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Praticas Aplicadas em Bioquimica e Imunologia Clinica - Ebook

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Práticas Aplicadas em Bioquímica e Imunologia Clínica
AVALIAÇÃO DA GLICEMIA E DIABETES MELITO
Caio Cesar Richter Nogueira
PRATICAR PARA APRENDER
Os testes utilizados para a avaliação da glicose no sangue de pacientes são
os principais exames solicitados pelos médicos nos quais o analista clínico vai atuar
dentro do laboratório de análises clínicas, com destaque àqueles que envolvem o
diagnóstico de diabetes mellitus.
Também é função do Biomédico conhecer as vantagens e desvantagens de
cada método e escolher aquele que melhor atenda às necessidades do seu
laboratório. Entretanto, você sabe o tempo de jejum necessário para a realização
desses exames? Sabe se o paciente pode realizar atividade física ou fazer consumo
de café nos minutos que antecedem esses testes? Portanto, nesta seção você vai
aprender sobre os principais testes utilizados para quantificação da glicose;
parâmetros para coleta da amostra; processamento e armazenamento da amostra;
indicações dadas ao paciente; os principais métodos colorimétricos e enzimáticos
para utilizar na dosagem da glicose sérica e correlacionar a acidose metabólica
gerada pelo quadro de diabetes mellitus e os resultados da gasometria arterial.
Diferentes métodos são utilizados para a dosagem de glicose em laboratórios
de análises clínicas e as variáveis pré-analíticas podem influenciar no resultado
desses métodos. As principais variáveis pré-analíticas são: o horário de coleta da
amostra, o gênero e a idade do paciente, o jejum adequado e o fumo. Um
Biomédico responsável técnico foi chamado na recepção do seu laboratório de
análises clínicas para elucidar uma dúvida de um paciente. Ao chegar ao local, um
homem que estava no segundo período de jejum do teste oral de tolerância à
glicose explicou que gostaria de sair para fumar. No lugar do biomédico, qual seria
sua indicação para o paciente?
CONCEITO-CHAVE
Os diversos distúrbios do metabolismo de carboidratos resultam em
alterações na concentração de glicose no sangue. Essas desordens podem aumentar
a concentração de glicose, que é denominada hiperglicemia, ou podem resultar na
diminuição da concentração de glicose, denominada hipoglicemia. Em ambos os
casos, os exames realizados nas análises clínicas auxiliam o médico no diagnóstico
de doenças.
O exame de Glicemia Casual consiste na dosagem da glicose sérica realizada
em qualquer horário do dia, portanto o paciente não se encontra em jejum.
Segundo as Diretrizes da Sociedade Brasileira de Diabetes (2019-2020), pacientes
com glicemia ≥ 200 e com sintomas inequívocos de hiperglicemia podem ser
considerados portadores de diabetes.
VOCABULÁRIO
Glicemia: concentração de glicose no sangue.
Jejum: sem consumir nenhum tipo de alimento ou bebida, com exceção de água,
durante um período determinado.
O exame de glicemia em jejum consiste na dosagem laboratorial da
concentração de glicose na circulação sanguínea do paciente em jejum de 8 horas.
No teste de glicemia em jejum, a amostra deve ser preferencialmente coletada em
tubos contendo Fluoreto de Sódio, Cloreto de Sódio e Ácido
Etilenodiaminotetracético (EDTA). Segundo as Diretrizes da Sociedade Brasileira de
Diabetes (2019-2020), são considerados níveis normais de glicemia valores
inferiores a 100 mg/dL.
O teste de glicemia pós-prandial é um exame que avalia a capacidade do
paciente em metabolizar a glicose sanguínea após a ingestão de uma refeição, por
exemplo, após o almoço. A metodologia utilizada consiste na dosagem da glicose
sérica do paciente 1 a 2 horas após a refeição. Segundo a Sociedade Brasileira de
Diabetes, são considerados valores desejados para a glicemia capilar, no máximo,
180 mg/dL para pacientes diabéticos e até 140mg/dL para pacientes saudáveis.
O teste oral de tolerância à glicose (TOTG) é um exame que avalia a
capacidade do paciente em metabolizar a glicose sanguínea após a ingestão de
uma solução glicosada. Esse exame também é conhecido como teste de sobrecarga
de glicose, glicemia após sobrecarga oral de glicose, entre outros, com pequenas
variações na metodologia. A metodologia mais utilizada, consiste em uma primeira
coleta da amostra após 8 horas de jejum do paciente; depois da coleta, o paciente
deve realizar a ingestão de 75g de glicose diluída em água, permanecer 2 horas em
jejum e, posteriormente, ser encaminhado para a segunda coleta da amostra.
Visando a construção de uma curva glicêmica, o médico solicitante também pode
prescrever a coleta de 6 amostras, jejum, mais 5 a cada 30 minutos após o
estímulo com a solução glicosada.
REFLITA
O teste oral de tolerância à glicose (TOTG) utiliza em sua metodologia o
consumo de 75 g de glicose e é amplamente utilizado para o diagnóstico de
diabetes mellitus (DM). Entretanto, portadores dessa doença podem apresentar
altas concentrações de glicose em seu sangue durante períodos do dia. O consumo
da glicose por pacientes portadores de DM poderia resultar em complicações
agudas durante a realização do exame?
O teste de O’Sullivan é um exame que avalia a capacidade da gestante em
metabolizar a glicose sanguínea após a ingestão de uma solução glicosada. Alguns
autores consideram esse exame uma variação metodológica do teste oral de
tolerância à glicose, mudando apenas a concentração da glicose ingerida e o tempo
de jejum. A metodologia utilizada consiste em uma primeira coleta da amostra
após 8 horas de jejum. Depois da coleta, a gestante deve realizar a ingestão de
50g de glicose diluída em água, permanecer 1 hora em jejum e, posteriormente,
ser encaminhada para uma segunda coleta da amostra. Esse exame deve ser
realizado entre a 24ª e a 28ª semana de gravidez visando o diagnóstico de diabetes
gestacional. Segundo as Diretrizes da Sociedade Brasileira de Diabetes, são
considerados níveis normais de glicemia valores inferiores a 140 mg/dL.
O teste de hemoglobina glicada também pode ser conhecido como
hemoglobina glicosilada, glico-hemoglobina ou HbA1C. A metodologia do exame
consiste em avaliar a porcentagem da fração HbA1c que se encontra ligada à
molécula de glicose, portanto, o resultado do teste está intimamente relacionado
à concentração média de glicose sérica do paciente. Além disso, como as hemácias
possuem uma vida média de aproximadamente 3 meses, isso permite que o médico
faça uma avaliação da glicemia do seu paciente em um período prolongado e não
de forma pontual, como acontece com os outros exames que realizam apenas a
dosagem da glicose.
Para a coleta da amostra, o paciente não necessita de jejum obrigatório,
entretanto é recomendado um jejum de 4 horas, pois amostras ricas em lipídios
podem interferir no resultado do exame. O sangue do paciente pode ser obtido por
punção venosa ou punção capilar, o tubo para coleta deve conter o anticoagulante
EDTA ou Heparina. Segundo as Diretrizes da Sociedade Brasileira de Diabetes
(2019-2020), são considerados níveis normais de HbA1c valores inferiores a 5,7 %.
Os primeiros métodos utilizados para a dosagem de glicose no sangue de
pacientes foram baseados em reações químicas que geram cor. Com o passar dos
anos, enzimas foram adicionadas na reação química para aumentar a
especificidade do método, passando a ser chamados de testes
enzimáticos-colorimétricos. Vamos estudar os principais métodos usados na
dosagem de glicose.
A glicose oxidase (GOD) é uma enzima que possui como seu substrato a
molécula de β-D-Glicose, cuja função é catalisar a reação de oxidação dessa
molécula, resultando na formação de D-Glucona-delta-lactona e Peróxido de
hidrogênio (H2O2), que posteriormente é hidrolisado em ácido glucônico. Após a
reação mediada pela GOD, a enzima peroxidase (POD) inicia uma nova reação
química. As peroxidases são enzimas que oxidam substratos orgânicos, tendo o
peróxido de hidrogênio como molécula aceitadora de elétrons. Nesse método, o
peróxido de hidrogênio na presença da POD reage com a 4-Aminoantipirina e
Fenol, formando um complexo denominado Quinoneimina, um cromógeno decoloração vermelho cereja, cuja intensidade de cor é proporcional à concentração
de Glicose no Soro/Plasma do paciente e pode ser lida por espectrofotometria
utilizando a faixa de comprimento de onda entre 490 e 550 nm e absorção máxima
em 500 nm.
O método da hexoquinase (HK) consiste em duas reações. A primeira etapa
inicia na reação de conversão da molécula de glicose em glicose-6-fosfato através
da hidrólise de ATP. Posteriormente, a enzima Glicose-6-fosfato-desidrogenase
(G6PD) catalisa a conversão da glicose-6-fosfato e NADP+ em 6-fosfogliconolactona
e NADPH. O aumento da absorbância do NADPH é medido utilizando o comprimento
de onda em 340 nm, sendo, assim, a absorbância proporcional à concentração da
glicose no soro/plasma do paciente.
ASSIMILE
A enzima hexoquinase utilizada no método para dosagem de glicose é a
mesma que participa da via glicolítica presente no citoplasma das células,
fosforilando a molécula de glicose e formando a glicose-6-fosfato.
A glicose desidrogenase (GD) é uma enzima que catalisa a redução de NAD
formando gluconolactona e NADH. O aumento da absorbância do NADH é medido
utilizando o comprimento de onda em 340 nm, sendo, assim, a absorbância
proporcional à concentração da glicose no soro/plasma do paciente.
O diabetes mellitus (DM) é uma síndrome do metabolismo defeituoso de
carboidratos, lipídeos e proteínas de etiologia múltipla, decorrente da ausência de
secreção de insulina e diminuição da sensibilidade dos tecidos à insulina.
Segundo a Sociedade Brasileira de Diabetes, a DM pode ser classificada em
diferentes tipos:
O diabetes mellitus tipo 1 é uma doença metabólica na qual ocorre
destruição das células beta pancreáticas produtoras de insulina, resultando na
insulinopenia. Dentre os casos totais de DM, o diabetes do tipo 1 representa 5 a
10% e inicia antes dos 30 anos de idade, mas pode acometer indivíduos em
qualquer faixa etária. Devido à destruição das células beta pancreáticas, seu
tratamento exige a utilização de insulina. Subdivide-se em DM tipo 1A e DM tipo
1B, a depender da presença ou ausência de autoanticorpos no sangue do paciente.
O diabetes mellitus tipo 1A é caracterizado pela destruição autoimune das
células β pancreáticas com a presença de um ou mais anticorpos. Os princípios da
resposta imune contra as ilhotas pancreáticas foram descritos no ano de 1965,
entretanto a existência de anticorpos contra as ilhotas pancreáticas foi descrita
apenas em 1974. O processo de destruição das células β pancreáticas, denominado
insulite, ocorre pela agressão imunológica mediada por células linfocitárias,
macrófagos e células "natural killer”. A incidência da doença é variável entre a
população e áreas geográficas, entretanto existe uma predominância em indivíduos
de raça branca e maior taxa de incidência mundial na Finlândia e na Itália. Fatores
genéticos e ambientais desencadeiam a resposta autoimune, tendo múltiplos genes
associados ao desenvolvimento da doença. Foram descritos mais de vinte loci que
conferem suscetibilidade ao DM1A, estando os mais importantes localizados nos
cromossomos 1, 2, 6 e 11 e associados a mutações no antígeno leucocitário
humano. Dentre os fatores ambientais, as infecções virais, componentes dietéticos
e certas composições da microbiota intestinal estão mais associados ao
desenvolvimento da doença.
Os marcadores imunológicos utilizados no diagnóstico laboratorial da DM1A
são: anticorpo anti-ilhota (ICA), autoanticorpo anti-insulina (IAA), anticorpo
antidescarboxilase do ácido glutâmico (anti-GAD65), anticorpo
antitirosina-fosfatase IA-2 e anticorpo antitransportador de zinco (Znt8), sendo
esses anticorpos presentes no sangue dos pacientes anteriormente ao quadro
clínico da hiperglicemia.
a. Anticorpo Anti-ilhota (ICA): são anticorpos produzidos contra antígenos
não-específicos presentes nas ilhotas pancreáticas. As células produtoras de
glucagon, somatostatina e polipeptídeo pancreático, presentes nas ilhotas
pancreáticas são poupadas, entretanto as células β produtoras de insulina sofrem
atrofia durante a progressão da doença.
b. Anticorpo Anti-Insulina (IAA): São anticorpos produzidos contra a insulina.
c. Anticorpo antidescarboxilase do ácido glutâmico (anti-GAD65): são anticorpos
produzidos contra a enzima descarboxilase do ácido glutâmico (DAG). Também
conhecida como glutamato descarboxilase, a DAG tem como função catalisar a
reação de descarboxilação do glutamato em GABA. Está presente principalmente
no cérebro, mas também no pâncreas.
d. Anticorpo antitirosina-fosfatase IA-2 (anti-IA2): são anticorpos produzidos
contra o antígeno do Insulinoma-2 presente no pâncreas. Também conhecido como
antiproteína de membrana com homologia às tirosino-fosfatases.
e. Anticorpo antitransportador de zinco (anti-Znt8): são anticorpos produzidos
contra o transportador de zinco 8 (Znt8). O Znt8 é uma proteína encontrada na
membrana dos grânulos secretores de insulina das células β pancreáticas.
Para a dosagem laboratorial desses anticorpos, o jejum prévio não é
necessário e deve-se utilizar como amostra o soro do paciente. A hemólise, lipemia
e bilirrubina aumentada podem interferir nos métodos utilizados para quantificar
esses anticorpos.
A diabetes mellitus tipo 2 (DM2) é um distúrbio metabólico caracterizado
pela resistência à insulina (RI) e alta concentração de glicose sérica. A RI é
definida pela diminuição do efeito da insulina endógena em tecidos-alvo,
principalmente no tecido muscular e nos adipócitos. Como mecanismo
compensatório à resistência ocorre a liberação aumentada de insulina pelo
pâncreas, resultando em uma alta concentração de insulina no sangue, também
denominado hiperinsulinemia. Com a progressão da doença, ocorre a exaustão da
capacidade secretora das células β pancreáticas, gerando a incapacidade da
regulação da concentração de glicose sérica, podendo acontecer a hiperglicemia.
Dentre os casos totais de DM, o diabetes do tipo 2 representa 90 a 95% dos casos e
se inicia depois dos 40 anos de idade, mas pode acometer indivíduos em qualquer
faixa etária.
O diagnóstico laboratorial da DM pode ser realizado através de três
principais testes: glicose em jejum, teste oral de tolerância à glicose (TOTG) e
hemoglobina glicada.
Caso o exame laboratorial resulte em confirmação do diagnóstico de DM2, é
necessária a repetição dos exames alterados, idealmente o mesmo exame alterado
em segunda amostra de sangue do paciente.
EXEMPLIFICANDO
Um indivíduo portador de diabetes mellitus tipo 2 também pode apresentar
outras alterações laboratoriais, como, por exemplo, níveis de triglicerídeos e LDL
aumentados e alta concentração de fibrinogênio e proteína C reativa.
O diabetes mellitus gestacional (DMG) é definido como qualquer grau de
intolerância aos carboidratos, com início ou primeiro reconhecimento durante a
gestação, sem ter previamente preenchido os critérios diagnósticos de DM. As
primeiras alterações do metabolismo materno são geradas para suprir a
necessidade energética do feto. Durante o 3°e 4° trimestre de gestação,
hormônios placentários anti-insulínicos são liberados para prover um aporte ideal
de carboidratos para o feto, gerando resistência à insulina. Algumas mulheres que
engravidam e possuem fatores de risco ou doenças com algum grau de resistência à
insulina, como, por exemplo, na obesidade ou na síndrome dos ovários policísticos,
dependem de uma maior produção de insulina, resultando na incapacidade do
pâncreas em suprir essa necessidade. Esse quadro favorece a hiperglicemia,
caracterizando o diabetes mellitus gestacional.
O protocolo para diagnóstico laboratorial de DMG baseia-se no período de início do
pré-natal.
Pacientes portadores dos diferentes tipos de diabetes mellitus não
controlados, em decorrência da falta de insulina ou da resistência tecidual à
insulina, não conseguem utilizar a molécula de glicose como fonte para formação
de ATP em determinados tecidos. Isso ocorre, devido ao transportadorde glicose
(GLUT4) nas células do músculo esquelético, músculo cardíaco e tecido adiposo
que encontram-se armazenados em vesículas intracelulares que se fundem com a
membrana plasmática em resposta ao sinal da insulina. Isso faz com que o fígado
utilize moléculas de ácido graxo para a produção de acetil-CoA que pode entrar no
ciclo do ácido cítrico ou ser convertido em acetona, acetoacetato e
β-hidroxibutirato (corpos cetônicos) para ser utilizado em outros tecidos. No
diabetes existe uma superprodução desses corpos cetônicos que geram um
distúrbio ácido-base do sangue, denominado acidose metabólica ou cetoacidose
diabética.
Nos casos em que a doença progride para alterações ácido-base, o plasma
sanguíneo possui um mecanismo fisiológico e químico para tentar parar essas
alterações. O principal mecanismo químico presente no sangue dos seres humanos
é o sistema tampão bicarbonato, formado pelo Ácido carbônico (H2CO3), que
funciona como doador de prótons, e o Bicarbonato (HCO3-), que funciona como
aceptor de prótons. O ácido carbônico é formado a partir do dióxido de carbono
dissolvido, portanto um dos principais mecanismos fisiológicos de controle do pH
sanguíneo é o pulmão, uma vez que esse órgão pode aumentar a eliminação de
CO2 através da hiperventilação ou reter CO2 no sangue através da hipoventilação.
A análise dos gases arteriais e do pH é realizada rotineiramente na clínica
médica para avaliar os distúrbios ácido-base. Esses distúrbios podem ser
classificados em quatro tipos: acidose metabólica, acidose respiratória, alcalose
metabólica e alcalose respiratória. O exame utilizado para diferenciar os distúrbios
ácido-base do sangue é denominado gasometria arterial. É um exame no qual é
coletado sangue oriundo da artéria, que tem por objetivo avaliar os valores do pH
sanguíneo, pressão parcial de gás carbônico (pCO2) e oxigênio (PaO2) e a
concentração do íon Bicarbonato (HCO3).
Para a coleta da amostra deve-se dar preferência à artéria radial, braquial
ou femoral, em ordem de prioridade. O sangue arterial possui coloração vermelho
intenso se comparado ao sangue venoso, que possui coloração vermelho escuro.
Essa característica do sangue arterial pode ser utilizada para confirmação da
coleta de forma correta. O tubo para a coleta deve preferencialmente conter
Heparina.
Os valores de referência encontrados nos principais parâmetros avaliados na
gasometria arterial podem ser observados na tabela.
FAÇA A VALER A PENA
Questão 1
O corpo humano é capaz de utilizar reações químicas enzimáticas para
transformar diferentes tipos de macromoléculas em glicose, aumentando, assim, a
glicemia. A glicemia é o termo utilizado para definir a concentração de glicose no
sangue. No laboratório de análises clínicas podem ser realizados diversos testes
para avaliação da glicemia.
Dentre os testes utilizados na dosagem da glicemia, assinale a alternativa
que apresenta o exame que NÃO REQUER a necessidade de jejum em todas as
etapas do teste.
a. Teste de glicemia em jejum.
b. Teste de glicemia pós-prandial.
c. Teste de O’Sullivan.
d. Teste oral de tolerância à glicose.
e. Teste de hemoglobina glicada.
Questão 2
O teste oral de tolerância à glicose é um exame que avalia a concentração
de glicose no sangue do paciente após o consumo de uma quantidade conhecida de
glicose. Para realização do exame, o setor da recepção deve informar ao paciente
as medidas que devem ser seguidas antes e durante o exame.
Assinale a alternativa que apresenta uma indicação a ser dada ao paciente
para realização do teste oral de tolerância à glicose.
a. Durante os dias que antecedem o exame, o paciente deve evitar o consumo de
carboidratos.
b. Durante os dias que antecedem o exame, o paciente não pode realizar atividade
física.
c. O uso de medicamentos não precisa ser informado pelo paciente.
d. Durante as duas horas de jejum do exame, o paciente não deve caminhar.
e. O uso de drogas ilícitas não impede que o paciente realize o exame.
Questão 3
O diabetes mellitus (DM) é um grupo de distúrbios do metabolismo de
carboidratos, lipídeos e proteínas que resultam em níveis elevados de glicose no
sangue. Para realizar o diagnóstico dessa doença podem ser utilizados os testes de
glicemia de jejum, teste oral de tolerância à glicose (TOTG) e hemoglobina glicada
e seus respectivos resultados de glicemia.
Tomando como base as informações apresentadas, avalie as informações a seguir.
I. De acordo com a tabela, valores de glicemia de jejum inferiores a 100 mg/dL
podem indicar DM.
II. O teste oral de tolerância à glicose não pode ser utilizado para o diagnóstico de
DM.
III. Pacientes com valores de hemoglobina glicada inferiores à 5,7 não apresentam
DM.
IV. Um paciente que apresentou TOTG com valor igual a 250 mg/dL pode ser
considerado um paciente portador de DM.
Considerando o contexto apresentado, é correto APENAS o que se afirma em:
a. I e II
b. III e IV
c. I, II e III.
d. I, III e IV.
e. II, III e IV.
REFERÊNCIAS
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exames relacionados ao metabolismo glicídico. Sociedade Brasileira de Diabetes,
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enfoque nos novos critérios diagnósticos. Comunicação em Ciências da Saúde, v.
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AVALIAÇÃO DA GLICEMIA E DIABETES MELITO
Caio Cesar Richter Nogueira
SEM MEDO DE ERRAR
O biomédico sabe que algumas indicações devem ser seguidas pelo paciente
para evitar erros no teste oral de tolerância à glicose, como, por exemplo, durante
os 3 dias que antecedem as 8 horas de jejum do exame, o paciente deve realizar a
ingestão de, pelo menos, 150 g de carboidratos por dia; o paciente deve realizar
atividade física como de costume; deve informar o uso de medicações e
interferentes e durante o período de duas horas de jejum; e não deve fumar ou
caminhar. O fumo diminui a digestão/absorção de carboidratos,
consequentemente, na concentração de glicose sanguínea, diminuindo o aporte
energético ingerido. Portanto, o biomédico não deve autorizar que seu paciente
fume durante o segundo período de jejum. Além disso, o biomédico, como um
excelente analista da qualidade de seu laboratório, também deve realizar
treinamento da equipe de recepcionistas para evitar futuros erros.
AVANÇANDO NA PRÁTICA
SALVE A ESTAGIÁRIA!
A escolha do tipo de anticoagulante utilizado para coleta da amostra do
paciente é de extrema importância, pois essa etapa pode diminuir os erros
causados durante a fase analítica dos exames laboratoriais. Marcele é uma
estagiária do curso de biomedicina contratada para o setor de coleta de um
laboratório de análises clínicas. Durante sua rotina, um paciente foi encaminhado
para realizar o exame de hemoglobina glicada. Para essa coleta, ela precisa
escolher o tubo contendo o anticoagulante correto para a análise. Você, no local
de Marcele, que anticoagulante utilizaria para a coleta da amostra para o exame
de hemoglobina glicada?
Aplicando os conhecimentos das aulas da disciplina de Práticas em
Bioquímica e Imunologia Clínica, deve-se utilizar o tubo de coloração roxa que
contém o anticoagulante EDTA. Entretanto, se esse tubo acabar em seu
estoque, deve-se optar pelo tubo de coloração verde que contém o
anticoagulante heparina e encaminhar a amostra do paciente para o setor de
análise.
AVALIAÇÃO DA FUNÇÃO RENAL
Caio Cesar Richter Nogueira
PRATICAR PARA APRENDER
Estima-se que, atualmente no mundo, 850 milhões de pessoas possuem
diferentes tipos de doenças renais. Portanto, os laboratórios de análises clínicas
devem estar atentos às novas metodologias utilizadas para verificar a função renal
visando o diagnóstico precoce da doença. Nesta seção, você vai aprender quais
marcadores são utilizados para avaliação da função renal; quais os métodos
utilizados para a dosagem desses analitos no sangue do paciente e as indicações
para a coleta da amostra.
A insuficiência renal aguda (IRA) é um distúrbio em que os rins deixam de
filtrar os resíduos do sangue de forma súbita e rápida. Gabriel é um aluno do sexto
período de Biomedicina que está cursando a disciplina de Práticas Aplicadas em
Bioquímica e Imunologia Clínica. Em sua segunda aula prática, o professor da
disciplina levou o sangue e a urina de um paciente com IRA. Ao final da aula
prática, o professor solicitou um relatório com os valores obtidos na dosagem da
ureia, creatinina e ácido úrico, além dos resultados do exame de Elementos
Anormais e Sedimentos (EAS).Sabendo que a IRA altera a função renal, quais
possíveis resultados bioquímicos e de EAS você adicionaria ao relatório?
CONCEITO-CHAVE
Os biomarcadores utilizados para avaliar a função renal são de extrema
importância para a prática clínica, uma vez que os rins exercem funções essenciais
para o corpo humano como, por exemplo, a liberação de hormônios endócrinos e a
regulação e excreção de analitos no sangue. Diversos analitos podem ser utilizados
para avaliação do dano renal, entretanto os principais marcadores são conhecidos
como compostos nitrogenados não protéicos, pois são formados por um conjunto
de substâncias que possuem o átomo de nitrogênio em sua estrutura, com exceção
das proteínas. Essas substâncias são formadas através do catabolismo de proteínas
e ácidos nucleicos, sendo as principais: a ureia, a creatinina e o ácido úrico.
A ureia é uma substância produzida pelo fígado através da oxidação das
proteínas. Os aminoácidos sofrem degradação oxidativa em três circunstâncias
metabólicas diferentes:
a. Durante a síntese e degradação de proteínas da renovação tecidual.
b. Quando a concentração de proteína ingerida excede a necessidade do
organismo.
c. Quando as concentrações de carboidratos estão reduzidas, como, por
exemplo, no jejum e no diabetes mellitus, casos em que as proteínas são utilizadas
para a formação de energia.
Durante o catabolismo dos aminoácidos, o grupo amina das proteínas é
removido enzimaticamente da estrutura e convertido em amônia. Visto que a
amônia é tóxica ao organismo dos seres humanos, essa molécula é convertida em
ureia, filtrada pelo glomérulo. Apesar de ser facilmente filtrada pelos rins, 40 a
70% da ureia é reabsorvida de forma passiva para o plasma, tornando a ureia um
analito ineficiente na avaliação da taxa de filtração glomerular. Embora apresente
essas limitações, alterações na concentração de ureia sérica devido à insuficiência
renal aparecem primeiro se comparada a alterações na concentração de
creatinina.
A concentração de ureia com valores superiores à taxa normal no sangue é
chamada hiperuremia e as baixas concentrações são denominadas hipouremia. As
doenças que geram a hiperuremia são mais frequentemente verificadas nas
análises clínicas, podendo ser divididas em pré-renal, renal e pós-renal. A
hiperuremia pré-renal está correlacionada ao aumento da concentração de ureia
sem aumento de creatinina sérica e ausência de dano renal. Esse quadro pode ser
gerado pelo decréscimo do fluxo sanguíneo causado na insuficiência cardíaca,
hemorragias e desidratação. A hiperuremia renal está relacionada à diminuição da
filtração renal e ao aumento da concentração de ureia sérica gerada na
insuficiência renal aguda ou crônica. A hiperuremia pós-renal está correlacionada à
obstrução do trato urinário, resultando no aumento da reabsorção de ureia
causado pela obstrução ureteral e da saída da bexiga. A hipouremia pode ser
causada por lesões no fígado que o tornam incapaz de produzir ureia a partir da
oxidação das proteínas e por desnutrição.
Para a dosagem laboratorial da ureia no sangue não são necessárias
orientações prévias ao paciente. A amostra utilizada pode ser soro ou plasma
(colhido em EDTA, heparina ou citrato). É importante manter a amostra sob
refrigeração para impedir a decomposição bacteriana. A ureia também pode ser
dosada na urina, visando comparar sua concentração sérica.
Os métodos utilizados para a dosagem de ureia em líquidos biológicos
baseiam-se na reação química da ureia com outra substância, formando cor, ou
com a quebra da ureia no íon amônio que é posteriormente quantificado.
No método Urease, essa enzima quebra a ureia em íon Amônio e CO2. A
segunda reação química ocorre em uma solução de pH alcalino, na qual o Amônio
reage com o Salicilato e Hipoclorito de Sódio formando Monocloramina. A
Monocloramina na presença de nitroprussiato de sódio forma o Indofenol apresenta
uma molécula levemente esverdeada. Essa cor pode ser lida utilizando
espectrofotômetro, no comprimento de onda entre 570 a 610 nm.
No método Urease/Glutamato-desidrogenase, a quebra da ureia em íon
Amônio e CO2 também ocorre. A enzima Glutamato-desidrogenase é adicionada
junto ao NH3 e α-Cetoglutarato, oxidando NADH para NAD+. A oxidação de NADH a
NAD+ pode ser medida pela diminuição da absorbância, que é proporcional à
concentração de Ureia na amostra. Esse método diminui as interferências causadas
por desidrogenases e amônia na amostra.
A creatinina é formada por uma reação de desidratação não enzimática da
molécula de creatina. A creatina é formada por duas reações enzimáticas. A
primeira reação ocorre nos rins e é mediada pela enzima arginina: glicina
amidinotransferase que catalisa a reação de transaminação dos aminoácidos
argininae glicina em ácido guanidinoacético (GAA). O GAA é enviado para o sangue
e chega ao fígado, onde ocorre a segunda reação mediada pela enzima
guanidinoacetato N-metiltransferase, formando a creatina. Uma quantidade similar
de creatina é obtida através da alimentação. A creatina endógena e exógena é
fosforilada pela enzima creatina quinase, formando, assim, fosfocreatina que pode
ser usada no músculo esquelético. Cerca de 1% a 2% da creatina livre no músculo é
convertida de forma espontânea e irreversivelmente em creatinina diariamente. A
creatinina é filtrada pelos rins, não sofre metabolização e não é reabsorvida nos
túbulos renais, entretanto 25% da creatinina é proveniente da secreção. A
quantidade de creatinina excretada é proporcional à massa muscular do indivíduo,
portanto é proporcional ao sexo e idade do paciente.
ASSIMILE
A fosfocreatina é formada pela creatina que recebeu um grupo fosfato. Essa
molécula é clivada no músculo para reconstituir a molécula de ATP durante a
atividade física.
A concentração de creatinina com valores superiores à taxa normal no
sangue é chamada hipercreatinemia e as baixas concentrações são denominadas
hipocreatinemia. As doenças que geram a hipercreatinemia são mais frequentes
nas análises clínicas, podendo ser divididas em pré-renal, renal e pós-renal. A
hipercreatinemia pré-renal está correlacionada ao aumento da concentração de
creatinina sem aumento de ureia sérica e ausência de dano renal. Esse quadro
pode ser gerado por atrofia/necrose muscular esquelética, insuficiência cardíaca
congestiva, diabetes mellitus não controlada e uso excessivo de diuréticos. A
hipercreatinemia renal está correlacionada à diminuição da filtração renal e ao
aumento da concentração de creatinina sérica gerada na insuficiência renal aguda
ou crônica. A hipercreatinemia pós-renal está correlacionada à hipertrofia
prostática e a cálculos renais. A hipocreatinemia não desperta interesse clínico.
Para a dosagem laboratorial da creatinina no sangue não é necessário jejum
prévio. O paciente deve evitar exercício excessivo durante as 8 horas que
antecedem o exame e deve evitar a ingestão de carne vermelha em excesso
durante 24 horas. A amostra utilizada pode ser soro ou plasma (colhido em
Heparina, Oxalato, Fluoreto, Citrato ou EDTA).
O método de Jaffé modificado baseia-se na reação da creatinina com o
Ácido Pícrico em meio alcalino formando um complexo de coloração
amarelo-avermelhado denominado Creatinina-Picrato. Posteriormente, é
adicionado um reagente ácido, desfazendo o complexo Creatinina-Picrato,
permanecendo apenas a cor referente a outros cromogênicos presentes no sangue
do paciente, como a glicose e o ascorbato, entretanto níveis de acetoacetato,
acetona e bilirrubinas podem interferir com a reação. Por diferença entre as
leituras obtidas nos distintos pHs, obtém-se a concentração da creatinina.
O método Creatinina Amidohidrolase é baseado através da ação dessa
enzima que catalisa a reação na qual a creatinina é convertida em creatina. A
enzima Creatina Amidinohidrolase é adicionada para catalisar a reação de hidrólise
da creatina em Sarcosina e Uréia. A molécula de Sarcosina sofre ação da enzima
Sarcosina Oxidase, produzindo Glicina, Formaldeído e Peróxido de Hidrogênio
(H2O2). A enzima peroxidase catalisa a reação entre o H2O2, TOPS e
4-aminoantipirina, produzindo Quinoneimina. A absorbância da amostra pode ser
determinada através de espectrofotometria utilizando o comprimento de onda de
546 nm.
A dosagem de creatinina é amplamente utilizada para a avaliação da função
renal, entretanto pacientes podem ter uma taxa de filtração glomerular (TFG)
significativamente reduzida com valores normais de creatinina sérica. Isso ocorre
devido à influência de fatores como composição muscular, atividade física, dieta e
estado de saúde na concentração sérica de creatinina. Portanto, a depuração da
creatinina endógena (DCE) é mais utilizada para avaliação da função renal. A
depuração pode ser definida como o volume mínimo de plasma sanguíneo que
contém a quantidade total de determinada substância excretada na urina em 1
minuto. A depuração renal consiste na passagem de uma substância pela filtração
glomerular e sua posterior eliminação na urina. A depuração de uma substância
que não é reabsorvida nem secretada pelos túbulos e cuja concentração plasmática
é idêntica à do filtrado glomerular pode ser usada para avaliação da TFG, sendo a
creatinina uma excelente substância para essa função.
Para avaliação da depuração de creatinina endógena (DCE) deve-se utilizar
o volume de urina coletado durante 24 horas e pode ser calculado através da
fórmula:
DCE não corrigida = (creatinina urinária x volume urinário de 24h) /
creatinina sérica X 1440 minutos.
A excreção diária de creatinina diminui com a progressão da idade devido a
uma redução progressiva na massa muscular. Além disso, condições como
obesidade, em que um aumento do tecido adiposo determina uma redução na
porcentagem da massa muscular relacionada ao peso corporal, levam a uma menor
excreção diária de creatinina por kg de peso corporal. Portanto, foi criado um
cálculo para depuração de creatinina de acordo com a superfície corporal:
DCE ajustada = (Depuração não corrigida X 1,73) / Superfície corporal
REFLITA
Como visto anteriormente, a massa muscular e a obesidade podem alterar a
depuração da creatinina endógena. Sabendo disso, é possível que outros fatores
alterem a DCE? Se a resposta for afirmativa, como essas alterações podem
interferir no diagnóstico médico?
O Ácido Úrico é formado pelo catabolismo dos nucleotídeos púricos, sendo
eles a adenina e a guanina. Esses nucleotídeos sofrem ação da enzima
5’-nucleotidase que remove seus grupos fosfato formando Guanosina e Adenosina.
A enzima Adenosina-desaminase remove o grupo amina da Adenosina, formando
Inosina. Guanosina e Inosina sofrem ação da enzima Nucleosidade para remoção da
ribose e formam Guanina e Hipoxantina, respectivamente. A molécula de Guanina
perde seu grupo amina através da catálise da enzima Guanina-desaminase e a
molécula de Hipoxantina sofre oxidação da enzima Xantina-oxidase, para que
ambas formem a molécula de Xantina. Na última reação química, a enzima
Xantina-oxidase adiciona uma hidroxila à molécula de Xantina, formando o Ácido
Úrico. Como o corpo mantém a renovação celular continuamente, quantidades
constantes de ácido úrico são excretadas. O ácido úrico é um ácido fraco e a sua
forma ionizada, o urato monossódico, é a forma encontrada no plasma humano.
A concentração de ácido úrico com valores superiores à taxa normal no
sangue é chamada hiperuricemia e as baixas concentrações são denominadas
hipouricemia. As doenças que geram hiperuricemia estão correlacionadas com o
acúmulo de urato sérico, podendo ser devido ao aumento da sua síntese ou a
defeitos em sua eliminação. A solubilidade de urato de sódio nos líquidos corporais
é de cerca de 6,4 mg/100 ml, portanto, quando essa concentração é ultrapassada,
cristais são formados e se depositam nas articulações gerando um processo
inflamatório denominado Gota ou Artrite Gotosa. A hipouricemia está
correlacionada aos níveis reduzidos de ácido úrico (<2 mg/dL) e são encontrados
nas doenças hepatocelulares severas.
Para a dosagem laboratorial do ácido úrico no sangue não são necessárias
indicações prévias ao paciente. A amostra utilizada pode ser soro ou plasma
(colhido em EDTA ou heparina). É recomendada a separação do soro/plasma o mais
rápido possível das células.
Métodos exclusivamente químicos foram utilizados durante anos para a
dosagem de ácido úrico no sangue do paciente, entretanto a necessidade do uso de
substâncias tóxicas e que geram instabilidade nas soluções fizeram com que esses
métodos fossem abandonados. Atualmente, o método mais utilizado emprega a
enzima Uricase. A utilização da enzima confere maior especificidade na reação
química, na qual a uricase catalisa a oxidação do ácido úricoà alantoína, liberando
peróxido de hidrogênio. O peróxido de hidrogênio reage com diclorohidroxibenzeno
sulfonato e 4-aminoantipirina em uma reação catalisada pela enzima peroxidase,
formando um cromógeno de coloração cereja. A intensidade da cor cereja formada
é diretamente proporcional à concentração de Ácido Úrico na amostra.
Os níveis séricos de alguns eletrólitos podem auxiliar no diagnóstico de
doenças renais, sendo os principais a dosagem de sódio e potássio.
A obtenção do íon Sódio está intimamente relacionada à dieta. A absorção
desse eletrólito no intestino delgado é dependente da proteína de transporte
sódio-glicose (SGLT1) e da bomba de Sódio-Potássio. Uma vez absorvido, o sódio se
encaminha para o líquido extracelular, onde participa de mecanismos de controle
osmótico e potencial de ação. Sua concentração sérica pode ser alterada através
do consumo excessivo do Cloreto de Sódio ou pela excreção renal. Após a filtração
renal do sódio, cerca de 2/3 é reabsorvido no túbulo proximal por via paracelular.
Outra parte desse sódio utiliza de transportadores Sódio/Glicose,
Sódio/Aminoácidos, Sódio/Fosfato na membrana luminal e, posteriormente,
encaminhado para o sangue via bomba de sódio-potássio presente na membrana
basolateral. A reabsorção do sódio também pode ser influenciada pela liberação do
hormônio aldosterona.
A concentração de sódio com valores superiores à taxa normal no sangue é
chamada hipernatremia e as baixas concentrações são denominadas hiponatremia.
As doenças renais estão mais correlacionadas à hiponatremia, uma vez que os rins
lesados são incapazes de eliminar água do corpo e o excesso de água ingerida
produz uma diluição do sódio sérico. A hipernatremia está relacionada à
insuficiência renal.
Para a dosagem laboratorial do sódio no sangue não são necessárias
orientações prévias ao paciente. A amostra utilizada pode ser soro ou plasma
(somente heparina). É recomendada a separação do soro/plasma em até três horas
após a coleta.
O método β-Galactosidase é amplamente utilizado para a dosagem de sódio
sérico. Para essa metodologia, o substrato Nitrofenil -ß-D-Galactopiranose é
adicionado junto à enzima β-Galactosidase que utiliza o sódio da amostra como
cofator enzimático, formando Nitrofenil. A absorbância a 405nm do produto
Nitrofenil é proporcional à concentração de sódio sérico.
A obtenção do íon Potássio também está intimamente relacionada à dieta. O
principal mecanismo de absorção do potássio é a difusão passiva paracelular, que
ocorre em função do gradiente de concentração no lúmen intestinal. Uma vez
absorvido, o potássio se encaminha para o meio intracelular, onde participa de
mecanismos de controle osmótico e potencial de ação. Sua concentração sérica
pode ser alterada através do consumo excessivo do Cloreto de Potássio ou pela
excreção renal. Após a filtração renal do potássio, cerca de 70% são reabsorvidos
no túbulo proximal junto à água e ao sódio. Parte do potássio ainda é reabsorvido
na alça de Henle e no túbulo distal. Na membrana luminal do túbulo distal ocorre o
transporte dos íons sódio, cloro e potássio via um cotransportador Na+/K+/Cl-.
Quando esses íons chegam ao meio intracelular, o sódio é reabsorvido de
forma ativa pela bomba de Na+/K + presente na membrana basal. O cloro também
é reabsorvido na membrana basal por canais de cloreto dependentes de voltagem.
Já o potássio retorna ao lúmen tubular através de canais de potássio retificadores
de entrada (Kir). Essa recirculação local do potássio é necessária para que haja
substrato para o cotransportador Na+/K+/Cl-.
A concentração de potássio com valores superiores à taxa normal no sangue
é chamada hiperpotassemia e as baixas concentrações são denominadas
hipopotassemia ou hipocalemia.
Para a dosagem laboratorial do potássio no sangue não são necessárias
orientações prévias ao paciente. A amostra utilizada pode ser soro ou plasma. A
amostra deve ser totalmente isenta de hemólise, devido à alta concentração de
potássio no meio intracelular. Não deve ser utilizada a técnica de abrir e fechar a
mão para evidenciação das veias durante a coleta.
O método para dosagem de potássio é semelhante ao usado para a dosagem
de sódio, com exceção da substituição da enzima β-Galactosidase pela enzima
piruvatoquinase.
EXEMPLIFICANDO
Outros biomarcadores podem ser utilizados para avaliação da função renal,
como, por exemplo, a proteinúria, a albuminúria, o dismorfismo eritrocitário, a
Cistatina C, a Molécula-1 de lesão renal e a Interleucina-18.
FAÇA A VALER A PENA
Questão 1
A ureia foi descoberta pelo químico Hilaire Marin Rouelle, em 1773, e foi a
primeira substância orgânica sintetizada artificialmente, em 1828, por Friedrich
Woehler, obtida a partir do aquecimento do cianato de amônio. Esta síntese
derrubou a teoria de que substâncias orgânicas só poderiam ser sintetizadas pelos
organismos vivos. No corpo humano a ureia é sintetizada no __________ através da
degradação dos aminoácidos. Dentre as situações em que ocorre a degradação dos
aminoácidos estão: durante a síntese e __________ de proteínas da renovação
tecidual; quando a concentração de __________ ingerida excede a necessidade do
organismo; durante períodos de jejum prolongados e diabetes mellitus não
controlada.
Assinale a alternativa que preenche corretamente as lacunas.
a) cérebro / degradação / carboidratos.
b) fígado / degradação / carboidratos.
c) cérebro / degradação / proteínas.
d) fígado / produção / proteínas.
e) fígado / degradação / proteínas.
Questão 2
A escolha do método utilizado para análise de ureia no sangue do paciente é
um passo muito importante para o laboratório de análises clínicas, pois requer
avaliação de alguns parâmetros, como a repetibilidade, a reprodutibilidade,
sensibilidade, especificidade, custo e praticidade dos métodos.
A avaliação da repetibilidade de dois métodos foi calculada a partir de 40
determinações sucessivas, utilizando 3 amostras com concentrações diferentes,
obtendo-se os seguintes resultados:
Considerando os dados apresentados nas tabelas, assinale a alternativa correta.
a. O desvio padrão da amostra 1 no método de Urease foi maior que no método
Urease/Glutamato-desidrogenase.
b. A concentração média da amostra 2 no método de Urease foi maior que no
método Urease/Glutamato-desidrogenase.
c. O desvio padrão da amostra 3 no método de Urease/Glutamato-desidrogenase
foi menor que no método Urease.
d. A concentração média da amostra 1 no método de
Urease/Glutamato-desidrogenase foi menor que no método Urease.
e. Ambos os métodos possuem repetibilidade iguais.
Questão 3
Um homem de 70 anos de idade chega ao setor de urgência do hospital
apresentando fadiga, diminuição do apetite, náuseas, vômitos, dificuldade
respiratória e micção frequente. Após a avaliação por exames de imagem, o
paciente foi diagnosticado com Nefrite túbulo-intersticial. Para acompanhamento
do caso, o médico solicitou algumas dosagens laboratoriais, como descritas na
tabela:
Outras informações do paciente:
Volume da urina coletada em 24 horas= 1875 mL
Peso = 70 Kg
Altura = 170 cm
Tomando como base as informações apresentadas na Tabela 1, avalie as
informações a seguir.
I. A depuração de creatinina não corrigida desse paciente é de aproximadamente
23,98 mL/min.
II. A creatinina sérica desse paciente está dentro dos valores de referência.
III. A depuração de creatinina corrigida desse paciente é de aproximadamente
23,04 mL/min.
IV. A creatinina urinária desse paciente está dentro dos valores de referência.
Considerando o contexto apresentado, é correto APENAS o que se afirma
em:
a. I e II.
b. III e IV.
c. I, II e III.
d. I, III e IV.
e. II, III e IV.
REFERÊNCIAS
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and Management of Kidney Disease: Core Curriculum 2019. The American Journal
of Kidney Diseases, v. 73, n. 2, p. 258-272, 2019.
DUSSE, L. M. S.; RIOS, D. R. A.; SOUSA, L. P. N.; MORAES,R. M. M. S.; DOMINGUETI,
C. P.; GOMES, K. B. Biomarcadores da função renal: do que dispomos atualmente?
Revista Brasileira de Análises Clínicas, v. 49, n. 1, p. 41, 2017.
LEHNINGER, A.; NELSON, D. L. Biossíntese de aminoácidos, nucleotídeos e
moléculas relacionadas. In: Princípios de Bioquímica de Lehninger. 7. ed. Porto
Alegre: Artmed, 2019. cap. 22, p. 884.
LUFT, F. C. Biomarkers and predicting acute kidney injury. Acta physiol Oxford, v.
231, n. 1, p. 1-12, 2021.
MOTTA, Valter T. Diabetes e outras desordens dos carboidratos. In: Bioquímica
clínica para o laboratório: princípios e interpretações. 5. ed. Porto Alegre: Médica
Missau, 2003. cap.15, p. 227-240.
OSTOJIC, S. M.; NIESS, B.; STOJANOVIC, M.; OBRENOVIC, M. Metabolismo da
creatina e perfis de segurança após administração oral de ácido guanidinoacético
de seis semanas em humanos saudáveis. International Journal of Medical
Sciences, v. 10, n. 2, p. 141-147, 2013.
AVALIAÇÃO DA FUNÇÃO RENAL
Caio Cesar Richter Nogueira
SEM MEDO DE ERRAR
O desenvolvimento da IRA está relacionado a uma resposta inflamatória
renal causada por diferentes tipos de lesão. Essa lesão induz que as células
endoteliais e tubulares renais liberem mediadores químicos, induzindo a migração
de leucócitos para o local. Durante a migração, os neutrófilos liberam citocinas
pró-inflamatórias que podem agravar a lesão tubular, gerando descamação de
células viáveis e apoptose. A obstrução tubular pelas células descamadas, a
vasoconstrição renal devido à liberação de mediadores vasoativos e o efeito direto
no glomérulo caracteriza a IRA. Para o diagnóstico laboratorial, a dosagem da
concentração sérica de ureia e de creatinina são os padrões-ouro. Na ausência de
filtração glomerular, a ureia aumenta de 10 a 15 mg/dL/dia e a creatinina
aumenta de 1,0 a 1,5 mg/dL/dia no sangue do paciente. Na Nefrite intersticial, é
possível observar no EAS a presença de leucócitos, hemácias, células epiteliais,
cilindros leucocitários e proteinúria leve.
AVANÇANDO NA PRÁTICA
UM LABORATÓRIO NOVO PARA CHAMAR DE MEU!!!
Diferentes métodos são utilizados para a dosagem de ureia em laboratórios
de análises clínicas. Cada método possui variações em sua especificidade,
sensibilidade e precisão. Um biomédico foi contratado para implementar o setor
de bioquímica do laboratório. Depois da análise de custos, o biomédico pode
escolher entre o método de Urease ou o método Urease/Glutamato-desidrogenase,
sendo seu objetivo diminuir a probabilidade de interferências no método. No lugar
do biomédico, qual método você escolheria para ser utilizado no laboratório?
O biomédico sabe que, em ambos os métodos, existe a enzima Urease
que tem como função quebrar a ureia em íon Amônio e CO2. No método Urease
o amônio reage com o Salicilato e Hipoclorito de Sódio, formando
Monocloramina, que posteriormente forma o Indofenol. Já no método
Urease/Glutamato-desidrogenase, a enzima Glutamato-desidrogenase é
adicionada junto ao NH3 e α-Cetoglutarato, oxidando NADH para NAD+. A
adição da enzima confere maior especificidade ao método diminuindo
interferências causadas por outras desidrogenases e amônia na amostra.
AVALIAÇÃO DA LESÃO E FUNÇÃO HEPÁTICA
Caio Cesar Richter Nogueira
PRATICAR PARA APRENDER
O fígado é um dos órgãos mais importantes do corpo humano, possuindo
inúmeras funções, tais como a regulação do metabolismo das macromoléculas,
síntese de proteínas, síntese e degradação de hormônios, armazenamento de
glicogênio e excreção de substâncias tóxicas. Portanto, nesta seção você vai
aprender os marcadores utilizados para avaliação da função hepática; métodos
utilizados para a dosagem desses analitos no sangue e orientações para a coleta da
amostra.
Em inúmeras doenças hepatobiliares os níveis séricos das enzimas alanina
aminotransferase e aspartato aminotransferase podem estar aumentadas, como,
por exemplo, nas hepatites virais e na cirrose. Um biomédico, responsável pelo
setor de bioquímica recebe em seu laboratório uma amostra de um paciente com
suspeita de lesão hepática para dosagem das transaminases e do cálculo do
coeficiente de ritis. Após avaliação das transaminases, os valores das
concentrações de Alanina aminotransferase e Aspartato aminotransferase
encontrados foram de 69 U/L e 121 U/L, respectivamente. Entretanto, o
biomédico não lembra da fórmula utilizada para determinar o coeficiente de ritis.
No lugar do biomédico, utilizando os resultados encontrados de ALT e AST, qual
seria o valor obtido do coeficiente de ritis? O valor do coeficiente indica uma
doença aguda ou crônica?
Reflita: você já ouviu alguém dizer que se arrependeu de ter estudado?
Certamente não. Portanto, estude sempre.
CONCEITO-CHAVE
O perfil hepático, também conhecido como teste de função hepática, é
utilizado para avaliar e acompanhar a funcionalidade do fígado e das doenças
hepáticas. Os exames realizados nesse grupo podem variar de acordo com a
solicitação médica, entretanto geralmente é composto pelos seguintes testes:
Bilirrubinas totais, direta e indireta; Alanina aminotransferase; Aspartato
aminotransferase; Gama-glutamiltransferase, Fosfatase Alcalina e Albumina.
A bilirrubina é o produto final do catabolismo do grupo prostético Heme.
Aproximadamente 250-400 mg de bilirrubina são produzidos diariamente pelo
corpo humano. Cerca de 75% da concentração de bilirrubina tem origem na
renovação de hemácias senescentes e 25% vêm da eritropoiese ineficaz e de outras
hemeproteínas. O ferro da molécula heme retorna ao plasma, liga-se à transferrina
e é transportado até o fígado. Já a protoporfirina IX é clivada no sistema retículo
endotelial em biliverdina mediado pela enzima heme oxigenase. A biliverdina sofre
ação da enzima biliverdina redutase para formar a bilirrubina não conjugada ou
bilirrubina indireta (BI). A bilirrubina indireta é insolúvel em água, portanto
possui dificuldade de ser transportada pela corrente sanguínea. Para isso, a BI
precisa ser ligada à proteína plasmática albumina que a transporta pelo sangue até
o fígado. Os hepatócitos possuem um sistema seletivo e altamente eficiente para a
remoção da bilirrubina não conjugada do plasma, denominado transportador de
ânions orgânicos. No interior do hepatócito, a bilirrubina liga-se à ligandina, uma
proteína citosólica que auxilia o transporte para o retículo endoplasmático, onde a
enzima glicuroniltransferase catalisa a conjugação da bilirrubina com o ácido
UDP-glicurônico formando monoglicuronídeo e, posteriormente, em diglicuronídeo
de bilirrubina, também chamada bilirrubina conjugada ou bilirrubina direta (BD).
A bilirrubina direta é excretada através do polo biliar dos hepatócitos que está em
íntimo contato com os canalículos biliares e, posteriormente, no intestino. No
cólon intestinal, a bilirrubina direta sofre ação da enzima glicuronidase bacteriana
para formar urobilinogênio, que é eliminado nas fezes, na forma de estercobilina.
Uma parte da bilirrubina é reabsorvida através da mucosa intestinal e volta ao
fígado pelo sistema porta, constituindo o sistema entero-hepático.
A concentração de bilirrubina com valores superiores à taxa normal no
sangue é chamada hiperbilirrubinemia e as baixas concentrações são denominadas
hipobilirrubinemia. As doenças que geram a hiperbilirrubinemia são mais
frequentes nas análises clínicas, podendo ser divididas em hiperbilirrubinemia
indireta e direta. Em ambas as formas, quando as concentrações de bilirrubina
excedem 3 mg/dL no sangue, torna-se evidente o aparecimento do sintoma
denominado icterícia, caracterizado pela coloração amarelada da pele, olhos e
mucosas. Na hiperbilirrubinemia indireta existe o aumento sérico de bilirrubina
não conjugada, impossibilitando que o hepatócito absorva toda essa concentração.
Esse quadro pode ocorrer principalmente no recém-nascido pela pouca atividade
da enzima glicuroniltransferase e por doenças hemolíticas. Já na
hiperbilirrubinemia direta existe o aumento sérico de bilirrubina conjugada,indicando comprometimento na captação, armazenamento ou excreção da
bilirrubina, que pode ser gerada por complicações em vários órgãos,
principalmente por lesões hepatocelulares e infecções virais.
REFLITA
Como acabamos de estudar, a hiperbilirrubinemia indireta está
principalmente relacionada a doenças hemolíticas. Você consegue pensar em
alguma doença desse tipo? Além disso, quais exames imunohematológicos podem
ser realizados para auxiliar no diagnóstico dessas doenças?
Para a dosagem laboratorial da bilirrubina no sangue, atualmente, não são
necessárias orientações prévias ao paciente. A amostra utilizada pode ser soro ou
plasma (coletada em EDTA ou Heparina) livres de hemólise. É importante manter a
amostra no escuro até a realização do exame.
ASSIMILE
A ação da luz pode alterar a estrutura da molécula de bilirrubina produzindo
fotoprodutos, como a lumirrubina. Esses fotoprodutos não são dosados nos métodos
utilizados para avaliação da bilirrubina. A incidência da luz pode destruir, em uma
hora, até 50% da bilirrubina presente na amostra.
O principal método utilizado para a dosagem de bilirrubina baseia-se na
reação com o Ácido Sulfanílico Diazotado, formando um complexo denominado
Azobilirrubina, de coloração vermelha. Essa cor pode ser lida através de
espectrofotometria utilizando o comprimento de onda entre 500 e 550 nm. A
Bilirrubina Direta é dosada em meio aquoso, já para a dosagem da Bilirrubina total
(Bilirrubina Direta + Bilirrubina Indireta), deve-se adicionar álcool para permitir a
solubilidade da bilirrubina indireta.
As transaminases são enzimas que catalisam a transferência do grupo amino
de um aminoácido para um α- cetoácido. Essas enzimas são denominadas a partir
da molécula que doa o grupo amino. O fígado produz mais de 60 transaminases,
entretanto apenas duas possuem importância clínica, sendo elas a alanina
aminotransferase e a aspartato aminotransferase. No citoplasma do hepatócito, a
enzima alanina aminotransferase (ALT), também conhecida como transaminase
glutâmico pirúvica (TGP), catalisa a reação de doação do grupo amino da molécula
de alanina para o α-cetoglutarato, formando piruvato e glutamato. Já a enzima
aspartato aminotransferase (AST), também conhecida como transaminase
glutâmico-oxalacética (TGO), catalisa a reação de doação do grupo amino da
molécula de glutamato para o Oxaloacetato, formando α-cetoglutarato e aspartato
no interior da mitocôndria.
A concentração de transaminases com valores superiores à taxa normal no
sangue é chamada hipertransaminasemia e as baixas concentrações são
denominadas hipotransaminasemia. O aumento dos níveis séricos das
aminotransferases estão relacionados a hepatopatias. Uma vez que as
concentrações de ALT no citoplasma do hepatócito são maiores do que os níveis de
AST (80% no interior da mitocôndria) seus níveis séricos podem ser utilizados para
avaliação da gravidade da lesão. A razão das atividades séricas de AST e ALT foi
descrita por Fernando De Ritis, em 1957, e é conhecida como coeficiente de Ritis.
O coeficiente consiste na divisão da concentração plasmática de AST pela
concentração plasmática de ALT.
Coeficiente de Ritis = Concentração de AST
___________________________
Concentração de ALT
Se o valor da divisão for maior que 1, isso pode indicar lesões crônicas,
como a cirrose crônica e hepatites crônicas. Caso o valor da divisão for menor que
1, pode ser indicativo de lesões agudas, como nas hepatites agudas.
Para a dosagem laboratorial das transaminases no sangue, não é necessário
jejum prévio. O paciente não pode ter realizado eletroneuromiografia nos últimos
três dias e biópsia muscular ou hepática nos últimos 5 dias. A amostra utilizada
pode ser soro ou plasma (coletada em EDTA ou Heparina) livres de hemólise.
O método utilizado para a dosagem das transaminases baseia-se na função
de cada enzima. A ALT catalisa a transferência do grupamento amina da Alanina
para α-Cetoglutarato, formando piruvato e glutamato. O Piruvato, em presença de
outra enzima denominada lactato desidrogenase, reage com o NADH, reduzindo o
Lactato, e o NADH oxida-se a NAD+. A velocidade de oxidação é proporcional à
atividade da ALT na amostra. A enzima AST catalisa a transferência do grupo amina
do Aspartato para o α-Cetoglutarato, formando Glutamato e Oxalacetato. O
Oxalacetato em presença de outra enzima, denominada malato desidrogenase,
reage com o NADH, reduzindo o Malato e o NADH oxida-se a NAD+. A velocidade de
oxidação é proporcional à atividade da AST na amostra.
A γ-glutamiltransferase (γ-GT), também conhecida como
γ-glutamiltranspeptidase, é uma glicoproteína heterodimérica que catalisa a
transpeptidação e hidrólise do grupo -glutamil da glutationa e substâncias
relacionadas. A γ-GT está presente principalmente nas vias biliares, rins,
intestinos, próstata, pâncreas, pulmões, cérebro e coração.
Não existe uma nomenclatura técnica para denominar o aumento ou
diminuição dos níveis séricos das γ-glutamiltransferase. O aumento dos níveis
séricos de γ-GT estão relacionados ao dano hepático ou dos ductos biliares, abuso
de álcool e doenças renais crônicas.
Para a dosagem laboratorial da γ-GT no sangue, não é necessário jejum
prévio. O paciente não deve ingerir álcool por 24 horas antes da prova. A amostra
utilizada pode ser soro ou plasma (Heparina ou EDTA). Anticoagulantes contendo
Citrato, Fluoreto ou Oxalato inibem a atividade da Gama GT.
No método para a dosagem de γ-GT é adicionado
γ-Glutamil-3-Carboxi-4-Nitroanilida e Glicilglicina na presença da enzima γ-GT,
resultando na formação de γ -Glutamilglicilglicina e 5-Amino-2-Nitrobenzoato. A
velocidade de formação da 5-Amino-2-Nitrobenzoato em 405 nm é proporcional à
atividade da enzima.
As fosfatases alcalinas (FA) são um grupo de isoenzimas que catalisam a
hidrólise de ésteres de fosfato orgânicos em pH alcalina, tendo zinco e magnésio
como cofatores. Existem diversas isoenzimas expressas na mucosa do intestino
delgado, nos canalículos biliares, túbulos renais, baço, osteoblastos, leucócitos e
na placenta. Cerca de 80% da enzima no soro é liberada pelo fígado e os ossos. No
fígado, as FA estão presentes na membrana dos canalículos dos hepatócitos. Os
níveis de FA sérica variam com a idade em indivíduos normais e seus níveis são
elevados durante a infância devido ao crescimento ósseo.
A concentração de FA com valores superiores à taxa normal no sangue é
chamada hiperfosfatasemia alcalina, e as baixas concentrações são denominadas
de hipofosfatemia alcalina. As doenças que geram a hiperfosfatasemia alcalina são
mais frequentes nas análises clínicas. A hiperfosfatasemia alcalina pode ser gerada
em qualquer tipo de obstrução hepática, podendo permanecer em níveis elevados
por até 1 semana. Os níveis séricos de FA também podem estar elevados em
doenças ósseas caracterizadas pela hiperatividade osteoblástica.
Para a dosagem laboratorial da FA no sangue, não é necessário jejum prévio,
evitando alimentos ricos em lipídeos. A amostra utilizada pode ser soro ou plasma
(Heparina). As hemácias possuem altas concentrações de FA, portanto a amostra
não pode conter hemólise.
No método para dosagem de FA é adicionado p-nitrofenilfosfato e AMP na
presença da enzima FA, resultando na formação de p-Nitrofenol. A velocidade de
liberação do p-Nitrofenol é proporcional à atividade enzimática da Fosfatase
Alcalina da amostra.
A albumina é uma proteína plasmática produzida pelos hepatócitos,
composta por uma cadeia peptídica de 585 aminoácidos (66,5 KDa) com
abundância de resíduos de lisina, arginina, glutamato e aspartato. Em um humano
adulto saudável, a albumina é sintetizada a uma taxa entre 12 e 25 g por dia. Suas
principais funções são a geração da pressão coloidosmótica e transporte de
bilirrubina, lipídios, hormônios lipossolúveis e fármacos.
A concentração de albumina com valores superiores à taxa normal no sangue
é chamada hiperalbuminemia e as baixas concentrações são denominadashipoalbuminemia. O aumento dos níveis séricos de albumina é raro, como nos
casos de carcinomatose metastática e desidratação aguda. Já a hipoalbuminemia é
encontrada nas doenças crônicas hepáticas, principalmente na cirrose,
insuficiência renal aguda, pacientes renais crônicos e em indivíduos com
dificuldade na absorção de nutrientes.
Para a dosagem laboratorial da albumina no sangue, não é necessário jejum
prévio. A coleta deve ser feita preferencialmente pela manhã, devido ao efeito
circadiano. Durante a coleta, deve-se evitar a estase prolongada. A amostra
utilizada deve ser soro livre de hemólise.
EXEMPLIFICANDO
A concentração de albumina na urina coletada durante 24 horas é de até 30
mg, no entanto, quando são verificados níveis entre 30 e 299 mg, esse quadro pode
ser denominado microalbuminúria. Algumas das situações em que pode ser
verificada a microalbuminúria são: diabetes, hipertensão, doenças
cardiovasculares, doenças renais e alimentação rica em proteínas.
No método de dosagem da albumina é utilizado o reagente Verde
Bromocresol. A albumina liga-se ao Verde de Bromocresol formando um complexo
corado que exibe um espectro de absorção diferente do corante no seu estado
livre, permitindo a dosagem da concentração da albumina.
Os analitos utilizados para a avaliação da função hepática são de grande
auxílio no diagnóstico de doenças hepáticas, entretanto devem ser utilizados em
conjunto e em associação com o grau de evolução da doença (agudo ou crônico).
FAÇA A VALER A PENA
Questão 1
A concentração de Fosfatase Alcalina com valores superiores à taxa normal
no sangue é chamada hiperfosfatasemia alcalina, e as baixas concentrações são
denominadas hipofosfatasemia alcalina.
A enzima Fosfatase Alcalina é uma enzima responsável pela hidrólise de
ésteres de fosfato orgânicos em pH __________. Essa enzima está presente em
inúmeros órgãos, entretanto a concentração da fosfatase alcalina presente no
sangue está relacionada aos danos no __________ e nos __________.
Assinale a alternativa que preenche corretamente as lacunas.
a. alcalino / fígado / ossos.
b. ácido / fígado / ossos.
c. alcalino / cérebro / ossos.
d. ácido / fígado / adipócitos.
e. alcalino / cérebro / adipócitos.
Questão 2
Os prefixos são morfemas utilizados antes dos radicais com intuito de
modificar o sentido, entretanto não produzem mudanças de classe gramatical. Os
prefixos hiper e hipo são amplamente utilizados nas análises clínicas com intenção
de indicar que a concentração de um analito está aumentada ou diminuída nos
líquidos biológicos. Esses prefixos são utilizados em alguns marcadores de
avaliação da função hepática.
Tomando como referência as informações apresentadas, julgue as afirmativas a
seguir em (V) Verdadeiras ou (F) Falsas.
( ) O termo hipoalbuminemia é utilizado quando um paciente apresenta níveis
baixos de albumina no sangue.
( ) O termo hiperbilirrubinemia direta é utilizado quando um paciente apresenta
níveis elevados de bilirrubina não conjugada no sangue.
( ) O termo hiperbilirrubinemia indireta é utilizado quando um paciente apresenta
níveis elevados de bilirrubina indireta no sangue.
( ) O termo hipofosfatasemia alcalina é utilizado quando um paciente apresenta
níveis elevados de fosfatase alcalina no sangue.
Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA.
a. V - V - F - F.
b. F - F - V - V.
c. V - F - V - F.
d. V - F - V - V.
e. V - V - V - F.
Questão 3
Um homem, com idade de 20 anos, chega ao hospital no setor de urgência
apresentando febre, fadiga, perda de apetite e dores abdominais. O paciente
também relata que sua urina encontra-se escura, suas fezes claras e que
compartilha seringas com outros indivíduos no intuito de utilizar drogas ilícitas.
Durante a avaliação física, o médico percebe que a mucosa ocular do paciente
encontra-se extremamente amarelada. Após avaliação clínica, o médico suspeita
de hepatite viral e solicita a dosagem laboratorial de bilirrubina, ALT, AST e
albumina.
Tomando como base as informações apresentadas na Tabela 1, avalie as
informações a seguir.
I. O aumento na concentração sérica de bilirrubina direta pode estar relacionado
ao dano celular gerado pela lesão das células hepáticas.
II. A concentração sérica de alanina aminotransferase e aspartato
aminotransferase indicam que a lesão gerada pela hepatite viral é aguda.
III. A concentração sérica de albumina encontra-se dentro dos valores de
referência, pois seu aumento está relacionado a lesões crônicas hepáticas.
IV. A concentração de bilirrubina indireta também deveria estar aumentada, pois
em hepatites agudas a lesão do hepatócito libera bilirrubina indireta no sangue.
Considerando o contexto apresentado, assinale a alternativa que apresenta as
afirmativas corretas.
a. I e II, apenas.
b. III e IV, apenas.
c. I, II e III, apenas.
d. I, III e IV, apenas.
e. II, III e IV, apenas.
REFERÊNCIAS
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AVALIAÇÃO DA LESÃO E FUNÇÃO HEPÁTICA
Caio Cesar Richter Nogueira
SEM MEDO DE ERRAR
A atividade das transaminases é utilizada como indicadora de danos
hepatocelulares e o coeficiente AST:ALT (quociente de Ritis) tem grande valor
diagnóstico. Após avaliação das transaminases, os valores das concentrações de
Alanina aminotransferase e Aspartato aminotransferase encontrados no sangue de
um paciente foram de 69 U/L e 121 U/L, respectivamente. Portanto, para obter o
coeficiente de Ritis, basta o biomédico dividir o valor da concentração de
Aspartato aminotransferase pela concentração de alanina aminotransferase. Após a
divisão dos valores, o biomédico encontrou o valor de 1,75 U/L. Uma vez que o
valor encontrado foi maior do que 1, isso pode indicar lesões crônicas, como a
cirrose e hepatites crônicas.
AVANÇANDO NA PRÁTICA
CUIDADO COM A LUZ
A bilirrubina é uma substância de coloração amarelada produzida pelas
hemácias e pelo fígado. O exame de bilirrubina pode auxiliarno diagnóstico de
doenças hepáticas, vias biliares ou alterações hematológicas (anemia hemolítica).
Fábio é um biomédico responsável pelo setor de coleta de um hospital de
emergência. Durante a rotina de coleta, Fábio foi chamado para um procedimento
no Centro de Terapia Intensiva (CTI) e precisou deixar sua funcionária mais nova no
setor de coleta. Após uma hora no CTI, Fábio volta para o setor de coleta e repara
que sua funcionária havia coletado uma amostra para dosagem de bilirrubina em
um tubo sem proteção da luz. Quais procedimentos você tomaria com a amostra
coletada?
A fase pré-analítica dos laboratórios de análises clínicas é de extrema
importância para a qualidade da amostra que será analisada. Alguns fatores,
como temperatura de armazenamento, manuseio e fotossensibilidade da
amostra podem influenciar em um diagnóstico correto. A exposição à luz pode
alterar as características de alguns analitos, acelerando sua degradação e
influenciando a análise. Portanto, é recomendado preservar ao abrigo da luz
em tubo âmbar as alíquotas para dosagem de bilirrubina, betacaroteno,
vitamina A, vitamina B6 e porfirinas. Com a exposição da amostra à luz, sabe-se
que a concentração de bilirrubina no soro está diminuída devido à oxidação da
amostra, portanto solicita-se uma nova coleta e se descarta a amostra anterior.
AVALIAÇÃO DAS DISLIPIDEMIAS
Caio Cesar Richter Nogueira
PRATICAR PARA APRENDER
Os principais tipos de lipídeos presentes nos alimentos são os triglicerídeos,
os fosfolipídeos e o colesterol. Esses lipídios são utilizados principalmente para a
formação de energia através da beta-oxidação e na formação de hormônios
esteroidais. Esses lipídios e os seus transportadores podem ser utilizados para
avaliação do metabolismo e das doenças. Portanto, nesta seção você vai aprender
os tipos de lipídeos; métodos utilizados para a dosagem desses analitos no sangue
do paciente e orientações para a coleta da amostra.
Uma criança (3 anos) é atendida em um hospital de emergência, sendo filho
único de pais consanguíneos, sem antecedentes de doenças na família. Os pais
encaminharam a criança para o hospital devido ao choro prolongado e à dilatação
abdominal. Após avaliação de exames de imagem, o raio-X de abdômen mostrou
aumento do fígado e a ultrassonografia de abdome revelou hepatomegalia. Na
investigação laboratorial, foi solicitada a dosagem de AST, ALT, bilirrubinas e perfil
lipídico. Uma biomédica recebe a amostra da criança no laboratório de análises
clínicas do hospital. Ao observar o soro do paciente, ela percebe que a amostra
apresenta lipemia acentuada. Pensando nos exames solicitados, quais análises você
realizaria e qual o procedimento prévio deve ser realizado com a amostra?
CONCEITO-CHAVE
Os lipídios são um conjunto de macromoléculas, cuja característica química
em comum é ser insolúvel em água (hidrofóbico). Eles são fundamentais para a
produção de energia, constituição da membrana plasmática e precursores de
hormônios e sais biliares. Dentre os lipídeos de importância nas análises clínicas,
encontram-se as moléculas de triacilglicerol, o colesterol e os transportadores de
lipídeos, como as lipoproteínas. O lipidograma é um exame laboratorial solicitado
pelo médico com o objetivo de verificar o perfil lipídico do paciente, sendo ele
composto pela dosagem do colesterol total (CT), lipoproteína de alta densidade
(HDL), lipoproteína de baixa densidade (LDL) e triglicerídeos, podendo esse perfil
lipídico ser estendido para a inclusão das análises da lipoproteína de muito baixa
densidade (VLDL) e colesterol não HDL.
As moléculas de triacilglicerol, também denominadas de triglicerídeos (TG)
ou gorduras neutras, são formadas a partir da reação de esterificação entre três
moléculas de ácido graxos e uma molécula de glicerol. Nessa reação ocorre a
interação entre o grupo ácido carboxílico do ácido graxo e a hidroxila do glicerol.
A concentração de triacilglicerol com valores superiores à taxa normal no
sangue é chamada de hipertrigliceridemia pura e quando em conjunto com altas
concentrações de colesterol é denominada de hiperlipidemia conjugada. As baixas
concentrações de triacilglicerol são denominadas de hipotrigliceridemia. As
doenças que geram a hipertrigliceridemia são mais frequentes nas análises clínicas
e estão correlacionadas às dietas ricas em carboidratos, hipotireoidismo,
síndromes genéticas (hiperlipidemia familial) e ao uso de fármacos.
Para a dosagem laboratorial de triglicerídeos no sangue, é necessário jejum
prévio de 12 a 14 horas, sendo possível a dosagem sem jejum caso solicitação
médica. O laboratório deve informar no laudo os dois valores de referência (sem
jejum e jejum de 12 horas), de acordo com o critério do médico solicitante. O
paciente deve manter a dieta habitual nos cinco dias que antecedem a realização
do exame, mas sem ingerir bebidas alcoólicas nas últimas 72 horas. Além disso, o
paciente deve evitar a prática de exercício físico vigoroso nas 24 horas que
antecedem a coleta da amostra. A amostra utilizada pode ser o soro ou plasma
(coletada em EDTA ou heparina) livres de hemólise, pois pode interferir no
resultado do exame (hemoglobina acima de 200 mg/dL). As amostras lipêmicas
devem ser previamente diluídas com cloreto de sódio a 0,85%, na proporção 1:2.
REFLITA
A lipemia é o aspecto turvo do plasma, devido à presença de lipoproteínas.
As altas concentrações de lipídios no sangue podem alterar a dosagem de alguns
analitos. Você sabe como os lipídeos podem interferir nos métodos laboratoriais?
Os métodos químicos utilizados para a dosagem de triglicerídeos no sangue
do paciente estão sendo abandonados devido à necessidade de remover
previamente interferentes, como os fosfolipídeos e a glicose. No método
enzimático é utilizada uma lipase para quebrar a molécula de triglicerídeo em
glicerol e ácidos graxos livres. A enzima glicerol quinase utiliza o glicerol formado
na reação anterior e adiciona um grupo fosfato do ATP para formar
glicerol-3-fosfato (G-3F). O G-3F na presença do oxigênio molecular sofre ação da
enzima glicerol fosfato liberando peróxido de hidrogênio (H2O2). O H2O2,
4-aminoantipirina e p-clorofenol, na presença da enzima peroxidase, origina um
cromógeno de cor cereja, cuja intensidade de cor é proporcional à concentração
de triglicérides na amostra do paciente.
Os esteróis são lipídios estruturais presentes nas membranas da maioria das
células eucarióticas. Sua estrutura é caracterizada por um núcleo esteroidal, que
consiste em quatro anéis, três com seis carbonos e um com cinco. O principal
esterol nos tecidos animais é o colesterol. Essa molécula é formada por 27
carbonos, cujo carbono 3 apresenta uma hidroxila e uma dupla ligação entre os
carbonos 5 e 6. Segundo recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS), a
ingestão diária da substância deve ser inferior a 300 mg para a população em
geral, e menor que 200 mg para pessoas com histórico de doenças
cardiovasculares.
A concentração de colesterol total com valores superiores à taxa normal no
sangue é chamada de hipercolesterolemia, e as baixas concentrações de
colesterol são denominadas de hipocolesterolemia. O aumento dos níveis séricos
de colesterol está correlacionado com a hipercolesterolemia poligênica. Essa
doença ocorre devido a uma complexa interação entre múltiplos fatores genéticos
e ambientais e é caracterizada por níveis séricos entre 240 e 350 mg/dL de
colesterol e teores normais de triglicerídeos. A hipercolesterolemia familiar
também pode acontecer. Essa doença se caracteriza por uma desordem
autossômica que produz elevações do colesterol total e da lipoproteína de baixa
densidade. A diminuição dos níveis séricos de colesterol está correlacionada
principalmente com a má absorção de lipídeos, hipertireoidismo e uso de
medicamentos.
Para a dosagem laboratorial de colesterol total no sangue, não é necessário
jejum prévio, sendo possível a dosagem com jejum máximo de

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