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Sepse e Choque Séptico Definição A sepse é uma síndrome clínica de disfunção de órgãos com risco de vida, causada por uma resposta desregulada a infecções. No choque séptico há uma redução crítica da perfusão tecidual, pode ocorrer falência aguda de múltiplos órgãos, incluindo pulmões, rins e fígado. As causas mais comuns em pacientes imunocompetentes incluem muitas diferentes espécies de bactérias gram-positivas e gram-negativas. A causa em pacientes imunodeficientes pode ser espécies bacterianas ou fúngicas incomuns. Os sinais incluem febre, hipotensão, oligúria e confusão. O diagnóstico é primariamente clínico, combinado com resultados de cultura que demostram infecção, reconhecimento e tratamento precoces são cruciais. O tratamento é feito com reanimação agressiva com líquidos, antibióticos, excisão cirúrgica de tecidos infectados ou necróticos e drenagem de pus, e cuidados de suporte. Sepse Representa um espectro de enfermidades com risco de mortalidade que varia de moderada a substancial, dependendo de diversos fatores patogênicos e do hospedeiro, juntamente com a rapidez do reconhecimento e prestação de tratamento adequado. Choque séptico É um subconjunto da sepse com aumento significante da mortalidade devido a anomalias graves de circulação e/ou metabolismo celular. O choque séptico envolve hipotensão persistente. O conceito da síndrome de resposta inflamatória sistêmica (SRIS), definida por certas anomalias dos sinais vitais e achados laboratoriais, é utilizado há muito tempo para identificar um grau precoce de sepse. Os critérios da SIRS não têm sensibilidade e especificidade suficientes para maior risco de mortalidade, que é a principal consideração para o uso desse modelo conceitual. A falta de especificidade pode ser devida à resposta da SRIS ser frequentemente adaptativa, em vez de patológica. Etiologia A maioria dos casos de choque séptico é causada por bacilos Gram-negativos ou cocos Gram- positivos adquiridos no hospital. Ocorre em pacientes imunocomprometidos e em pacientes com doenças crônicas e debilitantes. Raramente é causado por Candida ou outros fungos. Deve-se suspeitar de infecção pós-operatória como a causa do choque séptico em pacientes recentemente submetidos a cirurgias. Uma forma singular e incomum de choque, causada por toxinas estafilocócicas e estreptocócicas, é denominada síndrome do choque tóxico. O choque séptico ocorre mais frequentemente em neonatos, idosos e gestantes. Os fatores predisponentes incluem: Diabetes melito Cirrose Leucopenia Dispositivos invasivos (incluindo tubos endotraqueais, cateteres vasculares ou urinários, tubos de drenagem e outros materiais estranhos) https://www.msdmanuals.com/pt/profissional/doen%C3%A7as-infecciosas/cocos-gram-positivos/s%C3%ADndrome-do-choque-t%C3%B3xico-sct Tratamento prévio com antibióticos ou corticoides Os sítios causadores de infecção comuns incluem os pulmões, as vias urinarias e biliares e o trato gastrintestinal. Fisiopatologia Um estímulo inflamatório desencadeia a produção de mediadores pró-inflamatórios, incluindo o fator de necrose do tumor (FNT) e IL-1. Essas citocinas causam adesão de neutrófilos a células endoteliais, ativam o mecanismo de coagulação e geram microtrombos. Eles também liberam inúmeros outros mediadores, incluindo leucotrienos, lipoxigenase, histamina, bradicinina, serotonina e IL-2. Eles sofrem oposição de mediadores anti-inflamatórios, como IL-4 e IL-10, resultando em um mecanismo de feedback negativo. Inicialmente, artérias e arteríolas se dilatam, diminuindo a resistência arterial periférica, tipicamente, o débito cardíaco aumenta. Esse estágio foi denominado “choque quente” Depois, o débito cardíaco pode diminuir, a pressão arterial cai. Aparecem características típicas de choque. Mesmo no estágio de débito cardíaco aumentado, mediadores vasoativos fazem com que o sangue se desvie das redes capilares (um defeito distributivo). O fluxo capilar precário decorrente dessa derivação, juntamente com a obstrução capilar por microtrombos, diminui a entrega de oxigênio Reduz a capacidade de remoção de dióxido de carbono e produtos de excreção. A perfusão diminuída causa disfunção e, às vezes, falência de um ou mais órgãos, incluindo rins, pulmões, fígado, encéfalo e coração. Coagulopatia pode se desenvolver em consequência de coagulação intravascular com consumo dos principais fatores de coagulação, excessiva fibrinólise em reação a isso e, mais frequentemente, uma combinação de ambos. Sinais e sintomas Os sinais e sintomas da sepse podem ser sutis e, com frequência, facilmente confundidos com manifestações de outros distúrbios, especialmente em pacientes pós-operatórios. Na sepse, os pacientes tipicamente têm febre, taquicardia, diaforese e taquipneia; a pressão arterial permanece normal. Outros sinais da infecção causadora podem estar presentes. À medida que a sepse piora ou choque séptico se desenvolve, um sinal precoce, principalmente em idosos ou em pessoas muito jovens, pode ser confusão ou diminuição do estado de alerta. A pressão arterial cai, mas, mesmo assim, a pele permanece paradoxalmente quente. Depois, os membros se tornam frios e pálidos, com cianose periférica e mosqueamento. A disfunção de órgãos causa sinais e sintomas adicionais específicos do órgão envolvido. Diagnóstico Manifestações clínicas Monitoramento de pressão arterial, frequência cardíaca e oxigênio Hematócrito completo com diferencial, painel de eletrólitos e creatinina, lactato Leituras invasivas de pressão venosa central (PVC), Pao2 e saturação venosa central de oxigênio (ScvO2) Culturas de sangue, urina e outros potenciais locais de infecção, incluindo feridas em pacientes cirúrgicos Suspeita-se de sepse quando um paciente com uma infecção conhecida desenvolve sinais sistêmicos de inflamação ou disfunção de órgãos. Um paciente com sinais de inflamação sistêmica inexplicáveis por outros meios deve ter sua infecção avaliada por meio de história, exame físico e exames laboratoriais, incluindo exame de urina e cultura de urina (particularmente em pacientes com cateteres de demora), culturas de sangue e culturas de outros líquidos corpóreos suspeitos. Em pacientes com suspeita de causa cirúrgica ou oculto de sepse, ultrassonografia, tomografia computadorizada ou ressonância magnética podem ser necessárias, dependendo da origem suspeitada. Os níveis sanguíneos de proteína C-reativa e procalcitonina estão frequentemente elevados na sepse grave e podem facilitar o diagnóstico, mas não são específicos. É importante detectar a disfunção de órgãos o mais rápido possível. Vários sistemas de pontuação foram criados, mas a classificação de avaliação sequencial de falência de órgãos (SOFA) e a classificação SOFA rápido (qSOFA) foram validados no tocante a risco de mortalidade. O escore Quick SOFA baseia-se na pressão arterial, frequência respiratória e escala de coma de Glasgow e não exige que se aguarde os resultados de exames laboratoriais. Para pacientes com suspeita de infecção que não estão na unidade de terapia intensiva (UTI), o escore qSOFA é um melhor preditor da mortalidade hospitalar do que a síndrome de resposta inflamatória sistêmica (SRIS) e o escore SOFA. Para pacientes com suspeita de infecção que estão na unidade de terapia intensiva (UTI), o escore SOFA é um melhor preditor da mortalidade hospitalar do que a síndrome de resposta inflamatória sistêmica (SIRS) e o escore qSOFA. Pacientes com ≥ 2 dos seguintes critérios atendem aos critérios para SRIS e devem ser submetidos a investigação clínica e laboratorial adicional: Temperatura > 38 °C ou < 36 °C Frequência cardíaca > 90 batimentos por minuto Frequência respiratória> 20 respirações por minuto ou PaCO2 < 32 mmHg Contagem de leucócitos> 12.000/mL (12 X 109/L), < 4.000/mL (4 × 109/L) ou > 10% de formas imaturas (bandas) Pacientes com ≥ 2 dos seguintes critérios qSOFA devem ser submetidos a investigação clínica e laboratorial adicional: Frequência respiratória ≥ 22 respirações por minuto Mentação alterada Pressão arterial sistólica ≤ 100 mm Hg Durante o curso da sepse, a contagem de leucócitos pode aumentar ou diminuir, dependendo da gravidade da sepse ou do choque, do estado imunológicio do paciente e da etiologia da infecção. Uso concomitante de corticoides pode elevar a contagem de leucócitos e mascarar as mudanças na contagem de leucócitos devidas a tendências na enfermidade. Hiperventilação com alcalose respiratória (baixa PaCO2 e pH arterial aumentado) ocorre precocemente, em parte como compensação de acidemia láctica. Bicarbonato sérico é baixo, e os níveis de lactato sérico e sanguíneo aumentam. Com a progressão do choque, a acidose metabólica piora e o pH do sangue diminui. Insuficiência respiratória hipoxêmica precoce leva a uma razão PaO2:FIO2 diminuída e, às vezes, hipoxemia manifesta com PaO2 < 70 mmHg. Infiltrados difusos podem aparecer na radiografia de tórax, devido a síndrome de desconforto respiratório agudo (SDRA). A ureia sanguínea e a creatinina aumentam de maneira progressiva, como resultado de insuficiência renal. https://www.msdmanuals.com/pt/profissional/dist%C3%BArbios-end%C3%B3crinos-e-metab%C3%B3licos/regula%C3%A7%C3%A3o-e-dist%C3%BArbios-%C3%A1cido-base/alcalose-respirat%C3%B3ria https://www.msdmanuals.com/pt/profissional/medicina-de-cuidados-cr%C3%ADticos/insufici%C3%AAncia-respirat%C3%B3ria-e-ventila%C3%A7%C3%A3o-mec%C3%A2nica/insufici%C3%AAncia-respirat%C3%B3ria-hipox%C3%AAmica-aguda-irha,-sara https://www.msdmanuals.com/pt/profissional/medicina-de-cuidados-cr%C3%ADticos/insufici%C3%AAncia-respirat%C3%B3ria-e-ventila%C3%A7%C3%A3o-mec%C3%A2nica/insufici%C3%AAncia-respirat%C3%B3ria-hipox%C3%AAmica-aguda-irha,-sara#v927094_pt https://www.msdmanuals.com/pt/profissional/medicina-de-cuidados-cr%C3%ADticos/insufici%C3%AAncia-respirat%C3%B3ria-e-ventila%C3%A7%C3%A3o-mec%C3%A2nica/insufici%C3%AAncia-respirat%C3%B3ria-hipox%C3%AAmica-aguda-irha,-sara#v927094_pt A bilirrubina e as transaminases podem se elevar, embora insuficiência hepática manifesta seja incomum em pacientes com função hepática básica normal. Muitos pacientes com sepse grave desenvolvem insuficiência suprarrenal relativa. Mensurações hemodinâmicas com cateter venoso central ou cateter arterial pulmonar podem ser usadas quando o tipo específico de choque é incerto ou quando são necessários grandes volumes de líquido. Ecocardiografia à beira do leito na UTI é um método alternativo prático e não invasivo de monitoramento hemodinâmico. No choque séptico, o débito cardíaco aumenta e a resistência vascular periférica diminui, enquanto em outras formas de choque o débito cardíaco tipicamente diminui e a resistência periférica aumenta. É provável que nem a PVC nem a pressão oclusiva arterial pulmonar (POAP) estejam anormais no choque séptico, diferentemente do que ocorre no choque hipovolêmico, obstrutivo ou cardiogênico. Prognóstico Resultados precários frequentemente ocorrem após a incapacidade de se instituir uma terapia agressiva precoce. Uma vez estabelecida acidose láctica grave com acidose metabólica descompensada, especialmente conjugada a falência de múltiplos órgãos, o choque séptico tem probabilidade de ser irreversível e fatal. A mortalidade pode ser estimada com diferentes escores, incluindo o escore MEDS. O escore de disfunção de múltiplos órgãos mede a disfunção em seis sistemas de órgãos e se correlaciona fortemente com o risco de mortalidade. Tratamento Perfusão restaurada com líquidos IV e, às vezes, vasopressores Suporte de oxigênio Antibióticos de amplo espectro Controle da origem Às vezes, outras medidas de suporte (p. ex., corticoides, insulina) Pacientes com choque séptico devem ser tratados em UTI. Devem ser monitorados a cada hora os seguintes itens: CVP, POAP ou ScvO2 Oximetria de pulso GSAs Glicemia, lactato e níveis de eletrólitos Função renal A excreção de urina, um bom indicador da perfusão renal, deve ser mensurada. Início de oligúria ou anúria, ou elevação da creatinina, pode sinalizar insuficiência renal iminente. Restauração de perfusão Líquidos IV são o primeiro método utilizado para restaurar a perfusão. Alguns médicos adicionam albumina ao bolo inicial de líquido em pacientes com sepse grave ou choque séptico. Alguns médicos adicionam albumina ao bolo inicial de líquido em pacientes com sepse grave ou choque séptico Inicialmente, 1 L de cristaloide é administrado rapidamente. A maioria dos pacientes requer um mínimo de 30 mL/kg na primeiras 4 a 6 h. https://www.msdmanuals.com/pt/profissional/dist%C3%BArbios-end%C3%B3crinos-e-metab%C3%B3licos/dist%C3%BArbios-adrenais/insufici%C3%AAncia-adrenal-secund%C3%A1ria https://www.msdmanuals.com/pt/profissional/medicina-de-cuidados-cr%C3%ADticos/abordagem-ao-paciente-criticamente-enfermo/monitoramento-e-exames-para-paciente-de-cuidados-cr%C3%ADticos#v924412_pt https://www.msdmanuals.com/pt/profissional/medicina-de-cuidados-cr%C3%ADticos/choque-e-reanima%C3%A7%C3%A3o-vol%C3%AAmica/choque#v928025_pt O objetivo da terapia não é administrar um volume específico de líquido, mas obter reperfusão tecidual sem causar edema pulmonar devido à sobrecarga líquida. As estimativas de reperfusão bem-sucedida incluem ScvO2 e clearance de lactato. O risco de edema pulmonar pode ser controlado otimizando-se a pré-carga; líquidos devem ser administrados até a PVC atingir 8 mm Hg (10 cm de água) ou a POAP alcançar 12 a 15 mm Hg Pacientes sob ventilação mecânica podem exigir níveis mais elevados de PVC. A quantidade necessária de líquido ultrapassa muito o volume normal de sangue e pode chegar a 10 L ao longo de 4 a 12 horas. POAP ou ecocardiografia pode identificar limitações da função ventricular esquerda e edema pulmonar incipiente devido à sobrecarga de líquidos. Se um paciente com choque séptico permanece hipotenso após a PVC ou a POAP ter sido elevada aos níveis alvo, pode-se administrar noradrenalina ou vasopressina para aumentar a PA média até um mínimo de 65 mmHg. Adrenalina poderá ser adicionada se um segundo fármaco for necessário. Entretanto, vasoconstrição produzida por doses maiores de dopamina e noradrenalina podem causar hipoperfusão de órgãos e acidose. Suporte de oxigênio Oxigênio é administrado por meio de máscara ou dispositivo nasal. Intubação traqueal e ventilação mecânica podem ser, subsequentemente, necessárias em caso de insuficiência respiratória. Antibióticos Antibióticos parenterais devem ser administrados o mais rápido possível após a coleta de amostras de sangue, líquidos corporais e locais de ferimentos para coloração por Gram e cultura. Terapia empírica muito rápida, iniciada imediatamente após a suspeita de sepse, é essencial e pode salvar a vida. A seleção de antibiótico requer uma suposição fundamentada em conhecimentos teóricos e práticos, com base na origem suspeitada, cenário clínico, conhecimento ou suspeita de organismos causadores e dos padrões de sensibilidade comuns àquela unidade de internação ou instituição específica, além de resultados prévios de culturas. Cobertura bacteriana de amplo espectro para bactérias Gram-positivas e Gram-negativas é usada inicialmente. Antibióticos comuns para cobertura Gram-positiva empírica incluem vancomicina e linezolida. A cobertura empírica para Gram-negativos tem mais opções, como as penicilinas de amplo espectro, as cefalosporinas de 3ª ou 4ª geração, os imipenêmicos e os aminoglicosídeos. A cobertura ampla inicial é estreitada com base nos dados de cultura e sensibilidade. Controle da origem A fonte de infecção deve ser controlada o mais cedo possível. Cateteres IV e urinários e sondas endotraqueais devem ser removidos, se possível, ou trocados. Abscessos precisam ser drenados, e tecidos necróticos e desvitalizados, precisam ser cirurgicamente excisados. Se a excisão não for possível, a drenagem cirúrgica pode ajudar. Se a fonte não for controlada, o estado do paciente continuará a deteriorar-se, a despeito da terapia com antibióticos. Outras medidas de suporte A normalização da glicemia melhora o resultado em pacientes criticamente enfermos, mesmo naqueles que não se sabe serem diabéticos, porque a hiperglicemia prejudica a resposta imunitária à infecção. Terapia com corticoides pode ser benéfica em pacientes que permanecem hipotensos apesar do tratamento com líquidos IV, controle de fonte de infecção, antibióticos e vasopressores. Resumo Sepse e choque séptico são síndromes clínicas cada vez mais graves de disfunção orgânica com risco de morte causada por uma resposta desregulada a infecção. Um componente importante é a redução crítica na perfusão tecidual, o que pode levar a uma falência aguda de múltiplos órgãos, incluindo pulmões, rins e fígado. O reconhecimento e tratamento precoces são fundamentais para aprimorar a sobrevivência. Reanimar com líquidos intravenosos e, às vezes, vasopressores titulados para otimizar a saturação venosa central de oxigênio (SvcO2) e pré-carga, e para diminuir os níveis séricos de lactato. Controlar a fonte de infecção removendo cateteres, tubos e tecido infectado e/ou necrótico e drenando abscessos. Administrar antibióticos de amplo espectro empíricos direcionados aos organismos mais prováveis e mudar rapidamente para fármacos mais específicos, com base nos resultados de cultura e sensibilidade.
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