu me refugio na Sanga, comunidade que protege tais ensinamentos por meio da prática incessante. ... Retorno e me abrigo em Buda, o ser mais Venerável Retorno e me abrigo no Darma, lei livre de apegos; Retorno e me abrigo na sanga, comunidade em harmonia. CURSO DE INTRODUÇÃO AO ZEN BUDISMO Os ensinamentos de Xaquiamuni Buda e o cotidiano dos participantes tornar-se-ão um conteúdo vido de autoconhecimento, sendo o Zazen – a meditação zen - o portal principal desse aprendizado. O presente texto tem por princípio apoiar as aulas e servir como roteiro temático e será disponibilizado durante o transcorrer do desenvolvimento da programação. Recomendamos que o presente material seja utilizado apenas por alunos inscritos e participantes do Curso. Favor não replicar, divulgar ou repassar. O Primeiro Tesouro: Buda 1. Xaquiamuni Buda Índia, cidade de Kapilavastu, atual Nepal, há 2.600 anos atrás, 600 AC, nasce o príncipe Sidarta Gautama, filho do Rei Sudodana e da Rainha Maia. Sidarta significa “aquele que realiza que realiza o seu propósito”. A Rainha Maia morre sete dias após seu nascimento, passando a ser cuidado por sua tia Mahaprajapati, que se tornou, mais tarde, a esposa de seu pai. Sidarta foi uma criança observadora e um jovem determinado, questionador do sentido da vida. Fez várias excursões fora do palácio, encontrando e refletindo sobre a velhice, a doença, a morte e um renunciante. Seus questionamentos sobre o sentido da vida e da morte aumentam. Decide então abandonar a vida palaciana à procura de respostas. Certa noite, aos 19 anos de idade, abandona a sua família, esposa e filho recém, e seguiu para a floresta, para viver como um renunciante. Praticou com muitos mestres de yoga e depois se dedicou às práticas de jejuns e mortificações por anos que o levaram a pele e ossos, em grande fragilidade. Uma jovem, de nome Sujata, de um vilarejo próximo, o encontrou e lhe ofereceu arroz doce, o salvando da fraqueza e inanição. Sidarta se recuperou e sentou em zazen com determinação, sob a árvore da iluminação (Bodhi ou Bodai), sentou-se imóvel por sete dias e sete noites, passando por inúmeros obstáculos e desafios. No amanhecer do oitavo dia, do décimo segundo CURSO DE INTRODUÇÃO AO ZEN BUDISMO mês lunar, ao ver a estrela da manhã, exclamou: “Eu, a grande terra e todos os seres, juntos, simultaneamente, no tornamos o Caminho”. Nesse momento surgiu um Buda. Buda em sânscrito significa “Desperto”, Iluminado. Aquele que despertou que atingiu o mais alto grau de iluminação, de Sabedoria. Passou a ser conhecido como aquele que despertou, um iluminado, um Buda. Segundo os pesquisadores japoneses, isso aconteceu no que hoje seria o dia 8 de dezembro. Xaquiamuni Buda é considerado o Buda histórico. Ele mesmo disse não ser o único, mencionando incontáveis Budas. O significado de Buda Xaquiamuni é: Xaquia – nome de sua família; Muni – sábio; Buda - desperto. Assim, Xaquiamuni Buda, durante o resto de sua vida compartilhou esta experiência e a traduziu em ensinamentos a inumeráveis seguidores, discípulos, discípulas, de todas as regiões da Índia. Aos 80 anos entrou em Parinirvana, a Grande Paz. Nunca se diz que Buda morreu. 2. O caminho de seus discípulos na divulgação dos ensinamentos Após o Parinirvana de Xaquiamuni Buda, os monges, monjas, leigos e leigas se reuniram e realizaram vários Concílios com objetivo de organizar a divulgação dos ensinamentos. Nesse momento, conflitos surgiram entre tendências mais conservadoras e mais progressistas. O resultado foi o surgimento das correntes, ou tendências de prática: ● Hinayana. ● Mahayana. ● Vajrayana. A difusão dos ensinamentos na Ásia recebeu influencias culturais por onde passava, e as escolas também ramificaram-se através das interpretações filosóficas sobre os ensinamentos. O gráfico a seguir ilustra as diversas escolas budistas e sua expansão: CURSO DE INTRODUÇÃO AO ZEN BUDISMO Ilustração Internet 3. Organização dos Ensinamentos de Buda: O Tripitaka Os ensinamentos de Buda foram organizados e agregados em três grupos, denominados por “Tripitaka”, isto é, três cestas: 1. Sutra-Pitaka: Os sermões de Buda – Ensinamentos.2. Vinaya-Pitaka: Preceitos – Vida Ética. 3. Abhidarma-Pitaka: Conteúdo analítico, interpretativo dos ensinamentos de Buda. Correntes filosóficas sobre os ensinamentos. CURSO DE INTRODUÇÃO AO ZEN BUDISMO Os ensinamentos de Xaquiamuni Buda foram disseminados inicialmente por toda Ásia, depois Europa, Américas do Norte e Sul, chegando até nós. Sidarta Gautama, Xaquiamuni Buda, fez mais de 84 mil sermões, transmitidos oralmente e depois, transcritos. Os ensinamentos foram transmitidos de Mestre a Discípulo, discípulos que foram reconhecidos como verdadeiros Mestres. A linhagem de Xaquiamuni Buda foi assegurada em sucessão ininterrupta. De Xaquiamuni Buda a Makakasho e assim sucessivamente até chegar aos nossos Mestres do Japão, aos mestres de Monja Coen Roshi e à Monja Coen Roshi. Essa transmissão é direta, face a face. CURSO DE INTRODUÇÃO AO ZEN BUDISMO O segundo Tesouro: Darma 4. Os Três ensinamentos principais Os Selos do Darma são certas características especiais onde reconhecemos um ensinamento ser budista. Todo ensinamento budista, independentemente da escola ou corrente, deve conter em seus textos os seguintes princípios: ❖ O princípio da “Impermanência” CURSO DE INTRODUÇÃO AO ZEN BUDISMO Nada é estável. Tudo está em constante transformação ❖ O princípio do “Não-Eu” Nada é fixo , nada é permanente, Nenhum fenômeno é independente. As coisas se definem pela rede de condicionamentos e relacionamentos que as ligam, causas e condições (lei da causalidade). Tudo é vazio de uma autoidentidade substancial, fixa e permanente.” ❖ O princípio do “Nirvana” (Estado de Paz e tranquilidade sábias) A Lei da causalidade é também conhecida como a lei de Origem Dependente. A causalidade é o núcleo de toda filosofia budista. Aquele que compreende a lei de origem dependente compreende o Darma e aquele que compreende o Darma compreende a lei de origem dependente. Significa que na dependência, as coisas surgem. Causa e efeito acontecem simultaneamente. Tudo o que existe é resultado de inúmeras causas e condições. As Quatro Nobres verdades, os mais conhecidos ensinamentos de Buda e foi o seu primeiro Sermão. ● Primeira Nobre Verdade: Dukha – A insatisfação existe. ● Segunda Nobre Verdade: Há causas para as insatisfações. ● Terceira Nobre Verdade: Cessação das insatisfações - Nirvana ● Quarta Nobre Verdade: Há um caminho para a superação das insatisfações O Caminho de Oito Aspectos. 5.O Caminho de Oito Aspectos ou Nobre Caminho Óctuplo CURSO DE INTRODUÇÃO AO ZEN BUDISMO 1. Visão, memória correta. 2. Pensamento correto; 3. Fala correta; 4. Ação correta 5. Meio de vida correto; 6. Esforço correto; 7. Atenção correta e (Mindfulnes) 8. Concentração correta – meditação - zazen Identificar e compreender as Quatro Nobres Verdades em nossa vida é ponto de partida para uma mente de sabedoria e contentamento. O quadro a seguir representa os Oito Aspectos como um fluxo interdependente: 6. As Seis Perfeições – os Seis Paramitas CURSO DE INTRODUÇÃO AO ZEN BUDISMO As seis perfeições, ou seis Paramitas, são ensinamentos destacados pela corrente Mahayana. Paramita significa atravessar para outra margem, completar, aperfeiçoar. Os seis paramitas devem ser praticados a cada dia, com esforço e determinação, fortalecendo a travessia necessária das nossas dificuldades para a sabedoria. São orientações para aperfeiçoar a mente e alcançar a margem da sabedoria libertadora. 1. Dana paramita – Doação, generosidade, oferta; 2. Sila paramita – Preceitos, vida ética; 3. Ksanti paramita – Acolhimento, paciência; 4. Virya paramita – Esforço contínuo; 5. Diana paramita – Meditação e 6. Prajna paramita – Sabedoria. 7. Os Cinco Agregados 2 O ser humano é composto por cinco agregados interdependentes chamados de skandas. Aqui numerados por uma questão didática, mas se constituem sistemicamente, simultaneamente. 1. Rupa – Forma física O corpo, incluindo os cinco órgãos do sentido e o sistema nervoso. 2. Vedana – Sensações Agradáveis. Desagradáveis. Emoções. Importante ter consciência. Observar raízes. Causas. 3. Samjna – Percepções Foco da atenção, nomear, formular conceitos, tanto daquele que percebe como aquele que é percebido. 2 Pontuações que tiveram por base o Livro A Essência dos Ensinamentos de Buda. Thich Nhat Hanh. Editora Rocco. CURSO DE INTRODUÇÃO AO ZEN BUDISMO 4. Samskara – Formações – Processos Mentais Formação de mais de um elemento que permitem associações mentais. 5. Vijnana – Consciências o Consciências dos órgãos do sentido. Que gerencia tudo o que entra pelos órgãos dos sentidos. Que leva e traz para a grande memória. o Todas elas estão em incessante movimento. 8.Prajnaparamita - O Sutra do Coração da Grande Sabedoria Completa Os ensinamentos de Xaquiamuni Buda sobre “Prajnaparamita” - Sabedoria Perfeita - começaram a ser organizados por seus discípulos no período de 100 anos AC, e, por meio de ampliações, compilações, chegaram a conter cem mil versos. No período de 300 a 500 DC, os textos foram condensados em prosa e verso. O Sutra do Coração da Grande Sabedoria Completa ou Perfeita, em japonês Maka Hannya Haramita Shingyo, é um dos mais importantes sutras da corrente Mahayana. O Zen Budismo da Soto Zen, pertencente ao Mahayana assim também o considera. CURSO DE INTRODUÇÃO AO ZEN BUDISMO Sutra significa sutura, costura, como um fio que une palavras, ensinamentos, como uma “guirlanda de flores”. Sutra do Coração da Grande Sabedoria Completa (Livro de Sutras – página 10) Quando Kanzeon Bodisatva praticava Em profunda Sabedoria Completa Claramente observou O vazio dos cinco agregados Assim se libertando De todas as tristezas e sofrimentos. Oh! Sarishi! Forma não é mais que vazio. Vazio não é mais que forma. Forma é exatamente vazio. Vazio é exatamente forma. Sensação, conceituação, diferenciação, conhecimento. Assim também o são. Oh! Sarishi! Todos os fenômenos são vazio-forma, Não nascidos, não mortos, Não puros, não impuros, Não perdidos, não encontrados Assim é tudo dentro do vazio. Sem forma, sem sensação, Conceituação, diferenciação, conhecimento; Sem olhos, ouvidos, nariz, língua, corpo, mente, Sem cor, som, cheiro, sabor, tato, fenômeno. Sem mundo de visão, sem mundo de consciência, Sem ignorância e sem fim à ignorância, Sem velhice e morte e sem fim à velhice e morte, Sem sofrimento, sem causa, sem extinção e sem caminho, Sem sabedoria e sem ganho, Sem nenhum ganho. Bodisatva devido à Sabedoria Completa. Coração-Mente sem obstáculos, Sem obstáculos, logo, sem medo, CURSO DE INTRODUÇÃO AO ZEN BUDISMO Distante de todas as delusões, Isto é Nirvana. Todos os Budas dos Três Mundos Devido à Sabedoria Completa Obtêm Anokutara San Myaku San Bodai. Saiba que Sabedoria Completa É expressão de grande divindade, Expressão de grande claridade, Expressão insuperável, Expressão inigualável, Com capacidade de remover Todo o sofrimento. Isto é verdade não é mentira! Assim, invoque e expresse a Sabedoria Completa, Invoque e repita: GYA-TE GYA-TE HA-RA GYA-TEI HARA SO GYA-TE BO-JI-SOWA-KA Sutra do coração da grande sabedoria completa O Terceiro Tesouro: A SANGA 09. A sanga, comunidade que vive os ensinamentos de Xaquiamuni Buda A sanga formada por monjas, monges, leigas e leigos discípulos e discípulas de Buda, originaram-se durante a vida de Xaquiamuni Budaexistindo até hoje, espalhando pelo mundo. No Japão, a Escola Soto Zen é uma das maiores religiões do Japão, com cerca de quinze mil templos e oito milhões de adeptos. Os ensinamentos de Xaquiamuni Buda foram transmitidos pela Escola Soto Zen de uma maneira peculiar. CURSO DE INTRODUÇÃO AO ZEN BUDISMO Mestre Dogen, século XIII, torna-se discípulo do mestre Zen, ou Ch’na, na China, chamado Tendo Nyojo, 50º Ancestral e resgata a prática do “sentar em zen”, zazen, de Xaquiamuni Buda, de Bodidarma, 28º Ancestral da linhagem. Mestre Keizan, século XIV, 53º Ancestral, movido por um coração de compaixão e devido as suas características de olhar para todos os necessitados, além do zazen, se aproxima das comunidades rurais, dos leigos, homens, mulheres, idosos e crianças e, em linguagem acessível, convive com as suas realidades cotidianas. Novos Templos são cuidados por ele. Desenvolve cerimonial, volta-se para uma linguagem devocional, indo ao encontro das necessidades e cultura popular do povo que ainda continha práticas Xintoístas. A Soto Zen adquire ainda mais popularidade e abrangência no Japão. 10. Os Mestres Fundadores do Zen Budismo no Japão – Soto Zen Koso Eihei Dogen Zenji Koso Eihei Dogen Zenji 1200 – 1253 Século XIII Mestre Eihei Dogen Eihei Dogen Zenji, o fundador da Escola Soto Zen e de Daihonzan Eiheiji, nasceu em 26 de janeiro de 1200; durante o Período Kamakura da história Japonesa. Seu pai foi Koga Michichika, Ministro de Estado, e sua mãe Ishi, filha de Fujiwara Motofusa. Provavelmente, o jovem Dogen Zenji viveu em meio ao conforto. Porém, aos treze anos de idade, ele subiu o Monte Hiei e no ano seguinte raspou sua cabeça e tornou-se monge. Diz-se que ele se tornou monge ao sentir a impermanência do mundo na ocasião da morte de sua mãe, quando ele tinha oito anos de idade. CURSO DE INTRODUÇÃO AO ZEN BUDISMO Mestre Dogen, jovem monge determinado, de grandes estudos do Darma, decepcionado por testemunhar a decadência da prática monástica no Templo onde estudava, viajou à China, à busca de respostas às suas indagações do Caminho. Após um longo período de buscas, aprendizados e ainda dúvidas com mestres budistas, foi na Montanha de Tendo que encontrou o Mestre Nyojo, Abade do Templo Keitoku, onde as suas indagações se aquietaram. Durante o Zazen noturno, ouviu de seu Mestre Tendo Nyojo, as advertências aos monges sobre o sono durante a prática: “A prática do Zen é abandonar corpo e mente”. Não existe queimar incensos, fazer prostrações, recitar o nome de Buda, declarar arrependimento ou entoar os sutras; apenas abandonar corpo e mente por meio do sentar atento”! O Mestre Tendo Nyojo era considerado o único na Grande China da Dinastia Sung com verdadeiro conhecimento do Caminho. Desde a primeira vez que encontrou o Mestre Nyojo, Mestre Dogen praticava dia e noite, sem cessar um momento sequer, sem se deitar. Mestre Nyojo dizia: “ Sua prática é como dos antigos Budas. Você certamente espalhará o Caminho dos Ancestrais do Darma. Eu o reconheci assim como o Venerável Xaquiamuni Buda a Makakasho. Após o reconhecimento de que mestre Dogen havia obtido o “Olho do Tesouro do Verdadeiro Darma”, Mestre Tendo Nyojo, em 1225, o reconheceu como o 51º Ancestral da linhagem desde Xaquiamuni Buda. Mestre Dogen retorna ao Japão em 1227 e inicia a se estabelecer. Na procura de locais para desenvolver os ensinamentos, foi aos 44 anos de idade que na área de Echizen, da família Shibi, nas profundezas da montanha, que identificou o local adequado de prática. Um de seus primeiros trabalhos escritos ao chegar no Japão foi o “Fukanzazengi” (Recomendação Universal de Zazen), onde cuidadosamente explica o significado de zazen e como praticá-lo. No importante trabalho chamado “Shobogenzo”, transmite em profundidade a mente do despertar espiritual. Em 1244, Mestre Dogen é fundador do Templo Daihonzan Eiheiji, atual província de Fukui. Eiheiji, com 770 anos, ainda hoje, conta com mais de 200 monges se dedicado ao treinamento da prática do Zen. Em 1253, Mestre Dogen adoeceu e morreu em Tokyo, aos 53 anos. Após três gerações de sucessores na abadia de Eiheiji, Mestre Keizan, o 4º Abade, na sucessão de Mestre Dogen. Nesse período ensinamentos da Tradição SotoShu difundiram-se amplamente entre o povo, comunidades agrícolas e em todo o território, conferindo ao Mestre Keizan a nomeação de o segundo Fundador da Soto Zen. CURSO DE INTRODUÇÃO AO ZEN BUDISMO 10.1 A meditação Zen - O Zazen Mestre Eihei Dogen, após a sua visita à China em busca de um Mestre para esclarecer dúvidas e conhecer a prática correta dos ensinamentos de Buda, ao retornar ao Japão, em 1227, escreve seu primeiro o texto de orientação de como realizar a prática do Zazen, prática que conduz ao despertar, denominado Fukanzazengi “ Regras Universais do Zazen”. Fukanzazengi – Regras universais do zazen (Manual de meditação de Eihei Dogen Zenji – Japão, 1200-1253) Agora, quando procuramos a fonte do Caminho, descobrimos que é universal e absoluta. Torna-se desnecessário distinguir entre prática e iluminação. O ensinamento supremo é livre, então por que deveríamos estudar os meios de atingilo? Sem dúvida, o Caminho está bem longe da delusão. Por que, então, preocupar-nos com os meios de eliminá-la? O Caminho está completamente presente onde você está, então qual a necessidade de prática e de iluminação? Contudo, se no início houver a menor diferença entre você e o Caminho, o resultado será uma separação maior do que aquela entre o céu e a Terra. Se surgir o menor pensamento dualista, você perderá sua mente-Buda. Por exemplo, algumas pessoas se orgulham de sua compreensão e acreditam que estão ricamente dotadas com a sabedoria de Buda. Crêem que já alcançaram o Caminho, iluminaram sua mente e conquistaram o poder de tocar os céus. Imaginam que estão andando no reino da iluminação. Mas o fato é que quase perderam o Caminho absoluto, que está além da própria iluminação. Ainda se veem as marcas daquele que por seis anos sentou-se ereto e se ouvem os 3 ecos do Monte Shaolin, onde por nove anos sentou-se de face para a parede aquele que transmitiu o selo da mente . Já que esses antigos sábios eram tão diligentes, como 4 podem os praticantes dos dias atuais deixarem de praticar zazen? Devemos parar de correr atrás de palavras e de letras e aprender a nos retirar e refletir sobre nós mesmos. Quando assim fazemos, nosso corpo e nossa mente são naturalmente 3 Xaquiamuni Buda 4 Bodidarma. CURSO DE INTRODUÇÃO AO ZEN BUDISMO transcendidos, e nossa natureza-Buda original se manifesta. Se almejamos realizar a 5 sabedoria de Buda, devemos começar a praticar imediatamente. Para fazer zazen, é desejável um local tranquilo. Devemos ser moderados no comer e no beber, abandonando todo relacionamento deludido. Deixando tudo de lado, não pensemos nem no bem, nem no mal, nem no certo, nem no errado. Assim, tendo cessado a agitação da mente, abandonamos até mesmo a ideia de nos tornar Buda. Isso é verdadeiro não só para o zazen, mas para todas as nossas ações cotidianas, sem apego ao nos sentar ou ao nos deitar. Geralmente, colocamos um acolchoado quadrado no chão, onde vamos nos sentar, e sobre ele, uma almofada redonda. Podemos nos sentar na posição de lótus ou na de meio-lótus. Na primeira, colocamos o pé direito sobre a coxa esquerda e, em seguida, o pé esquerdo sobre a coxa direita. Na segunda, apenas colocamos o pé esquerdo sobre a coxa direita. As roupas devem ser folgadas, mas bem arrumadas. Em seguida, colocamos o dorso da mão direita sobre o pé esquerdo e o dorso da mão esquerda sobre a palma direita, com a ponta dos polegares se tocando levemente. Devemos nos sentar perfeitamente eretos, nem inclinados à direita, nem à esquerda, nem para a frente, nempara trás. As orelhas devem estar alinhadas com os ombros, e o nariz, alinhado com o umbigo. A ponta da língua deve ser colocada no palato, e os lábios e os dentes devem se encostar suavemente. Mantendo os olhos entreabertos, respiramos suavemente pelas narinas. Finalmente, tendo regulado o corpo e a mente, fazemos uma respiração profunda, movendo nosso corpo para a esquerda e para a direita, e então devemos ficar imóveis, sentados tão firmes quanto uma rocha. Existe o pensar, existe o não pensar e existe o além do pensar e do não pensar. Essa é a verdadeira base do zazen. Zazen não é meditação passo a passo. É o portal do Darma da agradável tranquilidade, é a prática e a realização da iluminação, é tornar-se o koan . A verdade aparece, não 6 mais havendo delusão. Se compreendermos isso, estaremos completamente livres, como um dragão na água ou um tigre recostado na montanha. O Darma Correto surge naturalmente, e ficamos completamente livres de todo o cansaço e confusão. Ao terminarmos o zazen, devemos mover o corpo devagar e nos levantar com calma. Não devemos nos mover bruscamente. Pela virtude do zazen, é possível transcender a diferença entre o comum e o sagrado e obter a capacidade de morrer sentado ou de pé. Além do mais, é impossível para nossa mente discriminatória compreender como os Budas e Ancestrais do Darma comunicaram a essência do Zen a seus discípulos com o levantar de um dedo, com uma vara, jogando uma agulha ou batendo com o martelo de madeira ; ou como eles 7 5 Tornar real, autenticar. Não é exatamente alcançar. O significado aqui é mais próximo de perceber, de despertar, de vivenciar a sabedoria suprema e torná-la real na vida de cada praticante. Permitir que essa sabedoria se manifeste com a prática. Dogen Zenji Sama insiste em afirmar que prática é realização. Não praticamos para nos tornar Buda, mas porque somos Buda praticamos. Sem prática, porém, não há iluminação (estado Buda). 6 Algumas vezes traduzido como “pegadinha zen”, koan originalmente significa um Édito Imperial na China antiga. Atualmente, refere-se a situações históricas de perguntas e respostas de antigos e famosos mestres zen, com o objetivo de levar os praticantes à iluminação, ao despertar (satori ou mezameru, em japonês), por meio da transcendência da mente dualista. Na tradição Soto, a vida diária é considerada o koan essencial, a manifestação da verdade. 7 Alusão ao han, instrumento de ma eira tocado para anunciar atividades no mosteiro.d CURSO DE INTRODUÇÃO AO ZEN BUDISMO transmitiram a iluminação com o levantar de um hossu , de um punho, de um bastão 8 ou com um grito. Tampouco esse assunto pode ser compreendido por meio de poderes sobrenaturais ou de uma visão dualista de prática e iluminação. Zazen é a prática além dos mundos subjetivo e objetivo, além do pensamento discriminatório. Assim, nenhuma discriminação deverá ser feita entre o inteligente e o não inteligente. Praticar o Caminho com todo o respeito é, em si mesmo, iluminação. Não existe separação entre a prática e a iluminação, ou entre o zazen e a vida cotidiana. Os Budas e Ancestrais do Darma, tanto neste país quanto na Índia e na China, todos preservaram cuidadosamente a mente-Buda e incentivaram assiduamente o treinamento zen. Devemos, pois, nos dedicar exclusivamente e ser completamente absorvidos pela prática do zazen. Apesar da divulgação de inúmeras maneiras de compreender o budismo, devemos praticar somente o zazen. Não há motivo para abandonarmos nosso assento de meditação e fazermos viagens inúteis a outros países. Se nosso primeiro passo for errado, inevitavelmente tropeçaremos. Já tivemos a boa fortuna de nascer com um corpo precioso, então não devemos desperdiçar nosso tempo à toa. Agora que sabemos qual é a coisa mais importante no budismo, como podemos ficar satisfeitos com o mundo transitório? Nosso corpo é como o orvalho sobre a relva, e nossa vida, como o clarão de um raio, que desaparece num instante. Sinceros praticantes zen, não se espantem com o Verdadeiro Dragão , nem gastem 9 muito tempo inutilmente apalpando apenas uma pequena parte do elefante . 10 Dediquem seus esforços ao Caminho que leva diretamente à natureza-Buda. Respeitem aqueles que alcançaram o conhecimento completo, que estão sem intenção de intenção. Tornem-se um com a sabedoria dos Budas e, assim, sucessores legítimos da iluminação dos Ancestrais. Praticando dessa maneira, certamente serão capazes de compreender tudo isso. Então, a casa do tesouro naturalmente se abrirá e vocês poderão se servir à vontade. Taiso Keisan Zenji 8 Bastão com pelos em uma das extremidades, usado nas cerimônias, simbolizando os fios de cabelo que saem do terceiro olho de Buda. 9 Referência a um monge que desenhava e colecionava imagens de dragões, mas, quando encontrou um dragão de verdade, fugiu apavorado. 10 Menção a um ensinamento de Buda segundo o qual um elefante foi apresentado a algumas pessoas com deficiência visual e pediu-se que descrevessem o que era. Cada uma delas conseguiu ter apenas uma ideia parcial do animal, conforme a parte que apalpou. CURSO DE INTRODUÇÃO AO ZEN BUDISMO Taiso Keizan Zenji 1268 – 1325 Século XIV Taiso Keizan Zenji nasceu em 1268 na Província de Echizen, onde fica atualmente a Prefeitura de Fukui. Sua mãe, Ekan Daishi, era devota de Kannon Bosatsu (Avalokiteshvara), Bodisatva da compaixão. Diz-se que ela estava a caminho de uma pequena capela dedicada a Kannon quando deu a luz. Por esse motivo, o nome que Keizan Zenji recebeu ao nascer foi "Gyosho" (Prática-Vida). Aos 8 anos de idade raspou a cabeça e entrou no Templo de Eiheiji, onde iniciou a prática sob o terceiro abade, Gikai Zenji. Aos 13 anos de idade ainda em Eiheiji, foi oficialmente ordenado monge sob Ejo Zenji. Após a morte de Ejo Zenji ele praticou sob Jakuen Zenji em Hokyoji, localizado na atual Prefeitura Fukui. Diferente de Mestre Dogen, que explorava em profundidade o eu interior, Mestre Keizan se destacou ao olhar para fora e espalhar corajosamente os ensinamentos. Para a Escola Soto Zen, os ensinamentos desses dois fundadores estão intimamente conectados. Depois de anos de prática em Kioto e Yura, Mestre Keizan tornou-se monge residente de Jomanji, na Província de Awa (atual Prefeitura de Tokushima). Ao longo dos quatro anos seguintes, transmitiu os preceitos Budistas a mais de setenta praticantes leigos. A partir disso é possível compreender o voto de Keizan Zenji de libertar todos os seres através do ensinar e transmitir o Caminho. Ele também se destacou ao enfatizar a igualdade entre homens e mulheres. Encorajava bastante suas discípulas a tornarem-se monjas residentes. Em uma época na qual as mulheres eram injustamente marginalizadas, essa atitude foi pioneira. Acredita-se que essa tenha sido a origem da organização das Monjas da Escola Soto Zen, e foi por esse motivo que muitas mulheres se refugiaram em Buda, Darma e Sanga. Keizan Zenji, além da prática de zazen fazia orações, rituais e serviços memoriais para ensinar. Isso atraía muitas pessoas e dava a elas uma sensação de paz. Por esse motivo a Escola Soto Zen se expandiu rapidamente. A sua Obra principal foi Zazen Yôjinki - (A que Estar Atento em Zazen). Conforme segue na íntegra. CURSO DE INTRODUÇÃO AO ZEN BUDISMO Zazen Yôjinki - (A que Estar Atento em Zazen) Manual de meditação do Mestre Keizan Jôkin (Japão, 1264 - 1325) Zazen significa clarificar a mente e descansar tranquilamente na sua natureza presente. Isto é chamado "revelar a si mesmo" e "manifestar a base verdadeira". Corpo e mente abandonados, sem apego a formas como sentar ou deitar. Sem pensar no bem, sem pensar no mal, transcendendo o comum e o sagrado. Além de todos os conceitos sobre ilusão e iluminação, passando através das barreiras entre seres comuns e Budas. Sem fazer nada, deixe de lado todas as preocupações,desapegando-se de tudo. Não fabrique coisa alguma a partir dos seis sentidos. Quem é este? Seu nome nunca foi conhecido. Não pode ser considerado corpo, não pode ser considerado mente. Tentando pensar sobre isto, o pensamento se esvai. Tentando falar sobre, palavras somem. Como um bobo, como um tolo. Tão alto como uma montanha, tão profundo como o oceano. Não mostra seu pico mais elevado nem suas invisíveis profundezas. Brilha sem pensar. A fonte é clara em explicação silenciosa. Ocupando o céu e a terra, o seu próprio corpo se manifesta completo e só — uma pessoa de incomensurável grandeza, como quem tenha completamente morrido, cujos olhos não se embaçam por nada, cujos pés não são suportados por nada. Onde há alguma poeira? Qual é a barreira? Água pura nunca teve frente nem costas, espaço nunca terá dentro ou fora. Clara como cristal e naturalmente brilhante antes da forma e do vazio se separarem — objetos e a mente em si não têm espaço para existirem. Sempre esteve conosco, mas nunca teve um nome. O terceiro Ancestral Fundador, um grande mestre, temporariamente o chamou "mente". O Venerável Nagyaharajuna provisoriamente o chamou "corpo". Essência e forma iluminadas, manifesta nos corpos de todos os Budas, é simbolizada pela lua cheia: nada falta, nada excede. Esta mente é em si mesma Iluminação. Sua luz brilha através do passado e se irradia até o presente. CURSO DE INTRODUÇÃO AO ZEN BUDISMO Nagyaharajuna usou este símbolo sutil para o samádi de todos os Budas. Mas a mente é sem sinais, sem dualidade, embora formas possam diferir em aparência. Apenas mente, apenas corpo. Não é questão de igualdade ou diferença. A mente se transforma em corpo e, quando o corpo surge, parecem separados. Quando uma onda se move, dez mil ondas a seguem. No momento em que a discriminação mental surge, milhões de coisas vêm à tona. Isto quer dizer que os quatro elementos básicos e os cinco agregados (Skandas) eventualmente se combinam e os quatro membros e cinco sentidos aparecem. E assim por diante, em relação as 36 partes do corpo e 12 relações causais da interdependência. Quando a fabricação mental surge, desenvolve continuidade, mas ainda existe apenas devido ao agrupamento de miríades de fenômenos. A mente é como a água do oceano e o corpo como as ondas. Não há ondas sem água e não há água sem ondas. Água e onda não são separadas, movimento e quietude não são diferentes. Diz-se: "o ser verdadeiro indo e vindo, vivendo e morrendo, é o corpo indestrutível dos quatro elementos e dos cinco agregados (skandas)". Zazen é penetrar diretamente no oceano da Natureza-Buda e manifestar o corpo de 11 Buda. A mente pura e clara é autenticada no momento presente e a luz verdadeira brilha em toda parte. O oceano não aumenta nem diminui e as ondas nunca cessam. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Assim, os Budas aparecem no mundo apenas com o propósito de fazer com que as pessoas realizem a sabedoria e a visão da iluminação. Sempre tiveram uma arte impecável e sutil, chamada Zazen — apenas sentar na prática pura e tranquila do "Samádi Que Se Auto Completa" (Jijiyu Zanmai – em jap.), penetrando o "Rei dos Samádis" (Oo Zanmai – em jap.). Se alguém mesmo por uma só vez penetrar esse samádi, despertará e realizará que este é o portão principal do Caminho dos Budas. Aqueles que querem clarificar o solo da mente devem abandonar a mistura de conhecimentos confusos, interpretações, ideias de comum e sagrado, cortar todos os sentimentos delusivos e manifestar a mente verdadeira e real. As nuvens de ilusão se dispersam e a mente-lua brilha. Buda disse: "Aprender e pensar são como estar fora da porta. Zazen é voltar ao lar para se sentar em tranquilidade". Como isto é verdadeiro! Aprendendo e pensando, os pontos de vista não param e a mente fica atolada. Por isto é estar do lado de fora. Em 11 Natureza Buda - O potencial para realizar iluminação, inato em todas as coisas. Literalmente, natureza iluminada. CURSO DE INTRODUÇÃO AO ZEN BUDISMO zazen, tudo se tranquiliza e ainda assim penetra toda parte. É como voltar ao lar e se sentar em paz. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . As aflições dos cinco obstáculos (ganância e sensualidade, raiva e ódio, loucura e delusão, adormecimento, excitação e arrependimento) todos vêm da ignorância. Ignorância significa não compreender a si mesmo. Zazen é compreender a si mesmo. Mesmo que tenha se libertado dos cinco obstáculos, se não eliminar a ignorância, você não é um Buda Ancestral. Se quiser eliminar a ignorância, para discernir o caminho, zazen é a chave essencial. Um antigo disse: "Quando a confusão cessa, a tranquilidade vem, a sabedoria surge. E quando a sabedoria surge, a realidade pode ser vista". Se você quer dar fim à ilusão, deve deixar de pensar no bem e no mal e deve abandonar toda atividade. A mente sem pensar e o corpo sem fazer nada são o ponto essencial. Apegos delusivos terminam e a ilusão desaparece. Quando a ilusão desaparece, a essência é revelada e você sempre a compreende. Não é quietude, não é atividade. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Evite todas as artes e artesanatos, prescrições médicas e augúrios, assim como canções, música e dança, disputas, conversas fúteis, fama e fortuna, honra e lucro. Poesia e canções podem ajudar a clarificar a mente, mas não seja pego por elas. Abandonar caligrafia e escrita é o precedente superior das pessoas do Caminho, a melhor maneira de harmonizar a mente. Não se apegue nem a roupas finas nem a trapos velhos. Roupas finas instigam ganância e o medo de roubo. Assim se tornam um obstáculo. Recusá-las é considerado excelente desde os tempos antigos. Mesmo que você tenha roupas finas, não se preocupe com elas. Se alguém as roubar, não vá correndo atrás do ladrão. Roupas velhas, limpas e remendadas devem ser usadas, mas se você não se livrar da sujeira poderá ficar doente ou com frio. Isto também pode se tornar um obstáculo. Embora não devamos ficar ansiosos por nossas vidas, se roupas, comida e sono não forem suficientes, são chamados de "três insuficiências" e são causas de regressão. Coisas vivas, coisas duras e coisas estragadas (comida impura) não devem ser ingeridas. Com a barriga se mexendo e fazendo barulhos, com desconforto e calor no corpo e na mente, haverá dificuldade em sentar. Não se deve indulgir no apego a comidas finas, não apenas pelo possível desconforto que podem causar a corpo e mente, mas para evitar a ganância. Devemos comer apenas o suficiente para mantermos nossa vida. Não se preocupe tanto com o sabor. Se fizer zazen com a barriga cheia, poderá até ficar doente. CURSO DE INTRODUÇÃO AO ZEN BUDISMO Após as refeições, tanto grandes quanto pequenas, não se sente (em zazen) imediatamente. Ao contrário, espere um pouco antes de fazer zazen. Geralmente monges mendicantes devem ser moderados ao comer. Isto significa limitar suas porções — comer dois terços e deixar um terço. Todos os medicamentos tradicionais, como o gergelim e o inhame selvagem, podem ser ingeridos. Esta é a técnica fundamental para harmonizar corpo-mente. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Quando sentado em zazen, não se encoste ou apoie em nenhuma parede, encosto, suporte para meditação ou telas. Também não se sente em locais de muito vento ou locais altos de grande exposição ao sol e ventanias. Estas podem ser causas de doenças. Quando em zazen, seu corpo pode parecer às vezes quente ou frio, confortável ou desconfortável, às vezes duro, às vezes solto, às vezes pesado, às vezes leve, às vezes perfeitamente acordado. Tudo devido à respiração não estar regulada. Esta deve ser regulada. Esta é a maneira de regular a respiração: abra sua boca, percebendo como está a respiração— longa ou curta. Naturalmente ela se harmonizará. Siga a respiração por alguns momentos. Quando a sensação de estar consciente surgir, a respiração está regulada. Depois disso, deixe-a seguir normalmente pelas narinas. A mente pode parecer afundar ou boiar. Às vezes parece esperta, outras vezes estúpida. Às vezes você poderá ver através das paredes, fora da sala, outras vezes poderá ver através de seu corpo, ou ver formas de Budas e Bodisatvas. Às vezes compreende escrituras ou tratados. Coisas como estas são doenças causadas pela desarmonia entre a consciência e a respiração. Quando estas coisas acontecerem, sente-se com a atenção repousando em seu colo. Se a mente afundar em torpor, coloque sua atenção entre os olhos, onde começa o cabelo (cerca de oito centímetros acima do centro de suas sobrancelhas). Se sua mente estiver distraída, pulando de um pensamento a outro, foque a atenção na ponta do nariz ou na parte baixa do abdômen (quatro centímetros abaixo do umbigo – tanden, em japonês). Em geral, ao sentar coloque a mente na palma de sua mão esquerda. Se sentar por muito tempo, mesmo sem forçar a mente a se acalmar, ela naturalmente não ficará espalhada por toda parte. Agora, em relação aos ensinamentos antigos, embora sejam lições para iluminar a mente, não os leia, escreva ou ouça em excesso. Fazê-lo em demasia pode perturbar e dispersar a mente, chegando inclusive a provocar doenças. Não faça zazen onde há incêndios, enchentes, bandidos, nem próximo do mar, nem perto de bares, casas de prostituição ou locais onde viúvas, virgens ou jovens estejam CURSO DE INTRODUÇÃO AO ZEN BUDISMO cantando. Não fique perto de reis, oficiais importantes, pessoas poderosas ou pessoas cheias de luxúria ou desejosas de nome e fama, contadores de histórias ou daqueles que gostam de discutir à toa. Sobre os serviços budistas para as massas e projetos de grandes construções, embora sejam coisas boas, quem apenas se concentra em zazen não deve se envolver com elas. Não se apegue a pregar ou ensinar, pois as distrações e pensamentos dispersivos vêm daí. Não sinta prazer em multidões nem procure discípulos. Não estude nem pratique muitas coisas. Não se sente em lugares extremamente claros ou escuros, extremamente frios ou quentes, entre biscateiros ou onde morem pessoas que procuram prazeres fáceis. Você pode permanecer em um mosteiro onde haja um verdadeiro mestre, nas profundezas das montanhas ou nos refúgios dos vales. A margem de águas claras e montanhas verdes são os locais ideais para se praticar kinhin. Perto dos riachos, sob as árvores, são os locais para clarificar a mente. Observe a impermanência, nunca a esqueça — faça surgir a vontade de alcançar a iluminação. Sente-se sobre algo grosso para ficar confortável. O local de prática deve estar limpo. Sempre queime incenso e ofereça flores. Os bons espíritos que guardam o verdadeiro ensinamento, assim como os Budas e Bodisatvas, o protegerão. Se colocar a imagem de um Buda, Bodisatva ou de um Venerável, nenhum espírito maligno ou demônio o apanhará. Viva sempre em grande compaixão e dedique o poder infinito do zazen a todos os seres. Não se torne orgulhoso, presunçoso ou arrogante da sua compreensão do Darma — estas são qualidades de pessoas comuns, pessoas de fora do Caminho. Lembre-se do voto de terminar com o sofrimento, o voto de realizar a iluminação. Apenas sentar, sem fazer nada, é a técnica essencial de penetrar o Zen. Sempre lave os olhos e os pés antes do zazen. Com o corpo e a mente à vontade e o comportamento harmonioso, abandone sentimentos mundanos e não se apegue a sensações sublimes sobre o Caminho. Embora não se deva ser avaro com os ensinamentos, não fale a menos que lhe perguntem. Então espere por três pedidos e responda se houver um quarto pedido verdadeiro. De dez coisas que possa dizer, deixe nove sem falar. Mofo crescendo em volta da boca, como um leque no inverno, como um sino ao vento, sem questionar de que direção o vento vem — estas são características das pessoas do Caminho. CURSO DE INTRODUÇÃO AO ZEN BUDISMO Apenas vá pelo princípio do ensinamento, sem selecionar as pessoas. Vá pelo Caminho e não se congratule — este é o ponto mais importante a relembrar. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Zazen não se baseia em ensinamento, prática e realização. Ao contrário, ensinamento, prática e realização estão todos contidos em zazen. Avaliar a realização baseando-se em alguma noção de iluminação não é a essência do zazen. Praticar baseando-se em aplicar esforço não é a essência do zazen. Ensinamento baseado em libertar-se do mal e cultivar o bem não é a essência do zazen. No Zen há ensinamentos, mas não o ensinamento comum. Zen é apontar diretamente, expressar o Caminho, falar com todo o corpo. Tais palavras não são sentenças nem frases. Onde os pontos de vista terminam e os conceitos são exauridos, a palavra única permeia as dez direções sem perturbar nem mesmo um fio de cabelo. Este é o verdadeiro Ensinamento dos Budas Ancestrais. Embora falemos de "prática", não é uma prática a ser feita. Isto quer dizer: o corpo não a faz, a boca não recita, a mente não fica pensando e pensando, os seis sentidos são deixados à sua própria claridade e não são perturbados. Não são os dezesseis estágios de prática dos ouvintes do Darma (sravakas). Não é a prática da compreensão da corrente de doze elos da origem dependente dos que praticam sozinhos, isolados (pratyekabudas) . Também não são as seis perfeições, os 12 seis paramitas, nem as inúmeras práticas dos Bodisatvas. É sem esforço, sem luta, e por isso chamado de Acordar ou Iluminar. É apenas descansar no "Samádi que Se Auto Completa" (Jijiyu Zanmai – em japonês), alegremente percorrendo as quatro práticas de paz e de bênçãos dos bodisatvas. Esta é a inconcebível e profunda prática dos Budas Ancestrais. Embora falemos de "realização", esta não se apega a si mesma como sendo "realização". É a prática do Samádi Supremo (Oo Zanmai – em japonês) conhecido como não nascido, não obstruído. Espontaneamente surge a Compreensão Superior. É o portal de claridade suprema que se abre na realização do Tathagatha , nasce da prática do grande bem estar. Vai além 13 12 Ensinamentos dos sravakas e pratyebuddhas. Sravakas são pessoas que se esforçam para se tornarem aracãs (arhat), isto é, alcançarem a iluminação para si mesmos, sem se preocuparem em salvar os outros. Pratyekabuddhas são pessoas que alcançam a iluminação por meio de estudos independentes, sem a orientação de um mestre. Eles também não se preocupam em salvar os outros. 13 Um dos epítetos de Buda, literalmente "Aquele que Vem e que Vai do Assim como É" - a realidade absoluta que transcende a multiplicidade de formas do mundo dos fenômenos. CURSO DE INTRODUÇÃO AO ZEN BUDISMO do sagrado e do profano, além da delusão e da sabedoria. Esta é a iluminação suprema (Anokutara Sammyaku Sambodai). Esta é a nossa própria natureza. Zazen também não se preocupa com disciplina, concentração ou sabedoria, mas contém os três. Disciplina e preceitos são para prevenir o erro e fazer cessar o mal. Em zazen, vemos tudo de maneira não dualista, deixando de lado todos os desdobramentos. Sem preocupação se o caminho é budista ou mundano, esquecendo-se dos sentimentos sobre o Caminho e dos sentimentos mundanos, sem afirmar nem negar, sem bom nem mau — o que poderia obstruir? Esta é a disciplina sem forma da mente. Concentração significa contemplação sem divisões. Zazen é abandonar corpo e mente, transcendendo compreensão e confusão. Imutável, imperturbável, sem agir, sem delusão, como um tolo, como um bobo. Como uma montanha, como um oceano. Sem traços nem de movimento nem de imobilidade — concentrado sem nenhum sinal de concentração. Porque não possui objeto de concentração é chamado de grande concentração. Sabedoria é geralmente compreendidacomo sendo o claro discernimento. Em zazen, todo conhecimento desaparece por si só. A mente e a consciência discriminatória são completamente esquecidas. O olho de sabedoria através do corpo todo não tem diferenciação, mas vê claramente a essência do estado de Buda. Desde o princípio livre de confusão, corta todos os conceitos. Sua luminosidade abrangente e clara permeia tudo. Esta é a sabedoria sem nenhum sinal de sabedoria e por isto mesmo é chamada de Grande Sabedoria. Os ensinamentos que os Budas expuseram durante todas suas vidas são apenas: disciplina (moralidade, preceitos – "kai" em jap.), concentração (meditação, prática –"jo" em jap.) e sabedoria (mente- Buda – "e" em japonês). Neste zazen não há preceito que não seja mantido, não há concentração que não seja cultivada, não há sabedoria que não seja realizada. Conquistar os demônios da confusão, obter o Caminho, girar a Roda do Darma e retornar ao "sem marcas", tudo depende deste poder. Poderes sobrenaturais e suas funções inconcebíveis, emanar luz e expor os ensinamentos — tudo está presente neste zazen. Penetrar Zen é zazen. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Para zazen, primeiro escolha um local quieto e coloque um forro grosso no chão. Não permita que vento, fumaça, chuva ou orvalho entrem. Mantenha um espaço adequado para sentar e colocar os joelhos. No entanto, em tempos antigos havia quem usasse diamantes ou rochas como almofadas. O local não deve ser nem muito claro durante o CURSO DE INTRODUÇÃO AO ZEN BUDISMO dia nem muito escuro à noite. Deve ser quente no inverno e fresco no verão. Esta é a técnica. Abandone mente, intelecto e consciência. Pare de relembrar, pensar e observar. Não espere se tornar um Buda, não se preocupe com certo e errado. Dê valor ao tempo, como se estivesse salvando sua cabeça do fogo. Buda sentou-se com a coluna reta, Bodidarma virado para a parede, com a mente em foco, sem nenhuma preocupação. Sekito (Shishuang em chinês) era como uma árvore morta. Tendo Nyojo advertia contra dormir em zazen e ensinava: "Você pode alcançar a realização apenas se sentando, sem necessidade de queimar incenso, fazer reverências, relembrar o nome dos Budas, fazer cerimônias de arrependimento, ler escrituras ou fazer rituais de recitação". Ao sentar-se , deve-se sempre usar uma okesa, exceto durante a primeira e última parte da noite, quando a programação diária não é válida. Não seja descuidada (o). O zafu (almofada) não deve sustentar a coxa inteira, mas apenas da metade até a base da espinha. É assim que os Budas e Ancestrais se sentaram. Você pode se sentar em meio lótus ou lótus completo. A maneira de sentar em lótus completo é colocar o pé direito na coxa esquerda e o pé esquerdo na coxa direita. Afrouxe suas roupas, mas deixe-as bem arrumadas. Em seguida, ponha sua mão direita sobre o pé esquerdo e a mão esquerda sobre a mão direita, com os polegares se tocando levemente, próximos do corpo, na altura do umbigo. Sente-se bem ereto, sem pender para a direita ou a esquerda, para frente ou para trás. As orelhas com os ombros e o nariz com o umbigo devem estar alinhados. A língua é colocada no céu da boca. Respira-se pelas narinas. A boca deve estar fechada e os olhos abertos, embora não completamente. Tendo equilibrado seu corpo desta forma, respire profundamente pela boca algumas vezes. Em seguida, ainda sentado, balance o tronco sete ou oito vezes, passando de movimentos largos para movimentos menores. Então, sente-se reto e alerta. Agora pense não pensar. Como pensar assim? Indo além do pensamento. Essa é a essência do zazen. Atravesse diretamente os obstáculos e penetre a intimidade do Grande Despertar. Quando quiser se levantar, primeiramente ponha as mãos sobre os joelhos, mova seu corpo sete ou oito vezes, indo de movimentos pequenos a movimentos mais largos. Expire profundamente pela boca, coloque as mãos no chão e se levante lentamente. Ande vagarosamente, circulando da esquerda para a direita. Se torpor ou adormecimento o vencerem quando sentado, mova seu corpo ou abra mais os olhos. Você também pode colocar a atenção entre as sobrancelhas, na linha do cabelo. Se mesmo assim ficar adormecido, esfregue seus olhos e corpo. Se mesmo CURSO DE INTRODUÇÃO AO ZEN BUDISMO assim não acordar, levante-se e ande, sempre caminhando em círculos em sentido horário. Depois de haver andado uns cem passos, seu adormecimento deverá ter desaparecido. A maneira de andar (o Kinhin) é dar meio passo com cada respiração. Andar como se não estivesse andando, em silêncio e imóvel. Se não acordar após andar, pode lavar os olhos ou refrescar a testa, ou recitar o prefácio dos preceitos do bodisatva ou qualquer outra coisa. Apenas encontre uma maneira de não adormecer. Você deve observar que o assunto de vida-morte é de suprema importância, e a impermanência, rápida. O que está fazendo dormindo, quando seu olho do Caminho ainda não está completamente claro? Se torpor e adormecimento vierem repetidamente, você deve rezar: "Meus hábitos são profundos e por isto estou envolvido por adormecimento. Quando meu torpor se dispersará? Rogo aos Budas Ancestrais que tenham compaixão e removam minha escuridão e miséria". Se sua mente estiver dispersa, fixe na ponta de seu nariz ou no baixo abdômen (tanden). Conte as inspirações e expirações. Se a distração ainda assim não cessar, traga um dizer à mente e mantenha este dizer em sua mente para acordá-la. Por exemplo: "O que é como é?", "O cachorro tem a Natureza-Buda? Mu!", "Quando nenhum pensamento surge, onde está a aflição? No Monte Sumeru" , "Qual o sentido 14 de Bodidarma vir do oeste? O cipreste no jardim". Kôans como estes são apropriados. Se ainda assim ficar com a mente dispersa, sente-se e focalize o ponto onde a respiração termina e os olhos se fecham para sempre. Ou ainda, onde o embrião ainda não foi concebido e nenhum pensamento é produzido. Quando o vazio duplo de sujeito e objetos subitamente aparecer, a mente dispersa certamente descansará. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Ao sair da imobilidade, faça suas atividades sem hesitar. Este momento é o kôan. Quando prática e realização são sem complexidade, então o momento presente é o kôan. Aquilo que existe antes de qualquer sinal aparecer, do outro lado da destruição do tempo, a atividade de todos os Budas Ancestrais é apenas isto. Você deve apenas descansar, cessar, ficar tranquilo, passar miríades de anos em um só instante. Torne-se cinzas frias, uma árvore morta, um pote de incenso em um templo antigo, um pedaço de seda branco. 14 O Monte Sumeru é considerado o topo do mundo CURSO DE INTRODUÇÃO AO ZEN BUDISMO Esse é o meu desejo mais profundo. Mestre Keizan voltou finalmente a Daijoji, na atual cidade de Kanazawa, onde se tornou o segundo abade, seguindo Gikai Zenji. Foi nesse Templo onde proferiu os teishos, palestras, sobre seu trabalho denominado, “Denkoroku”(Anais da Transmissão da Luz). Esse livro explica as circunstâncias através das quais o Darma foi transmitido de Shakyamuni Buda para os vinte e oito ancestrais na Índia, para os vinte e três ancestrais na China, e no Japão para Dogen Zenji e Koun Ejo. Daihonzan Sojiji foi fundado em 1321 quando Taiso Keizan Zenji rebatizou o templo já existente de Morookaji na Prefeitura de Ishikawa dando-lhe o nome de Shogaku-zan Sojiji. Durante o Período Meiji (fins do século XIX) quando o templo original foi destruído por um incêndio, Sojiji foi transferido para Yokohama, onde está localizado até hoje. Sojiji orgulha-se de ser um dos dojos principais do Zen internacional e está localizado em Yokohama, conhecida como "As Portas do Japão para o Mar". O complexo do templo é extenso e o tamanho monumental dos edifícios é impressionante. Sojiji é um centro aberto de prática onde os ensinamentos de Keizan Zenji sãopraticados em sua forma original. E por estar localizado em uma região tão conveniente, Sojiji tem organizado muitas sessões de treinamento para funcionários de empresas, grupos de zazen, e outros programas dirigidos à comunidade. Sojiji também leva adiante o compromisso de Keizan Zenji com a educação ao estabelecer uma escola dentro da área do templo chamada Soji Gakuen. Mesmo na Escola Soto Zen de hoje, quando todos os templos têm grupos de zazen para servir aos pedidos sinceros dos praticantes, também fazem o seu melhor para atender os pedidos que muitas pessoas fazem para que tenham benefícios em sua vida diária, o que inclui serviços memoriais e funerais. Mestre Keizan Zenji morreu em 1325 com 58 anos de idade. Nos anos seguintes, seus discípulos fizeram um excelente trabalho em assumir Sojiji, na península de Noto. Mesmo assim, o templo foi destruído por um incêndio em 1898. Isso deu a oportunidade para que, em 1907, Sojiji fosse transferido para a sua atual localização. O templo antigo foi reconstruído e nomeado Sojiji Soin e continua hoje com muitos mantenedores e adeptos. Para os fiéis leigos de Soto Zen pode-se dizer que Dogen Zenji e Keizan Zenji são, em termos de fé, como pai e mãe. Dogen Zenji morreu em 28 de agosto de 1253 aos 53 anos e Keizan Zenji morreu em 15 de agosto de 1325 aos 58 anos. De acordo com o calendário ocidental, ambas as datas caem em 29 de setembro. Neste dia, uma cerimônia chamada Ryosoki é respeitosamente realizada nos templos de Sotoshu para honrar esses dois ancestrais importantes. CURSO DE INTRODUÇÃO AO ZEN BUDISMO Duas outras celebrações importantes são realizadas na data do nascimento de Dogen Zenji em 26 de janeiro e data do nascimento de Keizan Zenji em 23 de novembro. A transmissão do Darma de Buda seguiu de Mestre para discípulos que se tornaram Mestres, sucessivamente e autenticamente, pessoa a pessoa até chegar a Shingetsu Coen Roshi e o surgimento da Associação Comunidade Zen Budista -Templo Taikozan Tenzuizenji. Xaquiamuni Buda Makakasho Ananda ........4º ao 27º 28º Bodidarma... Fundador do Zen na China... ...50º Tendo Nyojo . 51º Dogen Zenji .. 52º Koun Ejo 53º Keizan Jokin. ....88 º Gassan Joseki 89º Tsugen Jakurei 90º Zengetsu Suigan CURSO DE INTRODUÇÃO AO ZEN BUDISMO 91º Shingetsu Coen 11. A Comunidade Zen Budista Zendo Brasil A Associação Comunidade Zen Budista foi fundada em 14 de novembro de 2001. O compromisso da Associação, definido em seu Estatuto, é de manter ações em prol de uma sociedade mais justa e solidária, através da não violência ativa e do cultivo da paz, para o bem de todos os seres. As atividades regulares semanais oferecem práticas voltadas a iniciantes e aos membros. Integram tais atividades: Zazen para Iniciantes, palestras abertas ao público em geral, leitura de textos especiais, para membros da Comunidade, cerimonias religiosas, bençãos, entre outras, promovendo a vivência dos ensinamentos de Xaquiamuni Buda. As atividades e programação encontram-se disponíveis nos endereços eletrônico: www.zendobrasil.org.br, www.monjacoen.com.br. Facebook Zendo Brasil, Canal MOVA – SER, You Tube, palavras de Monja Coen 12. Os Preceitos Budistas – Vida Ética Ao estudar, ler, compreender, praticar os ensinamentos de Buda, de acordo com a tradição Soto Shu, surge a possibilidade do praticante assumir o compromisso público de seguir esses ensinamentos. A isso chamamos Cerimônia de Transmissão dos Preceitos. Podem ser preceitos laicos e Preceitos Monásticos. Preceitos, Meditação, Sabedoria, em japonês é Kai Jo E. É uma das maneiras de definir as práticas Zen: ❖ Receber os Preceitos ❖ Praticar Zazen ❖ Despertar http://www.zendobrasil.org.br/ http://www.monjacoen.com.br/ CURSO DE INTRODUÇÃO AO ZEN BUDISMO 12 – 1 A Cerimonia de Preceitos – Jukai A transmissão face a face: Mestra - discípula(o) A Cerimônia de Preceitos, denominada “Jukai” – Ju significa “receber” e Kai significa “preceitos budistas” é a cerimônia que marca a entrada na vida budista, a formalização de se tornar discípula (o) de Buda. O membro praticante assume o compromisso com os seguintes preceitos: Preceitos Puros 1. Não fazer o mal 2. Fazer o bem 3. Fazer o bem a todos os seres As dez graves proibições 1. Não matar 2. Não roubar 3. Não se engajar em relações sexuais impróprias 4. Não mentir 5. Não negociar intoxicantes 6. Não falar dos erros e faltas alheios 7. Não se elevar e rebaixar os outros 8. Não ser ganancioso 9. Não ser movido pela raiva 10. Não falar mal dos Três Tesouros: Buda, Darma e Sanga 13.A Liturgia Zen Budista - Cerimônias - Livro de Sutras A liturgia da escola Soto Zen compreende vários gêneros de literatura Budista. As escrituras são numerosas, variadas em suas formas literárias e extremamente ricas e diversificadas em sus conteúdos filosóficos, ético e espiritual. Conforme o Livro de Sutras do Templo, as preces estão organizadas para serem realizadas segundo os períodos do dia e datas especiais. CURSO DE INTRODUÇÃO AO ZEN BUDISMO Segundo o calendário as datas comemorativas da Soto Zen são as seguintes: 26 de janeiro – Nascimento de Mestre Dogen 15 de Feveriro – NEHAN-E: Cerimônia de Parinirvana de Buda Xaquiamuni; 21 de Março e 23 de Setembro – OHIGAN-E: Cerimônia de Equinócio – Também celebrada no dia 23 de setembro – Cerimônias que nos instrui a deixarmos o mundo da delusão para o mundo do despertar, através dos seis paramitas: doação, preceito, paciência ou perseverança, esforço contínuo, zazen e sabedoria. Assim teremos boa sorte. São oferecidos alimentos e expressado gratidão aos ensinamentos de Buda e aos antepassados. 8 de Abril – HANA MATSURI: O Festival das Flores – Nascimento de Xaquiamuni Buda 15 de Julho e 15 de Agosto – OBON-E: Cerimônia Memorial - são honrados os espíritos de nossos antepassados, oferecendo alimentos para que se saciem e estejam bem. 29 de Setembro – RYOSO KI: Cerimônia Memorial para os Mestres Fundadores, Eihei Dogen Daiosho e Mestre Keizan Jokin Daiosho. 21 de Novembro – Nascimento de Mestre Keizan 8 de Dezembro – JODO-E – Iluminação de Xaquiamuni Buda 31 de Dezembro – DAIHANNYA GOKITO – Cerimônia de Ano Novo 14.Os Altares do Templo 15 ❖ Sala de Buda O altar principal de nossa ordem é reservado à imagem de Xaquiamuni Buda, o Buda histórico que viveu há dois mil e seiscentos anos atrás, e que deu origem ao Budismo. À esquerda de Buda temos o altar dedicado a Mestre Dogen Zenji, e à direita o altar dedicado a Mestre Keizan Jokin. Ambos são considerados os fundadores da ordem Soto Shu, no Japão do século XIII. ❖ Altar de Kannon Bosatsu ou Kanzeon Bodisatva Kannon é o bodisatva mais conhecido no budismo mahayanna Trata-se do bodisatva da compaixão, que dedica-se a ouvir, testemunhar e ajudar aqueles que passam por dificuldades ou sofrimentos. 15 http://www.zendobrasil.org.br/quem-somos/lugares-e-altares/ CURSO DE INTRODUÇÃO AO ZEN BUDISMO Ao redor da estátua de Kannon estão os tabletes memoriais de falecidos. É nesta sala que são feitas preces a eles, e àqueles que enfrentam dificuldades. ❖ Sala de Zazen O altar de Monju Bosatsu encontra-se na sala de zazen/meditação, que em nosso em nosso templo está integrada à sala de Buda. Monju ou Manjusri é o bodisatva da suprema sabedoria, capaz de meditar sobre um leão, de superar todos os obstáculos da prática e de revelar a verdade. ❖ Fudo Myoô Temos também o altar de Fudo Myoô, entidade venerada principalmente pelo budismo Shingon, e que trazemos também para nosso templo. Seu rosto furioso representaa perseverança, e é conhecido como “o imóvel”. Fudo Myo realiza a conversão da raiva em salvação. ❖ Cozinha e Daikoku Son ten O preparo da comida é uma das práticas mais sérias e importantes no Zen Budismo. Temos aqui um altar de Daikokuten ou Daikoku Son ten, protetor das coisas materiais, especialmente da riqueza e da comida. ❖ Ida Son ten Na copa há o altar de Ida Son ten, entidade protetora da cozinha, dos fornos e do fogo. ❖ Jizo Bosatsu Protetor das crianças, animais e da terra, e especialmente protetor das crianças abortadas, chamadas, crianças da água. É Bodisatva que salva os seres dos 6 mundos: infernos, espíritos famintos, bestas, demônios, seres humanos e seres celestiais. Ele aparece gentil com a cabeça raspada e é descrito como um discípulo Sravaka, isto é, um monge que deixou seu lar. Na sua mão direita, Jizô segura uma vara shakujô com seis anéis e ao agitá-los ele nos desperta dos sonhos de ilusão. Em sua mão esquerda ele segura uma jóia mani, que significa que confere tesouros e riquezas a todos os seres. 16 ❖ Jardim – Xaquiamuni Buda No jardim rezamos também para Buda e pedimos por toda a natureza. ❖ Entrada do Banheiro - U su sa ma myo O Altar na entrada do banheiro dedica-se a U su sa ma myo O, uma das entidades protetoras do Budismo. Responsável pela purificação dos órgãos internos do corpo. ❖ Entrada do Banheiro - Baddabara Bodisatva 16 http://budismojapones.webnode.com.br/news/jizo-bosatsu/ CURSO DE INTRODUÇÃO AO ZEN BUDISMO O banheiro também é considerado um local de prática. Aqui encontramos o altar de Baddabara Bodisatva (Kengo Daishi), representando um monje que teria encontrado a iluminação ao entrar nas águas de seu banho. Por isso ele é considerado o protetor dos banheiros. 15.Atitudes no ambiente do Templo ✔ O Templo é um local de prática. ✔ Recomendamos o silêncio, fala apenas o necessário e em voz baixa. ✔ Roupas discretas, asseadas. E, caso seja praticante, fazer uso das roupas padrão da Comunidade – uniforme - camiseta e calças pretas. ✔ A posturas das mãos ao circular pelo espaço é em shashu. ✔ Cumprimenta-se a todos em Gassho. ✔ O tratamento ao dirigir-se à Monja Coen Roshi é por “senhora” e não por “você”, e demais professores, a não ser que seja permitido tratamento na segunda pessoa. ✔ Não é permitido o uso de celulares durante as atividades. ✔ Presença na sala de zazen 5 minutos antes da atividade. ✔ Estar atento, atenta aos sinais e recomendações. ✔ Estar disponível para ajudar quando necessário. CURSO DE INTRODUÇÃO AO ZEN BUDISMO Referências Bibliográficas e outras fontes o Fundamentos da Filosofia de Xaquiamuni Buda – Professor Kogen Mizuno o O Valor da Vida – Maezumi Roshi o A Essência dos Ensinamentos de Buda – Thich Nhat Hanh o Denkoroku – Anais da Transmissão da Luz – Mestre Keizan o Shobogenzo – O Olho do Tesouro do Verdeiro Darma – Mestre Dogen o Apostila Preceitos e Procedimentos Budistas – Comunidade Zen Budista o Sites: http://global.sotozen-net.or.jp/por/index.html e www.zendobrasil.org.br http://global.sotozen-net.or.jp/por/index.html http://www.zendobrasil.org.br/
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