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EMERGÊNCIAS PSIQUIÁTRICAS - Emergência: risco para o paciente e/ou para os outros necessitando de intervenção imediata e inadiável (minutos ou horas) envolve risco de morte ou social grave. Ex: violência, suiício, estupor depressivo; - Urgência: intervenções em curto prazo (dias ou semanas) – riscos menores. Ex: comportamento bizarro, sintomas psicóticos, ansiedade aguda. Epidemiologia - EUA 5,4% dos atendimentos em emergências; - Mais comuns: transtorno por uso de substâncias (27%), transtornos ansiosos (26%) e psicoses (21%); - Cerca de 30% dos pacientes psiquiátricos retornam em 90 dias para a emergência por condições clínicas negligenciadas por não serem investigadas. Objetivos do atendimento em emergência psiquiátrica - Identificar sintomas-alvo: favorece a avaliação objetiva, assim como a abordagem e intervenção terapêutica mais efetivas; - Formulação de uma hipótese diagnóstica, ainda que provisória; - Realizar diagnóstico diferencial com causas orgânicas; - Estabilizar o quadro; - Dar o encaminhamento necessário para continuidade do tratamento da condição que levou à situação de emergência. Perguntas importantes - Qual a característica sindrômica do quadro clínico? Psicose, síndrome afetiva, síndrome ansiosa, outra síndrome? - Oferece risco à própria integridade física e/ou terceiros? - É seguro que o paciente permaneça onde está? - O quadro psiquiátrico tem base orgânica, funcional ou de ambas? - O paciente está intoxicado ou em síndrome de abstinência de alguma substância? - Qual o comprometimento da capacidade de autocuidado? - Qual o suporte psicossocial do indivíduo? Indicações comuns de internação - Risco de suicídio; - Risco de auto/heteroagressão; - Incapacidade de autocuidado; - Transtorno de difícil controle ambulatorial; - Necessidade de monitoramento da evolução com mudança no esquema terapêutico; - Efeito adverso de medicação grave. Ex: clozapina e agranulocitose; - Ausência de suporte psicossocial que favoreça à adesão terapêutica e estabilização do quadro no nível ambulatorial; - Risco de exposição moral ou dano ao patrimônio iminente. Agitação psicomotora e agressividade - Estado de intensificação motora acompanhada de tensão psiquiátrica; - Conjunto de comportamentos inespecíficos; - Agitação: elevação da atividade motora e cognitiva. Pode cursar com agressividade: aumento da excitabilidade, inquietação, irritabilidade, atividade motora e verbal exagerada, inapropriada e repetitiva; - Agressividade: ato intencional que causa dano físico ou mental a terceiro ou objeto. Correlato motor de afetos de raiva, ira ou hostilidade. Pode ser agressão verbal ou física. - Fatores de risco · Homens; · Jovens; · História de atos violentos prévios; · Episódios psicóticos agudos; · Abuso de substâncias; · Certos transtornos de personalidade (borderline, antissocial). - Condutas · O local de atendimento - Equipe treinada; - Sala com poucos móveis, sem objetos soltos ou vidros; - Cadeiras fixas ao chão; - A porta permanece aberta e o entrevistador se senta mais próximo dela – a distância do entrevistador à porta deve ser menor do que a do paciente à porta. · Postura do entrevistador - Firme, porém, calma e acolhedora; - Movimentos calmos, sem muitas perguntas ou confrontações; - Considerar retirar brincos, correntes, óculos. - Abordagem inicial · Determinar etiologia – orgânica ou funcional; · Investigar alergias, uso de substâncias ilícitas e medicamentos, doenças de base; · Pistas que sugiram transtorno orgânico - Início agudo; - Flutuação de consciência; - Desorientação alopsíquica; - Presença de condições médicas; - Ausência de história psiquiátrica prévia. · Exame físico, neurológico e exame do estado mental; · Testes laboratoriais S/N; · Avaliar e tratar condições que exigem intervenções imediatas. · 1º Questão: Há delirium isolado ou superposto a um transtorno? · 2º Questão: Um prejuízo cognitivo contribui para agitação? · 3º Questão: Intoxicação ou abstinência de substâncias? · 4º Questão: Uma psicose primária causa a agitação? · 5º Questão: Outra causa psiquiátrica relacionada à agitação? · 6º Questão: Qual o potencial de dano do paciente a si mesmo ou a terceiros? - Tricíclico – efeito anti-colinérgico importante quando em altas doses. Aumento de suspeição de quadro orgânico - Quadro psiquiátrico atípico; - Gravidade maior do que esperado para o transtorno; - Início tardio ou abrupto do quadro; - História pessoal ou familiar de transtorno psiquiátrico ausente – pacientes > 40 anos que nunca tiveram sintomas psiquiátricos; - Disfunção autonômica sem morbidade prévia; - Resistência ao tratamento – revisar condições endócrinas ou neoplásicas; - Doença sistêmica evidente que pode descompensar e mimetizar quadro psiquiátrico; - Evidência de aumento de PIC; - Presença de alucinações visuais ou ilusões; - Histórico de prescrição e uso de substância de ação central; - Intoxicação com a retirada ou uso de droga; - Nexo temporal com início, melhora ou agravamento da doença sistêmica – piora quando a doença piora. - Diagnóstico diferencial · Transtorno psiquiátrico primário - Esquizofrenia; - Mania; - Abuso de substâncias; - Transtorno de personalidade borderline; - Transtorno de personalidade antisssocial; - Retardo mental. · Doenças neurológicas -Parkinson; - Huntington; - Demências; - AVC; - Encefalopatia; - Doença de Wilson; - Infecções do SNC; - Estados epiléticos; - Neoplasia; - Esclerose múltiplas; - TCE. · Doenças clínicas - Doença metabólica; - Intoxicações; - Infecções; - Deficiências vitamínicas; - Distúrbios endócrinos; - Porfiria; - LES. Desescalonamento verbal - Manejo que favorece a relação médico-paciente – evita contenção mecânica, propicia colaboração terapêutica; - Respeitar o espaço do paciente- manter 2m de distância; - Ouvir com atenção ao que o paciente diz; - Não ser provocativo ou ameaçador – no quadro delirante o indivíduo não abdica de sua crença e procura não abdicar. Não se deve reforçar ou contestar; - Demonstrar empatia; - Somente uma pessoa se apresenta e provê orientação/asseguramento; - Por limites razoáveis e de modo respeitoso dentro do possível; - Ser consciente no que diz – não iludir o paciente; - Oferecer escolhas e esperanças realistas; - Identificar desejos e sentimentos; - Assim que possível, explicar intervenções aos pacientes e avaliar intervenções com a equipe – quanto menos orientado, mais curto o diálogo. Abordagem psicofarmacológica - Antipsicóticos e benzosiazepínicos; - De acordo com as características do quadro e da medicação; - Via oral ou IM · Resultados tendem a ser os mesmos; · Se o paciente colaborar, preferir VO. OBS! Haldol IV – pode causar bloqueio de ramo. - Objetivo – tranquilização rápida. - Antipsicóticos típicos · Primeira geração - Haloperidol – 5mg, 1 ampola IM até 30/30 minutos enquanto os sintomas vão passando, num máximo de 40 mg. Raramente se ultrapassa 10-15 mg/dia; - Clorpromazina – 50 mg 1 ampola IM a cada 30-60 min. Dose oral média vai de 200-600mg. - Antipsicóticos atípicos · Olanzapina – 10 mg IM – 1 ampola. Repetir após 2 horas S/N. Se idoso, usar dose menor; · Ziprasidona – 20 mg / ampola. Fazer 10mg de 2/2 horas ou 20mg de 4/4 horas (máximo de 40 mg); · Risperidona – mais presente em nosso meio – 2mg VO 2/2 horas até 6 mg/dia. OBS! Loxapina – antipsicótico gasoso – só nos EUA. - Benzodiazepínicos · Diazepam – IM a absorção é errática – 5mg/mL (ampola 2 mL); · Lorazepam- VO; · Clonazepam – VO. · Associação de antipsicótico de alta potência (Haloperidol) + Prometazina ou bzd – evita efeitos extrapiramidais. - Contenção mecânica – ideal é que a equipe seja treinada para fazer contenção – existem materiais apropriados – 5 pessoas, uma em cada membro e uma na cabeça. Delirium - É uma síndrome em que há prejuízo da consciência, atenção, sensopercepção, orientação e memória, associado a outras alterações comportamentais; - Flutuação da consciência; - Tendência a ter início agudo e curso flutuante (piora ao entardecer e à noite); - D. hipoativo: letargia, sonolência, desorientação; - D. agitado: agressividade, psicose;- D. misto: exibe mais de uma característica ao longo do dia. - É associado a uma condição física: distúrbio metabólico, infecções, intoxicações/abstinência de substâncias, TCE, neoplasias, PO, alteração de fluxo sanguíneo cerebral. - Epidemiologia · 10-30% dos pacientes hospitalizados; · Mais comum em idosos: 40%; · UTI cirúrgica ou cardíaca: até 30%; · Doentes terminais: 80%; · Pode evoluir para demência ou síndrome amnésica – pode evoluir com destruição de neurônios; · Potencialmente fatal quando não se trata a doença de base. - Fatores de risco: · Idade >/=65 anos; · Imobilidade ou restrição física; · Isolamento social; · Déficits sensoriais (visuais ou auditivos); · Episódio prévio de delirium; · Demência ou comprometimento cognitivo prévio; · Doenças clínicas, principalmente cardiovasculares; · Medicações anticolinérgicas, opiáceos e benzodiazepínicos; · Polifarmácia. - Intervenções: · Identificar e tratar a causa de base; · Controle de SSVV, SBV; · Janelas gradeadas, perto da enfermagem, remoção de objetos perigosos, luminosidade adequada, pouco barulho; · Preferência por antipsicóticos de alta potência, devido menor potencial de efeitos anti-colinérgicos: - Haloperidol 1-2mg de 2/4 horas; - Evitar sedação para investigar rebaixamento de consciência. · Benzodiazepínicos: usados na abstinência de álcool ou por bzd – 5-10 mg/hora. · Contensão mecânica S/N. - Manejo não farmacológico · Ambiente calmo e silencioso (sem estímulos excessivos); · Manter boa ventilação e iluminação; · Disponibilizar janelas ou iluminação que oscile ao longo do dia; · Permitir uso de lentes corretivas e aparelhos auditivos; · Estimular a orientação (calendário, relógio) e a memória (fotos); · Otimizar ciclo sono-vigília; · Evitar imobilização; · Evitar mudanças de leitos, do ambiente e da equipe assistência; · Incentivar a presença de um acompanhante familiar. Tentativas de suicídio - Multifatorial; - Pressupõe uma intencionalidade de morte, ainda que haja o desejo de alívio de um sofrimento psíquico; - Na avaliação, tentar estabelecer em que ponto o paciente está no espectro: · Pensamentos vagos de morte; · Ideação – se está pensando como fazer; · Ato suicida – já tentou ou chegou as vias de fato. - Epidemiologia · Está entre as 10 principais causas de morte; · Está entre as 3 principais entre 15-34 anos; · Há um pico na terceira idade, especialmente em países sem suporte econômico e psicossocial; · Brasil considerado país de prevalência média de suicídio – presume-se que haja uma subnotificação – 4,05 mortes por 100.000 habitantes; · No RS 3x > média nacional (Subnotificação?); · Para cada suicídio há 10-20 tentativas; · Diferença de gênero: - Suicídio 4H:1M; - Tentativa de suicídio 1H:4M. · Enforcamento é o método mais comum que causa morte; · Envenenamento é a forma de tentativa mais comum - Fatores de risco · Homens para morte, mulher para tentativa; · Adultos jovens e idosos; · Divorciados > solteiros > viúvos > casados quanto mais solitário, mais arriscado; · Desemprego; · Profissionais da área da saúde (facilidade de acesso aos meios); · Medicina – psiquiatras e anestesistas; · Estrutura familiar caótica; · Doença física incapacitante; · Doenças psiquiátricas - Transtornos afetivos: depressão, estado misto, ciclagem rápida; - Abuso ou dependência de substâncias; - Esquizofrenia; - Transtornos de personalidade (borderline, histriônica, antissocial). · Acesso fácil aos meios – ex: policiais; · Terremotos e catástrofes naturais; · Dor crônica; · Morte de famosos: imprensa deve tratar com discrição para não incentivar; · Tentativa prévia de suicídio; · Luto de alguém que faleceu por suicídio. - Fatores protetivos · Relações pessoais boas: vínculos familiares fortes, suporte social (plano de saúde, reserva financeira); · Coping religioso espiritual: capacidade de pessoas com vivência espiritualista de lidar com estressores (ressignificação) – facilita e/ou atenua o impacto dos estressores – otimismo, autoestima, senso de autoeficácia, habilidade de resolução de problemas positivas. · Estilo de vida: dieta e alimentação saudável, atividade física, sono reparador, manejo efetivo do estresse. - 40% dos pacientes que tentam suicídio tem uma consulta médica nas semanas que antecedem o evento. - Avaliação · Primeiro passo: garantir a vida; · Avaliar motivações – eventos de vida, desesperança, solução ou obtenção de atenção de alguém; · Risco de recidivas – tentativa prévia sem arrependimento, baixa ambivalência quanto ao risco de morrer; · Gravidade do risco – plano factível, método, acessibilidade ao método; · Diagnóstico psiquiátrico; · Indicação de internação OBS! Não há questionário preditivo, a avaliação ainda é muito subjetiva utilizando avaliação global e julgamento clínico. - Critérios para indicar internação · Alto risco de suicídio: - Tentativa violenta; - Ideação persistente; - Providenciou meio de dificultar o resgate. · Suporte familiar inadequado; · Tentativas progressivamente mais graves – asfixia grave, arma de fogo; · Recusa em fazer tratamento ambulatorial; · Sintomas psicóticos associados – risco para si e terceiros. - Critério para receber alta da emergência · Evolução clínica; · Evento foi reativo – desemprego, luto, separação; · Plano/método e intensão de baixa letalidade; · Suporte familiar adequado; · Capacidade de seguir as orientações do acompanhamento ambulatorial, mantendo contato com o seu médico.
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