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1 UNIVERSIDADE ESTÁCIO DE SÁ PÓS GRADUAÇÃO EM VIGILÂNCIA SANITÁRIA E QUALIDADE DE ALIMENTOS Resenha Crítica de Caso/Artigo Jéssica Louise Bottaro Trabalho da disciplina Rotulagem de Alimentos nas Indústrias e Serviços de Alimentação Tutor: Prof. Victor Jonas da Rocha Esperança Limeira 2021 http://portal.estacio.br/ 2 SAMPLE6: FAZENDO UMA PARCERIA PARA TORNAR ALIMENTOS MAIS SEGUROS Referências: Robert F. Higgins / Kirsten Kester O artigo em questão aborda um encontro de líderes de importantes indústrias de alimentos que estava prestes a acontecer no ano de 2013 nos Estados Unidos, com o objetivo de encontrar um meio de unirem-se a inovadores tecnológicos a fim de aumentar a segurança de alimentos no país. Participaram desta reunião os líderes: Roger Berkiwitz, Presidente e CEO da Legal Sea Foods, Will Daniels, SVP de Operações e Integridade Orgânica da Earthbound Farm, Tony Ricker, CEO da Pacific Cheese , Sharon Birkett , VP de Proteção e Qualidade de Alimentos Norte Americana da OSI Industries, David Acheson , antigo Comissário Adjunto de Alimentos da Administração de Drogas e Alimentos dos EUA e Tim Curran, Ceo da Sample 6. A Sample 6 é uma Startup de biologia sintética e monitoramento de dados, pioneira no desenvolvimento de um teste rápido, de 4 horas, de diagnóstico de bactérias patógenas prejudiciais. A empresa desenvolveu um sistema de software para monitorar os resultados de testes de patógenos e estava prestes a realizar o lançamento comercial no mercado. Era um momento importantíssimo para a Startup e para o CEO Curran, que esperavam que o uso da plataforma e dos testes, em conjunto, trouxessem vários benefícios às indústrias fornecedoras de alimentos: aumentassem a capacidade em detectar, analisar e tratar as causas da contaminação dos produtos. Consequentemente, as empresas conseguiriam reduzir os custos gerados durante a espera dos resultados dos testes padrão, reduzir custos provenientes de recalls, e comandassem preços dos produtos. O resultado deste encontro teria grande impacto na gestão alimentar de diversas categorias do setor de alimentos, já que líderes de diferentes empresas se reuniriam para tratar de questões específicas de suas atividades. A indústria alimentícia nos Estados Unidos, obtendo um faturamento de vendas por varejo de mais de $1,2 trilhões em 2011, era representada por um mercado grande e amplo. Supermercados e restaurantes representavam a maior parte de vendas de alimentos 3 A indústria alimentícia foi influenciada pela mudança de hábitos do consumidor por adquirir produtos mais saudáveis e nutritivos. Resultado de crescentes taxas de obesidade e doenças crônicas. Outra tendência de mudança de consumo foi a demanda por alimentos orgânicos e naturais, a fim de evitar a ingestão de pesticidas e conservantes e consumir produtos com maior valor nutricional. Foi gerada a partir da consciência dos consumidores em adquirir produtos ecologicamente corretos, sustentáveis e de fornecedores locais. A mudança no perfil das famílias, menores e com duas fontes de renda, gerou uma demanda por produtos prontos para comer. A internet também foi uma grande incentivadora nas decisões de compra, principalmente dos consumidores que aderiram aos produtos orgânicos. Os Estados Unidos aumentou suas taxas de importações nos últimos anos, reflexo da crescente globalização e do comércio internacional elevado, diminuindo os custos das importações. Apesar dos benefícios, havia o desafio de administrar a cadeia de abastecimento global em crescimento. Em consequência da constante globalização na cadeia de abastecimento e do acesso à informação, à conscientização e preocupação do consumidor, surgiu a segurança de alimentos. Significantes casos de contaminação de alimentos foram alvos da mídia e os altos índices de recalls nos Estados Unidos devido a contaminação por patógenos entre os anos de 2008 e 2012. Como medidas para garantir a segurança alimentar, as empresas alimentícias começaram a fazer uso de tecnologias a fim de melhorar o monitoramento, rastreabilidade, visibilidade em sua cadeira de abastecimento global. No fator rastreabilidade, além da utilização de códigos de barras, etiquetas duráveis e GPS e outros, surgiu a tendência de uso de tecnologias genéticas. A preocupação dos consumidores com a identidade e integridade dos alimentos, que já era tendência, aumentou devido a descobertas de produtos adulterados. Como consequências, houve a prisão por fraude, decisão da Comissão Europeia (EC) em realizar testes aleatórios de DNA em carnes processadas e a promessa de reexaminar os controles e políticas regulamentadoras. A segurança alimentar tornou-se uma preocupação global. Haviam quatro tipos significantes de contaminantes, de maneira ampla: 4 - Agentes físicos - Agentes químicos - Alergênicos - Agentes microbiológicos e respectivas toxinas, como e. coli que produz Shiga. Sendo a categoria de patógenos a causadora de diversas doenças transmitidas por alimentos, causando mortes e hospitalizações e custos de mais de $ 78 bilhões aos EUA por ano. Consequência de mercados emergentes com padrões de segurança alimentar menos exigentes. Os grandes causadores de problemas, nos EUA, foram principalmente quatro tipos de bactérias: Salmonela spp., Listeria monocytogenes, Campylobacter spp., e E coli, um vírus : norovírus e um parasita : Toxoplasma gondii. A partir de um monitoramento do CDC, que constatou uma redução no progresso na redução de infecções transmitidas por alimentos, foram estabelecidas metas com o objetivo de redução das taxas até 2020. Entre as medidas adotadas, maior vigilância, novos controles de tempo e temperatura, melhoria na resposta de surtos e supervisão das importações mais efetiva. A supervisão da segurança alimentar dos Estados Unidos era de responsabilidade da Administração de Drogas e Alimentos (FDA) e do Departamento de Agricultura dos EUA (ESDA). O USDA regulamentou carnes, aves e ovos e o FDA os demais alimentos. Com a homologação da Lei de Modernização da Segurança Alimentar (FSMA) em janeiro de 2011, pelo Presidente Barack Obama, houve um importante desenvolvimento na regulamentação de segurança de alimentos no país. A FSMA como principal objetivo, dava poder maior à FDA para a prevenção e ação a surtos de segurança alimentar. Permitiu também que a FDA aplicasse padrões elevados para alimentos de importação. Entre as exigências da FSMA estava prevenção, com a introdução de controles obrigatórios e cientificamente eficazes para a indústria alimentícia. A ocorrência de recalls nos EUA teve um aumento entre os anos 2008 e 2012, chegando ao ápice em 2009 com 669 recalls gerados por patógenos. Esses recalls representavam grandes perdas para as empresas, com aumento de custos diretos e indiretos e perda da confiança por parte dos consumidores, que através da média e da internet começaram a ter fácil acesso às informações. Entre os impactos causados por recalls estão mortes, doentes, prejuízos às empresas, falência e influência na compra dos consumidores, impacto econômico em toda a categoria de produtos envolvidos nos recalls. Impulsionada por novas tendências do mercado 5 de alimentos, como regulamentações mais exigentes, importações e conscientização dos consumidores, a indústria de diagnósticos estava em alta. Fornecendo soluções para as empresas se adequarem as regulamentações vigentes, inclusive a FSMA, a indústria de diagnósticos obteve um faturamento de $3,3 bilhões em vendas em 2011. Os testes tradicionais de segurança alimentar focavam na detecção de patógenos presentes nos alimentos, porém constatou-se que este tipo de triagem não era realmente efetiva. As indústrias passagem a dividir os testes em duas categorias:testes em produtos e testes ambientas. Estes últimos eram divididos em zonas, sendo a zona 1 superfícies em contato direto com os produtos, zona 2 superfícies próximas, zonas 3 e 4 mais distantes. Concluindo – se assim, que a contaminação ambiental foi a causadora dos surtos que atingiram a indústria de alimentos nos últimos anos, pois desta forma os patógenos presentes no ambiente migravam para o produto após este já ter sido preparado ou processado. Cerca de 21% deste mercado pertencia a 3 grandes fornecedores de testes. Sendo que algumas indústrias de alimentos realizavam testes e outras terceirizavam o trabalho. Existiam três tecnologias para detecção de patógenos: microbiologia tradicional (método de enriquecimento em placas de petri), imunodiagnóstico, através do qual era possível detectar toxinas específicas ou antígenos associados a determinados patógenos, e diagnóstico molecular, através de DNA e RNA de patógenos. Testes tradicionais custavam em média $ 20 – 30 por teste e de 30 a 48 horas para gerar resultados. Alguns membros da indústria alimentícia defendiam que os níveis atuais de testes não estavam resolvendo os problemas de contaminação dos alimentos e que havia necessidade de investir mais em segurança alimentar, com soluções econômicas, rápidas e com um bom preço. Já do ponto de vista de outros membros, a indústria estava desempenhando um bom trabalho, salvo algumas exceções. Devido ao fato de quando ocorrer algum recall, afetar toda a cadeira produtiva de alimentos, as indústrias passaram a considerar a segurança alimentar uma vantagem não competitiva e compartilhar com outras empresas novas práticas e melhorias. As exigências às adequações da FSMA fez com que regulamentadores e empresas percebessem que apenas obter resultados de testes não era suficiente. Era necessário analisar, interpretar e identificar a causa raiz do problema. Se fez necessário buscar o uso de softwares capazes de mapear e identificar as falhas na triagem. 6 Com a descoberta científica de Tim Lu do Mit e Dr. Michael Koeris na área de biologia sintética deu origem a Sample 6. Fundada em 2009 a empresa criou uma plataforma de Bioiluminação onde as bactérias podiam ser detectadas através de um equipamento chamado luminômetro, obtendo resultado em um curto período de 4 horas. Embora sua tecnologia pudesse ser aplicada à outras indústrias, a Sample 6 após competir e ganhar capital de Série A, entrou para o mercado de segurança de alimentos, com foco inicial em kits de detecção ambiental de Listeria, chamado de DETECT/L. Desenvolveu também um software de dados em nuvem chamado Sample 6ANALYSE que possibilitava a análise e rastreabilidade dos testes, sendo possível as empresas monitorar, avaliar e modelar suas necessidades de segurança de alimentos. A empresa também prestava suporte em casos de detecção positivos. Através da rápida detecção de presença de patógenos que os testes da Sample 6 proporcionava e em conjunto com o software, era possível detectar um problema antes que aumentasse. O objetivo da empresa era impactar a indústria através da redução da morbidade e mortalidade relacionada a infecções transmitidas por alimentos. Em 2013 a empresa já estava com testes beta em empresas de diferentes segmentos e almejava conseguir um financiamento Série B no semestre seguinte. Os clientes da Sample6 eram comtemplados com diversos benefícios, sendo um desafio para Curran identificar em qual proposta de valor deveria focar. Dentre os benefícios estavam: tempo menor de testes, nenhum enriquecimento, especificidade e sensibilidade alta; econômico; visibilidade maior; proteção e diferenciação da marca. O autor também salienta pontos de reflexão que Curran como CEO deveria considerar a partir do cenário atual, antes de participar da reunião. Abaixo as empresas participantes: Pacific Cheese Company, desde 1970 fabricava e fornecia queijos finos, situada na Costa Oeste. Após a realização de um recall de contaminação por Listeria, a empresa buscou a excelência em segurança alimentar, focando em obter certificações e treinamento e conscientização dos funcionários. Tony Ricker almejava tornar a empresa referência em segurança alimentar. A realidade atual, com o uso de patógenos tradicionais, fazia com que a empresa demandasse gastos com inventário até receber os resultados dos testes obrigatórios e dos testes ambientais (não obrigatórios, mas adotado pela empresa como medida de precaução) Os testes 7 ambientais eram realizados por laboratórios terceirizados, levando de dois a cinco dias, caso necessário teste de confirmação. A demora na emissão de resultados além de gerar custos de inventário reduzia avida útil dos produtos e poderia gerar atrasos nas entregas aos clientes. A Earthbound Farm, fundada em 1984 na Califórnia, alcançou destaque e foi o maior produtor no setor de hortifrútigranjeiro orgânico nos EUA. A empresa visou fornecer produtos naturais de qualidade, orgânicos e ecologicamente corretos. Após um recall de espinafres frescos em 2006, com uma empresa parceira, a Earthbound com a liderança de Will Daniels, voltou ainda mais a sua atenção para a segurança de alimentos. Tendo a segurança de alimentos como parte de sua estratégia Premium da marca e detalhando seus procedimentos de rastreabilidade em seu website. A Legal Sea Foods, que inicialmente era uma peixaria em Massachusetts na década de 50, tornous-se uma rede de restaurantes de frutoa do mar com cerca de 30 restaurantes e uma divisão de proutos por varejo. Roger Berkowitz, CEO da empresa fazia questão de fornecer produtos frescos e de qualidade para os clientes. Com critérios rigorosos de qualidade e segurança alimentar, para estar na liderança no mercado nestes quesitos. Tal preocupação fez com que a empresa criasse um Centro de Controle de Qualidade na sede da empresa. E adotou uma parceria com FDA com o intuito de desenvolver um processo de fiscalização de frutos do mar com HACCP ( Análise de Perigos e Pontos Críticos de Controle). O grupo OSI era um dos maiores fornecedores de carne crua e processada do mundo, para a cadeia de fast food. Além de fabricar diversos outros tipos de alimentos. A empresa, com Sharon Birkett VP de Qualidade e Proteção Alimentar Norte Americana do grupo, almejava tornar-se indispensável, primordial ao fornecimento de alimentos. Como estratégia a empresa focou na segurança alimentar. E apesar de tornar-se referência, sabia que haviam oportunidades de melhoria e deviam buscar parceria com novas tecnologias que permitisse à empresa acompanhar as constantes mudanças da indústria de alimentos. Todas as empresas citadas, apensar de atuarem em segmentos distintos e serem referência, compartilhavam dos mesmos gargalos. A atuação da Sample6 traria inúmeros benefícios, redução dos custos de inventário, oportunidade das empresas em detectar rapidamente algum 8 problema de contaminação e tomar providências imediatas, conformidade com as normas vigentes com o uso da análise de dados. O autor apresenta um panorama do cenário do setor alimentício perante os casos de recalls que aconteceram nos EUA e os impactos causados, que estimularam as adaptações por parte das indústrias e por parte dos órgãos de regulamentação e fiscalização. Através de questionamentos mostra as principais impasses e reflexões perante o olhar de Curran como CEO da Sample6. Permite ao leitor perceber quais implicações estariam envolvidas nesta reunião e os fatos anteriores que influenciariam a reunião com diversos membros importantes da indústria alimentícia. O artigo é bem completo e detalhado, apresenta dados reais, planilhas e informações de muita relevância. Utiliza de linguagem de fácil interpretação para o leitor, sendo muito útil para profissionais da área de alimentos que desejam obter informações sobre a evolução da indústria.