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DIREITO CIVIL V - CCJ0225 Semana Aula: 1 Introdução ao Direito de Família e Noções sobre o casamento. Tema Direito das famílias e casamento. Palavras-chave Famílias. Princípios. Casamento. Promessa de noivado.Objetivos - Conceituar família. - Identificar os princípios atinentes ao Direito de Família. - Conceituar casamento e compreender sua natureza jurídica. - Analisar a responsabilidade civil por ruptura do noivado (promessa de casamento). Estrutura de Conteúdo Unidade 1 – Introdução ao Direito de Família e Noções sobre o casamento. 1.1. Conceito de famílias. 1.2. Princípios atinentes ao Direito de Família. 1.3. Casamento: conceito, natureza jurídica, responsabilidade civil por ruptura do noivado (promessa de casamento). Origem da palavra família A origem do termo jurídico é encontrada no Direito Romano, referindo-se a famulus que significa escravo. A essa época, a ideia de família era ampla, compreendendo o pater, sua esposa, filhos, servos e todos os parentes que se achavam sob sua autoridade (concepção que foi difundida pelo Digesto de Ulpiano). Originalmente, portanto, o conceito de família englobava noções de subordinação, poder e mando, noções que não se coadunam com a sociedade contemporânea. Conceito Direito de Família é o ramo do Direito Civil que disciplina as relações jurídicas (pessoais e patrimoniais) entre as pessoas unidas pelo parentesco, pelo matrimônio e pela união estável, bem como, os institutos assistenciais da tutela e da curatela (arts. 1.511 a 1.783, CC). O Direito de Família precisa ser analisado, então, “do ponto de vista do afeto, do amor que deve existir entre as pessoas, da ética, da valorização da pessoa e da sua dignidade, do solidarismo social e da isonomia constitucional”, porque em seu atual estágio, este ramo do Direito se baseia “mais na afetividade do que na estrita legalidade”. (TARTUCE, 2017, v. 5, p. 5) A Constituição Federal, estabeleceu a família como base da sociedade, em seu art. 226, caput, fazendo referência em seus parágrafos ao casamento, à união estável e ao núcleo monoparental, trazendo inovação, pois antes o único arranjo familiar legitimamente considerado era aquele fruto do casamento. Mas este reconhecimento é capaz de alcançar todas as entidades familiares existentes em nossa sociedade? Podemos entender, na linha do que nos ensinam Stolze e Pamplona Filho (2018), que a Constituição não pretendeu esgotar as categorias familiares, mas sim consagrar, com respaldo no princípio da afetividade, uma estrutura aberta capaz de reconhecer a legitimidade de outros arranjos familiares. Firmadas estas premissas, entendemos que, de acordo com o princípio da dignidade da pessoa humana, “família é o núcleo existencial integrado por pessoas unidas por vínculo socioafetivo, teleologicamente vocacionada a permitir a realização plena dos seus integrantes” (STOLZE E PAMPLONA FILHO, 2018, p. 1.152). Então, para ser família, precisamos de pelo menos duas pessoas que tenham um vínculo de afetividade com o intuito de satisfazer os interesses mútuos. Portanto, se uma pessoa cria laço familiar com outra tão somente para satisfazer interesses econômicos, ainda assim consideramos um núcleo familiar. Principiologia a) Dignidade da pessoa humana: o art. 1.º, III, da CF/1988 coloca a dignidade da pessoa humana como fundamento do Estado Democrático de Direito, evidenciando que o patrimônio perde importância, na medida em que a pessoa humana é valorizada. É por esta valorização que os demais princípios são interpretados. b) Afetividade: não se pretende, através deste princípio, definir o amor, mas precisamos realçar que ele é a válvula propulsora das relações que travamos na nossa vida, mormente as familiares. O afeto é o que vincula os membros de uma família e é com base nesta afetividade que a Constituição Federal reconhece outros arranjos familiares, além daqueles expressamente previstos, a exemplo da união homoafetiva, expressão mais adequada, em detrimento de união homossexual, pois como nos explicam Stolze e Pamplona Filho (2018), o que une as pessoas é o afeto e não a sexualidade. c) Solidariedade familiar: a solidariedade familiar se traduz na assistência material e moral recíproca entre os membros do núcleo familiar, o amparo e o suporte que deve ser prestado por um indivíduo ao outro. Embora seja importante, dentro do contexto da solidariedade, o amparo emocional, minimizando a visão patrimonialista, não podemos esquecer que essa assistência tem uma clarividente repercussão patrimonial, que é uma decorrência irrefutável do vínculo familiar. Portanto, é na solidariedade familiar, com o seu inerente dever de cuidado e assistência mútua, que repousa a prestação de alimentos em caso de necessidade, nos termos do art. 1.694, do Código Civil. d) Função social da família: Stolze e Pamplona Filho (2018) nos ensinam que a função social da família se concretiza com a busca da felicidade de cada membro como bem supremo, respeitando a individualidade de cada um, o que se traduz, entre outras coisas, em respeito à igualdade entre cônjuges e companheiros, à opção por arranjos familiares diversos do tradicional. e) Da Pluralidade das Entidades Familiares (art. 226, §§3º e 4º, CF) o Direito de Família deve ser hoje orientado pela afeição mútua e pelo pluralismo . Por isso, inovou a CF/88 ao prever de forma expressa ao lado da família constituída pelo matrimônio, outras formas de constituição de família como a decorrente da união estável e do casamento. No entanto, é preciso esclarecer que justamente pelo fato de considerar a família base da sociedade, o elenco previsto na CF/88 deve ser considerado exemplificativo (tipicidade aberta) e não exaustivo, permitindo-se, desta forma, que outras formas de constituição de família sejam reconhecidas por legislação ordinária. f) Convivência familiar: pais e filhos devem permanecer juntos e o afastamento somente deve ocorrer como medida de exceção, em casos extremos que o justifiquem, como, por exemplo, em situações que motivem a destituição do poder familiar (art. 1.630 e ss, CC. g) Intervenção mínima do Estado no Direito de Família: Cabe ao Estado prestar assistência à família, mas não impedir sua formação e consolidação. h) Plena proteção da criança e do adolescente: art. 227, caput, CF e arts. 1.583 e 1.584, CC é cláusula geral de proteção da criança e do adolescente. i) Igualdade entre os filhos: art. 227, §6°, CF e art. 1.596, CC proíbe qualquer forma de discriminação ou tratamento diferenciado entre os filhos, sejam eles decorrentes do casamento, de relações extramatrimoniais ou adoção . Pode-se, a partir de então, afirmar que a filiação é jurídica, possuindo como espécies (que não podem gerar situações discriminatórias): a filiação biológica e a filiação socioafetiva que serão estudadas em aula própria sobre filiação. OBS.: Abandono Afetivo – Quando caracterizada a indiferença afetiva de um genitor em relação a seus filhos, ainda que não exista abandono material e intelectual, pode ser constatado, na Justiça, o abandono afetivo. Apesar desse problema familiar sempre ter existido na sociedade, apenas nos últimos anos o tema começou a ser levado à Justiça, por meio de ações em que as vítimas, no caso os filhos, pedem indenizações pelo dano de abandono afetivo. Algumas decisões do Superior Tribunal de Justiça (STJ) são no sentido de conceder a indenização, considerando que o abandono afetivo constitui descumprimento do dever legal de cuidado, criação, educação e companhia presente, previstos implicitamente na Constituição Federal. j) Igualdade entre cônjuges e companheiros: art. 226, §5°, CF e art. 1.511, CC decorre da adoção do princípio da igualdade entre homem e mulher (art. 5º, CF) e traz reflexos importantes para o Direito de Família, pois extingue [pelo menos legalmente] o clássico sistema patriarcal vigente no Brasil até então. Com a norma constitucional, igualou-se a idade núbil; a idade para escolha do regimede bens; extinguiu-se o adultério precoce (perda da virgindade) como causa de anulação do casamento; o pátrio poder transformou-se em poder parental ou familiar (poder-dever), etc. l) Da Monogamia (art. 1.521, VI , CC) é princípio que estabelece o impedimento não podem casar as pessoas já casadas e que importa no dever de fidelidade recíproca (art. 1.566, I, CC) e a plena comunhão de vida (art. 1.511, CC). Conceito e natureza jurídica do casamento O casamento como “um ato jurídico negocial, solene, público e complexo, mediante o qual duas pessoas constituem uma família por livre manifestação de vontade e com o reconhecimento do Estado”. Em relação à natureza jurídica, o casamento é instituto de Direito Privado com natureza de contrato especial (contrato sui generis) de Direito de Família, que necessita de consentimento e está sujeito a peculiaridades previstas na legislação. Tanto é assim que a autoridade competente para a celebração do casamento somente o declara concluído e apto a produzir efeitos jurídicos após a manifestação de vontade positiva dos nubentes. Portanto, a participação da autoridade é declaratória, e não constitutiva do ato matrimonial. Características do casamento ato pessoal, garantida a liberdade de escolha e de manifestação da vontade; ato solene (é um dos atos mais solenes do Direito Civil); ato civil que não admite termo ou condição; suas normas são cogentes e visam dar a proteção deferida pela Constituição Federal; estabelece comunhão plena de vida (art. 1.511, CC) que implica necessariamente na exclusividade da união (art. 1.566, I, CC); representa união permanente, o que não significa que seja indissolúvel; Promessa de casamento: esponsais (noivado) e a responsabilidade civil por sua ruptura Os esponsais são também conhecidos como promessa de casamento ou, simplesmente, noivado, tendo sua origem no Direito Romano (arrahe sponsalitiae) que o considerava um momento indispensável para a formação do casamento, importância que foi mantida pelo Direito Canônico. Nas ordenações em que tiveram acolhimento (como, por exemplo, no Direito Português), os esponsais são considerados negócios jurídicos por meio do qual duas pessoas desimpedidas e de sexos diferentes prometem reciprocamente contrair matrimônio. No entanto, o Direito Civil brasileiro não conferiu especial importância aos esponsais, sequer prevendo-o como requisito necessário à formação do casamento. Por isso, pode a promessa ser rompida a qualquer tempo. Uma vez que não lhe é conferida natureza contratual, a polêmica hoje instalada está em torno do rompimento causar ou não o direito à reparação por danos morais e materiais pelos prejuízos sofridos. A ruptura da promessa de casamento pode gerar dano moral ou material indenizável, dada a responsabilidade extracontratual do agente. É extracontratual (art. 186, CC) por não haver ainda o matrimônio, este sim com natureza jurídica de contrato especial de Direito de Família. A desistência do casamento, portanto, é possível, mas é necessário, em nome do princípio da eticidade, fazê-lo da forma menos danosa possível.
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