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NUTRIÇÃO FUNCIONAL E ESTRESSE OXIDATIVO Sumário INTRODUÇÃO......................................................................................................... 3 AULA 1 – INTRODUÇÃO À NUTRIÇÃO FUNCIONAL ............................................ 6 PRINCÍPIOS DA NUTRIÇÃO FUNCIONAL ......................................................... 6 AULA 2 - SISTEMA ATMS .................................................................................... 13 ANTECEDENTES .............................................................................................. 15 GATILHOS (TRIGGERS) ................................................................................... 17 MEDIADORES ................................................................................................... 17 AULA 3 - ESTRESSE OXIDATIVO........................................................................ 19 DEFESA ANTIOXIDANTES ............................................................................... 23 Tipos de antioxidantes .................................................................................... 24 AULA 4 - ANTIOXIDANTES NA DIETA ................................................................. 24 FLAVONÓIDES .................................................................................................. 24 CAROTENÓIDES ............................................................................................... 26 VITAMINA A ....................................................................................................... 28 VITAMINA C ....................................................................................................... 31 VITAMINA E ....................................................................................................... 36 ZINCO ................................................................................................................ 40 SELÊNIO ............................................................................................................ 47 REFERENCIAS ..................................................................................................... 53 3 INTRODUÇÃO É muito comum as pessoas pensarem que estão saudáveis depois de fazer exames bioquímicos de rotina e não apresentar alterações no diagnóstico. Mas será que essas pessoas estão realmente saudáveis? Como está seu processo digestivo? Será que elas estão conseguindo nutrir seu corpo adequadamente? Dormem o suficiente e acordam revigorados? Como está o seu humor? Será que seus cabelos estão brilhosos e macios e suas unhas fortes? Essas simples perguntas são formas de identificar sinais de possíveis deficiências ou excessos de nutrientes. É importante entender que nosso corpo é formado por aproximadamente 100 trilhões de células e cada uma dessas células necessita de inúmeros nutrientes para garantir o seu perfeito funcionamento. A ausência de algum nutriente propiciará o inadequado funcionamento das células e dependendo da gravidade desta deficiência, poderá interferir no bem-estar físico e mental do indivíduo. Figura 1. Cada célula no organismo humano precisa receber vários nutrientes necessários para poder executar suas funções. Fonte: O autor (2019). 4 Dessa forma, a nutrição estuda a necessidade dos organismos e células para manterem-se vivos e funcionantes. É uma ciência que investiga como o corpo quebra os alimentos e utiliza os nutrientes adquiridos através deste para consertar, manter e criar células e tecidos. De acordo com o Ministério da Saúde (2013), “Nutrição é o estado fisiológico que resulta do consumo e da utilização biológica de energia e nutrientes em nível celular”. Ou seja, é o resultado do processo de quebra dos alimentos após a ingestão e utilização de seus substratos como fonte de energia e nutrientes para as células funcionarem, promovendo a homeostase do organismo. Para o nutricionista, existem três fontes de informação que o auxiliam a identificar padrões consistentes com a alimentação e os diagnósticos clínicos, são eles: dados bioquímicos, exames físicos e mudanças funcionais. Figura 2. Inter-relação dos dados bioquímicos, atributos físicos e estado funcional. Fonte: Adaptado de KRAUSE et al., 2018. A maioria dos exames de rotina solicitados pelos médicos não avaliam o teor de micronutrientes e/ou a funcionabilidade da microbiota intestinal. Sendo assim, aplicar uma avaliação clínica detalhada, capaz de identificar os sinais e 5 sintomas que cada indivíduo apresenta é uma maneira de reconhecer os possíveis problemas que estão afetando o bem-estar do paciente. As reformas no cuidado da saúde estão modificando, de várias maneiras, a prática clínica dos nutricionistas. Essas mudanças aumentam o valor da avaliação física e funcional como componentes essenciais para o diagnóstico nutricional. Com base nisso, a Nutrição Funcional trabalha modulando os sinais e sintomas a fim de que o indivíduo expresse uma saúde com vitalidade e disposição. É uma área da nutrição que está ganhando mais importância nos últimos anos por aplicar condutas que busquem o equilíbrio metabólico e nutricional, capazes de modular respostas frente à individualidade bioquímica do paciente. Ao longo da disciplina você irá aprender sobre: ▪ Conceito e princípios da Nutrição Clínica Funcional; ▪ Sistema ATMS; ▪ Os efeitos do estresse oxidativo; ▪ Defesa antioxidante do organismo humano. As principais referências bibliográficas que utilizaremos para esta disciplina são as seguintes: 6 AULA 1 – INTRODUÇÃO À NUTRIÇÃO FUNCIONAL Na nutrição, o termo “funcional” aplica-se à manifestação de mudanças nos processos fisiológicos básicos que influenciam não apenas a doença conhecida do indivíduo, mas as alterações nas funções orgânicas apresentadas desde sua vida uterina até o seu presente estado clínico (SOUZA et al., 2016). A Nutrição Funcional é uma ciência integrativa que investiga a interação entre todos os sistemas do corpo humano, enfatizando as relações que existem entre a bioquímica, a fisiologia, os aspectos emocionais e cognitivos e os nutrientes. É uma ciência que se baseia na pesquisa científica e cuja aplicação prática engloba, tanto a prevenção, como o tratamento de doenças, através de dietas elaboradas de acordo com a individualidade bioquímica de cada pessoa, levando em consideração seu genótipo e sua suscetibilidade genética no desenvolvimento de doenças. PRINCÍPIOS DA NUTRIÇÃO FUNCIONAL A Dra. Valéria Paschoal (2014) publicou em seu livro os princípios básicos que norteiam as condutas da nutrição funcional: ▪ Individualidade bioquímica: Representa o princípio base para a terapia nutricional funcional, caracterizado por um conjunto de fatores genéticos, fisiológicos e bioquímicos individuais que orquestram o funcionamento do organismo e as suas necessidades nutricionais, as quais interagem com fatores ambientais (hábitos alimentares, toxinas, poluentes, estresse e nível de atividade física). Nesse sentido, cada organismo é único e apresenta necessidades nutricionais diferentes, necessitando de condutas baseadas no rastreamento de sinais e sintomas de acordo com as características apresentadas por cada indivíduo. 7 Figura 3. Ilustração de fatores ambientais que interagem com um conjunto de fatores genéticos, fisiológicos e bioquímicos em cada indivíduo. Fonte: O autor (2019). ▪ Tratamento centrado no paciente: A intervenção nutricional é estruturada considerando-se interconexões entre os sistemas orgânicos (e a influência dos fatores exógenos, antecedentes pessoais e familiares, prática de atividade física e uso de medicamentos) na busca pelo equilíbrio fisiológico do paciente – nesse sentido o foco é o paciente e não a doença. Ou seja, o tratamento não seráfocado exatamente na doença, mas sim nos fatores que desencadearam o aparecimento ou fortalecimento dessa patologia. Para determinação do correto diagnóstico nutricional, utiliza-se conjuntamente o sistema ATMs (Antecedents, Tiggers and Mediators – Antecedentes, Gatilhos e Mediadores). ▪ Equilíbrio nutricional e a biodisponibilidade de nutrientes: além de garantir a adequada oferta de nutrientes pela alimentação, é necessário a adequada absorção e ação dos nutrientes em nível celular (ou seja, sua ótima biodisponibilidade). Para tanto, é importante considerar a origem do alimento e sua forma de conservação e preparo, a forma química das suplementações e, por fim, a condição em que o indivíduo consegue absorver os nutrientes, seu estado clínico e sua necessidade nutricional. ▪ Saúde como vitalidade positiva: segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), saúde se refere ao perfeito estado de bem-estar físico, mental e social 8 – assim a intervenção nutricional tem como objetivo modular os desequilíbrios existentes para restabelecer a relação positiva entre todos os sistemas, atingindo a saúde de forma plena. ▪ Inter-relações em teia de interconexões metabólicas: Desenvolvida pelo Institute for Functional Medicine (IFM), a teia de interconexões metabólicas é uma ferramenta útil para nortear o trabalho da Nutrição Funcional, pois permite estabelecer as inter-relações entre todos os processos bioquímicos do organismo e entre o sistema ATMS, permitindo a identificação dos desequilíbrios metabólicos associados às condições clínicas apresentadas pelo paciente, favorecendo o desmembramento das bases funcionais destes distúrbios para o tratamento de suas causas. O esquema a seguir permite destacar as principais alterações de cada ponto da teia, para que seja possível compreender a origem dos desequilíbrios orgânicos do indivíduo, bem como estabelecer as primeiras e mais importantes condutas nutricionais. Figura 4. Sistemas orgânicos e interconexões metabólicas. Fonte: Adaptado de BAPTISTELLA et al., 2016. 9 Assim, é importante conhecer cada ponto do sistema de interconexões metabólicas da teia, conforme descritos no artigo publicado por Carnauba et al. (2018): a) Mental, emocional e espiritual: Conforme observado na Imagem 4, esses três pontos estão indicados no centro da teia de interconexões metabólicas, pois tem a capacidade de influenciar diretamente o estado de saúde ou doença. Sem o equilíbrio dos fatores emocionais, mentais e espirituais, todos os outros sistemas podem ser afetados. Assim, deve-se considerar sintomas como estresse mental, ansiedade, depressão, tristeza, angústia e as relações interpessoais, a fim de direcionar uma dieta capaz de fornecer nutrientes que atuarão no controle emocional através de sua contribuição na formação e modulação de hormônios e neurotransmissores (dopamina, serotonina, melatonina, ácido gama-aminobutírico, oxitocina, entre outros). b) Assimilação: O ponto da assimilação compreende o funcionamento do trato digestório desde o início da digestão até a formação e eliminação das fezes, englobando os aspectos relacionados ao funcionamento do trato digestório, incluindo digestão, absorção, hábito e saúde intestinal. Nesse aspecto, é essencial considerar a composição e saúde da microbiota intestinal, que tem papel fundamental na manutenção da saúde e homeostase endógena, uma vez que atua na manutenção da barreira intestinal (controlando a absorção de nutrientes, lipopolissacarídeos bacterianos e toxinas), interage com o metabolismo de sais biliares e modula o sistema imune (influenciando a produção de antígenos). Devido a esses efeitos metabólicos, a composição da microbiota influencia também o metabolismo hepático, a composição e funcionalidade do tecido adiposo e o eixo cérebro-intestino. Portanto, investigar possíveis fatores dietéticos e ambientais que podem comprometer a integridade do trato intestinal e avaliar outros pontos da teia que poderiam afetar o seu funcionamento (como os fatores mentais e emocionais) são estratégias nutricionais que devem ser colocadas em prática, pois podem contribuir para o equilíbrio do sistema digestivo, visando a saúde e bem-estar do indivíduo. 10 c) Defesa e reparo: O ponto defesa e reparo aborda a relação entre alterações imunológicas, estado inflamatório e infecção. O sistema imunológico é alvo de diversos fatores exógenos e endógenos que, desde a vida intrauterina, podem comprometer o estado de saúde do indivíduo, podendo propiciar o surgimento de doenças autoimunes e desequilíbrios funcionais que levam a um estado de hiperinflamação desencadeador de Doenças Crônicas Não Transmissíveis (DCNT). Por esse motivo, a escolha de intervenções nutricionais com nutrientes específicos (que podem apresentar propriedades anti- inflamatórias ou promover o aumento da resposta imune) deverá ser feita com base na situação clínica do indivíduo. d) Energia: O ponto energia avalia o metabolismo energético e a função mitocondrial. São diversos os fatores que podem promover o aumento do estresse oxidativo e produção das espécies reativas de oxigênio, como o estresse emocional, alta ingestão de ácidos graxos trans e frituras, alto consumo de bebidas alcoólicas, exercícios físicos extenuantes, medicamentos, contaminação por metais tóxicos, exposição a poluentes e toxinas ambientais, entre outros. Ainda, além desses fatores, a defesa antioxidante estará ainda mais comprometida pela baixa ingestão de componentes alimentares com ação antioxidante. Uma vez que os danos oxidativos causados em lipídios, proteínas e no DNA levam a importantes desequilíbrios funcionais nas células e podem aumentar o risco de diversas doenças, é importante que o consumo de nutrientes e compostos bioativos com ação antioxidante seja considerado na elaboração de planos alimentares (CARNAUBA et. al, 2018). e) Biotransformação e eliminação: O ponto de biotransformação e eliminação compreende o processo de destoxificação hepática, considerando a exposição a diferentes fontes de xenobióticos e compostos tóxicos (principalmente poluentes, toxinas ambientais, metais tóxicos, álcool, medicamentos e substâncias químicas presentes em alimentos como aditivos e corantes). O processo de destoxificação, que visa a eliminação dessas substâncias tóxicas do organismo, é dividido em três fases e ocorre por meio da ação de complexos enzimáticos que utilizam diversos nutrientes como cofatores (por exemplo, selênio, zinco, manganês e ferro). Desta forma, a exposição 11 excessiva a toxinas pode levar à depleção de nutrientes antioxidantes e alterações no funcionamento celular, propiciando o surgimento de sinais e sintomas e redução da vitalidade. f) Transporte: O ponto transporte investiga a saúde dos sistemas cardiovascular e linfático, uma vez que, para que os nutrientes, hormônios e neurotransmissores alcancem suas células alvo, um sistema de transporte eficiente é necessário, incluindo uma adequada funcionalidade desses sistemas. g) Comunicação: O ponto comunicação considera a função de todos os mensageiros orgânicos. Todas as reações bioquímicas endógenas são coordenadas pela ação de hormônios e neurotransmissores, que precisam estar em perfeito equilíbrio para manutenção da homeostase orgânica. Diversos fatores podem perturbar a ação de mensageiros, como a alimentação, estresse físico e emocional e o excessivo contato com toxinas ambientais que atuam como disruptores endócrinos. Apesar disso, existem algumas intervenções nutricionais que podem contribuir para o equilíbrio de hormônios e neurotransmissores e que certamente devem ser consideradas para indivíduos que apresentam desequilíbrio neste ponto. h) Integridade estrutural: O ponto integridade estrutural considera a integridade de membranas celulares, saúde óssea e demaisaspectos estruturais do indivíduo. Assim, considerando a integridade estrutural, é necessário reduzir a exposição a contaminantes ambientais (que afetam a funcionalidade das membranas celulares) e ofertar alimentos que podem promover efeitos benéficos à saúde. Cada ponto da Teia de Interconexões Metabólicas pode estar relacionado com a suficiência ou deficiência de alguns nutrientes. Um mesmo sintoma pode estar envolvido em vários pontos diferentes das interconexões. Por exemplo: o zinco participa da produção de hormônios e neurotransmissores, dentre eles a testosterona e a serotonina (comunicação), participa da sinalização da insulina (Energia), melhora a saúde intestinal (Assimilação), a saúde hepática (Biotransformação e Eliminação), a saúde cardiovascular (Transporte), a saúde 12 das unhas, pele, cabelo e gordura corporal (Integridade Estrutural) e o sistema imunológico (Defesa e Reparo). Tabela 1. Tópicos da Teia de Interconexões Metabólicas e os principais nutrientes envolvidos. TÓPICOS DA TEIA PRINCIPAIS NUTRIENTES, FITOTERÁPICOS E COMPOSTOS BIOATIVOS ENVOLVIDOS Assimilação Ômega-3, fibras dietéticas, polifenóis, probióticos, prebióticos (FOS, inulina, oligofrutose), vitamina A, vitamina D, zinco, glutamina. Biotransformação e Eliminação Vitaminas (A, C, D, E, K), cálcio, magnésio, potássio, proteína, fósforo, zinco, cobre, selênio, ferro, manganês, ômega-3, N-acetilcisteína, metionina, BCAA, quercetina, rutina, flavonoides, antocianinas, isoflavonas, polifenóis do café, resveratrol, cúrcuma, isotiocianatos, coenzima Q10, SAMe, silimarina, probióticos, prebióticos. Transporte Vitaminas (A, C, D, E, K e complexo B), cálcio, magnésio, zinco, cromo, selênio, fibras, ômega-3, ácido lipoico, coenzima Q10, catequinas, resveratrol, hidroxitirosol, antocianinas, Cúrcuma longa, Hibiscus sabdariffa, Cynara scalymus, cacau. Integridade Estrutural Vitaminas (A, C, D, E, K e complexo B), cálcio, magnésio, silício, boro, zinco, cobre, ferro, manganês, creatina, leucina, whey protein, proteínas vegetais, colágeno e seus peptídeos bioativos, ácidos graxos poli-insaturados, resveratrol, coenzima Q10, Boswellia serrata, Cúrcuma longa, Zingiber officinale. Comunicação, Mente e Emoção Magnésio, zinco, selênio, cromo, ferro, Vitaminas (C, D, E e complexo B, principalmente B3, B13, B9 e B6), ômega-3, N-acetilcisteína, ácido lipoico, coenzima Q10, carnitina, triptofano, teanina. 13 Defesa e Reparo Vitaminas (A, C, D, E e complexo B), zinco, selênio, magnésio, cobre, ferro, ômega-3, glutamina, arginina, taurina, BCAA, nucleotídeos, resveratrol, curcumina, quercetina, epigalocatequina-3-galato, nucleotídeos, mel, própolis, geleia real, pólen, probióticos, prebióticos. Energia Magnésio, cálcio, zinco, ferro, cromo, vanádio, Complexo B, vitamina C, ácido lipoico, coenzima Q10, ômega-3, CLA, polifenóis, Hibiscus sabdariffa, Garcinia mangostana, Eriobotrya japônica, Curcuma longa, Camellia sinensis, Ilex paraguariensis,Undaria pinnatifida, Citrus aurantium, Citrus sinensis L. Osbeck, Capsicum spp., Cinnamom spp., Zingiber officinale. Fonte: BAPTISTELLA et al., 2018. Ao observar a tabela 1, é possível notar que os sintomas podem estar interligados e que os mesmos nutrientes agem em diferentes pontos. Uma vez que forem identificados os sinais e sintomas que irão compor a teia, é necessário analisar os principais tópicos em desequilíbrio e aplicar condutas dietéticas para promover o adequado funcionamento do organismo. Uma maneira importante de diagnosticar os desequilíbrios funcionais dos pacientes é aplicando o sistema ATMS. AULA 2 - SISTEMA ATMS O sistema ATMS (antecedentes, gatilhos e mediadores), representando na figura 5, assemelha-se a Teia de Nutrição Funcional e leva em consideração a interconexão de todos os sistemas fisiológicos do nosso organismo, os antecedentes, os gatilhos e mediadores que afetam esses sistemas e os sistemas pertinentes ao desequilíbrio no funcionamento de cada um deles. Dessa forma, levam-se em consideração os aspectos que interferem no(a): ▪ Estresse oxidativo e metabólico energético 14 ▪ Regulação hormonal e de neurotransmissores ▪ Digestão, absorção e integridade da barreira intestinal ▪ Suporte imunológico ▪ Integridade estrutural do individuo ▪ Destoxificação e biotransformação hepática ▪ Processo inflamatório ▪ Equilíbrio psicológico e espiritual Figura 5. Ficha de diagnóstico nutricional. Fonte: Adaptado de Paschoal et al., 2014. Sistema ATMS 15 ANTECEDENTES Os antecedentes estão relacionados com a história de vida do paciente e com a história genética de sua família. Se o indivíduo não possui uma determinada doença que está presente em seu histórico familiar ou se houver a possibilidade de adquirir devido uma rotina propícia ao desenvolvimento de DCNT’s, então o foco do nutricionista será trabalhar na prevenção, concentrando-se nos fatores de risco a que o paciente está exposto e o que pode anteceder o aparecimento de alguma patologia. Porém, se o indivíduo já possui algum tipo de doença instalada, é importante aplicar uma anamnese completa para investigar toda a história do paciente, desde o nascimento até o momento da consulta, incluindo suas experiências de vida, seu desempenho escolar, o tipo de alimentação consumida durante toda a vida. Ou seja, investigar todos os antecedentes que possam estimular gatilhos que favoreçam o aparecimento de patologias. 1. Fatores Genéticos A suscetibilidade ao desenvolvimento de doença é provavelmente resultado de fatores genéticos e ambientais que possuem predominância variada em diferentes indivíduos. Os antecedentes podem ser os eventos aos quais o indivíduo esteve exposto na vida intrauterina e nos primeiros meses de vida que interferiram na sua programação metabólica e na predisposição à doença. Um exemplo de fator genético é apresentado em estudos relacionados a predisposição à obesidade. Conforme pesquisas apresentadas por Toschke et al. (2002) e von Kries et al. (2002), o tabagismo materno gestacional está associado ao desenvolvimento de sobrepeso infantil e de obesidade e diabetes tipo 2 na vida adulta. Existem estudos que demonstram também, que crianças não amamentadas no peito e expostas precocemente às fórmulas infantis possuem o funcionamento de regulação da ingestão alimentar prejudicado. Isso porque bebês, nos primeiros meses de vida, possuem uma deficiência do principal hormônio da saciedade (leptina) que é passado da mãe através do leite materno. 16 Assim, crianças que não são amamentadas no peito apresentam um desequilíbrio no eixo fome-saciedade que podem predispor essa criança à obesidade na primeira infância e na vida adulta quando associada a outros fatores ambientais de risco (MELNIK, JOHN, SCHMITZ, 2013; OOSTING et al., 2013; POWER, SCHULKIN, 2013; STACHOWIAK et al., 2013). 2. Hipersensibilidade alimentar A hipersensibilidade alimentar ou alergia alimentar gera uma resposta imunológica que altera a função intestinal, liberando substâncias que atuarão como gatilhos para diversas desordens orgânicas, tais como: ▪ Respiratórias: asma, sinusite, coriza e congestão nasal constante ▪ Cardiovasculares: edema, taquicardia, inflamação de veias coronárias ▪ Gastrointestinais: doença celíaca, diarreia crônica, cólicas, obstipação, doença de Crohn, úlceras duodenais ou gástricas, gastrites, indigestão, síndrome do intestino irritável, síndrome e má absorção, náuseas, colite ulcerativa. ▪ Genitourinário: infecções crônicas da bexiga, síndrome nefrótica, incontinência urinária ▪ Imunológica: otites de repetição ▪ Mental e emocional: déficit de atenção, ansiedade, depressão, perda de memória, esquizofrenia, epilepsia ▪ Músculos esqueléticos: dores articulares, mialgias, artrite reumatoide▪ Cutâneas: eczema, psoríase, urticária, dermatites, coceiras nos olhos ▪ Outros: enxaqueca As reações adversas aos alimentos podem gerar quadros de alergia alimentar (mediadas por IgE), hipersensibilidades alimentares (mediadas por IgG, IgM, IgA, IgE e células T) e intolerâncias alimentares (deficiências metabólicas, exemplo: deficiência da lactase). O primeiro quadro apresenta uma 17 resposta rápida após a ingestão do alimento desencadeante da ativação da ação imunológica. A hipersensibilidade e a intolerância alimentar apresentam uma resposta mais tardia. 3. Hábitos alimentares Vários estudos demonstram que o consumo elevado de alimentos com carga glicêmica alta, associado ao desequilíbrio no consumo de ácidos graxos ômega-6 em relação ao ômega-3, à deficiência, por exemplo de vitamina D e à falta de compostos bioativos e antioxidantes levam à ativação do fator de transcrição NFkB (Nuclear Factor kappa B), responsável pelo aumento da expressão de genes pró-inflamatórios, desencadeando inúmeras doenças como câncer, obesidade, dislipidemia, diabetes tipo 2 e doenças neurodegenerativas. Estudos demostram que o consumo diário de alimentos, com intervalo máximo de 3 em 3 horas, contendo os compostos bioativos lignanas, beta glucanas, antocianinas, licopeno e catequinas garantem efetivamente a modulação das reações bioquímicas envolvidas, contribuindo para reduzir o risco de desenvolvimento de doenças crônicas não transmissíveis. GATILHOS (TRIGGERS) Os gatilhos incluem fatores ambientais e alimentares atuais, que desencadeiam os sintomas relatados pelos pacientes, e ainda estresse emocional, físico e mental, radiação, estresse oxidativo, traumas, lipopolissacarídeos bacterianos (LPS), vírus e parasitas. Uma vez acionados, eles desencadearão inúmeras consequências deletérias para nosso organismo, como por exemplo, a ativação do fator de transcrição para genes inflamatórios como NFkB. MEDIADORES Os mediadores são quaisquer substâncias, enzimas ou fatores ambientais que causem os sintomas, a destruição dos tecidos e o comportamento em relação à doença. 18 Os mediadores são sintetizados a partir da atividade dos gatilhos e podem ser bioquímicos, subatômicos, cognitivos e emocionais, sociais e culturais: Tabela 2. Mediadores e seus respectivos fatores que desencadeiam os gatilhos. MEDIADORES FATORES QUE DENSENCADEIAM OS GATILHOS Bioquímicos Hormônios, neurotransmissores, neuropeptídios, citocinas, radicais livres, fatores de transcrição Subatômicos Íons, elétrons Cognitivos e emocionais Medo da dor e perda, crença em relação à doença, baixa autoestima; Mediadores sociais e culturais Falta de apoio social e solidão, relação profissional – paciente, condições comportamentais. Fonte: Paschoal, V. et al, 2014. Os mediadores bioquímicos são os mais estudados atualmente, por estar envolvido na inflamação. A inflamação exerce uma função crítica não só em respostas às infecções, mas também em desordens como as doenças cardiovasculares, aterosclerose, diabetes, câncer, depressão, doenças gastrointestinais, doença de Crohn, artrite reumatoide, mal de Alzheimer, esclerose múltipla, desordens cutâneas e obesidade (Paschoal, V. et al, 2014). Além da inflamação, o estresse tem demonstrado ser um importante mediador de diversas patologias como depressão. Pacientes com depressão severa apresentam uma “perda do feedback negativo do eixo hipotálamo adrenal. Assim, os níveis de cortisol urinário livre se elevam alterando o ciclo circadiano do cortisol e potencializando os tintomas da doença. Conhecendo os antecedentes, gatilhos e mediadores apresentados pelo paciente, o tratamento por meio dos princípios básicos da Nutrição Clínica Funcional será mais efetivo no restabelecimento da funcionabilidade orgânica e saúde e bem-estar do indivíduo. Cabe ao profissional nutricionista preencher a teia com as informações obtidas através do paciente, eleger os três itens que apresentam maior desequilíbrio (maior número de sintomas) e iniciar o tratamento nutricional. Deve-se optar por condutas que bloqueiem os gatilhos e 19 por nutrientes que modulem os mediadores, restabelecendo o equilíbrio funcional de cada sistema. AULA 3 - ESTRESSE OXIDATIVO Para entender o assunto abordado nesta aula, é necessário compreender primeiramente, o que são espécies reativas de oxigênio e radicais livres. O oxigênio é essencial para a oxidação de compostos orgânicos e produção de energia para o metabolismo celular. Uma pequena quantidade do oxigênio consumido (2 a 5%) é reduzida, produzindo uma variedade de substâncias químicas altamente reativas, denominadas espécies reativas do oxigênio (ERO). Essas espécies reativas são átomos, moléculas, ou íons derivados do oxigênio, que em sua grande maioria possuem alta reatividade e podem provocar, em altas concentrações, danos as organelas celulares, ácidos nucleicos, lipídeos e proteínas. As espécies reativas podem ser didaticamente divididas em dois grupos: os radicais livres e os compostos não radicalares. Figura 6. Representação de uma molécula de oxigênio estável e instável. Fonte: O autor (2019). Os radicais livres são átomos ou moléculas que possuem um número ímpar de elétrons em sua camada de valência (camada mais externa). Isso o torna 20 instável e altamente reativo, fazendo com que esteja sempre buscando capturar elétrons das células à sua volta. Alguns exemplos são: ▪ OH• (íon hidroxila) ▪ HOH• (íon peroxil) ▪ O2-• (ânion superóxido) ▪ NO (óxido nítrico) ▪ O2 (oxigênio molecular) Já os compostos não radicalares, como H2O2 (peróxido de hidrogênio) e HOCl (ácido hipocloroso), não possuem elétrons livres, portanto, são menos instáveis que os radicais livres, mas também podem reagir com moléculas que estão ao seu redor. As mitocôndrias são a maior fonte endógena de produção de radicais livres nos eucariotos. O radical livre ânion superóxido (O2-•) é o mais comumente gerado, a partir de elétrons que escapam da cadeia transportadora das mitocôndrias e reduzem o O2 presente nas células. Já o óxido nítrico (NO), produzido por uma ampla variedade de tipos celulares, tem características importantes na modulação da pressão arterial. As EROs em baixos níveis e em condições normais possuem um papel importante e são naturalmente produzidos pelo metabolismo dos seres vivos. Um exemplo de suas funções no organismo é na resposta imune a infecções. O sistema imunológico atua na produção de radicais livres ao redor de bactérias, fungos e vírus para destruir sua membrana, tornando possível fagocitar esses microrganismos invasores. Há evidências de que as EROs também desempenham um papel importante na sinalização celular. A produção contínua de radicais livres em nosso organismo durante os processos metabólicos ativa nosso mecanismos de defesa antioxidante, que têm o objetivo de limitar os níveis intracelulares de tais espécies reativas e controlar a ocorrência de danos decorrentes, porém, um dos problemas da atualidade recai no fato da dieta da população estar cada vez mais deficitária em 21 substâncias que contra regulem uma resposta à geração de EROs e cada vez mais exposta a estímulos que aumentam a produção de radicais livres. Esse desequilíbrio entre compostos oxidantes e antioxidantes, em favor da geração excessiva de radicais livres ou em detrimento da velocidade de remoção destes, induz o processo de estresse oxidativo. O estresse oxidativo pode ser gerado através de fontes endógenas (metabolismo celular) e pode ser produzido em resposta a diferentes estímulos exógenos como: toxinas, radiação ultravioleta, poluição, estresse e alimentação. Figura 7. Causas do estresse oxidativo. Fonte:http://andreiatorres.com/blog/2016/11/22/estresse-oxidativo-em-crianas-com-sndrome- de-down Através da alimentaçãoé possível diminuir a produção de radicais livres, mas também é possível aumentá-la, pois os macronutrientes (Proteína, Carboidrato e Lipídeos) possuem variações de átomos de oxigênio em sua composição, conforme a tabela 2. A partir do momento que o indivíduo consume um alimento que irá conter uma ou mais desses nutrientes, ele estará ingerindo moléculas de oxigênio. E assim como qualquer outra molécula de oxigênio em nosso organismo, ela pode sofrer uma redução de elétron e tornar-se instável. Tabela 3. Fórmula química de macromoléculas. 22 Fonte: O autor (2019). Além disso, a realização excessiva de exercícios por períodos prolongados também pode produzir altas concentrações EROs. A taxa de consumo de oxigênio durante o exercício pode aumentar em 10 a 15 vezes, ou até 100 vezes em músculos esqueléticos periféricos ativos, favorecendo o aumento da produção de peróxidos lipídicos e radicais livres. A magnitude do estresse depende da capacidade dos tecidos do corpo de se desintoxicar das EROs. O estresse oxidativo conduz à oxidação de biomoléculas com consequente perda de suas funções biológicas e/ou desequilíbrio homeostático, cuja manifestação é o dano oxidativo potencial contra células e tecidos. Ou seja, o estresse oxidativo pode promover danos as células e aos tecidos do corpo levando a um desequilíbrio metabólico através do aumento de radicais livres no organismo e consequentemente à peroxidação de lipídeos, a oxidação de proteínas, a inativação enzimática, ativação excessiva de genes pró- inflamatórios, como fator de necrose tumoral (TNF-α), interleucinas (IL), fator de transcrição nuclear kappa B (NFkB) e fator de crescimento transformador beta (TGF-β), além de causar danos ao DNA. Com base nesses desequilíbrios, o acúmulo de danos oxidativos em lipídios, proteínas e no DNA está relacionado com a patogênese de diversas doenças como câncer, diabetes, inflamações, doença de Parkinson, doenças cardiovasculares, aterosclerose, ischemia- reperfusão e no envelhecimento acelerado. Desta forma, a utilização de moléculas antioxidantes adquiridas através da dieta ou de maneira sintética compõem um dos mecanismos de defesa contra os radicais livres. 23 DEFESA ANTIOXIDANTES Todas as células ativas produzem certa quantidade de ERO, mas o sistema antioxidante mantém seus níveis baixos. De acordo com Lima e Bezerra (2012, p.115), a exposição aos radicais livres tem levado os organismos a desenvolverem uma série de mecanismos de defesa. Os mecanismos de defesa contra os radicais livres, induzidos pelo estresse oxidativo envolvem: mecanismos preventivos, mecanismos de reparo, defesas físicas, e as defesas antioxidantes. Os antioxidantes atuam em diferentes níveis na proteção dos organismos. O primeiro mecanismo de defesa contra os radicais livres é impedir a sua formação. Os antioxidantes são capazes de interceptar os radicais livres gerados pelo metabolismo celular ou por fontes exógenas, impedindo o ataque sobre os lipídios, os aminoácidos das proteínas, a dupla ligação dos ácidos graxos poli- insaturados e as bases do DNA, evitando a formação de lesões e perda da integridade celular. Os antioxidantes obtidos da dieta, tais como as vitaminas C, E e A, os flavonoides e carotenoides são extremamente importantes na intercepção dos radicais livres. Uma molécula antioxidante possui substituintes doadores de elétrons ou de hidrogênio ao radical, favorecendo o balanço entre a produção e a degradação de ERO e assim, mantendo a homeostase celular. Outro mecanismo de proteção é o reparo das lesões causadas pelos radicais. Esse processo está relacionado com a remoção de danos da molécula de DNA e a reconstituição das membranas celulares danificadas. Em algumas situações pode ocorrer uma adaptação do organismo em resposta a geração desses radicais com o aumento da síntese de enzimas antioxidantes. Desta forma, a utilização de moléculas antioxidantes constitui um dos mecanismos de defesa contra os EROs e através de um ou mais mecanismos, tais como inibição de radicais livres e complexação de metais, retardam ou previnem a velocidade da oxidação, prevenindo o desenvolvimento de muitas doenças e contribuindo para uma maior longevidade. 24 Tipos de antioxidantes Os antioxidantes podem ser classificados em antioxidantes enzimáticos ou não-enzimáticos. Entre os antioxidantes enzimáticos encontram-se: superóxido dismutase, catalase, NADPHquinona oxidoredutase e glutationa peroxidase. Já os antioxidantes não-enzimáticos, em sua maioria, precisam ser adquiridos pela alimentação, sendo os mais comuns: glutationa reduzida (GSH), tiorredoxina (Trx), a-tocoferol (vitamina E) curcumina, b-caroteno, ácido ascórbico (vitamina C), flavonoides, proteínas do plasma, selênio, glutationa, clorofilina e a L- cisteína. AULA 4 - ANTIOXIDANTES NA DIETA Embora o organismo possua defesas antioxidantes endógenas efetivas para o combate ao excesso de radicais livres, a inclusão de antioxidantes na dieta é de grande importância, pois o seu consumo está associado a inúmeros benefícios à saúde, incluindo proteção contra doenças crônico-degenerativas associadas ao acúmulo de radicais livres. Os antioxidantes também têm sido relacionados com a diminuição de efeitos colaterais advindos do uso de fármacos antitumorais como, por exemplo, a nefrotoxicidade, que é um dos principais efeitos colaterais da terapia com a cisplatina (fármaco antitumoral). Evidências mostram que uma abordagem alternativa para proteção contra esses efeitos colaterais é o uso de conhecidos antioxidantes da dieta tais como, vitaminas C e E, curcumina, selenito de sódio e o carotenoide bixina (ANTUNES & BIANCHI, 2004). Entre os nutrientes com ação antioxidante, destacam-se: os flavonoides e carotenoides, vitaminas A, C e E e os minerais zinco e selênio. FLAVONÓIDES Os flavonóides constituem substâncias aromáticas contendo 15 átomos de carbono no seu esqueleto básico. Este grupo de compostos polifenólicos 25 apresenta uma estrutura comum caracterizada por dois anéis aromáticos e um heterociclo oxigenado, formando um sistema C6-C3-C6. Segundo as pesquisas realizadas por Pereira e Cardoso (2012, p. 148), já foram identificadas mais de 8.000 substâncias pertencentes a este grupo. Esse grande número de compostos surge da ampla variação de combinações de grupos metil e hidroxil como substituintes na estrutura química básica. Os flavonóides são membros de uma classe de compostos naturais que recentemente tem sido objeto de considerável interesse científico e terapêutico, uma vez que têm sido relatadas importantes atividades biológicas, tais como, ações antialérgicas, antivirais, anti-inflamatórias, vasodilatadoras e principalmente sua atividade antioxidante, ação esta exercida devido a sua capacidade de inibir e/ou reduzir a formação de radicais livres e na capacidade de quelar metais (LIMA & BEZERRA, 2012, p. 118). A grande diversidade de flavonóides é decorrente das variações estruturais, tais como: flavonas, flavanóis, flavonóis, diidroflavonóis, antocianidinas e isoflavonóides. Dentre os flavonóides destacam-se as antocianinas, que são glicosídeos que apresentam em sua estrutura química um resíduo de açúcar no carbono 3. Como produtos desta hidrólise, obtêm-se o componente glicídico e a aglicona, denominada antocianidina (LIMA & BEZERRA, 2012, p. 116; DEWICK, 2002 apud PEREIRA & CARDOSO, 2012, p. 148). As antocianinas são um grupo de pigmentos naturais com estruturas fenólicas variadas. São os componentes de muitas frutas vermelhas e hortaliças escuras, apresentando grande concentração nas cascas de uvas escuras. Representam um significante papel na prevenção ou retardam o aparecimento de várias doenças por suas propriedades antioxidantes. As antocianinas encontradas em alimentos são todas derivadasdas agliconas pertencentes a três pigmentos básicos: pelargonidina (vermelha), cianidina (vermelho) e delfinidina (violeta) (Araújo, 2008 apud PEREIRA & CARDOSO, 2012, p. 148). 26 Ação antioxidante Os efeitos antioxidantes dos flavonóides podem ser explicados por sua prevenção a peroxidação lipídica através do aprisionamento de radicais de iniciação lipídica, tais como, superóxido, hidroxil e hidroperoxil. Outro efeito, muito importante, é a quelação de íons metálicos, por exemplo, a complexação com íons ferro, suprimindo a Reação de Fenton - nome dado à oxidação de ferro (II) a ferro(III) pela água oxigenada, uma reação que produz espécies com alto poder oxidante como o radical hidroxila. CAROTENÓIDES Os carotenóides formam um grupo de pigmentos naturais com aproximadamente 700 representantes que apresentam coloração amarela, laranja ou vermelha, à exceção dos carotenoides fitoeno e fitoflueno que são incolores. Tabela 4. Exemplos de carotenóides encontrados na natureza e suas colorações. Carotenóide Coloração Luteína Amarela Zeaxantina Amarela e laranja β-caroteno Laranja Bixina Laranja Norbixina Laranja Cantaxantina Laranja e vermelha Astaxantina Vermelha Fonte: Adaptado Mesquita, S. S. et al.2017 Os carotenóides são responsáveis pela síntese de vitaminas, estando relacionada à redução do risco de degeneração macular, catarata e doenças crônicas. Além de auxiliar na prevenção de neoplasias e na proteção do DNA contra o estresse oxidativo, em virtude de sua ação antioxidante (BAENA, 2015 27 apud HENRIQUE et al., 2018). Pode-se citar como exemplos de carotenoides: licopeno, caroteno e luteína. Carotenoides precursores de Vitamina A Alimentos como a cenoura, a abóbora e o espinafre, são exemplos de fontes abundantes em carotenoides precursores de vitamina A, porém, nem todos os carotenoides apresentam atividade pró-vitamina A. Para que o carotenoide apresente esta atividade, a molécula deve conter, no mínimo, 11 carbonos, pelo menos um anel β não substituído e duplas ligações conjugadas em sua composição química, como é o caso de β-caroteno, γ-caroteno, α- caroteno, β-criptoxantina e α-criptoxantina. Uma vez ingeridos, os carotenoides com atividade pró-vitamina A são absorvidos e convertidos a retinal no intestino. A molécula de retinal, por sua vez, é convertida a retinol e, em seguida, é transportada para o fígado, onde será armazenada. Ação antioxidante Como antioxidantes, os carotenoides, apresentam mecanismos de ação física ou química para neutralizar os efeitos de ERO. O primeiro caso envolve transferência de energia. Já o mecanismo químico está relacionado à reação química entre carotenoide e espécie reativa de oxigênio, sendo conhecidos três tipos: ▪ Transferência de elétron: radicais com alto potencial redox removem um elétron do carotenoide, oxidando-o e formando o radical cátion; ▪ Abstração de hidrogênio: há a remoção de um átomo de hidrogênio da molécula de carotenoide, formando o radical neutro; ▪ Adição: ocorre a adição de um radical à molécula de carotenoide, formando o radical aduto. 28 VITAMINA A Primeira vitamina lipossolúvel a ser reconhecida foi a vitamina A, em 1913. Esse nome é um termo genérico usado para descrever todos os retinóides que tem atividade biológica transretinol. A vitamina A foi chamada de retinol em referência à sua função específica na retina do olho. Outras formas metabolicamente ativas da vitamina incluem o correspondente aldeído (retinal) e ácido (ácido retinóico). A vitamina A é relativamente estável ao calor e à luz, entretanto, é destruída pela oxidação. Sua biodisponibilidade é acentuada pela presença de vitamina E e outros antioxidantes. Essa vitamina é absorvida sob forma de ésteres de retinol, comumente como retinil palmitato. O armazenamento da vitamina A é feito em forma de ésteres de retinil, e após divisão hidrolítica dos ésteres, o fígado libera continuamente retinol livre na circulação sanguínea e deste modo mantendo uma constante concentração de sua forma ativa na circulação. A concentração média dos ésteres de retinil no organismo é cerca de 100 a 300 µg no fígado e a taxa normal de retinol no plasma é de 30 a 700 µg/dl. A administração sanguínea não é um guia recomendável para um estudo individual de vitamina A, mas valores baixos de retinol sanguíneo significam que o armazenamento hepático da vitamina pode estar sendo esgotado. A concentração de RBP (proteína transportadora de retinol) no plasma é decisiva para a regulação do retinol plasmático e seu transporte para os tecidos. Função da vitamina A A vitamina A desempenha papel essencial na visão, crescimento, desenvolvimento dos ossos, no desenvolvimento e manutenção do tecido epitelial, no processo imunológico, na reprodução normal e tem ação antioxidante. Suas propriedades moleculares incluem o controle da expressão gênica, bem como danos ao DNA. 29 Redução da vitamina A no organismo Sua redução pode interromper a homeostase do organismo, gerando problemas como: ▪ Aumento da ligação das bactérias às células epiteliais do trato respiratório; ▪ Diminuição da produção de IgA secretor; ▪ Favorecer a atrofia do Timo; ▪ Reduzir a atividade das células Natural Killers; ▪ Diminuir a produção de interferons e anticorpos; ▪ Diminuir a atividade dos macrófagos; ▪ Diminuir a diferenciação das células Tregs. Sinais e sintomas de deficiência Uma deficiência prolongada de vitamina A pode produzir: ▪ Alterações na pele (pele seca, acne); ▪ Dores oculares; ▪ Cegueira noturna; ▪ Ulcerações na córnea. ▪ Em crianças com alta deficiência de vitamina A pode causar cegueira. Os primeiros indícios de deficiência de vitamina A é a adaptação prejudicada ao escuro ou cegueira noturna. Deficiência leve pode resultar em alterações na conjuntiva (canto do olho) chamado pontos de Bitot. A deficiência grave ou prolongada causa uma condição chamada xeroftalmia (olho seco), e caracteriza-se por alterações nas células da córnea (cobertura transparente do olho), que em última instância resulta em úlceras de córnea, cicatrizes e cegueira. 30 Figura 8. Sinais clínicos da deficiência de vitamina A Fonte: Ministério da Saúde, 2013. Em estados de deficiência extrema, as membranas mucosas dos tratos respiratórios, gastrointestinal e geniturinário são afetadas. Outros sintomas de deficiência são perda de apetite, inibição do crescimento, anormalidades ósseas, ceratinização das papilas gustativas, perda de paladar, nódulos na parte posterior do braço, gripes e infecções recidivantes, problemas sinusais, diminuição da salivação, cefaleias, cabelo sem brilho, descamação das unhas, diminuição da contagem de glóbulos brancos, diminuição da fertilidade em mulheres e perda de olfato. Causas de deficiência As deficiências primárias de vitamina A são consequência de uma dieta inadequada. Já as secundárias podem ser oriundas de fatores que podem interferir na absorção, estoque ou transporte de vitamina A. ▪ Má absorção devido à insuficiência de ácidos biliares ou insuficiência pancreática; ▪ Desnutrição proteico-energética; ▪ Doenças hepáticas; ▪ Deficiência de zinco. Toxicidade A hipervitaminose A (altas concentrações de vitamina A no organismo) pode se apresentar de forma aguda e crônica. 31 A hipervitaminose A aguda pode ser induzida por uma única dose de retinol superior a 200mg (660.000UI) em adultos, ou superior a 100mg (330.000UI) em crianças. Os sintomas incluem náuseas, vômitos, fadiga, fraqueza, cefaleia e anorexia. Nos lactantes, o sintoma pode ser a fontanela abaulada. A hipervitaminose A crônica reflete o uso inadequado do consumo constante de suplementos de vitamina A, alcançando uma ingesta de pelo menos 10 vezes a mais as recomendações estabelecidas pelo RDA:4,2mg de retinol (14.000UI) para um lactante ou 10 mg de retinol (33.000UI) para um adulto. A resposta a esse excesso crônico é altamente variável entre os indivíduos. Os sintomas desaparecem em semanas ou meses após a suspensão da suplementação. Além dos sinais e sintomas, níveis acima de 500 UI/dl no sangue constituem indicação adicional da hipervitaminose. Fontes de vitamina A A vitamina A pré-formada (retinol) é encontrada em alimentos de origem animal: vísceras (principalmente fígado), gemas de ovos e leite integral e seus derivados (manteiga e queijo). Os vegetais são fontes de vitamina A sob a forma de carotenóides (precursores de vitamina) os quais, no organismo, se converterão em vitamina A. Em geral, frutas e legumes amarelos e alaranjados e vegetais verde-escuros são ricos em carotenóides: manga, mamão, cajá, caju maduro, goiaba vermelha, abóbora/jerimum, cenoura, acelga, espinafre, chicória, couve, salsa etc. Alguns frutos de palmeira e seus óleos também são muito ricos em vitamina A: dendê, buriti, pequi, pupunha, tucumã (Ministério da Saúde, 2004). VITAMINA C A vitamina C ou ácido ascórbico é um composto derivado da hexose e classificado como um carboidrato intimamente relacionado aos monossacarídeos. O ácido ascórbico é reversivelmente oxidado no organismo em ácido deidroascórbico, que é mais ativo. 32 No trato gastrointestinal, a absorção da vitamina C ingerida é por transporte ativo saturável, dependente de sódio e da dose presente no lúmen intestinal. Cerca de 80% a 90% da ingestão oral de ácido ascórbico pode ser absorvida, mas essa absorção pode diminuir quando se aumenta a quantidade ingerida. E facilmente absorvida pelo duodeno, parte proximal do jejuno e também tem absorção bucal. Outro mecanismo de regulação da vitamina C é sua excreção renal ou de seus de seus metabólitos. No plasma, o ácido ascórbico é transportado em forma de ascorbato, sendo que não necessita de transportador para circular em meio extracelular por ser uma vitamina hidrossolúvel. Para o interior das células sanguíneas, o ascorbato é transportado na forma de deidroascorbato, composto mais permeável à membrana. A concentração de vitamina C nos tecidos é maior que no plasma e na saliva. O pool corpóreo é, em média, de 1200 a 2000mg, e tem uma meia vida de 20 dias. A necessidade diária de vitamina C é estimada entre 25 mg e 30 mg por 1.000 kcal, que devem ser obtidos por meio da ingestão de alimentos de origem vegetal e frescos. As necessidades alimentares do ácido ascórbico estão aumentadas nos idosos, na gestação e na lactação. Função da vitamina C A capacidade redutora do ácido ascórbico faz parte de várias reações bioquímicas e caracteriza sua função biológica. Essa vitamina também pode reduzir espécies reativas de oxigênio. Sua principal função é como cofator de numerosas reações que requerem cobre e ferro reduzidos como antioxidantes hidrossolúveis que atuam em ambientes intra e extracelulares. É conhecida a capacidade do ácido ascórbico de doar elétrons a enzimas humanas. Participa da hidroxilação do colágeno, da biossíntese da carnitina e da biossíntese de hormônios e aminoácidos. Alguns estudos sugerem que o ascorbato desempenha papel importante na expressão gênica do colágeno, na secreção celular de procolágeno e na biossíntese de outras substâncias do tecido conectivo, como elastina, fibronectina, proteoglicanos e elastina associada à fibrilina. 33 O ácido ascórbico também participa da síntese e modulação de alguns componentes hormonais do sistema nervoso, como a hidroxilação de dopamina e noradrenalina. A vitamina C pode aumentar a biodisponibilidade do ferro, já que o mantêm na forma reduzida (ferroso, Fe 2+), estimulando sua absorção. Redução da vitamina C no organismo Os sinais de deficiência em indivíduos bem nutridos só se desenvolvem após quatro a seis meses de baixa ingestão (valores menores que 10 mg/dia), quando as concentrações plasmáticas e dos tecidos diminuem consideravelmente. Os primeiros sintomas de deficiência são equimoses e petéquias. As equimoses se tornam mais proeminentes, desenvolvendo hiperqueratose folicular, seguida de hemorragia ocular. Sintomas proeminentes são anormalidades psicológicas, como histeria e depressão. A deficiência de vitamina C geralmente está associada com doenças específicas, sendo o escorbuto a principal delas. Este é raramente encontrado em países desenvolvidos, embora possa ocorrer em alcoolistas crônicos. A diarréia crônica aumenta a perda fecal, e a acloridria diminui a quantidade absorvida. A anemia também está geralmente associada ao escorbuto e pode ser tanto macrocítica, induzida pela deficiência de folato, como microcítica, induzida pela deficiência de ferro. As deficiências de ascorbato e de folato são associadas, já que ambos possuem as mesmas fontes alimentares, e a deficiência de ferro pode ser secundária à menor absorção deste, que seria facilitada pela presença do ascorbato. Sinais e sintomas de deficiência Embora atualmente seja rara, uma deficiência grave de ácido ascórbico causa escorbuto. Os sintomas aparecem quando os níveis séricos caem abaixo de 0,2 mg/dl. Pode-se definir escorbuto como diminuição da capacidade do organismo de sintetizar colágeno, dando lugar a uma elevada fragilidade nos capilares sanguíneos, aparecimento de derrames na pele, órgãos e músculos esqueléticos, retardo na cicatrização, perda dos dentes, astenia, sonolência, 34 anemia e dores articulares. A forma severa de escorbuto pode resultar na perda dos dentes, danos nos ossos, hemorragia interna e infecção. A deficiência de vitamina C em crianças produz anormalidades no crescimento e problemas na ossificação, hemorragias e anemias. Causas de deficiência ▪ Estresse agudo ou crônico (fisiológico, mental e/ou emocional); ▪ Síndromes de má absorção; ▪ Fumo; ▪ Poluição ambiental; ▪ Alimentação deficiente; ▪ Drogas que interferem no metabolismo; ▪ Diarreia crônica. Toxicidade Doses de 1 g têm sido consumidas sem efeito adverso conhecido, porém doses de 2 g ou mais podem causar gastroenterite ou diarréia osmótica em alguns indivíduos. Megadoses também podem afetar adversamente a disponibilidade da vitamina B12 dos alimentos, e em indivíduos que tomam doses de 1 g ou mais podem desenvolver deficiência de vitamina B12. Efeitos adversos relacionados ao consumo excessivo: distúrbios gastrointestinais, cálculos renais e absorção excessiva de ferro. Os limites superiores toleráveis (UL) estão mostrados na tabela a seguir. Tabela 5. Limite superior tolerável de ingestão de vitamina C (mg/dia) Estágio de Vida NAS/USDA* 1º ano 0 – 6 m ND** 7 – 12 m Crianças 1 – 3 400 4 - 8 650 Masculino e feminino 9 – 13 1200 35 14 – 18 1800 19 – 70 2000 >70 2000 Gravidez 14 – 18 1800 19 - 50 2000 Lactação 14 – 18 1800 19 - 50 2000 Fonte: Adaptado de ILSI BRASIL, 2012. *NAS/USDA: National Academy of Science, United States Department of Agriculture. **ND: não determinado. Fontes de vitamina C A concentração estimada de vitamina C nos alimentos é afetada por diversos fatores: estação do ano, transporte, estágio de maturação, tempo de armazenamento e modo de cocção. Produtos animais contêm pouca vitamina C, e os grãos não a possuem. As fontes usuais de ácido ascórbico são vegetais, frutas e legumes. Tabela 6. Teor de ácido ascórbico em alimentos Fonte: Hands (2000); Taco (2011). 36 VITAMINA E O termo vitamina E é usado para uma família de oito moléculas de estrutura semelhante. Sua atividade no organismo é desempenhada pelos tocoferóis (alfa, beta, gama e delta) e pelos tocotrienóis (alfa, beta, gama e delta). A vitamina E consiste em uma molécula de sinalização celular e interage com receptores de células, fatores de transcrição, afetando a expressão gênica,níveis de proteína e atividade enzimática de alvos moleculares específicos. A sua característica química mais importante é a sua propriedade antioxidante. A vitamina E é captada na forma alcoólica livre (6-hidroxil) pelo intestino sem discriminação dos isômeros individuais, não havendo diferença na cinética de absorção entre o alfa-tocoferol livre e seus ésteres acetato ou succinato após a administração oral. O alfa-tocoferol absorvido é secretado pelo intestino em quilomícrons e os remanescentes de quilomícron são capturados pelo fígado, que secreta o alfa-tocoferol em VLDL. O metabolismo do VLDL resulta na incorporação de alfa-tocoferol pelo LDL e HDL. O nível recomendado de ingestão média diária para adultos de ambos os gêneros foi aumentado pelo Food and Nutrition Board (FNB) da Academia Nacional de Ciências (6) e leva em consideração apenas a forma alfa-tocoferol (AT) da vitamina E. Tabela 7. Recomendação de ingestão de vitamina E Estágio de Vida AI (mg/dia) EAR (mg/dia) RDA (mg/dia) UL (mg/dia) 1º ano 0 – 6 m 4 7 – 12 m 5 Crianças 1 – 3 4 - 8 5 6 200 Masculino e Feminino 9 – 13 6 7 300 14 – 18 9 11 600 19 – 70 12 15 800 37 >70 12 15 1000 Gravidez 14 – 18 19 - 50 12 15 800 Lactação 14 – 18 19 - 50 16 19 800 Fonte: Adaptado de ILSI BRASIL, 2014. Função da vitamina E A principal atividade fisiológica da vitamina E é a sua ação antioxidante, sendo o alfa-tocoferol a isoforma com maior atividade. A vitamina E está presente de forma abundante nas membranas biológicas, onde protege os ácidos graxos poli-insaturados da peroxidação, contribuindo assim para a manutenção da integridade e estabilidade de estruturas celulares. O alfa- tocoferol reage com radicais peroxila e hidroxila, impedindo a propagação das reações em cadeia induzidas pelos radicais livres. Além de possuir propriedades de captura de radicais, o alfa-tocoferol pode agir como um potente redutor e um agente eletrofílico em reações químicas. O alfa-tocoferol e seus isômeros podem estar envolvidos na progressão da oxidação de LDL e na aterosclerose, não apenas por suas propriedades anti ou pró-oxidantes, mas também por sua capacidade de regular a expressão gênica. A captação dietética de vitamina E pelo intestino é inespecífica, mas seu transporte pela VLDL é regulado por proteínas citosólicas envolvidas no tráfego intracelular de tocoferóis hidrofóbicos. Todas as formas de vitamina E ativam a expressão gênica pelo receptor pregnano X. Esse receptor nuclear é conhecido por regular enzimas metabolizadoras de drogas como CYP3A4. Mecanismos alternativos envolvendo efeitos anti-inflamatórios e na sinalização intracelular têm sido o foco de investigações intensas. O alfa-tocoferol atua como regulador da expressão gênica por meio de duas vias centrais de transdução de sinais, a proteína C quinase e a fosfatidilinositol 3-quinase, que regulam inúmeros fatores de transcrição. Dessa forma, mudanças na atividade destas quinases podem influenciar uma série de eventos altamente relevantes às funções celulares. Apesar de a sua capacidade de 38 modular a transdução de sinal e expressão gênica ser descrita em vários estudos, os mecanismos moleculares ainda devem ser mais bem elucidados. Redução da vitamina E no organismo A vitamina E é amplamente encontrada na alimentação, e por isso sua deficiência é rara, sendo as principais causas representadas por anormalidades nas lipoproteínas, defeitos no gene da alfa-TTP e síndromes de má-absorção por insuficiência pancreática, doença de Crohn, doença celíaca, indivíduos desnutridos com AIDS, entre outras. Baixos níveis de vitamina E no plasma podem ocorrer em condições clínicas agudas, como traumas, sepse e processos inflamatórios. Além disso, há maior exigência desta vitamina antioxidante em pacientes queimados. A deficiência de vitamina E induz a peroxidação lipídica em diferentes condições como nefrectomia, processos inflamatórios, alcoolismo agudo. Indivíduos com deficiência de vitamina E e ataxia possuem uma neuropatia periférica caracterizada pela morte dos axônios de grande calibre nos nervos sensoriais. Pacientes com essa síndrome possuem concentração reduzida de vitamina E em seus nervos previamente ao aparecimento da função nervosa anormal. Sinais e sintomas de deficiência Embora a deficiência grave seja rara, insuficiência marginal de vitamina E é relativamente comum. A deficiência de vitamina E tornam as células do organismo mais rapidamente suscetíveis aos danos ocasionados por espécies reativas de oxigênio, particularmente as células nervosas. Sua deficiência tem sido relacionada com lesão eritrocitária e disfunção neurológica. Entre as características que definem sua deficiência, pode-se incluir infertilidade, problemas menstruais, alterações neuromusculares, pobre coordenação, movimento involuntário dos olhos, vida curta dos glóbulos vermelhos com ruptura das células vermelhas do sangue, levando à anemia hemolítica, abortos espontâneos, degeneração uterina, fadigam insônia, taquicardia, trombose, cãibras, envelhecimento e dificuldade de cicatrização. 39 Causas de deficiência Existem algumas condições que podem facilitar a insuficiência da vitamina E no organismo: ▪ Síndromes de má-absorção das gorduras, tais como doença celíaca, fibrose cística, síndrome pós-gastrectomia e cirurgia bariátrica; ▪ Nascimento prematuro ▪ Paciente em hemodiálise ▪ Desordens sanguíneas hereditárias; ▪ Desnutrição grave; ▪ Defeitos genéticos que afetam o alfa-TTP; ▪ Traumas, sepse e processos inflamatórios. Toxicidade A toxicidade por suplementação de vitamina E é baixa, mesmo em níveis relativamente altos. Entretanto, deve-se ter cuidado com megadoses por longos períodos. Alguns sintomas sugerem que o excesso da vitamina E interfere com a absorção e/ou utilização de outras vitaminas lipossolúveis, já que estes sintomas são os mesmos que aparecem quando há carência de vitaminas A, D e K, como por exemplo. Fontes de vitamina E A vitamina E é um nutriente essencial e, portanto, deve ser obtido por alimentos e suplementos. Os alimentos ricos em ácido graxo poli-insaturado possuem boas quantidades de vitamina E. As melhores fontes são óleos vegetais ricos em ácido graxo poli-insaturado, sementes, oleaginosas e cereais integrais. Boas fontes também são aspargos, abacate, frutas vermelhas, vegetais de folhas verdes e tomate. 40 ZINCO Zinco é um mineral essencial para as células e exerce funções estruturais, enzimáticas e regulatórias. É encontrado no organismo humano em maior que os outros elementos-traço, só perdendo para o ferro. são encontrados de 1,3 a 2,5 g de zinco no organismo de um adulto, com as maiores concentrações no fígado, pâncreas, rins, ossos e músculos voluntários, além de ser encontrado também em várias partes dos olhos, glândula prostática, espermatozoides, pele, cabelo, unhas e secreção das glândulas endócrinas. É encontrado na estrutura cristalina do osso e nas enzimas ósseas. O zinco é constituinte de muitas enzimas (aproximadamente 300 enzimas), participando de inúmeros reações enzimáticas. Nas enzimas, o zinco pode ter função catalítica ou estrutural. Também é necessário para a ação de vários hormônios. A concentração do hormônio de crescimento (IGF-I) diminui na deficiência de zinco. Função do Zinco Dentre as várias funções do zinco em nosso metabolismo, podemos citar: ▪ Participa de reações que envolvem a síntese e degradação de carboidratos, lipídios, proteínas e ácidos nucleicos. ▪ É um mineral necessário para ação de vários hormônios entre eles a insulina, o hormônio de crescimento (GH), hormônios sexuais, hormônios da tireoide, do Timo, da supra-renal, testículos e para modulação de prolactina. ▪ O zinco está relacionado com a interação entreos hormônios e seus receptores e com melhoras no estímulo pós-receptor. ▪ A insulina pode se ligar ao zinco melhorando a solubilidade deste hormônio nas células beta do pâncreas, e ainda, esse mineral pode aumentar a capacidade de ligação da insulina ao seu receptor e pós- receptor. 41 ▪ A deficiência de zinco danifica células da epiderme, podendo promover lesões cutâneas semelhantes àquelas observadas em casos de acrodermatite enteropática ou de deficiência grave do mineral. ▪ A função de leucócitos polimorfonucleares, de células natural killer e do sistema imunológico inato complemento, também são prejudicados na deficiência de zinco. ▪ Seres humanos e animais com deficiência de zinco, mesmo que leve, também podem apresentar linfopenia em tecidos linfoides centrais e periféricos. ▪ Devido ao envolvimento do zinco em vários eventos celulares, desde a expressão de genes até a estabilidade de membranas, podem ocorrer diversos defeitos metabólicos e estruturais em linfócitos remanescentes de hospedeiros deficientes em zinco. ▪ O estado nutricional relativo ao zinco também pode afetar o transporte de anticorpos da mãe para o feto durante o último trimestre de gestação. Essa característica tem grande impacto sobre a imunidade do recém- nascido, uma vez que os anticorpos maternos têm especificidade em reconhecer diversos antígenos e também influenciam a qualidade do sistema imunológico que será formado. ▪ O timo é o órgão do sistema imune responsável pela produção de linfócitos T e pode ser afetado pela deficiência de zinco, a qual provoca reduções significativas em seu tamanho. As células epiteliais do timo também secretam o hormônio timulina, o qual promove a maturação dos linfócitos T. Sua atividade é dependente das concentrações séricas de zinco. Em órgãos periféricos como baço, linfonodos e sangue, a quantidade de linfócitos T também é reduzida. ▪ Quando há alterações no conteúdo corporal de zinco ocorre um desenvolvimento e função prejudicadas de linfócitos B na medula óssea e alterações nas funções de monócitos e macrófagos. 42 ▪ O zinco também exerce papel fundamental na produção ou atividade biológica de diversas interleucinas, as quais, por sua vez, influenciam o desenvolvimento e as funções de linfócitos T e B, macrófagos e células natural killer. As funções de células T helper Th1 e Th2 também são afetadas por níveis reduzidos de zinco, promovendo alterações na resistência a infecções. ▪ O zinco tem papel essencial no crescimento e proliferação celular, uma vez que sua deficiência está relacionada à redução de crescimento em diversos organismos. ▪ O mineral está envolvido em todas as etapas de transdução da sinalização celular, tanto como um fator estrutural como regulatório. ▪ Também está envolvido no reconhecimento de sinais extracelulares, no metabolismo de segundos mensageiros, na fosforilação de proteínas e na desfosforilação e atividade de fatores de transcrição. ▪ O zinco tem importância fundamental no funcionamento do sistema reprodutivo de animais e de seres humanos: o Em mulheres, há necessidade do mineral para que ocorra a síntese e a secreção adequadas dos hormônios luteinizante, folículo estimulante e prolactina. No caso de deficiência, pode ocorrer o desenvolvimento ovariano anormal e alterações no período da ovulação. Quando a deficiência ocorre durante a gestação, podem ocorrer abortos frequentes, períodos gestacionais prolongados, teratogenicidade, nascimento de fetos com baixo peso ou mortos, dificuldades no parto, pré-eclâmpsia e toxemia gravídica. o Em homens, suas principais funções consistem na diferenciação das gônadas, no crescimento dos testículos, na síntese e maturação dos espermatozoides, influenciando, portanto, a manutenção da fertilidade. 43 ▪ A relação existente entre o zinco e os hormônios sexuais femininos e masculinos baseia-se no fato de que todos os receptores nucleares de esteroides pertencem à família dedos de zinco. ▪ Em casos de deficiência, ocorrem também alterações na atividade da enzima conversora de angiotensina (ECA), o que, por sua vez, provoca redução da produção de testosterona, com subsequente inibição da espermatogênese. ▪ Na pele, o zinco está localizado intracelularmente e também na matriz extracelular. Apesar de seu conteúdo ser maior na epiderme, o mineral também está presente na derme. Sua ação consiste em estabilizar as membranas das células, além de ter influência nos processos de mitose, migração e maturação. ▪ O epitélio sensorial da mucosa nasal e da língua também apresenta quantidades importantes de zinco, refletindo a importância do mineral na percepção de gosto e aroma dos alimentos. ▪ A participação essencial do zinco no restabelecimento de ferimentos se dá devido a sua presença em metaloenzimas, como fosfatase alcalina, DNA e RNA polimerases e metaloproteinases de matriz. Qualquer alteração na expressão de fatores de transcrição de RNA mensageiros que codificam para fatores de crescimento e que sejam dependentes de zinco prejudica o restabelecimento de ferimentos. ▪ O zinco também tem ação contra a flora microbiana tipicamente encontrada em ferimentos, além de auxiliar o sistema de defesa contra infecções. Entretanto, são necessários mais estudos que avaliem sua ação na cicatrização de ferimentos, tanto em indivíduos que apresentam deficiência do mineral, como naqueles com estado nutricional adequado. Redução de Zinco no organismo Em casos de deficiência leve, o diagnóstico é de difícil realização, porém, podem ocorrer alterações neurossensitivas, oligospermia, concentrações 44 reduzidas de testosterona sérica, hiperamonemia, redução de massa magra corporal, atividade reduzida de timulina sérica, de interleucina 2 e de células natural killer, bem como alterações em subpopulações de células T. Sintomas como crescimento reduzido, hipogonadismo, alterações cutâneas, redução de apetite, letargia mental, adaptação anormal ao escuro e cicatrização reduzida de ferimentos são observados em casos de deficiência moderada. Sinais e sintomas de deficiência Condições clínicas associadas com deficiência de zinco: ▪ Distúrbios de sono e de comportamento; ▪ Infecções frequentes e/ou severas; ▪ Dificuldade de cicatrização; ▪ Resistência celular à insulina; ▪ Doenças psiquiátricas; ▪ Doença inflamatória do intestino; ▪ Intolerância à glicose; ▪ Síndrome de má absorção; ▪ Diminuição do apetite/ anorexia; ▪ Crescimento retardado/ nanismo; ▪ Exaustão adrenal; ▪ Hipertireoidismo; ▪ Hipertrofia prostática; ▪ Letargia; ▪ Perda de paladar e olfato; ▪ Maturação sexual retardada; ▪ Decréscimo da visão noturna; ▪ Impotência/ infertilidade; 45 ▪ Desordens dermatológicas; ▪ Alteração da menstruação; ▪ Caspas e queda de cabelo; ▪ Abuso de álcool; ▪ Doença do tecido cognitivo; ▪ Mancha branca nas unhas; ▪ Artrite reumatóide; ▪ Feridas na boca, língua branca e mau hálito; ▪ Osteoporose. Causas de deficiência A deficiência de zinco pode ser causada por decréscimos na ingestão absorção e utilização e aumento da excreção do mesmo. Alguns fatores envolvidos com decréscimo da ingestão de zinco: ▪ anorexia nervosa; ▪ dietas da moda; ▪ deficiência proteica; ▪ dieta vegetariana; ▪ cirrose alcoólica; ▪ envelhecimento; ▪ infecções e/ou inflamações agudas; ▪ alcoolismo; ▪ perda de peso aumentada (pó-trauma, queimadura) aumentando a necessidade de zinco. Algumas condições associadas com decréscimo de absorção de zinco: ▪ Diabetes; ▪ Alta razão dietética Ca/Zn; 46 ▪ Alta razão dietética Fe/Zn e ácido fólico/Zn; ▪ Alcoolismo; ▪ Medicamentos: antiácidos, antibióticos, inibidores de bomba de prótons; ▪ Agentes quelantes; ▪ Acrodermatite enteropatia; ▪ Diálise; ▪ Acloridria/ hipocloridria; ▪ Doenças hepáticas;▪ Doença celíaca; ▪ Doença inflamatória do intestino; ▪ Diarreia; ▪ Síndrome de má absorção; ▪ Ressecção intestinal; ▪ Cirurgia bariátrica; ▪ Perda sanguínea crônica; ▪ Síndrome do intestino curto; ▪ Insuficiência pancreática. Toxicidade O zinco alimentar não apresenta efeitos tóxicos e sua ingestão acima dos limites estabelecidos não é comum, à exceção de indivíduos que consomem alguns alimentos de origem marinha em grandes quantidades. De acordo com a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura - FAO/WHO (2001), em casos de ingestão excessiva (mais de 4 g) de suplementos, podem ocorrer sintomas como náuseas, vômitos, diarreia, febre e letargia. A ingestão elevada por longos períodos de tempo pode interferir com o metabolismo de outros nutrientes, como é o caso do cobre. 47 Quantidades não muito superiores aos valores de UL, que foram estabelecidos em 45 mg/dia, podem promover alterações nos níveis sanguíneos de cobre. Ingestões dez vezes superiores ao valor de UL são associadas a reduções importantes nos níveis de cobre, de ceruloplasmina e, por consequência, com a anemia, visto que a ceruloplasmina é imprescindível à absorção de ferro. Outros parâmetros afetados pelo consumo excessivo de suplementos de zinco são o estado imunológico e os níveis de lipídeos séricos, ambos também relacionados ao metabolismo do cobre. Fontes de Zinco Grande quantidade de zinco é encontrada na ostra, porém, outras boas fontes são frutos do mar, peixes, fígado e carne vermelha. Boas concentrações de zinco também são encontradas em aves, cereais integrais, leguminosas, levedo de cerveja, milho e alguns vegetais. SELÊNIO Atualmente são conhecidas cerca de 30 selenoproteínas. Destas, aproximadamente metade foi isolada e tem funções definidas para os humanos. Depois de ficar sujeito a descobertas contraditórias durante décadas, ficou conhecida a sua importância vital no metabolismo humano, oferecendo proteção contra diversos tipos de câncer e, na verdade contra um amplo espectro de doenças. atualmente, as principais funções atribuídas ao selênio incluem a capacidade antioxidante, a participação na conversão de T4 (tiroxina) em T3 (triiodotironina), a proteção contra a ação nociva de metais pesados e xenobióticos, a redução do risco de doenças crônicas não transmissíveis e o aumento da resistência do sistema imunológico. As recomendações de ingestão de selênio em diferentes estágios de vida de acordo com a EAR (estimated average requirement/necessidade média 48 estimada) e RDA (recommended dietary allowance /ingestão dietética recomendada) são: Tabela 8. Recomendação de ingestão de Selênio. Fonte: IOM, 2000 apud ILSI Brasil, 2009. AI = ingestão adequada; EAR = necessidade média estimada; RDA= ingestão dietética recomendada; UL= limite máximo tolerado de ingestão diária. Função do Selênio Na literatura, as principais funções atribuídas ao selênio incluem a capacidade antioxidante, a participação na conversão do T4 (tiroxina) em T3 (triiodotironina); a proteção contra a ação nociva de metais pesados e xenobióticos, a redução do risco de doenças crônicas não transmissíveis e o aumento da resistência do sistema imunológico. Redução de Selênio no organismo Em seres humanos, a ingestão de níveis muito baixos de selênio pode resultar em duas enfermidades principais. A doença de Keshan, uma cardiomiopatia que afeta crianças e mulheres jovens, é encontrada 49 principalmente na China, em regiões com solos pobres em selênio. A forma aguda é caracterizada por insuficiência súbita da função cardíaca e, na fase crônica, por hipertrofia de moderada a grave do coração, promovendo graus diferentes de insuficiência cardíaca. As características histopatológicas incluem necrose multifocal, substituição fibrosa do miocárdio e miocitólise. A doença de Kashin-Beck, também decorrente de baixos níveis de selênio no organismo, é uma osteoartrite endêmica que ocorre durante a pré-adolescência ou adolescência. Seu aspecto patológico mais marcante é a degeneração necrótica dos condrócitos, que pode promover nanismo e deformação das articulações (Burk & Levander, 2003). Indivíduos com alterações ou mau funcionamento do trato digestório podem apresentar deficiência de selênio. A má absorção ou o aumento das perdas intestinais podem produzir estados de deficiência marginal (Navarro-Alarcón & López-Martínez, 2000). Outros grupos mais suscetíveis à deficiência são crianças e idosos. Sinais e sintomas de deficiência Sinais e sintomas Associados com a carência de selênio: ▪ Aumento do LDL oxidativo; ▪ Diminuição do HDL; ▪ Diminuição da atividade do sistema imunológico; ▪ Acidente vascular cerebral; ▪ Piora catarata; ▪ Necrose hepática; ▪ Crescimento retardado; ▪ Pelagra infantil; ▪ Níveis menores de coenzima Q10 nos tecidos; ▪ Propensão a ter toxicidade de Hg e outros metais tóxicos; ▪ Unhas opacas, mancha branca nas unhas; 50 ▪ Dores musculares, fadiga e fraqueza muscular. Causas de deficiência A carência de selênio pode ser agravada com níveis baixos de vitamina E. Algumas doenças são relacionadas com deficiência de selênio: ▪ Câncer; ▪ Dermatite; ▪ Doença degenerativa; ▪ Hipertensão; ▪ Depressão; ▪ Esquizofrenia; ▪ Doenças cardíacas; ▪ Estresse oxidativo elevado; ▪ Diminuição da fertilidade; ▪ Alterações da tireóide. Toxicidade A toxicidade do selênio é dependente de diversos fatores, entre eles, do composto e do método de administração utilizados, do tempo de exposição, do estado fisiológico e da idade do indivíduo, e da interação com outros compostos. Entretanto, a toxicidade por formas orgânicas ou inorgânicas de selênio resulta em características clínicas semelhantes, porém, com velocidade de início e relação com as concentrações teciduais do mineral diferentes. Além da fragilidade e perda de unhas e de cabelos, a intoxicação por selênio também pode causar alterações gastrintestinais, erupções cutâneas, odor de alho na respiração, fadiga, irritabilidade e anormalidades do sistema nervoso. Também podem ocorrer alterações no funcionamento do sistema endócrino, na síntese de hormônios da tireóide e de hormônios relacionados ao crescimento. Alguns pesquisadores sugerem que os sintomas mais tóxicos ocorrem com ingestões que variam de aproximadamente 3 a 7 mg/dia, e os 51 sintomas moderados, com cerca de 1,3 mg/dia. Esse último valor relaciona-se a uma concentração de selênio no sangue de 1.350 µg/L (IOM, 2000, Navarro- Alarcon & CabreraVique, 2008 apud ILSI Brasil, 2009). Ambas as formas orgânica e inorgânica são igualmente tóxicas em casos de ingestão excessiva crônica. A selenometionina, quando consumida em doses elevadas, promove aumento importante nas concentrações teciduais de selênio, ao contrário das formas inorgânicas. Entretanto, os precursores inorgânicos são mais tóxicos, sendo que doses muito menores podem causar intoxicação (IOM, 2000 apud ILSI Brasil, 2009). Fontes de Selênio As melhores fontes de selênio são: castanha do Pará, atum, arenque, Miúdos, levedo de cerveja, gérmen de trigo, farelo, brócolis, couve, cebola, alho, repolho, rabanete e tomate. o selênio pode ser perdido através de lavagem, cozimento e armazenamento. Além de todos os nutrientes citados, com informações obtidas em livros e publicações governamentais, a ANVISA (2016) determinou quais são os nutrientes e os não nutrientes que possuem alegação de propriedades funcionais e/ou de saúde, como pode observar na tabela a seguir. Tabela 9. Nutrientes e não nutrientes com alegações de propriedades funcionais e/ou de saúde. NUTRIENTES E NÃO NUTRIENTES ALEGAÇÕES Ácidos graxos Ômega 3 Auxilia na manutenção de níveis saudáveis de triglicerídeos, quando associado a hábitos alimentares saudáveis. Carotenóides Licopeno,
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