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Práticas Aplicadas em Bioquímica e Imunologia Clínica AVALIAÇÃO DA GLICEMIA E DIABETES MELITO Caio Cesar Richter Nogueira PRATICAR PARA APRENDER Os testes utilizados para a avaliação da glicose no sangue de pacientes são os principais exames solicitados pelos médicos nos quais o analista clínico vai atuar dentro do laboratório de análises clínicas, com destaque àqueles que envolvem o diagnóstico de diabetes mellitus. Também é função do Biomédico conhecer as vantagens e desvantagens de cada método e escolher aquele que melhor atenda às necessidades do seu laboratório. Entretanto, você sabe o tempo de jejum necessário para a realização desses exames? Sabe se o paciente pode realizar atividade física ou fazer consumo de café nos minutos que antecedem esses testes? Portanto, nesta seção você vai aprender sobre os principais testes utilizados para quantificação da glicose; parâmetros para coleta da amostra; processamento e armazenamento da amostra; indicações dadas ao paciente; os principais métodos colorimétricos e enzimáticos para utilizar na dosagem da glicose sérica e correlacionar a acidose metabólica gerada pelo quadro de diabetes mellitus e os resultados da gasometria arterial. Diferentes métodos são utilizados para a dosagem de glicose em laboratórios de análises clínicas e as variáveis pré-analíticas podem influenciar no resultado desses métodos. As principais variáveis pré-analíticas são: o horário de coleta da amostra, o gênero e a idade do paciente, o jejum adequado e o fumo. Um Biomédico responsável técnico foi chamado na recepção do seu laboratório de análises clínicas para elucidar uma dúvida de um paciente. Ao chegar ao local, um homem que estava no segundo período de jejum do teste oral de tolerância à glicose explicou que gostaria de sair para fumar. No lugar do biomédico, qual seria sua indicação para o paciente? CONCEITO-CHAVE Os diversos distúrbios do metabolismo de carboidratos resultam em alterações na concentração de glicose no sangue. Essas desordens podem aumentar a concentração de glicose, que é denominada hiperglicemia, ou podem resultar na diminuição da concentração de glicose, denominada hipoglicemia. Em ambos os casos, os exames realizados nas análises clínicas auxiliam o médico no diagnóstico de doenças. O exame de Glicemia Casual consiste na dosagem da glicose sérica realizada em qualquer horário do dia, portanto o paciente não se encontra em jejum. Segundo as Diretrizes da Sociedade Brasileira de Diabetes (2019-2020), pacientes com glicemia ≥ 200 e com sintomas inequívocos de hiperglicemia podem ser considerados portadores de diabetes. VOCABULÁRIO Glicemia: concentração de glicose no sangue. Jejum: sem consumir nenhum tipo de alimento ou bebida, com exceção de água, durante um período determinado. O exame de glicemia em jejum consiste na dosagem laboratorial da concentração de glicose na circulação sanguínea do paciente em jejum de 8 horas. No teste de glicemia em jejum, a amostra deve ser preferencialmente coletada em tubos contendo Fluoreto de Sódio, Cloreto de Sódio e Ácido Etilenodiaminotetracético (EDTA). Segundo as Diretrizes da Sociedade Brasileira de Diabetes (2019-2020), são considerados níveis normais de glicemia valores inferiores a 100 mg/dL. O teste de glicemia pós-prandial é um exame que avalia a capacidade do paciente em metabolizar a glicose sanguínea após a ingestão de uma refeição, por exemplo, após o almoço. A metodologia utilizada consiste na dosagem da glicose sérica do paciente 1 a 2 horas após a refeição. Segundo a Sociedade Brasileira de Diabetes, são considerados valores desejados para a glicemia capilar, no máximo, 180 mg/dL para pacientes diabéticos e até 140mg/dL para pacientes saudáveis. O teste oral de tolerância à glicose (TOTG) é um exame que avalia a capacidade do paciente em metabolizar a glicose sanguínea após a ingestão de uma solução glicosada. Esse exame também é conhecido como teste de sobrecarga de glicose, glicemia após sobrecarga oral de glicose, entre outros, com pequenas variações na metodologia. A metodologia mais utilizada, consiste em uma primeira coleta da amostra após 8 horas de jejum do paciente; depois da coleta, o paciente deve realizar a ingestão de 75g de glicose diluída em água, permanecer 2 horas em jejum e, posteriormente, ser encaminhado para a segunda coleta da amostra. Visando a construção de uma curva glicêmica, o médico solicitante também pode prescrever a coleta de 6 amostras, jejum, mais 5 a cada 30 minutos após o estímulo com a solução glicosada. REFLITA O teste oral de tolerância à glicose (TOTG) utiliza em sua metodologia o consumo de 75 g de glicose e é amplamente utilizado para o diagnóstico de diabetes mellitus (DM). Entretanto, portadores dessa doença podem apresentar altas concentrações de glicose em seu sangue durante períodos do dia. O consumo da glicose por pacientes portadores de DM poderia resultar em complicações agudas durante a realização do exame? O teste de O’Sullivan é um exame que avalia a capacidade da gestante em metabolizar a glicose sanguínea após a ingestão de uma solução glicosada. Alguns autores consideram esse exame uma variação metodológica do teste oral de tolerância à glicose, mudando apenas a concentração da glicose ingerida e o tempo de jejum. A metodologia utilizada consiste em uma primeira coleta da amostra após 8 horas de jejum. Depois da coleta, a gestante deve realizar a ingestão de 50g de glicose diluída em água, permanecer 1 hora em jejum e, posteriormente, ser encaminhada para uma segunda coleta da amostra. Esse exame deve ser realizado entre a 24ª e a 28ª semana de gravidez visando o diagnóstico de diabetes gestacional. Segundo as Diretrizes da Sociedade Brasileira de Diabetes, são considerados níveis normais de glicemia valores inferiores a 140 mg/dL. O teste de hemoglobina glicada também pode ser conhecido como hemoglobina glicosilada, glico-hemoglobina ou HbA1C. A metodologia do exame consiste em avaliar a porcentagem da fração HbA1c que se encontra ligada à molécula de glicose, portanto, o resultado do teste está intimamente relacionado à concentração média de glicose sérica do paciente. Além disso, como as hemácias possuem uma vida média de aproximadamente 3 meses, isso permite que o médico faça uma avaliação da glicemia do seu paciente em um período prolongado e não de forma pontual, como acontece com os outros exames que realizam apenas a dosagem da glicose. Para a coleta da amostra, o paciente não necessita de jejum obrigatório, entretanto é recomendado um jejum de 4 horas, pois amostras ricas em lipídios podem interferir no resultado do exame. O sangue do paciente pode ser obtido por punção venosa ou punção capilar, o tubo para coleta deve conter o anticoagulante EDTA ou Heparina. Segundo as Diretrizes da Sociedade Brasileira de Diabetes (2019-2020), são considerados níveis normais de HbA1c valores inferiores a 5,7 %. Os primeiros métodos utilizados para a dosagem de glicose no sangue de pacientes foram baseados em reações químicas que geram cor. Com o passar dos anos, enzimas foram adicionadas na reação química para aumentar a especificidade do método, passando a ser chamados de testes enzimáticos-colorimétricos. Vamos estudar os principais métodos usados na dosagem de glicose. A glicose oxidase (GOD) é uma enzima que possui como seu substrato a molécula de β-D-Glicose, cuja função é catalisar a reação de oxidação dessa molécula, resultando na formação de D-Glucona-delta-lactona e Peróxido de hidrogênio (H2O2), que posteriormente é hidrolisado em ácido glucônico. Após a reação mediada pela GOD, a enzima peroxidase (POD) inicia uma nova reação química. As peroxidases são enzimas que oxidam substratos orgânicos, tendo o peróxido de hidrogênio como molécula aceitadora de elétrons. Nesse método, o peróxido de hidrogênio na presença da POD reage com a 4-Aminoantipirina e Fenol, formando um complexo denominado Quinoneimina, um cromógeno decoloração vermelho cereja, cuja intensidade de cor é proporcional à concentração de Glicose no Soro/Plasma do paciente e pode ser lida por espectrofotometria utilizando a faixa de comprimento de onda entre 490 e 550 nm e absorção máxima em 500 nm. O método da hexoquinase (HK) consiste em duas reações. A primeira etapa inicia na reação de conversão da molécula de glicose em glicose-6-fosfato através da hidrólise de ATP. Posteriormente, a enzima Glicose-6-fosfato-desidrogenase (G6PD) catalisa a conversão da glicose-6-fosfato e NADP+ em 6-fosfogliconolactona e NADPH. O aumento da absorbância do NADPH é medido utilizando o comprimento de onda em 340 nm, sendo, assim, a absorbância proporcional à concentração da glicose no soro/plasma do paciente. ASSIMILE A enzima hexoquinase utilizada no método para dosagem de glicose é a mesma que participa da via glicolítica presente no citoplasma das células, fosforilando a molécula de glicose e formando a glicose-6-fosfato. A glicose desidrogenase (GD) é uma enzima que catalisa a redução de NAD formando gluconolactona e NADH. O aumento da absorbância do NADH é medido utilizando o comprimento de onda em 340 nm, sendo, assim, a absorbância proporcional à concentração da glicose no soro/plasma do paciente. O diabetes mellitus (DM) é uma síndrome do metabolismo defeituoso de carboidratos, lipídeos e proteínas de etiologia múltipla, decorrente da ausência de secreção de insulina e diminuição da sensibilidade dos tecidos à insulina. Segundo a Sociedade Brasileira de Diabetes, a DM pode ser classificada em diferentes tipos: O diabetes mellitus tipo 1 é uma doença metabólica na qual ocorre destruição das células beta pancreáticas produtoras de insulina, resultando na insulinopenia. Dentre os casos totais de DM, o diabetes do tipo 1 representa 5 a 10% e inicia antes dos 30 anos de idade, mas pode acometer indivíduos em qualquer faixa etária. Devido à destruição das células beta pancreáticas, seu tratamento exige a utilização de insulina. Subdivide-se em DM tipo 1A e DM tipo 1B, a depender da presença ou ausência de autoanticorpos no sangue do paciente. O diabetes mellitus tipo 1A é caracterizado pela destruição autoimune das células β pancreáticas com a presença de um ou mais anticorpos. Os princípios da resposta imune contra as ilhotas pancreáticas foram descritos no ano de 1965, entretanto a existência de anticorpos contra as ilhotas pancreáticas foi descrita apenas em 1974. O processo de destruição das células β pancreáticas, denominado insulite, ocorre pela agressão imunológica mediada por células linfocitárias, macrófagos e células "natural killer”. A incidência da doença é variável entre a população e áreas geográficas, entretanto existe uma predominância em indivíduos de raça branca e maior taxa de incidência mundial na Finlândia e na Itália. Fatores genéticos e ambientais desencadeiam a resposta autoimune, tendo múltiplos genes associados ao desenvolvimento da doença. Foram descritos mais de vinte loci que conferem suscetibilidade ao DM1A, estando os mais importantes localizados nos cromossomos 1, 2, 6 e 11 e associados a mutações no antígeno leucocitário humano. Dentre os fatores ambientais, as infecções virais, componentes dietéticos e certas composições da microbiota intestinal estão mais associados ao desenvolvimento da doença. Os marcadores imunológicos utilizados no diagnóstico laboratorial da DM1A são: anticorpo anti-ilhota (ICA), autoanticorpo anti-insulina (IAA), anticorpo antidescarboxilase do ácido glutâmico (anti-GAD65), anticorpo antitirosina-fosfatase IA-2 e anticorpo antitransportador de zinco (Znt8), sendo esses anticorpos presentes no sangue dos pacientes anteriormente ao quadro clínico da hiperglicemia. a. Anticorpo Anti-ilhota (ICA): são anticorpos produzidos contra antígenos não-específicos presentes nas ilhotas pancreáticas. As células produtoras de glucagon, somatostatina e polipeptídeo pancreático, presentes nas ilhotas pancreáticas são poupadas, entretanto as células β produtoras de insulina sofrem atrofia durante a progressão da doença. b. Anticorpo Anti-Insulina (IAA): São anticorpos produzidos contra a insulina. c. Anticorpo antidescarboxilase do ácido glutâmico (anti-GAD65): são anticorpos produzidos contra a enzima descarboxilase do ácido glutâmico (DAG). Também conhecida como glutamato descarboxilase, a DAG tem como função catalisar a reação de descarboxilação do glutamato em GABA. Está presente principalmente no cérebro, mas também no pâncreas. d. Anticorpo antitirosina-fosfatase IA-2 (anti-IA2): são anticorpos produzidos contra o antígeno do Insulinoma-2 presente no pâncreas. Também conhecido como antiproteína de membrana com homologia às tirosino-fosfatases. e. Anticorpo antitransportador de zinco (anti-Znt8): são anticorpos produzidos contra o transportador de zinco 8 (Znt8). O Znt8 é uma proteína encontrada na membrana dos grânulos secretores de insulina das células β pancreáticas. Para a dosagem laboratorial desses anticorpos, o jejum prévio não é necessário e deve-se utilizar como amostra o soro do paciente. A hemólise, lipemia e bilirrubina aumentada podem interferir nos métodos utilizados para quantificar esses anticorpos. A diabetes mellitus tipo 2 (DM2) é um distúrbio metabólico caracterizado pela resistência à insulina (RI) e alta concentração de glicose sérica. A RI é definida pela diminuição do efeito da insulina endógena em tecidos-alvo, principalmente no tecido muscular e nos adipócitos. Como mecanismo compensatório à resistência ocorre a liberação aumentada de insulina pelo pâncreas, resultando em uma alta concentração de insulina no sangue, também denominado hiperinsulinemia. Com a progressão da doença, ocorre a exaustão da capacidade secretora das células β pancreáticas, gerando a incapacidade da regulação da concentração de glicose sérica, podendo acontecer a hiperglicemia. Dentre os casos totais de DM, o diabetes do tipo 2 representa 90 a 95% dos casos e se inicia depois dos 40 anos de idade, mas pode acometer indivíduos em qualquer faixa etária. O diagnóstico laboratorial da DM pode ser realizado através de três principais testes: glicose em jejum, teste oral de tolerância à glicose (TOTG) e hemoglobina glicada. Caso o exame laboratorial resulte em confirmação do diagnóstico de DM2, é necessária a repetição dos exames alterados, idealmente o mesmo exame alterado em segunda amostra de sangue do paciente. EXEMPLIFICANDO Um indivíduo portador de diabetes mellitus tipo 2 também pode apresentar outras alterações laboratoriais, como, por exemplo, níveis de triglicerídeos e LDL aumentados e alta concentração de fibrinogênio e proteína C reativa. O diabetes mellitus gestacional (DMG) é definido como qualquer grau de intolerância aos carboidratos, com início ou primeiro reconhecimento durante a gestação, sem ter previamente preenchido os critérios diagnósticos de DM. As primeiras alterações do metabolismo materno são geradas para suprir a necessidade energética do feto. Durante o 3°e 4° trimestre de gestação, hormônios placentários anti-insulínicos são liberados para prover um aporte ideal de carboidratos para o feto, gerando resistência à insulina. Algumas mulheres que engravidam e possuem fatores de risco ou doenças com algum grau de resistência à insulina, como, por exemplo, na obesidade ou na síndrome dos ovários policísticos, dependem de uma maior produção de insulina, resultando na incapacidade do pâncreas em suprir essa necessidade. Esse quadro favorece a hiperglicemia, caracterizando o diabetes mellitus gestacional. O protocolo para diagnóstico laboratorial de DMG baseia-se no período de início do pré-natal. Pacientes portadores dos diferentes tipos de diabetes mellitus não controlados, em decorrência da falta de insulina ou da resistência tecidual à insulina, não conseguem utilizar a molécula de glicose como fonte para formação de ATP em determinados tecidos. Isso ocorre, devido ao transportadorde glicose (GLUT4) nas células do músculo esquelético, músculo cardíaco e tecido adiposo que encontram-se armazenados em vesículas intracelulares que se fundem com a membrana plasmática em resposta ao sinal da insulina. Isso faz com que o fígado utilize moléculas de ácido graxo para a produção de acetil-CoA que pode entrar no ciclo do ácido cítrico ou ser convertido em acetona, acetoacetato e β-hidroxibutirato (corpos cetônicos) para ser utilizado em outros tecidos. No diabetes existe uma superprodução desses corpos cetônicos que geram um distúrbio ácido-base do sangue, denominado acidose metabólica ou cetoacidose diabética. Nos casos em que a doença progride para alterações ácido-base, o plasma sanguíneo possui um mecanismo fisiológico e químico para tentar parar essas alterações. O principal mecanismo químico presente no sangue dos seres humanos é o sistema tampão bicarbonato, formado pelo Ácido carbônico (H2CO3), que funciona como doador de prótons, e o Bicarbonato (HCO3-), que funciona como aceptor de prótons. O ácido carbônico é formado a partir do dióxido de carbono dissolvido, portanto um dos principais mecanismos fisiológicos de controle do pH sanguíneo é o pulmão, uma vez que esse órgão pode aumentar a eliminação de CO2 através da hiperventilação ou reter CO2 no sangue através da hipoventilação. A análise dos gases arteriais e do pH é realizada rotineiramente na clínica médica para avaliar os distúrbios ácido-base. Esses distúrbios podem ser classificados em quatro tipos: acidose metabólica, acidose respiratória, alcalose metabólica e alcalose respiratória. O exame utilizado para diferenciar os distúrbios ácido-base do sangue é denominado gasometria arterial. É um exame no qual é coletado sangue oriundo da artéria, que tem por objetivo avaliar os valores do pH sanguíneo, pressão parcial de gás carbônico (pCO2) e oxigênio (PaO2) e a concentração do íon Bicarbonato (HCO3). Para a coleta da amostra deve-se dar preferência à artéria radial, braquial ou femoral, em ordem de prioridade. O sangue arterial possui coloração vermelho intenso se comparado ao sangue venoso, que possui coloração vermelho escuro. Essa característica do sangue arterial pode ser utilizada para confirmação da coleta de forma correta. O tubo para a coleta deve preferencialmente conter Heparina. Os valores de referência encontrados nos principais parâmetros avaliados na gasometria arterial podem ser observados na tabela. FAÇA A VALER A PENA Questão 1 O corpo humano é capaz de utilizar reações químicas enzimáticas para transformar diferentes tipos de macromoléculas em glicose, aumentando, assim, a glicemia. A glicemia é o termo utilizado para definir a concentração de glicose no sangue. No laboratório de análises clínicas podem ser realizados diversos testes para avaliação da glicemia. Dentre os testes utilizados na dosagem da glicemia, assinale a alternativa que apresenta o exame que NÃO REQUER a necessidade de jejum em todas as etapas do teste. a. Teste de glicemia em jejum. b. Teste de glicemia pós-prandial. c. Teste de O’Sullivan. d. Teste oral de tolerância à glicose. e. Teste de hemoglobina glicada. Questão 2 O teste oral de tolerância à glicose é um exame que avalia a concentração de glicose no sangue do paciente após o consumo de uma quantidade conhecida de glicose. Para realização do exame, o setor da recepção deve informar ao paciente as medidas que devem ser seguidas antes e durante o exame. Assinale a alternativa que apresenta uma indicação a ser dada ao paciente para realização do teste oral de tolerância à glicose. a. Durante os dias que antecedem o exame, o paciente deve evitar o consumo de carboidratos. b. Durante os dias que antecedem o exame, o paciente não pode realizar atividade física. c. O uso de medicamentos não precisa ser informado pelo paciente. d. Durante as duas horas de jejum do exame, o paciente não deve caminhar. e. O uso de drogas ilícitas não impede que o paciente realize o exame. Questão 3 O diabetes mellitus (DM) é um grupo de distúrbios do metabolismo de carboidratos, lipídeos e proteínas que resultam em níveis elevados de glicose no sangue. Para realizar o diagnóstico dessa doença podem ser utilizados os testes de glicemia de jejum, teste oral de tolerância à glicose (TOTG) e hemoglobina glicada e seus respectivos resultados de glicemia. Tomando como base as informações apresentadas, avalie as informações a seguir. I. De acordo com a tabela, valores de glicemia de jejum inferiores a 100 mg/dL podem indicar DM. II. O teste oral de tolerância à glicose não pode ser utilizado para o diagnóstico de DM. III. Pacientes com valores de hemoglobina glicada inferiores à 5,7 não apresentam DM. IV. Um paciente que apresentou TOTG com valor igual a 250 mg/dL pode ser considerado um paciente portador de DM. Considerando o contexto apresentado, é correto APENAS o que se afirma em: a. I e II b. III e IV c. I, II e III. d. I, III e IV. e. II, III e IV. REFERÊNCIAS ALBUQUERQUE, R. Os (Des)encontros das solicitações e das interpretações dos exames relacionados ao metabolismo glicídico. Sociedade Brasileira de Diabetes, São Paulo, ano 2011, n. 42664, 19 jan. 2021. BALDA, C. A.; PACHECO-SILVA, A. Aspectos imunológicos do diabetes melito tipo 1. Revista da Associação Médica Brasileira, v. 45, n. 2, p. 175-180, 1999. BOLOGNANI, C. V.; SOUZA, S. S.; CALDERON, I. M. P. Diabetes mellitus gestacional: enfoque nos novos critérios diagnósticos. Comunicação em Ciências da Saúde, v. 22, sup. 1, p. 31-42, 2011. BRASIL. 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AVALIAÇÃO DA GLICEMIA E DIABETES MELITO Caio Cesar Richter Nogueira SEM MEDO DE ERRAR O biomédico sabe que algumas indicações devem ser seguidas pelo paciente para evitar erros no teste oral de tolerância à glicose, como, por exemplo, durante os 3 dias que antecedem as 8 horas de jejum do exame, o paciente deve realizar a ingestão de, pelo menos, 150 g de carboidratos por dia; o paciente deve realizar atividade física como de costume; deve informar o uso de medicações e interferentes e durante o período de duas horas de jejum; e não deve fumar ou caminhar. O fumo diminui a digestão/absorção de carboidratos, consequentemente, na concentração de glicose sanguínea, diminuindo o aporte energético ingerido. Portanto, o biomédico não deve autorizar que seu paciente fume durante o segundo período de jejum. Além disso, o biomédico, como um excelente analista da qualidade de seu laboratório, também deve realizar treinamento da equipe de recepcionistas para evitar futuros erros. AVANÇANDO NA PRÁTICA SALVE A ESTAGIÁRIA! A escolha do tipo de anticoagulante utilizado para coleta da amostra do paciente é de extrema importância, pois essa etapa pode diminuir os erros causados durante a fase analítica dos exames laboratoriais. Marcele é uma estagiária do curso de biomedicina contratada para o setor de coleta de um laboratório de análises clínicas. Durante sua rotina, um paciente foi encaminhado para realizar o exame de hemoglobina glicada. Para essa coleta, ela precisa escolher o tubo contendo o anticoagulante correto para a análise. Você, no local de Marcele, que anticoagulante utilizaria para a coleta da amostra para o exame de hemoglobina glicada? Aplicando os conhecimentos das aulas da disciplina de Práticas em Bioquímica e Imunologia Clínica, deve-se utilizar o tubo de coloração roxa que contém o anticoagulante EDTA. Entretanto, se esse tubo acabar em seu estoque, deve-se optar pelo tubo de coloração verde que contém o anticoagulante heparina e encaminhar a amostra do paciente para o setor de análise. AVALIAÇÃO DA FUNÇÃO RENAL Caio Cesar Richter Nogueira PRATICAR PARA APRENDER Estima-se que, atualmente no mundo, 850 milhões de pessoas possuem diferentes tipos de doenças renais. Portanto, os laboratórios de análises clínicas devem estar atentos às novas metodologias utilizadas para verificar a função renal visando o diagnóstico precoce da doença. Nesta seção, você vai aprender quais marcadores são utilizados para avaliação da função renal; quais os métodos utilizados para a dosagem desses analitos no sangue do paciente e as indicações para a coleta da amostra. A insuficiência renal aguda (IRA) é um distúrbio em que os rins deixam de filtrar os resíduos do sangue de forma súbita e rápida. Gabriel é um aluno do sexto período de Biomedicina que está cursando a disciplina de Práticas Aplicadas em Bioquímica e Imunologia Clínica. Em sua segunda aula prática, o professor da disciplina levou o sangue e a urina de um paciente com IRA. Ao final da aula prática, o professor solicitou um relatório com os valores obtidos na dosagem da ureia, creatinina e ácido úrico, além dos resultados do exame de Elementos Anormais e Sedimentos (EAS).Sabendo que a IRA altera a função renal, quais possíveis resultados bioquímicos e de EAS você adicionaria ao relatório? CONCEITO-CHAVE Os biomarcadores utilizados para avaliar a função renal são de extrema importância para a prática clínica, uma vez que os rins exercem funções essenciais para o corpo humano como, por exemplo, a liberação de hormônios endócrinos e a regulação e excreção de analitos no sangue. Diversos analitos podem ser utilizados para avaliação do dano renal, entretanto os principais marcadores são conhecidos como compostos nitrogenados não protéicos, pois são formados por um conjunto de substâncias que possuem o átomo de nitrogênio em sua estrutura, com exceção das proteínas. Essas substâncias são formadas através do catabolismo de proteínas e ácidos nucleicos, sendo as principais: a ureia, a creatinina e o ácido úrico. A ureia é uma substância produzida pelo fígado através da oxidação das proteínas. Os aminoácidos sofrem degradação oxidativa em três circunstâncias metabólicas diferentes: a. Durante a síntese e degradação de proteínas da renovação tecidual. b. Quando a concentração de proteína ingerida excede a necessidade do organismo. c. Quando as concentrações de carboidratos estão reduzidas, como, por exemplo, no jejum e no diabetes mellitus, casos em que as proteínas são utilizadas para a formação de energia. Durante o catabolismo dos aminoácidos, o grupo amina das proteínas é removido enzimaticamente da estrutura e convertido em amônia. Visto que a amônia é tóxica ao organismo dos seres humanos, essa molécula é convertida em ureia, filtrada pelo glomérulo. Apesar de ser facilmente filtrada pelos rins, 40 a 70% da ureia é reabsorvida de forma passiva para o plasma, tornando a ureia um analito ineficiente na avaliação da taxa de filtração glomerular. Embora apresente essas limitações, alterações na concentração de ureia sérica devido à insuficiência renal aparecem primeiro se comparada a alterações na concentração de creatinina. A concentração de ureia com valores superiores à taxa normal no sangue é chamada hiperuremia e as baixas concentrações são denominadas hipouremia. As doenças que geram a hiperuremia são mais frequentemente verificadas nas análises clínicas, podendo ser divididas em pré-renal, renal e pós-renal. A hiperuremia pré-renal está correlacionada ao aumento da concentração de ureia sem aumento de creatinina sérica e ausência de dano renal. Esse quadro pode ser gerado pelo decréscimo do fluxo sanguíneo causado na insuficiência cardíaca, hemorragias e desidratação. A hiperuremia renal está relacionada à diminuição da filtração renal e ao aumento da concentração de ureia sérica gerada na insuficiência renal aguda ou crônica. A hiperuremia pós-renal está correlacionada à obstrução do trato urinário, resultando no aumento da reabsorção de ureia causado pela obstrução ureteral e da saída da bexiga. A hipouremia pode ser causada por lesões no fígado que o tornam incapaz de produzir ureia a partir da oxidação das proteínas e por desnutrição. Para a dosagem laboratorial da ureia no sangue não são necessárias orientações prévias ao paciente. A amostra utilizada pode ser soro ou plasma (colhido em EDTA, heparina ou citrato). É importante manter a amostra sob refrigeração para impedir a decomposição bacteriana. A ureia também pode ser dosada na urina, visando comparar sua concentração sérica. Os métodos utilizados para a dosagem de ureia em líquidos biológicos baseiam-se na reação química da ureia com outra substância, formando cor, ou com a quebra da ureia no íon amônio que é posteriormente quantificado. No método Urease, essa enzima quebra a ureia em íon Amônio e CO2. A segunda reação química ocorre em uma solução de pH alcalino, na qual o Amônio reage com o Salicilato e Hipoclorito de Sódio formando Monocloramina. A Monocloramina na presença de nitroprussiato de sódio forma o Indofenol apresenta uma molécula levemente esverdeada. Essa cor pode ser lida utilizando espectrofotômetro, no comprimento de onda entre 570 a 610 nm. No método Urease/Glutamato-desidrogenase, a quebra da ureia em íon Amônio e CO2 também ocorre. A enzima Glutamato-desidrogenase é adicionada junto ao NH3 e α-Cetoglutarato, oxidando NADH para NAD+. A oxidação de NADH a NAD+ pode ser medida pela diminuição da absorbância, que é proporcional à concentração de Ureia na amostra. Esse método diminui as interferências causadas por desidrogenases e amônia na amostra. A creatinina é formada por uma reação de desidratação não enzimática da molécula de creatina. A creatina é formada por duas reações enzimáticas. A primeira reação ocorre nos rins e é mediada pela enzima arginina: glicina amidinotransferase que catalisa a reação de transaminação dos aminoácidos argininae glicina em ácido guanidinoacético (GAA). O GAA é enviado para o sangue e chega ao fígado, onde ocorre a segunda reação mediada pela enzima guanidinoacetato N-metiltransferase, formando a creatina. Uma quantidade similar de creatina é obtida através da alimentação. A creatina endógena e exógena é fosforilada pela enzima creatina quinase, formando, assim, fosfocreatina que pode ser usada no músculo esquelético. Cerca de 1% a 2% da creatina livre no músculo é convertida de forma espontânea e irreversivelmente em creatinina diariamente. A creatinina é filtrada pelos rins, não sofre metabolização e não é reabsorvida nos túbulos renais, entretanto 25% da creatinina é proveniente da secreção. A quantidade de creatinina excretada é proporcional à massa muscular do indivíduo, portanto é proporcional ao sexo e idade do paciente. ASSIMILE A fosfocreatina é formada pela creatina que recebeu um grupo fosfato. Essa molécula é clivada no músculo para reconstituir a molécula de ATP durante a atividade física. A concentração de creatinina com valores superiores à taxa normal no sangue é chamada hipercreatinemia e as baixas concentrações são denominadas hipocreatinemia. As doenças que geram a hipercreatinemia são mais frequentes nas análises clínicas, podendo ser divididas em pré-renal, renal e pós-renal. A hipercreatinemia pré-renal está correlacionada ao aumento da concentração de creatinina sem aumento de ureia sérica e ausência de dano renal. Esse quadro pode ser gerado por atrofia/necrose muscular esquelética, insuficiência cardíaca congestiva, diabetes mellitus não controlada e uso excessivo de diuréticos. A hipercreatinemia renal está correlacionada à diminuição da filtração renal e ao aumento da concentração de creatinina sérica gerada na insuficiência renal aguda ou crônica. A hipercreatinemia pós-renal está correlacionada à hipertrofia prostática e a cálculos renais. A hipocreatinemia não desperta interesse clínico. Para a dosagem laboratorial da creatinina no sangue não é necessário jejum prévio. O paciente deve evitar exercício excessivo durante as 8 horas que antecedem o exame e deve evitar a ingestão de carne vermelha em excesso durante 24 horas. A amostra utilizada pode ser soro ou plasma (colhido em Heparina, Oxalato, Fluoreto, Citrato ou EDTA). O método de Jaffé modificado baseia-se na reação da creatinina com o Ácido Pícrico em meio alcalino formando um complexo de coloração amarelo-avermelhado denominado Creatinina-Picrato. Posteriormente, é adicionado um reagente ácido, desfazendo o complexo Creatinina-Picrato, permanecendo apenas a cor referente a outros cromogênicos presentes no sangue do paciente, como a glicose e o ascorbato, entretanto níveis de acetoacetato, acetona e bilirrubinas podem interferir com a reação. Por diferença entre as leituras obtidas nos distintos pHs, obtém-se a concentração da creatinina. O método Creatinina Amidohidrolase é baseado através da ação dessa enzima que catalisa a reação na qual a creatinina é convertida em creatina. A enzima Creatina Amidinohidrolase é adicionada para catalisar a reação de hidrólise da creatina em Sarcosina e Uréia. A molécula de Sarcosina sofre ação da enzima Sarcosina Oxidase, produzindo Glicina, Formaldeído e Peróxido de Hidrogênio (H2O2). A enzima peroxidase catalisa a reação entre o H2O2, TOPS e 4-aminoantipirina, produzindo Quinoneimina. A absorbância da amostra pode ser determinada através de espectrofotometria utilizando o comprimento de onda de 546 nm. A dosagem de creatinina é amplamente utilizada para a avaliação da função renal, entretanto pacientes podem ter uma taxa de filtração glomerular (TFG) significativamente reduzida com valores normais de creatinina sérica. Isso ocorre devido à influência de fatores como composição muscular, atividade física, dieta e estado de saúde na concentração sérica de creatinina. Portanto, a depuração da creatinina endógena (DCE) é mais utilizada para avaliação da função renal. A depuração pode ser definida como o volume mínimo de plasma sanguíneo que contém a quantidade total de determinada substância excretada na urina em 1 minuto. A depuração renal consiste na passagem de uma substância pela filtração glomerular e sua posterior eliminação na urina. A depuração de uma substância que não é reabsorvida nem secretada pelos túbulos e cuja concentração plasmática é idêntica à do filtrado glomerular pode ser usada para avaliação da TFG, sendo a creatinina uma excelente substância para essa função. Para avaliação da depuração de creatinina endógena (DCE) deve-se utilizar o volume de urina coletado durante 24 horas e pode ser calculado através da fórmula: DCE não corrigida = (creatinina urinária x volume urinário de 24h) / creatinina sérica X 1440 minutos. A excreção diária de creatinina diminui com a progressão da idade devido a uma redução progressiva na massa muscular. Além disso, condições como obesidade, em que um aumento do tecido adiposo determina uma redução na porcentagem da massa muscular relacionada ao peso corporal, levam a uma menor excreção diária de creatinina por kg de peso corporal. Portanto, foi criado um cálculo para depuração de creatinina de acordo com a superfície corporal: DCE ajustada = (Depuração não corrigida X 1,73) / Superfície corporal REFLITA Como visto anteriormente, a massa muscular e a obesidade podem alterar a depuração da creatinina endógena. Sabendo disso, é possível que outros fatores alterem a DCE? Se a resposta for afirmativa, como essas alterações podem interferir no diagnóstico médico? O Ácido Úrico é formado pelo catabolismo dos nucleotídeos púricos, sendo eles a adenina e a guanina. Esses nucleotídeos sofrem ação da enzima 5’-nucleotidase que remove seus grupos fosfato formando Guanosina e Adenosina. A enzima Adenosina-desaminase remove o grupo amina da Adenosina, formando Inosina. Guanosina e Inosina sofrem ação da enzima Nucleosidade para remoção da ribose e formam Guanina e Hipoxantina, respectivamente. A molécula de Guanina perde seu grupo amina através da catálise da enzima Guanina-desaminase e a molécula de Hipoxantina sofre oxidação da enzima Xantina-oxidase, para que ambas formem a molécula de Xantina. Na última reação química, a enzima Xantina-oxidase adiciona uma hidroxila à molécula de Xantina, formando o Ácido Úrico. Como o corpo mantém a renovação celular continuamente, quantidades constantes de ácido úrico são excretadas. O ácido úrico é um ácido fraco e a sua forma ionizada, o urato monossódico, é a forma encontrada no plasma humano. A concentração de ácido úrico com valores superiores à taxa normal no sangue é chamada hiperuricemia e as baixas concentrações são denominadas hipouricemia. As doenças que geram hiperuricemia estão correlacionadas com o acúmulo de urato sérico, podendo ser devido ao aumento da sua síntese ou a defeitos em sua eliminação. A solubilidade de urato de sódio nos líquidos corporais é de cerca de 6,4 mg/100 ml, portanto, quando essa concentração é ultrapassada, cristais são formados e se depositam nas articulações gerando um processo inflamatório denominado Gota ou Artrite Gotosa. A hipouricemia está correlacionada aos níveis reduzidos de ácido úrico (<2 mg/dL) e são encontrados nas doenças hepatocelulares severas. Para a dosagem laboratorial do ácido úrico no sangue não são necessárias indicações prévias ao paciente. A amostra utilizada pode ser soro ou plasma (colhido em EDTA ou heparina). É recomendada a separação do soro/plasma o mais rápido possível das células. Métodos exclusivamente químicos foram utilizados durante anos para a dosagem de ácido úrico no sangue do paciente, entretanto a necessidade do uso de substâncias tóxicas e que geram instabilidade nas soluções fizeram com que esses métodos fossem abandonados. Atualmente, o método mais utilizado emprega a enzima Uricase. A utilização da enzima confere maior especificidade na reação química, na qual a uricase catalisa a oxidação do ácido úricoà alantoína, liberando peróxido de hidrogênio. O peróxido de hidrogênio reage com diclorohidroxibenzeno sulfonato e 4-aminoantipirina em uma reação catalisada pela enzima peroxidase, formando um cromógeno de coloração cereja. A intensidade da cor cereja formada é diretamente proporcional à concentração de Ácido Úrico na amostra. Os níveis séricos de alguns eletrólitos podem auxiliar no diagnóstico de doenças renais, sendo os principais a dosagem de sódio e potássio. A obtenção do íon Sódio está intimamente relacionada à dieta. A absorção desse eletrólito no intestino delgado é dependente da proteína de transporte sódio-glicose (SGLT1) e da bomba de Sódio-Potássio. Uma vez absorvido, o sódio se encaminha para o líquido extracelular, onde participa de mecanismos de controle osmótico e potencial de ação. Sua concentração sérica pode ser alterada através do consumo excessivo do Cloreto de Sódio ou pela excreção renal. Após a filtração renal do sódio, cerca de 2/3 é reabsorvido no túbulo proximal por via paracelular. Outra parte desse sódio utiliza de transportadores Sódio/Glicose, Sódio/Aminoácidos, Sódio/Fosfato na membrana luminal e, posteriormente, encaminhado para o sangue via bomba de sódio-potássio presente na membrana basolateral. A reabsorção do sódio também pode ser influenciada pela liberação do hormônio aldosterona. A concentração de sódio com valores superiores à taxa normal no sangue é chamada hipernatremia e as baixas concentrações são denominadas hiponatremia. As doenças renais estão mais correlacionadas à hiponatremia, uma vez que os rins lesados são incapazes de eliminar água do corpo e o excesso de água ingerida produz uma diluição do sódio sérico. A hipernatremia está relacionada à insuficiência renal. Para a dosagem laboratorial do sódio no sangue não são necessárias orientações prévias ao paciente. A amostra utilizada pode ser soro ou plasma (somente heparina). É recomendada a separação do soro/plasma em até três horas após a coleta. O método β-Galactosidase é amplamente utilizado para a dosagem de sódio sérico. Para essa metodologia, o substrato Nitrofenil -ß-D-Galactopiranose é adicionado junto à enzima β-Galactosidase que utiliza o sódio da amostra como cofator enzimático, formando Nitrofenil. A absorbância a 405nm do produto Nitrofenil é proporcional à concentração de sódio sérico. A obtenção do íon Potássio também está intimamente relacionada à dieta. O principal mecanismo de absorção do potássio é a difusão passiva paracelular, que ocorre em função do gradiente de concentração no lúmen intestinal. Uma vez absorvido, o potássio se encaminha para o meio intracelular, onde participa de mecanismos de controle osmótico e potencial de ação. Sua concentração sérica pode ser alterada através do consumo excessivo do Cloreto de Potássio ou pela excreção renal. Após a filtração renal do potássio, cerca de 70% são reabsorvidos no túbulo proximal junto à água e ao sódio. Parte do potássio ainda é reabsorvido na alça de Henle e no túbulo distal. Na membrana luminal do túbulo distal ocorre o transporte dos íons sódio, cloro e potássio via um cotransportador Na+/K+/Cl-. Quando esses íons chegam ao meio intracelular, o sódio é reabsorvido de forma ativa pela bomba de Na+/K + presente na membrana basal. O cloro também é reabsorvido na membrana basal por canais de cloreto dependentes de voltagem. Já o potássio retorna ao lúmen tubular através de canais de potássio retificadores de entrada (Kir). Essa recirculação local do potássio é necessária para que haja substrato para o cotransportador Na+/K+/Cl-. A concentração de potássio com valores superiores à taxa normal no sangue é chamada hiperpotassemia e as baixas concentrações são denominadas hipopotassemia ou hipocalemia. Para a dosagem laboratorial do potássio no sangue não são necessárias orientações prévias ao paciente. A amostra utilizada pode ser soro ou plasma. A amostra deve ser totalmente isenta de hemólise, devido à alta concentração de potássio no meio intracelular. Não deve ser utilizada a técnica de abrir e fechar a mão para evidenciação das veias durante a coleta. O método para dosagem de potássio é semelhante ao usado para a dosagem de sódio, com exceção da substituição da enzima β-Galactosidase pela enzima piruvatoquinase. EXEMPLIFICANDO Outros biomarcadores podem ser utilizados para avaliação da função renal, como, por exemplo, a proteinúria, a albuminúria, o dismorfismo eritrocitário, a Cistatina C, a Molécula-1 de lesão renal e a Interleucina-18. FAÇA A VALER A PENA Questão 1 A ureia foi descoberta pelo químico Hilaire Marin Rouelle, em 1773, e foi a primeira substância orgânica sintetizada artificialmente, em 1828, por Friedrich Woehler, obtida a partir do aquecimento do cianato de amônio. Esta síntese derrubou a teoria de que substâncias orgânicas só poderiam ser sintetizadas pelos organismos vivos. No corpo humano a ureia é sintetizada no __________ através da degradação dos aminoácidos. Dentre as situações em que ocorre a degradação dos aminoácidos estão: durante a síntese e __________ de proteínas da renovação tecidual; quando a concentração de __________ ingerida excede a necessidade do organismo; durante períodos de jejum prolongados e diabetes mellitus não controlada. Assinale a alternativa que preenche corretamente as lacunas. a) cérebro / degradação / carboidratos. b) fígado / degradação / carboidratos. c) cérebro / degradação / proteínas. d) fígado / produção / proteínas. e) fígado / degradação / proteínas. Questão 2 A escolha do método utilizado para análise de ureia no sangue do paciente é um passo muito importante para o laboratório de análises clínicas, pois requer avaliação de alguns parâmetros, como a repetibilidade, a reprodutibilidade, sensibilidade, especificidade, custo e praticidade dos métodos. A avaliação da repetibilidade de dois métodos foi calculada a partir de 40 determinações sucessivas, utilizando 3 amostras com concentrações diferentes, obtendo-se os seguintes resultados: Considerando os dados apresentados nas tabelas, assinale a alternativa correta. a. O desvio padrão da amostra 1 no método de Urease foi maior que no método Urease/Glutamato-desidrogenase. b. A concentração média da amostra 2 no método de Urease foi maior que no método Urease/Glutamato-desidrogenase. c. O desvio padrão da amostra 3 no método de Urease/Glutamato-desidrogenase foi menor que no método Urease. d. A concentração média da amostra 1 no método de Urease/Glutamato-desidrogenase foi menor que no método Urease. e. Ambos os métodos possuem repetibilidade iguais. Questão 3 Um homem de 70 anos de idade chega ao setor de urgência do hospital apresentando fadiga, diminuição do apetite, náuseas, vômitos, dificuldade respiratória e micção frequente. Após a avaliação por exames de imagem, o paciente foi diagnosticado com Nefrite túbulo-intersticial. Para acompanhamento do caso, o médico solicitou algumas dosagens laboratoriais, como descritas na tabela: Outras informações do paciente: Volume da urina coletada em 24 horas= 1875 mL Peso = 70 Kg Altura = 170 cm Tomando como base as informações apresentadas na Tabela 1, avalie as informações a seguir. I. A depuração de creatinina não corrigida desse paciente é de aproximadamente 23,98 mL/min. II. A creatinina sérica desse paciente está dentro dos valores de referência. III. A depuração de creatinina corrigida desse paciente é de aproximadamente 23,04 mL/min. IV. A creatinina urinária desse paciente está dentro dos valores de referência. Considerando o contexto apresentado, é correto APENAS o que se afirma em: a. I e II. b. III e IV. c. I, II e III. d. I, III e IV. e. II, III e IV. REFERÊNCIAS CAVANAUGH, C.; PERAZELLA, M. A. Urine Sediment Examination in the Diagnosis and Management of Kidney Disease: Core Curriculum 2019. The American Journal of Kidney Diseases, v. 73, n. 2, p. 258-272, 2019. DUSSE, L. M. S.; RIOS, D. R. A.; SOUSA, L. P. N.; MORAES,R. M. M. S.; DOMINGUETI, C. P.; GOMES, K. B. Biomarcadores da função renal: do que dispomos atualmente? Revista Brasileira de Análises Clínicas, v. 49, n. 1, p. 41, 2017. LEHNINGER, A.; NELSON, D. L. Biossíntese de aminoácidos, nucleotídeos e moléculas relacionadas. In: Princípios de Bioquímica de Lehninger. 7. ed. Porto Alegre: Artmed, 2019. cap. 22, p. 884. LUFT, F. C. Biomarkers and predicting acute kidney injury. Acta physiol Oxford, v. 231, n. 1, p. 1-12, 2021. MOTTA, Valter T. Diabetes e outras desordens dos carboidratos. In: Bioquímica clínica para o laboratório: princípios e interpretações. 5. ed. Porto Alegre: Médica Missau, 2003. cap.15, p. 227-240. OSTOJIC, S. M.; NIESS, B.; STOJANOVIC, M.; OBRENOVIC, M. Metabolismo da creatina e perfis de segurança após administração oral de ácido guanidinoacético de seis semanas em humanos saudáveis. International Journal of Medical Sciences, v. 10, n. 2, p. 141-147, 2013. AVALIAÇÃO DA FUNÇÃO RENAL Caio Cesar Richter Nogueira SEM MEDO DE ERRAR O desenvolvimento da IRA está relacionado a uma resposta inflamatória renal causada por diferentes tipos de lesão. Essa lesão induz que as células endoteliais e tubulares renais liberem mediadores químicos, induzindo a migração de leucócitos para o local. Durante a migração, os neutrófilos liberam citocinas pró-inflamatórias que podem agravar a lesão tubular, gerando descamação de células viáveis e apoptose. A obstrução tubular pelas células descamadas, a vasoconstrição renal devido à liberação de mediadores vasoativos e o efeito direto no glomérulo caracteriza a IRA. Para o diagnóstico laboratorial, a dosagem da concentração sérica de ureia e de creatinina são os padrões-ouro. Na ausência de filtração glomerular, a ureia aumenta de 10 a 15 mg/dL/dia e a creatinina aumenta de 1,0 a 1,5 mg/dL/dia no sangue do paciente. Na Nefrite intersticial, é possível observar no EAS a presença de leucócitos, hemácias, células epiteliais, cilindros leucocitários e proteinúria leve. AVANÇANDO NA PRÁTICA UM LABORATÓRIO NOVO PARA CHAMAR DE MEU!!! Diferentes métodos são utilizados para a dosagem de ureia em laboratórios de análises clínicas. Cada método possui variações em sua especificidade, sensibilidade e precisão. Um biomédico foi contratado para implementar o setor de bioquímica do laboratório. Depois da análise de custos, o biomédico pode escolher entre o método de Urease ou o método Urease/Glutamato-desidrogenase, sendo seu objetivo diminuir a probabilidade de interferências no método. No lugar do biomédico, qual método você escolheria para ser utilizado no laboratório? O biomédico sabe que, em ambos os métodos, existe a enzima Urease que tem como função quebrar a ureia em íon Amônio e CO2. No método Urease o amônio reage com o Salicilato e Hipoclorito de Sódio, formando Monocloramina, que posteriormente forma o Indofenol. Já no método Urease/Glutamato-desidrogenase, a enzima Glutamato-desidrogenase é adicionada junto ao NH3 e α-Cetoglutarato, oxidando NADH para NAD+. A adição da enzima confere maior especificidade ao método diminuindo interferências causadas por outras desidrogenases e amônia na amostra. AVALIAÇÃO DA LESÃO E FUNÇÃO HEPÁTICA Caio Cesar Richter Nogueira PRATICAR PARA APRENDER O fígado é um dos órgãos mais importantes do corpo humano, possuindo inúmeras funções, tais como a regulação do metabolismo das macromoléculas, síntese de proteínas, síntese e degradação de hormônios, armazenamento de glicogênio e excreção de substâncias tóxicas. Portanto, nesta seção você vai aprender os marcadores utilizados para avaliação da função hepática; métodos utilizados para a dosagem desses analitos no sangue e orientações para a coleta da amostra. Em inúmeras doenças hepatobiliares os níveis séricos das enzimas alanina aminotransferase e aspartato aminotransferase podem estar aumentadas, como, por exemplo, nas hepatites virais e na cirrose. Um biomédico, responsável pelo setor de bioquímica recebe em seu laboratório uma amostra de um paciente com suspeita de lesão hepática para dosagem das transaminases e do cálculo do coeficiente de ritis. Após avaliação das transaminases, os valores das concentrações de Alanina aminotransferase e Aspartato aminotransferase encontrados foram de 69 U/L e 121 U/L, respectivamente. Entretanto, o biomédico não lembra da fórmula utilizada para determinar o coeficiente de ritis. No lugar do biomédico, utilizando os resultados encontrados de ALT e AST, qual seria o valor obtido do coeficiente de ritis? O valor do coeficiente indica uma doença aguda ou crônica? Reflita: você já ouviu alguém dizer que se arrependeu de ter estudado? Certamente não. Portanto, estude sempre. CONCEITO-CHAVE O perfil hepático, também conhecido como teste de função hepática, é utilizado para avaliar e acompanhar a funcionalidade do fígado e das doenças hepáticas. Os exames realizados nesse grupo podem variar de acordo com a solicitação médica, entretanto geralmente é composto pelos seguintes testes: Bilirrubinas totais, direta e indireta; Alanina aminotransferase; Aspartato aminotransferase; Gama-glutamiltransferase, Fosfatase Alcalina e Albumina. A bilirrubina é o produto final do catabolismo do grupo prostético Heme. Aproximadamente 250-400 mg de bilirrubina são produzidos diariamente pelo corpo humano. Cerca de 75% da concentração de bilirrubina tem origem na renovação de hemácias senescentes e 25% vêm da eritropoiese ineficaz e de outras hemeproteínas. O ferro da molécula heme retorna ao plasma, liga-se à transferrina e é transportado até o fígado. Já a protoporfirina IX é clivada no sistema retículo endotelial em biliverdina mediado pela enzima heme oxigenase. A biliverdina sofre ação da enzima biliverdina redutase para formar a bilirrubina não conjugada ou bilirrubina indireta (BI). A bilirrubina indireta é insolúvel em água, portanto possui dificuldade de ser transportada pela corrente sanguínea. Para isso, a BI precisa ser ligada à proteína plasmática albumina que a transporta pelo sangue até o fígado. Os hepatócitos possuem um sistema seletivo e altamente eficiente para a remoção da bilirrubina não conjugada do plasma, denominado transportador de ânions orgânicos. No interior do hepatócito, a bilirrubina liga-se à ligandina, uma proteína citosólica que auxilia o transporte para o retículo endoplasmático, onde a enzima glicuroniltransferase catalisa a conjugação da bilirrubina com o ácido UDP-glicurônico formando monoglicuronídeo e, posteriormente, em diglicuronídeo de bilirrubina, também chamada bilirrubina conjugada ou bilirrubina direta (BD). A bilirrubina direta é excretada através do polo biliar dos hepatócitos que está em íntimo contato com os canalículos biliares e, posteriormente, no intestino. No cólon intestinal, a bilirrubina direta sofre ação da enzima glicuronidase bacteriana para formar urobilinogênio, que é eliminado nas fezes, na forma de estercobilina. Uma parte da bilirrubina é reabsorvida através da mucosa intestinal e volta ao fígado pelo sistema porta, constituindo o sistema entero-hepático. A concentração de bilirrubina com valores superiores à taxa normal no sangue é chamada hiperbilirrubinemia e as baixas concentrações são denominadas hipobilirrubinemia. As doenças que geram a hiperbilirrubinemia são mais frequentes nas análises clínicas, podendo ser divididas em hiperbilirrubinemia indireta e direta. Em ambas as formas, quando as concentrações de bilirrubina excedem 3 mg/dL no sangue, torna-se evidente o aparecimento do sintoma denominado icterícia, caracterizado pela coloração amarelada da pele, olhos e mucosas. Na hiperbilirrubinemia indireta existe o aumento sérico de bilirrubina não conjugada, impossibilitando que o hepatócito absorva toda essa concentração. Esse quadro pode ocorrer principalmente no recém-nascido pela pouca atividade da enzima glicuroniltransferase e por doenças hemolíticas. Já na hiperbilirrubinemia direta existe o aumento sérico de bilirrubina conjugada,indicando comprometimento na captação, armazenamento ou excreção da bilirrubina, que pode ser gerada por complicações em vários órgãos, principalmente por lesões hepatocelulares e infecções virais. REFLITA Como acabamos de estudar, a hiperbilirrubinemia indireta está principalmente relacionada a doenças hemolíticas. Você consegue pensar em alguma doença desse tipo? Além disso, quais exames imunohematológicos podem ser realizados para auxiliar no diagnóstico dessas doenças? Para a dosagem laboratorial da bilirrubina no sangue, atualmente, não são necessárias orientações prévias ao paciente. A amostra utilizada pode ser soro ou plasma (coletada em EDTA ou Heparina) livres de hemólise. É importante manter a amostra no escuro até a realização do exame. ASSIMILE A ação da luz pode alterar a estrutura da molécula de bilirrubina produzindo fotoprodutos, como a lumirrubina. Esses fotoprodutos não são dosados nos métodos utilizados para avaliação da bilirrubina. A incidência da luz pode destruir, em uma hora, até 50% da bilirrubina presente na amostra. O principal método utilizado para a dosagem de bilirrubina baseia-se na reação com o Ácido Sulfanílico Diazotado, formando um complexo denominado Azobilirrubina, de coloração vermelha. Essa cor pode ser lida através de espectrofotometria utilizando o comprimento de onda entre 500 e 550 nm. A Bilirrubina Direta é dosada em meio aquoso, já para a dosagem da Bilirrubina total (Bilirrubina Direta + Bilirrubina Indireta), deve-se adicionar álcool para permitir a solubilidade da bilirrubina indireta. As transaminases são enzimas que catalisam a transferência do grupo amino de um aminoácido para um α- cetoácido. Essas enzimas são denominadas a partir da molécula que doa o grupo amino. O fígado produz mais de 60 transaminases, entretanto apenas duas possuem importância clínica, sendo elas a alanina aminotransferase e a aspartato aminotransferase. No citoplasma do hepatócito, a enzima alanina aminotransferase (ALT), também conhecida como transaminase glutâmico pirúvica (TGP), catalisa a reação de doação do grupo amino da molécula de alanina para o α-cetoglutarato, formando piruvato e glutamato. Já a enzima aspartato aminotransferase (AST), também conhecida como transaminase glutâmico-oxalacética (TGO), catalisa a reação de doação do grupo amino da molécula de glutamato para o Oxaloacetato, formando α-cetoglutarato e aspartato no interior da mitocôndria. A concentração de transaminases com valores superiores à taxa normal no sangue é chamada hipertransaminasemia e as baixas concentrações são denominadas hipotransaminasemia. O aumento dos níveis séricos das aminotransferases estão relacionados a hepatopatias. Uma vez que as concentrações de ALT no citoplasma do hepatócito são maiores do que os níveis de AST (80% no interior da mitocôndria) seus níveis séricos podem ser utilizados para avaliação da gravidade da lesão. A razão das atividades séricas de AST e ALT foi descrita por Fernando De Ritis, em 1957, e é conhecida como coeficiente de Ritis. O coeficiente consiste na divisão da concentração plasmática de AST pela concentração plasmática de ALT. Coeficiente de Ritis = Concentração de AST ___________________________ Concentração de ALT Se o valor da divisão for maior que 1, isso pode indicar lesões crônicas, como a cirrose crônica e hepatites crônicas. Caso o valor da divisão for menor que 1, pode ser indicativo de lesões agudas, como nas hepatites agudas. Para a dosagem laboratorial das transaminases no sangue, não é necessário jejum prévio. O paciente não pode ter realizado eletroneuromiografia nos últimos três dias e biópsia muscular ou hepática nos últimos 5 dias. A amostra utilizada pode ser soro ou plasma (coletada em EDTA ou Heparina) livres de hemólise. O método utilizado para a dosagem das transaminases baseia-se na função de cada enzima. A ALT catalisa a transferência do grupamento amina da Alanina para α-Cetoglutarato, formando piruvato e glutamato. O Piruvato, em presença de outra enzima denominada lactato desidrogenase, reage com o NADH, reduzindo o Lactato, e o NADH oxida-se a NAD+. A velocidade de oxidação é proporcional à atividade da ALT na amostra. A enzima AST catalisa a transferência do grupo amina do Aspartato para o α-Cetoglutarato, formando Glutamato e Oxalacetato. O Oxalacetato em presença de outra enzima, denominada malato desidrogenase, reage com o NADH, reduzindo o Malato e o NADH oxida-se a NAD+. A velocidade de oxidação é proporcional à atividade da AST na amostra. A γ-glutamiltransferase (γ-GT), também conhecida como γ-glutamiltranspeptidase, é uma glicoproteína heterodimérica que catalisa a transpeptidação e hidrólise do grupo -glutamil da glutationa e substâncias relacionadas. A γ-GT está presente principalmente nas vias biliares, rins, intestinos, próstata, pâncreas, pulmões, cérebro e coração. Não existe uma nomenclatura técnica para denominar o aumento ou diminuição dos níveis séricos das γ-glutamiltransferase. O aumento dos níveis séricos de γ-GT estão relacionados ao dano hepático ou dos ductos biliares, abuso de álcool e doenças renais crônicas. Para a dosagem laboratorial da γ-GT no sangue, não é necessário jejum prévio. O paciente não deve ingerir álcool por 24 horas antes da prova. A amostra utilizada pode ser soro ou plasma (Heparina ou EDTA). Anticoagulantes contendo Citrato, Fluoreto ou Oxalato inibem a atividade da Gama GT. No método para a dosagem de γ-GT é adicionado γ-Glutamil-3-Carboxi-4-Nitroanilida e Glicilglicina na presença da enzima γ-GT, resultando na formação de γ -Glutamilglicilglicina e 5-Amino-2-Nitrobenzoato. A velocidade de formação da 5-Amino-2-Nitrobenzoato em 405 nm é proporcional à atividade da enzima. As fosfatases alcalinas (FA) são um grupo de isoenzimas que catalisam a hidrólise de ésteres de fosfato orgânicos em pH alcalina, tendo zinco e magnésio como cofatores. Existem diversas isoenzimas expressas na mucosa do intestino delgado, nos canalículos biliares, túbulos renais, baço, osteoblastos, leucócitos e na placenta. Cerca de 80% da enzima no soro é liberada pelo fígado e os ossos. No fígado, as FA estão presentes na membrana dos canalículos dos hepatócitos. Os níveis de FA sérica variam com a idade em indivíduos normais e seus níveis são elevados durante a infância devido ao crescimento ósseo. A concentração de FA com valores superiores à taxa normal no sangue é chamada hiperfosfatasemia alcalina, e as baixas concentrações são denominadas de hipofosfatemia alcalina. As doenças que geram a hiperfosfatasemia alcalina são mais frequentes nas análises clínicas. A hiperfosfatasemia alcalina pode ser gerada em qualquer tipo de obstrução hepática, podendo permanecer em níveis elevados por até 1 semana. Os níveis séricos de FA também podem estar elevados em doenças ósseas caracterizadas pela hiperatividade osteoblástica. Para a dosagem laboratorial da FA no sangue, não é necessário jejum prévio, evitando alimentos ricos em lipídeos. A amostra utilizada pode ser soro ou plasma (Heparina). As hemácias possuem altas concentrações de FA, portanto a amostra não pode conter hemólise. No método para dosagem de FA é adicionado p-nitrofenilfosfato e AMP na presença da enzima FA, resultando na formação de p-Nitrofenol. A velocidade de liberação do p-Nitrofenol é proporcional à atividade enzimática da Fosfatase Alcalina da amostra. A albumina é uma proteína plasmática produzida pelos hepatócitos, composta por uma cadeia peptídica de 585 aminoácidos (66,5 KDa) com abundância de resíduos de lisina, arginina, glutamato e aspartato. Em um humano adulto saudável, a albumina é sintetizada a uma taxa entre 12 e 25 g por dia. Suas principais funções são a geração da pressão coloidosmótica e transporte de bilirrubina, lipídios, hormônios lipossolúveis e fármacos. A concentração de albumina com valores superiores à taxa normal no sangue é chamada hiperalbuminemia e as baixas concentrações são denominadashipoalbuminemia. O aumento dos níveis séricos de albumina é raro, como nos casos de carcinomatose metastática e desidratação aguda. Já a hipoalbuminemia é encontrada nas doenças crônicas hepáticas, principalmente na cirrose, insuficiência renal aguda, pacientes renais crônicos e em indivíduos com dificuldade na absorção de nutrientes. Para a dosagem laboratorial da albumina no sangue, não é necessário jejum prévio. A coleta deve ser feita preferencialmente pela manhã, devido ao efeito circadiano. Durante a coleta, deve-se evitar a estase prolongada. A amostra utilizada deve ser soro livre de hemólise. EXEMPLIFICANDO A concentração de albumina na urina coletada durante 24 horas é de até 30 mg, no entanto, quando são verificados níveis entre 30 e 299 mg, esse quadro pode ser denominado microalbuminúria. Algumas das situações em que pode ser verificada a microalbuminúria são: diabetes, hipertensão, doenças cardiovasculares, doenças renais e alimentação rica em proteínas. No método de dosagem da albumina é utilizado o reagente Verde Bromocresol. A albumina liga-se ao Verde de Bromocresol formando um complexo corado que exibe um espectro de absorção diferente do corante no seu estado livre, permitindo a dosagem da concentração da albumina. Os analitos utilizados para a avaliação da função hepática são de grande auxílio no diagnóstico de doenças hepáticas, entretanto devem ser utilizados em conjunto e em associação com o grau de evolução da doença (agudo ou crônico). FAÇA A VALER A PENA Questão 1 A concentração de Fosfatase Alcalina com valores superiores à taxa normal no sangue é chamada hiperfosfatasemia alcalina, e as baixas concentrações são denominadas hipofosfatasemia alcalina. A enzima Fosfatase Alcalina é uma enzima responsável pela hidrólise de ésteres de fosfato orgânicos em pH __________. Essa enzima está presente em inúmeros órgãos, entretanto a concentração da fosfatase alcalina presente no sangue está relacionada aos danos no __________ e nos __________. Assinale a alternativa que preenche corretamente as lacunas. a. alcalino / fígado / ossos. b. ácido / fígado / ossos. c. alcalino / cérebro / ossos. d. ácido / fígado / adipócitos. e. alcalino / cérebro / adipócitos. Questão 2 Os prefixos são morfemas utilizados antes dos radicais com intuito de modificar o sentido, entretanto não produzem mudanças de classe gramatical. Os prefixos hiper e hipo são amplamente utilizados nas análises clínicas com intenção de indicar que a concentração de um analito está aumentada ou diminuída nos líquidos biológicos. Esses prefixos são utilizados em alguns marcadores de avaliação da função hepática. Tomando como referência as informações apresentadas, julgue as afirmativas a seguir em (V) Verdadeiras ou (F) Falsas. ( ) O termo hipoalbuminemia é utilizado quando um paciente apresenta níveis baixos de albumina no sangue. ( ) O termo hiperbilirrubinemia direta é utilizado quando um paciente apresenta níveis elevados de bilirrubina não conjugada no sangue. ( ) O termo hiperbilirrubinemia indireta é utilizado quando um paciente apresenta níveis elevados de bilirrubina indireta no sangue. ( ) O termo hipofosfatasemia alcalina é utilizado quando um paciente apresenta níveis elevados de fosfatase alcalina no sangue. Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA. a. V - V - F - F. b. F - F - V - V. c. V - F - V - F. d. V - F - V - V. e. V - V - V - F. Questão 3 Um homem, com idade de 20 anos, chega ao hospital no setor de urgência apresentando febre, fadiga, perda de apetite e dores abdominais. O paciente também relata que sua urina encontra-se escura, suas fezes claras e que compartilha seringas com outros indivíduos no intuito de utilizar drogas ilícitas. Durante a avaliação física, o médico percebe que a mucosa ocular do paciente encontra-se extremamente amarelada. Após avaliação clínica, o médico suspeita de hepatite viral e solicita a dosagem laboratorial de bilirrubina, ALT, AST e albumina. Tomando como base as informações apresentadas na Tabela 1, avalie as informações a seguir. I. O aumento na concentração sérica de bilirrubina direta pode estar relacionado ao dano celular gerado pela lesão das células hepáticas. II. A concentração sérica de alanina aminotransferase e aspartato aminotransferase indicam que a lesão gerada pela hepatite viral é aguda. III. A concentração sérica de albumina encontra-se dentro dos valores de referência, pois seu aumento está relacionado a lesões crônicas hepáticas. IV. A concentração de bilirrubina indireta também deveria estar aumentada, pois em hepatites agudas a lesão do hepatócito libera bilirrubina indireta no sangue. Considerando o contexto apresentado, assinale a alternativa que apresenta as afirmativas corretas. a. I e II, apenas. b. III e IV, apenas. c. I, II e III, apenas. d. I, III e IV, apenas. e. II, III e IV, apenas. REFERÊNCIAS FAN, Y.; JIN, X.; MAN, C.; GONG, D. Association of serum gamma-glutamyltransferase with chronic kidney disease risk: a meta-analysis. Free Radical Research, v. 52, n. 8, p. 819-825, 2018. LOWE, D.; SANVICTORES, T.; JOHN, S. Alkaline Phosphatase. In: StatPearls. StatPearls Publishing Treasure Island. 2020. MARTELII A. Síntese e metabolismo da bilirrubina e fisiopatologia da hiperbilirrubinemia associados à Síndrome de Gilbert: revisão de literatura. Revista Médica de Minas Gerais. v. 22, n. 2, p. 216-220, 2012. MOTTA, V. T. Diabetes e Outras Desordens dos Carboidratos. In: Bioquímica clínica para o laboratório: princípios e interpretações. 5. ed. Porto Alegre: Médica Missau, 2003. cap. 15, p. 227-240. NDREPEPA, G.; COLLERAN, R.; KASTRATI, A. Gamma-glutamyl transferase and the risk of atherosclerosis and coronary heart disease. Clinica Chimica Acta. v. 1, n. 476, p. 130-138, 2018. NÓBREGA, B. P.; LIMA, L. J. L.; FONSECA, D. V.; TENÓRIO, A. P. O.; TENÓRIO, P. P.; LOPES, M. R. A importância da análise sedimentoscópica diante dos achados físico-químicos normais no exame de urina. Revista Brasileira de Análises Clínicas, v. 51, n. 1, p. 58-64, 2020. PALIOGIANNIS, P.; ZINELLU, A. Bilirubin levels in patients with mild and severe Covid-19: A pooled analysis. Liver International, v. 40, n. 7, p. 1787-1788, 2020. PERLMAN, J. M.; VOLPE, J. J. Bilirubin. In: Volpe’s Neurology of the Newborn. 6. ed. Philadelphia: Elsevier. 2018. cap. 26, p. 730–762. ROY-CHOWDHURY, N., WANG, X., & ROY-CHOWDHURY, J. Bile Pigment Metabolism and Its Disorders. In: Emery and Rimoin’s Principles and Practice of Medical Genetics and Genomics. 7. ed. London: Elsevier 2020. cap. 19, p. 507–553. TANG, Z.; CHEN, H.; HE, H.; MA, C. Assays for Alkaline phosphatase activity: progress and prospects. TrAC Trends in Analytical Chemistry. v. 113, n. 1, p. 32-43, 2019. OLIVEIRA, I. M. V.; PAULO, R. H. Y.; FUJIMORI, E. Efeito da restrição energética na atividade hepática da gama-glutamiltranspeptidase e nos níveis de glutationa. Revista de Nutrição. v. 13, n. 1, p. 51-56, 2000. AVALIAÇÃO DA LESÃO E FUNÇÃO HEPÁTICA Caio Cesar Richter Nogueira SEM MEDO DE ERRAR A atividade das transaminases é utilizada como indicadora de danos hepatocelulares e o coeficiente AST:ALT (quociente de Ritis) tem grande valor diagnóstico. Após avaliação das transaminases, os valores das concentrações de Alanina aminotransferase e Aspartato aminotransferase encontrados no sangue de um paciente foram de 69 U/L e 121 U/L, respectivamente. Portanto, para obter o coeficiente de Ritis, basta o biomédico dividir o valor da concentração de Aspartato aminotransferase pela concentração de alanina aminotransferase. Após a divisão dos valores, o biomédico encontrou o valor de 1,75 U/L. Uma vez que o valor encontrado foi maior do que 1, isso pode indicar lesões crônicas, como a cirrose e hepatites crônicas. AVANÇANDO NA PRÁTICA CUIDADO COM A LUZ A bilirrubina é uma substância de coloração amarelada produzida pelas hemácias e pelo fígado. O exame de bilirrubina pode auxiliarno diagnóstico de doenças hepáticas, vias biliares ou alterações hematológicas (anemia hemolítica). Fábio é um biomédico responsável pelo setor de coleta de um hospital de emergência. Durante a rotina de coleta, Fábio foi chamado para um procedimento no Centro de Terapia Intensiva (CTI) e precisou deixar sua funcionária mais nova no setor de coleta. Após uma hora no CTI, Fábio volta para o setor de coleta e repara que sua funcionária havia coletado uma amostra para dosagem de bilirrubina em um tubo sem proteção da luz. Quais procedimentos você tomaria com a amostra coletada? A fase pré-analítica dos laboratórios de análises clínicas é de extrema importância para a qualidade da amostra que será analisada. Alguns fatores, como temperatura de armazenamento, manuseio e fotossensibilidade da amostra podem influenciar em um diagnóstico correto. A exposição à luz pode alterar as características de alguns analitos, acelerando sua degradação e influenciando a análise. Portanto, é recomendado preservar ao abrigo da luz em tubo âmbar as alíquotas para dosagem de bilirrubina, betacaroteno, vitamina A, vitamina B6 e porfirinas. Com a exposição da amostra à luz, sabe-se que a concentração de bilirrubina no soro está diminuída devido à oxidação da amostra, portanto solicita-se uma nova coleta e se descarta a amostra anterior. AVALIAÇÃO DAS DISLIPIDEMIAS Caio Cesar Richter Nogueira PRATICAR PARA APRENDER Os principais tipos de lipídeos presentes nos alimentos são os triglicerídeos, os fosfolipídeos e o colesterol. Esses lipídios são utilizados principalmente para a formação de energia através da beta-oxidação e na formação de hormônios esteroidais. Esses lipídios e os seus transportadores podem ser utilizados para avaliação do metabolismo e das doenças. Portanto, nesta seção você vai aprender os tipos de lipídeos; métodos utilizados para a dosagem desses analitos no sangue do paciente e orientações para a coleta da amostra. Uma criança (3 anos) é atendida em um hospital de emergência, sendo filho único de pais consanguíneos, sem antecedentes de doenças na família. Os pais encaminharam a criança para o hospital devido ao choro prolongado e à dilatação abdominal. Após avaliação de exames de imagem, o raio-X de abdômen mostrou aumento do fígado e a ultrassonografia de abdome revelou hepatomegalia. Na investigação laboratorial, foi solicitada a dosagem de AST, ALT, bilirrubinas e perfil lipídico. Uma biomédica recebe a amostra da criança no laboratório de análises clínicas do hospital. Ao observar o soro do paciente, ela percebe que a amostra apresenta lipemia acentuada. Pensando nos exames solicitados, quais análises você realizaria e qual o procedimento prévio deve ser realizado com a amostra? CONCEITO-CHAVE Os lipídios são um conjunto de macromoléculas, cuja característica química em comum é ser insolúvel em água (hidrofóbico). Eles são fundamentais para a produção de energia, constituição da membrana plasmática e precursores de hormônios e sais biliares. Dentre os lipídeos de importância nas análises clínicas, encontram-se as moléculas de triacilglicerol, o colesterol e os transportadores de lipídeos, como as lipoproteínas. O lipidograma é um exame laboratorial solicitado pelo médico com o objetivo de verificar o perfil lipídico do paciente, sendo ele composto pela dosagem do colesterol total (CT), lipoproteína de alta densidade (HDL), lipoproteína de baixa densidade (LDL) e triglicerídeos, podendo esse perfil lipídico ser estendido para a inclusão das análises da lipoproteína de muito baixa densidade (VLDL) e colesterol não HDL. As moléculas de triacilglicerol, também denominadas de triglicerídeos (TG) ou gorduras neutras, são formadas a partir da reação de esterificação entre três moléculas de ácido graxos e uma molécula de glicerol. Nessa reação ocorre a interação entre o grupo ácido carboxílico do ácido graxo e a hidroxila do glicerol. A concentração de triacilglicerol com valores superiores à taxa normal no sangue é chamada de hipertrigliceridemia pura e quando em conjunto com altas concentrações de colesterol é denominada de hiperlipidemia conjugada. As baixas concentrações de triacilglicerol são denominadas de hipotrigliceridemia. As doenças que geram a hipertrigliceridemia são mais frequentes nas análises clínicas e estão correlacionadas às dietas ricas em carboidratos, hipotireoidismo, síndromes genéticas (hiperlipidemia familial) e ao uso de fármacos. Para a dosagem laboratorial de triglicerídeos no sangue, é necessário jejum prévio de 12 a 14 horas, sendo possível a dosagem sem jejum caso solicitação médica. O laboratório deve informar no laudo os dois valores de referência (sem jejum e jejum de 12 horas), de acordo com o critério do médico solicitante. O paciente deve manter a dieta habitual nos cinco dias que antecedem a realização do exame, mas sem ingerir bebidas alcoólicas nas últimas 72 horas. Além disso, o paciente deve evitar a prática de exercício físico vigoroso nas 24 horas que antecedem a coleta da amostra. A amostra utilizada pode ser o soro ou plasma (coletada em EDTA ou heparina) livres de hemólise, pois pode interferir no resultado do exame (hemoglobina acima de 200 mg/dL). As amostras lipêmicas devem ser previamente diluídas com cloreto de sódio a 0,85%, na proporção 1:2. REFLITA A lipemia é o aspecto turvo do plasma, devido à presença de lipoproteínas. As altas concentrações de lipídios no sangue podem alterar a dosagem de alguns analitos. Você sabe como os lipídeos podem interferir nos métodos laboratoriais? Os métodos químicos utilizados para a dosagem de triglicerídeos no sangue do paciente estão sendo abandonados devido à necessidade de remover previamente interferentes, como os fosfolipídeos e a glicose. No método enzimático é utilizada uma lipase para quebrar a molécula de triglicerídeo em glicerol e ácidos graxos livres. A enzima glicerol quinase utiliza o glicerol formado na reação anterior e adiciona um grupo fosfato do ATP para formar glicerol-3-fosfato (G-3F). O G-3F na presença do oxigênio molecular sofre ação da enzima glicerol fosfato liberando peróxido de hidrogênio (H2O2). O H2O2, 4-aminoantipirina e p-clorofenol, na presença da enzima peroxidase, origina um cromógeno de cor cereja, cuja intensidade de cor é proporcional à concentração de triglicérides na amostra do paciente. Os esteróis são lipídios estruturais presentes nas membranas da maioria das células eucarióticas. Sua estrutura é caracterizada por um núcleo esteroidal, que consiste em quatro anéis, três com seis carbonos e um com cinco. O principal esterol nos tecidos animais é o colesterol. Essa molécula é formada por 27 carbonos, cujo carbono 3 apresenta uma hidroxila e uma dupla ligação entre os carbonos 5 e 6. Segundo recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS), a ingestão diária da substância deve ser inferior a 300 mg para a população em geral, e menor que 200 mg para pessoas com histórico de doenças cardiovasculares. A concentração de colesterol total com valores superiores à taxa normal no sangue é chamada de hipercolesterolemia, e as baixas concentrações de colesterol são denominadas de hipocolesterolemia. O aumento dos níveis séricos de colesterol está correlacionado com a hipercolesterolemia poligênica. Essa doença ocorre devido a uma complexa interação entre múltiplos fatores genéticos e ambientais e é caracterizada por níveis séricos entre 240 e 350 mg/dL de colesterol e teores normais de triglicerídeos. A hipercolesterolemia familiar também pode acontecer. Essa doença se caracteriza por uma desordem autossômica que produz elevações do colesterol total e da lipoproteína de baixa densidade. A diminuição dos níveis séricos de colesterol está correlacionada principalmente com a má absorção de lipídeos, hipertireoidismo e uso de medicamentos. Para a dosagem laboratorial de colesterol total no sangue, não é necessário jejum prévio, sendo possível a dosagem com jejum máximo de14 horas caso solicitação médica. O garroteamento durante a coleta que ultrapassar 1 minuto, gera aumento de cerca de 5% no CT, portanto, é recomendado a remoção do torniquete logo após a agulha penetrar na veia. O paciente deve manter a dieta habitual nos cinco dias que antecedem a realização do exame, mas sem ingerir bebidas alcoólicas nas últimas 72 horas. Além disso, o paciente deve evitar a prática de exercício físico vigoroso nas 24 horas que antecedem a coleta da amostra. A amostra utilizada pode ser o soro ou plasma (coletada em heparina) livres de hemólise. Os métodos químicos baseados na reação de Liebermann-Burchard utilizados para a dosagem de colesterol total no soro do paciente estão sendo abandonados devido a interferências da bilirrubina, turvação, lipemia e hemólise, pois pode influenciar no resultado do exame (hemoglobina acima de 200 mg/dL). O método enzimático mais utilizado para a dosagem de colesterol baseia-se na utilização dos ésteres de colesterol presentes no sangue do paciente como substrato para a enzima lipase, formando colesterol e ácidos graxos livres. A enzima colesterol oxidase gera a oxidação do colesterol, formando colesterol-3-ona e peróxido de hidrogênio (H2O2). A molécula de H2O2 interage com o fenol e a 4-aminoantipirina, via enzima peroxidase, formando um cromógeno de coloração cereja. A intensidade da cor cereja gerada é diretamente proporcional à concentração de colesterol no soro do paciente. As partículas de lipoproteínas são diferentes complexos de macromolecular com estrutura esférica, responsáveis pelo transporte de triglicerídeos, fosfolipídeos, colesterol e proteínas (apolipoproteínas) pela corrente sanguínea. A densidade dessas lipoproteínas pode variar de valores inferiores a 0,94 g/mL a 1.210 g/mL e diâmetro entre 70 e 6000 Â. As principais lipoproteínas de densidades variadas no sangue humano são as de muita baixa densidade, as de densidade intermediária (IDL), as de baixa densidade, as de alta densidade e os quilomícrons. Após a ingestão do bolo alimentar, os lipídios são absorvidos no intestino pelos enterócitos. No interior do retículo endoplasmático, as moléculas de monoacilglicerol (MAG) absorvidas sofrem ação da enzima monoacilglicerol acetiltransferase, adicionando uma cadeia de ácidos graxos para formar diacilglicerol (DAG). Posteriormente, a enzima diacilglicerol aciltransferase catalisa a adição de mais uma cadeia de ácido graxo ao DAG para formar triacilglicerol (TAG). As moléculas de TAGs interagem com as apo B-48, apo A-I e apo A-IV por ação da Proteína Microssomal de Transferência de Triglicérides (MTP), formando os pré-quilomícrons, que vão se ligar às vesículas transportadoras de pré-quilomícrons para que sejam encaminhadas para o complexo de Golgi e liberadas pela membrana basolateral. Devido ao seu caráter hidrofóbico, os quilomícrons (QM) são encaminhados para os vasos linfáticos, passam pelo ducto torácico e entram na circulação sistêmica na altura da veia subclávia. Os QM interagem com HDL, adquirindo apo C-II, apo C-III, apo E, colesterol livre, colesterol esterificado e fosfolipídios. Já as HDL recebem apo A-I e IV dos QM. Agora com a apo C-II em sua estrutura, os QM tornam-se capazes de ativar a lipase lipoprotéica (LPL) hidrolisando os TAG e passando a ser denominados de quilomícrons remanescentes (QMR). Os QMR são então removidos da circulação pelo fígado. No ciclo endógeno, ocorre a formação de VLDL no interior do fígado. A proteína microssomal de transferência de triglicerídeos combina colesterol éster, triacilglicerol e apo B-100 para formar as lipoproteínas de muito baixa densidade, que são eliminadas na corrente sanguínea. As VLDL captam mais ésteres de colesterol, apo C-II, C-III e E da interação com HDL no plasma, tornando-se capazes de interagir com a enzima LPL do endotélio capilar, quebrando TAG e liberando ácidos graxos aos tecidos. A perda de TAG para o tecido faz com que a VLDL diminua de tamanho, passando a ser classificada como lipoproteínas de densidade intermediária. Dessas partículas, cerca de dois terços das IDL são captadas no fígado e degradadas e o terço restante sofre ação da lipase hepática, formando a LDL. As partículas de LDL são removidas do plasma pelo fígado através do reconhecimento dos receptores celulares B100/E. ASSIMILE A aterosclerose é uma doença multifatorial resultante de uma série de respostas celulares e moleculares. O depósito de lipídios, as células inflamatórias e os elementos fibrosos são os responsáveis pela formação de placas que ocasionam a obstrução das artérias. As lipoproteínas, principalmente as LDL, possuem um papel de destaque na etiologia da doença. A concentração de lipoproteínas com valores superiores à taxa normal no sangue é chamada de hiperlipoproteinemia e as baixas concentrações das lipoproteínas são denominadas de hipolipoproteinemia. As alterações na concentração de lipídios no sangue também podem ser denominadas de dislipidemias, as quais podem ser classificadas em hiperlipidemias (níveis elevados de lipoproteínas) e hipolipidemias (níveis plasmáticos de lipoproteínas baixos). As causas na variação da concentração dos lipídios no sangue podem ser classificadas como primárias, em que os distúrbios lipídicos são de origem genética; e secundárias, decorrente do estilo de vida inadequado, de certas condições mórbidas ou pela utilização de medicamentos. As dislipidemias também podem ser classificadas de acordo com os achados laboratoriais descritos na tabela a seguir. Para a dosagem laboratorial das lipoproteínas no sangue, não é necessário jejum prévio, sendo possível a dosagem com jejum entre 12 e 14 horas caso solicitação médica. O paciente deve manter a dieta habitual nos cinco dias que antecedem a realização do exame, mas sem ingerir bebidas alcoólicas nas últimas 72 horas. Além disso, o paciente deve evitar a prática de exercício físico vigoroso nas 24 horas que antecedem a coleta da amostra. A amostra utilizada pode ser o soro ou plasma (coletada em heparina ou EDTA) livres de hemólise, pois pode interferir no resultado do exame (hemoglobina acima de 200 mg/dL). Os métodos enzimáticos colorimétricos são os mais utilizados nos dias de hoje em laboratórios de análises clínicas para a determinação da lipoproteína HDL. O método baseia-se na densidade diferente das partículas, uma vez que após centrifugação a 3.500 rpm durante 15 minutos, as lipoproteínas VLDL, LDL e os quilomícrons são precipitados junto à mistura de ácido fosfotúngstico e cloreto de magnésio. O sobrenadante contém apenas colesterol HDL e deve ser dosado como descrito na dosagem de colesterol total. Para a dosagem de LDL, pode ser utilizado o cálculo baseado na fórmula de Friedewald, onde: LDL = CT - HDL - TG/5. A concentração de VLDL também pode ser encontrada através do cálculo VLDL = TG/5, sendo necessário que a concentração de TG seja menor que 400 mg/dL. EXEMPLIFICANDO Um exemplo na aplicabilidade da fórmula de Friedewald pode ser observado em um paciente hipotético com os seguintes resultados laboratoriais: colesterol total = 169 mg/dL; HDL = 43 mg/dL; TG = 110 mg/dL LDL = CT - HDL - TG/5; LDL = 169 - 43 - (110/5) = 104 mg/dL O colesterol não HDL representa todas as lipoproteínas, com exceção do HDL, e é estimado subtraindo-se o valor do HDL do CT, utilizando a fórmula: Colesterol não HDL = CT - HDL. A utilização do colesterol não HDL tem a finalidade de estimar a quantidade de lipoproteínas aterogênicas circulantes no plasma. FAÇA VALER A PENA Questão 1 Os lipídios ou gorduras são moléculas orgânicas insolúveis em água, formados principalmente por átomos de carbono, oxigênio e hidrogênio. O consumo de lipídios na dieta é de extrema importância, pois participam como fonte energética, constituinte da membrana plasmática, isolante térmico corporal e proteção contra impactos aos órgãos. Entretanto, seu consumo excessivo pode levar a altas concentrações de lipídios no sangue,levando ao aparecimento de doenças. Assinale a alternativa que apresenta corretamente o termo utilizado para as altas concentrações de colesterol no sangue. a. Hiperlipoproteinemia. b. Hipolipoproteinemia. c. Hipercolesterolemia. d. Hipocolesterolemia. e. Hiperalbuminemia. Questão 2 As alterações na concentração de lipídeos no sangue também são denominadas de dislipidemias. A dislipidemia pode ser classificada como hipercolesterolemia isolada, hipertrigliceridemia isolada, hiperlipidemia mista e HDL-c baixo. Tomando como referência as informações apresentadas, julgue as afirmativas a seguir em (V) Verdadeiras ou (F) Falsas. ( ) Níveis séricos de LDL superiores a 160 mg/dL e triglicerídeos superiores a 150 mg/dL em jejum de 12 horas podem ser caracterizados como hiperlipidemia mista. ( ) Um paciente que apresenta níveis de LDL de 142 mg/dL pode ser classificado como hipercolesterolemia isolada. ( ) Níveis séricos de triglicerídeos superiores a 175 mg/dL sem jejum podem ser caracterizados como hipertrigliceridemia isolada. ( ) A concentração de HDL no sangue de um paciente não deve ser utilizada para a determinação de dislipidemias. Assinale a alternativa que apresenta a sequência correta. a. V – V – F – F. b. F – F – V – V. c. V – F – V – F. d. V – F – V – V. e. V – V – V – F. Questão 3 Um homem (65 anos) chega ao hospital para uma consulta de rotina. Após avaliação física, o médico percebe que o paciente apresenta pequenas lesões em alto relevo na pele, aparentemente formadas por gorduras próximas ao joelho. O paciente também apresentava bolsas amareladas nas pálpebras. O médico suspeita de hipercolesterolemia e solicita a dosagem laboratorial do perfil lipídico. Tomando como base as informações apresentadas na tabela, avalie as informações a seguir. I. Todos os valores encontrados no sangue do paciente estão dentro dos valores de referência. II. Quando avaliados os parâmetros do perfil lipídico, é possível deduzir que os níveis de VLDL do paciente era de 85 mg/dL. III. Quando avaliados os parâmetros do perfil lipídico, é possível deduzir que a doença do paciente pode ser classificada como hiperlipidemia mista. IV. Quando avaliados os parâmetros do perfil lipídico, é possível deduzir que os níveis de colesterol não HDL do paciente eram de 278 mg/dL. Considerando o contexto apresentado, assinale a alternativa que apresenta todas as afirmativas corretas. a. I e II. b. III e IV. c. I, II e III. d. I, III e IV. e. II, III e IV. REFERÊNCIAS FLEURY MEDICINA E SAÚDE. Exames oferecidos. [s. d.]. Disponível em: https://bit.ly/3wMASRC. Acesso em: 17 mar. 2021. FALUDI, A. A. Atualização da diretriz brasileira de dislipidemias e prevenção da aterosclerose. In: SOCIEDADE BRASILEIRA DE CARDIOLOGIA, v. 109, p. 1-76, 2017. FORTI, N.; DIAMENT, J. Lipoproteínas de alta densidade: aspectos metabólicos, clínicos, epidemiológicos e de intervenção terapêutica. Atualização para os clínicos. Arquivos Brasileiros de Cardiologia, v. 87, n. 5, p. 671-679, 2006. MARANHÃO, R.; CARVALHO, P. O.; PILEGGI, F. Lipoproteína (a): Estrutura, Metabolismo, Fisiopatologia e Implicações Clínicas. Arquivos Brasileiros de Cardiologia, v. 103, n. 1, p. 76-84, 2014. MOTTA, V. T. Lipoproteínas plasmáticas. In: MOTTA, V. T. Bioquímica clínica para o laboratório: princípios e interpretações. 5. ed. Porto Alegre: Médica Missau, 2003. cap. 10.4, p. 126. NELSON, D. L. Catabolismo de Ácidos Graxos. In: NELSON, D. L.; COX, M. M. Princípios de bioquímica de Lehninger. 6. ed. Porto Alegre: Artmed, 2014. cap. 17, p. 667. SALES, R. L.; PELUZIO, M. C. G.; COST, N. M. B. Lipoproteínas: uma revisão do seu metabolismo e envolvimento com o desenvolvimento de doenças cardiovasculares. Revista da Sociedade Brasileira de Alimentação e Nutrição, v. 25, p. 71-86, 2003. ZHU, Y.; BO, Y.; LIU, Y. Dietary total fat, fatty acids intake, and risk of cardiovascular disease: a dose-response meta-analysis of cohort studies. Lipids in health and disease, v. 91, p. 1-14, 2019. AVALIAÇÃO DAS DISLIPIDEMIAS Caio Cesar Richter Nogueira SEM MEDO DE ERRAR A lipemia é caracterizada pelo aspecto turvo da amostra (soro ou plasma), devido à presença de lipídeos. Essa característica pode ocorrer devido ao tempo de jejum incorreto, dieta rica em lipídios ou defeitos no metabolismo. Amostras lipêmicas não devem ser utilizadas na dosagem da maioria dos analitos investigados nas análises clínicas. Portanto, a biomédica não deve realizar a dosagem das enzimas alanina aminotransferase, aspartato aminotransferase e do metabólito bilirrubina, pois a presença dos lipídios pode interferir nas metodologias utilizadas. Já para a dosagem do perfil lipídico, é indicada a diluição prévia da amostra utilizando com cloreto de sódio a 0,85%, na proporção 1:2. AVANÇANDO NA PRÁTICA CALMA SOFIA, NÃO CHORA!!! Vários métodos laboratoriais são utilizados para a dosagem de LDL no sangue do paciente, dentre eles estão imunoseparação, colorimetria enzimática, ultracentrifugação, beta quantificação, determinação por detergente seletivo, eletroforese enzimática e cromatografia em gel de alta resolução. Entretanto, diversos laboratórios se utilizam de fórmulas matemáticas para determinar algumas lipoproteínas. Sofia é uma biomédica que trabalha no setor de bioquímica no laboratório de análises clínicas. Quase no fim do plantão, os reagentes do seu equipamento terminam e Sofia ainda precisa realizar a análise do perfil lipídico estendido de um paciente. Antes do término dos reagentes, a biomédica conseguiu dosar os seguintes analitos: CT = 169 mg/dL; TG = 145 mg/dL; HDL = 55 mg/dL. Sofia sabe que é possível calcular os valores que faltam na análise do perfil lipídico através de fórmulas matemáticas, entretanto não lembra dos cálculos. No lugar da Sofia, como você encontraria os valores de VLDL, LDL e colesterol não HDL? Apesar de a fórmula de Friedewald apresentar limitações em sua utilização, por não cumprir o atual requerimento nas determinações de LDL em não exceder o erro total de 12%, o baixo custo e a simplicidade do cálculo popularizaram o uso clínico dessa fórmula. Outras fórmulas também podem ser utilizadas para a determinação de analitos do perfil lipídico. Para a determinação de LDL, pode ser utilizada a seguinte fórmula: LDL = CT - HDL - TG/5. Substituindo os valores na fórmula podemos encontrar: LDL = 169 - 55 - (145/5) = 85 mg/dL. Para obter o valor de VLDL, pode ser utilizada a seguinte fórmula: VLDL = TG/5. Substituindo os valores na fórmula podemos encontrar: VLDL = 145/5 = 29 mg/dL. Para obter o valor do colesterol não HDL, pode ser utilizada a seguinte fórmula: Colesterol não HDL = CT - HDL. Substituindo os valores na fórmula podemos encontrar: Colesterol não HDL = 169 - 55 = 114 mg/dL. AVALIAÇÃO DA LESÃO E FUNÇÃO CARDÍACA Caio Cesar Richter Nogueira PRATICAR PARA APRENDER O coração é um órgão muscular localizado sob o esterno e entre os pulmões, com função de bombear o sangue pelo corpo. Avaliar o funcionamento desse órgão é de extrema importância, portanto, diversos biomarcadores foram desenvolvidos com o intuito de verificar a atividade do coração. Portanto, nesta seção você vai aprender sobre os biomarcadores utilizados para avaliação do infarto agudo do miocárdio; métodos utilizados para a dosagem desses analitos no sangue do paciente e orientações para a coleta da amostra. O infarto agudo do miocárdio (IAM), também conhecido como ataque cardíaco, é caracterizado pela ausência ou pela diminuição do fluxo sanguíneo, o que priva o músculo cardíaco (miocárdio) de oxigênio e de nutrientes, causando lesões importantes que podem levar à morte de células locais. Um homem (62 anos) chega ao hospital de emergência apresentando falta de ar, náuseas, vômito e tontura. Durante a anamnese, o paciente informou ao médico que no dia anterior sentiu dor no peito que irradiava para o braço esquerdo, entretanto não procurou assistência médica, pois achava que se tratavade gases. O médico solicitou a dosagem de enzimas cardíacas visando confirmar a suspeita de infarto agudo do miocárdio. Após avaliação dos dados, o médico pediu ajuda para o biomédico visando auxiliar na interpretação dos resultados, pois a troponina T e o CK-MB estavam acima dos valores de referência, entretanto os níveis de mioglobina estavam dentro dos valores de referência. No lugar do biomédico, como você explicaria os níveis dentro dos valores de referência das moléculas de mioglobina? CONCEITO-CHAVE Marcadores cardíacos são substâncias liberadas no sangue utilizadas para diagnosticar, avaliar e monitorar pacientes com danos cardíacos. Dentre as moléculas utilizadas para avaliação do dano cardíaco, pode ser citada a creatinaquinase isoforma MB (CK-MB), troponina T (cTnT), troponina I (cTnT) e mioglobina. Alguns outros marcadores cardíacos também são utilizados de forma adicional para avaliação de danos cardíacos, como a proteína C reativa, a homocisteína e o peptídeo natriurético cerebral. A creatinoquinase (CK) pertence à classe das transferases, ou seja, enzimas que transferem grupos funcionais entre doador e aceptor. A CK utiliza como substrato a creatina e a molécula de adenosina trifosfato (ATP) para adicionar um grupo fosfato do ATP na molécula de creatina, formando a fosfocreatina. Resumidamente, durante o processo de contração muscular, a energia dada para a actina e miosina é fornecida pela doação do grupo fosfato do ATP, formando Adenosina difosfato (ADP). A fosfocreatina doa o grupo fosfato para a molécula de ADP restaurando o ATP. A CK está amplamente presente em diversos tecidos do corpo, entretanto existem altas concentrações no músculo estriado esquelético, músculo cardíaco e tecido cerebral. A enzima é formada por duas subunidades, uma B cerebral (brain) e uma M muscular (muscle), onde suas interações podem formar três isoenzimas diferentes: CK-BB (CK1), CKMB (CK2) e CK-MM (CK3). A CK-MB pode ser encontrada no coração, no músculo esquelético, no intestino delgado, no diafragma, no útero, na língua e na próstata, sendo que cerca de 20% da CK total no miocárdio está na forma MB, o que confere sensibilidade e especificidade no diagnóstico de danos cardíacos. ASSIMILE A adenosina trifosfato é uma molécula utilizada pelo corpo humano como reserva de energia, sendo utilizada em diversos processos celulares e indispensável para a manutenção da homeostase celular. Mecanismos de regeneração da adenosina trifosfato após sua quebra são necessários para manter as reações químicas acontecendo. A fosfocreatina é conhecidamente sua fonte mais rápida de regeneração, por meio da enzima creatina quinase. As doenças que geram as altas concentrações da enzima CK-MB são mais frequentes nas análises clínicas e estão correlacionadas com infarto aguda do miocárdio, choque cardiogênico, cirurgia cardíaca e miocardites. Para a dosagem laboratorial da CK-MB no sangue, não é necessário jejum prévio. O paciente deve evitar o consumo de biotina ou suplemento com biotina em sua composição durante três dias antes do teste. A amostra utilizada pode ser o soro ou plasma (coletada em EDTA ou heparina) livres de hemólise. O método enzimático baseia-se na avaliação da atividade da enzima CK, na presença de um anticorpo que inibe a subunidade M, bloqueando a atividade de CK-MM e a fração M de CK-MB. Sabendo que a isoenzima CK-BB está presente em concentrações muito baixas no sangue, a atividade enzimática encontrada será correspondente apenas à fração B do CK-MB. Na reação química, a enzima CK catalisa a quebra do grupo fosfato da fosfocreatina, doando o fosfato para a ADP, formando ATP. A enzima hexoquinase remove um grupo fosfato do ATP e doa para a glicose formando glicose-6-fosfato. Posteriormente, a enzima glicose-6-fosfato-desidrogenase (G6PD) catalisa a conversão da glicose-6-fosfato e NADP+ em 6-fosfogliconolactona e NADPH. O aumento da absorbância do NADPH é medido utilizando o comprimento de onda em 340 nm. Sendo assim, a absorbância é proporcional à concentração da CK-MB no soro/plasma do paciente. O método imunológico, também chamado de CK-MB massas, utilizado para a dosagem da concentração de CK-MB, é baseado na ligação do anticorpo com o antígeno presente na amostra, formando complexos antígeno-anticorpo, que migram para a matriz de nitrocelulose, sendo capturados por outro anticorpo imobilizado. Quanto mais antígeno presente na amostra, mais complexos antígeno-anticorpo serão formados, levando à produção de fluorescência que pode ser dosada. Se comparado ao método enzimático, o método imunológico possui maior sensibilidade, pois é capaz de quantificar enzimas inativas e ativas, diferente do método enzimático, que depende da atividade da enzima. O sarcômero é um componente do músculo estriado que permite a contração muscular e é formado por um filamento grosso (miosina) e um filamento fino (actina, tropomiosina e troponina). A troponina tem três subunidades: TnT, que se liga à tropomiosina; TnI, que inibe as interações entre a actina e a miosina, e TnC, que liga ao cálcio. Quando as células do miocárdio são danificadas, existe a liberação das subunidades TnT e TnI no sangue. As doenças que geram as altas concentrações da troponina mais frequentes nas análises clínicas e estão correlacionadas com infarto agudo do miocárdio, injúria miocárdica e miocardite. Para a dosagem laboratorial da troponina no sangue, não é necessário jejum prévio. A amostra utilizada pode ser o sangue total, soro ou plasma (coletada em EDTA ou heparina) livres de hemólise. O método de imunocromatografia é a técnica mais utilizada para avaliar a presença ou ausência da troponina I ou troponina T no soro do paciente. Um anticorpo monoclonal de camundongo denominado anti-cTnI ou anti-cTnT se liga ao tipo de troponina presente na amostra. A amostra migra por capilaridade pela membrana cromatográfica. Amostras positivas para cTnI irão formar uma linha de cor vermelha na região onde os anticorpos monoclonais anti-cTnI estão imobilizados. A mioglobina é uma proteína globular citoplasmática formada por uma cadeia de 154 aminoácidos com estrutura semelhante à da hemoglobina, presente majoritariamente nos músculos esqueléticos e cardíacos. Sua principal função é suprir a demanda de oxigênio no interior da mitocôndria na célula muscular. Os seus valores de referência variam de acordo com o sexo, a idade e a raça. Os aumentos séricos da mioglobina estão correlacionados com qualquer dano recente ao músculo cardíaco ou músculo esquelético. As doenças que geram as altas concentrações de mioglobina mais frequentes nas análises clínicas estão correlacionadas com infarto agudo do miocárdio, entretanto seus valores se alteram na presença de lesões musculares (rabdomiólise), exposição a drogas e toxinas, insuficiência renal crônica, choque, traumas e após cirurgias. Por possuir um baixo peso molecular, é liberada para o sangue do paciente precocemente após lesão isquêmica da fibra miocárdica, sendo considerada um dos marcadores de lesão cardíaca mais precoce. Para a dosagem laboratorial da mioglobina no sangue, não é necessário o jejum prévio. A amostra utilizada pode ser o sangue total, soro ou plasma (coletada em EDTA ou heparina) livres de hemólise. O método de imunocromatografia é a técnica mais utilizada para avaliar a presença ou ausência da mioglobina no soro do paciente. Um anticorpo monoclonal de camundongo denominado anti-Mio se liga à mioglobina presente na amostra. A amostra migra por capilaridade pela membrana cromatográfica. Amostras positivas para mioglobina irão formar uma linha de cor vermelha na região onde os anticorpos monoclonais anti-Mio estão imobilizados. Todas as proteínas apresentadas são biomarcadores utilizados para o diagnóstico de infarto agudo do miocárdio. No IAM ocorre a necrose da célula miocárdica devido à oferta inadequada de oxigênio ao músculo cardíaco. Após a lesão miocárdica, o tempo deaparecimento dos marcadores no sangue, seu tempo do pico de concentração e o tempo de retorno aos níveis normais dependem de diversos fatores, como o compartimento intracelular das proteínas, o tamanho das moléculas, o fluxo regional linfático e sanguíneo e a taxa de depuração do marcador. Outros marcadores cardíacos também são utilizados de forma adicional para avaliação de danos cardíacos, como a proteína C reativa e homocisteína. REFLITA Quando avaliados os biomarcadores CK-MB, mioglobina e troponina utilizados para investigação do infarto agudo do miocárdio, é possível observar que essas moléculas aparecem no sangue com no mínimo 2 horas após a sintomatologia. Portanto, como deve ser realizado o diagnóstico laboratorial do IAM antes desse período? A proteína C reativa (PCR) é uma proteína plasmática pentamérica em forma de anel descoberta por Tillett e Francis em 1930. Essa proteína é produzida em resposta a inflamações agudas, devido à liberação de interleucina-6, interleucina-1 e fator de necrose tumoral dos leucócitos. Sua função está correlacionada com o reconhecimento e a eliminação de patógenos e células danificadas, através da ligação à fosfocolina, aos fosfolipídeos, à histona, à cromatina e à fibronectina. Entre as proteínas de fase aguda, a PCR destaca-se por apresentar meia-vida plasmática de aproximadamente 19 horas. Se comparado com a velocidade de hemossedimentação, os níveis de PCR aumentam e diminuem rapidamente com o início e a remoção do estímulo inflamatório. Como a concentração sérica de PCR é mantida durante a infecção, pode ser utilizada como avaliação da antibioticoterapia. Os níveis persistentemente elevados de PCR podem ser observados em condições inflamatórias crônicas, como infecções crônicas ou artrites inflamatórias. EXEMPLIFICANDO A proteína C reativa é conhecida como uma proteína presente em diversos processos infecciosos, por exemplo em pneumonias, meningites, otite, infecção do trato urinário, apendicite e pancreatite. Com o surgimento de técnicas mais sensíveis a variações na concentração sérica de PCR, processo denominado de proteína C reativa de alta sensibilidade (PCR-as), novas aplicações clínicas foram surgindo, como no diagnóstico de doenças cardíacas (vasos ateroscleróticos e no miocárdio infartado). Para a dosagem laboratorial da proteína C reativa de alta sensibilidade no sangue, não é necessário jejum prévio. A amostra utilizada pode ser o soro ou plasma (coletada em EDTA ou heparina) livres de hemólise. A dosagem da PCR-as não pode ser realizada caso o paciente apresente infecção, resfriado, febre, vacinação, cefaleia, dor lombar, tratamento dentário ou colocação de brincos, piercings ou tatuagens nas duas semanas anteriores à coleta do soro/plasma para o exame. Também é importante não mudar hábitos alimentares, fumo, reposição hormonal ou contraceptivos orais, consumo de álcool ou exercício físico no mesmo intervalo de tempo. O método de imunoturbidimetria é a técnica mais utilizada para a dosagem de PCR-as. Na presença de um polímero ativador, cuja função é aumentar a sensibilidade e a velocidade do ensaio, a PCR forma um complexo insolúvel com um anticorpo específico. Essa ligação PCR/anticorpo gera turbidez no ensaio, a qual sua intensidade é proporcional à concentração de PCR na amostra. A homocisteína (He) é uma substância derivada da desmetilação da metionina proveniente da dieta ou da via biossintética que converte a metionina em cisteína. Os níveis elevados de He no sangue do paciente estão relacionados a diversas doenças, como acidente vascular cerebral, Alzheimer, doença hepática gordurosa não alcoólica, disfunção renal, diabetes, câncer e principalmente doenças cardiovasculares. Concentrações elevadas de He inibem os mecanismos anticoagulantes do endotélio vascular e aumentam a formação de radicais livres, favorecendo o aparecimento de doenças cardiovasculares, portanto, a dosagem de homocisteína pode ser utilizada como fator de risco para eventos coronarianos. A concentração de homocisteína com valores superiores à taxa normal no sangue é chamada de hiperhomocisteinemia e as baixas concentrações são denominadas de hipohomocisteinemia. As doenças que geram a hiperhomocisteinemia são mais frequentes nas análises clínicas e já foram citadas nesta seção. As doenças que geram hipohomocisteinemia estão correlacionadas com problemas genéticos de enzimas envolvidas na biossíntese da homocisteína. FAÇA VALER A PENA Questão 1 A creatinoquinase (CK) pertence à classe das transferases, ou seja, enzimas que transferem grupos funcionais entre doador e aceptor. A CK-BB são enzimas que estão em maior concentração no __________, a enzima __________ está presente em maior concentração no músculo cardíaco e a enzima CK-MM está presente em maior concentração no __________. Assinale a alternativa que preenche corretamente as lacunas. a. cérebro; CK-MB; músculo estriado esquelético. b. coração; CK-MM; músculo cardíaco. c. músculo estriado esquelético; CK-BB; cérebro. d. cérebro; CK-BB; músculo estriado esquelético. e. músculo estriado esquelético; CK-MB; coração. Questão 2 O infarto agudo do miocárdio é caracterizado pela lesão ou morte dos cardiomiócitos devido à isquemia prolongada, sendo causada por trombose e/ou vasoespasmo sobre uma placa aterosclerótica. Devido à lesão, proteínas e enzimas presentes nas células cardíacas ganham o sangue do indivíduo e passam a ser possível sua dosagem. Tomando como referência as informações apresentadas, julgue as afirmativas a seguir em (V) Verdadeiras ou (F) Falsas. ( ) A mioglobina é a enzima que permanece durante mais tempo no sangue do paciente após o infarto agudo do miocárdio. ( ) O tempo do pico da concentração da troponina T é mais rápido que o tempo do pico de concentração da mioglobina. ( ) Se comparada às outras enzimas utilizadas para avaliação do IAM, a troponina é a enzima com o tempo de retorno aos níveis normais mais prolongado. ( ) A enzima CK-MB possui um pico de concentração que pode variar de 12 a 24 horas após o infarto agudo do miocárdio. Assinale a alternativa que apresenta a sequência correta. a. V – V – F – F. b. F – F – V – V. c. V – F – V – F. d. V – F – V – V. e. V – V – V – F. Questão 3 Um homem (66 anos) chega na emergência de um hospital sentindo dor precordial intensa de 24 horas de duração. Após anamnese, o paciente informa ao médico que possui histórico de hipertensão e hábito de fumar. O médico suspeita de infarto agudo do miocárdio e solicita a dosagem laboratorial do perfil cardíaco. Tomando como base as informações apresentadas na tabela, avalie as afirmações a seguir. I. Analisando os exames laboratoriais e a sintomatologia do paciente, ele pode ter um infarto agudo do miocárdio. II. Todos os resultados apresentados do paciente estão dentro dos valores de referência. III. É possível observar que devido ao tempo de aparecimento da sintomatologia os níveis de mioglobina estão voltando para os valores de referência. IV. Os níveis de CK-MB e troponina I estão acima dos valores de referência na amostra desse paciente. Considerando o contexto apresentado, assinale a alternativa que apresenta todas as afirmativas corretas. a. I e II. b. III e IV. c. I, II e III. d. I, III e IV. e. II, III e IV. REFERÊNCIAS ALAM, S. F.; KUMAR, S.; GANGULY, P. Measurement of homocysteine: a historical perspective. Journal of Clinical Biochemistry and Nutrition, v. 65, n. 3, p. 171-177, 2019. AYDIN, S.; UGUR, K.; AYDIN, S.; SAHIN, I.; YARDIM, M. Biomarcadores no infarto agudo do miocárdio: perspectivas atuais. Vascular Health and Risk Management, v. 15, n. 1, p. 1-10, 2019. BIOCLIN. Proteína C reativa Ultrasensível. [s. d.]. Disponível em: https://bit.ly/3qg15W3. Acesso em: 22 mar. 2021. CHRYSANT, S. G.; CHRYSANT, G. S. The current status of homocysteine as a risk factor for cardiovascular disease: a mini review. Expert Review of Cardiovascular Therapy, v. 16, n.8, p. 559–565, 2018. COLLARES, G. B.; PAULINO, U. H. M. 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Diretrizes da Sociedade Brasileira de Cardiologia sobre Angina Instável e Infarto Agudo do Miocárdio sem Supradesnível do Segmento ST - Atualização 2013/2014. Arquivos Brasileiros de Cardiologia, v. 102, n. 3, p. 01-75, 2014. OLIVEIRA, F. A.; MARQUES, G. A.; LEITE, J. B.; LYRA, Y. C. Homocisteína e o risco de doenças cardiovasculares: uma revisão sistemática. Revista Saber Digital, v. 13, n. 2, p. 1-14, 2020. PIEGAS, L. S.; TIMERMAN, A.; FEITOSA, G. S.; NICOLAU, J. C.; MATTOS, L. A. P.; ANDRADE, M. D. V Diretriz da Sociedade Brasileira de Cardiologia sobre Tratamento do Infarto Agudo do Miocárdio com Supradesnível do Segmento ST. Arquivos Brasileiros de Cardiologia, v. 105, n. 2, p. 1-105, 2015. SANTOS, W. B.; MESQUITA, E. T.; VIEIRA, R. M. R.; OLEJ, B.; COUTINHO, M.; AVEZUM, A. Proteína-C-Reativa e Doença Cardiovascular. As Bases da Evidência Científica. Arquivos Brasileiros de Cardiologia, v. 80, n. 4. p. 452-456, 2003. VENÂNCIO, L. S.; BURINI, R. C.; YOSHIDA, W. B. 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Sabendo que a mioglobina é a primeira enzima presente no sangue do paciente após o IAM e que ela volta aos seus níveis normais após 24 horas da sintomatologia, o biomédico explica que provavelmente devido ao tempo que o paciente demorou para procurar atendimento médico, as moléculas de mioglobinas foram eliminadas do corpo, fazendo com que sua concentração voltasse aos valores de referência. AVANÇANDO NA PRÁTICA VOCÊ PARTIU MEU CORAÇÃO!!! Diferentes métodos são utilizados para a dosagem de CK-MB em laboratórios de análises clínicas. Cada método possui variações em sua especificidade, sensibilidade e precisão. Um biomédico foi contratado para implementar o setor de bioquímica de um laboratório de análises clínicas. Depois da análise de custos, o biomédico pôde escolher entre o método enzimático e o método imunológico. Sabendo que o gerente-geral do laboratório gostaria de um método com maior sensibilidade para a dosagem de CK-MB, no lugar do biomédico, qual método você escolheria para ser utilizado no laboratório? A sensibilidade de um teste de diagnóstico corresponde ao percentual de resultados positivos entre as pessoas que têm uma determinada doença ou condição clínica. Cada método pode apresentar sensibilidades diferentes. O método enzimático para a dosagem de CK-MB baseia-se na reação química catalisada pela CK-MB, que gera quebra do grupo fosfato da fosfocreatina, doando o fosfato para a ADP, formando ATP. A enzima hexoquinase remove um grupo fosfato do ATP e doa para a glicose, formando glicose-6-fosfato. Posteriormente, a enzima glicose-6-fosfato-desidrogenase (G6PD) catalisa a conversão da glicose-6-fosfato e NADP+ em 6-fosfogliconolactona e NADPH, em que o NADPH pode ser avaliado através de absorbância. Já o método imunológico é baseado na ligação do anticorpo com o antígeno presente na amostra. Esse método possui maior sensibilidade, uma vez que o anticorpo pode se ligar nas enzimas CK-MB não ativas, já o método enzimático depende da atividade da enzima. DIAGNÓSTICO DE DISTÚRBIOS GASTRINTESTINAIS E PANCREÁTICOS Caio Cesar Richter Nogueira PRATICAR PARA APRENDER As doenças gastrointestinais são aquelas que acometem os órgãos do sistema digestivo, como o esófago, estômago e intestino, além dos órgãos acessórios, como o pâncreas e o fígado. Avaliar o funcionamento desses órgãos e interpretar as variações desses biomarcadores é de extrema importância. Portanto, nesta seção você vai aprender os biomarcadores utilizados para avaliação de disfunções gastrointestinais; métodos utilizados para a dosagem desses analitos no sangue e outros líquidos do paciente e orientações para a coleta da amostra. O pâncreas é um órgão do corpo humano responsável pela produção de enzimas digestivas, como as lipases, amilases e peptidases, além de produzir hormônios, como a insulina e o glucagon. A pancreatite aguda é a inflamação do pâncreas podendo ser causada por tabagismo, cálculos biliares, consumo de bebidas alcoólicas, distúrbios genéticos e aumento na concentração sérica de triglicerídeos. Um homem (24 anos) chega ao hospital de emergência apresentando dor abdominal que se irradia para as costas, náusea, vômito e febre. Durante a anamnese, o paciente informou ao médico que possui histórico familiar de pancreatite. O médico solicitou a dosagem das enzimas amilase e lipase. Após avaliação dos dados, o médico pediu ajuda para o biomédico, pois gostaria de solicitar outras enzimas para confirmação do seu diagnóstico. No lugar do biomédico, sabendo que o médico suspeita que a causa da pancreatite é obstrução dos canalículos biliares, quais outras enzimas você solicitaria para a avaliação laboratorial? CONCEITO-CHAVE O aparelho digestivo, também denominado de sistema digestório, é constituído pelo trato gastrointestinal superior (boca, faringe, esôfago e estômago), pelo trato gastrointestinal inferior (intestino, reto e ânus) e órgãos acessórios (pâncreas e fígado). Sua função principal é obter nutrientes necessários para o desenvolvimento do organismo. Qualquer doença que acometa os órgãos de todo o sistema digestório pode ser denominada de distúrbios gastrointestinais. Os principais sintomas associados aos distúrbios gastrointestinais são: dor torácica, dor abdominal, dispepsia, disfagia, soluços, náuseas e vômitos. Para o diagnóstico dessas doenças, alguns exames laboratoriais foram desenvolvidos visando a dosagem de enzimas que são liberadas pelos órgãos que compõem o sistema digestório, como as amilases, lipases, gastrina e pepsina. As amilases são enzimas da classe das hidrolases, que possuem massa molecular entre 54 e 62 kDa. São classificadas de acordo com o seu local de atuação, sendo elas a amilase salivar e a amilase pancreática. A atividade dessas enzimas também pode ser encontrada no sêmen, nos testículos, nos ovários, nas tubas uterinas, no músculo estriado, nos pulmões, na tireoide, na amígdala, no leite, no colostro, no suor, nas lágrimas e no tecido adiposo. A enzima amilase salivar, também conhecida como ptialina, é produzida junta à saliva liberada pelas glândulas parótida, submandibulare sublingual. Sua função durante a digestão é hidrolisar as ligações glicosídicas α (1→4) dos polissacarídeos da alimentação. A ação da ptialina é inibida quando o bolo alimentar chega ao estômago devido ao pH ácido. A amilase pancreática é produzida pelas células acinosas, também sendo responsável pela quebra das ligações glicosídicas dos polissacarídeos. As amilases são encontradas na urina por serem facilmente filtradas pelo glomérulo renal. A concentração de amilases com valores superiores à taxa normal no sangue é chamada de hiperamilasemia e as baixas concentrações são denominadas de hipoamilasemia. As doenças que geram a hiperamilasemia são mais frequentes nas análises clínicas. Esse quadro pode ser gerado principalmente por pancreatites agudas. A pancreatite é uma inflamação provocada pela ativação intraparenquimatosa da tripsina, desencadeando recrutamento de macrófagos e liberação de mediadores inflamatórios, agredindo a glândula pancreática e podendo lesar o tecido adjacente, com consequente liberação de amilase para o sangue. Os níveis de amilases aumentam 5 a 8 horas após o aparecimento da principal sintomatologia, que é a dor abdominal que irradia para as costas. Caso a inflamação seja curada, a atividade da amilase retorna aos níveis normais entre o terceiro e o quarto dia. O aumento da amilase sérica também pode estar relacionado com lesões, cálculos biliares e abscessos pancreáticos; lesões das glândulas salivares e insuficiência renal. Para a dosagem laboratorial da amilase no sangue não são necessárias indicações prévias ao paciente. A amostra utilizada pode ser o soro ou plasma (colhido em heparina). Anticoagulantes como EDTA, citrato e oxalato inibem a atividade da amilase. O método utilizado para a dosagem da amilase é baseado em sua atividade catalítica, em que a enzima hidrolisa seu substrato α-(2-cloro-4-nitrofenil)-β-1,4-galactopiranosilmaltoside (Gal-G2-α-CNP) liberando 2-cloro-4-nitrofenol (CNP) e 1,4-galactopiranosilmaltoside (Gal-G2). Essa conversão pode ser determinada a partir da velocidade de formação do 2-cloro-4-nitrofenol e medido utilizando o comprimento de onda de 405 nm. REFLITA Agora que você sabe que o método utilizado para a dosagem de amilase no plasma do paciente é dependente da atividade da enzima. Você sabe como os anticoagulantes EDTA, citrato e oxalato presentes no tubo de coleta podem inibir a reação? As lipases são enzimas que realizam a hidrólise do grupo funcional éster presente nas moléculas de triacilglicerol, formando ácidos graxos livres e monoacilglicerol. Durante a digestão dos lipídeos, três principais enzimas atuam nesse processo, sendo elas a lipase lingual, a lipase gástrica e a lipase pancreática, entretanto apenas a lipase pancreática possui importância clínica. No pâncreas, a lipase é produzida pelas células acinosas e liberada no intestino junto ao suco pancreático. A lipase também pode ser encontrada na mucosa intestinal, nos leucócitos, nas células do tecido adiposo, na língua e no leite materno. A concentração de lipases com valores superiores à taxa normal no sangue é chamada de hiperlipasemia e as baixas concentrações são denominadas de hipolipasemia. As doenças que geram a hiperlipasemia são mais frequentes nas análises clínicas. Esse quadro pode ser gerado principalmente por pancreatites agudas. Durante a doença, as concentrações de lipase aumentam entre 4 e 8 horas após o início dos sintomas, atingindo um pico em 24 horas. Para o diagnóstico de pancreatite, a enzima lipase possui menor sensibilidade do que a enzima amilase, entretanto possui maior especificidade. Caso a inflamação seja curada, a atividade da lipase retorna aos níveis normais entre 8 e 14 dias. A hiperlipasemia pode ser acompanhada ou não da hiperamilasemia. O aumento da lipase sérica também pode estar relacionado com distúrbios intra-abdominais agudos, obstrução do ducto pancreático, redução da filtração glomerular, uso abusivo de álcool e aumento de triglicerídeos. A amilase e a lipase são enzimas produzidas pelo pâncreas exócrino e que, normalmente, estão inativadas dentro desse órgão. São ativadas por endopeptidases intestinais quando liberadas no duodeno. No caso da pancreatite, pode ocorrer a ativação dessas enzimas dentro do pâncreas e iniciar o processo de autodigestão. Para a dosagem laboratorial da lipase no sangue não são necessárias indicações prévias ao paciente. A amostra utilizada pode ser o soro ou plasma (colhido em heparina). Anticoagulantes como EDTA, citrato e oxalato inibem a atividade da lipase. A metodologia utilizada na dosagem de lipases séricas é baseada na atividade da enzima, uma vez que sua função é quebrar as moléculas de triacilglicerol. Durante a reação, o substrato, em meio tamponado e estabilizado, adquire uma forma emulsificada (micelas), formando interfaces lipídios-água necessárias à ação da lipase que em presença do ácido ditionitrobenzóico forma um cromógeno de coloração amarela, sendo proporcional à quantidade da lipase no soro. A gastrina é um peptídeo sintetizado na forma de seu precursor denominado de preprogastrina, que possui 101 aminoácidos, sendo posteriormente clivado em sua extremidade N-terminal, formando a progastrina, que possui 80 aminoácidos. Em resposta aos produtos da digestão e com a alcalinização do antro, as células G quebram a progastrina em peptídeos, conhecidos como G-17 e G-34, aumentando a secreção de ácido clorídrico e enzimas pelo estômago. A gastrina também pode estimular a secreção de pepsinogênio, a motilidade gástrica e a secreção de água e eletrólito pelo estômago e intestino delgado. A concentração de gastrina com valores superiores à taxa normal no sangue é chamada de hipergastrinemia, e as baixas concentrações são denominadas de hipogastrinemia. As doenças que geram a hipergastrinemia são mais frequentes nas análises clínicas. Esse quadro pode ser gerado principalmente por tumor das ilhotas pancreáticas que secretam gastrina, também conhecido como síndrome de Zollinger-Ellison. Para confirmação do diagnóstico dessa doença, pode ser realizado o teste de estímulo com secretina. A prova compreende seis dosagens da gastrina, em intervalos seriados, durante os 20 minutos da infusão de secretina humana (16 mcg/40 kg). Após o término da administração da secretina, valores iguais ou superiores a 200 mg/dL sugerem a presença de gastrinoma. A dosagem de gastrina antes e depois de cirurgia em pacientes com úlcera péptica é um bom indicador da eficiência da terapêutica cirúrgica. Para a dosagem laboratorial da gastrina no sangue, o paciente deve evitar o uso de medicamentos inibidores da bomba protoiônica, como omeprazol e correlatos, por um período de sete dias ou de acordo com a solicitação médica. Alguns laboratórios solicitam o jejum de 12 horas para a dosagem desse analito. A amostra utilizada para a dosagem laboratorial deve ser o soro conservado constantemente sob refrigeração até a análise. Os métodos mais utilizados para a dosagem da gastrina são a quimioluminescência ou o radioimunoensaio. O pepsinogênio é produzido pelas células principais estomacais em resposta ao bolo alimentar, à produção de acetilcolina e gastrina e ao pH ácido. No lúmen estomacal, o ácido clorídrico quebra o pepsinogênio formando a pepsina. A pepsina é uma endopeptidase com função de quebrar as ligações peptídicas presentes em proteínas da dieta, permitindo assim a absorção dos aminoácidos no intestino. A superfície da mucosa estomacal possui uma camada contínua de células denominadas de células mucosas superficiais que secretam um muco viscoso e alcalino. Essa camada possui a função de proteção contra a abrasão promovida pelos alimentos e contra o ácido do lúmen do estômago. A proteção da mucosa contra o ácido clorídrico também é conferida devido à produção de íons bicarbonato (HCO3-). Enquanto o esfíncter esofágico inferior funcionar de forma correta, a proteção do trato digestório superior está garantida.As duas principais patologias correlacionadas com o funcionamento irregular do esfíncter esofágico são denominadas de doença do refluxo gastroesofágico (DRGE) e refluxo laringofaríngeo (RLF). Em ambas as doenças, devido ao funcionamento irregular do esfíncter esofágico, a pepsina pode ser dosada nas secreções produzidas pelo esôfago e vias aéreas superiores. Para a dosagem laboratorial da pepsina na saliva, o paciente deve coletar aproximadamente 2 mL de saliva em um tubo contendo ácido cítrico. A amostra deve ser processada em no máximo sete dias sob refrigeração. O método utilizado é baseado em imunofluorescência, em que é utilizado um substrato peptídico sintético contendo um fluoróforo e um inibidor de fluorescência. Após a clivagem pela pepsina, o fragmento de peptídeo contendo fluoróforo é desativado para produzir um sinal fluorescente brilhante. O último dos testes utilizados para o diagnóstico de distúrbios gastrointestinais baseia-se na digestão dos carboidratos, sendo denominado de teste de intolerância à lactose. A lactose é um dissacarídeo formado através da ligação glicosídica entre um monossacarídeo de glicose e um monossacarídeo de galactose. Esse carboidrato é encontrado no leite animal e nos alimentos derivados. Para a absorção da lactose, essa molécula precisa ser hidrolisada pela enzima lactase, entretanto existem indivíduos que apresentam deficiência parcial ou total desta enzima. Existem três principais tipos de intolerância à lactose: 1) A deficiência da lactase primária ocorre quando a concentração de lactase no intestino é normal no nascimento e declina com o decorrer do tempo devido à causa genética. 2) A deficiência da lactase secundária ocorre devido a desordens gastrointestinais que levam ao dano nos enterócitos. 3) A deficiência da lactase congênita é uma doença que se manifesta nos neonatos, devido a uma mutação no gene da lactase-florizina hidrolase, o que causa deficiência na atividade da lactase intestinal. ASSIMILE A concentração de lactose pode variar de acordo com a espécie do animal, como no leite humano, que é de cerca de 7%; e no leite da vaca, que é de cerca de 5%. O teste de intolerância à lactose é um exame que avalia a capacidade do paciente em jejum de 8 horas em hidrolisar a lactose e absorver a glicose após administração oral de lactose pura na concentração de 2 g/kg sem exceder a dose de 50 g. A determinação da glicemia também é realizada 30, 60 e 120 minutos após a ingestão da lactose. Esse exame não é recomendado para pacientes diabéticos, que usam medicação para controle de glicemia e que tenham realizado cirurgia bariátrica. O paciente não deve realizar esforço físico no dia do exame, antes da coleta e 24 horas após o exame. Nesse teste pode ser utilizado o soro ou plasma do paciente coletados em diferentes tipos de tubo, como os contendo fluoreto de sódio, cloreto de sódio e ácido etilenodiaminotetracético (EDTA). A interpretação do resultado é baseada na variação da concentração de glicose após ingestão de lactose. Em pacientes com absorção normal de lactose, observa-se aumento da glicemia em 20 mg/dL ou mais em pelo menos um dos intervalos medidos no teste. EXEMPLIFICANDO Outros exames laboratoriais podem ser utilizados para o diagnóstico de intolerância à lactose, como a biópsia intestinal, a pesquisa de substâncias redutoras nas fezes, o teste de hidrogênio expirado, o teste da lactose marcada com 13C e testes genéticos. FAÇA VALER A PENA Questão 1 Como o pâncreas influencia no sistema digestivo: 1. Fábrica a todo vapor: o pâncreas é responsável por produzir diversas substâncias. As principais são a amilase e a lipase. Essas enzimas são excretadas pelos ductos pancreáticos e caem no duodeno, a parte inicial do intestino delgado. É exatamente nesse lugar que elas vão agir. 2. Cortes e reduções: as duas enzimas vão quebrar os alimentos em pedaços menores. A amilase é especializada na digestão do carboidrato, enquanto a lipase atua sobre a gordura. A falta dessa dupla provoca dificuldades na absorção de nutrientes e emagrecimento indesejado. (LUCÍRIO, 2020, [s. p.]) A reportagem explica as funções de duas principais enzimas produzidas pelo pâncreas. Com relação a isso, no que tange às funções das enzimas digestivas, complete as lacunas da sentença a seguir. As amilases são enzimas da classe das hidrolases, que possuem como principal função hidrolisar as moléculas de ____________ presentes nos alimentos. Já as enzimas ____________ são proteínas que realizam a hidrólise do grupo funcional éster presente nas moléculas de triacilglicerol, formando ____________ e monoacilglicerol. Assinale a alternativa que completa as lacunas corretamente. a. carboidratos; lipases; ácidos graxos livres. b. proteínas; proteases; peptídeos. c. carboidratos; proteases; ácidos graxos livres. d. proteínas; lipases; peptídeos. e. ácidos graxos; protease; proteínas. Questão 2 Como diagnosticar? O ideal é realizar alguns exames para diagnóstico, como: testes de intolerância à lactose (com a ingestão de doses de lactose, observando as reações que causam no indivíduo), teste de hidrogênio da respiração e teste de acidez nas fezes", recomenda a nutricionista Aryane Emerick. (INTOLERÂNCIA, 2020, [s. p.]) A reportagem descrita explica sobre alguns dos métodos utilizados para o diagnóstico laboratorial de intolerância à lactose e enfatiza o teste em que o paciente faz consumo de uma quantidade determinada de lactose e é investigado o seu metabolismo através da dosagem de glicose sérica. Para a realização desse exame, é necessário seguir os seguintes passos: 1. Ingestão da lactose. 2. Jejum de 8 horas. 3. Primeira coleta da amostra. 4. Determinação da glicemia em 30, 60 e 120 minutos após estímulo com lactose. Assinale a opção que apresenta a ordem correta dos passos realizados. a. 3 – 2 – 1 – 4. b. 2 – 3 – 1 – 4. c. 1 – 2 – 3 – 4. d. 2 – 1 – 3 – 4. e. 3 – 1 – 2 – 4. Questão 3 Segundo o Ministério da Saúde, existem condições ideais para a coleta de sangue, como uma sala bem iluminada e ventilada, pia, cadeira reta com braçadeira regulável ou maca garrote, algodão hidrófilo, álcool iodado a 1% ou álcool etílico a 70%, agulha descartável, seringa descartável, sistema a vácuo: suporte, tubo e agulha descartável, tubos de ensaio com tampa, pinça, pipetas Pasteur, etiquetas para identificação de amostras, caneta, recipiente de boca larga, com parede rígida e tampa, contendo hipoclorito de sódio a 2%, avental e máscara luvas descartáveis e estantes para tubos. (A QUALIDADE, 2020, [s. p.]) A matéria da revista de saúde descreve diversos itens necessários para a coleta de sangue venoso e chama a atenção para a necessidade da padronização do método para um correto diagnóstico. Com relação à reportagem, no que tange às recomendações dadas para a coleta de sangue das enzimas utilizadas no diagnóstico de distúrbios gastrointestinais, avalie as afirmativas a seguir. I. Amostra utilizada para a dosagem laboratorial de amilase e lipase pode ser o soro ou plasma colhido em heparina. II. Para o teste de intolerância à lactose, o paciente não deve realizar esforço físico no dia do exame, antes da coleta e 24 horas após o exame. III. Para a dosagem da amilase no soro do paciente é necessário realizar jejum de no mínimo 12 horas. IV. Para a dosagem da lipase no soro/plasma do paciente é recomendado que a coleta seja realizada em tubo contendo EDTA. Considerando o contexto apresentado, assinale a alternativa correta. a. Apenas as afirmativas I e II estão corretas. b. Apenas as afirmativas I e IV estão corretas. c. Apenas as afirmativas II e III estão corretas. d. Apenas as afirmativas I, II e IV estão corretas. e. Apenas as afirmativas II, III e IV estão corretas. REFERÊNCIAS AMILASE Cinética. Bioclin. Instrução de uso. Belo Horizonte: Quibasa Química Básica Ltda., 2019. Disponível em: https://bit.ly/3qrU0Cd. Acesso em: 30 mar. 2021. A QUALIDADE na coletade sangue humano. Revista Digital Ad Normas. 2020. Disponível em: https://bit.ly/3gXhFWO. Acesso em: 30 mar. 2021. BARONA-LLEÓA, L.; DUVALB, C.; GUZMÁN, R. B. Test de pepsina en saliva: prueba útil y sencilla para el diagnóstico del reflujo faringo-laríngeo. Acta Otorrinolaringológica Española, v. 69, n. 2, p. 80-85, 2018. DETERMINAÇÃO de gastrina após estímulo com secretina pode demonstrar a presença de gastrinoma. Fleury Medicina e Saúde Revista Médica, ed. 2, 2010. Disponível em: https://bit.ly/35EsDem. Acesso em: 30 mar. 2021. GASTRINA. Help de exames. Disponível em: https://bit.ly/3iW29Nr. Acesso em: 30 mar. 2021. GOMES, J. P., CELESTINO, I. T. P.; VILELLA, A. M. C.; CHAVES, D. A.; NERI, H. V. N GUEDES, I. H. L.; VASCONCELOS, R. M.; SALGADO, R. R.; SANTOS, T. A. Pancreatite aguda em pacientes etilistas: revisão narrativa. Revista Eletrônica Acervo Saúde, v. 12, n. 10, 2020. GUO, Z.; WU, H.; JIANG, J.; ZHANG, C. Pepsin in Saliva as a Diagnostic Marker for Gastroesophageal Reflux Disease: A Meta-Analysis. Medical Science Monitor, v. 31, n. 24, p. 9509-9516, 2018. HEDA, R.; TORO, F.; TOMBAZZI, C. R. Physiology, Pepsin. In: StatPearls [Internet]. Treasure Island (FL): StatPearls Publishing; 2021. Disponível em: https://bit.ly/3gMHnhu. Acesso em: 14 jun. 2021. INTOLERÂNCIA à lactose: nutricionista explica como diagnosticar e tratar. Folha Vitória. 2020. Disponível em: https://bit.ly/3qdLZAo. Acesso em: 30 mar. 2021. LACTOSE, Prova de Absorção, plasma. Fleury Medicina e Saúde. Disponível em: https://bit.ly/3vKZpoP. Acesso em: 30 mar. 2021. LIMA, M. C. F.; MARTINS, A. L.; MATOSZKO, A. P.; MOURA, M. T.; PAULA, J. F.; BATISTA, C. A. M. Pancreatite Aguda por Hipertrigliceridemia: relato de um caso complicado. 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DIAGNÓSTICO DE DISTÚRBIOS GASTRINTESTINAIS E PANCREÁTICOS Caio Cesar Richter Nogueira SEM MEDO DE ERRAR As vias biliares são o conjunto de ductos, cuja função é realizar o transporte da bile até a vesícula, onde a secreção se armazena e, posteriormente, segue até o final do ducto colédoco, onde se funde com o ducto pancreático após perfurar o duodeno para formar o ducto hepatopancreático. A principal causa da pancreatite aguda é a obstrução de parte das vias biliares. O médico suspeita que devido à sintomatologia e às alterações laboratoriais, o paciente tenha pancreatite aguda causada por obstrução das vias biliares e solicitou auxílio para o biomédico para dosagem de outras enzimas. O biomédico sabe que obstruções dos canalículos biliares podem resultar no aumento sérico de alanina aminotransferase, fosfatase alcalina e gama glutamil transferase, portanto, realiza a dosagem dessas enzimas. AVANÇANDO NA PRÁTICA UNIDOS VENCEREMOS! A qualidade dos serviços de saúde é atrelada à segurança que as instituições de saúde proporcionam aos seus pacientes. Nas últimas décadas, essa cultura da segurança tem sido vivenciada pelos profissionais de saúde, visando melhoria das práticas assistenciais. Uma das estratégias utilizadas pela melhoria da qualidade é a visita multidisciplinar, também conhecida como round multidisciplinar, que consiste na apresentação e discussão de casos de pacientes que chegam ao hospital com uma equipe formada por vários tipos de profissionais da saúde, como médicos, enfermeiros, biomédicos, nutricionistas, farmacêuticos, entre outros. Um biomédico é convidado para compor a mesa de discussão de um round de uma criança (2 anos) que chegou ao hospital sentindo dor abdominal no quadrante inferior esquerdo após ingestão de vitamina com leite. A mãe também informou que a criança teve aleitamento materno até os seis meses e o calendário vacinal se encontra em dia. No exame físico do paciente, o médico relata que a criança apresentava 12 kg, 85 cm e seu abdômen se encontrava globoso e rígido, além disso, era possível auscultar a presença de ruídos hidroaéreos. Após a discussão, a equipe suspeita de intolerância à lactose. Portanto, o biomédico é solicitado para indicar os exames laboratoriais utilizados para o diagnóstico da doença. No lugar do biomédico, qual teste você escolheria para diagnosticar a doença da criança? A intolerância à lactose é definida como a incapacidade ou diminuição da capacidade do organismo em digerir o dissacarídeo lactose, devido à diminuição ou ausência da expressão da enzima lactase no intestino. O biomédico sabe que o exame mais utilizado para a avaliação da intolerância à lactose consiste na ingestão da lactose e posterior avaliação da glicemia em diferentes tempos. Nesse caso, devido ao seu peso, a criança deve realizar a ingestão de 24 g de lactose. Além disso, pela idade da criança, é possível que o exame seja realizado com jejum mínimo de 3 horas. DOENÇAS AUTOIMUNES Caio Cesar Richter Nogueira PRATICAR PARA APRENDER A principal função do nosso sistema imunológico é reconhecer e destruir moléculas estranhas ao corpo. As doenças autoimunes surgem quando as células do sistema imune reconhecem moléculas do próprio corpo e tentam destruí-las. Uma das formas de defesa do sistema imunológico é a produção de anticorpos, portanto, a dosagem desses anticorpos no soro dos indivíduos com suspeita de doenças autoimunes é uma prática eficiente de diagnóstico nos laboratórios de análises clínicas. Nessa seção, você vai aprender a respeito dos autoanticorpos, utilizados para a avaliação de doenças autoimunes; você verá, ainda, os métodos utilizados para a dosagem desses analitos no sangue e em outros líquidos do paciente, além de orientações para a coleta da amostra. Uma criança de 9 anos é atendida em um hospital de emergência, após queda durante aula de dança. Durante a avaliação do caso, a criança informou ao médico que sentiu dor e inchaço nas articulações três dias antes da queda e que, no momento do ocorrido, sentiu dor no peito. Durante a avaliação do histórico da criança, a mãe informou que a menina foi internada aos 4 anos por pneumonia e que possui constante quadro gripal com dores de garganta. Na avaliação física, foi possível observar pequenos nódulos sobre a pele e temperatura de 38,8 ºC. Devido à suspeita de febre reumática, o médico solicitou dosagem de antiestreptolisina O. Após coleta e centrifugação da amostra, o biomédico responsável pelo laboratório de análises clínicas observou lipemia acentuada no soro da paciente. No lugar do biomédico, você realizaria a dosagem de ASLO? CONCEITO-CHAVE A Artrite Reumatoide (AR) é uma doença autoimune inflamatória de etiologia desconhecida. Caracteriza-se pelo comprometimento da membrana sinovial, podendo evoluir para a destruição do tecido ósseo e cartilaginoso. Até a presente data, não foram identificados autoantígeno ou autoanticorpo específicos contra autoantígeno ou clone patogênico de linfócitos T autorreativos que caracterizem a doença, entretanto, sabe-se que existe a ativação de linfócitos T CD4+ e a liberação de mediadores inflamatórios e citocinas, como o TNF-α e o IL-1β, que resultam na destruição da articulação. Apesar de ser uma doença de etiologia desconhecida, quatro fatores estão intimamente relacionados à artrite reumatoide, sendo eles: 1. Interrupção da tolerância imunológica. 2. Fatores ambientais, como o tabagismo. 3. Variantes genéticas em moléculas que controlam a resposta imune do indivíduo. 4. Fatores individuais, como dieta, obesidade, infecções e microbiotaintestinal. A AR também pode ser classificada pela presença ou ausência de anticorpos, como o Fator Reumatoide (FR) e os anticorpos contra proteínas citrulinadas. A presença desses autoanticorpos é importante para a caracterização do fenótipo clínico, tendo relevância também para as decisões de tratamento e o acompanhamento de pacientes com artrite reumatoide. Portanto, a dosagem laboratorial desses anticorpos pode ser utilizada para auxiliar no diagnóstico da doença. O Fator Reumatoide são anticorpos que foram descobertos no ano de 1940, entretanto, apenas em 1948 é que foram atrelados a pacientes com AR. O FR pode ser caracterizado como um autoanticorpo humano que reconhece a porção Fc de moléculas de IgG. Esses anticorpos são encontrados em vários isótipos de imunoglobulina (IgM, IgG e IgA), entretanto, o IgM é aquele que geralmente se mede na maioria dos laboratórios de análises clínicas. São produzidos pelos linfócitos B presentes em folículos linfóides e em estruturas do centro germinal, que se desenvolvem na membrana sinovial inflamada. O FR pode ser encontrado em indivíduos saudáveis e em pacientes com outras doenças autoimunes (lúpus eritematoso sistêmico e esclerose sistêmica) ou que apresentem doenças como infecções crônicas e câncer. O aparecimento pré-clínico dos isotipos dos autoanticorpos no soro do paciente segue uma evolução específica, sendo o FR IgM o primeiro a ser detectado, depois o FR IgA e, finalmente, o FR IgG. Para a dosagem laboratorial do Fator Reumatóide no sangue, não é necessário o jejum prévio, entretanto, é recomendado o jejum mínimo de 4 horas, visando a evitar a lipemia, que possui uma grande influência em métodos imunológicos. A amostra utilizada para a dosagem deve ser o soro. Não se deve usar plasma, pois o fibrinogênio pode causar aglutinação inespecífica. ASSIMILE A lipemia altera a turvação do meio utilizado para a realização dos exames, gerando aumento de cor nos resultados onde são utilizados métodos com absorbância. O método mais utilizado para a avaliação da presença ou ausência do FR é a imunoaglutinação. O teste consiste em uma partícula de látex revestida com IgG humana purificada, estabilizada e suspensa em tampão glicina pH 8,2. A suspensão de látex é acondicionada em uma área do cartão-teste junto ao soro do paciente. Caso o paciente tenha o FR presente no soro, esses autoanticorpos se ligarão à porção Fc do IgG presente na partícula, gerando aglutinação. Outro anticorpo utilizado no diagnóstico de AR é o antipeptídeo citrulinado. O processo de citrulinação é uma modificação pós-tradução de um resíduo de arginina em citrulina. Essa reação irreversível é mediada pela família de enzimas peptidilarginina deiminase (PAD), sendo essa reação dependente do cofator cálcio. A citrulinação é um importante mecanismo fisiológico que ocorre naturalmente nas histonas e em fatores de transcrição. Uma análise proteômica do líquido sinovial de pacientes com artrite reumatoide identificou mais de 100 proteínas citrulinadas, entretanto, apenas algumas foram identificadas como alvos de anticorpos antipeptídeo citrulinados (ACPA), como as proteínas vimentina, α-enolase e fibrinogênio. O mecanismo de geração dos anticorpos antipeptídeos citrulinados ainda não é bem compreendido. Algumas pistas estão descritas na literatura, utilizando como modelo proteínas que sofrem citrulinação em pacientes com artrite reumatoide, como o fibrinogênio. Uma hiperativação de PADs pode, acidentalmente, ter novos alvos na molécula de fibrinogênio, gerando novos epítopos não tolerados pelo sistema imune. Para a dosagem laboratorial de anticorpos antipeptídeos citrulinados no sangue, não é necessário o jejum prévio, entretanto, é recomendado o jejum mínimo de 4 horas, assim como na dosagem de FR, a fim de evitar a lipemia, que, como já mencionamos, possui uma grande influência em métodos imunológicos. A amostra utilizada para a dosagem deve ser o soro. Não se deve usar plasma, pois o fibrinogênio pode causar aglutinação inespecífica. O método mais utilizado para a dosagem de anticorpos antipeptídeos citrulinados é o ELISA indireto. O antígeno aderido à placa é a citrulina. O soro do paciente é adicionado e, caso a amostra tenha os ACPA, esses anticorpos se ligam ao antígeno citrulina. Um segundo anticorpo acoplado a uma enzima, que possui especificidade ao primeiro anticorpo, é adicionado ao teste. Essa enzima converte um substrato, produzindo cor, que pode ser dosada através de absorbância. Outros métodos podem ser utilizados para a dosagem de ACPA, por exemplo, o imunoensaio quimioluminescente com micropartículas. Recentemente, um novo anticorpo passou a ser utilizado no diagnóstico de AR, denominado antipeptídeo carbamilado, ou seja, proteínas que contêm resíduos de homocitrulina. A carbamilação é definida como uma modificação pós-tradução não enzimática, em que um aminoácido carregado positivamente é substituído por um aminoácido neutro, sendo a reação mais comum a substituição da lisina por uma homocitrulina. Indivíduos suscetíveis à hipercarbamilação fornecerão o gatilho para o desenvolvimento de uma resposta autoimune. Para a dosagem laboratorial de anticorpos antipeptídeo carbamilado (anti-CarP) no sangue, não é necessário o jejum prévio, entretanto, é recomendado o jejum mínimo de 4 horas, como forma de evitar a lipemia. A amostra utilizada para a dosagem deve ser o soro. Não se deve usar plasma, pois o fibrinogênio pode causar aglutinação inespecífica. O método mais utilizado para a dosagem de anticorpos antipeptídeo carbamilado é o ELISA indireto, como no teste de ACPA, entretanto, o antígeno aderido à placa é a homocitrulina. O Lúpus Eritematoso Sistêmico (LES) é uma doença autoimune inflamatória de etiologia desconhecida, caracterizada pela perda da tolerância imunológica e pela produção de autoanticorpos contra múltiplas proteínas celulares, principalmente tecido conjuntivo e vasos sanguíneos. A gênese da doença parece estar relacionada à apoptose celular e à sua conexão com a produção de autoanticorpos. Durante a morte celular programada, diversas enzimas são ativadas com o intuito de degradar regiões celulares, dentre essas enzimas estão as endonucleases (EN). As EN, também conhecidas como enzimas de restrição, possuem a função de degradar o DNA, resultando na formação de pequenos pedaços desse material genético, principalmente em resíduos de nucleossomos. A eliminação inadequada desses resíduos de material genético formados durante o período apoptótico pode resultar no reconhecimento indevido por parte das células do sistema imune, que passam a responder àqueles antígenos como um corpo estranho. Tais informações podem ganhar força em pacientes portadores de lúpus, que possuem níveis séricos elevados de monócitos e neutrófilos apoptóticos. Como o alvo de autoanticorpos pode variar muito entre os indivíduos, diversos sintomas são descritos para essa doença, como artrite, rash malar, febre, fotossensibilidade, nefropatia, úlceras orais e trombocitopenia. Apesar de os autoanticorpos estarem presentes em diversas doenças autoimunes, eles podem ser utilizados para auxiliar no diagnóstico de LES. Esses autoanticorpos podem ter diversos alvos moleculares, que foram padronizados em cinco principais grupos: nucleares, nucleolares, citoplasmáticos, aparelho mitótico e mistos. O teste utilizado na triagem do diagnóstico laboratorial de LES é a busca por anticorpos antinucleares (ANA ou FAN), como anticorpos contra proteínas nucleares, DNA, RNA e complexos de ácido nucléico-proteína. O pesquisador Hargraves foi o primeiro cientista a observar as células LE em um esfregaço de medula óssea de um paciente com LES, tornando a observação por microscopia um interessante método de diagnóstico de LES. Em 1975, as células HEp-2 foram descritas como um excelente substrato para a busca dos autoanticorpos. Foi apenas no ano de 2010 que o Colégio Americano de Reumatologia fez a padronizaçãode que as células HEp-2, tratadas com anticorpos fluorescentes, fossem o padrão-ouro para o diagnóstico da doença. Para a dosagem laboratorial de anticorpos antinucleares no sangue, não é necessário o jejum prévio, entretanto, é recomendado o jejum mínimo de 4 horas para evitar a lipemia. A amostra utilizada para o teste deve ser o soro diluído em diferentes titulações. O método mais utilizado para a dosagem de anticorpos antinucleares é a imunofluorescência indireta. No teste, utilizam-se, como substrato, células epiteliais humanas (Hep-2), que expressam todos os antígenos de interesse clínico. Em uma lâmina contendo as células, é adicionado o soro do paciente, diluído em diferentes razões (1/40, 1/80, 1/320). Caso o soro do paciente possua autoanticorpos característicos da doença, eles se ligam aos antígenos específicos das células Hep-2. Um segundo anticorpo, marcado com um fluorocromo, é adicionado, com o intuito de ligar-se aos autoanticorpos. Após a observação da lâmina em microscópio de fluorescência, é possível notar o padrão de fluorescência, ou seja, o local específico da célula ao qual o autoanticorpo ligou-se. Os autoanticorpos contra o antígeno Smith (anti-Sm) e o DNA (anti-DNA) estão altamente associados ao Lúpus Eritematoso Sistêmico. A Febre Reumática (FRC) é uma doença autoimune inflamatória, que ocorre em decorrência da faringoamigdalite causada por estreptococo beta-hemolítico do grupo A (Streptococcus pyogenes) em populações geneticamente predispostas. É uma doença de predominância em crianças, com média de idade de 10 anos, sendo possível, também, observar casos em indivíduos mais velhos. Após infecção por S. pyogenes, ocorre uma resposta imune com a produção de anticorpos dos linfócitos B e ativação de linfócitos T, que passam a reconhecer estruturas da bactéria, como a proteína M e o carboidrato N-acetil beta D-glicosamina, no entanto, esses anticorpos passam a reconhecer também proteínas do hospedeiro, levando ao surgimento dos sintomas relacionados à inflamação das articulações (artrite), podendo evoluir para um comprometimento do sistema nervoso central e do coração (conhecido como doença cardíaca reumática). Uma das principais exotoxinas de S. pyogenes é a estreptolisina O. O anticorpo gerado pela resposta imunológica contra essa exotoxina é denominado antiestreptolisina O (ASLO) e pode ser dosado para auxiliar no diagnóstico laboratorial dessa doença. Para a dosagem laboratorial de anticorpos antiestreptolisina O no sangue, não é necessário o jejum prévio, entretanto, recomenda-se o jejum mínimo de 4 horas, para que não ocorra lipemia. A amostra utilizada para a dosagem deve ser o soro. O método mais utilizado para a avaliação da presença ou ausência da FR é a imunoaglutinação. O teste consiste em uma partícula de látex revestida com estreptolisina O purificada e estabilizada. A suspensão de látex é acondicionada em uma área do cartão-teste junto ao soro do paciente. Caso o paciente tenha a ASLO presente no soro, esses autoanticorpos se ligarão à estreptolisina presente na partícula, gerando aglutinação. A psoríase é uma doença autoimune inflamatória crônica, que acomete pele, mucosas, fâneros e articulações em populações geneticamente predispostas. A prevalência mundial é de aproximadamente 2% da população mundial, sendo menor em populações asiáticas e africanas e maior em populações caucasianas e escandinavas. Acomete ambos os sexos, sendo recorrente em indivíduos entre 20 e 30 anos de idade. Além de complicações físicas, a doença provoca um efeito emocional e psicossocial nos pacientes, podendo resultar em estigmatização, baixa autoestima e aumento do estresse. A patogenicidade da doença é caracterizada por inflamação sustentada, que leva à proliferação descontrolada de queratinócitos e diferenciação disfuncional. Na histologia, é possível observar hiperplasia epidérmica e infiltrado inflamatório formado por células dendríticas, macrófagos, linfócitos T e neutrófilos. O diagnóstico laboratorial possui o objetivo de excluir os outros tipos de artrite, uma vez que não existe exame específico para essa doença. Alguns pacientes podem apresentar aumento em 50% da velocidade de hemossedimentação (VHS) e da proteína C-reativa (PCR). Em alguns tipos dessa doença, é possível encontrar baixos títulos de fator reumatóide e anticorpos contra peptídeos citrulinados. A Esclerose Múltipla (EM) é uma doença inflamatória crônica de etiologia desconhecida, caracterizada pela desmielinização do sistema nervoso central e subsequente degeneração, levando a danos neuronais e perda axonal. A palavra esclerose é derivada do grego e significa “endurecimento”, referente às lesões dos feixes de axônios. A palavra múltipla refere-se aos múltiplos alvos no sistema nervoso que a doença pode acometer. Como durante o desenvolvimento da doença ocorre uma desmielinização do axônio, a propagação do potencial de ação é alterada, gerando trocas iônicas que se traduzem em acumulação de cálcio intracelular, responsável por mecanismos ligados à neurodegenerescência. Fatores genéticos e ambientais estão associados ao início da doença, sendo descritos, na literatura, mais de 200 loci associados à EM. Estudos imuno-histoquímicos demonstraram a presença de linfócitos T ativados em portadores de EM, sendo eles reativos para inúmeros antígenos da mielina, como a proteína proteolipídica (PLP), a proteína básica da mielina (PBM) e a glicoproteína da mielina de oligodendrócito (MOG). Devido às alterações neurológicas, os principais sintomas atrelados à doença são alterações no sistema sensorial e motor, disfunções da motilidade intestinal e alterações na visão. O diagnóstico da esclerose múltipla baseia-se no histórico e em exame clínico do paciente, junto a exames de imagem. O principal exame utilizado no diagnóstico da doença é a ressonância magnética, pois pode evidenciar lesões típicas dessa enfermidade. REFLITA Sabendo que a sintomatologia das diversas doenças autoimunes é extremamente semelhante, qual é o papel da investigação laboratorial no diagnóstico dessas doenças? FAÇA VALER A PENA Questão 1 Leia o trecho a seguir: Uma pessoa muito estressada pode acabar tendo vários problemas de saúde por causa de um sistema imunológico que se volta contra o próprio corpo. Um exemplo é a Febre Reumática. Essa doença acontece quando algumas bactérias entram, principalmente em infecção de garganta, e o corpo cria resistência contra aquelas bactérias, mas acaba atacando também as células do próprio coração da pessoa. (TERRA, 2021, [s. p.]) Essa reportagem explica a relação entre sistema imunológico, fatores externos e o desenvolvimento da febre reumática. Com base nas informações disponibilizadas pelo excerto e considerando os conteúdos trabalhados na seção, complete as lacunas da sentença a seguir: A febre reumática (FRC) é uma doença autoimune decorrente da faringoamigdalite, causada por ____________ em populações geneticamente ____________. O anticorpo gerado pela resposta imunológica contra o microrganismo é denominado ____________. Assinale a alternativa que completa as lacunas corretamente. a. Staphylococcus aureus; predispostas; Fator Reumatoide. b. Streptococcus pyogenes; predispostas; antiestreptolisina O. c. Staphylococcus aureus; predispostas; antiestreptolisina O. d. Streptococcus pyogenes; resistentes; Fator Reumatoide. e. Staphylococcus aureus; resistentes; antiestreptolisina O. Questão 2 A artrite reumatoide é uma doença inflamatória crônica, na qual o sistema imunológico ataca os próprios tecidos, principalmente as articulações, causando inchaço e dor. Diversos autoanticorpos produzidos durante esse processo podem ser utilizados para auxiliar no diagnóstico laboratorial dessa doença. Durante a investigação laboratorial, múltiplos anticorpos são dosados, pois cada tipo de anticorpo pode apresentar sensibilidade e especificidade diferentes, como demonstrado na tabela: Tomando comoreferência as informações apresentadas, julgue as afirmativas a seguir em Verdadeiras (V) ou Falsas (F). ( ) O anticorpo IgM FR reconhece resíduos de homocitrulina e possui a menor sensibilidade entre os outros anticorpos utilizados no diagnóstico de Artrite Reumatoide. ( ) O anticorpo ACPA reconhece a porção Fc de moléculas de IgG e possui a maior especificidade entre os outros anticorpos utilizados no diagnóstico de Artrite Reumatoide. ( ) O método mais utilizado para a dosagem de anti-CarP é o ELISA indireto, que apresenta uma especificidade maior do que sua sensibilidade. ( ) Todos os anticorpos utilizados no diagnóstico laboratorial de Artrite Reumatoide possuem sua especificidade maior do que sua sensibilidade. Assinale a alternativa que apresenta a sequência correta. a. V – V – F – F. b. F – F – V – V. c. V – F – V – F. d. V – F – V – V. e. V – V – V – F. Questão 3 A matéria a seguir descreve a correlação entre as infecções causadas por Streptococcus pyogenes e o desenvolvimento da doença autoimune, com agravamento para os danos causados no coração: É difícil encontrar alguém que nunca tenha tido ao menos um episódio de dor de garganta na vida. Bastante comum, sobretudo na infância, essa condição, apesar de na maioria das vezes se resolver sozinha em poucos dias — e justamente por isso ser considerada por muitos como inofensiva —, jamais deve ser negligenciada. O fato é que, nos casos em que a sua causa é uma infecção bacteriana provocada pelo Streptococcus pyogenes do grupo A, o tratamento inadequado ou a falta dele em pessoas com alguma predisposição genética pode fazer o quadro evoluir e desencadear a doença autoimune febre reumática, com possíveis consequências ao coração. (TURBIANI, 2021, [s. p.]) Com relação à reportagem e considerando os conteúdos trabalhados nesta seção, avalie as afirmativas a seguir a respeito da febre reumática: I- É uma doença autoimune causada em decorrência da infecção por estreptococo beta-hemolítico do grupo A. II - Ocorre uma resposta imune pela produção de anticorpos dos linfócitos B e pela ativação de linfócitos T. III - O anticorpo gerado pela resposta imunológica contra a exotoxina de S. pyogenes é denominado fator reumatoide. IV - O método mais utilizado para a avaliação da presença ou ausência da febre reumática é a imunoaglutinação. Considerando o contexto apresentado, assinale a alternativa correta. a. Apenas as afirmativas I e II estão corretas. b. Apenas as afirmativas I e IV estão corretas. c. Apenas as afirmativas II e III estão corretas. d. Apenas as afirmativas I, II e IV estão corretas. e. Apenas as afirmativas II, III e IV estão corretas. REFERÊNCIAS AJEGANOVA, S.; HUIZINGA, T. W. 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As principais causas da lipemia ocorrem devido à ausência de jejum antes da coleta da amostra e devido a erros no metabolismo de lipídios. O biomédico experiente sabe que exames imunológicos e bioquímicos podem sofrer interferências de altas concentrações de colesterol, triglicerídeos e ácidos graxos esterificados. Portanto, a amostra deve ser descartada e deve-se recomendar nova coleta após a paciente realizar um jejum mínimo de 4 horas. AVANÇANDO NA PRÁTICA ESPECIFICIDADE É TUDO As doenças reumáticas apresentam múltiplos tipos de distúrbios que acometem o aparelho locomotor, principalmente articulações, tendões, ligamentos e cartilagens, podendo acometer, também, outros órgãos, como rins, pulmões e coração. Um homem (53 anos) é encaminhado para um reumatologista após passar por três ortopedistas, queixando-se de dores nas articulações há 6 meses. Nos primeiros meses, as dores iniciaram-se nas falanges dos membros superiores e, após a utilização de anti-inflamatórios não esteroides, o paciente relatou que sentia alívio. Ao passar dos meses, começou a sentir dores na coluna e em ambos os joelhos. Após avaliação completa, o médico suspeita de artrite reumatóide, apesar de os sintomas apresentarem semelhança com aqueles característicos de Lúpus Eritematoso Sistêmico. Para ter certeza de seu diagnóstico,o médico entra em contato com o setor de análises clínicas, solicitando a dosagem do anticorpo mais específico para AR. No lugar do analista clínico, pensando na especificidade de diagnóstico, você dosaria qual anticorpo? A artrite reumatoide é uma doença inflamatória crônica, que afeta, principalmente, as articulações das mãos e dos pés. Por se tratar de uma doença autoimune, células do sistema imune produzem autoanticorpos que atacam os antígenos do próprio corpo. Diversos autoanticorpos podem ser utilizados para auxiliar no diagnóstico laboratorial, por exemplo, o IgM FR, anti- ACPA e anti-carP. Os anticorpos antipeptídeos citrulinados são autoanticorpos que se ligam às proteínas citrulinadas características da AR. Esse autoanticorpo é considerado o anticorpo mais específico utilizado no diagnóstico de AR, sendo assim, a escolha pelo Anti-ACPA para auxiliar o médico é a melhor opção. DIAGNÓSTICO DE ALGUMAS DOENÇAS IMUNOLÓGICAS E MARCADORES TUMORAIS Caio Cesar Richter Nogueira PRATICAR PARA APRENDER As hipersensibilidades são um conjunto de processos que levam ao dano tissular secundário e a uma reação inflamatória. Esses tipos de reações de hipersensibilidade podem ser classificados em tipo I, imediata, tipo II, citotóxica, tipo III, de imunocomplexos, e tipo IV, tardia. Outra doença que também apresenta marcadores que podem ser dosados nas análises clínicas são os diferentes tipos de câncer. Em todas essas enfermidades, o biomédico possui um importante papel no rastreio de moléculas que podem auxiliar no diagnóstico laboratorial. Nesta seção, você vai conhecer os anticorpos utilizados para a avaliação dos tipos de hipersensibilidades, estudando, também, os marcadores utilizados no diagnóstico de câncer, além dos métodos utilizados para a dosagem desses analitos no sangue, bem como as orientações para a coleta da amostra. A próstata é uma glândula do sistema genital masculino, localizada na frente do reto e embaixo da bexiga urinária, que se desenvolve devido à ação da testosterona. O câncer de próstata (CaP) é qualificado como um adenocarcinoma (tem origem nos tecidos glandulares), acometendo, em especial, a zona periférica da glândula prostática. O desenvolvimento e o comportamento clínico deste tipo de câncer não é bem compreendido, pois esse tumor pode se apresentar de forma bem diferenciada microscopicamente. Considere, então, um homem, de 59 anos, que é atendido em um hospital de emergência após sentir dor intensa na região testicular. Durante a avaliação do caso, o homem informou ao médico que possui sensação de bexiga cheia, vontade frequente de urinar e dor ao ejacular. Após avaliação física, o médico suspeita de câncer de próstata, portanto, solicita dosagem de PSA total e PSA livre. Após análise da amostra, os níveis de PSA total foram de 14,9 ng/ml e PSA livre de 2,3 ng/ml. O biomédico responsável pelo laboratório de análises clínicas precisa realizar o cálculo de relação percentual PSA (%). Na posição do biomédico, como você realizaria esse cálculo para a liberação do exame? CONCEITO-CHAVE A resposta imunológica adaptativa é um importante mecanismo de defesa do organismo contra a invasão de patógenos. Em determinadas circunstâncias, a resposta gerada pelo sistema imune resulta em reações exageradas a antígenos estranhos ou em reações inadequadas aos antígenos próprios, causando danos teciduais. Essas reações são denominadas reações ou distúrbios de hipersensibilidade, os quais são classificados em quatro tipos (do tipo I ao tipo IV). Hipersensibilidade do tipo I (HS I): é também conhecida como hipersensibilidade imediata, ou anafilática. Esse tipo de hipersensibilidade é gerado, principalmente, em resposta a antígenos do ambiente, como no caso das alergias. Essa reação pode ocorrer em diversos órgãos do corpo, como pele (urticária), olhos (conjuntivite), nasofaringe (rinite), tecidos broncopulmonares (asma) e trato gastrointestinal (gastroenterite). A resposta imunológica na HS I é mediada pelos mastócitos e pelos basófilos. Nesta resposta, os antígenos ativam os linfócitos T auxiliares (CD4+), que ajudam as células B a produzirem anticorpos da classe IgE específicos para esses antígenos ou alérgenos, ligando-se a receptores Fc presentes nas membranas dos mastócitos e basófilos. Quando esses anticorpos IgE específicos associados a células do sistema imunológico ligam-se novamente a esses antígenos, as células são ativadas e passam a liberar rapidamente uma variedade de mediadores. Esses mediadores provocam, coletivamente, aumento da permeabilidade vascular, vasodilatação, contração dos músculos liso brônquico e visceral. Hipersensibilidade do tipo II (HS II): é também conhecida como hipersensibilidade citotóxica. Esse tipo de hipersensibilidade ocorre em anemias hemolíticas e em reações transfusionais. Os anticorpos IgG e IgM são produzidos e direcionados para antígenos de superfície celular, ligando-se ao antígeno pela sua porção Fab. Após essa etapa, três mecanismos ativadores de morte celular são possíveis. 1. A porção Fab serve como ponte para a ligação do sistema complemento. A ativação do complemento pela via clássica leva à produção do complexo de ataque à membrana (MAC), induzindo-a à morte celular. 2. Leucócitos ligam-se à porção Fc dos anticorpos associados à célula-alvo, iniciando um processo denominado Citotoxicidade Celular Mediada por Anticorpos (ADCC), levando à morte celular não fagocitária. 3. Por opsonização mediada pelos anticorpos, gerando fagocitose. Hipersensibilidade do tipo III (HS III): é também conhecida como hipersensibilidade de imunocomplexos. Esse tipo de hipersensibilidade ocorre em infecções persistentes bacterianas e virais, bem como em doenças autoimunes e através do contato repetido com agentes ambientais. Esse tipo de hipersensibilidade ocorre devido à formação de complexos entre anticorpos e antígenos, dando origem a reações inflamatórias agudas. Dois principais mecanismos são ativados durante esse processo. 1. Esses imunocomplexos podem se ligar a plaquetas circulantes na corrente sanguínea, estimulando a liberação de aminas vasoativas e a formação de microtrombos. 2. Os imunocomplexos podem se ligar aos receptores Fcγ de macrófagos, estimulando a liberação de citocinas pró-inflamatórias. Hipersensibilidade do tipo IV (HS IV): é também conhecida como hipersensibilidade mediada por células, ou tardia. Essa hipersensibilidade é chamada de tardia, pois a resposta se inicia horas ou dias após a exposição aos antígenos, os quais podem ser compostos químicos, estruturas oriundas de plantas, fármacos tópicos, cosméticos, ou mesmo a rejeição a transplantes. Uma célula apresentadora de antígeno captura o antígeno no tecido periférico, realiza a digestão e apresenta um epítopo em associação à proteína do complexo principal de histocompatibilidade (MHC) de classe II ao linfócito T (Th-1). Essas células T ativadas liberam citocinas que geram a hipersensibilidade. O diagnóstico das hipersensibilidades é realizado por meio de inúmeros testes, como a biópsia, testes de alergia e de biologia molecular. A imunologia clínica laboratorial pode auxiliar no diagnóstico dessas doenças através da dosagem das imunoglobulinas (IgE, IgM e IgG). Para a dosagem laboratorial das imunoglobulinas no sangue, não é necessário o jejum prévio, entretanto, é recomendado o jejum mínimo de 4 horas, visando a evitar a lipemia, que, como já vimos, possui uma grande influência em métodos imunológicos. A amostra utilizada para a dosagem deve ser o soro ou o plasma colhido com heparina ou EDTA. O método utilizado para a dosagem das imunoglobulinas é a imunoturbidimetria. Esse método consiste em partículas de látex recobertas com anticorpos contra a imunoglobulina específica (IgG, IgM e IgE), que se ligam à imunoglobulina no soro do paciente. Essa ligação forma um complexo insolúvel, o qual produz turbidez, cuja intensidade aumenta a absorbância proporcionalmenteà concentração do anticorpo na amostra. A dosagem de IgE específica é amplamente utilizada para o diagnóstico de alergia alimentar. O teste mais utilizado é o RAST, sigla de “Radioallergosorbent Test”, um método fluorenzimoimunométrico que quantifica IgE específico para um antígeno alimentar, como leite de vaca, clara de ovo, amendoim, etc. REFLITA As reações de hipersensibilidade são caracterizadas por uma resposta imunológica. Algumas dessas células podem ser dosadas através de técnicas laboratoriais, assim, reflita: quais dessas células estão aumentadas no hemograma? O primeiro marcador tumoral descrito na literatura foi demonstrado por Sir. Bence Jones, no ano de 1847. Esse marcador foi detectado na urina de pessoas com mioma múltiplo. Desde essa época, outras substâncias foram descritas com o intuito de auxiliar no diagnóstico do câncer. Os marcadores tumorais podem ser definidos como substâncias presentes nos líquidos biológicos, cujo aparecimento e/ou alterações em suas concentrações estão relacionados à gênese e ao crescimento de células neoplásicas. Dentre os principais marcadores tumorais, estão: Antígeno Específico da Próstata (PSA), Gonadotrofina Coriônica (beta HCG), Antígeno Carcinoembrionário (CEA) e Alfa fetoproteína. O Antígeno Prostático Específico é uma serino-protease de 237 resíduos de aminoácidos produzida pelas células epiteliais do tecido prostático. Sua função é quebrar as proteínas em peptídeos, evitando a coagulação seminal. Nos homens, com o envelhecimento, a qualidade e o número de espermatozóides vai diminuindo, entretanto, o PSA aumenta para tentar compensar essa ineficiência da função reprodutiva. O PSA é utilizado como marcador tumoral, pois, no tecido prostático canceroso, a produção de PSA aumenta em, aproximadamente, dez vezes. O PSA sérico pode ser encontrado em três diferentes formas: PSA livre, PSA conjugado à α-1-antiquimiotripsina e PSA conjugado à α-2-macroglobulina, sendo o somatório dessas três formas denominado de PSA total. Os níveis de PSA total podem estar aumentados em situação de câncer, mas também podem aumentar seus níveis séricos em infecção, trauma, inflamação e hiperplasia benigna da próstata (HBP). O PSA livre corresponde ao antígeno prostático não ligado em qualquer molécula. Um estudo demonstrou que pacientes com câncer prostático parecem ter níveis menores de PSA livre, se comparado ao PSA total. Já pacientes com hipertrofia prostática benigna podem ter níveis mais elevados de PSA livre. Portanto, a relação PSA livre/PSA total pode ser utilizada para auxiliar no diagnóstico do câncer de próstata. O valor de referência para a relação percentual PSA livre/ PSA total é de até 15%, sendo válido apenas quando o nível de PSA total for menor que 4 ng/ml. O pró-PSA, também conhecido como p2PSA ou [-2]pró-PSA, pertence a um grupo de precursores inativos do antígeno prostático. Esse analito é utilizado para melhorar a detecção de câncer prostático nos pacientes com PSA total entre 2 e 10 ng/ml e exame digital retal normal. O Índice de Saúde da Próstata (PHI) é uma relação matemática utilizada para o diagnóstico precoce do câncer de próstata, baseado na dosagem de PSA Total, PSA Livre e p2PSA. O PHI é calculado através da fórmula p2PSA / PSA livre × √PSA total, sendo que o valor aumentado é encontrado em pacientes com câncer prostático. Para a dosagem laboratorial de PSA no sangue, não é necessário o jejum prévio, entretanto, é recomendado o jejum mínimo de 4 horas. A amostra utilizada para a dosagem deve ser o soro. Um dos métodos utilizados para a dosagem de PSA é a quimioluminescência em tubos. O PSA liga-se ao anticorpo aderido ao tubo. Após a lavagem, é adicionado um anticorpo marcado com biotina e conjugado de estreptavidina-peroxidase. A quimioluminescência é iniciada pela adição de peróxido e luminol. A quantidade de luz gerada é proporcional à concentração de PSA no sangue do paciente. ASSIMILE Para o diagnóstico de câncer de próstata, é recomendado: 1. Realizar toque retal em pacientes a partir dos 40 anos de idade. 2. Realizar a dosagem de PSA em indivíduos com idade entre 40 e 75 anos. O Hormônio Coriônico Gonadotrófico (hCG) é um hormônio liberado pelas células sinciciotrofoblásticas da placenta. Essa glicoproteína é formada por duas subunidades, sendo uma α e uma β. A fração beta (β-hCG) é utilizada para avaliação da gravidez, entretanto, também é utilizada para o diagnóstico, monitoração e prognóstico de pacientes com tumores de células germinativas (testículo e ovário). Altas concentrações séricas de β-hCG também são encontradas em casos de úlceras duodenais, cirrose e inflamações intestinais. Para a dosagem laboratorial de β-hCG no sangue, não é necessário o jejum prévio, entretanto, é recomendado o jejum mínimo de 4 horas. A amostra utilizada para a dosagem deve ser o soro. Amostras hemolisadas e lipêmicas devem ser evitadas, pois podem causar um resultado falso positivo. O uso de biotina e de suplementos alimentares que contenham biotina deve ser suspenso 3 dias antes da coleta. Diversos métodos são utilizados para a dosagem de β-hCG, como técnicas de aglutinação e de imunocromatografia, entretanto, o método mais indicado é o ensaio de imunoabsorção enzimática (ELISA). No ELISA direto, anticorpos específicos são fixados ao tubo. As moléculas de β-hCG presentes no soro do paciente ligam-se ao anticorpo. Um segundo anticorpo é adicionado, marcado com uma enzima que catalisa uma reação, gerando um produto mensurável. O Antígeno Carcinoembrionário (CEA) é uma glicoproteína identificada em 1965 como protótipo de marcador tumoral. Originalmente, foi descrito como presente em adenocarcinoma de cólon e reto. É produzido por células da mucosa gastrointestinal, sendo possível detectá-lo em concentrações muito baixas no sangue do adulto normal. O CEA é secretado em maiores concentrações durante a rápida multiplicação das células epiteliais, sendo observado principalmente em carcinoma colorretal metastático. Fumantes possuem níveis mais altos desse analito no sangue. Para a dosagem laboratorial de CEA no sangue, não é necessário o jejum prévio, entretanto, é recomendado o jejum mínimo de 4 horas. A amostra utilizada para a dosagem deve ser o soro. O método utilizado para a dosagem de CEA é a quimioluminescência em tubos, do mesmo modo que ocorre com a dosagem de PSA. A Alfa-fetoproteína (AFP) é uma glicoproteína produzida pelo fígado, saco vitelino e intestino do feto. No indivíduo adulto, as concentrações séricas são de, aproximadamente, 5 a 15 ng/ml. Esse analito pode estar aumentado em carcinomas de fígado, ovário e testículo. A AFP também pode estar aumentada durante a gravidez. Para a dosagem laboratorial de AFP no sangue, não é necessário o jejum prévio, entretanto, é recomendado o jejum mínimo de 4 horas. A amostra utilizada para a dosagem deve ser o soro. O uso de biotina e de suplementos alimentares que contenham biotina deve ser suspenso 3 dias antes da coleta. O ideal é que gestantes realizem o teste entre a 15ª e a 21ª semana de gestação. O método utilizado para a dosagem de AFP é a quimioluminescência em tubos, como explicado na dosagem de PSA. EXEMPLIFICANDO Outros marcadores são utilizados para auxiliar o diagnóstico de câncer, como o antígeno mucóide associado ao carcinoma, a cromogranina A, o antígeno tumoral da bexiga, a telomerase, a proteína da matriz nuclear, o CA 72.4 e o CA 125. FAÇA VALER A PENA Questão 1 Leia o trecho a seguir: Leite, ovo, soja, trigo, amendoim, castanhas, peixes e frutos do mar respondem pelos alimentos mais responsáveis por reações alérgicas. No entanto, vários outros alimentos ocupam paulatinamente maior espaço na lista dos alérgenos, caso das sementes (destaque para o gergelim) e algumas frutas. Paralelamente, a gravidade das reações e o tempo para a remissão da doença parecem ter aumentado e alimentos como amendoim e castanhas, tornaram-se mais preocupantes entre a populaçãopediátrica nos últimos anos. (ECODEBATE, 2020, [s. p.]) Assinale a alternativa que apresenta o tipo de hipersensibilidade tratada no texto. a. Hipersensibilidade do tipo I. b. Hipersensibilidade do tipo II. c. Hipersensibilidade do tipo III. d. Hipersensibilidade do tipo IV. e. Hipersensibilidade tardia. Questão 2 Analise o que trata o texto que segue: Os biomarcadores ou marcadores biológicos correspondem a substâncias (células, moléculas, genes, enzimas, hormônios) que podem ser detectadas nos mais diversos fluídos corporais, indicando uma doença/processo patológico específico, ou ainda um estado clínico. Nesse contexto, o PSA (Prostatic Specific Antigen – Antígeno Prostático Específico) talvez seja o caso mais emblemático dessa categoria, representando uma das experiências mais bem-sucedidas de biomarcadores oncológicos (marcadores tumorais), amplamente disponível em todo o mundo. (MORALES, 2019, [s. p.]) Com relação à matéria descrita e levando em conta os estudos desta seção, complete as lacunas da sentença a seguir a respeito do PSA: O PSA livre corresponde ao antígeno ____________ não ligado em qualquer molécula. Ele é um importante marcador tumoral, pois os pacientes com câncer prostático parecem ter níveis ___________ de PSA livre, se comparado ao PSA total. Já pacientes com hipertrofia prostática benigna podem ter níveis mais ____________ de PSA livre. Assinale a alternativa que completa as lacunas corretamente. a. hepático; menores; elevados. b. prostático; menores; elevados. c. prostático; maiores; diminuídos. d. hepático; maiores; diminuídos. e. prostático; menores; diminuídos. Questão 3 Leia o trecho a seguir: O ano de 2015 se encerrou com 248.000 novos diagnósticos de câncer na Espanha. Muito acima do número previsto para 2020, mas “dentro da expectativa”, tranquiliza o doutor Josep Tabernero, diretor do Vall d’Hebron Instituto de Oncologia (VHIO), em Barcelona. Dentro de uma das grandes trincheiras da pesquisa contra o câncer, como é o VHIO, Tabernero tornou-se um nome reconhecido entre a comunidade científica internacional por suas descobertas. Das suas mãos surgiu uma tecnologia que, mediante uma biópsia líquida (um exame de sangue) se pode detectar marcadores tumorais no sangue. (MOUZO, 2017, [s. p.]) Considerando o contexto, avalie as afirmativas a seguir: Um paciente com PSA total de 3,6 ng/ml e PSA livre de 0,72 ng/ml possui uma relação percentual PSA acima dos valores de referência. O Beta-HCG é utilizado para diagnóstico, monitoração e prognóstico de pacientes com tumores de células germinativas. As moléculas de Alfa-fetoproteína, Antígeno Carcinoembrionário e Hormônio Coriônico Gonadotrófico são marcadores tumorais que podem ser dosados no plasma. Os marcadores tumorais Alfa-fetoproteína e Antígeno Carcinoembrionário podem ser dosados pela técnica de quimioluminescência em tubos. Considerando o contexto apresentado, assinale a alternativa correta. a. Apenas as afirmativas I e III estão corretas. b. Apenas as afirmativas I e IV estão corretas. c. Apenas as afirmativas II e III estão corretas. d. Apenas as afirmativas I, II e IV estão corretas. e. Apenas as afirmativas II, III e IV estão corretas. REFERÊNCIAS ABBAS, A. K.; LICHTMAN, A. H.; PILLAI, S. Imunologia Celular e Molecular. 8. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2015. p.356-384. CAMPOS, G.; FELDHAUS, I. M. F.; SANTOS, L. G.; SOUZA, L. W. C. O. Aplicação laboratorial do βhcg como marcador tumoral para diagnóstico do câncer. Caderno Saúde e Desenvolvimento, [S. l.], v. 11, n. 6, p. 6-14, abr./jul. 2017. Disponível em: https://bit.ly/36SqaxL. Acesso em: 23 jun. 2021. COICO, R. Imunologia. 6. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2019. p. 221-254. DAVID, M. K.; LESLIE. S. W. Prostate Specific Antigen. StatPearls, 2021. Disponível em: https://bit.ly/3xJ5ns9. Acesso em: 20 abr. 2021. DELVES, P. J. Fundamentos de Imunologia. 13. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2018. p.384-411. ECODEBATE. Entenda como é o diagnóstico da alergia alimentar. EcoDebate, 2020. Disponível em: https://bit.ly/2UQF6JW. Acesso em: 23 jun. 2021. FLEURY. Antígeno Prostático Específico, soro. Fleury, 2021. Disponível em: https://bit.ly/3Bag34W. Acesso em: 22 abr. 2021. FLEURY. 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Alterando os dados da fórmula, pode-se encontrar os seguintes valores: [(5,3 X 100) / 14,9] = 35,57%. AVANÇANDO NA PRÁTICA NÃO POSSO COMER NADA As alergias alimentares são caracterizadas pela reação do sistema imunológico após a ingestão de um determinado alimento. Essas alergias podem ativar reações do sistema imunológico com o objetivo de combater o alérgeno presente no organismo, causando sintomas característicos. Uma menina de 12 anos é atendida em um hospital de emergência após sentir dor no estômago e diarreia intensa. Durante a avaliação física, o médico observa erupções cutâneas em múltiplas áreas do corpo da criança. Ele suspeita de alergia alimentar, portanto, solicitou hemograma e dosagem dos anticorpos IgG, IgM e IgE da paciente. O biomédico do laboratório realiza os exames e obtém os resultados. Sabendo do diagnóstico da paciente, quais alterações laboratoriais espera-se encontrar nesses exames? Espera-se observar a hipersensibilidade do tipo I, também conhecida como hipersensibilidade imediata, pois as reações podem aparecer dentro de 15 a 30 minutos após a exposição ao agente alérgeno. A histamina e os mastócitos são os principais responsáveis pela sintomatologia na fase aguda e, posteriormente, outros tipos celulares são ativados para desencadear a reação alérgica. Após avaliação médica, com suspeita de alergia alimentar, foi solicitado hemograma e dosagem dos anticorpos IgG, IgM e IgE. O biomédico realizou os exames, observando eosinofilia no hemograma e níveis de IgE aumentados, caracterizando a alergia alimentar. ANÁLISES IMUNOLÓGICAS DOS PRINCIPAIS DISTÚRBIOS HORMONAIS Caio Cesar Richter Nogueira PRATICAR PARA APRENDER Os hormônios são moléculas químicas secretadas em quantidades pequenas na corrente sanguínea e que exercem uma ação biológica sobreuma célula-alvo. Eles podem ser produzidos por um órgão ou em determinadas células do órgão. A análise laboratorial da quantidade de hormônios disponíveis pode auxiliar no diagnóstico de doenças. O biomédico possui um importante papel no rastreio de moléculas. Nessa seção, você vai aprender sobre os principais hormônios utilizados para auxiliar no diagnóstico de doenças, e verá, também, os métodos utilizados para a dosagem desses analitos no sangue, além das orientações para a coleta da amostra. O Hormônio Luteinizante possui estrutura esteroidal, tendo como função principal desencadear a ovulação e o desenvolvimento do corpo lúteo. Caso haja a fecundação e a gravidez se inicie, os níveis de LH diminuem. Com base nisso, considere o seguinte caso: uma mulher procura o laboratório de análises clínicas, pois seu médico solicitou a dosagem de hormônios importantes para uma futura gravidez. Dentre esses hormônios, encontra-se o LH. A mulher solicita ao setor de atendimento que o responsável técnico pelo local explique as orientações prévias ao dia da coleta da amostra, portanto, o biomédico foi chamado. Na posição desse biomédico, quais orientações você daria à paciente? CONCEITO-CHAVE Os hormônios são moléculas classificadas em três tipos: proteicos (ou peptídeos), esteróides e derivados de aminoácidos (aminas). 1. Hormônios protéicos: são moléculas formadas por 3 a 200 resíduos de aminoácidos. Exemplos desse tipo de hormônio são: hormônio adrenocorticotrófico (ACTH), hormônios gonadotróficos, hormônio luteinizante (LH), hormônio folículo-estimulante (FSH) e hormônio tireoestimulante (TSH). 2. Hormônios esteróides: são moléculas com estrutura derivada da molécula do colesterol. Esses hormônios são sintetizados em glândulas do nosso organismo, como córtex da suprarrenal, gônadas e placenta. Um exemplo de hormônio esteroide é a vitamina D. 3. Hormônios derivados de aminoácidos: são sintetizados a partir do aminoácido tirosina e incluem as catecolaminas norepinefrina (noradrenalina), epinefrina (adrenalina) e dopamina. O Hormônio Folículo-Estimulante (FSH) é uma glicoproteína produzida pelas células gonadotróficas, localizadas na hipófise anterior, em resposta à estimulação pelo hormônio de liberação das gonadotrofinas (GnRH) do hipotálamo. Na mulher, o FSH ativa a enzima aromatase, que induz a conversão dos hormônios andrógenos (androstenediona e testosterona) em estrona e estradiol, respectivamente. No homem, as células testiculares de Sertoli e do testículo têm seu crescimento estimulado pelo FSH, que desempenha função importante nas fases iniciais da espermatogênese. As altas concentrações de FSH podem ser encontradas, principalmente, nos casos de perda de função ovariana precoce, pós-menopausa, acromegalia, agenesia testicular e pelo uso de medicamentos. Já as baixas concentrações de FSH podem ser encontradas na diminuição da função hipofisária, anorexia nervosa e após a utilização de alguns medicamentos. Para a dosagem laboratorial de FSH no sangue, não é necessário o jejum prévio, entretanto, é recomendado o jejum mínimo de 4 horas. O jejum prolongado pode alterar as condições fisiológicas, levando à diminuição da concentração sérica de hormônios hipofisários. A amostra utilizada para a dosagem deve ser o soro ou o plasma. O Hormônio Luteinizante (LH) também é uma glicoproteína produzida pelas células gonadotróficas, localizadas na hipófise anterior, em resposta à estimulação do GnRH. Na mulher, a ovulação tem sua estimulação pelo LH, que possui capacidade de ativar seus receptores nas células da teca, induzindo a captação de colesterol. O colesterol captado é convertido em pregnenolona e, posteriormente, em progesterona. A progesterona pode exercer sua função biológica ou ser convertida em androstenediona. No homem, a liberação de testosterona é estimulada pela ação do LH sobre as células de Leydig, reforçando a ação do FSH na espermatogênese. As altas ou baixas concentrações de LH no sangue do paciente podem indicar as mesmas doenças vistas na dosagem de FSH. O hormônio LH também tem aplicação na investigação dos problemas de infertilidade. Na mulher, detecta a presença ou não da ovulação. Na infertilidade masculina, valores normais de LH e valores elevados de FSH são indicativos de falência espermatogênica. Para a dosagem laboratorial de LH no sangue, não é necessário o jejum prévio, entretanto, é recomendado o jejum mínimo de 4 horas. O jejum prolongado pode alterar as condições fisiológicas, levando à diminuição da concentração sérica de hormônios hipofisários. A coleta deve ser feita, preferencialmente, até o quinto dia após o início do ciclo menstrual, contando-se a partir do primeiro dia da menstruação. A amostra utilizada para a dosagem deve ser o soro ou o plasma. O Hormônio Adrenocorticotrófico (ACTH) é um polipeptídio formado por 39 aminoácidos. O hormônio liberador de corticotrofina (CRH) é um hormônio sintetizado no hipotálamo, que induz células da adenohipófise à produção e à secreção da pró-opiomelanocortina (POMC). A POMC é, posteriormente, clivada, liberando ACTH, β-endorfina e os hormônios melanócito-estimulantes (MSHs) α, β e γ. O ACTH é estimulado por estresses psicológicos e físicos, como medo, infecção, hipoglicemia, cirurgia e traumatismo. Na corrente sanguínea, o ACTH liga-se ao receptor MC2R, no córtex da suprarrenal, estimulando a liberação do cortisol. As altas concentrações de ACTH podem ser encontradas, principalmente, em casos de Adenoma hipofisário, doença de Addison, estresse e insuficiência suprarrenal. Por outro lado, as baixas concentrações de ACTH podem ser encontradas na hiperfunção corticosuprarrenal primária, no adenoma e em carcinomas adrenais, ou por conta do uso de alguns medicamentos. Para a dosagem laboratorial de ACTH no sangue, é recomendado o jejum mínimo de 3 horas. A coleta deve ser feita, preferencialmente, até duas horas após o horário habitual de o paciente acordar. A amostra utilizada para a dosagem deve ser o plasma, o qual deve ser centrifugado para que seja separado das hemácias imediatamente. O hormônio do crescimento (GH) é um polipeptídio formado por 191 aminoácidos. O GH é produzido e liberado pelos somatotrofos da adenohipófise durante o período noturno, ocorrendo em associação ao sono de ondas lentas. Os hormônios identificados como fator de crescimento, como a insulina 1 (IGF-1), o hormônio liberador do hormônio do crescimento (GHRH) e a somatostatina, possuem capacidade de regular a liberação de GH. O GHRH aumenta a secreção do GH pelos somatotrofos a partir do aumento da expressão gênica do GH e da proliferação dos somatotrofos. A somatostatina inibe a produção de GH através da ligação aos receptores de somatostatina acoplados à proteína G, nos somatotrofos. O IGF-1 é produzido pelos órgãos que sofreram ação do GH, gerando um feedback negativo e bloqueando a produção de GH. Diversos efeitos do GH são descritos em múltiplos órgãos: 1. Ossos: estimula o crescimento longitudinal do tecido ósseo através da condrogênese e do alargamento das placas epifisárias cartilaginosas. 2. Adipócitos: inibe a enzima lipase lipoproteica e gera aumento da quantidade de ácidos graxos livres armazenados no tecido adiposo. Promove a oxidação no músculo esquelético. 3. Músculo esquelético: tem capacidade de induzir a proliferação celular e de promover a estimulação da captura de aminoácidos e a produção proteica. 4. Fígado: favorece a gliconeogênese e a maior disponibilidade de glicose na circulação. As altas concentrações de GH podem ser encontradas, principalmente, em quadros de acromegalia, anorexia nervosa, estresse e hiperpituitarismo. As baixas concentrações de GH podem ser encontradas na deficiência congênita do hormônio de crescimento, na degeneração hipotalâmica e na fibrose ou calcificação da hipófise. Para a dosagem laboratorial de GH no sangue, é recomendado o jejum mínimo de 3 horas. A amostra utilizada para a dosagem deveser o soro. O Hormônio tireoestimulante (TSH) é uma glicoproteína produzida pelas células tireotrofos, localizadas na hipófise anterior, em resposta à estimulação pelo hormônio de liberação da tireotrofina (TRH) pelo hipotálamo. O TSH, na corrente sanguínea, ativa receptores presentes na membrana da tireoide. Esse receptor, do tipo acoplado à proteína G, estimula a captação de iodo, a liberação das enzimas iodotironinas desiodases tipos I e II (D1 e D2) e o crescimento da tireoide. Tais eventos promovem a transcrição gênica, levando à produção de triiodotironina (T3) e de tetraiodotironina (T4). A concentração sérica de TSH pode auxiliar na diferenciação do diagnóstico de hipotireoidismo primário e secundário. O hipotireoidismo primário ocorre por causa de doenças da tireoide, portanto, os níveis séricos do hormônio estimulante da tireoide (TSH) são altos. O hipotireoidismo secundário ocorre devido a doenças hipofisárias ou hipotalâmicas, e os níveis séricos de TSH são baixos. As altas concentrações de TSH também podem ser encontradas no adenoma hipofisário e na doença de Addison primária. As baixas concentrações de TSH podem ser causadas por adenoma tóxico, doença de Graves e tireoidite. A glândula tireoide armazena por 2 a 3 meses, aproximadamente, os hormônios tireoidianos produzidos em resposta ao TSH. Esses hormônios são identificados como triiodotironina (T3) e a tetraiodotironina (T4), sendo o hormônio T3 derivado do T4. Na corrente sanguínea, quase toda quantidade de T4 encontra-se ligada à globulina ligadora da tireoide, à transtirretina ou à albumina. Uma pequena concentração de T4 encontra-se livre na corrente sanguínea, sendo essa a porção biologicamente ativa. Os receptores de hormônios da tireoide estão presentes em quase todos os órgãos do corpo, alterando o metabolismo celular. 1. Ossos: os hormônios tireoidianos são necessários para o crescimento e o desenvolvimento dos ossos por meio da ativação de osteoclastos e osteoblastos. 2. Sistema cardiovascular: os hormônios tireoidianos aumentam o débito cardíaco e o volume sanguíneo. 3. Fígado: os hormônios tireoidianos alteram o metabolismo dos triglicerídeos e do colesterol. 4. Hipófise: os hormônios tireoidianos estimulam a produção do hormônio de crescimento e inibem o TSH. 5. Cérebro: os hormônios tireoidianos estimulam o crescimento e o desenvolvimento dos axônios. As altas concentrações de T4 podem ser encontradas, principalmente, em casos de hipertireoidismo, gravidez e hipertiroxinemia isolada. As baixas concentrações de T4 podem ser encontradas na acromegalia, na agenesia da glândula tireóide e na deficiência de iodo. Para a dosagem laboratorial de T4, T3 e T4 livre no sangue, é recomendado o jejum mínimo de 3 horas. O paciente deve informar ao laboratório de análises clínicas a utilização de medicamentos, principalmente de hormônios tireoidianos e amiodarona. Caso esteja utilizando hormônios tireoidianos, é preciso fazer a coleta antes da próxima dose ou, no mínimo, quatro horas após a ingestão do medicamento. A amostra utilizada para a dosagem deve ser o soro ou o plasma. ASSIMILE O hipotireoidismo primário está relacionado a doenças na tireoide, sendo que o mais comum é o hipotireoidismo causado por doenças autoimunes. Laboratorialmente, é caracterizado pelo aumento de TSH e pela diminuição de T4 livre. O hipotireoidismo secundário está relacionado a causas hipofisárias, pela deficiência de TSH. Laboratorialmente, é caracterizado pelo TSH normal ou diminuído e pela diminuição de T4 livre. EXEMPLIFICANDO Uma das doenças em que os níveis de TSH e T4 estão alterados é o hipotireoidismo de Hashimoto, caracterizado como uma doença autoimune que ataca a tireoide. Nessa doença, é possível dosar laboratorialmente o anticorpo anti-tireoperoxidase (anti-TPO). As células da zona glomerulosa da suprarrenal convertem a 11-desoxicorticosterona em corticosterona, posteriormente, em 18-hidroxicorticosterona e, depois, em aldosterona. A síntese e a liberação de aldosterona é regulada pelo sistema renina-angiotensina. Esse sistema possui como objetivo preservar a homeostase circulatória em resposta a uma perda de sal e de água. O sistema inicia-se com a redução do volume sanguíneo, levando à redução da pressão da arteríola aferente e desencadeando na liberação de renina pelo aparelho justaglomerular nos rins. A renina atua como uma enzima catalítica, quebrando a molécula de angiotensinogênio produzida no fígado, e formando angiotensina I. Uma proteína denominada enzima conversora de angiotensina, presente no endotélio vascular, converte a angiotensina I em angiotensina II. A angiotensina atua causando vasoconstrição e liberação de aldosterona. A produção de aldosterona também pode ser estimulada por potássio, ACTH, norepinefrina e endotelinas. As principais funções da aldosterona é aumentar a reabsorção de sódio e estimular a excreção de potássio. As altas concentrações séricas de aldosterona podem ser chamadas de hiperaldosteronismo e, as baixas concentrações, de hipoaldosteronismo. Para a dosagem laboratorial de aldosterona no sangue, a coleta deve ser feita, preferencialmente, pela manhã, entre 7 e 10 horas. Se houver instruções médicas para a realização de coleta do exame em pé, o paciente precisa permanecer duas horas nessa posição (parado ou andando) antes de o sangue ser colhido; no entanto, caso a indicação médica seja após repouso, o paciente deve permanecer 30 minutos sentado antes da coleta. A amostra utilizada para a dosagem deve ser o soro. REFLITA Agora que você conhece o efeito dos principais hormônios no corpo humano e aprendeu os mecanismos de feedback negativo, reflita: o uso endógeno de um hormônio específico pode causar um desbalanço na produção de outros hormônios? FAÇA VALER A PENA Questão 1 Leia o trecho a seguir: Apesar de ter um certo ar de novidade, a reposição de hormônios através de implantes é a primeira forma de reposição hormonal, datada do ano de 1940. No Brasil, porém, os implantes começaram a ser utilizados somente na década de 90, através do médico baiano Dr Elsimar Coutinho. (OLIVEIRA, 2021, [s. p.]) Assinale a opção que apresenta corretamente o local de produção dos hormônios em questão. a. Hormônio folículo-estimulante é produzido pelas células gonadotróficas localizadas na hipófise anterior. b. Hormônio luteinizante é produzido pelas células tireotróficas localizadas na hipófise anterior. c. Hormônio do crescimento é produzido pelas células gonadotróficas localizadas na hipófise anterior. d. Hormônio adrenocorticotrófico é produzido pelas células lactotróficas localizadas na hipófise anterior. e. Hormônio tireoestimulante é produzido pelas células somatotróficas localizadas na hipófise anterior. Questão 2 Considere o trecho a seguir: A tireoide fica no pescoço, logo abaixo do pomo-de-adão, que costuma ser mais saliente nos homens. E, segundo a médica Laura Ward, professora da Unicamp e vice-presidente do departamento de tireoide de Endocrinologia e Metabologia (SBEM), é ela que fornece energia para que a sua máquina não pare. “A tireoide produz os hormônios T3 (triiodotironina) e T4 (tiroxina), que controlam a atividade dos órgãos vitais e interferem no peso, no ciclo menstrual, no raciocínio, no trabalho do intestino e na força muscular”, explica. (DOMENICO, 2021, [s. p.]) A glândula tireoide pode armazenar um estoque de 2 a 3 meses, aproximadamente, de hormônios tireoidianos produzidos em resposta ao ____________. Esses hormônios são identificados como triiodotironina (T3) e ____________, sendo o hormônio T3 derivado do T4. Quando cai na corrente sanguínea, quase toda T4 encontra-se ligada à ____________, à transtirretina ou à albumina. Assinale a alternativa que completa as lacunas corretamente. a. FSH; tetraiodotironina (T4); globulina ligadora de tiroxina. b. TSH; tetraiodotironina (T4); globulina ligadora de tiroxina. c. FSH; hormônio do crescimento; hemoglobina.d. TSH; hormônio do crescimento; hemoglobina. e. FSH; tetraiodotironina (T4); hemoglobina. Questão 3 Uma reportagem do Correio do Estado informou que “os hormônios produzidos pela glândula tireóide são sim fundamentais para regular os processos metabólicos do organismo, mas também importantes para o bom funcionamento de órgãos essenciais do corpo, como o coração, cérebro, fígado e rins.” (MESQUITA, 2020, [s. p.]) A respeito desse assunto, analise as afirmações a seguir: I - Os hormônios tireoidianos podem gerar o crescimento e o desenvolvimento dos ossos. II - Os hormônios tireoidianos alteram o metabolismo dos triglicerídeos e do colesterol. III - Os hormônios tireoidianos aumentam a captação de glicose pelas células do epidídimo. IV - Os hormônios tireoidianos estimulam o crescimento e o desenvolvimento dos axônios. Considerando os efeitos dos hormônios liberados pela tireoide, assinale a alternativa correta. a. Apenas as afirmativas I e III estão corretas. b. Apenas as afirmativas I e IV estão corretas. c. Apenas as afirmativas II e III estão corretas. d. Apenas as afirmativas I, II e IV estão corretas. e. Apenas as afirmativas II, III e IV estão corretas. REFERÊNCIAS DOMENICO, M. Hipotireoidismo e hipertireoidismo: conheça a diferença entre os problemas. Boa forma, 2021. Disponível em: https://bit.ly/36Gn6o1. Acesso em: 23 jun. 2021. ESFANDIARI, N. H.; PAPALEONTIOU, M. Biochemical Testing in Thyroid Disorders. Endocrinology and Metabolism Clinics of North America, [S. l.], v. 46, n. 3, p. 631-648, set. 2017. Disponível em: https://bit.ly/3hJTGvP. Acesso em: 23 jun. 2021. FICHTER, M. M.; PIRKE, K. M.; HOLSBOER, F. Weight loss causes neuroendocrine disturbances: experimental study in healthy starving subjects. Psychiatry Research, [S. l.], v. 17, n. 1, p. 61–72, jan. 1986. 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O biomédico deve explicar que, para a dosagem de LH, a paciente deve realizar um jejum de 4 horas e deve comparecer ao laboratório para a coleta até o quinto dia após o início do ciclo menstrual, contando-se a partir do primeiro dia da menstruação. AVANÇANDO NA PRÁTICA HORMÔNIOS E DOENÇAS AUTOIMUNES A doença de Hashimoto é uma doença caracterizada pela produção de autoanticorpos contra a proteína tireoglobulina presente na glândula tireoide. Um paciente procurou seu endocrinologista após apresentar aumento de peso, cansaço excessivo, cabelos e unhas quebradiços e inchaço na parte da frente do pescoço. O médico suspeita de Tireoidite de Hashimoto, portanto, solicita a dosagem de T4 e TSH. O biomédico do laboratório realiza os exames e obtém os resultados. Sabendo do diagnóstico do paciente, quais alterações laboratoriais você espera encontrar nesses exames? O hipotireoidismo pode ser classificado como primário e secundário. A doença de Hashimoto é classificada como hipotireoidismo primário, sendo assim, é esperado um padrão de concentração dos hormônios T4 livre e TSH. No paciente com hipotireoidismo primário, os níveis de TSH encontram-se aumentados, enquanto os de T4 livre encontram-se abaixo dos níveis de referência. DIAGNÓSTICO IMUNOLÓGICO DO HIV Caio Cesar Richter Nogueira PRATICAR PARA APRENDER Segundo o boletim epidemiológico de doenças de condições crônicas e infecções sexualmente transmissíveis, publicado pelo Ministério da Saúde (BRASIL, 2020), o número de indivíduos com HIV no Brasil está diminuindo, entretanto, o diagnóstico e o monitoramento desses indivíduos devem ser constantes. O biomédico possui um importante papel na realização dos exames sorológicos e moleculares. Nesta seção, você vai aprender o histórico do desenvolvimento de testes sorológicos utilizados para o diagnóstico de HIV, compreendendo os testes complementares no diagnóstico, os protocolos indicados para a realização dos testes e os exames realizados no acompanhamento de pessoas com HIV. Uma vez que um indivíduo é diagnosticado com HIV, esse paciente deve ser atendido pelo serviço especializado em HIV/AIDS para a determinação do tratamento e a realização de exames. Considere, então, que uma mulher chega ao sistema de atendimento à pessoa com HIV para uma visita de rotina. Essa pacientejá encontra-se adaptada ao TARV e volta ao médico após um intervalo de 6 meses para a realização dos exames de controle. O laboratório de análises clínica é acionado para fazer esses exames. Pensando no intervalo de tempo do diagnóstico da paciente, quais exames você realizaria? CONCEITO-CHAVE Os imunoensaios utilizados no diagnóstico do Vírus da Imunodeficiência Humana (VIH ou HIV, do inglês Human Immunodeficiency Virus) foram elaborados com o passar dos anos após os cientistas compreenderem o desenvolvimento da doença. Assim que a doença foi descoberta, inúmeros pesquisadores de todo o mundo iniciaram uma corrida com intuito de desenvolver o primeiro teste de diagnóstico do HIV. Em março de 1985, o laboratório Abbout desenvolveu o primeiro teste para a detecção de anticorpos anti-HIV. Atualmente, esses testes podem ser divididos em quatro grupos: ensaios de primeira geração, de segunda geração, de terceira geração e de quarta geração. Os ensaios de primeira geração possuem como objetivo a busca de anticorpos do tipo IgG no soro do paciente. O teste é realizado em uma placa de 96 poços, sendo que, no fundo de cada poço, há antígenos aderidos, originados do lisado de células infectadas com HIV. O soro do paciente é adicionado aos poços, assim, caso o paciente tenha anticorpos contra o HIV-1 (Anti-HIV-1), eles vão se ligar ao antígeno aderido na placa. Um segundo anticorpo aderido a uma enzima (peroxidase) é adicionado no poço com objetivo de se ligar ao anti-HIV-1. Posteriormente, o substrato é acrescentado, reagindo com a enzima, de modo a alterar a cor da solução, que pode ser lida utilizando o espectrofotômetro. Devido ao antígeno utilizado no teste ser originado de um lisado de células infectadas por HIV, inúmeras proteínas celulares e impurezas podem estar presentes, o que diminui a especificidade (95-98%) do método. A janela de soroconversão para esse tipo de teste é de 8-10 semanas após a infecção. ASSIMILE A janela de soroconversão, também conhecida como janela imunológica, é o período entre a infecção causada pelo HIV até a primeira detecção dos anticorpos contra o vírus. Os ensaios de segunda geração foram produzidos no ano de 1987 e, assim como os ensaios de primeira geração, têm como objetivo a busca de anticorpos do tipo IgG no soro do paciente, entretanto, o antígeno aderido à placa é produzido pela tecnologia do DNA recombinante. Essas alterações no teste possibilitaram um aumento na sensibilidade (> 99,5%) e na especificidade (99%) do método. Os fabricantes também adicionaram proteínas do grupo O de HIV-1 e de HIV-2, permitindo a busca por seus anticorpos. A janela de soroconversão para esse tipo de teste é de 4-6 semanas após a infecção. Os ensaios de terceira geração foram produzidos apenas no ano de 1991. O objetivo do teste é a busca por anticorpos do tipo IgG e IgM no soro do paciente. Nesse método, o formato ELISA sanduíche é utilizado para buscar o anticorpo e os antígenos produzidos, por meio da tecnologia de DNA recombinante e peptídeos sintetizados no laboratório. A utilização da estratégia de sintetizar os antígenos permite a produção da sua forma aderida na placa ou como peptídeo solúvel, tornando o teste mais específico (99,5%). A janela de soroconversão para esse tipo de teste é de 2-3 semanas após a infecção. Os ensaios de quarta geração foram produzidos no ano de 1997, com objetivo de detectar os anticorpos contra o HIV e o antígeno viral (proteína p24). A adição de um anticorpo aderido ao fundo do poço para a detecção da p24 aumentou a sensibilidade (> 99,8%) do método. A janela de soroconversão para esse tipo de teste é de 2 semanas após a infecção. A necessidade de desenvolver um teste com resultados mais rápidos fez com que os fabricantes criassem os testes rápidos. Esses testes são imunoensaios realizados, normalmente, fora do laboratório de análises clínicas, com resultado em até 30 minutos. O método mais utilizado nesses exames é a imunocromatografia (IC). A IC é um método que utiliza uma membrana de nitrocelulose ligada a uma tira de nitrocelulose onde a amostra vai migrar e será identificada, na área teste, para teste, enquanto o controle do teste será identificado na área de controle. Para a detecção do anticorpo contra o HIV, são adicionados anticorpos anti-imunoglobulinas. A amostra utilizada nesse teste pode ser sangue total, soro, plasma ou fluido oral. Alguns testes são utilizados de forma complementar ao diagnóstico de HIV, como o Western Blot, imunofluorescência e reação em cadeia da polimerase. O Western Blot é uma técnica de biologia molecular que utiliza uma membrana de poliacrilamida e a aplicação de uma diferença de potencial elétrico para separar as proteínas de uma amostra. Após separação das proteínas, é adicionado um anticorpo que se liga às proteínas do HIV, por exemplo, contra as proteínas p24, gp41 ou gp120. Posteriormente, é adicionado um segundo anticorpo marcado, que revela a presença da proteína. A imunofluorescência é uma técnica de microscopia que permite a visualização de antígenos específicos na suspensão celular ou nos tecidos. Essa técnica utiliza anticorpo primário contra o antígeno do HIV. Posteriormente, é adicionado um anticorpo secundário marcado com um fluoróforo, que revela a presença da proteína específica. A reação em cadeia da polimerase (PCR) é uma técnica de biologia molecular que promove a amplificação do material genético de um determinado organismo. A necessidade de um iniciador (primer) específico para começar a reação garante uma alta especificidade para a técnica. Neste caso, é produzido um iniciador correspondente ao material genético do HIV. Caso a amostra seja positiva, a reação de amplificação do material genético acontece. REFLITA Uma vez que o teste de PCR tem como objetivo detectar o material genético do vírus, nesse tipo de teste existe interferência da janela de soroconversão? Desde o surgimento do primeiro teste, o diagnóstico de HIV é realizado utilizando dois testes, sendo o primeiro mais sensível e o segundo com maior especificidade. Diversos protocolos foram desenvolvidos com o intuito de descrever as etapas utilizadas para o diagnóstico de HIV, principalmente, a partir de fluxogramas publicados pelo Ministério da Saúde. Dentre os protocolos, o fluxograma que mais é empregado como estratégia para diagnóstico de HIV é o que utiliza dois testes rápidos. A amostra pode ser obtida por punção venosa ou polpa digital e o teste é realizado, preferencialmente, com o indivíduo presente no local (visando a eliminar a possibilidade de troca de amostras). Os dois testes rápidos devem conter antígenos diferentes, e a positividade dos dois resulta no diagnóstico da infecção causada pelo HIV. Algumas observações devem ser realizadas quando utilizado esse fluxograma: 1. Todos os indivíduos que apresentarem resultados reagentes nos dois testes rápidos devem realizar o exame de quantificação da carga viral (CV) e contagem de linfócitos T-CD4+. A CV, quando igual ou superior a 5.000 cópias/mL confirma a infecção pelo HIV. 2. Esse fluxograma não é indicado para crianças com idade inferior ou igual a 18 meses. 3. Esse fluxograma não é indicado para o diagnóstico de infecção por HIV-2. 4. Nas infecções agudas causadas pelo HIV, esse fluxograma não é indicado. EXEMPLIFICANDO Outros fluxogramas para o diagnóstico de HIV são descritos pelo Ministério de Saúde para auxiliar o médico e os laboratórios de análises clínicas, entretanto, o fluxograma que utiliza dois testes rápidos é o protocolo mais aplicável, devido à facilidade do método. Após o diagnóstico confirmado de infecção causada pelo HIV, o paciente deve ser encaminhado para um especialista do Serviço de Atendimento Especializado em HIV/AIDS. Durante o atendimento, o médico vai determinar a melhor estratégia de tratamento do paciente, utilizando terapia antirretroviral (TARV). Após introdução dos medicamentos, é recomendado o retorno ao atendimentoespecializado entre 7 e 15 dias, com objetivo de avaliar possíveis efeitos colaterais e dificuldades que envolvam a adesão ao tratamento. São recomendadas visitas mensais ao médico, até que o paciente tenha se adaptado ao TARV. Após esse período, o paciente deve retornar às consultas em intervalos de 6 meses, e os exames de controle podem ser realizados com periodicidade maior. FAÇA VALER A PENA Questão 1 Entre os inúmeros efeitos colaterais da pandemia, vem sendo observado que muitos pacientes com HIV, o vírus causador da aids, estão abandonando seus tratamentos. A infectologista Vitória Ana Carolina avalia que, além do receio de ir buscar atendimento por causa da pandemia, a falta de campanhas de conscientização deixa os jovens desinformados quanto às opções de tratamento possíveis e oferecidas gratuitamente pelo SUS. (REDAÇÃO JORNAL TEMPO NOVO, 2021, [s. p.]) A matéria descrita alerta para o abandono do tratamento de pessoas com HIV, daí a necessidade de um acompanhamento de qualidade com esses pacientes. Com relação ao acompanhamento do paciente com HIV, complete as lacunas da sentença a seguir: O indivíduo que for diagnosticado com infecção pelo HIV deve fazer um acompanhamento com um especialista, e seu tratamento será determinado. Após introdução dos medicamentos, é recomendado o retorno ao atendimento entre ____________, com objetivo de avaliar possíveis ____________ e dificuldades que envolvam a adesão ao tratamento. São recomendadas visitas mensais ao médico, até que o paciente tenha se adaptado ao ____________. Após esse período, o paciente deve retornar às consultas em intervalos de 6 meses, e os exames de controle podem ser realizados com periodicidade maior. Assinale a alternativa que completa as lacunas corretamente. a. 7 e 15 dias; efeitos colaterais; TARV. b. 10 e 20 dias; efeitos colaterais; TARV. c. 7 e 15 dias; efeitos teratogênicos; TARV. d. 10 e 20 dias; efeitos teratogênicos; anti-inflamatório. e. 7 e 15 dias; efeitos colaterais; anti-inflamatório. Questão 2 Laboratório é condenado a indenizar paciente por diagnóstico falso positivo de HIV. Ele terá de pagar R$8 mil a paciente a título de danos morais. A sentença é do juiz Leonys Lopes Campos da Silva, da 2ª Vara Cível da comarca de Goiânia. O magistrado entendeu que o erro de diagnóstico causou dor, sofrimento e aflição. (LABORATÓRIO, 2021, [s. p.]) A matéria descrita informa que um laboratório de análises clínicas foi condenado a indenizar uma paciente por diagnóstico falso positivo para HIV. A escolha do método pode influenciar na probabilidade de falso positivo, portanto, considerando o contexto, avalie as afirmativas a seguir: I- O Western Blot é uma técnica baseada na separação de proteínas e posterior reconhecimento de uma proteína específica por meio de anticorpos. II - Na técnica de imunofluorescência, é utilizado um anticorpo secundário marcado com um fluoróforo que revela a presença da proteína específica. III - A reação em cadeia da polimerase é uma técnica baseada na utilização de um anticorpo específico para proteínas virais. IV - O método mais utilizado no teste rápido para a detecção de anticorpos contra o HIV é a imunocromatografia. Considerando o contexto apresentado, assinale a alternativa correta. a. Apenas as afirmativas II, III e IV estão corretas. b. Apenas as afirmativas I, III e IV estão corretas. c. Apenas as afirmativas I, II e III estão corretas. d. Apenas as afirmativas I, II e IV estão corretas. e. As afirmativas I, II, III e IV estão corretas. Questão 3 “Use camisinha!”. A expressão popularizada pelas campanhas de prevenção ao HIV já não é a única maneira de combater a propagação do vírus causador da Aids, isolado pela primeira vez no dia 20 de maio de 1983, pelo cientista Luc Montagnier, do Instituto Pasteur, na França. Graças à evolução dos medicamentos utilizados no combate ao HIV, a Aids é considerada uma doença crônica atualmente. Os tratamentos apresentam alta eficácia para frear a replicação viral e poucos efeitos colaterais em comparação com os remédios utilizados na década de 1990, o que favorece a adesão. (ROCHA, 2021, [s. p.]) Considerando a evolução dos testes destinados ao diagnóstico de HIV, faça a associação dos feitos contidos na Coluna A com seus respectivos autores na Coluna B. Assinale a alternativa que apresenta a associação CORRETA entre as colunas. a. I-4; II-3; III-2; IV-1. b. I-2; II-1; III-4; IV-3. c. I-4; II-1; III-2; IV-3. d. I-3; II-4; III-1; IV-2. e. I-1; II-3; III-2; IV-4. 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AVANÇANDO NA PRÁTICA PROTOCOLO DETERMINADO A transmissão de HIV pode ser dada por diferentes formas, como relação sexual desprotegida com um indivíduo soropositivo, compartilhamento de objetos perfurocortantes contaminados e durante a gestação e parto da prole. Um homem, 32 anos, chega ao hospital, no setor de pronto atendimento, para uma consulta. Durante a anamnese, o paciente informou ao médico que havia compartilhado uma seringa com um indivíduo soropositivo durante a utilização de drogas. Durante o primeiro teste rápido utilizando o sangue total do indivíduo, o resultado foi reagente; entretanto, após a segunda realização do teste rápido, o teste foi não reagente. Devido aos resultados apresentados, o biomédico responsável técnico foi chamado para informar qual o procedimento correto. No lugar do biomédico, quais procedimentos você realizaria? Após inconsistência no resultado de dois testes rápidos na amostra de um paciente que informou ter compartilhado um objeto perfurocortante com um indivíduo soropositivo, o biomédico foi chamado para determinar o protocolo correto. Como se trata da primeira discordância entre os dois exames, o biomédico determina que deve ser solicitada nova amostra para a realização de mais dois testes rápidos. Caso haja uma segunda inconsistência entre os resultados, uma nova amostra deve ser coletada, por meio de punção venosa, e encaminhada para teste, utilizando o fluxograma definido pelo laboratório de análises clínicas. ANÁLISES IMUNOLÓGICAS DAS HEPATITES VIRAIS Caio Cesar Richter Nogueira PRATICAR PARA APRENDER A hepatite é uma inflamação do fígado causada por infecção viral pelo uso de alguns remédios, pelo consumo de álcool e outras drogas, ou por doenças autoimunes, metabólicas e genéticas. As infecções causadas pelos vírus das hepatites são graves problemas de saúde pública no Brasil e no mundo. Em nosso país, as mais comuns são aquelas causadas pelos vírus A, B e C, havendo milhões de pessoas com diferentes tipos do vírus. A dosagem laboratorial das enzimas hepáticas e dos antígenos e anticorpos referentes a cada tipo de hepatite viral pode auxiliar no diagnóstico das doenças. O biomédico possui um importante papel no rastreio dessas moléculas. Nessa seção, você vai aprender sobre a infecção causada pelo vírus da hepatite, além dos tipos de hepatites virais, bem como os exames utilizados para o diagnóstico de cada tipo. A hepatite B é uma infecção causada pelo vírus HBV, que provoca lesão aos hepatócitos, levando ao aparecimento de sinais e sintomas. Diversos analitos podem ser dosados durante essa infecção para auxiliar o médico no diagnóstico laboratorial. Considere, então, um homem, 45 anos, que é atendido em um hospital de emergência após ter febre de 38 ºC, náuseas, vômitos, fadiga e dor no hipocôndrio direito. Durante a avaliação do caso, o homem informou que não faz uso de álcool ou tabaco. O médico percebeu que o homem apresenta pele e mucosa amareladas. Devido à sintomatologia apresentada, o profissional solicita a dosagem de HBsAg, HBeAg, Anti-HBc IgM, Anti-HBc total, Anti-HBe e Anti-HBs. Com base nos resultados apresentados pelo paciente, disserte sobre a etapa da infecção viral em que ele se encontra. CONCEITO-CHAVE As hepatites são um conjunto de doenças, de causa variável, que levam a uma inflamação do tecido hepático. Uma das principais causas da hepatite são as infecções virais. No Brasil, as hepatites virais mais comuns, conforme mencionamos no início da seção, são causadas pelos vírus A, B, C e, com menor frequência, pelo vírus da hepatite D. Segundo o Comitê Internacional de Taxonomia de Vírus, o vírus da hepatite A pertence ao grupo IV na classificação de Baltimore, portanto, possui como material genético o RNA de fita simples positiva. Esse vírus pertence à família Picornaviridae, gênero Hepatovirus; são vírus não envelopados, esféricos e com cerca de 27 a 32 nm de diâmetro. O vírus da hepatite A, também conhecida como hepatite infecciosa, é transmitido de indivíduo para indivíduo por meio de mãos infectadas, de alimentos e água contaminados, por via fecal-oral e por contato íntimo com relação anal. Após infecção no trato gastrointestinal, o vírus causa viremia e, posteriormente, atinge as células hepáticas, provocando danos ao fígado. A partir dos canalículos biliares, as partículas virais ganham os ductos biliares e o intestino delgado, sendo, então, liberadas pelas fezes. O pico da excreção das partículas virais nas fezes ocorre junto ao pico do aumento sérico de enzimas marcadoras de dano hepático agudo (quarta semana após exposição), como a alanina aminotransferase (ALT). Durante esse período, os anticorpos do tipo IgM (anti-HAV IgM) começam a ser produzidos em resposta à presença do vírus, atingindo um pico de concentração sérica na sexta semana, podendo ser detectado até o sexto mês após a infecção. Os anticorpos do tipo IgG começam a ser produzidos logo após a produção de IgM, entretanto, sua detecção persiste por toda a vida. EXEMPLIFICANDO Durante as infecções causadas pelos diferentes tipos de vírus da hepatite, vários metabólitos podem encontrar-se aumentados na corrente sanguínea, como ALT, AST, bilirrubinas totais, fosfatase alcalina e gama-glutamil transferase. Segundo o Comitê Internacional de Taxonomia de Vírus, o vírus da hepatite B pertence ao grupo VII na classificação de Baltimore, portanto, possui como material genético DNA de cadeia dupla com RNA intermediário. Esse vírus pertence à família Hepadnaviridae, gênero Orthohepadnavirus; são vírus envelopados, esféricos e com cerca de 42 nm de diâmetro. O envelope viral é constituído por lipoproteínas, contendo as proteínas S, M e L, as quais formam o HBsAg. O nucleocapsídeo possui simetria icosaédrica, sendo constituído pela proteína do core (HBcAg) e pelo genoma viral. Entre o nucleocapsídeo e o envelope viral existe uma proteína denominada antígeno HBe (HBeAg), cuja detecção no soro do paciente é um indicativo de replicação viral. O vírus da hepatite B é transmissível por relação sexual, por transmissão vertical (da mãe para o seu filho), ou pelo sangue e hemoderivados. Após a infecção, o vírus causa viremia e, posteriormente, atinge as células hepáticas, causando danos ao fígado, como inflamação e necrose. Marcadores sorológicos são utilizados para o diagnóstico laboratorial da infecção causada pelo vírus da hepatite B, como HBsAg, anticorpo contra o HBsAg (anti-HBs), anticorpo contra HBc (anti-HBc), HBeAg e anticorpo contra o HBeAg (anti-HBe). O período de incubação da infecção causada pelo vírus da hepatite B pode variar de 30 a 180 dias (média de 70 dias). Antes do aparecimento dos primeiros sintomas, a concentração do antígeno HBsAg do envelope viral eleva-se no soro do paciente, atingindo um pico durante a 12ª semana. A presença do anticorpo contra a proteína do core viral (anti-HBc total) eleva-se no sangue do paciente próximo à 4ª semana de infecção, atingindo o pico durante a 16ª semana. O anticorpo anti-HBc IgM está presente no soro do paciente até a 32ª semana após a infecção, sendo possível encontrar esse marcador na fase crônica, quando ocorre a reagudização da infecção. A presença do antígeno HBe (HBeAg) no sangue do paciente é um indicativo de replicação do vírus, sendo a presença do anticorpo contra o HBeAg (anti-HBe) associado à interrupção da replicação viral. A cura do indivíduo é caracterizada laboratorialmente pela soroconversão do HBsAg para anti-HBs. REFLITA A virulência é o grau de patogenicidade de um agente infeccioso, que se expressa pela gravidade da doença, especialmente pela letalidade e pela proporção de casos com sequelas. O Vírus daImunodeficiência Humana (HIV), o Vírus da Hepatite B (HBV) e o Coronavírus (Sars-CoV-2) possuem virulências diferentes. Você sabe qual deles apresenta maior virulência? Segundo o Comitê Internacional de Taxonomia de Vírus, o vírus da hepatite C pertence ao grupo IV na classificação de Baltimore, portanto, possui como material genético o RNA de fita simples positiva. Esse vírus pertence à família Flaviviridae, gênero Hepacivirus; são vírus envelopados, esféricos e com cerca de 50 nm de diâmetro. A transmissão do vírus ocorre pelo contato com o sangue contaminado, e o período de incubação é de 2 a 26 semanas. O diagnóstico laboratorial deve ser realizado de forma sorológica e molecular. No diagnóstico molecular, o material genético do vírus começa a ser detectado no soro do paciente após 7 a 21 dias da exposição. Para o diagnóstico sorológico, é recomendada a dosagem do anticorpo contra o vírus (anti-HCV) no soro ou plasma do paciente. Testes complementares também podem ser utilizados para auxiliar no diagnóstico laboratorial, por exemplo, o immunoblotting. O vírus da hepatite D possui como material genético o RNA de fita simples negativa, de formato circular, envolvido por várias moléculas do antígeno delta (HDAg). Pertence a uma espécie protótipo do gênero Deltavirus, não fazendo parte de qualquer família de vírus. São vírus envelopados, esféricos e com cerca de 30 a 36 nm de diâmetro. O vírus da hepatite D é defectivo e dependente de coinfecção com o HBV para sua replicação, visto que seu envelope viral é formado por proteínas do HBV (HBsAg). O diagnóstico laboratorial deve ser realizado de forma sorológica e molecular. No diagnóstico molecular, o material genético do vírus começa a ser detectado no soro do paciente após 4 a 12 semanas da exposição. Para o diagnóstico sorológico, é recomendada a dosagem do anticorpo contra o vírus (anti-HDV) no soro ou plasma do paciente. Além disso, o paciente que apresentar HBsAg reagente deve ser testado para a busca do IgG anti-HDV. ASSIMILE Com o passar dos anos, outros vírus causadores de danos hepáticos foram descobertos, dentre eles, o Vírus da Hepatite E (HEV), Vírus da Hepatite G (HGV) e o Vírus Torque Teno (TTV). FAÇA VALER A PENA Questão 1 A hepatite é um termo amplo que se refere a uma inflamação no fígado. Segundo a hepatologista Elizabeth Balbi, da Rede D’Or, ela pode ter origem medicamentosa, autoimune, alcoólica, por doença metabólica e também viral. Maio é dedicado à conscientização sobre essa última forma. No terceiro domingo do mês, comemora-se, internacionalmente, o Dia da Divulgação da Hepatite C. No Brasil, a data foi instituída como o Dia Nacional de Luta contra as Hepatites Virais. (RUSKY, 2021, [s. p.]) Com relação à matéria anteriormente descrita, no que tange à classificação do vírus da hepatite C, complete as lacunas da sentença a seguir. O vírus da hepatite C possui como material genético o ____________. Esse vírus pertence ao gênero ____________; são vírus envelopados, esféricos e com cerca de 50 nm de diâmetro. A transmissão do vírus ocorre pelo contato com o ____________, e o período de incubação é de 2 a 26 semanas. O diagnóstico laboratorial deve ser realizado de forma sorológica e molecular. Assinale a alternativa que completa as lacunas corretamente. a. RNA de fita simples positiva; Hepacivirus; sangue. b. RNA de fita simples negativa; Hepacivirus; sangue. c. RNA de fita simples positiva; Hepatovirus; sangue. d. RNA de fita simples negativa; Hepatovirus; sangue. e. DNA de fita dupla; Hepatovirus; sangue. Questão 2 No dia 19 de maio é comemorado o Dia Mundial de Combate à Hepatite. A doença, caracterizada pela inflamação do fígado, pode ser crônica ou aguda, e acometer tanto homens como mulheres em diferentes idades. Existem vários tipos da doença, sendo que cada uma delas pode ser causada por diferentes fatores, como infecções do fígado, excesso de bebida alcóolica, alguns medicamentos, vírus e bactérias diversos, além de algumas doenças autoimunes. No caso das hepatites virais, existem pelo menos cinco tipos e cada uma é causada por um vírus diferente. No Brasil, as mais frequentes são as hepatites A, B e C. (BORGES, 2021, [s. p.]) De acordo com as informações apresentadas na tabela a seguir, faça a associação das características da doença na Coluna A com seus respectivos tipos de hepatite viral na Coluna B. Assinale a alternativa que apresenta a associação CORRETA entre as colunas. a. I-4; II-3; III-2; IV-1. b. I-2; II-1; III-4; IV-3. c. I-4; II-1; III-2; IV-3. d. I-3; II-4; III-1; IV-2. e. I-1; II-3; III-2; IV-4. Questão 3 A Secretaria de Saúde de Navegantes, através do Centro Epidemiológico de Testagem e Aconselhamento (CETA), chama a atenção da população quanto aos perigos que a hepatite pode acarretar na vida das pessoas. O município alerta a população quanto aos cuidados para evitar a transmissão e também o diagnóstico precoce, pois, essa doença, muitas vezes silenciosa, pode não apresentar sintomas até que atinja maior gravidade. (SANTOS, 2021, [s. p.]) Considerando o contexto do diagnóstico da hepatite B, avalie as afirmativas a seguir: I - No diagnóstico da hepatite B, a presença do antígeno HBsAg e do anticorpo anti-HBs indica que a infecção encontra-se na fase crônica. II - O indivíduo que foi vacinado contra o vírus da hepatite B adquire o anticorpo Anti-HBs, indicando a imunidade vacinal. III - No diagnóstico da hepatite B, a presença exclusiva do antígeno HBsAg no soro do paciente indica um período de incubação viral. IV - Durante a fase aguda da doença, é comum a presença dos antígenos HBsAg, HBeAg e dos anticorpos anti-HBc IgM e anti-HBc total. Considerando o contexto apresentado, assinale a alternativa correta. a. Apenas as afirmativas I e III estão corretas. b. Apenas as afirmativas I e IV estão corretas. c. Apenas as afirmativas II e III estão corretas. d. Apenas as afirmativas I, II e IV estão corretas. e. Apenas as afirmativas II, III e IV estão corretas. REFERÊNCIAS BORGES, L. Saiba que a maioria das hepatites são assintomáticas e por diferentes fatores. Enfoque MS, Campo Grande, 18 maio 2021. Disponível em: https://bit.ly/3jVtbmM. Acesso em: 14 jul. 2021. BRASIL. Ministério da Saúde. Manual Técnico para o Diagnóstico das Hepatites Virais. Brasília: Ministério da Saúde, 2016. Disponível em: https://bit.ly/3CNnIHi. COFFIN, C. S.; ZHOU, K.; TERRAULT, N. A. New and Old Biomarkers for Diagnosis and Management of Chronic Hepatitis B Virus Infection. Gastroenterology, [S. l.], v. 156, n. 2, p. 355-368, jan. 2019. Disponível em: https://bit.ly/3m2wBXM. Acesso em: 14 jul. 2021. HULO, C. et al. ViralZone: a knowledge resource to understand virus diversity. Nucleic Acids Research, [S. l.], v. 39, D576-D582, jan. 2011. Disponível em: Link. Acesso em: 14 jul. 2021. MATHENY, S. C.; KINGERY, J. E. Hepatitis A. American Academy of Family Physicians, [S. l.], v. 86, n. 11, p. 1027-1034, dez. 2012. Disponível em: https://bit.ly/3yR1bas. Acesso em: 14 jul. 2021. NGUYEN, M. H. et al. Hepatitis B Virus: Advances in Prevention, Diagnosis, and Therapy. Clinical Microbiology Reviews, [S. l.], v. 33, n. 2, fev. 2020. Disponível em: https://bit.ly/2UgkcUD. Acesso em: 14 jul. 2021. PARDEE, M. Diagnosis and Management of Hepatitis B and C. Nursing Clinics of North America, [S. l.], v. 54, n. 2, p. 277-284, jun. 2019. Disponível em: https://bit.ly/2XrzQxC. Acesso em: 14 jul. 2021. RUSKY, R. O abc das hepatites: entenda as diferenças entre os tipos. Correio Braziliense, 23 maio 2021. Disponível em: https://bit.ly/3iHieWv. Acesso em: 14 jul. 2021. SANTOS, M. Julho Amarelo: Município disponibiliza exames para diagnóstico da hepatite. Prefeitura de Navegantes, 2021. Disponível em: https://bit.ly/3iGM4dV. Acesso em: 14 jul. 2021. SANTOS, N. S. O; ROMANOS, M. T. V.; WIGG, M. D. Virologia humana. 3. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2015. p. 398-428. SILVA, A. L. et al. Hepatites virais: B, C e D:atualização. Revista da Sociedade Brasileira de Clínica Médica, São Paulo, v. 10, n. 3, p. 206-218, maio-jun. 2012. Disponível em: https://bit.ly/3iLxd1X. Acesso em: 14 jul. 2021. SPEARMAN; C. W. et al. Hepatitis C. Lancet, [S. l.], v. 394, n. 10207, p. 1451-1466, out. 2019. Disponível em: https://bit.ly/2VSN9Xb. Acesso em: 14 jul. 2021. ANÁLISES IMUNOLÓGICAS DAS HEPATITES VIRAIS Caio Cesar Richter Nogueira SEM MEDO DE ERRAR O diagnóstico da infecção causada pelo vírus da hepatite B é realizado pela avaliação da sintomatologia e por dosagens laboratoriais. No diagnóstico laboratorial, o médico pode utilizar a dosagem das transaminases e da presença de antígenos e anticorpos característicos da doença. O paciente apresentado na situação-problema chegou ao hospital com sinais e sintomas característicos da hepatite B e, depois de passar por avaliação médica, recebeu, também, avaliação laboratorial. O resultado do exame demonstrou positividade para os antígenos HBsAg e HBeAg e também para os anticorpos Anti-HBc IgM e Anti-HBc total. A combinação desses resultados sugere ao médico que o paciente encontra-se na fase aguda da infecção causada pelo vírus da hepatite B. AVANÇANDO NA PRÁTICA Uma criança, 4 anos, é atendida em um hospital de emergência, após apresentar febre associada a vômitos com restos alimentares, sem sangue, e dor na região superior direita do abdômen. Durante a avaliação do caso, a mãe da criança informou ao médico que os vômitos perduram por 8 dias e que a criança também apresentou fezes esbranquiçadas, além de urina escura. O médico também percebe que a menina tem mucosa amarelada. Após avaliação laboratorial, o profissional indica que a menina possui hepatite A. Com base nos exames laboratoriais, explique o porquê de o anticorpo anti-HAV IgM apresentar um resultado reagente e o anticorpo anti-HAV IgG apresentar um resultado não reagente. As imunoglobulinas são produzidas por células do sistema imune humoral quando entram em contato com antígenos. No primeiro contato com o antígeno viral, são produzidos anticorpos da classe IgM, indicando uma resposta imune aguda. Posteriormente, são produzidos anticorpos da classe IgG, em um período mais crônico da infecção. No caso da menina, como apenas o anticorpo anti-HAV IgM está presente, trata-se de um quadro de etapa aguda da infecção. IMUNODIAGNÓSTICO DA RUBÉOLA, TOXOPLASMOSE E SÍFILIS Caio Cesar Richter Nogueira PRATICAR PARA APRENDER As doenças infecciosas podem ser causadas por diferentes tipos de microrganismo, por exemplo, bactérias, vírus, protozoários ou fungos. Múltiplas formas de transmissão são possíveis nessas doenças, como por meio do contato direto com o agente infeccioso, pela exposição a água ou alimentos contaminados, pela via respiratória, por relações sexuais ou por ferimentos causados por animais. A dosagem laboratorial dos anticorpos característicos de cada doença pode auxiliar na comprovação da infecção e na detecção do seu estágio. O biomédico possui um importante papel no rastreio desses anticorpos. Nessa seção, você vai aprender sobre as infecções causadas pelos diferentes microrganismos. Nesse contexto, veremos a fisiopatologia de infecções causadas pelo vírus da rubéola, pelo parasita causador da toxoplasmose e também pela espiroqueta causadora da sífilis; além disso, estudaremos os exames de imunodiagnóstico utilizados para diagnosticar essas infecções. A rubéola é uma infecção causada por um vírus que pertence à família Metonaviridae, do gênero Rubivirus, caracterizada como autolimitada e com evolução benigna. Essa doença atinge, principalmente, as crianças e os jovens que apresentam como sinais clínicos o exantema agudo, febrícula, linfadenopatia, ou, na maioria dos casos, uma infecção assintomática. O fator mais preocupante está relacionado às infecções de gestantes, pois o vírus pode causar malformações anatômicas, neurológicas e até mesmo o óbito do feto. Considere, então, que uma gestante chega ao hospital para realizar o parto. Após acompanhamento médico e avaliação laboratorial, a mulher apresentou diagnóstico reagente para IgM e IgG contra o vírus da rubéola. Devido a esse resultado, foi realizada a dosagem de IgM e IgG do recém-nascido, que apresenta IgG reagente e IgM não reagente. Explique os resultados encontrados na avaliação da mulher e do recém-nascido. CONCEITO-CHAVE Até o século XIX, a rubéola era considerada uma forma benigna do sarampo, sendo denominada de “sarampo alemão”. Foi apenas em 1814 que o médico e botânico britânico William George Maton diferenciou a infecção pelo vírus da rubéola de rötheln. Segundo o Comitê Internacional de Taxonomia de Vírus, o vírus da rubéola pertence ao grupo IV na classificação de Baltimore, portanto, possui como material genético o RNA de fita simples positiva. O vírus pertence à família Metonaviridae, gênero Rubivirus; são vírus envelopados, esféricos e com cerca de 70-80 nm de diâmetro. ASSIMILE O Comitê Internacional de Taxonomia de Vírus, ou Comitê Internacional de Taxonomia Viral, é o órgão responsável por regularizar e organizar a classificação taxonômica dos vírus. A organização tem desenvolvido um esquema taxonômico universal para os vírus, considerando o tipo do material genético, a simetria do capsídeo, a presença ou a ausência do envelope, o tamanho viral e a sensibilidade às substâncias químicas. A transmissão da rubéola acontece pelo contato direto com indivíduos infectados, por meio das secreções nasofaríngeas expelidas pelo doente ao tossir, espirrar, falar ou respirar. Também existe uma menor transmissão por contato direto com o sangue e/ou urina de um indivíduo contaminado. A maior preocupação relacionada ao vírus da rubéola é a transmissão para gestantes, conforme mencionamos no início da seção, devido à capacidade do vírus de atravessar a barreira placentária e gerar malformações anatômicas e neurológicas, podendo até mesmo provocar o óbito do feto. O primeiro local de infecção causado pelo vírus são as células epiteliais do sistema respiratório superior. Essa infecção é seguida por 14 dias de incubação e, posteriormente, ocorre a viremia, quando o vírus passa a ser detectado no sangue do indivíduo. Após esse período, inicia-se o sintoma denominado exantema, caracterizado pela presença de manchas vermelhas na pele. O diagnóstico de rubéola pós-natal pode ser realizado por meio de testes moleculares e sorológicos. O material genético do vírus pode ser detectado nas secreções do trato respiratório ou na corrente sanguínea durante a etapa de viremia. O teste de hibridização também pode ser utilizado para a detecção do vírus. A produção da imunoglobulina IgM vai do 10º ao 15º dia de infecção, atingindo um pico na 4ª semana, sendo que, após 6 meses, essa concentração começa a decair. Após três semanas da infecção, também é possível detectar a imunoglobulina IgG. No recém-nascido, a dosagem de IgG é ineficiente para o diagnóstico da doença, uma vez que o anticorpo da mãe é capaz de passar para o sangue da criança. Entretanto, o anticorpo IgM não atravessa a membrana placentária, podendo ser utilizado no diagnóstico da rubéola congênita. O método sorológico mais utilizado nas análises clínicas para a detecção dos anticorpos característicos da doença é o ELISA indireto. Nesse teste, o antígeno do vírus encontra-se aderido ao fundo da microplaca. Ao adicionar a amostra, caso o paciente tenha anticorpos (IgM ou IgG) contra o antígeno específico, ocorrerá a formação do complexo antígeno-anticorpo. Após o período de incubação, a placa é lavada e adiciona-se um anticorpo contra IgM/IgG conjugado à enzima peroxidase. Por último, é adicionado o substrato que resulta na produção da cor azul, indicando a concentração do anticorpo. A amostra utilizada nesse teste pode ser o soro, plasma (EDTA ou heparina) ou o sangue total em papel de filtro. O teste de triagem neonatal, denominado teste de Guthrie, também conhecido como teste do pezinho,é um conjunto de exames laboratoriais realizados até 30 dias após o nascimento do bebê, com o objetivo de diagnosticar precocemente doenças genéticas, metabólicas, endócrinas e infecciosas. O teste consiste na coleta de gotas de sangue por uma picada no calcanhar do recém-nascido (região rica em vasos sanguíneos) em papel de filtro. Nesse teste simplificado, é possível detectar a fenilcetonúria, hemoglobinopatias, aminoacidopatias e hipotireoidismo congênito. De forma amplificada, o teste do pezinho pode detectar outras doenças, como rubéola, sífilis e chagas. A glicoproteína E1 presente no envelope do vírus é capaz de gerar hemaglutinação, portanto, o teste de inibição da hemaglutinação pode auxiliar no diagnóstico de rubéola. Nesse teste, o vírus é incubado com o soro do paciente; caso a amostra do paciente tenha anticorpos contra esse vírus, ocorre a formação do imunocomplexo. Após a incubação, adiciona-se uma solução de hemácias, e como o imunocomplexo encontra-se formado, não ocorre a hemaglutinação; porém, caso o paciente não tenha os anticorpos contra o vírus da rubéola, a hemaglutinação acontece. EXEMPLIFICANDO Certos vírus são capazes de aglutinar hemácias, sendo esse fenômeno denominado “hemaglutinação viral”. Exemplos de vírus causadores da hemaglutinação são: vírus da Influenza, vírus da Parainfluenza, Parvovírus e Rubivirus. O parasita causador da doença toxoplasmose, Toxoplasma gondii, foi descoberto no ano de 1908, simultaneamente, na África, pelos pesquisadores Nicolle e Manceaux, e no Brasil, pelo médico, bacteriologista e sanitarista Alfonso Splendore. Esse protista pertence à família Sarcocystidae e ao gênero Toxoplasma. O Toxoplasma gondii pode apresentar três formas, de acordo com seu desenvolvimento: oocistos, taquizoítos e bradizoítos. Os oocistos são formados pela fusão do microgameta (masculino) com o macrogameta (feminino). Esses esporos possuem uma parede espessa, que confere resistência ao meio ambiente. No ciclo de vida do T. gondii, essa forma está presente nas células epiteliais do intestino do gato, sendo eliminada pelas fezes. Após sua eliminação, o oocisto vai amadurecer e albergar oito esporozoítos. O taquizoíto possui forma de arco ou meia lua, tendo uma extremidade mais afinada e a outra mais arredondada. É característico da infecção aguda da doença, sendo encontrado no interior do enterócito, onde se divide diversas vezes, de forma assexuada, até que a célula se rompa. O ciclo de infecção das células intestinais repete-se diversas vezes, liberando uma grande quantidade de taquizoítos, que invadem outros tipos celulares. O bradizoíto também é conhecido como cistozoíto. É característico da infecção crônica da doença e encontra-se no interior dos tecidos muscular e nervoso, além da retina, onde multiplica-se em forma de cisto. A transmissão para o homem ocorre pelo contato com as fezes de gatos ou a partir do consumo de carne de animais contaminados, como carnes mal cozidas de suínos, bovinos e ovinos contendo cistos. O diagnóstico laboratorial da doença pode ser realizado pela detecção direta do parasita, por técnicas moleculares ou por sorologia. O diagnóstico por técnicas parasitológicas permite a detecção do parasita a partir da biópsia. O diagnóstico molecular é baseado na técnica da reação em cadeia da polimerase (PCR), podendo utilizar como amostra o sangue coletado em EDTA, o sangue de cordão umbilical, líquido amniótico ou líquor. A sorologia é baseada na dosagem de IgM e IgG. A sífilis é uma doença infecciosa crônica que acomete a humanidade há séculos. Duas principais teorias foram propostas para explicar a origem dessa doença, a primeira afirma que a doença surgiu no “novo mundo” e chegou à Europa pelos marinheiros espanhóis que participaram da colonização da América. Já a segunda teoria afirma que a sífilis teria se originado a partir de mutações nas espécies de treponemas endêmicos do continente africano. O agente etiológico dessa doença é uma bactéria chamada Treponema pallidum, gênero Treponema, da família dos Treponemataceae. A T. pallidum é uma bactéria em forma de espiral, com cerca de 5-20 µm de comprimento e 0,1-0,2 µm de espessura. A transmissão da bactéria pode acontecer por via sexual ou por via congênita. Na sífilis adquirida (transmissão sexual), o T. pallidum pode invadir a mucosa da região genital, multiplicando-se no local da entrada. Algumas células bacterianas propagam-se para os linfonodos e atingem a corrente sanguínea. Após duas a dez semanas da infecção, uma pápula se desenvolve no local e sofre ruptura, originando uma úlcera característica da doença, denominada cancro duro. O cancro duro caracteriza a chamada sífilis primária (lesão primária), que se cicatriza espontaneamente. Em aproximadamente dez semanas, novas lesões secundárias aparecem, as quais consistem em exantema maculopapular avermelhado, podendo aparecer em qualquer parte do corpo; entretanto, essas lesões também desaparecem. As lesões contagiosas podem reaparecer de 3 a 5 anos após a infecção, regredindo espontaneamente e entremeando-se com períodos de latência duradouros. Um terço dos pacientes evolui para a cura clínica e sorológica, outro terço apresenta-se de forma assintomática, porém com provas sorológicas não treponêmicas positivas, e o último terço manifesta a forma de sífilis terciária. A fase terciária é caracterizada pela presença de lesões granulomatosas (gomas) na pele, ossos, fígado, músculos e sistema cardiovascular, além de alterações degenerativas no sistema nervoso central. Na sífilis congênita (transmissão vertical), ocorre a passagem hematogênica do T. pallidum da gestante infectada e não tratada para o feto, por via transplacentária. A transmissão pode ocorrer em qualquer etapa da gestação e em qualquer estágio da doença, podendo gerar aborto ou óbito fetal. O diagnóstico laboratorial da sífilis deve ser realizado com base na evolução da doença. Na sífilis primária, o diagnóstico pode ser feito pela demonstração do treponema, ou seja, de forma direta. O diagnóstico também pode ser sorológico, com testes treponêmicos ou não treponêmicos. Os testes treponêmicos são baseados na dosagem de anticorpos antitreponêmicos, ou seja, anticorpos específicos contra antígenos do Treponema pallidum. Os testes não treponêmicos são baseados na dosagem de anticorpos não específicos contra o Treponema pallidum, também chamados de anticardiolipínicos, reagínicos ou lipoídicos. Os principais testes diretos utilizados para diagnóstico laboratorial da sífilis são: exame em campo escuro e pesquisa com material corado. Exame em campo escuro: consiste no exame direto da linfa da lesão em microscópio com condensador de campo escuro, em que é possível, com luz indireta, a visualização do T. pallidum. Pesquisa direta com material corado: alguns métodos são utilizados na pesquisa direta com material corado, sendo eles o Fontana-Tribondeau, o método de Burri, o Giemsa e o Levaditi. No método de Fontana-Tribondeau, é realizado um esfregaço da linfa na lâmina com adição da prata, que impregna na parede do treponema. No método de Burri, é utilizada a tinta de nanquim para a visualização do treponema. Na coloração pelo Giemsa, o T. pallidum é corado e visualizado por microscopia. Já o método de Levaditi usa a prata em cortes histológicos. A principal técnica utilizada nos testes não treponêmicos é a floculação. Essa técnica baseia-se em uma suspensão antigênica que contém cardiolipina, colesterol e lecitina. A ligação desses componentes resulta na formação de estruturas arredondadas, denominadas micelas. Os anticorpos não treponêmicos presentes na amostra do paciente ligam-se às micelas, resultando na floculação, que pode ser observada ao microscópio. Outras técnicas também são utilizadas nos testes não treponêmicos, por exemplo, a aglutinação, os testes imunoenzimáticos e o teste imunocromatográfico. A principal técnica utilizada nos testes treponêmicos é aReação de FTA-abs, sendo essa técnica uma imunofluorescência indireta. O antígeno fixado na lâmina é o Treponema pallidum subsp. pallidum (cepa Nichols). Diversas diluições da amostra do paciente são adicionadas sobre a lâmina. Caso a amostra tenha os anticorpos antitreponema pallidum, eles se ligarão aos treponemas fixados na lâmina. Posteriormente, adicionam-se anticorpos conjugados a isotiocianato de fluoresceína, que resulta na formação da fluorescência. Outras técnicas também são utilizadas nos testes treponêmicos, como a hemaglutinação, a aglutinação de partículas, os testes imunoenzimáticos e os testes imunocromatográficos. REFLITA Nessa seção, você aprendeu diferentes tipos de infecções causadas por um vírus, uma bactéria e um protozoário. Você aprendeu, também, quais são os testes utilizados para o imunodiagnóstico de cada doença. Entretanto, alguns exames inespecíficos podem ser utilizados para verificar a presença da infecção, como é o caso da dosagem da proteína C reativa. Existe diferença na concentração do PCR em infecções virais e bacterianas? FAÇA VALER A PENA Questão 1 As vacinas são consideradas as principais aliadas na prevenção de diversas doenças —são cerca de 30— com o melhor custo-benefício para a saúde pública. E isso não é recente: já em 1796, a primeira vacina de que se tem notícia foi desenvolvida pelo médico rural Edward Jenner, que buscava uma forma de frear o avanço da varíola na Inglaterra. Foi apenas no século 20 que os imunizantes, junto com outras ações de vigilância sanitária, se tornaram responsáveis pela eliminação e controle de doenças importantes, como a própria varíola (que foi erradicada), o sarampo, a poliomielite e a rubéola, só para citar algumas. (TURBIANI, 2021, [s. p.]) O texto da revista fala sobre a principal forma de prevenção das doenças virais: a vacinação. Leia o trecho a seguir a respeito da transmissão da rubéola, uma doença viral. A transmissão da rubéola acontece pelo ____________ com indivíduos infectados, por meio das secreções nasofaríngeas expelidas pelo doente ao ____________. Também existe uma menor transmissão por contato direto com o ____________ de um indivíduo contaminado. Assinale a alternativa que completa as lacunas corretamente. a. contato direto; tossir; sangue. b. contato direto; caminhar; líquido cefalorraquidiano. c. contato direto; caminhar; sangue. d. contato direto; tossir; líquido cefalorraquidiano. e. contato indireto; caminhar; sangue. Questão 2 As praias estão interditadas durante o período de pandemia. Esse desuso tem permitido que cães, gatos e outros animais frequentem com mais liberdade esses espaços, despejando seus resíduos fisiológicos, que, podem conter parasitas nocivos à saúde humana e causar toxoplasmose, micoses e larvas migrans, popularmente conhecida como bicho geográfico, segundo alerta a dermatologista do Hospital Geral do Estado (HGE), Lara Canales. (ESPECIALISTAS, 2021, [s. p.]) Considerando o contexto, avalie as afirmativas a seguir: I - A toxoplasmose é uma doença infecciosa causada pelo parasita Toxoplasma gondii. II - O Toxoplasma gondii pode ser encontrado em três principais formas: oocistos, taquizoítos e bradizoítos. III - O principal teste utilizado para o diagnóstico molecular da toxoplasmose é o PCR. IV - O diagnóstico sorológico da toxoplasmose é realizado pela dosagem de IgG e IgM. Considerando o contexto apresentado, assinale a alternativa correta. a. Apenas as afirmativas II, III e IV estão corretas. b. Apenas as afirmativas I, III e IV estão corretas. c. Apenas as afirmativas I, II e III estão corretas. d. Apenas as afirmativas I, II e IV estão corretas. e. As afirmativas I, II, III e IV estão corretas. Questão 3 Em 2013, antes de passar a se dedicar exclusivamente a atividades acadêmicas, a ginecologista Angélica Miranda, da Universidade Federal do Espírito Santo, recebeu em seu consultório uma mulher intrigada com manchas vermelhas na pele que outros quatro médicos não haviam conseguido diagnosticar de modo satisfatório. "Era uma mulher jovem, com parceiro único, que não se achava em risco para infecções sexualmente transmissíveis", conta a médica. Confirmado por exames de sangue, o diagnóstico indicou sífilis, doença causada pela bactéria Treponema pallidum e transmitida por contágio sexual. (FIORAVANTI, 2021, [s. p.]) Considerando o diagnóstico de sífilis, avalie as afirmativas a seguir: I - O exame de campo escuro consiste na coloração da amostra com Giemsa e na visualização por microscopia. II - A principal técnica utilizada nos testes não treponêmicos é a floculação, como o VDRL. III - No método de Fontana-Tribondeau, é realizado um esfregaço da linfa na lâmina com adição da prata, que impregna na parede do treponema. IV - A reação de FTA-abs é uma técnica de imunofluorescência indireta amplamente utilizada como testes treponêmicos. Considerando o contexto apresentado, assinale a alternativa correta. a. Apenas as afirmativas I e III estão corretas. b. Apenas as afirmativas I e IV estão corretas. c. Apenas as afirmativas II e III estão corretas. d. Apenas as afirmativas I, II e IV estão corretas. e. Apenas as afirmativas II, III e IV estão corretas. REFERÊNCIAS AJZENBERG, D.; DUMÈTRE, A.; DARDÉ, M. L. Multiplex PCR for Typing Strains of Toxoplasma gondii. Journal of Clinical Microbiology, [S. l.], v. 43, n. 4, p. 1940-1943, abr. 2005. Disponível em: https://bit.ly/3CEh0Ds. Acesso em: 15 jul. 2021. AVELLEIRA, J. C. R.; BOTTINO, G. Sífilis: diagnóstico, tratamento e controle. Anais Brasileiros de Dermatologia, [S. l.], v. 81, n. 2, p. 111-126, 2006. Disponível em: https://bit.ly/3CLOW17. Acesso em: 15 jul. 2021. BIOCLIN. Biolisa Rubéola IgG. Bioclin, [s. d.]. Disponível em: https://bit.ly/3CIDjYK. Acesso em: 28 jun. 2021. BIOCLIN. Biolisa Toxoplasmose IgG. Bioclin, [s. d.]. Disponível em: https://bit.ly/3AG3opz. Acesso em: 15 jul. 2021. BIOCLIN. Sífilis Bio. Bioclin, [s. d.]. Disponível em: https://bit.ly/2VTozFj. Acesso em: 28 jun. 2021. BIOCLIN. VDLR. Bioclin, [s. d.]. Disponível em: https://bit.ly/3iGvkn8. Acesso em: 28 jun. 2021. BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais. Sífilis: Estratégias para Diagnóstico no Brasil. Brasília: Ministério da Saúde/ Coordenação de Doenças Sexualmente Transmissíveis e Aids, 2010. Série TELELAB. Disponível em: https://bit.ly/2VLZDAg. Acesso em 15 jul. 2021. CANTOS, G. A. et al. Toxoplasmose: ocorrência de anticorpos antitoxoplasma gondii e diagnóstico. Revista da Associação Médica Brasileira, [S. l.], v. 46, n. 4, p. 335-341, 2000. Disponível em: https://bit.ly/2UjBGiW. Acesso em: 15 jul. 2021. CARROLL, K. C. Espiroquetas e outros microrganismos espiralados. In: BROOKS, G. F. et al. Microbiologia médica de Jawetz, Melnick e Adelberg. 26. ed. Porto Alegre: AMGH, 2014. p. 327-340. ESPECIALISTAS orientam sobre o risco de contrair toxoplasmose; entenda. Alagoas 24 horas, 20 jun. 2021. Disponível em: https://bit.ly/3iHOLf3. Acesso em: 15 jul. 2021. FIORAVANTI, C. Em silêncio, sífilis avança: IST foi a que mais cresceu na última década. Viva Bem UOL, 27 jun. 2021. Saúde. Disponível em: https://bit.ly/3xM8XRg. Acesso em: 15 jul. 2021. SHINJO, S. K. MOREIRA, C. Livro da Sociedade Brasileira de Reumatologia. 2. ed. Barueri : Editora Manole, 2020. p. 471. Disponível em: https://bit.ly/3jPXJ9H. LIN, M. H. et al. Real-Time PCR for Quantitative Detection of Toxoplasma gondii. Journal of Clinical Microbiology, [S. l.], v. 38, n. 11, p. 4121-4125, nov. 2000. Disponível em: https://bit.ly/3AEvEJ9. Acesso em: 15 jul. 2020. ROCHA, K. S. et al. Soroprevalência para anticorpos anti-Toxoplasma gondii em uma propriedade na ilha do Marajó, Pará, Brasil. Revista de Ciências Agrárias, [S. l.], v. 64, n. 1, p. 1-5, 2021. Disponível em: https://bit.ly/3iGwU8y. Acesso em: 15 jul. 2021. SANTOS, N. S. O; ROMANOS, M. T. V.; WIGG, M. D. Virologia humana. 3. ed. Rio deJaneiro: Guanabara Koogan, 2015. p. 270-280. SIQUEIRA-BATISTA, R. et al. Parasitologia: fundamentos e prática clínica. 1. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2020. p. 251-256. TURBIANI, R. Vacinas funcionam, mas precisam da adesão da população; entenda por quê. Viva Bem UOL, 28 jun. 2021. Saúde. Disponível em: https://bit.ly/3yOMftd. Acesso em: 15 jul. 2021. IMUNODIAGNÓSTICO DA RUBÉOLA, TOXOPLASMOSE E SÍFILIS Caio Cesar Richter Nogueira SEM MEDO DE ERRAR Após exames realizados posteriormente ao parto, uma mulher apresentou resultado reagente para a dosagem de IgM e IgG contra o vírus da rubéola. Devido a esse resultado, o recém-nascido também realizou os exames e demonstrou IgG reagente e IgM não reagente. A mulher apresenta positividade para a dosagem dos dois anticorpos, portanto, tem a doença em curso. Entretanto, a dosagem IgG é ineficiente no diagnóstico do recém-nascido, uma vez que este anticorpo é passado da mãe para a criança, entretanto, os anticorpos IgM não atravessam a membrana placentária. AVANÇANDO NA PRÁTICA TESTES TREPONÊMICOS OU NÃO TREPONÊMICOS O diagnóstico laboratorial da sífilis é baseado na utilização de testes em etapas múltiplas, utilizando fluxogramas com a realização de testes treponêmicos e não treponêmicos, a depender da fase evolutiva da doença. Os testes não treponêmicos são inespecíficos e detectam a produção de anticorpos contra a cardiolipina liberada pelos treponemas, já os testes treponêmicos utilizam a dosagem de anticorpos contra antígenos específicos de T. pallidum. Esses testes podem indicar a fase da doença. O que pode significar o resultado de um exame de um indivíduo que apresenta VDRL reagente com títulos baixos e FTA-abs não reagente? A principal técnica utilizada nos testes não treponêmicos é a floculação, como ocorre no exame de VDRL. Essa técnica baseia-se em uma suspensão antigênica que contém cardiolipina, colesterol e lecitina. Como o VDRL é um exame inespecífico para avaliação da sífilis, esse teste pode ter reações cruzadas com outras doenças. As reações falso-positivas podem ocorrer nas fases agudas de doenças infecciosas bacterianas, virais e parasitárias, como endocardite infecciosa, mononucleose, hepatite C, malária, e também nas doenças autoimunes, como lúpus eritematoso sistêmico e artrite reumatóide. Nessas doenças, o paciente pode encontrar testes não treponêmicos reagentes em baixos títulos e testes treponêmicos não reagentes.