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Quais as evidências de que os Cinodontes fósseis podem trazer informações sobre a Evolução? Sabe-se que os mamíferos constituem o grupo mais diversificado na natureza, desde o seu surgimento no Período Triássico da Era Mesozoica há cerca de 150 milhões de anos atrás (HICKMAN, 2004). Essa diversificação se deve, principalmente, a características que permitiram sua conquista aos diversos habitats, devido a capacidade de manter sua temperatura independentemente do meio, através de processos metabólicos (HICKMAN, 2004; SOARES, 2015). Filogeneticamente, os mamíferos são incluídos dentro do grupo Synapsida, que surgiu na Era Paleozoica, no Carbonífero. Esse grupo monofilético, se originou dos primeiros tetrápodes e se diferenciou por possuir uma única abertura temporal no crânio, diferente dos saurópsidos (Sauropsida), que possuem duas ou não possuem (como é caso dos Testudines) e incluem os répteis atuais (KARDONG, 2016). Segundo registros fósseis, os primeiros sinápsidos, os pelicossauros, se irradiaram durante todo o Permiano, no final do Paleozoico, e foram os primeiros organismos semelhantes a mamíferos, com o surgimento de algumas modificações, principalmente no crânio. Em seguida, com a irradiação desse grupo, surgiram os terápsidos (Therapsida), ainda mais parecidos com os mamíferos atuais. Com a grande extinção no final do Permiano, uma grande parcela desses ancestrais foram extintos (HICKMAN, 2004; KARDONG, 2016). Os mais bem-sucedidos após essa extinção, os Cinodontes, como aponta Mariana Bento Soares em seu artigo (2015), deram origem aos mamíferos atuais. E, entre os Cinodontes, a família Brasilodontedae, descoberta no Brasil, seria a principal candidata a ser considerada o grupo irmão dos mamíferos (SOARES, 2015). Estudos com fósseis do Triássico comprovam que os Cinodontes tinham uma distribuição cosmopolita, quando ainda existia o supercontinente Pangeia (ZOLNERVEVIC, 2015). Além disso, fósseis de Cinodontes foram importantes para estabelecer uma ligação entre a região da América do Sul e África (BONAPARTE, 1967). Alguns, como o Menandon beisairiei, da família dos traversodontídeos (família Traversodontidae)foi encontrado em camadas de rochas no leste africano e no sul do Brasil. Eram herbívoros, com aproximadamente 1 metro de comprimento e pareciam com capivaras (ZOLNERKEVIC, 2015). Outros, como os probainognatídeos (família Probainognathidae), eram insetívoros e pequenos (BONAPARTE, 2003). A família dos triteledontideos (Tritylodontidae) foi considerada, por muito tempo, o grupo irmão dos mamíferos. Estes já apresentavam uma dentição mais especializada e derivada (MARTINELLI, 2005). Porém, atualmente, uma família, Brasilodontidae, é proposta como o grupo irmão dos mamíferos, segundo análises nas estruturas ósseas, propondo um crânio articulado, dentição mais derivada e outras modificações craniais. Um gênero dessa família, o Brasilodon, apresentava dentes pós-caninos inferiores e superiores com cúspides simétricas e pouca diferenciação ao longo das fileiras dos dentes, além de semelhanças no crânio. Já apresentavam substituição dentária, como nos mamíferos, embora os indivíduos do gênero Brasilitherium aparentemente possuíam uma substituição alternada (BONAPARTE, 2003 e 2005). Uma grande variação de Cinodontes não mamíferos ocorreu, principalmente, na América do Sul. Uma nova espécie descoberta no Rio Grande do Sul, Botucaraitherium belarminoi, também apresentava características mais mammaliaformes (SOARES, 2014). Alguns Cinodontes também apresentavam padrões semelhantes aos mamíferos na cavidade nasal. Estudos feitos com crânios de brasilodontídeos foi possível revelar que alguns desses animais já possuíam endotermia (RODRIGUES, 2005). Os filhotes desses organismos já dependiam de um cuidado materno maior e, segundo Maier (1999) esse cuidado só poderia ocorrer com o surgimento de algumas características, como a endotermia e glândulas na pele. Para uma alimentação ativa, esses organismos desenvolveram uma língua mais muscularizada e o palato secundário, principalmente (MAIER, 1999). Ossos pós cranianos de um Cinodonte fóssil (Trucidocynodon riograndensis) indicam que esses Cinodontes já possuíam uma musculatura semelhante à de mamíferos. Esse e outros estudos puderam inferir sobre a postura mais ereta dos membros, principalmente pélvicos (OLIVEIRA, 2010). Por isso, com base em estudos de Cinodontes fósseis, pode-se perceber que, embora esses estudos estejam limitados a análise de certas características morfológicas, podem trazer informações importantes a respeito de certas características anatômicas, fisiológicas e até mesmo comportamentais. Esses estudos estabelecem relações de Cinodontes com mamíferos principalmente relacionadas à dentição, articulação da mandíbula, caixa craniana e esqueleto pós craniano (CROMPTON, 1969). Outro fator importante é que, embora os mamíferos tenham surgido já no Mesozoico, sua irradiação ocorreu principalmente no Cenozoico (HICKMAN, 2004; KARDONG, 2016). A extinção no final do Cretáceo, que levou ao fim dos dinossauros, foi um marco importante para a evolução dos mamíferos atuais, mas, outro fato que contribuiu para esse crescimento na taxa evolutiva foi, principalmente, o surgimento dos placentários, com características ainda mais adaptativas (BININDA-EMONDS, 2007). REFERÊNCIAS BININDA-EMONDS, O. R. F, et. al. The delayed rise of presente-day mammals. Nature, vol. 446. p. 507-512, 2007. BONAPARTE, J. F. New vertebrate evidence for a Southern transatlantic connection during the Lower or Middle Triassic. Paleontology, vol. 10. p. 554- 563, 1967. BONAPARTE, J. F., MARTINELLI, A. G., SCHULTZ, C. L., RUBERT, G. The sister group of mammals: small cynodonts from the late Triassic of Southern Brazil. Revista brasileira de paleontologia, vol. 5. p. 5-27, 2003. BONAPARTE, J.F., MARTINELLI, A.G, SCHULTZ, C.L. New information on Brasilodon and Brasilitherium (Cynodontia, Probainognathia) from the late triassic of Southern Brazil. Revista brasileira de paleontologia, vol. 8, n.1, p.25- 46, 2005. CROMPTON, A. W., JENKIS, F. A. Origin of mammals. In: DOBZHANSKY, T., HECHT, M. K., STEERE, W. C., Evolutionary Biology, vol. 3. New York, Appleton-Century-Crofts, 1969. HICKMAN., R. L. Princípios integrados de zoologia. 11. Ed. Rio de janeiro: Guanabara Koogan, 2004. KARDONG, K. V. Vertebrados - Anatomia comparada, função e evolução. 7. ed. Rio de janeiro: ROCA, 2016. MAIER, W. On the evolutionary biology of early mammals – with methodological remarks on the interaction between ontogenic adaption and phylogenic transformation. Zoologister Anzeiger, vol. 328, p.55-74, 1999. MARTINELLI, A., BONAPARTE, J. F., SCHULTZ, C.L., RUBERT, G. A new tritheledontid (Therapsida, Eucynodontia) from the Late Triassic of Rio Grande do Sul (Brazil) and its phylogenetic relationships among carnivorous non- mammalian eucynodonts. Argentina: Ameghiniana, v.42, n.01, 2005. OLIVEIRA, T. V. Postura e locomoção em cinodontes do Triássico sul- americano: um estudo de caso baseado em Trucynocinodon riograndensis OLIVEIRA, SOARES e SCHULTZ, 2010 (Triássico superior, formação Santa Maria, bacia do Paraná, Rio Grande do Sul, Brasil). Tese de doutorado (ciências) – UFRS, Porto Alegre, 2010. RODRIGUES, P. G. Endotermia em cinodontes não-mamalianos: a busca por evidências osteológicas. Dissertação de mestrado (Geociências) – UFRS, Porto Alegre, 2005. SOARES, M. B., MARTINELLI, A. G., OLIVEIRA, T. V. A new prozostrodontian cynodont (Therapsida) from the Late Triassic Riograndia Assemblage Zone (Santa Maria Supersequence) of Southern Brazil. Anais da academia brasileira de ciências, vol. 86, n. 4, p.1673-1691, 2014. SOARES, M. B. Cinodontes fósseis brasileiros revelam os primeiros passos da evolução dos mamíferos. São Paulo:Ciência e Cultura, v. 67, n. 4, 2015. ZOLNERKEVIC, I. A era de ouro dos Cinodontes – Espécie descoberta primeiro na África e agora no Brasil viveu durante o auge da diversidade dos animais percursores dos mamíferos. São Paulo: Pesquisa FAPESP. Ed. 238, 2015.
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