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Oficinas e Estudos Temáticos: Infância e Adolescência Material Teórico Responsável pelo Conteúdo: Profa. Dra. Maria Raimunda Chagas Vargas Rodriguez Revisão Textual: Prof. Ms. Claudio Brites Crianças, Adolescentes e a Violência 5 • Conceituação de Violência – O que é? • Violência contra criança · Iremos estudar o fenômeno da violência e suas diferentes manifestações. O foco é mostrar o perfil multifacetado da violência e como ela atinge crianças e adolescentes atualmente. Durante esta unidade, iremos estudar o fenômeno da violência e suas diferentes manifestações. O foco é mostrar o perfil multifacetado da violência e como ela atinge crianças e adolescentes atualmente. • Faça a leitura do conteúdo com atenção: • Realize as atividades propostas para fixação do aprendizado; • Participe do Fórum da disciplina; • Tente acessar o material complementar direcionado pelo tutor; • Em caso de dúvidas, contate a equipe do campus virtual. Até a próxima e bons estudos! Crianças, Adolescentes e a Violência 6 Unidade: Crianças, Adolescentes e a Violência Contextualização Presenciamos diariamente casos de violência, seja qual for sua manifestação. Entender esse fenômeno tornou- se primordial para que possamos criar caminhos para a prevenção de ações violentas. A violência não ocorre apenas fisicamente como está impregnado no senso comum, ela está presente na falta de afeto, na ausência de cuidados básicos, enfim, na negligencia de direitos humanos para a sobrevivência digna. A palavra violência, em termos etimológicos, “vem do latim violentia, que significa violência, caráter violento ou bravio, força. O verbo violare significa tratar com violência, profanar, transgredir”. (MICHAUD, 1989, p. 08). Podemos então ressaltar que a violência refere-se ao emprego da força, vigor, potência em caráter essencial de uma coisa, pessoa ou objeto. Dessa forma, nesta Unidade é importante que você compreenda os tipos de violência contra crianças e adolescentes, como a violência física, psicológica e sexual, suas implicações no desenvolvimento individual e no cenário social. Fonte: iStock/Getty Images 7 Conceituação de Violência – O que é? A violência surge em nosso contexto atual como tema de extrema relevância. Diariamente nos deparamos com notícias sobre atos violentos e também a vivenciamos em nosso cotidiano, pois ela se apresenta como um fenômeno multifacetado e que atinge os indivíduos independentemente de gênero, situação socioeconômica, etc. Glossário Segundo o dicionário da língua portuguesa, a palavra violência tem o seguinte significado: “1. Qualidade de violento 2. Ato violento 3. Ato de Violentar”. Assim sendo, podemos entender que a violência é um ato contrário ao direito, uma ação que gera o desrespeito e constrangimento do outro por meio da força. A palavra violência, em termos etimológicos, “vem do latim violentia, que significa violência, caráter violento ou bravio, força. O verbo violare significa tratar com violência, profanar, transgredir”. (MICHAUD, 1989, p. 8. Grifos do autor). Podemos então ressaltar que a violência refere-se ao emprego da força, vigor, potência em caráter essencial de uma coisa, pessoa ou objeto. Segundo Monteiro, que se baseou em Minayo e Souza (1997, p. 514), a violência [...] pode ser entendida como o evento representado por ações realizadas por indivíduos, grupos, classes, nações, que ocasionam danos físicos, emocionais, morais e/ou espirituais a si próprio ou a outros (MONTEIRO, 2010, p. 4 apud MINAYO; SOUZA, 1997). Nesse sentido, a violência teria suas raízes principalmente fundadas no sistema econômico excludente que reverbera nas relações sociais trazendo à tona suas consequências. Saiba Mais Tese de doutorado: A imagem da violência urbana no documentário cinematográfico brasileiro na contemporaneidade. PUC - Rio Grande do Sul. Autora: Isabel Padilha Guimarães https://goo.gl/MeP1Fn 8 Unidade: Crianças, Adolescentes e a Violência Violência contra criança Os tipos de Violência Para estudar os tipos de violência, principalmente em relação a crianças e adolescentes, devemos compreender que existe uma violência estrutural presente principalmente em sociedades desiguais como a nossa. Em seus estudos, Viviane Guerra (2007, p. 35) descreve que a violência estrutural não é a única forma de “fabricar crianças-vítimas”, pois inerente às relações interpessoais está a violência adulto-criança. Como estudamos em unidades anteriores sobre a história da infância e da adolescência, percebemos que a história dos infantes é marcada pela falta de visibilidade e de direitos sociais, uma vez que as crianças não eram consideradas como indivíduos dotados de consciência e sentimentos. A relação de poder do adulto sobre a criança existe desde então, caracterizando o que é chamado de “relações hierárquicas e adultocêntricas” (GUERRA, 2007, p. 35) Nesse sentido, a violência interpessoal gerada por essas relações de poder de adultos sobre crianças é chamada de vitimização, que é uma forma de abuso, seja de caráter físico ou psicológico, que causa danos à criança por ação dos adultos. Diálogo com o Autor Enquanto violência interpessoal, a vitimização é uma forma de aprisionar a vontade e o desejo da criança, de submetê-la, portanto, ao poder do adulto, a fi m de coagi- la a satisfazer os interesses, as expectativas ou as paixões deste (GUERRA, 2007, p. 35). Fonte: iStock/Getty Images A violência interpessoal gera sérias consequências às suas vítimas, que se tornam reféns do medo, pois existe um pacto de silêncio imposto pelo adulto que comete os abusos. Às vezes, as vítimas dessa violência vivem anos presas a essa situação, como descreve a autora , a vítima tem sua liberdade cerceada passando a viver em um estado de sítio, que só pode ser rompido quando a vítima denuncia, ou seja, torna pública a violência sofrida Porém, denunciar casos de violência interpessoal não é tarefa fácil, pois costuma ser difícil de identificar esse tipo de violência que, muitas vezes, acontece dentro do lar, conhecida como violência doméstica, o que dificulta sua prevenção e combate. Na situação de abuso, as crianças que são vítimas da violência tornam-se objetos de maus-tratos que podem ocorrer de diversas formas. Em seu estudo sobre crianças vitimizadas, Guerra (2007) nos mostra que, com base na literatura estudada sobre os tipos de violência, existem três formas de abuso-vitimização, que são: a física, psicológica e a sexual. 9 Abuso-vitimização física Esse tipo de violência inclui o abuso físico e a negligência. O abuso físico inclui os castigos corporais ou agressões físicas, considerados como maus-tratos. Segundo Viviane Guerra , existem duas modalidades de castigos corporais que são considerados maus-tratos: os castigos cruéis e menos comuns e os que geram ferimentos. (GUERRA, 2007, p. 36). No caso dos castigos cruéis, temos castigos extremos que violentam a pouca compreensão que as crianças possuem sobre a violência – por exemplo, o cárcere privado. Já os castigos que geram ferimentos são caracterizados pela ação de bater descontroladamente em alguém, utilizando-se ou não de instrumentos que possam machucar. Fonte: iStock/Getty Images É importante salientar que para entendermos o que gera as ações violentas devemos considerar o contexto em que estão inseridas. Existem quatro elementos que devem ser considerados, como ressalta Guerra (GUERRA, 2007, p. 36). O problema fundamental em termos de definição é que o significado de muitas ações é determinado pelo ambiente em que ocorrem, o que inclui: 1. A intenção do agente; 2. O efeito do ato sobre quem o recebeu; 3. O julgamento de valor de um observador sobre o ato; 4. A fonte do critério para o julgamento. Atenção Temos quatro elementos: intencionalidade, efeito, avaliação e critérios. Por fim, caracterizaremos a negligência. A negligência, em linhas gerais, seria a omissão de cuidados às necessidades físicas e emocionaisde uma criança. Quando não se dá a devida atenção à alimentação ou ao que a criança veste, presenciamos casos de negligência, porém há casos em que as condições de vida de uma determinada família foge ao controle, por exemplo, em casos de vulnerabilidade socioeconômica. Lixo: crianças catam restos em uma vida sem escolhas https://goo.gl/7Z7fqw 10 Unidade: Crianças, Adolescentes e a Violência Diálogo com o Autor A negligência se confi gura quando os pais (ou responsáveis) falham em termos de alimentar, de vestir adequadamente seus fi lhos e quando tal falha não é o resultado das condições de vida além do seu controle. Ela se registra, por exemplo, quando os pais falham em termos de monitorar adequadamente o comportamento de seu fi lho, permitindo-lhe que brinque em rua de muito tráfego ou que caia do alto de uma janela na qual não foram postas grades de proteção (apesar de os pais terem recurso para tanto) (GUERRA, 2007, p. 41). Abuso-vitimização psicológica A violência psicológica ocorre quando um adulto se dirige a crianças ou adolescentes com palavras agressivas e depreciativas que geram grande sofrimento mental às vítimas. A violência psicológica pode causar sentimentos de ansiedade, medo, vergonha, isolamento e insegurança que podem prejudicar seriamente o desenvolvimento integral de crianças e adolescentes na vida adulta. De acordo com Guerra (2007), existem duas formas básicas de abuso-vitimização psicológica, a de negligência afetiva e a de rejeição afetiva. A negligência afetiva é a falta de interesse, de calor humano para as necessidades afetivas que as crianças manifestam. A rejeição afetiva é caracterizada por manifestações agressivas e depreciativas contra as crianças. Dificilmente voltaremos a esquecer-nos do seu olhar assustado e dos seus curtos braços a renderem-se no ar confundindo uma câmara fotográfica com uma arma de fogo. “A imagem mais triste do dia”, sentenciaram as redes sociais, onde a fotografia rapidamente haveria de tornar-se viral. Mas na Síria, onde uma guerra civil encetada há quatro anos já matou 215 mil pessoas (mais de dez mil crianças) e fez sete milhões de refugiados, nada parece estar à beira de melhorar. (Jornal de Notícias. Disponível em: http://www.jn.pt/PaginaInicial/Mundo/Interior.aspx?content_id=4485141). Violência doméstica contra crianças e adolescentes. Por Maria Amélia Azevedo, coordenadora do Laboratório de Estudos da Criança (LACRI/IPUSP), e Viviane N. de Azevedo Guerra, pesquisadora do LACRI/IPUSP. Acesse: http://www.unicef.org/brazil/pt/Cap_01.pdf Abuso-vitimização sexual A violência sexual é entendida como [...] todo ato ou jogo sexual, relação heterossexual ou homossexual, entre um ou mais adultos e uma criança menor de 18 anos, tendo por finalidade estimular sexualmente a criança ou utilizá-la para obter uma estimulação sexual sobre sua pessoa ou de outra pessoa (GUERRA apud MYRE, 1986). 11 Campanha Nacional pelo fim da violência sexual contra crianças e adolescentes. https://www.youtube.com/watch?v=PSBdz_OH5jk Essa conceituação é genérica e pode trazer em suas raízes inúmeras formas de manifestação desse tipo de violência. Das formas que conhecemos, podemos citar o incesto e a exploração sexual de crianças e adolescentes. O incesto é definido como atividades de caráter sexual que implica crianças e adolescentes de 0 a 18 anos e um adulto que tenha laços consanguíneos (pais, tios, primos, etc.) de afinidade (amigos, conhecidos, etc.) ou responsabilidade (pais adotivos, padrastos, etc.). Essa definição de incesto amplia a visão de que esse fenômeno se limita apenas a indivíduos maduros sexualmente. Protocolo de Atenção Integral a Crianças e Adolescentes Vítimas de Violência - Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios. Acesse: http://goo.gl/VOSCBF A exploração sexual de crianças e adolescentes está intrinsecamente conectada ao comércio sexual, à pornografia e prostituição infanto-juvenil de crianças e adolescentes menores de 18 anos. Essa prática é crime, como especifica os artigos 240 e 241 do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). Entende-se como atos sexuais envolvidos na violência sexual : “o contato físico (abrangendo coito ou carícias apenas), sem contato físico (incluindo exibicionismo, voyeurismo, etc.), com força física (incluindo agressões e até assassinato), e sem o emprego de força física”(GUERRA, 2007, p. 42). Assista: Anjos do Sol Leia mais sobre o filme em: https://goo.gl/U73RXC Filme disponível em: https://goo.gl/DuXchs Por fim, Guerra (2007) nos mostra o que os três tipos de abuso-vitimização possuem em comum, são as seguintes características: 1. O fenômeno de abuso-vitimização ocorre independente do nosso sistema de estratificação social e regime político, assim ele não deve ser apenas conectado à pobreza; ninguém está imune a sua manifestação; 2. O fenômeno não se restringe ao lar, mas tem nele loco privilegiado para ocorrer; 3. A reprodução desse fenômeno pode ocorrer através do ciclo de violência (representado na figura a seguir); 12 Unidade: Crianças, Adolescentes e a Violência 4. Embora o fenômeno vitimize meninos também, na maioria dos casos são as mulheres/crianças que sofrem com a violência, além dos agentes agressores, também em sua maioria, serem homens. Fonte: GUERRA, 2007, p. 4 Estudar o fenômeno da violência torna-se fundamental atualmente, pois só assim poderemos chegar às formas e possibilidades de prevenção e combate. Segundo notícias da Unicef1 Brasil, entre 2003 e 2008 foram registrados, em média, cinco casos de exploração sexual por dia2 . Quando crianças e adolescentes tornam-se vítimas da violência, presenciamos a negligência com relação aos direitos humanos fundamentais e daqueles enfatizados pelo Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). Todas as crianças e adolescentes têm direito a viver com dignidade e respeito para que alcancem o desenvolvimento físico, mental, moral, espiritual e social (Art.4° ECA). Zelar pelo desenvolvimento de indivíduos que serão os futuros adultos ainda não está na pauta principal do nosso país, que ainda tenta remediar as consequências da violência com ações paliativas. Ainda não existem ações para prevenção e detecção desse fenômeno, ainda estamos presos às raízes da escravidão que marcou nossa cultura, ainda em busca de oferecer liberdade ao desenvolvimento humano sadio de crianças e adolescentes, embora nem adultos temos conseguido cuidar com o respeito necessário. 1 Fundo das Nações Unidas para a Infância 2 Notícia disponível no site: http://www.unicef.org/brazil/pt/media_13759.htm Abuso em familia Físico/Sexual Exploração de crianças Maturação para tornar-se um agressor/explorador Epsódios de desaparecimento de crianças Fonte: Thinkstock/Getty Images 13 Material Complementar Livros: GUERRA, Viviane N.A; Azevedo, Maria Amélia (orgs). Crianças Vitimizadas: a síndrome do pequeno poder. 2 ed.São Paulo: Iglu, 2007. MONTEIRO, Fernanda O. Plantão Social: espaço privilegiado para identificação/ notificação de violência contra crianças e adolescentes. Serv. Soc. Soc. N. 103. São Paulo, jul/set, 2010. Legislação: BRASIL. Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), Lei nº. 8.069 de 13 de julho de 1990. http://www.mds.org.br BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. https://goo.gl/HwJ1Q _________. Carta de Constituição de estratégias em defesa da proteção integral dos Direitos da Criança e do Adolescente. https://goo.gl/fUpf9d _________. Decreto-lei n.°2.848, de 7 de dezembro de 1940. Código penal. https://goo.gl/Ei0Kx ________. Lei 8.072 de 25 de julho de 1990. Dispõe sobre os crimes hediondos, nos termos do art. 5º, inciso XLIII, da Constituição Federal, e determina outras providências. https://goo.gl/nswkHJ ________. Lei n.°8.069, de 13 de julho de 1990. Estatuto da criança e do adolescente. https://goo.gl/rXKd _________. Lei n.º 12.015 de 07 de agosto de 2009. Altera o Título VIda Parte Especial do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940 - Código Penal, e o art. 1º da Lei nº 8.072, de 25 de julho de 1990, que dispõe sobre os crimes hediondos, nos termos do inciso XLIII do art. 5º da Constituição Federal e revoga a Lei nº 2.252, de 1º de julho de 1954, que trata de corrupção de menores. https://goo.gl/YUK7 14 Unidade: Crianças, Adolescentes e a Violência Referências BRASIL. Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), Lei nº. 8.069 de 13 de julho de 1990. www.mds.org.br GUERRA, Viviane N.A; Azevedo, Maria Amélia (org.). Crianças Vitimizadas: a síndrome do pequeno poder. 2 ed. São Paulo: Iglu, 2007. ______. Violência doméstica contra crianças e adolescentes. Disponível em: http://www. unicef.org/brazil/pt/Cap_01.pdf MONTEIRO, Fernanda O. Plantão Social: espaço privilegiado para identificação/notificação de violência contra crianças e adolescentes. Serv. Soc. Soc., n. 103, São Paulo, jul./set., 2010. (Versão impressa). PROTOCOLO DE ATENDIMENTO DE CRIANÇA E ADOLESCENTES VITIMAS DE VIOLÊNCIA SEXUAL. Disponível: www.tjdft.jus.br/.../ ProtocoloAtenIntegralCriancasAdolecentesVitimasViolencia sexual. 15 Anotações
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