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1 Gestão do Fator Humano Unidade I Prof. Renato Berton 2 Conhecendo o professor Renato Berton ● Mestre em Administração de Empresas – UNIP. ● Pós-graduado em Gestão Estratégica de Negócios – USP. ● Atua como consultor de educação corporativa há dez anos. ● Especialista em Andragogia e Metodologias Participativas. ● Coordenador da pós-graduação da Universidade Paulista UNIP dos cursos de MBA em Gestão de Vendas, MBA em Estratégias Comerciais, MBA em Empreendedorismo e Inovação e MBA em Relacionamento Interpessoal. ● Principais treinamentos comportamentais: Negociação e Influência, Inteligência Emocional, Relacionamento Interpessoal, Team Building, Gestão de Mudanças, Networking, Foco no Cliente. ● Atuou por quinze anos em departamentos de marketing e vendas (Nestlé e Sanofi). ● Foi apresentador da Rádio Mundial 95,7 FM. 3 INTRODUÇÃO As pessoas sempre foram fundamentais no ambiente empresarial, mas hoje desempenham um papel central para a obtenção de vantagens competitivas, principalmente nos setores baseados no conhecimento. Não há como atingir e assegurar uma vantagem competitiva para a organização sem a ação determinada das pessoas. São elas, as pessoas, que produzem, vendem, criam, decidem, lideram, planejam, assumem desafios e conduzem o negócio. Entretanto, em geral, nos ambientes organizacionais, também são encontradas aquelas que resistem às mudanças ou às inovações, que não têm interesse ou motivação, que adotam posturas gerenciais que travam o crescimento. Enfim, são as pessoas que determinam o sucesso ou o insucesso do empreendimento. No cenário contemporâneo, lidar com esse quadro diversificado e extremamente complexo não é um privilégio exclusivo dos profissionais de Gestão de Pessoas. Esse papel, em tempos globalizados, passou a ser compartilhado com cada um dos gestores que fazem parte da organização. Portanto, não seria fora de propósito afirmar que cada gestor é, essencialmente, um gestor de pessoas. Ao titular do setor de Gestão de Pessoas, ou recursos humanos, fica reservada a responsabilidade de interagir estrategicamente em todos os níveis da organização, com a finalidade de gerar condições e clima favorável para que as pessoas possam efetivamente colocar em prática suas competências a serviço do sucesso das organizações. Dada a relevância do papel dos gestores de pessoas, este estudo será iniciado resgatando-se o desenvolvimento histórico dessa atividade. 4 1. Gestão de pessoas: evolução histórica É certo que as relações do trabalho tiveram origem na Revolução Industrial, em meados do século XVIII, na Inglaterra. A conclusão é óbvia, uma vez que as ondas migratórias provenientes do campo para os primeiros centros industriais requeriam algumas regras básicas, algo como identificar a característica física (força), fator essencial para os trabalhos braçais nas minas de carvão. Naturalmente não havia leis que protegessem os trabalhadores de todas as idades; inclusive grandes levas de menores que, segundo dados históricos, a partir de oito anos, eram submetidas a regimes de dezesseis, dezoito horas diárias, sob condições muito rudes e inseguras. Os movimentos reivindicatórios de condições mais humanas, que se sucederam ao longo da história, resultaram em conflitos, como o Ludismo e o Trade- Unions (vide destaque). Saltamos para o ano de 1890, considerado como o ano do surgimento do departamento de pessoal, nos USA. Ocorreu na empresa NCR Corporation. A função do personnel office era, resumidamente, selecionar os melhores candidatos, entre multidões de candidatos, “aqueles que poderiam tornar-se empregados eficientes ao menor custo possível” (SPRINGER e SPRINGER, 1990). O surgimento do departamento de pessoal, segundo a autora Beverly Springer, ocorreu quando “os empregados se tornaram um fator de produção cujos custos deveriam ser administrados tão racionalmente quanto os custos de outros fatores de produção”. Essa forma de gestão sugeria que o departamento de pessoal deveria preocupar-se com os “procedimentos e os processos que fizessem o homem trabalhar de maneira mais efetiva possível: produtividade, recompensa e eficiência de custo” (FISCHER, 2002). Foi um modelo perfeitamente integrado à Administração Científica, que dominou as relações do trabalho durante as primeiras décadas do século XX. MOVIMENTO LUDISTA (1811 – 1812) Reclamações contra as máquinas inventadas após a revolução industrial para poupar a mão-de-obra já eram normais. Em 1811 eclodiu o movimento ludista, uma forma radical de protesto. O nome deriva de Ned Ludd, um dos líderes do movimento. Os ludistas chamaram muito a atenção por seus atos. Invadiram fábricas e destruíram máquinas que, segundo eles, por serem mais eficientes que os homens, tiravam seu trabalho, requerendo, contudo, duras horas de jornada de trabalho. Os manifestantes sofreram uma violenta repressão, foram condenados à prisão, à deportação e até à forca. Os ludistas ficaram lembrados como “os quebradores de máquinas”. TRADE-UNIONS. Os empregados das fábricas também formaram associações denominadas “trade-unions”. Esses empregados tiveram uma evolução lenta em suas reivindicações. Na segunda metade do século XIX, os trade-unions evoluíram para os sindicatos, forma de organização dos trabalhadores com um considerável nível de ideologização e organização, pois o século XIX foi um período muito fértil na produção de ideias antiliberais que serviram à luta da classe operária, seja para obtenção de conquistas na relação com o capitalismo, seja na organização do movimento revolucionário, cuja meta era construir o socialismo objetivando o comunismo. O mais eficiente e principal instrumento de luta das “trade unions” era a greve. 5 1.1 A administração científica Três nomes são destacados: Frederick W. Taylor (1856 – 1915), nos Estados Unidos; Henry Fayol (1841 – 1925), na França; e Henry Ford (1863 – 1947). O taylorismo se fundamentava no estudo de tempos e movimentos, como forma de racionalizar e simplificar os movimentos requeridos para a execução das tarefas operacionais, economizando tempo. Segundo Gil (2001), isso “envolvia uma verdadeira revolução mental por parte de empregados e empregadores”. Ele se refere, nessa afirmação, à necessidade que havia de se abandonar o conceito de atividade artesanal, que significava executar todas as fases de uma tarefa, para dar lugar à especialização: uma única tarefa do processo, de forma coordenada e repetitiva. O fayolismo, também adepto da linha da divisão do trabalho, formulou doutrinas administrativas que atribuíam aos trabalhadores capacidade técnica baseada em quatro princípios: 1) Planejar: visualizar o futuro e traçar programa de ação. 2) Organizar: constituir o duplo organismo material e social da empresa. 3) Dirigir: orientar a organização. 4) Controlar: verificar se as normas e as regras estabelecidas estão sendo seguidas. O fordismo aplicou os conceitos de produção em massa para otimizar a produção e reduzir custos. A Escola da Administração Científica, que foi responsável por grande impulso na produção industrial, começou a ser contestada por um novo movimento, surgido a partir dos anos 1920, denominado “Escola das Relações Humanas”. 1.2 Escola das relações humanas Seu mentor, o psicólogo americano Elton Mayo (1890-1949), encabeçou as primeiras experiências entre a administração e a psicologia, determinando uma nova fase na história da gestão de pessoas. A essência do movimento estava em deixar de concentrar-se exclusivamente na tarefa, nos custos e no resultado da produção, para atuar sobre o comportamento das pessoas. Estudos pioneiros no campo do comportamento humano foram desenvolvidos por Mayo e seus seguidores, que culminaram em demonstrar a influência defatores psicológicos e sociais no produto final do trabalho. Em 1927, Mayo desenvolveu uma experiência pioneira no campo do comportamento humano no trabalho, em Chicago (USA). O objetivo era estudar as influências da iluminação na produtividade, no índice de acidentes e na fadiga. O estudo demonstrou a influência de fatores psicológicos e sociais no produto final do trabalho. 6 Com base nesse e em diversos outros estudos, as organizações passaram a valorizar as relações humanas no trabalho, voltando a atenção para temas como comunicação, motivação e liderança. 1.3 Relações industriais Até o início dos anos 1940, o departamento de pessoal nas organizações industriais tinha característica puramente normativa. Limitava-se à pagadoria e à manutenção da disciplina interna, pelo cumprimento das normas internas e legais. O recrudescimento do movimento sindical, ocorrido destacadamente a partir do final da Segunda Grande Guerra, provocou mudanças no cenário das relações trabalhistas, nessa época marcado pela intensificação de conflitos e greves. A nova forma de administrar pessoas recebeu o nome de Relações Industriais. No Brasil, esse termo foi incorporado ao vocabulário corporativo no final dos anos 1950, tendo sido praticado até os anos 1970. 1.4 Recursos humanos Mudanças importantes passaram a ocorrer a partir dos anos 1970, quando o papel das pessoas nas organizações passou a ser visto como estratégico. O movimento foi no sentido de se vincular a gestão de pessoas às estratégias da organização. Segundo Fischer (2002), essa linha de pensamento trouxe novo conceito articulador do modelo de gestão: a busca de orientação estratégica para as políticas e práticas de RH. Seria preciso, a partir de então, intensificar os esforços de adaptação do modelo às necessidades da empresa. 1.5 Gestão de pessoas A partir dos anos 1980, grandes transformações passaram a ocorrer em todo o mundo. Os movimentos de globalização começaram a ganhar corpo. Empresas passaram a ser desafiadas por movimentos de ordem ambiental e organizacional, pelo desenvolvimento tecnológico, pela competitividade e pela revolução nas comunicações, fatores que desafiaram as empresas a se reinventarem rapidamente. Esses movimentos fizeram despontar a importância da presença humana nas organizações. Nunca o homem foi tão percebido como fundamental no processo. 7 2.A gestão de pessoas no Brasil Os anos 1930 marcam o grande impulso na industrialização brasileira, até então predominantemente agrícola, encerrando um ciclo em que a lavoura do café era a grande sustentação da economia brasileira, respondendo por cerca de 70% das exportações brasileiras. O parque industrial brasileiro dos anos 1920 registrava cerca de 13 mil empresas, a grande maioria dos setores têxtil e alimentício. Dentre medidas governamentais ou acontecimentos internacionais que impactaram as relações trabalhistas brasileiras, as mais importantes foram: Anos 1930 Criação do Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio (1930). Departamento Nacional do Trabalho (1931). Constituição de 1937 atrelava os sindicatos ao Estado. Greves proibidas. Anos 1940 Criação do imposto sindical (1940). SENAI (1942). Criação da Consolidação das Leis do Trabalho – CLT (1943). Constituição de 1946 legitima o direito de greve. Anos 1950 Petrobras (1953). Indústria automobilística (1957). Anos 1960 Comando Geral dos Trabalhadores – CGT (1962). Golpe Militar (1964). Anos 1970 Milagre brasileiro. Grandes obras: Transamazônica, Ponte Rio-Niterói (1968 a 1973). Choques do petróleo (1973). Anos 1980 Recessão econômica (1982); inflação “galopante”; onda de demissões em massa. Reengenharias. Downsizing. Avanços tecnológicos. Presença dos microcomputadores. Queda do Muro de Berlim. Fim da Guerra Fria (1989). Anos 1990 Abertura da economia brasileira, integração ao mercado mundial (1990). 8 Revolução das comunicações: internet (1994). Estabilidade monetária – Plano Real (1994). Movimento pela responsabilidade social das empresas. Anos 2000 Fusões e aquisições. Crise financeira internacional (2008). Crise financeira internacional (2014). 2.1 Cada gestor é um gestor de pessoas Como vimos, até meados os anos 1980, a tarefa de gerenciar pessoas cabia exclusivamente ao chefe de pessoal ou gerente de relações industriais. Desde a contratação até a demissão, passando pelas recompensas e punições, todas as ações estavam centradas nesse personagem. Seu poder sobre as pessoas acabava trazendo para si a aura de “durão”, “xerife”, disciplinador. Aos demais gerentes ou chefes cabia unicamente utilizar esse “recurso humano” e, em caso de reclamação, solicitar reposição ou reparo ao chefe de pessoal. Tudo isso mudou. Hoje, cada gerente, cada chefe, líder ou qualquer nomenclatura associada a comando, antes de tudo, é um gerente de recursos humanos ou, mais modernamente, Gestor de Pessoas. Ao antigo Chefe de Pessoal, que evoluiu para Gestor de Pessoas, é atribuída a missão de atrair talentos para a organização e garantir a sua permanência (retê-los). Essa missão só pode ser alcançada se ele compartilhar essa responsabilidade com os demais gestores. A ele (RH), cabe a atividade de criar cenários e condições propícias para que as pessoas se sintam motivadas, confortáveis e confiantes para desenvolverem suas carreiras. Para isso, a formulação de políticas justas, compatíveis e intimamente vinculadas à estratégia da empresa são pontos críticos de sucesso. A cada gestor – finanças, comercial, produção etc. – delega-se a responsabilidade de desenvolver suas equipes e levá-las ao sucesso, utilizando recursos disponíveis, treinando-as e avaliando-as, por meios das melhores práticas de liderança. 9 3. O perfil das gerações no ambiente organizacional Uma realidade muito comum nas empresas é a convivência entre gerações. A situação é inédita, pois é novidade para o mundo corporativo reunir, em um mesmo ambiente de trabalho, no mínimo, três gerações muito distintas: profissionais com 60 anos ou mais, profissionais entre 30 e 50 anos, profissionais com menos de 30 anos. Esse é um grande desafio dos líderes atuais. Eles deverão ter a capacidade e a habilidade de gerenciar essas gerações que viveram épocas tão diferentes e, portanto, necessitam conciliar valores e formas de trabalhar. Para estudiosos do assunto, o primeiro passo para gerenciar essa situação com eficiência é reconhecer as diferenças existentes, levando-as em consideração para uma convivência saudável e produtiva. Outro cuidado importante deve ser o de perceber que gestões pasteurizadas e políticas antiquadas não cabem mais no atual ambiente corporativo. Por exemplo, a geração baby boomer, acostumada a regras, a horários rígidos e a um modelo hierárquico de gestão, pode considerar a geração millennial um tanto rebelde. Caberá ao líder demonstrar que não se trata de rebeldia e sim de um novo jeito de ser. A grande lição que fica é esta: a maior mudança deverá ser iniciada com profissionais ocupando funções de liderança; eles deverão rever seus conceitos, avaliando a importância da gestão que prevê mais liberdade e relações igualitárias, com respeito e tolerância à diversidade. De modo geral, as posições mais estratégicas são ocupadas por profissionais da faixa etária mais alta, a partir dos 45 anos. Na outra ponta, vamos enxergar os profissionais iniciantes, que estão na casa dos 20 anos. Há também as faixas intermediárias. Estudos sobre esse tema sugerem a existência de ao menos três gerações em plena atividade nas organizações: baby boomers, nascidos entre 1946 e 1964; geração X, nascidos entre 1965 e 1977 e geração Y (millennials), nascidos entre 1978 e 1990. Há também a presença de duas outras gerações, com menor representatividade numérica: a geraçãoZ, os nascidos a partir de 1990 e entrando agora no mercado de trabalho, e a geração master, representando os nascidos entre 1930 e 1945, que estão saindo do mercado. É recomendado aos alunos um aprofundamento sobre esse tema, que é de fundamental importância para convivência produtiva nos ambientes organizacionais. O que nos interessa em particular neste artigo é chamar a atenção para o fato de que, na fase da formação pessoal e profissional, cada geração foi influenciada por acontecimentos políticos, sociais e econômicos, próprios de sua época, e que definem os principais traços quanto à maneira de ser, de pensar e de agir dentro das organizações. Para ilustrar, definimos algumas características de cada geração. Geração master: viveu sob um regime de economia protegida, presenciou os anos das grandes depressões econômicas, as tensões e as incertezas da Segunda Guerra Mundial. Foi educada profissionalmente sob o princípio de que um emprego é para toda a vida. Nesse contexto, fidelidade e lealdade são princípios inquestionáveis. 10 Geração baby boomers: geração do pós-guerra. As instituições representavam a estabilidade que muitos desejavam. Ela teve como missão “consertar o mundo” do pós-guerra. Presenciou os anos da Guerra Fria e, ao chegar ao mercado de trabalho nos anos 1960, promoveu uma revolução de costumes em todas as áreas. Herdou da geração anterior traços de lealdade e fidelidade às organizações (a chamada cultura do emprego vitalício). É desse o tempo a prática do contrato psicológico, retratado pelo acordo entre patrões e empregados: “respeite nossas normas, a hierarquia, trabalhe direito que nós lhe garantimos emprego até a sua aposentadoria”. O emprego chegava a ser um valor superior à própria família. O baby boomer vivia para trabalhar. As coisas eram mais simples nos anos 1960 e 1970; as responsabilidades eram individuais e bem específicas. O tempo de permanência em uma mesma empresa chegava a ser acima de 20 ou 30 anos. Nesse cenário, os mais velhos ensinavam os mais novos; eram os anos de experiência que determinavam as promoções. Ter um emprego era sinônimo de status social. Os baby boomers trabalhavam muito e isso tinha relação com disciplina e honra. Eram os sacrifícios diários que garantiam o sustento da família e a garantia de que a “grande recompensa” (aposentadoria) viria no futuro. Geração X: chegou ao mercado de trabalho nos anos 1980, quando os efeitos da crise de petróleo (ocorrida nos anos 1970) e a pressão pela abertura dos mercados (globalização) começaram a produzir seus primeiros efeitos, como demissões em massa, reengenharias etc. Ao assistir a seus pais ou aos seus irmãos mais velhos, até então estáveis, serem demitidos em massa, as pessoas dessa geração perceberam que as empresas deixavam de ser um lugar seguro para desenvolverem suas carreiras. Os representantes dessa geração redefiniram a relação de tempo: o quanto é dedicado ao trabalho e o quanto se é recompensado. Muito confiantes, extrovertidos, competitivos e fazendo todo o possível para ter crescimento rápido, estavam sempre em busca das melhores propostas. Uma ideia criativa poderia facilmente colocá-los na chefia (com base em meritocracia e não na experiência). Procurando formas de se destacarem pessoalmente e serem mais independentes, dependiam de diplomas, MBAs e PHDs, para sair na frente de seus concorrentes. Estar no lugar certo e na hora certa é o que definia sua carga horária, ou seja, o espaço de trabalho foi estendido para o happy hour (essa mistura de vida profissional e pessoal tornou-o alguém admirável). O tempo de permanência nas empresas passou a ser de dez a quinze anos; inverteu-se a importância atribuída ao trabalho. Diferentemente de seus antecessores, que “viviam para trabalhar”, passaram a “trabalhar para viver”. A família vinha em primeiro lugar, depois o trabalho. Ao invés de “viver para trabalhar como seus antecedentes, deixavam para segundo plano a dedicação ao trabalho. As mulheres passaram a marcar presença mais efetiva no mercado de trabalho. 11 Geração Y (millennials): chegou ao mercado de trabalho nos anos 1990, já em um cenário globalizado, quando a revolução das comunicações (internet, telefonia celular) estava em plena aceleração. Os millennials foram criados em um tempo de grandes avanços tecnológicos e enxergavam o uso da tecnologia como algo necessário, tanto na vida pessoal quanto no meio acadêmico e profissional. Estão constantemente em busca de informações e de novidades; de forma geral, apresentam um posicionamento político e social mais liberal que as outras gerações anteriores. Como as mulheres estavam definitivamente presentes no mercado de trabalho, as crianças foram educadas em creches ou escolas infantis, o que acelerou a sua educação. Muito “plugados” à internet, seus contatos sociais são muito mais virtuais, o que passou a ser uma característica nas relações entre pessoas nas organizações. A lealdade deixou de ser o emprego para ser a carreira. Os millennials têm pressa em fazer carreira e privilegiam o “estado da arte” em termos de tecnologia para o trabalho. O tempo médio de permanência nas empresas tem sido de três a cinco anos. Eles representam a nova força de trabalho global. Como característica comum predominante, demonstram grande aspirações, sendo que mais da metade já possui ou planeja ter seu próprio negócio. Em um tempo em que o prazer determina a realização profissional, são os millennials que sabem como ninguém reconhecer as oportunidades que combinam paixão com trabalho. São muito impacientes. A velocidade com que se conectam ao mundo dá o ritmo para suas relações de trabalho, tanto que projetos que só farão diferença no longo prazo simplesmente não os estimulam. Precisam de feedbacks constantes para sentirem que seus esforços estão valendo a pena. É natural para eles diversificarem seus canais e buscarem formas informais de educação ao invés de apenas um curso tradicional. A pirâmide empresarial tradicional não combina com esses jovens ansiosos. São entusiasmados por trabalhar com outras gerações, mas em um relacionamento de igual para igual, com respeito mútuo (é uma questão de troca de ideias e de conhecimentos, independentemente da sua idade, até porque os millennials têm o poder de descobrir coisas sozinhos). Além de ter um emprego, tornou-se muito importante ter um propósito, que pode ser exercido de várias formas e ao mesmo tempo (mobilidade, espaços compartilhados, home office e a possibilidade de criar seu próprio horário fazem o trabalho sempre presente em qualquer momento e em todos os lugares). Por essa razão, pessoas com diferentes estilos têm mais liberdade para exercitar seus talentos, inclusive os mais introvertidos podem transformar suas ideias em grandes negócios. Millennials são fascinados por projetos em andamento e se sentem motivados ao aprender novas habilidade. Precisam mais do que nunca se sentir autônomos e adoram o desafio de participar e criar em colaboração. Mudam de direção e se desapegam, sem a ilusão de que podem controlar o futuro. 12 Como podemos perceber, a flexibilidade pode parecer o caminho a ser seguido. A economia criativa, as novas profissões, a explosão do empreendedorismo e a nova força coletiva estão criando um cenário inédito e brilhante. Compreender as características pessoais de cada geração e promover uma interação harmoniosa e eficaz é, sem qualquer dúvida, o caminho mais curto para o sucesso das organizações. Essa é uma tarefa que cabe ao gestor e, em particular, às pessoas. 13 4. Subsistema recrutamento e seleção A missão da administração de recursos humanos é, resumidamente, atrair e reter talentos. Essa é a missão e o grande desafio dos profissionais da área. Quando nos referimos ao subsistema recrutamento e seleção, estamos tratando exclusivamente da missão “atrair talentos”. Deve-se entender “talento”o candidato que, além das qualificações técnicas básicas, apresenta uma gama de comportamentos intimamente alinhados à cultura e aos valores da empresa. Na verdade, o peso desses comportamentos é significativamente superior ao peso do conhecimento técnico que o candidato carrega. Isso é fácil de explicar: conhecimento técnico se adquire se houver atitude e disposição pessoal para tal; adequação de comportamentos culturais nem sempre é um processo com resultados garantidos. 4.1. Desafios da contratação Não faz muito tempo, um candidato perfeito para qualquer organização poderia ser definido como o aquele que reunisse a maior experiência profissional dentre os demais, ou seja, o melhor, sob o ponto de vista técnico. Outros fatores importantes também influenciavam na escolha do “talento”, como a estabilidade nos empregos anteriores. Um candidato que apresentasse um pequeno número de registros de emprego em sua carteira de trabalho mostrava a imagem de fiel ao emprego, significando, entre outros aspectos, uma contratação de baixo risco. Esse cenário mudou a partir dos anos 1980, período em que acontecimentos significativos mudaram radicalmente o curso da economia mundial. São desse tempo as primeiras grandes ondas de desemprego em massa, o “downsizing”, as reengenharias. Paralelamente, o gigantesco salto tecnológico e as aberturas comerciais que se sucederam em todo o planeta resultaram no desaparecimento de milhares de empresas, incapazes de se adaptar ao novo mercado, em razão da concorrência acirrada. No mercado de trabalho, as mudanças também foram impactantes. As empresas já não mais conseguiam assegurar a cultura do emprego vitalício, fruto do paternalismo. Desapareceu a figura do profissional disposto a permanecer numa mesma empresa por vinte, trinta, quarenta anos, colocando o trabalho como a razão da sua vida. Ou daquele que naturalmente transferia os rumos de sua carreira ao seu empregador. Ou ainda daquele que tinha como garantias de emprego a lealdade e a disciplina. No mundo atual, nenhuma dessas atitudes têm valor para a empresa ou para os profissionais. A realidade atual do mercado de trabalho possui as seguintes características: Os profissionais, notadamente os das gerações “X” e “Y”: têm consciência de que a carreira é um patrimônio pessoal, intransferível; são fiéis às suas carreiras, não às empresas; 14 querem crescer rapidamente; colocam a qualidade de vida e a família em primeiros planos e depois o trabalho. As empresas: têm consciência que más contratações representam custos diretos e indiretos altíssimos; trabalham com quadros cada vez mais enxutos porque os altos custos dos encargos trabalhistas podem reduzir sua competitividade no mercado; mantêm relações de emprego objetivando “retorno”. Essas tendências trouxeram importância destacada para a gestão de pessoas, a começar pela consciência de que o primeiro passo importante é a contratação acertada. 4.2 Recrutamento Segundo Chiavenato (1995), “é um conjunto de procedimentos que visa a atrair candidatos potencialmente qualificados e capazes de ocupar cargos dentro da organização. É basicamente um sistema de informação, através do qual a organização divulga e oferece, ao mercado de recursos humanos, oportunidades de emprego que pretende preencher”. A tarefa de recrutar envolve as seguintes fases: Identificação do perfil do cargo a ser preenchido O conhecimento pleno do que o cargo requer do futuro ocupante, bem como as competências básicas são o ponto de partida mais seguro para o sucesso da contratação. Se o selecionador(a) não tiver esse quadro perfeitamente conhecido, o risco de uma contratação equivocada estará mais presente. A descrição de cargo é um documento válido e bastante utilizável para esta fase, porque normalmente traz as principais tarefas e registra conhecimentos, habilidades e atitudes requeridas. Apesar de ser útil, ela não supera a eficiência resultante de uma reunião pessoal entre selecionador e requisitante, a fim de conhecer detalhes que a descrição não mostra, como o valor estratégico daquela contratação em particular, planos para o novo contratado, visão de futuro para aquela posição etc. Ao conhecer detalhadamente os contornos da posição a ser ocupada, o trabalho do selecionador(a) será facilitado, uma vez que ele planejará as futuras entrevistas com mais foco, para garantir a contratação do “homem certo no lugar certo”. 15 Fontes de recrutamento O selecionador(a) terá diante de si inúmeras alternativas para ativar o processo de busca de candidatos, a começar pelo mais próximo, que é o recrutamento interno: Recrutamento interno Existem inúmeras vantagens de se promover o recrutamento interno. As mais expressivas: a) Já são conhecidos os “candidatos”. b) Já estão aculturados à empresa. c) É rápido. d) É econômico. e) Demonstra-se que a empresa privilegia os colaboradores. f) Demonstra-se que existe oportunidade de carreira. g) Aproveitam-se investimentos da empresa em treinamento e desenvolvimento. Há também desvantagens, ou pelo menos pontos que devem ser tratados com muita habilidade, para não se promoverem constrangimentos internos. Explica-se. Entrevistar uma pessoa e recusá-la pode prejudicar o relacionamento entre o entrevistador e o entrevistado. Na prática, tem se observado que muitas vezes bons funcionários recusados em seleções internas apresentam baixa no desempenho, nem sempre recuperáveis. As condutas mais adequadas para o selecionador amenizar eventuais constrangimentos são: a) divulgar com absoluta transparência os pré-requisitos considerados essenciais para a ocupação da vaga; b) idem com relação a requisitos de ordem pessoal, como padrão de desempenho, histórico disciplinar, questão salarial etc.; c) deixar claro que a seleção externa desenvolve-se paralelamente à seleção interna; d) explicar que a empresa pode optar por candidato externo, caso os internos não preencham os requisitos essenciais; e) ter sessões de aconselhamento para os candidatos recusados. O recrutamento interno pode também provocar atritos entre setores, principalmente aqueles taxados de “fornecedores naturais de mão de obra interna”, que geralmente se veem prejudicados por não conseguirem estabilidade em seu próprio quadro de pessoal. 16 Outra situação que precisa ser avaliada cuidadosamente é a eventual não adaptação do funcionário à nova função. O retorno à função de origem nem sempre é recomendado porque: a) pode já ter sido preenchida por outro candidato; b) pode expor o recusado a comentários danosos à sua imagem profissional. Entre vantagens e desvantagens do recrutamento interno, as vantagens prevalecem. Todavia, segundo muitos autores, praticar forçosamente o recrutamento interno não é uma política recomendada, porque inibe a importação de “novas mentes”. Revistas e jornais Anunciar em revistas e jornais foi um procedimento bastante utilizado, pois atraía muitos candidatos. A eficácia do anúncio hoje dependerá da publicação no veículo de comunicação mais compatível com a vaga a ser anunciada. Para isso, as seguintes perguntas devem ser respondidas: (a) Que público lê esse jornal?; (b) Qual é a sua tiragem? Há também a questão do dia a se fazer o anúncio. Anúncios publicados em semanas com feriados prolongados ou emendados costumam ser ineficazes. O anúncio é fechado ou aberto? Anúncio fechado é aquele em que a empresa se mantém no anonimato. A opção por anúncios fechados dá-se geralmente pelas seguintes razões: a) Vaga confidencial. Ninguém no mercado ou dentro da própria empresa pode ter conhecimento das intenções da empresa. b) Vaga estratégica. O concorrente não pode ter conhecimento da contratação para não disparar ações defensivas, como, por exemplo, redução de preços de produtos. c) Mesmos cargos. A repetição de anúncio do mesmocargo, por rotatividade interna ou dificuldade de contratação, pode provocar um efeito indesejável à sua imagem: “Por que ninguém para nessa empresa?”. Anúncios fechados podem restringir o envio de currículos. Exemplo: uma pessoa empregada com intenção de mudar de emprego pode temer que o anunciante seja a própria empresa. Já o anúncio aberto pode atrair grandes quantidades de currículos se a empresa for conhecida e reconhecida como grande empregadora. Poderá, também, ser utilizado como “jogada estratégica” para incomodar concorrentes, dependendo evidentemente da posição anunciada. Anúncios em jornais já foram a principal fonte de recrutamento utilizada pelas empresas. A partir do surgimento das agências.com (sites gratuitos), em meados dos anos 1990, os cadernos de classificados de emprego tiveram redução acentuada. 17 Sites gratuitos É uma fonte de recrutamento em alta, possivelmente a mais praticada atualmente. Consiste no seguinte: o candidato deposita o seu currículo no site. As empresas, por meio de seus setores de recrutamento, consultam os sites das empresas e acessam os currículos, de acordo com requisitos procurados. Na maioria dos casos, a disponibilidade de currículos é gratuita para as empresas. Há também a alternativa de sites de headhunters e consultores de outplacement que disponibilizam gratuitamente currículos de candidatos a quem assessoram. Agências de emprego As tradicionais agências de emprego também tiveram sua época de ouro. Hoje elas têm como carro-chefe a oferta de serviços temporários. A assessoria para recrutamento de profissionais é cobrada das empresas tomadoras do serviço, com taxas que variam de 50% a 120% do salário contratual. Headhunters Essa modalidade geralmente é utilizada por empresas para contratações de profissionais de alto nível, cujas funções são qualificadas e complexas. O custo para a utilização dessa assessoria é alto, algo em torno de 15% a 20% do salário anual do contratado, porém é altamente eficaz em termos de rapidez, uma vez que esses profissionais mantêm cadastros muito eficientes. Trabalhe conosco Muitas empresas utilizam seu próprio banco de currículos para captar vagas no mercado. A prática é simples e eficiente: por meio de convites feitos em anúncios, em jornais ou via site, os candidatos registram-se no ícone “Trabalhe Conosco”. Para a empresa, é um recurso rápido e econômico. Nas empresas consideradas “melhores empresas para se trabalhar”, ou naquelas que, pelo ramo de atividade, recebem grande quantidade de visitas, essa modalidade é altamente utilizada. Outras fontes de recrutamento O rol de fontes de recrutamento é interminável. Algumas muito praticadas pelas empresas são: anúncios em portaria, anúncios em universidades, sistema de apresentação de candidatos pelos próprios colaboradores, sindicatos ou associações de profissionais. Triagem inicial Feita a captação de currículos por meio das fontes escolhidas (uma ou várias), a tarefa do selecionador é fazer uma pré-triagem que resultará nos candidatos a serem convocados para entrevistas iniciais, abrindo a fase de seleção. Nessa primeira triagem são verificados aspectos como: 18 a) local da residencial, o que pode ser eliminatório para cargos operacionais ou auxiliares, caso o candidato resida longe do futuro trabalho; b) padrão salarial, o qual deve ser compatível com a faixa salarial da empresa, de forma que haja espaço para eventual negociação (para mais ou para menos); c) qualificações básicas, que devem ser familiares aos requisitos anunciados; d) escolaridade essencial; e) conhecimentos e habilidades específicas, como, por exemplo, idiomas, informática, determinado treinamento, conhecimentos destacados etc.; f) Outras questões, como idade, estabilidade, empresas em que trabalhou etc. Em algumas situações – dados omitidos no CV ou detalhamento sobre uma ou outra informação –, o entrevistador(a) tem a alternativa de manter contato telefônico com o candidato, antes de agendar a primeira entrevista. A fase de recrutamento é encerrada com o agendamento da primeira entrevista pessoal. 4.3 Seleção As considerações feitas neste capítulo não estão direcionadas exclusivamente à figura do selecionador(a). Elas são aplicáveis especialmente aos gestores de linha, a quem cabe a escolha final decisiva de candidatos. Seleção é essencialmente um processo de escolha, com a finalidade de identificar, entre os candidatos, o que preenche ou mais se aproxima dos requisitos exigidos pelo cargo. Chiavenato (1995) fornece as seguintes concepções: A seleção é uma atividade obstativa de escolha, de opção e decisão, de filtragem da entrada, de classificação e, portanto, restritiva. A seleção pode ser definida singelamente como a escolha do homem certo para o cargo certo. A responsabilidade pela condução da seleção é muito grande para o profissional de seleção, principalmente em empresas que atribuem importância estratégica ao processo de escolha das pessoas que farão parte de seu quadro de colaboradores. Todavia, o processo de seleção é repleto de subjetividades, de impressões, de suposições. Muitas vezes eles são conduzidos por gestores não preparados para conduzirem uma entrevista, ou que escondem interesses pessoais em determinada contratação. Apesar de inúmeras técnicas consagradas de seleção, entre elas, entrevistas por competências, dinâmicas de grupo, entrevistas coletivas, não se pode garantir que 19 elas garantirão a escolha do candidato ideal. Quando muito pode-se afirmar que elas minimizam os riscos de uma contratação equivocada. A arte da seleção consiste em identificar candidatos que, muito além de suas qualificações técnicas, possuam qualificações pessoais alinhadas à cultura da empresa. Essas qualificações dizem respeito a comportamentos ou atitudes considerados fundamentais para a “inclusão” do candidato no ambiente de trabalho, como, por exemplo, trabalhar em equipe, aceitar determinados valores da organização, construir relacionamentos. Harris et al. (1999) diz que “as organizações mais eficazes em contratação vinculam suas estratégias relativas a essas atividades à sua cultura corporativa […] Organizações alinhadas conhecem seu objetivo central, incorporando-o em tudo que fazem em relação à contratação”. 4.4 A primeira impressão é fundamental A seleção é uma via de mão dupla. Da mesma forma como a empresa escolhe o melhor candidato, este também poderá decidir por aceitar ou recusar a oferta da empresa. Para isso, pesará em sua decisão não só a imagem da empresa no mercado de trabalho e a proposta em si, mas também a forma como foi recebido e conduzido durante todo o processo seletivo. Receber um candidato como se fosse um cliente é a recomendação de Harris et al. (1999): As empresas alinhadas conhecem as qualidades e características do candidato ideal exatamente como conhecem as qualidades e características de seu cliente. Costumam investir recursos significativos para conhecer e compreender os clientes. Contudo, as empresas não alinhadas raramente investem o mesmo nível de recursos para conhecer e compreender seu candidato ideal. Para muitas empresas, o candidato é qualquer um que responda ao anúncio classificado ou que preencha uma ficha de inscrição. Peter Drucker deixou um registro que expressa o descaso de muitas empresas em relação aos processos de contratação de colaboradores: “A atividade gerencial mais importante, e também a mais negligenciada, é a contratação de um novo colaborador”. 4.5 Custos da má contratação Contratar sem qualidade esconde custos significativos para as organizações. A permanência de um colaborador não alinhado significa tempo dedicado a treinamento desperdiçado, além de baixa produtividade. Uma vez demitido, os custos decorrentes da demissão podem ser classificados como diretos e indiretos. Os diretos sãoos menores. Já os custos indiretos, não 20 mensuráveis com precisão, impactam pesadamente a imagem e a eficiência das organizações. Custos diretos: Custos indenizatórios. Despesas com anúncios e com agências perdidos. Despesas com novos anúncios e com agências etc. Custos indiretos: Sobrecarga de trabalho para os que ficam, enquanto não se providencia a reposição da vaga. Elevação do nível de estresse. Queda da qualidade, pelo acúmulo de funções. Insegurança com relação ao emprego, quando as demissões são frequentes. Não formação de equipes. Fuga de bons candidatos como consequência da imagem construída pela empresa (“Nessa empresa não para ninguém”). Horas de treinamento formal ou informal desperdiçados. 4.6 As fases e os recursos do processo de seleção Entrevistas Entrevistas constituem a fase mais importante do processo seletivo. São elas que mais influenciam na decisão sobre a contratação ou não do candidato. O sucesso de uma entrevista depende de uma série de fatores, a começar pelo seu planejamento. Entrevistas improvisadas, sem que o entrevistador tenha dado ao menos uma vista no currículo, correm o risco de serem evasivas. A competência pessoal do entrevistador, evidentemente, é ponto crítico de sucesso em qualquer entrevista. A esse respeito, Gil (2001) faz a seguinte consideração: A eficácia da entrevista tem muito a ver com a competência técnica do entrevistador. Muitos deles reduzem a entrevista a um simples bate-papo, sem qualquer planejamento prévio e sem uniformidade, o que concorre para a limitação de seu valor enquanto instrumento rigoroso de seleção. Outra particularidade crítica na entrevista é a subjetividade a que ela está sujeita por parte de qualquer entrevistador. “O problema da subjetividade constitui, sem dúvida, a mais séria limitação da entrevista. A avaliação que o entrevistador faz do candidato depende muito de seu quadro de referência pessoal, o que dificulta a obtenção de dados uniformes” (GIL, 2001). Para assegurar que a entrevista resulte em observações seguras e confiáveis, sugerem-se os seguintes cuidados: 21 a) Análise do currículo e/ou laudo do candidato, geralmente feita pelo entrevistador(a), destacando pontos relevantes, baseados no perfil requerido, os quais constituirão a base da entrevista; b) Elaboração do roteiro da entrevista, listando-se as abordagens essenciais; c) Escolha de local apropriado para que o candidato sinta-se à vontade e o entrevistador não esteja sujeito a interrupções; d) Condução da entrevista. 4.7 A condução da entrevista Considerando-se que a entrevista foi devidamente planejada, as perguntas serão colocadas naturalmente pelo entrevistador, nos momentos mais apropriados, ampliando-se as chances de a entrevista tornar-se agradável para ambas as partes e, sobretudo, rica em informações. O entrevistador deve utilizar algumas técnicas de entrevista, objetivando extrair respostas de qualidade. Gil (2001) oferece a seguinte sugestão: a) As perguntas que requerem respostas “sim” ou “não” devem ser evitadas, porque desencorajam o candidato a falar. b) As perguntas que exigem respostas elaboradas (“Qual sua opinião a respeito do vale-refeição?”, por exemplo) são recomendadas para fazer o candidato falar. c) Não devem ser feitas perguntas que induzam a respostas predeterminadas. d) As perguntas hipotéticas (do tipo “e se”, “caso”) ajudam na compreensão das habilidades intelectuais do candidato. e) Devem ser evitadas perguntas que coloquem o candidato na defensiva. f) Deve-se formular uma pergunta de cada vez. g) As perguntas devem ter um propósito definido. h) As perguntas de longa resposta ajudam a observar e a avaliar o candidato. i) Convém deixar que o candidato exponha os fatos a seu modo, com ampla liberdade de expressão. A função do entrevistador é conduzir a entrevista, e isso significa que ele deve falar o mínimo necessário. Seu tempo deve ser dedicado a observar os mínimos detalhes da fala do candidato, a fim de não perder informações relevantes. Anotações devem ser feitas com naturalidade para não desviar a atenção do entrevistado. 22 4.8 Entrevistas coletivas Uma técnica muito adotada por empresas é a entrevista coletiva: geralmente, um representante do RH, o gestor requisitante e os gestores convidados entrevistam um único candidato. Algumas vantagens são expressivas, como: a) maior quantidade de informações por parte do candidato; b) maior qualidade de perguntas e análise de respostas: enquanto um entrevistador pergunta, os demais analisam e formulam novas perguntas; c) comprometimento na escolha; como a escolha será decidida pelo “comitê”, é natural que haverá o comprometimento coletivo. O sucesso no emprego da entrevista coletiva dependerá do preparo dos entrevistadores, o que implica o cumprimento de todas as etapas já comentadas: planejamento, análise prévia do currículo do candidato, organização de local etc. A entrevista coletiva é altamente recomendável para cargos em que competências como facilidade de expressão, controle emocional, resistência à pressão sejam destacadas. 4.9 Entrevistas com foco em competências A técnica de entrevista com foco em competência tem sido amplamente utilizada nas organizações, trazendo contribuições importantes para a melhor segurança na contratação de novos colaboradores. Ela está baseada na suposição de que comportamentos passados tendem a se repetir no futuro. Nessa linha, o entrevistador conduz a entrevista investigando situações ou experiências reais vividas pelo candidato, com a finalidade de avaliá-las em relação às competências requeridas para a função a ser ocupada. As perguntas utilizadas na entrevista por competência devem: a) ser claras e objetivas; b) ser abertas e específicas; c) ter foco nas competências requeridas para a função; d) utilizar o verbo de ação no passado; e) investigar como aconteceu determinada ação. Alguns exemplos: a) “Conte-me um projeto que você conduziu pessoalmente e como foi o resultado”. 23 b) “Relate uma grande ideia que você tenha dado e como foi a sua aplicação”. c) “Relate o conflito mais difícil que você teve que lidar como gestor e como se saiu”. d) “Conte-me sobre mudanças que você implantou na sua rotina de trabalho”. 4.10 Avaliação e conclusão da entrevista Encerrada a entrevista, é o melhor momento para se fazer a avaliação e a conclusão dela, uma vez que as informações estão frescas na memória dos entrevistadores. Um bom exercício consiste em listar todos os pontos positivos, percebidos durante a entrevista, e os restritivos, sem perder o foco naquilo que é relevante para a ocupação do cargo (perfil do cargo). Nesse momento, o entrevistador deve tomar todo o cuidado para afastar qualquer tendência de utilizar valores pessoais. Testes práticos e teóricos Testes são recursos valiosos para subsidiar a escolha do candidato e reduzir os riscos de contratações equivocadas. Os mais comuns são: a) Testes práticos São recomendados para funções de natureza operacional, nos quais devem ser observados aspectos como destreza manual e habilidades específicas, como, por exemplo, o desenvolvimento de uma planilha Excel, para um candidato a uma função administrativa; uma operação em um torno mecânico etc. b) Testes teóricos São recomendados para funções de natureza intelectual, com o objetivo de identificar o nível de atualização do candidato em relação a determinado tema, naturalmente relacionado à função a ser ocupada. A elaboração de um texto sobre um tema específico, além da visão que o candidato revela sobre ele, dará ao selecionador impressões sobre a habilidade de escrita, gramática etc. 24 c) Testes psicométricos É a medida objetiva e estandardizada de amostra do comportamento. Geralmente refere-se a capacidades, aptidões, interessesou características do comportamento humano, e envolve a determinação do “quanto”, isto é, da quantidade de presença daquelas aptidões. (CHIAVENATO, 1995). Os testes psicométricos baseiam-se nas diferenças individuais que podem ser físicas, intelectuais e de personalidade. Analisam o que varia e quanto varia a aptidão do indivíduo, tomada como padrão de comparação, em relação ao conjunto de indivíduos. Alguns exemplos: IFP (Inventário Fatorial da Personalidade), que avalia a personalidade; HTP (teste projetivo: desenho de casa, árvore, pessoas etc.), que manifesta algum aspecto da história do indivíduo ou da sua personalidade. Naturalmente são testes aplicáveis exclusivamente por psicólogos. d) Dinâmica de grupo A grande contribuição da aplicação de técnica de dinâmica de grupo na seleção de candidatos é que ela permite aos avaliadores (representante do RH, requisitante e outros convidados) observar o candidato em ação, demonstrando, na prática, as habilidades e as atitudes que projeta. O sucesso, no entanto, dependerá da adequada formulação do tema para discussão ou jogo colocado para o grupo. A simulação deverá provocar o surgimento de informações que estejam na base do processo seletivo: o perfil de competências do cargo. A dinâmica poderá ser aplicada no início do processo seletivo, quando houver uma quantidade razoável de candidatos. Nesse caso, ela deverá ser utilizada como triagem, ou seja, descartando os candidatos visivelmente não alinhados ao perfil da vaga. A aplicação da dinâmica na fase final do processo é adequada quando houver uma quantidade de candidatos, já aprovados nas fases anteriores do processo, portanto qualificados para a ocupação. A aplicação da dinâmica ajudará o requisitante a tomar a decisão da escolha. Algumas recomendações para a utilização da técnica: a) Estabelecer objetivos claros – resultados preestabelecidos. b) Definir como serão medidos os resultados. c) Identificar os participantes: cargo, nível cultural, habilidades destacadas. d) Disponibilizar material de apoio. e) Definir espaço apropriado; f) Estabelecer tempo de aplicação. 25 5 Subsistema de relações trabalhistas Trata-se de uma atividade normativa que começa com a assinatura do contrato de trabalho e se encerra com a homologação da rescisão contratual. Nessa trajetória, incluem-se os pagamentos, as férias, as licenças, as normas e os regulamentos, as questões trabalhistas e sindicais. A CLT e as convenções sindicais são os principais documentos legais que regem esse subsistema. São atividades geralmente delegadas ao tradicional departamento de pessoal, por seu caráter normativo. 5.1 Relações do trabalho As relações do trabalho são regulamentadas pelo direito do trabalho, ramo do direito que tem por objeto as normas, as instituições jurídicas e os princípios que disciplinam essas relações. Além disso, determinam os sujeitos e as organizações destinadas à proteção desse trabalho em sua estrutura e atividade. As principais agendas do direito do trabalho são: I. Justiça do Trabalho A Justiça do Trabalho é órgão do Poder Judiciário Federal que processa e julga as ações trabalhistas. Podem recorrer à Justiça do Trabalho tanto trabalhadores como empregadores quando sentirem que seus direitos estão sendo prejudicados. Ela está estruturada em três níveis: 1º Juntas de Conciliação e Julgamento, que conhecem e decidem conflitos individuais mediante sentenças. 2º Tribunais Regionais do Trabalho, que atuam na segunda instância, apreciando recursos, depois de esgotadas as tentativas de negociação entre as partes. 3º Tribunal Superior do Trabalho, que atua na terceira e última instância. As decisões do TST são irrecorríveis. 26 II. Ministério Público do Trabalho É um ramo do Ministério Público da União que fiscaliza o cumprimento das leis trabalhistas por parte das empresas, atuando na defesa dos direitos dos trabalhadores, recebendo denúncias feitas por sindicatos ou por trabalhadores. Promove inquéritos civis ou ações judiciais com foco na defesa de interesses de trabalhadores, notadamente: Questões de discriminação social. Trabalho para portadores de deficiências físicas. Liberdade e dignidade no trabalho. Relações informais de trabalho, falsas cooperativas etc. Combate ao trabalho forçado e ao trabalho infantil. Mediação e arbitragem de conflitos trabalhistas. Fiscalização do exercício do direito de greve. Outras figuras jurídicas das relações trabalhistas: III. Consolidação das Leis do Trabalho A Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) foi um marco na história das relações trabalhistas brasileiras. Criada em 1943, teve por objetivo consolidar todas as leis trabalhistas produzidas a partir de 1930, pelo então Governo Vargas. Além de consolidar leis, ela também criou outras. Constituída hoje por 922 artigos, a CLT ainda conserva na origem as características da presença e intervenção do Estado nas relações entre capital e trabalho, algo que é visto no mundo globalizado como entrave ao progresso das relações trabalhistas. Movimentos em prol de sua reforma têm sido ativados nas últimas décadas. IV. Contrato de trabalho O tema é tratado na CLT, do artigo 442 ao 456. No primeiro, ela define o contrato de trabalho como “acordo tácito ou expresso, correspondente à relação de emprego”. O contrato de trabalho é o principal documento que rege a relação de emprego. Nele são incluídas todas as tratativas resultantes da contratação. Algumas são básicas, como horário de trabalho, remuneração, cargo, período de experiência. Ainda trataremos de questões como: Não exigência de comprovação de experiência prévia para a postulação de emprego por período superior a seis meses (art. 442-A). “Poderá ser acordado tácita ou expressamente, verbalmente ou por escrito e por prazo determinado ou indeterminado” (art. 443). Contrato de Experiência (art. 445 – parágrafo único). 27 Direitos trabalhistas em caso de falência (art. 449). Readmissão e contagem de tempo de serviço (art. 453). Anotações na Carteira Profissional (art. 456). Entre outros. V. Convenção Coletiva do Trabalho Convenção Coletiva de Trabalho é o acordo de caráter normativo, pelo qual dois ou mais sindicatos representativos de categorias econômicas e profissionais estipulam condições de trabalho aplicáveis, no âmbito das respectivas representações, às relações individuais de trabalho (art. 611 da CLT). Esse acordo, geralmente discutido anualmente por ocasião da data-base da categoria, tem força de lei, desde que as cláusulas que estavam no acordo não confrontem direitos previstos na legislação trabalhista, sob pena de nulidade. A legislação permite que a convenção coletiva tenha validade por até dois anos. O processo de negociação coletiva é originado a partir da apresentação de um rol de reivindicações por parte do sindicato dos trabalhadores, devidamente aprovados em assembleia da categoria. Fazem parte desse rol de reivindicações cláusulas econômicas e sociais. Cláusulas econômicas Índice de reajuste da categoria. Piso salarial da categoria. Bonificações. Participação nos lucros e resultados. Percentuais de adicionais de horas extras. Entre outros. Clausulas sociais Garantia de emprego. Abono de faltas. Condições de Segurança. Entre outros. Os acordos coletivos também preveem contribuições para os respectivos sindicatos, tanto por parte dos trabalhadores como dos empresários, como forma de custear as entidades representativas. Não havendo sucesso na negociação coletiva, as partes podem ingressar com ação junto ao Tribunal Regional do Trabalho (dissídio coletivo), para que este decida o impasse, o que é feito por um instrumento chamado Sentença Normativa. 28 VI. Greve Greve é a suspensão coletiva, temporária e pacífica,total ou parcial, de prestação pessoal de serviços a empregador (art. 2º da Lei n.º 7.783/89). Pode ocorrer de forma geral (toda a categoria) ou isoladamente. Entraves nas negociações coletivas podem resultar em greves gerais de categorias. Em se tratando de greve geral de uma categoria, sua legitimidade dependerá de aprovação obtida por meio de assembleia geral da categoria e condições específicas definidas em lei. VII. Direitos trabalhistas A Consolidação das Leis do Trabalho – CLT– garante aos trabalhadores uma série de direitos trabalhistas. Dentre os mais destacados, estão: Carteira de trabalho assinada. Repouso semanal remunerado (uma folga por semana). Salário até o quinto dia útil do mês subsequente. 13º salário. Férias anuais de trinta dias, com adicional de um terço. Vale-transporte, com participação financeira do trabalhador de, no máximo, 6% do salário. Licença-maternidade de 120 dias, com garantia de emprego até cinco meses depois do parto. Licença-paternidade de cinco dias corridos. FGTS: depósito de 8% da remuneração auferida no mês. Horas extras pagas com adicional de 50% em relação à hora normal. Garantia de 12 meses em caso de acidente. Irredutibilidade salarial. Jornada de trabalho semanal de, no máximo, 44 horas. Adicional noturno, com acréscimo de 20% sobre o valor da hora normal, para jornadas entre 22h e 5h. Três dias consecutivos de abono em caso de casamento. Um dia de abono por ano em caso de doação de sangue. Dois dias de abono em caso de alistamento militar. Dois dias de abono em caso de morte de parente próximo. Abono de faltas ocasionadas por doenças, mediante comprovação. Aviso-prévio de 30 dias em caso de demissão. Seguro-desemprego. Esse rol de direitos pode ser acrescido de outros, assegurados pelas convenções coletivas de trabalho de cada categoria profissional em particular. 29 5.2 Relações de trabalho na prática No âmbito das empresas, o gerenciamento das relações trabalhistas geralmente está delegado ao tradicional departamento de pessoal (DP). Ao DP compete assegurar que o vínculo empregatício seja mantido dentro dos mais perfeitos quesitos legais, cumprindo e fazendo cumprir os ditames da CLT, das Convenções Coletivas e legislação complementar. Os regulamentos internos que focam a disciplina, as orientações aplicáveis à política salarial, segurança e pagadoria estão sob a guarda do DP. Além disso, o setor atua, mesmo no desligamento do trabalhador, em caso de litígio trabalhista. 6 Subsistema remuneração Salário é fonte de motivação? Para a maioria dos especialistas ou estudiosos em gestão de pessoas, predomina o entendimento de que salário não é fator motivacional. Independentemente do caráter legal, que é o da contraprestação por serviços prestados, o salário serviria tão somente como pano de fundo para a sustentação de outras fontes motivacionais, como perspectivas concretas de carreira, bom ambiente organizacional e reconhecimento. Nessa linha, Chiavenato (2010) define salário como: […] uma contraprestação pelo trabalho de uma pessoa na organização. Em troca do dinheiro – elemento simbólico e intercambiável -, a pessoa empenha parte de si mesma, de seu esforço e de sua vida, comprometendo-se a uma atividade cotidiana e a um padrão de desempenho na organização[…] Na prática, o salário constitui a fonte de renda que proporciona o poder aquisitivo de cada pessoa. E o poder aquisitivo define o padrão de vida de cada pessoa e a satisfação de sua hierarquia de necessidades individuais. A expressão “hierarquia de necessidades individuais” remete à conhecida “Hierarquia das Necessidades” de Mazlow (quadro 1) e a dos “Fatores Motivadores e Higiênicos”, de Herzberg (quadro 2). Reproduzimos trechos do capítulo “Salário e Motivação”, de Pontes (1998), em que ele comenta ambas as teorias: Para Mazlow, as necessidades humanas podem ser divididas em cinco, dentro de uma escala na qual, a partir do momento em que temos uma necessidade satisfeita, a necessidade seguinte passa a ser o fator motivador de nossas atitudes, até atingir a satisfação de todas elas. Mas, mesmo tendo atingido a satisfação da necessidade mais complexa, se alguma outra deixar de ser satisfeita, esta assume papel preponderante, tornando imprescindível a sua satisfação. Associando a teoria de Mazlow à nossa questão de salário, como fator de motivação, observamos que, indiretamente, este contribui, é o pano de fundo, para a satisfação dessas necessidades. É através dele que temos assegurada a satisfação de nossas necessidades básicas independentes da empresa, tais como moradia, alimentação etc. […] O 30 salário é uma demonstração objetiva do quanto a empresa valoriza o trabalho de seu funcionário. Associado ao plano de carreiras, se bem administrado pelo Departamento de Recursos Humanos da empresa, ele pode vir a ser não propriamente um fator de motivação, mas um fator que servirá de base aos fatores motivadores ligados ao cargo ocupado, à perspectiva de crescimento profissional e trabalho executado estando estritamente ligado a esses. Quadro 1. Maslow. “A teoria de motivação de Humana” “A teoria de motivação de maslow, 1954” Em relação à teoria de Herzberg: Através da teoria de Herzberg, poderemos compreender melhor o papel do salário que está tão intimamente ligado à satisfação das necessidades humanas. Herzberg divide os fatores em higiênicos e motivadores, sendo que os higiênicos abrangem todos os benefícios oferecidos pela empresa, tais como: ambiente de trabalho, relacionamento com os superiores, benefícios sociais e salários, que são vistos como fatores que podem gerar insatisfação e, quando de acordo com as aspirações dos funcionários, atingir um estado máximo de não satisfação. Já os fatores motivadores, que estão relacionados com o cargo ocupado pelo empregado, e abrangem o trabalho adequadamente realizado, responsabilidade exigida, reconhecimento e progresso profissional, levam os funcionários de estados de não- satisfação ao de satisfação”. Portanto, podemos concluir que o salário não é fator de motivação quando analisado isoladamente. A troca fria de produção por salário não gera satisfação ao empregado; é apenas a recompensa justa pelo seu trabalho e o empregado busca a garantia de sua sobrevivência. MASLOW – Hierarquia das Necessidades À medida que satisfaz um desejo, sobrevém outro... TEORIAS MOTIVACIONAIS Fisiológicas: alimentação, vestimenta, fome, sono, sede, sexo Segurança: Emprego, salário, aposentadoria Sociais: Relacionamento, aceitação no grupo, convívio, amigos Estima: Reconhecimento, status, Prestígio, amor próprio Auto-realização: Realização do potencial “Não teríamos o desejo de compor músicas ou criar sistemas matemáticos ou estar bem vestidos [...] se estivéssemos morrendo de sede” (Maslow, 1954) 31 Polêmicas à parte, a verdade é que ninguém trabalha de graça. Por sua vez, as empresas buscam desenvolver políticas para recompensar adequadamente seus colaboradores como forma de estimulá-los à melhor produtividade e a retê-los. Se salário não é fonte de motivação, ele pode transformar-se em grande fonte de desmotivação quando os recursos financeiros são percebidos pelos funcionários como incoerentes e injustos. Quadros como esse afetam a autoestima dos trabalhadores, levando-os a um processo de desinteresse e pouco apego ao trabalho. Sob esse prisma, Resende (2002) contribui com o seguinte comentário: Mas [sic] o problema não reside em queixa do valor relativo do cargo, nem no valor do salário comparado com o do mercado. Os empregados reconhecem que a maioria das empresas tem isto bem arrumado. Regra geral, estão satisfeitos também com o plano de benefícios. No entanto, estão, de modo geral, insatisfeitos com os critérios e os processos de remuneração […]. A maioria das pessoasé sensata e entende as limitações de um plano de cargos e salários das empresas. Regra geral, elas querem critérios justos e transparentes. Desejam ter seu valor individual recompensado. Elas querem, de modo especial, conhecer suas possibilidades e perspectivas de evolução profissional. TEORIAS MOTIVACIONAIS HERZBERG – Fatores Higiênicos e Motivadores Higiênicos Se presentes, não causam insatisfação, mas não chegam a causar satisfação Motivadores Se presentes, causam satisfação. Se ausentes, não causam satisfação mas não chegam a causar insatisfação • Boas condições de Trabalho • Realização Profissional • Pagamento salarial em dia • Reconhecimento das realizações • Justiça na remuneração • Trabalhos desafiantes • Padrões claros e estáveis de supervisão e organização • Status • Operações bem coordenadas • Definição precisa de responsabilidade • Suficiente de informações • Participação nas decisões • Comunicação adequada 32 Praticar políticas justas, equilibradas e eficazes deve ser visto como o principal objetivo das organizações que reconhecem a importância do papel das pessoas no contexto do negócio. A remuneração é um assunto complicado, pois depende de inúmeros fatores. Há uma variedade de políticas e procedimentos de remuneração. A construção de um plano de remuneração requer certos cuidados, pois provoca forte impacto nas pessoas e no desempenho da organização pelos seus efeitos e consequências. O desenho do sistema de remuneração oferece dois desafios principais: de um lado, deve capacitar a organização para alcançar seus objetivos estratégicos e, de outro lado, deve ser moldado e ajustado às características únicas da organização e do ambiente externo que a envolve (CHIAVENATO, 2010). A atividade de administrar salários nas organizações, de modo geral, tem os seguintes objetivos: 1. Atrair talentos para a organização. 2. Reter talentos, por meio de política salarial (e outras) eficazes. 3. Estimular a produtividade individual, por meio de estímulos salariais e reconhecimento. 4. Distribuir adequadamente a “massa salarial”, reduzindo focos de insatisfação por desigualdades equivocadas. 5. Manter equilíbrio com o mercado de trabalho (externo). 6. Garantir o cumprimento da legislação trabalhista e convenções coletivas do trabalho. 7. Manter a folha de pagamento (remuneração e encargos) compatível com o orçamento empresarial. 6.1 Conceitos gerais aplicados ao tema Salário Representa o valor fixado no contrato de trabalho. É chamado também de salário nominal. É o valor referencial para efeito de cálculos. Remuneração É a soma dos rendimentos totais auferidos em um determinado período (geralmente mensal). Inclui, além do salário nominal, adicionais como horas extras, adicional de insalubridade, comissões, bônus etc. Os descontos legais (INSS, Imposto de Renda) incidirão sobre a sua totalidade. O FGTS é calculado sobre a remuneração e não sobre o salário nominal. Encargos trabalhistas São os encargos que incidem direta ou indiretamente sobre a folha de pagamento das empresas (soma das remunerações individuais) e é arcado por elas. Vide quadro 3. 33 Remuneração funcional É a forma tradicional de se remunerar, praticada pelas empresas. Paradigma Cargos similares: mesma atividade, mesma importância. Tarefa s São as diversas atividades, não necessariamente definidas no contrato de trabalho, que são executadas por um funcionário durante o expediente. Exemplo: (1) atender telefones e transmitir recados; (2) recepcionar visitantes e encaminhá-los aos seus destinos; (3) conferir contas telefônicas mensais. Função Refere-se ao conjunto de tarefas sob a responsabilidade de um funcionário. Cargo O título que se dá à função. No exemplo, “recepcionista”. A denominação do cargo é da competência exclusiva das empresas. Normalmente elas seguem as denominações mais comuns no mercado como forma de facilitar pesquisas salariais. Descrição de Cargos É a descrição formal das funções atribuídas a cada um dos cargos existentes na organização. Costuma registrar os pré-requisitos para a sua ocupação e competências requeridas. 6.2 Modelos de remuneração I. Remuneração funcional É o modelo tradicional, praticado pela maior parte das organizações ainda nos tempos atuais. Ainda, porque ele está gradativamente cedendo espaço para modelos que mais se adaptam ao atual cenário econômico mundial, profundamente mudado a partir de meados de 1980. Resende (2002) afirma que os fundamentos consagrados pelo modelo funcional estão enraizados na era tecnicista de administração de cargos e salários, período em que se dava grande ênfase ao enfoque técnico, metodológico e normativo, mas pouca atenção aos fatores conjunturais e organizacionais. 34 Em síntese: ele é baseado exclusivamente nas descrições de cargo e na hierarquia estampada nos organogramas, os quais sugerem uma visão reducionista da realidade organizacional. De acordo com Wood Jr. et al. (1995): […] a lógica que fundamenta os sistemas tradicionais de remuneração vê a organização como retratada pelo organograma formal. Seus pressupostos fundamentais são os seguintes: Existe uma linha de autoridade claramente definida; As atividades principais estão definidas por normas e procedimentos escritos; As responsabilidades e atribuições individuais são conhecidas e pouco variam com o tempo. Ocorre que as transformações que as empresas estão sofrendo as colocam cada vez mais distantes desses pressupostos. Wood Jr. et al. (2004) nos oferece um retrato dos fundamentos da remuneração funcional e suas tendências (quadro 4). Quadro 4 Item Fundamento Tendência Estrutura organizacional Hierarquia rígida. Modelos flexíveis. Elevado número de níveis hierárquicos. Poucos níveis hierárquicos. Ascensão salarial por meio de promoções. Ascensão salarial por meio do desenvolvimento profissional. Amplitude de ação Restrita e bem definida. Ampla e mal definida. Varia em função do perfil do profissional. Definição de responsabilidades Clara. Difusa. Orientação para a visão e objetivos compartilhados. Processo decisório Papéis e forma de tomada de decisão bem definidos. Contingencial. Fonte: Wood (2004). 35 Especialistas de RH e autores são unânimes ao afirmar que o modelo tradicional não deve ser eliminado sumariamente. Seu componente técnico é perfeitamente utilizável para a construção de estruturas salariais; o que deve ocorrer são adaptações conceituais. A esse respeito, Resende (2002) conclui: Com isso se quer dizer que os princípios e métodos dos planos de cargos e salários tradicionais continuam válidos, mas não representam agora a parte mais importante da atividade. As palavras de ordem são: adequação, integração, flexibilidade e oportunidade, mantendo as bases técnicas. Há muito o que mudar em termos de conceitos, técnicas e instrumentos na construção de planos de cargos e salários ou remuneração e carreira. De modo especial, três: (1) A substituição do conceito de aumento de mérito pelo de remuneração por competência; (2) O aperfeiçoamento da descrição de cargos para torná-la um instrumento útil; (3) A introdução do conceito de carreira horizontal. O modelo tradicional é estruturado nas seguintes bases: Análise de cargo – estudo preliminar originado a partir de coleta de dados de cada função, junto a seus ocupantes. Descrição de cargo – exposição ordenada das tarefas que compõem o cargo. Sua redação deve responder às seguintes perguntas: “o que faz”, “como faz”, “para que faz”. As descrições trazem, também, as especificações do cargo que são os requisitos necessários (aptidões, conhecimentos, competências) que o ocupante deve possuir. Avaliação de cargo – atribuição de um valor relativo a cada cargo, com o objetivo de identificara “hierarquia dos cargos” dentro de uma escala de valores. Os métodos mais utilizados pelas empresas são os chamados “sistemas de pontos”. Pesquisa salarial – realizada entre empresas que competem no mesmo mercado de trabalho, para apurar o seu comportamento e tendências. É uma fase fundamental para as empresas definirem suas estratégias de retenção. Estrutura e política salarial – fase culminante do processo, em que são definidos “curva salarial”, tabelas salariais, enquadramentos e projeções de custos. Além disso, definem-se as políticas e os procedimentos que irão balizar as ações salariais internamente. II. Remuneração estratégica As empresas buscam novas e mais eficazes formas de estimular o vínculo entre elas e seus colaboradores, especialmente para incrementar o desempenho individual e coletivo relacionado a questões como qualidade, produtividade, foco no cliente, trabalho em equipe e outros. As diferentes soluções encontradas fazem parte do modelo de remuneração estratégica, contraponto da remuneração funcional. Mesmo com alguns insucessos – muitos deles em razão de imposições e de limitações legais –, a remuneração estratégica tem trazido importantes contribuições 36 aos ambientes organizacionais. Neste capítulo vamos retratar as principais formas de remuneração estratégica: Remuneração por habilidades Essa estratégia recompensa as pessoas não por um trabalho específico, mas pelos conhecimentos e habilidades exigidas para seu desempenho. À medida que os empregados adquirem mais habilidades, tornam-se recursos mais flexíveis (GIL, 2001). Na medida em que o trabalhador consegue avançar no seu nível de habilidade, avança também progressivamente em termos de recompensa financeira (MARRAS, 2004). Segundo Gil (2001): a remuneração por habilidades não constitui um abandono radical das abordagens tradicionais de remuneração. Embora, com sua implantação, os empregados notem alguma mudança real em sua remuneração, esta continuará a ser feita praticamente da mesma maneira. Wood Jr. (2004) registra que o surgimento dessa forma de remuneração é consequência do aumento da complexidade do ambiente de negócios que resultou em uma série de tendências registradas desde a década de 1990 nas empresas: (1) estruturas organizacionais com menor número de níveis hierárquicos e, consequentemente, maior nível de autonomia e amplitude de responsabilidades para indivíduos e grupos; (2) valorização do trabalho em equipe; (3) aumento da exigência da multifuncionalidade e visão sistêmica; (4) foco no aperfeiçoamento contínuo; (5) pressão para redução de custos. Quadro 5 – Vantagens e desvantagens de um sistema de remuneração por habilidades Vantagens Desvantagens ou restrições O foco da função é substituído pelo foco na pessoa, o que potencializa o desenvolvimento individual. Nas funções gerenciais ou técnico-administrativas, a definição de habilidades é relativamente abstrata. Flexibilidade e maior adaptabilidade das pessoas a alterações de processos e modelos de gestão. Exige cuidados especiais na aplicação da legislação trabalhista, especialmente nas questões de isonomia salarial. 37 Dois pontos críticos de sucesso dessa modalidade de remuneração estão concentrados em duas vertentes de RH: a) Eficácia no processo de seleção de profissionais, no sentido de priorizar a contratação de pessoas rigorosamente alinhadas ao perfil de habilidades da empresa. b) Investimentos concentrados na área de treinamento e desenvolvimento de pessoas, para a realização de programas técnicos e comportamentais igualmente alinhados ao perfil de habilidades da empresa. Remuneração por competências É uma evolução natural do modelo de Remuneração por Habilidades. Enquanto este é mais aplicável aos grupos operacionais, pela maior clareza na identificação e observação de determinadas habilidades, o modelo por competência é mais apropriado aos cargos de gestão ou administrativos, caracterizados pela presença de abstração, incertezas, criatividade, entre outras características, com ligações mais diretas com a estratégia da organização. Wood Jr. et al. (2004) reproduz definições de especialistas para definir o conceito de competências: Um agrupamento de conhecimentos, habilidades e atitudes, correlacionadas que afeta uma parte considerável da atividade de alguém, que se relaciona com o desempenho, que pode ser medido segundo padrões preestabelecidos, e que pode ser melhorado por meio de treinamento e de desenvolvimento (Parry, Scott B.). Características percebidas nas pessoas que envolvem conhecimentos, habilidades e atitudes que levam a um desempenho superior. Competências envolvem comportamentos observáveis e mensuráveis que se relacionam com o trabalho (Ledford Jr., Gerald E.). Para que uma competência seja considerada essencial deve passar por três testes: (1) Valor percebido pelos clientes. (2) Diferenciação entre concorrentes… (3) Capacidade de expansão (Prahalad, C. K. e Hamel, G.). A remuneração por competências na prática, segundo Gil (2001), define que os salários são diretamente vinculados a um processo de certificação, no qual o empregado precisa demonstrar sua competência. Os aumentos de salário, por sua vez, não estão vinculados à promoção, como acontece nos sistemas tradicionais. As principais vantagens da Remuneração por Competências podem ser: 38 Quadro 6 – Vantagens e desvantagens de um sistema de remuneração por habilidades Vantagens Desvantagens ou restrições Melhor entendimento da organização. Menos indicado para funções de caráter operacional. Disseminação do conhecimento junto aos colaboradores. Flexibilidade, agilidade, inovação e velocidade. Compromisso dos gestores na gestão efetiva e no desenvolvimento de equipes. Menor imposição da legislação trabalhistas, uma vez que no nível de aplicação (gestores, administrativos), as funções e o número de cargos com paradigmas é menor. Remuneração variável Uma das formas mais tradicionais de se praticar remuneração variável é o comissionamento. As funções comerciais – vendedores em particular – são o melhor exemplo, consistindo em um pagamento fixo acrescido de comissões de acordo com os resultados alcançados em um determinado período: mensal, trimestral etc. Esse modelo também é utilizável para remunerar equipes, de acordo com o atingimento de resultados pré-definidos. Há um crescente movimento das empresas no sentido de remunerar funções estratégicas de forma variável: comissões, bônus, participação acionária, participação nos lucros etc. De acordo com Chiavenato (2010), os nomes atribuídos mudam conforme a empresa: pay for performance, remuneração variável ou flexível, participação nos resultados, gain sharing, salário flexível. Na sequência, o autor acrescenta que: o desenho do programa também varia, mas o objetivo é sempre o mesmo: fazer do executivo ou colaborador um aliado e um parceiro nos negócios da empresa. Esse modelo de remuneração coloca por terra os mitos sagrados que sempre comandaram a administração salarial, como tempo de casa, lealdade ou formação escolar. Com a remuneração variável, passam a dominar outros critérios, como resultados, competência, criatividade, inovação, espírito empreendedor, valor agregado pelas empresas. 39 Daremos, neste capítulo, atenção especial a uma forma de remuneração variável que cresce rapidamente no mundo empresarial: a Participação nos Lucros ou Resultados (PLR). 6.3 Participação nos lucros ou resultados (PLR) O tema não é novo. Ele está presente na Constituição Brasileira desde 1946, tendo ficado “adormecido” até 1994 quando, já sob os efeitos da abertura econômica brasileira, a PLR surgiu como uma alternativa para vincular os trabalhadores, de forma mais comprometida, aos resultados das empresa. A primeira Medida Provisória