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UNIVERSIDADE DE SANTA CRUZ DO SUL Curso de Medicina Veterinária Ana Luiza S. Lopes Bruna C. B. Schuster Isadora M. Jacobs Ketlin S. Glashorester Letícia A. Iser Nathália Kist CASO CLÍNICO TERAPÊUTICA VETERINÁRIA Santa Cruz do Sul 2020 Registro: ___0004____ Data de entrada:___________ Nome/nº do animal: Felix Sexo: M Idade: 4 anos Espécie: felino Raça: Persa Anamnese: O animal tem evitado brincar e não está comendo direito. Hoje teve um desmaio e está “mole” desde o início do dia. Exame físico geral: Atitude: ( ) hiperativo/agitado ( ) atento ( ) apático ( x ) prostrado ( ) comatoso Estado nutricional: ( ) Obeso ( )bom ( x ) regular ( ) mau ( )péssimo ECC:______ Estado de hidratação: ( x ) normal ( ) desidratado _______% Coloração das mucosas: ( )porcelana ( ) pálidas ( ) rosa pálidas ( ) rosadas ( x ) cianóticas Linfonodos: s/a Temperatura: 37,0°C FC: 180 batimento/min FR: 70 movimentos/min Exame físico específico: Pressão arterial aumentada: 190 mmHg Acentuada dispneia e presença de crepitação pulmonar; Registro: ___0004___ Data de entrada:___________ Nome/nº do animal: Felix Sexo: M Idade: 4 anos Espécie: felino Raça: persa Histórico clínico: animal prostrado com histórico de anorexia e apatia. Estertor pulmonar e mucosas cianóticas. Suspeita clínica: Insuficiência cardíaca (IC). Tratamento: HEMOGRAMA ERITROGRAMA Resultado Valores de referência Eritrócitos (x106//μl) 10.0 5.0 – 10.0 Hemoglobina (g/dl) 14.0 8.0 – 15.0 Hematócrito (%) 46 24 – 45 VGM (fl) 44 39 – 55 CHGM (g/dl ou %) 33 31 – 35 PPT (g/dl) 8.0 6.0 – 8.0 Plaquetas (x103) 280 300 – 800 OBS: Resultado Valores de referência Leucócitos totais (/µL) 4500 5500 – 19500 Relativo (%) Absoluto (/µL) Resultado Valores de referência Resultado Valores de referência Bastonetes 0 0 – 3 0 0 – 300 Neutrófilos 56 35 – 75 2520 2500 – 12500 Linfócitos 36 25 – 55 1620 1500 – 7000 Eosinófilos 4 2 – 12 180 0 – 2400 Basófilos 0 Raros 0 Raros Monócitos 4 1 – 4 180 0 – 850 BIOQUÍMICA SÉRICA Observações: ECOCARDIOGRAMA Espessamento do septo interventricular Movimento anterior sistólico da válvula mitral DIAGNÓSTICO Cardiomiopatia hipertrófica Resultado Valores de Referência Creatinina 3,0 mg/dL 0,8 – 1,8 Ureia 100,0 mg/dL 42,8 – 64,2 ALT 96,8 UI/L 28 - 83 FA 95,6 UI/L 25 - 93 Albumina 3,8 g/dL 2,1 – 3,3 Proteína total 8,2 g/dL 5,4 – 7,8 Glicose 100 mg/dL 70 – 110 Bilirrubina 0,9 mg/dL 0,15 – 0,5 Relato de caso O felino chamado Felix chega ao Hospital Veterinário apresentando-se prostrado, com estado nutricional regular e apresentando mucosas cianóticas. Foi relatado pelo tutor um desmaio no mesmo dia e se apresenta apático desde então. A temperatura está normal, porém, apresenta alta frequência cardíaca e respiratória, explicando o motivo das mucosas se apresentarem cianóticas. A pressão arterial se mostra aumentada e manifesta acentuada dispneia e crepitação pulmonar. Primeiramente foram realizados exames no animal para obter mais informações a respeito do quadro clínico, foram efetuados hemograma e bioquímica sérica. Posteriormente, foi encaminhado para um exame de ecocardiograma, onde apresentou espessamento do septo interventricular e movimento anterior sistólico da válvula mitral, obtendo o diagnóstico definitivo de cardiomiopatia hipertrófica. Na avaliação do hemograma foi verificado poucas alterações, como um leve aumento no hematócrito e diminuição das plaquetas, juntamente com redução dos leucócitos totais. Entretanto, no exame bioquímico sérico, foram observadas grandes alterações de creatinina, uréia, ALT, FA, albumina (hiperalbuminemia), proteína total (indicando desidratação) e bilirrubina, se apresentando todas aumentadas. Protocolo utilizado O objetivo do tratamento é melhorar o preenchimento ventricular, diminuir sinais de congestão, controlar arritmias, minimizar isquemia e prevenir a formação dos trombos, levando ao melhoramento da qualidade de vida do paciente e potencialização da sua longevidade. Visto que, a cardiomiopatia hipertrófica é uma doença que não possui cura, o tratamento visa oferecer uma melhora na qualidade de vida do animal. Em um primeiro momento, precisa ser restabelecida a oxigenação do animal, que se apresenta com mucosas cianóticas. Para isso, deve ser realizada a internação do paciente para possibilitar a oxigenoterapia. Assim que houver melhora na coloração das mucosas e na saturação de oxigênio do animal, deve ser realizado o procedimento de toracocentese, para analisar se há presença de líquido pleural. Se houver presença de líquido pleural, é realizada a remoção do mesmo. Após, é realizada a cateterização periférica na veia cefálica para a administração de fluidos e medicações. O animal foi mantido sob fluidoterapia de manutenção (ringer com lactato 2,5 ml/kg/hora) com o auxílio da bomba de infusão para controle. Se caso o animal se encontrar muito agitado ou com dor, é indicado a utilização analgésica, devido a o aumento do tônus simpático que resulta em uma taquicardia. A escolha foi a utilização de butorfanol (0,4mg/kg IM), que promove menor depressão respiratória. A furosemida será utilizada para reduzir o edema pulmonar. Pelo paciente já estar com problemas renais seria interessante reduzir a dose aconselhada, pois esse medicamento possui efeitos deletérios na perfusão renal, leva à desidratação, à azotemia pré-renal e a distúrbios eletrolíticos em altas doses. Alguns autores preconizam o uso da furosemida em infusão contínua após um bolus inicial, seguido da sua infusão contínua apresenta uma menor espoliação de potássio e melhor efeito diurético. A dose utilizada foi 1mg/kg por via intravenosa (IV) e isso causou uma diminuição dos ruídos pulmonares na auscultação, entretanto o animal manteve-se taquipneico, necessitando de oxigenação para manter um padrão pulmonar adequado. Por isso, foram realizadas mais duas aplicações da medicação com intervalo de 2 horas entre elas, pela mesma via e mesma dose. A espironolactona é utilizada em caso o edema não seja contido ele extravasa para pleura, causando a efusão pleural, sendo esse medicamento de escolha. Foi utilizado na de 0,5 - 1 mg/kg, por via oral (VO), todo o dia. Foi feito o uso do ácido acetilsalicílico (antiagregante) (10-20mg/kg) para inibir a agregação de plaquetas, dificultando o processo de coagulação e evitando a aparição de trombos, complicação comum em casos de cardiomiopatia hipertrófica. Geralmente, esse fármaco é associado a outro antiagregante, como o clopidogrel (19mg/animal), na intenção de aumentar o efeito antiplaquetário, entretanto, deve ser administrado em doses baixas. Com o objetivo de relaxar o músculo cardíaco e diminuir a pressão arterial, deve-se promover um menorconsumo de oxigênio, para isso, será utilizado um fármaco bloqueador de canal de cálcio chamado anlodipino, que também pode auxiliar no controle da proteinúria (1,25 mg / animal > via oral (VO). Para reduzir a frequência cardíaca será utilizado um bloqueador de beta receptores, o atenolol (12 mg/kg) assim, consegue-se melhorar a função diastólica, a ejeção e perfusão do miocárdio, utilizando menos oxigênio e desse modo diminuindo a isquemia cardíaca. Serão realizadas modificações na dieta do animal que irão auxiliar no tratamento da doença. Os mecanismos neuro-humorais são ativados em casos de insuficiência cardíaca, levando à retenção de sódio, cloro e água nos néfrons, com o objetivo de aumentar o volume sanguíneo circulante. É recomendado que o animal comece com uma dieta que possua uma menor quantidade de sal, evitando a retenção do sódio e, consequentemente, a retenção de líquidos. Dra. Ana Luiza Lopes - CRMV: 18.953 e CPF: 047.498.760-46 Dra. Bruna C. B. Schuster - CRMV: 18.350 e CPF: 033.548.230-97 Dra. Isadora M. Jacobs - CRMV: 18.635 e CPF: 020.255.360-46 Dra. Ketlin S. Glashorester - CRMV: 18.356 e CPF: 024.747.960-88 Dra. Letícia A. Iser - CRMV: 18.786 e CPF: 026.320.500-22 Dra. Nathália Kist - CRMV 45.987 e CPF: 042.491.550-21 Santa Cruz do Sul - RS Para o gato (Felix), raça Persa com 4 anos de idade. Peso: 4kg Proprietário Matheus Lemos residente da rua Osvaldo Aranha, 1415 Uso oral Espironolactona --- 4 mg - todo dia (24 horas - 24 horas) - manipulado. Dar um comprimido de 4 mg via oral uma vez ao dia. Ácido acetilsalicílico --- 40 mg - via oral, todo dia (24 horas - 24 horas). Dar meio comprimido de 100 mg, via oral uma vez ao dia. Clopidogrel --- 19 mg/animal - via oral, todo dia (24 horas - 24 horas). Dar ¼ do comprimido de 75mg via oral, uma vez ao dia. Anlodipino --- 1,25 mg, via oral a cada 12 horas. Dar meio comprimido de 2,5 mg via oral duas vezes ao dia. Atenolol --- 12 mg a cada 12 horas por via oral. Dar ½ do comprimido de 25mg, duas vezes ao dia. Uso parenteral Furosemida --- 0,4 mL por via intravenosa e mais duas aplicações com intervalo de 8/8 horas ou 12/12 horas entre elas, pela mesma via e mesma dose. A via intravenosa é Considerações finais O protocolo prescrito será realizado durante a internação do animal, sendo feita diariamente a avaliação através da auscultação, aferição da pressão arterial, tempo de preenchimento capilar (TPC) e exames (hemograma e bioquímica sérica). Após a estabilidade do paciente, será estabelecido, juntamente com o tutor, se o animal irá receber alta para casa ou ficará internado para uma melhor observação. Porém, um ponto importante a ser abordado com o proprietário é o efeito do estresse no ambiente de internação, pela presença de outros animais e o manejo, sendo importante o encaminhamento para casa, com o uso adequado das medicações, caso o animal esteja estável. utilizada APENAS enquanto o animal estiver na internação. Após isso, será administrado ½ comprimido de furosemida 10 mg para uso em casa. Butorfanol --- 0,16 mL por via intramuscular nas primeiras horas (4/4 horas) de internação do animal. Essa dosagem deve ser repetida no outro dia mas com apenas uma dose.