Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
História da Educação Mário Fernandes Ramires E-book 2 Neste Tópico: A educação na Grécia antiga ����������������� 3 O surgimento da Pedagogia ������������������ 9 A educação na Roma antiga ���������������� 14 Educação �����������������������������������������������������17 Idade Média ����������������������������������������������� 22 Educação na Idade Média ���������������������26 Renascimento �������������������������������������������30 Considerações Finais ������������������������������38 Síntese �������������������������������������������������������� 40 História da Educação E-book 2 2 A EDUCAÇÃO NA GRÉCIA ANTIGA Após muitas civilizações se guiarem de seu início ao seu fim por tradições e costumes que eram trans- mitidos entre gerações sem a presença da crítica e da reflexão, surge na Europa, em uma região repleta de ilhas e cercada pelos mares Mediterrâneo, Egeu e Jônico, a sociedade grega, que, em determinado momento, passou a questionar as formas de viver e de pensar. Figura 1: Mapa da Grécia antiga. | Fonte: https://www.todamateria. com.br/grecia-antiga/ Para entendermos a educação na Grécia antiga, é necessário que analisemos a forma como os his- toriadores dividiram os períodos da história grega. 3 • Período Pré-homérico (2000 – 1200 a.C – civili- zação micênica): por volta do ano 2000 a.C., povos como Jônios, Eólios, Dórios, Aqueus e Corintos pas- saram a ocupar, de forma gradativa as penínsulas gregas, principalmente sua região mais fértil, co- nhecida como Peloponeso. Entre esses povos se predomina modelo social e político do patriarcado. Fique atento Patriarcado é o modelo de organização social onde os homens mais velhos tomam as decisões políticas na sociedade, como a distribuição de terras entre as famílias. A ocupação da região que formaria a Grécia por esses povos ocorreu de forma gradativa, sendo que os primeiros a chegar foram os aqueus, um povo belicoso que conquistou Creta e diversas regiões próximas ao Mediterrâneo. Os Jônios de- ram origem à Atenas e os Dórios, últimos a che- garem, conquistaram a região do Peloponeso, originando Esparta, uma pólis caracterizada pela militarização. De forma geral, eram agrupamen- tos de pessoas que praticavam a agricultura, o pastoreio e realizavam trocas comerciais, prati- cando religiões politeístas, que dariam origem a mitologia grega. 4 • Período Homérico (1200-800 a.C): é marcado pelos acontecimentos. e é marcado pelos acontecimen- tos presentes nas obras do poeta Homero, Ilíada e Odisseia, nos quais as narrativas envolvendo acon- tecimentos reais e mitológicos estão fortemente presentes. O ensino é voltado para valores como a virtude e o heroísmo. • Período Arcaico (800-500 a.C): após os povos que ocuparam as planícies gregas se estabilizarem, iso- lados por uma geografia marcada por montanhas, desenvolveram-se de forma autônoma e deram ori- gem às pólis, nome pelo qual passaram a ser cha- madas as cidades gregas que, apesar de terem a religião e o idioma em comum, adotaram formas de organização política e social bem distintas entre si, ou seja, praticavam a autarquia. • Período Clássico (500-338 a.C): momento conside- rado o apogeu da civilização grega, quando ocorreu a ocupação romana. Nesse período surge a Filosofia, assim como a Pedagogia e a democracia. Grandes pensadores como Sócrates, Platão e Aristóteles vi- veram nesse tempo. • Período Helenístico (séc. IV a.C - séc. 336 a.C): ca- raterizado pela conquista da Grécia por macedônios e romanos, esse período é marcado pela propagação e fusão da cultura grega entre diversos povos do mundo conhecido, sendo levada para o Oriente e para a África, principalmente o Egito. Nesse momento, a 5 Paideia se tornou Enciclopédia, ou seja, educação geral, abrangendo diversas áreas do conhecimento. Da confluência desses povos, mais a influência cul- tural advinda da ilha de Creta, uma antiga colônia fenícia, surgiu uma mitologia muito rica, na qual os deuses e deusas possuíam características e senti- mentos comuns aos seres humanos, como amor, ódio, vingança, desejo sexual, entre tantos outros. Dessa forma, a sociedade grega, desde sua origem até o surgimento da Filosofia, por volta do ano VI a.C., se caracteriza por um pensamento voltado para há- bitos e tradições religiosas e que eram transmitidos sem serem questionados. A partir do século VI a.C., surgem, nas colônias gre- gas da Jônia e da Magna Grécia, os filósofos pré- socráticos, ou seja, que realizaram suas reflexões antes de Sócrates, o maior nome da filosofia grega. Esses primeiros filósofos ocupavam-se de questões relacionadas à origem do mundo, o cosmos e os elementos que formam a Natureza, percebendo que essa possuía leis que regulam seus ciclos. Nesse período, o pensamento teológico já começa a ser separado do racional, ou seja, as vontades e desejos dos deuses já não são mais vistos por todos como as causas de tudo o que acontecia no mundo. Entre esses primeiros filósofos, podemos destacar Tales de Mileto, Pitágoras, Demócrito e Xenófanes. No entanto, foi no século V a.C. que houve uma gran- de mudança na forma de pensar e refletir sobre o 6 mundo e a humanidade. Essa transformação ocor- reu, principalmente, por conta do pensamento de Sócrates (469-399 a.C.), quando a ideia de crítica e reflexão sobre nossas vidas e nossa sociedade foram feitas de forma intensa e inovadora. Sócrates viveu na cidade de Atenas, que, na época, se tratava de um grande centro de afluência cultural e financeira, estabelecendo conexões entre o Ocidente e o Oriente. Considerado por muitos como o homem mais sábio da Grécia, certa vez Sócrates foi ao Oráculo perguntar a esse respeito. Ao ouvir o Oráculo responder que ele realmente era o homem mais sá- bio, Sócrates teria escrito na parede: “só sei que nada sei”, tendo sido essa a única vez que Sócrates escre- veu algo a respeito de seus pensamentos. O método socrático de ensino é chamado de Maiêutica, sendo realizado por meio de diálogos, nos quais Sócrates apenas realizava perguntas aos seus discípulos, que deveriam trazer as resposta dos seus próprios pensamentos. Devido ao sucesso de seus discursos, esse grande filósofo atraía cada vez mais pessoas ao seu redor, pois ensinava em locais públicos, como praças e mercados. Acusado de cor- romper a juventude, foi condenado a deixar Atenas, preferiu ficar e aceitar a pena de morte por envene- namento, proferindo sua derradeira frase: “uma vida não examinada, não vale a pena ser vivida”. O período socrático contou com outros importantes filósofos, como seu grande discípulo Platão, que foi 7 mestre de Aristóteles. No caso de Platão, ele foi res- ponsável por registrar os diálogos e ensinamentos de Sócrates de forma escrita e lecionou por mais de 40 anos em ginásios atenienses. Esse filósofo acre- ditava na dualidade da existência, na qual a verdade estava no mundo das essências, que se trata de um mundo eterno e perfeito, de onde provém nossa alma e o mundo físico, assimilado por meio dos nossos sentidos, não contém o verdadeiro conhecimento. A partir desse pensamento, “aprender é lembrar”, uma vez que já nascemos com as formas e essên- cias dentro de nós, pois carregamos experiências de outras existências que tivemos. O mundo físico, material, seria uma cópia imperfeita desse mundo das ideias, por isso Platão é considerado idealista. Contudo, o principal discípulo de Platão, Aristóteles, acreditava justamente o oposto, ou seja, que o co- nhecimento se dava por meio de nossos sentidos, no mundo físico, a partir de observações e anotações. Aristóteles é considerado o criador da taxonomia que utilizamos até os dias atuais, realizando anotações de diversos animais, vegetais e minerais, tendo sido mestre de Alexandre da Macedônia que, ao retornar à Atenas, fundou uma escola que rivalizava com a de seu mestre. Podcast 1 8 https://famonline.instructure.com/files/33170/download?download_frd=1 O SURGIMENTODA PEDAGOGIA Nesse universo repleto de transformações, surge a Paideia, que deu origem ao conceito de Pedagogia que possuímos atualmente, ou seja, a Pedagogia se relaciona, desde sua origem, com a Filosofia. Nesse mesmo momento histórico, foi criada a ideia de de- mocracia, conceito de administração pública e polí- tica existente até os dias atuais. Fique atento Democracia, termo que pode ser traduzido como “poder do povo”, ou “per político da maioria”, no conceito da Grécia antiga era diferente de como aplicamos atualmente. Em Atenas, berço da de- mocracia, poucas pessoas participavam das de- cisões políticas, apenas: homens, maiores de 20 anos, nascidos em Atenas e filhos de atenienses, ou seja uma parcela pequena da população, pois eram excluídos os escravizados, as mulheres e os estrangeiros. O paidagogo grego era o escravo que acompanhava as crianças e às levava até os locais de ensino, onde os pequenos aprendiam disciplinas como música, educação física, astrologia, ciências, matemática, entre outros. Essa nova forma de ensinar e ver o mundo dá origem a questionamentos acerca de quais 9 conteúdos seriam os mais importantes e como de- veriam ser trabalhados. Figura 2: Cerâmica representando pedagogos, mestres e crianças em um local de ensino. | Fonte: http://www.educ.fc.ul.pt/docentes/ opombo/hfe/momentos/escola/paideia/conceitodepaideia.htm Nesse primeiro momento de existência da Paideia, cabe destacar as propostas de ensino. Platão mere- ce destaque por ser o primeiro a fundar uma escola pautada no pensamento filosófico socrático. No en- tendimento desse filósofo, o processo de educação deveria ser feito por etapas, de forma que, até os 20 anos de idade, as pessoas deveriam ser educadas da mesma maneira e haveria a separação dos que deveriam ser indicados aos serviços braçais, seriam os com “alma de bronze”. Em seguida, outra seleção seria feita e se distinguiriam os guerreiros, pessoas com “alma de prata”. Por fim, os que terminariam os estudos, chamados de “alma de ouro”, se tornariam filósofos. 10 Saiba mais Para conhecer o pensamento de Platão, é inte- ressante que sejam feitas as leituras de seus di- álogos, que se tratavam de conversas entre esse importante filósofo e outras pessoas contempo- râneas a ele. Esses diálogos abordam diversas áreas do conhecimento humano e são inspirados nos ensinamento de Sócrates e, o que é muito bom, estão publicados em português e uma das coleções mais completas foi lançada pela edito- ra Edipro, no ano de 2007. Essa divisão social na proposta da educação se re- laciona às divisões de classes sociais existentes então, podendo ser observada a divisão do trabalho entre aqueles que são intelectuais e os que fazem o labor braçal. O direito ao ócio, que se tratava de um tempo livre para o exercício da política era reservado a poucos cidadãos, pois se tratava de um trabalho intelectual. O discípulo de Platão, Aristóteles, também se tornou um grande educador de seu tempo e tem sua obra como uma das grandes referências do pensamento filosófico até os dias atuais. Esse grande pensador valorizou as experiências de observação e repetição como verdadeiros métodos para atingir o conheci- mento. Seu pensamento, por estar sempre voltado à política, relaciona a formação do homem ao desen- volvimento da ética, ou seja: 11 Diferentemente de Sócrates, que identificava prazer e virtude, Aristóteles enfatizava a ação da vontade, exer- citada pela repetição, que conduz ao hábito da virtude. Daí ser a imitação o instrumento por excelência desse processo, segundo qual a criança se educa repetindo os hábitos de vida dos adultos, adquirindo hábitos que formam uma ‘segunda grandeza’. (ARANHA, 2000). A partir do estudo deste tópico, pudemos perceber que, mesmo convivendo com valores tradicionais das sociedades mais antigas e mesmo contemporâneas a eles, os gregos passaram a estudar e refletir acerca de diversas áreas da vida social, política, cultural e educacional. O questionamento à ordem estabelecida pelo pensamento mitológico causou um impacto tão profundo na história da humanidade que o sentimos até os dias atuais. No momento em que surgiram a Filosofia e a Pedagogia, foram criadas muitas das ideias que buscamos colocar em prática nas escolas até os dias atuais, como, por exemplo, o estímulo ao desenvolvimento físico e intelectual. No entanto, tendo em vista que as pólis gregas eram distintas em diversos aspectos, na educação também se diferiam delas. A cidade de Esparta, por exemplo, que se tratava de uma antiga colônia fundada pelos dórios, possuía acentuadas características milita- res em seu modelo educacional. Até os 12 anos, o ensino era baseado na música, no canto e na dança 12 coletiva e, conforme cresciam, iriam desenvolvendo habilidades físicas voltadas para a sobrevivência na guerra. As mulheres, diferentemente de Atenas, também praticavam essas atividades e, pelo fato de os homens estarem muitas vezes ocupados em treinamentos e campanhas militares, elas ocupavam importantes espaços na sociedade. 13 A EDUCAÇÃO NA ROMA ANTIGA Quando você pensa na sociedade romana, o que vem à sua cabeça? Gladiadores lutando entre si e contra leões em arenas lotadas de espectadores? Pode ser que você se lembre de algum imperador ou de alguma guerra envolvendo os romanos. Alguns irão se lembrar das influências dos romanos em nossa sociedade, como o direito e o uso do latim como tronco linguístico em nosso idioma. Seja como for, provavelmente muitos irão encontrar alguma lem- brança de Roma. Durante o segundo milênio a.C., nas margens do rio Tibre, na região do Lácio, surgem conglomerados de pessoas e vilarejos que dão origem a diversas cidades. Entre esses povos, destacaram-se italiotas, latinos, sabinos e etruscos, falando idiomas dife- rentes, sem possuírem práticas culturais homogê- neas entre si. Os historiadores costumam dividir a história da an- tiguidade romana em três períodos: • Monarquia (759 a 509 a.C.): marca o início da divisão social entre grupos que possuíam terras e riquezas, os patrícios e, por outro lado, os plebeus, trabalhadores, em sua maioria, camponeses. Roma, que havia surgido como uma cidadela cercada de 14 barreiras protetoras, tornou-se um reino, no qual os últimos monarcas foram etruscos, o que mostra que esses conquistaram os povos latinos e italiotas, que buscavam evitar essas invasões. • República (509 a 27 a.C.): durante o período re- publicano, após deporem do trono o rei Etrusco, Tarquínio, o Soberbo, a classe patrícia assume to- talmente o poder em Roma e monopoliza as ativi- dades do Senado. Esse é o período de expansão de Roma, quando povos das diversas regiões do mundo são conquistados. • Império (27 a.C. a 476 d.C.): o período imperial marca a busca de estabilidade de Roma, Pax Romana, e o fim das guerras de conquista. A autoridade má- xima se centrava na figura do imperador, que repre- sentava a liderança militar, política e religiosa, o que não impediu as crises e crimes cometidos dentro do Senado romano. Essa divisão facilita para que tenhamos uma dimen- são da história da Roma antiga. A partir de suas ex- pansões e conquistas, podemos destacar a enorme influência que Roma exerceu sobre outras culturas de seu tempo, assim como as culturas e costumes dos povos conquistados também passaram a fazer parte da sociedade romana. Os romanos chamavam de bárbaros todos aqueles que não pertenciam à sua sociedade, ou que não falassem seu idioma, o latim. 15 Entre as influências que os povos conquistados exer- ceram sobre Roma, vale destacar o Cristianismo, que surgiu no Oriente Médio, na Galileia. O cristia- nismo foi proibido, posteriormente aceito e, por fim, se tornou religião oficial do Império Romano, essa trajetória foi trazendo diversas mudanças nos cos- tumes romanos. Nesse sentido, podemos estabelecer três momentos do pensamento religioso em Roma: primeiro, antes de conquistarem a Grécia,acreditavam em uma mitolo- gia baseada nas religiões dos povos que chegaram à região, sendo politeístas e adorando deuses relacio- nados à natureza e ao cotidiano. Após conquistar a Grécia, a sociedade romana sofreu grande influência da cultura grega e sua religião passou a ser pautada pelo pensamento religiosos dos gregos. Por último, temos a fase cristã da religião romana. Podcast 2 16 https://famonline.instructure.com/files/33171/download?download_frd=1 EDUCAÇÃO No que diz respeito a sua Pedagogia, os romanos sofreram grande influência dos gregos, buscando uma ampla formação do ser humano, estimulando a formação do homem integral, desenvolvendo seu intelecto e suas habilidades físicas. Disciplinas como oratória e retórica continuaram sendo fundamentais, assim como o preparo para o exercício da política e práticas militares. Fique atento Oratória e retórica eram disciplinas consideradas indispensáveis para a formação integral do ser humano, desde o surgimento da pedagogia gre- ga. Saber expressar suas ideias de forma clara e compreensível, ou seja, ser bom orador, contendo bons argumentos para justificar suas ideias, pos- suindo dessa forma boa retórica, eram ferramen- tas fundamentais nos debates acerca da política e de diversas outras áreas do conhecimento. Tendo em vista que se tratava de uma sociedade com nítidas divisões e pautada pelo trabalho escravo, a educação não era acessível a todas as pessoas, sen- do direcionada à classe dos patrícios e grandes se- nhores de terras. No entanto, assim como na Grécia, a escravidão romana não era baseada em questões raciais mas, sim, por conquista e escravização de povos vencidos em guerras ou de pessoas que pos- 17 suíam dívidas. Sendo assim, muitos escravizados em Roma exerceram importantes atividades sociais, como professores, músicos, atores, arquitetos, en- tre outros. A educação romana, conhecida como humanitas, possui como principal característica a formação in- tegral do ser humano, que deveria saber argumentar e se expressar sobre seus conhecimentos e pontos de vista. Essa característica da formação integral do ser humano está ligada à expansão romana e ao contato com diversas culturas e áreas do conheci- mento. Também podemos considerá-la como uma educação cosmopolita, ou seja, voltada ao mundo urbano, das cidades, o que se trata de uma marca das construções romanas. O conceito de cidadão também surge nesse momento e se refere às pes- soas que nasciam e eram educadas nas cidades, aprendendo as leis, direitos e deveres do convívio em sociedade. Por ser uma sociedade guerreira, a educação mili- tar também era comum em Roma, assim como o ensino de história por meio dos heróis romanos e suas glórias. Os jovens aprendiam técnicas de lutas e esportes já no seio familiar, assim como visitavam galerias contendo exposições de esculturas e pintu- ras que representavam os heróis romanos. Grandes educadores desenvolveram importantes teorias em Roma, podemos destacar alguns deles. Para Cícero, que viveu entre os séculos II e I a.C.: 18 A educação integral do orador requer cultural geral, formação jurídica, aprendizagem de argumentação fi- losófica, bem como o desenvolvimento de habilidades literárias e até teatrais, igualmente importantes para o exercício da persuasão. (ARANHA, 1996, p.63). Figura 3: Escultura de Cícero por Karl Sterrer, no Parlamento Austríaco. | Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/C%C3%ADcero 19 Percebemos assim que, entre as pessoas que pensa- vam sobre a educação na sociedade romana, havia a ideia de que o ser humano deveria ser formado para exercer suas atividades de cidadania, sendo conhe- cedor de diversos assuntos e hábil retórico. No en- tanto, nem todos os educadores romanos possuíam a mesma ideia em relação ao processo pedagógico. Sêneca (4 a.C.-65 d.C.), por exemplo, acreditava mui- to mais na formação moral e livre de vícios do que na formação retórica, modelo no qual o ser humano deveria aprender a controlar seus impulsos e paixões. Sêneca lançou mão de psicologia para analisar as especificidades de cada ser humano. Outro grande pedagogo romano foi Quintiliano, que viveu entre os anos 35 e 95 da era cristã. Ao analisar- mos as ideias desse pensador, podemos perceber a existência de várias características de modelos edu- cacionais contemporâneos que buscam inovações no campo pedagógico. Entre essas características, podemos destacar: a necessidade do brincar na edu- cação infantil e a valorização de atividades feitas em grupos. Quintiliano, assim como Sêneca, enten- dia que o conhecimento das individualidades é de fundamental importância no processo pedagógico. Ele foi muito influenciado pelo pensamento de Aristóteles e enciclopédico, por isso valorizava o es- tudo por meio de observações, análises, catalogação e discussões teóricas acerca do conteúdo estudado. Além disso, via os exercícios físicos como fundamen- tais para a formação integral do ser humano e, no 20 que diz respeito ao aprendizado gramatical, lançava mão de leituras de autores muito importantes para a formação cultural e moral greco-romana, como Homero e Virgílio. Quando pensamos nos modelos pedagógicos de nossa sociedade, podemos identificar diversas ca- racterísticas e influências do pensamento romano, como a formação integral do ser humano e sua parti- cipação ativa na vida social, exercendo seus direitos e deveres. Nessa formação integral, as artes, como música, teatro e a dança possuíam papel fundamen- tal, algo que infelizmente parece estar se perdendo em nossa sociedade. 21 IDADE MÉDIA Após a invasão de povos nórdicos e germânicos pro- vindos do Leste da Europa, o Império Romano do Ocidente, entre os séculos III e V iniciou seu declínio. Com a ocupação dos centros urbanos, os habitantes das cidades romanas buscaram refúgio no campo, local onde os mais ricos possuíam propriedades chamadas de vilas romanas. A mistura de elemen- tos culturais romanos e de povos como alamanos, visigodos, ostrogodos, vikings, burgúndios, francos, entre outros, deu origem a uma civilização que, mes- mo sendo distinta em diversas localidades, possuía características em comum. Fique atento Esses povos eram originários do Leste europeu, principalmente da região germânica, e traziam consigo uma cultura guerreira, onde os líderes po- líticos também eram pessoas com destaque em campos de batalha. As relações entre os mem- bros dessas sociedades eram feitas por meio de juramentos de fidelidade entre guerreiros. Com a pressão exercida pelos hunos, a Leste, os po- vos germanos foram empurrados para o Oeste, onde aos poucos foram adentrando a sociedade romana. 22 Figura 4: Invasões de povos “bárbaros” a Roma. | Fonte: http://www. culturabrasil.org/os_vandalos_atacam.htm De forma geral, a sociedade medieval preservou o cristianismo provindo do Império Romano, assim como o sistema de colonato, quando pessoas sem propriedades passaram a trabalhar nas vilas roma- nas em troca de alimento e de proteção. Dos povos provindos do Leste, permaneceu o direito consuetudi- nário, ou seja, prevaleciam as tradições de cada povo, em detrimento da lei escrita, exercida em Roma. O juramento de fidelidade, que daria origem ao contrato de soberania e vassalagem entre senhores feudais, também era originário dos povos que adentraram as fronteiras do Império Romano. A delimitação do período chamado de Idade Média também é bastante controversa, mas seu final ge- 23 ralmente é atribuído ao momento em que os turcos invadem Constantinopla, capital do Império Romano do Oriente, no ano de 1453, ou seja, durou mais de mil anos. Esse período não ocorreu de forma ho- mogênea, de maneira que até o século VII, os povos invasores foram se estabilizando e dando origem a pequenos reinos. Até o Século XI, o período é cha- mado de Alta Idade Média, quando o sistema de feu- dalismo chega ao seu apogeu e grandes senhores feudais dominam as relações políticas, jurídicas e econômicasde suas localidades. A partir do século XII, o modelo medieval começa a entrar em declínio, vão surgindo novas cidades e o mundo urbano começa a renascer, assim como as trocas comerciais, por meio da abertura de novas rotas de comércio. Com a invenção da imprensa e o surgimento das primeiras universidades, a men- talidade, até então pautada por questões religiosas, ganha novas formas e passa a ser influenciada por questões relativas ao comércio e ao uso da razão. Em seus costumes, a sociedade medieval era perme- ada pelo pensamento cristão. A Igreja Católica era a instituição social mais poderosa da Idade Média e chegou a possuir 60% das terras do continente euro- peu. Isso ocorria pela venda de indulgências (perdão divino) e do dízimo obrigatório. Os membros do alto clero figuravam entre os maiores senhores feudais do período, além de condes, duques e marqueses. 24 Dessa forma, tratava-se de uma sociedade com uma divisão social bem marcante, o que se legitimava pela palavra sagrada, na qual havia uma hierarquia entre Deus, Jesus, o Espírito, anjos, santos, ou seja, essa hierarquia deveria se manter no mundo terrestre. Assim, a sociedade se dividia da seguinte forma: • Clero: membros da Igreja Católica, responsáveis pelo pensamento religioso daquela sociedade. Era dividido em alto clero (Papa, bispos, abades) e baixo clero (padres, freis, capelães). • Nobres: donos de grandes porções de terras; divi- diam-se em marqueses (responsáveis por administrar as marcas, ou fronteiras), duques (líderes dos exérci- tos e campanhas militares) e condes (responsáveis por fazer valer os decretos reais). • Servos: representavam a maioria esmagadora da população; durante muito tempo não podiam ser proprietários de terras, sempre tendo que viver nas terras dos senhores feudais, ou em pequenos lotes doados por esses, em troca de alimento e proteção. Pagavam diversos tributos e impostos, como: dízimo obrigatório, corveia (trabalho compulsório obrigatório prestado ao seu senhor), banalidade (pagamento pelo uso dos equipamentos do senhor), mão morta (imposto pago para permanecer nas terras dos se- nhores quando o pai da família dos servos falecia), entre outras obrigações. Podcast 3 25 https://famonline.instructure.com/files/33172/download?download_frd=1 EDUCAÇÃO NA IDADE MÉDIA Compreender a educação na sociedade medieval é uma tarefa que está diretamente vinculada ao en- tendimento da ação do pensamento cristão do pe- ríodo, pautado pelas ações da Igreja Católica e pela sua busca de monopólio cultural. Vejamos o que diz Hilário Franco Júnior sobre essa questão, quando se refere principalmente aos primeiros séculos da era medieval: Havia um monopólio da cultura intelectual por parte da Igreja. A educação era feita de clérigos para clé- rigos, devido às necessidades do culto. Nas escolas catedralícia e, sobretudo, monásticas, praticamente as únicas existentes, ensinavam as chamadas sete artes liberais, as únicas dignas de homens livres, por oposição à arte mecânica, isso é, manuais, própria de escravos. (FRANCO JÚNIOR, 2001, p. 105). As sete artes liberais estudadas nesse modelo de ensino eram: gramática, retórica, dialética, aritméti- ca, geometria, astronomia e música. Daí podemos pensar que, para desenvolver conhecimentos em todos esses saberes, se fazia necessário o estudo de diversas áreas do conhecimento, tanto das ciências naturais, quanto das exatas e das humanas. 26 O pensador que exerceu maior influência sobre a educação medieval foi Santo Agostinho, que pos- suía como nome de batismo Agostinho de Hipona e viveu entre os anos de 354 e 430. Em um momento no qual se fundiam os pensamentos filosóficos e educacionais de Grécia e Roma ao modelo cosmo- lógico cristão, esses primeiros filósofos da Idade Média buscaram adaptar o pensamento de Platão ao cristianismo, fundando a escola Patrística. Dessa forma, em consonância com o pensamento platôni- co, aprender é lembrar, pois as essências eternas e imutáveis já estão em nossa alma, que também é eterna, ou seja: O saber, portanto, não é transmitido pelo mestre a alu- no, já que a posse da verdade não é uma experiência que vem do interior, mas de dentro de cada um. Isso é possível porque ‘Cristo habita no homem interior’. Toda educação é, de certa forma, uma autoeducação, possi- bilitada pela iluminação divina. (ARANHA, 2000, p.72). O monopólio da Igreja sobre conhecimento se es- tende por séculos durante a Idade Média, o que não impediu que seus membros se interessassem por outras obras além das sagradas escrituras. Durante os séculos V, VI e VII, os chamados enciclopedistas se debruçam sobre obras que envolvem as artes e as ciências do mundo antigo, inclusive o pensamento de Aristóteles e outros filósofos gregos, que vão sendo adaptados ao pensamento cristão medieval. 27 No entanto, no período conhecido como Baixa Idade Média, o estudo das sagradas escrituras vai cada vez mais dividindo espaço com os estudos sobre lógi- ca, que inclusive servem para argumentar os ideais religiosos. Ao tentarem apoiar a fé na razão, muitos acabam por desviar a interpretação da Bíblia daquela realizada pela Igreja e as argumentações baseadas na lógica aristotélica vão abrindo caminho para o sur- gimento das primeiras universidades, locais onde se amplia o conhecimento além das sete artes liberais. Nesse momento de declínio da sociedade medieval, surgem novas formas de viver e de conhecimento. Com a revolução agrícola, novos instrumentos e téc- nicas de plantio, como o arado e os campos rotativos, proporcionam um excedente de produção e os gêne- ros passam a ser trocados entre os feudos. Dessa forma, vão surgindo rotas de comércios e feiras. Ao redor dos castelos, surgem os burgos, bairros de comerciantes e artesãos que oferecem uma vida distinta daquela existente no campo, sob domínio dos senhores feudais. Essa nova classe social, a dos burgueses, se interes- sa por uma educação voltada às práticas de ofícios como a carpintaria, a sapataria e o comércio: 28 De início, os burgueses frequentavam as escolas mona- cais e catedrais, mas logo procuraram uma educação que atenda aos objetivos da vida prática. Por volta do século XII surgem pequenas escolas nas cidades mais importantes, com professores leigos nomeados pela autoridade municipal (...) são enfatizadas noções de história, geografia e ciências naturais, que constituíam de fato as artes reais. (ARANHA, 2000, p. 77). Com essas mudanças, surgem as Corporações de Ofício, locais onde os mestres ensinavam profissões aos jovens aprendizes, que em troca trabalhavam sem remuneração. Esses locais de ensino eram sim- ples, muitas vezes a própria oficina dos mestres, e o ensino era feito na prática, atendendo aos seus clientes. Sendo assim, podemos perceber que, por ser um período tão longo e heterogêneo, a educação e as formas de conhecimento, de maneira geral, sofreram diversas transformações durante a Idade Média. A presença do pensamento religioso exerceu monopó- lio sobre o ensino, mas sempre houve a presença do pensamento filosófico, em maior ou menor medida. Quando surgiram outras necessidades, provindas de um novo modelo social, a educação acompanhou essas mudanças e passou a desempenhar um novo papel na sociedade medieval. 29 RENASCIMENTO Após o predomínio do pensamento e da organização social medieval durante muitos séculos, o mundo Ocidental iniciou um processo de intensas mudanças que perpassaram os campos da arte, política, cultura, religião e da economia. Conforme vimos no tópico anterior, o surgimento de novas rotas de comércio e de bairros de comerciantes nas proximidades dos muros dos castelos medievais deram origem a novas formas de trabalho e sociabilidade, agora em um mundo cada vez mais urbano. O Renascimento ocorreu durante o período da Idade Moderna (1453-1789), logo após a Idade Média. No campo político, a principal mudança foi a centraliza- ção do poder na pessoado monarca, ou seja, os reis se tornaram muito poderosos em diversos locais da Europa, como França, Espanha, Inglaterra e Portugal. No entanto, esse fortalecimento do poder real não correu em todas as regiões: na Península Itálica, ha- via diversas cidades economicamente poderosas, autônomas e independentes entre si. Também pode- mos citar a Alemanha, que não era um país unificado, pois se tratava de uma região com pequenos reinos, igualmente independentes politicamente. Além disso, durante a Idade Moderna, também surgiram teorias que combateram o poder absoluto dos reis, que se tratam do Iluminismo e do Liberalismo. 30 No que diz respeito à organização social e econô- mica, ocorreram mudanças muito marcantes, pois a vida de servidão no campo poderia ser substituída pela vida nas cidades, onde se aprenderia um ofício para exercer alguma profissão remunerada. O poder do senhor feudal perdia forças, pois, mesmo muitos impostos sendo cobrados dos habitantes das cida- des, esses estavam cada vez mais livres em suas individualidades. O nascimento da burguesia como classe em ascensão econômica traria enormes im- pactos. Eram comerciantes que surgiram nos burgos, conseguiram poder econômico e, com o passar do tempo, também conquistaram o poder político. Em relação à cultura, o pensamento religioso passou a ser questionado por meio do uso da razão, quando surge a ciência moderna. Os elementos da Natureza e do Cosmos passaram a ser cada vez mais estuda- dos e debatidos, assim como a existência humana na Terra, inclusive prevendo a satisfação de dese- jos individuais, o hedonismo. Muitas descobertas científicas ocorreram nesse período e os campos da medicina, astronomia, matemática e tantas ou- tras ciências passaram por um grande processo de desenvolvimento. Além dessa questão, ocorreu a Reforma Protestante, momento no qual a cristandade sofre um grande abalo, pois dentro da própria Igreja surgiram movimentos que contestavam seus costu- mes, com fortes críticas à venda de indulgências, ou seja, do perdão divino. 31 Figura 5: Galileu Galilei, por Justus Sustermans, 1636. | Fonte: https:// pt.wikipedia.org/wiki/Galileu_Galilei Com tantas mudanças ocorrendo no mundo Ocidental, a educação não poderia ficar de fora e muitas foram as transformações no pensamento pedagógico. Por isso, não podemos deixar de pensar que a educação é formadora de qualquer modelo social, sendo também parte desse modelo. 32 De forma geral, todo esse movimento de mudanças, que iria culminar com a Revolução Francesa, pode ser denominado como Renascimento, ou Renascença. Esse nome faz alusão ao resgate do pensamento clássico, greco-romano, que traria a “luz” do conhe- cimento em oposição às “trevas”; o período medieval e essa influência deu o tom às discussões em torno das formas de organização social e manifestações artísticas. O humanismo, ou seja, o ser humano como centro do conhecimento e responsável por sua exis- tência, substituiu o teocentrismo medieval, quando a religião determinava as formas de agir e de pensar. Essa forma de promover um “renascimento” na socie- dade trouxe diversas mudanças no campo pedagó- gico, pois as necessidades do cotidiano agora eram outras. Ao invés de arar a terra e realizar o plantio, agora os cálculos relacionados à economia e ao exercício de diversas profissões é que passaram a ditar o ritmo da produção e a transmissão de novos conhecimentos. Dessa forma, podemos perceber que, sob a influên- cia de pensadores como John Locke (1632-1704), o campo das ciências naturais e estudos do meio material tomavam espaço do ensino estritamente religioso. Entre os burgueses e, posteriormente, para os capitalistas da Revolução Industrial, era mais in- teressante o cálculo de juros e de lucros do que o aprendizado das sagradas escrituras. Nesse período, também surge uma nova ideia de família e de infân- cia, assim como ocorre o nascimento do colégio, tal 33 qual conhecemos hoje. No entanto, essas mudanças não atingiam todos os setores sociais, pois os nobres permaneciam valorizando o ensino de normas de etiquetas e formas de comportamento. Os setores mais populares, como servos e muitos trabalhadores livres, não eram contemplados com o ensino dos colégios, reservado aos filhos dos comerciantes. No entanto, o ensino, por ser liberal, não deixava de ser autoritário e rigoroso: A fim de proteger as crianças de ‘más influências’ é proposta uma hierarquia diferente, submetendo-as a severa disciplina, inclusive a castigos corporais. A meta da escola não se restringe à transmissão de conheci- mentos, mas à formação moral. (ARANHA, 2000). No entanto, mesmo com o apelo para a formação moral das pessoas, isso não quer dizer que o ensino religioso esteve sempre presente. Nesse período, proliferam inúmeras escolas leigas, ou seja, sem a interferência religiosa no ensino. Essa mudança iria se concretizar, inclusive na política, com a Revolução Francesa e com o surgimento do Estado laico. Sendo assim, a partir do pensamento de educadores como Vitorino da Feltre, ocorre a formação integral do ser humano, sendo este a própria causa e razão do co- nhecimento, dando margem para o surgimento de centros de ensino leigos. 34 As mudanças no campo religioso também contribuí- ram para intensas investidas de protestantes e cató- licos em instituições de ensino com o propósito de propagar suas crenças e seus valores na formação dos seres humanos. Os reformadores protestantes utilizaram as escolas para propagar seus ideais e o principal nome da Reforma Protestante, Martinho Lutero (1483-1546), defendia o ensino universal e público, mesmo que houvesse uma tendência elitista em seu pensamento, ou seja, os mais pobres teriam um ensino mais básico e elementar. É importante ressaltar que, no século XV, Gutemberg havia desenvolvido um método de imprensa base- ado em xilogravuras chinesas, o que possibilitou a impressão de livros, folhetos, panfletos e demais formas com os mais diversos conteúdos. Com isso, a palavra escrita ganhou importância fundamental no processo de propagação de opinião e na relação ensino-aprendizagem. Martinho Lutero, por exemplo, imprimiu diversos exemplares da Bíblia em alemão e distribuiu aos fiéis, o que era considerado uma he- resia pela Igreja Católica. A reação dos católicos foi imediata, tendo como uma de suas principais características a construção de escolas em regiões colonizadas por países europeus. Durante o Concílio de Trento, organizado pela Igreja Católica e ocorrido na Itália entre os anos de 1545 e 1563, foras decididas diversas medidas que deve- riam ser tomadas para reafirmar os valores cristãos católicos, por exemplo, o reconhecimento do Papa 35 como autoridade máxima da Igreja e o Index, lista de leituras proibidas. Contudo, os colégios fundados por padres católicos em regiões colonizadas talvez tenham constituído o maior esforço da Contrarreforma católica, pois padres missionários partiam para regiões muito dis- tantes da Europa, que estavam no início do processo de colonização. Ou seja, trata-se de uma tentativa de converter o maior número de almas antes que algum país protestante chegasse à região, por exemplo. No entanto, esse processo de aculturamento dos povos conquistados não ocorreu de forma pacífica, pois os europeus impunham sua fé, seus valores e costumes a povos que já possuíam seus valores e suas culturas. Durante essa empreitada, que se inseriu no contexto das Grandes Navegações, os europeus chegaram ao continente americano, atingindo a costa brasi- leira. Os responsáveis por inserir a fé católica fo- ram os padres da Companhia de Jesus, tendo como pioneiros: Manuel da Nóbrega, José de Anchieta e Azpilcuelta Navarro, encarregados de cristianizar a grande colônia portuguesa. Esse tema será abordado futuramente. Já no século seguinte à chegada dos portugueses ao Brasil, influenciados pelos ideais iluministas e liberais, teóricos comoVoltaire (1694-1778), Barão de Montesquieu (1689-1755) e Jean Jaques Rousseau (1712-1778), trouxeram importantes contribuições 36 para o pensamento político, que iriam influenciar acontecimentos importantes nas mais diversas partes do mundo. Por serem opostos à monarquia, pincipalmente ao modelo absolutista, trouxeram ideias de divisão dos poderes (Executivo, Legislativo e Judiciário) e a participação popular nas decisões que guiariam o Estado. Em relação à educação, Rousseau merece destaque, principalmente devido a sua obra Emílio, na qual o autor conta a história de uma criança que é criada e educada em um local sem contato com outros se- res humanos. Percebemos que o movimento renascentista, ocorri- do durante a Era Moderna, teve influência dos ideais iluministas e liberais, que trouxeram diversas mu- danças nas estruturas sociais, econômicas e cultu- rais. O resgate do pensamento greco-romano trouxe ideias relacionadas ao estudo da natureza e ao uso da razão, colocando em xeque os ideais puramente religiosos presentes nas formas de ensino do perí- odo medieval. 37 CONSIDERAÇÕES FINAIS Você acaba de ver Grécia Antiga, Roma Antiga e Idade Média. A história da Grécia Antiga está dividida em qua- tro períodos: Pré-Homérico, Homérico, Arcaico e Clássico. Nessas etapas, há o momento de ques- tionamento social e cultural, bem como questiona- mentos sobre os modelos tradicionais de ensino e de conhecimento. Nos séculos VI e V a.C, surgem, em Atenas, a Filosofia e a Pedagogia. O pensamento mitológico sofre abalo, surge a Paideia, que é a for- mação integral do ser humano, físico, espírito e men- te. Nesse mesmo período na Grécia Antiga, surgem também as atividades físicas, teatro, música, retórica, oratória, línguas, entre outras áreas do conhecimento. Na Roma Antiga a educação romana, conhecida como humanitas, possui como principal caracterís- tica a formação integral do ser humano, que deveria saber argumentar e se expressar sobre seus conhe- cimentos e pontos de vista. A educação era voltada para a vida em cidades, exercício da cidadania e es- tudos jurídicos, além da educação militar e exaltação da história por meio da vida de heróis. 38 Já na Idade Média você viu que havia o predomí- nio da mentalidade cristã, representada pela Igreja Católica, a filosofia a serviço da fé, a permanência dos pensamentos de Platão e Aristóteles e o enciclo- pedismo medieval. Vimos também o surgimento das escolas catedráticas, das universidades medievais e a educação patrística, que é a conversão de povos pagãos que invadiram Roma. 39 Parabéns! Chegamos ao final do segundo tópico do nosso curso. �������� • Momento de questiona- mento social e cultural. • Modelos tradicionais de ensino e de conhecimento passam a ser questionados • Séculos VI e V a.C., surgem, em Atenas, a Filosofia e a Pedagogia. •Esparta: educação militarizada. • Pensamento mitológico sofre abalo • Paideia: formação integral do ser humano, físico, espírito e mente. • Atividades físicas, teatro, música, retórica, oratória, línguas, entre outras áreas do conhecimento. Roma Antiga • Influenciados pelo modelo grego da Paideia • Humanitas: formação completa do ser humano • Educação voltada para a vida em cidades • Saber argumentar e se expressar • Exercício da cidadania e estudos jurídicos • Educação militar e exaltação da história por meio da vida de heróis. • Predomínio da mentali- dade cristã, representada pela Igreja Católica. • Filosofia a serviço da Fé. • Permanência dos pensa- mentos de Platão e Aristóteles • Enciclopedismo medieval • Escolas catedráticas • Escolástica: Baixa Idade Média • Surgimento das universidades medievais • Educação Patrística:con- versão de povos pagãos que invadiram Roma Idade Média Grécia Antiga Síntese Referências ANDERSON, Perry. Passagens da Antiguidade ao Feudalismo. São Paulo: Editora Unesp, 2016. ARANHA, Maria Lúcia Arruda. História da Educação e da Pedagogia. São Paulo: Moderna, 2006. ________. História da Educação. 2 ed. São Paulo: Editora Moderna, 2000. FARIA FILHO. Luciano Mendes de. Pensadores so- ciais e História da Educação. 3ed. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2011. FRANCO JR, Hilário. Idade Média. Nascimento do Ocidente. São Paulo: Brasiliense, 2006. HILSDORF, Maria Lucia S. História da Educação: lei- turas. São Paulo: Cengage Lerning, 2003. MORAIS, Christianni C., PORTES, Écio A., ARRUDA, Maria Ap. (orgs.). História da Educação: ensino e pesquisa. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2006. _GoBack A educação na Grécia antiga O surgimento da Pedagogia A educação na Roma antiga Educação Idade Média Educação na Idade Média Renascimento Considerações Finais Síntese bt_foward 8: Page 1: bt_foward 11: bt_foward 10: Page 41:
Compartilhar