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01 UNIDADE PROF. JULIANA DOMIT E PROF. JANETE DE FÁTIMA FERREIRA Fundamentos teórico- -metodológicos do currículo CURRÍCULO E AVALIAÇÃO FICHA LIVRO Disciplina: Currículo e Avaliação Professoras Autoras: Juliana Domit e Janete de Fátima Ferreira Caldas Ementa: Fundamentos, teoria e prática no campo do currículo. Fundamentos teórico-metodológicos na organização curricular da educação básica e suas modalidades; Abordagem histórica e teórica da avaliação. Funções da avaliação: diagnóstica, somativa e formativa; Aspectos legais e políticos da avaliação. FICHA CATALOGRÁFICA Presidente: Renato Casagrande Diretor Executivo: Ronaldo Casagrande Diretora Pedagógica: Josemary Morastoni Coordenador de EaD: Everaldo Moreira de Andrade Designer Instrucional: Iara Aparecida Pereira Penkal Revisora: Eryka Kalana Torisco da Silva Designer Gráfico: Bruna Aparecida de Andrade Diagramadora: Bruna Aparecida de Andrade Foto de capa: © Freepik Ícones: © Flaticon Clique nos títulos para ir até a página. APRESENTAÇÃO 4 1. FUNDAMENTAÇÕES 5 1.1 TEORIAS TRADICIONAIS 6 1.2 AS TEORIAS CRÍTICAS 9 1.3 AS POLÍTICAS EDUCACIONAIS NORTEADORAS DO CURRÍCULO. 11 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 15 4Currículo e avaliação • UA01 Esta unidade tem como finalidade apresentar o conceito de currículo e os diferentes elementos que o definem para a educação, estabelecendo uma relação teoria-prática. O pressuposto que a norteia é a compreensão do que é currículo a partir da história da educação brasileira e suas transformações ao longo do tempo. Compreender essas mudanças é essencial para a definição do currículo nos dias de hoje. É importante que se tenha clareza não apenas da sua finalidade, mas também dos elementos que o articulam na relação com o processo de ensino-aprendizagem. Assim, ao final da unidade, espe- ramos que você consiga: definir e conceituar currículo; identificar as teorias de currículo e compreender os documentos oficiais que definem o currículo. Temos certeza que será de grande importância para sua prática pedagógica! Vamos começar? 5Currículo e avaliação • UA01 01 Fundamentações A educação é uma prática social que tem como finalidade a transformação e emancipação dos sujeitos. Assim, ao se pensar na função social da escola, precisamos pensar também em uma concepção de sociedade ou de homem, ou seja, que sociedade eu desejo e qual a formação devo defender para a materialização desta sociedade? Você já parou para pensar que a sociedade é definida a partir de questões sociais, polí- ticas, culturais e econômicas e que todas essas questões estão inseridas no processo escolar e na formação dos sujeitos que dela fazem parte? É isso mesmo, a escola é um espaço privilegiado de apropriação do conhecimento e, ao mesmo tempo, um espaço em que se ensina e se aprende por meio de relações sociais que já são predeterminadas. Levando em consideração que o processo educativo é complexo e fortemente marcado pelas variáveis pedagógicas e sociais, entendemos que ele não pode ser analisado fora da interação dialógica entre escola e vida, considerando o desenvolvimento humano a partir do conhecimento, da cultura e das dinâmicas sociais. Podemos dizer, de acordo com Lima et al. (2012), que o currículo é uma ponte entre a escola e a sociedade, pois, segundo Mallat (2018), traz em sua essência questões carre- gadas de ideologia, uma vez que deve ultrapassar uma lista de conteúdos e explicitar qual a formação de homem, sociedade e escola deseja formar, perpassando questões polí- ticas, econômicas, culturais e históricas. Assim, o currículo caracteriza-se como “[...] uma dimensão ampla que o entende em sua função socializadora e cultural, bem como forma de apropriação da experiência social acumulada e trabalhada a partir do conhecimento formal [...]” (KRUG, 2001, p. 56). Essa ideia corrobora a de Saviani (2003, p. 26) quando afirma que “[...] um currículo é pois uma escola funcionando, quer dizer, uma escola desempe- nhando a função que lhe é própria”. Nesse contexto, o currículo deve ser pensado, segundo Lima et al. (2012), fundamentado nas dimensões sociais e políticas, sustentando-se em múltiplas formas de ensinar e aprender, preparando indivíduos para transformar e reconstruir a sociedade. 6Currículo e avaliação • UA01 Nessa perspectiva, o currículo representa uma caminhada a ser trilhada ao longo do processo de formação, que assume diferentes definições e tem como função a organização do processo de ensino-aprendizagem sob todas as suas especifi- cidades. Para compreendermos essas especificidades que permeiam o processo educacional e a definição do currículo, precisamos entender as diferentes concep- ções de ensino que se materializaram ao longo dos anos nas escolas brasileiras. Essas concepções são fortemente influenciadas pelas questões políticas, econô- micas e sociais, e em cada período da nossa história atendem a diferentes inte- resses. Então, materializam diferentes concepções de formação e principal- mente de práticas no processo de ensino-aprendizagem. Afinal, são elas que se expressam no currículo, que é sempre resultado de uma seleção, uma forma de olhar determinada realidade e definir as ações para transformá-la. As concepções se expressam por meio de teorias do currículo ou de aprendi- zagem, pois a função do currículo é definir, nortear e organizar processos de aprendizagem numa determinada instituição, conforme Lima et al. (2012, p. 73) é a “espinha dorsal do trabalho pedagógico”. Todavia, as teorias de currículo são divididas em dois grupos: as teorias tradicionais e as teorias críticas. Vamos saber um pouco mais sobre elas? 1.1 Teorias Tradicionais Fr ee pi k Sala de aula tradicional As teorias tradicionais permeiam o ensino no Brasil desde a chega dos Jesuítas em 1549, que trou- xeram em sua bagagem um programa bem definido, chamado RatioStudiorum. Nesse programa de ensino, os conteúdos eram definidos a partir de uma cultura universal, denominado, em confor- midade com Lima et al (2012), como ensino humanístico e universal, com ênfase na memória e repetição, carac- terísticas intelectuais que marcaram todo o período do ensino tradicional no Brasil. Nessa perspectiva, as finalidades do ensino centravam-se na reprodução dos conteúdos, num processo de recepção e memorização, em que no centro da aprendizagem estava o estudante. Segundo Weil (1991, p. 15), “[...] o intelecto é Para aprofundar a leitura acerca das teorias tradi- cionais e críticas, é importante nos aproximarmos do campo da Didá- tica. Este artigo trata da formação de professores e problematiza as teorias na prática pedagógica. Clique aqui para acessar. SAIBA + https://educere.bruc.com.br/arquivo/pdf2015/18730_7884.pdf 7Currículo e avaliação • UA01 confiado às escolas, o caráter, incluindo sentimentos e valores à família, tornando o conhe- cimento uma espécie de mercadoria a ser adquirida e estocada na memória”. No contexto das abordagens e teorias pedagógicas, a abordagem tradicional de ensino caracterizava a sociedade como uma sociedade para produção em massa, centrada no ensino humanístico de cultura geral (VEIGA, 2012), tendo como objetivo preparar o estu- dante para a vida intelectual, moral e social, por meio de uma disciplina rígida, em que o professor exercia com extremo autoritarismo suas aulas. Os pressupostos didáticos compreendiam a exposição verbal das matérias, na qual o professor apresentava o conteúdo para os estudantes como pronto e acabado, conside- rando-os uma tábula rasa, passível de depósito de informações; predominavam as cópias, exercícios repetitivos, atividades de memorização, de forma que a prática estava apoiada sobre quatro pilares “leia, decore, estude e repita” (BEHRENS, 2013). O estudante, na tendência tradicional, era visto como um ser passivo e receptivo. Segundo Mizukami (apud BEHRENS,2013, p. 42), “[...] a real função do estudante no processo educa- tivo era realizar tarefas, de preferência sem questionar os seus direitos”. As avaliações feitas nesse contexto eram predominantemente orais, rígidas e classificatórias, os estudantes deveriam seguir exatamente à risca todo o conteúdo que o professor lhe apresentava, respondendo a questionários, ou assinalando questões objetivas (MALLAT, 2018). Em meados da década de 1930, sob os reflexos das novas perspectivas econômicas, cultu- rais e do fortalecimento de movimentos intelectuais, em virtude da superação do ensino predominantemente religioso nas escolas, um grupo de liberais, liderados por Anísio Teixeira e Fernando de Azevedo, iniciou um movimento a favor da escola laica e da demo- cratização do ensino, ficando conhecido como “Manifesto dos Pioneiros”. A Escola Nova foi acolhida no Brasil (VEIGA, 1994) em um momento histórico de exaltação de ideias políticas, econômicas e sociais. O Manifesto dos Pioneiros da Escola Nova reagiu à abordagem de ensino tradicional, pois defendia um processo de aprendizagem que tratava do desenvolvimento do ser humano como um todo, de tal forma que a aprendi- zagem deveria estar relacionada com a vida, propondo um novo tipo de homem. O escolanovismo propôs uma educação humanista moderna, baseada “[...] numa visão de homem centrada na vida, na atividade, de forma que ultrapasse a visão do professor enquanto centro da aprendizagem e desloque este papel para o estudante” (SAVIANI, 1983), sendo a valorização da criança sua principal característica. Ao tentar romper com os pressupostos pedagógicos do ensino pela memória, o movi- mento escolanovista, de inspiração norte-americana de Dewey, baseia-se no pragma- 8Currículo e avaliação • UA01 tismo (MARTINS; DUARTE, 2010), sobretudo na psicologia Evolutiva e da Aprendizagem. Aponta o aprender a aprender e o aprender a fazer como pilares centrais no ensino-apren- dizagem, num processo de valorização do conhecimento psicológico sobre o social. O professor era o facilitador e o estudante, o centro do processo educacional, as atividades pedagógicas centravam-se na observação e experimentação. O currículo passou a olhar o aluno de outra forma, e começou a valorizar a necessidade de um processo de demo- cratização do ensino. Segundo Behrens (2013), houve dificuldade de implementar a abor- dagem em várias instituições de ensino, por falta de equipamentos, laboratórios e, prin- cipalmente, de preparo de professores para assumir essa nova postura, pois os docentes, em geral, não abdicavam do ensino tradicional. A partir de 1970, vivemos um período em que a concepção de ensino passou a susten- tar-se numa perspectiva tecnicista, momento em que nosso país vivia a expansão das indústrias, a criação de trabalhos especializados e que a sociedade necessitava de traba- lhadores eficientes, eficazes e produtivos. Assim, a escola organizou-se numa extensão das fábricas e iniciou o desenvolvimento de seu processo de ensino-aprendizagem a partir de objetivos operacionais. O processo didático centrava-se na repetição e memorização, tendo a escola a função de treinar e modelar o comportamento de cada sujeito. Dessa forma, Behrens (2013, p. 49) afirma que “[...] o estudante fica privado de criticidade, pois seguir à risca os manuais e instruções demonstra a eficiência e a competência requeridas pela sociedade”, tornan- do-se um executor e cumpridor de ordens e tarefas que lhe são determinadas. Da mesma forma, a avaliação visava ao produto, sendo aplicada por meio de testes, de maneira cumu- lativa, exigindo boa carga de memória. Deste modo, temos as três principais correntes que compõem as teorias de ensino tradicio- nais e que nortearam o processo de ensino-aprendizagem, desde a chegada dos Jesuítas até meados da década de 1980. Teorias estas que defendem um ensino voltado ao técnico e ao saber fazer, a memorização e a repetição, pautados na reprodução da sociedade e não em sua transformação. Você ao longo da sua trajetória como estudante, já se deparou com algumas dessas concepções de sociedade e de ensino? Fez parte da sua formação as aulas em que a relevância social do ensino era silenciada, como nas teorias tradicionais? Será que hoje em dia, no chão das escolas, essa concepção ainda está expressa nos currículos? 9Currículo e avaliação • UA01 Adaptado pela autora Há muitos autores que promovem essas discussões, apontam que as escolas se modernizaram, mas a prática pedagógica ainda não, que muitos ainda concebem o ensino por meio da reprodução do conhecimento e não da sua construção. 1.2 As teorias Críticas A partir da década de 1980, inaugurou-se uma nova fase na política brasileira, a Nova República, década em que cessou a Ditadura Militar e se iniciou um forte movimento democrático, especialmente a partir dos sindicatos e categorias profissionais em prol da redemocratização da escola pública. Na educação, num primeiro momento, os educadores se empenharam em denunciar a educação predominantemente elitista, sustentada pela classe dominante e vinculada à reprodução do capitalismo. Segundo Saviani (1984), um objeto de esforço cole- tivo, de forma que a preocupação girava em torno de um professor politica- mente comprometido com a transformação social (MARTINS, 2012), buscando compreender a relação entre a prática escolar e a estrutura social mais ampla. Concretizou-se, assim, por meio de um forte movimento que busca romper com o ensino baseado na neutralidade. Nessa movimentação, organizaram-se dife- rentes grupos que discutem a importância da formação de uma consciência crítica dos professores, a socialização do conhecimento, a democratização do ensino e a permanência da classe trabalhadora na escola. As preocupações e discus- sões fundamentam, então, as propostas de uma pedagogia crítica, que define a escola como uma instituição que tem o papel de socializar o saber, o conheci- mento elaborado, a cultura erudita e não a cultura popular, denunciando o poder da hegemonia dominante e a perpetuação das desigualdades sociais (SAVIANI, 1984; LIMA et al., 2012). As propostas de uma pedagogia crítica se expressaram, sobretudo, na impor- tância de estimular a consciência para uma transformação a partir da assimilação ativa de conteúdos críticos, com base sólida por meio da sistematização coletiva do conhecimento. Partiram sempre da compreensão da realidade social, decor- rendo da prática sobre essa realidade (MARTINS, 2012), e, segundo Gadotti (1983), num processo de hominização, atividade humana, assentada na interação social. Nesse sentido, a escola passou a valorizar os conhecimentos trazidos de fora e confrontados com o saber sistematizado, reconhecendo o estudante enquanto sujeito situado historicamente. Como aborda Libâneo (2013), não se trata mais de uma ação docente baseada em conteúdos e procedimentos didáticos, que não têm nenhuma relação com o cotidiano do estudante e muito menos com as necessidades sociais. Assista ao filme "Sorrriso de Monalisa" de 2003, 125 min. O filme apresenta um ensino tradicional que passa por transformações e, assim, relata o processo de ensino e aprendizagem sob o trabalho do professor e a aprendizagem dos estudantes. SAIBA + w ik ip ed ia /R ep ro d u çã o https://www.youtube.com/watch?v=GTu_bycoEEw https://www.youtube.com/watch?v=GTu_bycoEEw 10Currículo e avaliação • UA01 Portanto, as concepções críticas defendem que a educação escolar identifique formas de saberes produzidos historicamente, compreendendo suas principais manifestações, bem como as tendências atuais para transformá-las, assim como tenha o compromisso de que os estudantes assimilem o saber objetivo, aprendendo o processo de sua produção e transformação. Nessa teoria, há uma proposta pedagógica que se refere a diversos campos do conheci- mento, que deve partir dos problemas sociais existentes na comunidadee na sociedade em que estão inseridos os estudantes, estando aí as especificidades da ação educativa na escola. Nessa perspectiva, compreende-se que tal estudo parte de diferentes dimensões - humana, política, social e técnica - que articulam e fundamentam a formação, no sentido de olhar para a realidade, tendo como base suas dimensões fundamentais (FREITAS, 1995). Defende-se que a escola é um local de socialização, de vida e de trabalho, e que a educação é fundamental para a hominização (GHEDIN, 2012), decorrente de práticas que devem materializar-se em diferentes espaços e tempos. Um currículo definido a partir dessa teoria se materializa num exercício coletivo, contínuo e constante, cujo processo não consiste em restringir-se a sala de aula e sim perpassar as relações sociais buscando “[...] mediar tais relações sociais e a própria sala de aula” (FREITAS, 2005, p. 12). Santomé (1998, p. 124) corrobora Freitas (2005) ao anunciar que essa materia- lização permitirá aos educandos “[...] experimentar, construir e reconstruir a realidade”. Para você, faz sentido esse processo de transformação na educação brasileira? E se fosse distinguir 5 diferenças entre a teoria tradicional e a teoria crítica, quais seriam elas? Pois bem, a maior diferença entre elas está na concepção de homem, ensino e sociedade, afinal, uma defende o ensino a partir das reproduções sociais, e a outra defende o ensino enquanto prática social mais ampla, num processo de transformação social. É por isso que vocês já ouviram e ainda ouvirão a expressão “nenhum currículo é neutro”, não existe neutralidade na educação. Justamente porque há uma escolha, a escola tem o poder de decidir qual concepção de educação quer materializar em seu ensino, e cada uma delas é dotada de especificidades e principalmente de contradições. Mas afinal o que é currículo? Quais seus elementos? O currículo é o documento norteador de todas as ações nos sistemas de ensino. Ele define a concepção de escola, socie- dade e ensino e a partir destas concepções determina, junta- Fr ee pi k Definição de concepções 11Currículo e avaliação • UA01 mente com os documentos oficiais, os conteúdos que serão trabalhados em cada etapa da educação básica. Fique atento! Muitos costumam definir o currículo como uma lista de conteúdos, mas não é bem assim não! Um currículo é uma construção coletiva, que expressa concepções pedagógicas e políticas a partir de questões culturais, sociais e históricas e assim define seu processo de ensino- -aprendizagem. Portanto, o currículo é um projeto, um projeto formativo que planeja todas as atividades a serem desenvolvidas no ambiente escolar. Um projeto que parte de uma determinada realidade para uma determinada finalidade, e implica, necessariamente, “a interação entre sujeitos que têm um mesmo objetivo e a opção por um referencial teórico que o sustente” (VEIGA, 2012, p.7). Então, podemos afirmar que pensar o currículo é pensar todas as ações desenvol- vidas na escola não é mesmo? Diante disso, o currículo tem como principal finalidade a organização do sistema escolar por meio de elementos humanos, políticos, culturais, sociais e pedagógicos. Ou seja, o currículo é tudo que a escola faz (SAVIANI, 2003). Na organização curricular, é necessário destacar alguns pontos básicos. Começamos pela clareza de que o currículo não é um instrumento neutro, ele passa ideologia, define concep- ções, então, o currículo expressa uma cultura. Em seguida, é importante destacar que o currículo não pode ser separado do contexto social, uma vez que ele é historicamente situado e culturalmente determinado (VEIGA, 2012). O terceiro ponto refere-se ao tipo de organização curricular que a escola definirá, ou seja, como será organizado o processo pedagógico em sua totalidade. Vocês devem estar se perguntando: mas por onde começamos a produção de um currículo ou sua atualização? Vamos lá! Esse é um conteúdo essencial que emerge no currículo e em toda a organização da educação brasileira. 1.3 As políticas educacionais norteadoras do currículo. Pensar a escola como um todo, independente da etapa da educação básica, exige o conhe- cimento acerca das políticas educacionais, que regulam, normatizam e definem muitas das ações no interior das escolas. Afinal, há um regime legal para o ensino que deve ser contemplado no currículo escolar. Na dimensão da educação, a política que norteia todo o sistema educacional brasileiro é a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN), lei n° 9.394/96 (BRASIL, 1996). A 12Currículo e avaliação • UA01 LDB está organizada em artigos e define questões que se relacionam diretamente com o ensino e com a organização das instituições escolares. Ela contempla a educação básica e o ensino superior e define para as etapas da educação brasi- leira, questões como formação mínima para o exercício do magistério, calendário escolar, regime de avaliação, dias letivos a serem cumpridos, formação continuada e também questões voltadas ao currículo, núcleo central do nosso estudo. Acerca do currículo, a LDB destaca que: Art. 26. Os currículos da educação infantil, do ensino fundamental e do ensino médio devem ter base nacional comum, a ser complementada, em cada sistema de ensino e em cada estabelecimento escolar, por uma parte diversificada, exigida pelas características regionais e locais da sociedade, da cultura, da economia e dos educandos (BRASIL, 1996, p.12). E, ainda no parágrafo primeiro, orienta que os currículos deverão abranger obri- gatoriamente “o estudo da língua portuguesa e da matemática, o conhecimento do mundo físico e natural e da realidade social e política, especialmente do Brasil” (BRASIL, 1996, p. 14) e, que a partir do sexto ano, deverá ser ofertada a disciplina de língua inglesa. Os currículos escolares, segundo a LDB 9.394/96 (BRASIL, 1996), devem contemplar as disciplinas obrigatórias definidas em seu documento e, além destas, as instituições têm autonomia para ofertar disciplinas do chamado núcleo diversificado ou parte diversificada. Cada etapa da educação básica tem suas especificidades no processo de ensino- -aprendizagem, mas a lei destaca que a Base Nacional Comum Curricular deve findar todos os currículos. Você sabe o que é a Base Nacional Comum Curri- cular, conhecida como BNCC? A BNCC é um documento construído coletivamente por entidades e professores que definiram um documento único, comum a toda a educação brasileira. A BNCC tem como finalidade garantir direitos de aprendizagem (conteúdos) comuns a todos os estudantes da educação básica em nosso país. Uma de suas finalidades é oportunizar que todos, independentemente do local onde residem, tenham a mesma formação e as mesmas oportunidades de aprendizagem. Assim, a BNCC é definida por princípios e objetivos e é o documento norteador para a cons- trução dos currículos (BRASIL, 2017). Mas e a BNCC não é um currículo? A resposta é NÃO, embora muitos afirmem que sim. A BNCC é o documento oficial que norteia a construção do currículo, pois, como vimos anteriormente, um currículo não é uma lista de conteúdos e A leitura na íntegra da Lei de Dire- trizes e Bases da Educação é impor- tantíssima. Realize esta leitura Clique aqui para acessar. SAIBA + http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9394.htm 13Currículo e avaliação • UA01 a BNCC é exatamente isso, uma lista de conteúdos a serem trabalhados nas instituições escolares. Esses conteúdos são apresentados nas cinco áreas do conhecimento definidas na LDBEN, que compõem a base comum nas escolas, sendo elas: área de linguagens, matemática, ciências da natureza, ciências sociais e ensino religioso (BRASIL, 2017). Cada área apresenta suas disciplinas, como podemos ver na imagem a seguir: As áreas na BNCC MATEMÁTICA MATEMÁTICA CIÊNCIAS GEOGRAFIA ENSINO RELIGIOSO HISTÓRIA CIÊNCIAS DA NATUREZA CIÊNCIAS HUMANAS ENSINO RELIGIOSOLINGUAGENSLÍNGUA PORTUGUESA ARTE EDUCAÇÃO FÍSICA LÍNGUA INGLESA ÁREAS DO CONHECIMENTO COMPONENTES CURRICULARES Fonte: Adaptado da BNCC.(BRASIL, 2017) Nessa perspectiva, a BNCC orienta o que deve ser ensinado, porém as escolas têm auto- nomia de definir suas concepções e estabelecer em seu currículo as disciplinas que farão parte da base diversificada. Assim, podemos afirmar que todo currículo parte de uma base legal, de orientação nacional, de concepções definidas por cada instituição escolar e de práticas que serão materiali- zadas a partir desta base legal e conceitual. A imagem abaixo ilustra uma organização inicial de um currículo na educação básica. O que é a BNCC do Ensino Fundamental? A Base Nacional Comum Curricular é um documento que define as habilidades essenciais para todos os alunos da Educação Básica Todos os currículos do país, público e privados, deverão conter esses conteúdos. ATENÇÃO! BASE NÃO É CURRÍCULO. ELA É PONTO DE PARTIDA. BNCC PROJETO POLÍTICO PEDAGÓGICO E CURRÍCULO ESCOLAR CURRÍCULOS ESTADUAIS, MUNICIPAIS E PARTICULARES PLANO DE AULA Fonte: Adaptado Revista Nova Escola (2018). 14Currículo e avaliação • UA01 Acerca ainda das políticas, elas também se findam a partir de diferentes interesses polí- ticos e econômicos, e cada governo atribui uma função social diferente para a escola. Em sua grande maioria, as políticas reafirmam relações de poder e reprodução social. Por isso, a escola deve refletir acerca da formação que pretende ofertar para a comunidade, sempre pensando num projeto de formação integral, omnilateral que tem como objetivo a transformação da sociedade. Após a leitura da unidade, compreendemos o que é currículo, suas teorias e sua organi- zação nas instituições escolares. Destaca-se neste texto as relações que se estabelecem entre a educação e a sociedade, relação essa que é fundamental para a materialização de um currículo coletivo, que prima pela emancipação e transformação social e trabalha a partir de conhecimentos produzidos historicamente pelo homem. Entendemos que o currículo não se restringe a uma lista de conteúdos e que é definido por concepções políticas e pedagógicas, é quem determinará todas as ações da instituição escolar, afinal, vimos nessa unidade que não existe uma educação fundada na neutrali- dade, ela é sempre uma escolha, uma escolha que definirá que sujeitos e que sociedade queremos. Apresentadas as definições do currículo, suas teorias e os aspectos legais que o deter- minam, é hora de pensarmos sua organização. E quando estamos na escola, que docu- mento refere-se ao currículo? Se o currículo não é uma lista de conteúdos, que elementos ele apresenta? Isso veremos na próxima unidade: o currículo nas instituições escolares. 15Currículo e avaliação • UA01 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BEHRENS, M. O paradigma emergente e a prática pedagógica. Petrópolis: Vozes, 2013. BRASIL. Base Nacional Comum Curricular (BNCC). Educação é a Base. Brasília, MEC/ CONSED/UNDIME, 2017. BRASIL. 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São Paulo: Summus, 1991. http://institutocasagrande.com/pos-ead/ _GoBack SUMÁRIO apresentação Fundamentações 1.1 Teorias Tradicionais 1.2 As teorias Críticas 1.3 As políticas educacionais norteadoras do currículo. : Botão 6: Botão 42: Botão 38: Botão 39: Botão 40: Botão 41: Botão 43: Botão 44: v: Página 4: Página 5: Página 7: Página 8: Página 10: Página 11: Página 13: Página 14: Página 16: : Página 4: Página 5: Página 7: Página 8: Página 10: Página 11: Página 13: Página 14: Página 16: Botão 56: Página 4: Página 5: Página 7: Página 8: Página 10: Página 11: Página 13: Página 14: Página 16: Botão 37: v 2: Página 6: Página 9: Página 12: 2: Página 6: Página 9: Página 12: Botão 58: Página 6: Página 9: Página 12: saiba mais 02: v 1: Página 15: 1: Página 15: Botão 54: Página 15: Botão 55: Página 15:
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