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1 MIOPATIAS INFLAMATÓRIAS • Dermatomiosite (DM) • Polimiosite (PM) • Miosite por Corpúsculo de Inclusão (MCI) Característica • Desenvolvimento inexplicado de um processo inflamatório não supurativo na musculatura esquelética → manifestada clinicamente por fraqueza muscular Diferenças entre as doenças 1. DM apresenta manifestações cutâneas características (heliotropo, pápulas de Gottron,etc), além de estar mais frequentemente associada a malignidades 2. DM está associada com deposição de imunocomplexos em vasos na intimidade do músculo, com microangiopatia e isquemia muscular. Na PM há destruição da célula muscular esquelética por lesão direta pela ação de linfócitos T CD8+ autorreativos 3. MCI – o início do quadro pode ser marcado por um acometimento predominantemente assimétrico da musculatura distal, com destaque para o envolvimento do quadríceps e dos flexores dos dedos das mãos. Pode haver fraqueza da musculatura facial. Também assimétrica EPIDEMIOLOGIA Incidência • 1:100.000 habitantes Sexo • DM e PM: predominância em mulheres (2:1) • MCI: Homens Idade • DM e PM: distribuição bimodal ▪ Primeiro pico de incidência entre 7-15 anos ▪ Segundo pico: 30-50 anos • MCI: Acima dos 50 anos MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS MUSCULARES Fraqueza muscular • O sinal mais comumente observado nas fases iniciais • Desenvolvimento progressivo – semanas ou meses • Situações raras- início agudo e acompanhado de rabdomiólise e mioglobinúria Distribuição da fraqueza • Simétrica e proximal • Primeiramente acomete os músculos da cintura escapular e pélvica e progride para a proximal dos membros • Comprometimento dos flexores do pescoço • Musculatura ocular extrínseca é poupada • Músculos faciais raramente são acometidos, mas pode ocorrer na MCI Musculatura da faringe e esôfago • Frequentemente é acometida a musculatura da parede posterior da faringe e do terço proximal do esôfago • Disfagia de transferência (de deglutir com sincronismo o alimento) • Engasgos e aspiração broncopulmonar • Disfonia Hipersensibilidade muscular e mialgias • Ocorre de forma leve em 25-50% dos casos 2 DERMATOLÓGICAS • Típicas na DM, acompanhando ou precedendo as manifestações musculares Pápulas de Gottron • Formações escamosas, elevadas e de coloração violeta • Simetricamente distribuídas, observadas dobre os nós dos dedos Heliótropo • Erupção eritematoviolácea características nas pálpebras superiores Hemorragias das cutículas • Denominadas hemorragias em estilha Mãos de mecânico • Fissuras e lesões ásperas, escuras em região lateral e palmar dos dedos das mãos Erupções eritematosas • Em face (acomete região nasolabial, queixo e ponte nasal), pescoço, tórax ou superfície extensora das extremidades • Muitas vezes assumem a forma de um ‘’V’’ principalmente na região anterior do tórax • Quando acometem a região posterior dos ombros e tórax proporcionam o sinal do xale (ou manto) CONSTITUCIONAIS • Fadiga e mal-estar • Febre geralmente em pacientes jovens e crianças • Perda ponderal incomum ARTICULARES • Artralgias, artrite acompanhada de rigidez matinal • Comprometimento articular semelhante a AR, acometendo principalmente as mãos • Subluxações e deformidades, entretanto erosão óssea não costuma ser encontrada PULMONARES • Broncoaspiração • Miosite do diafragma e da musculatura intercostal • Doença pulmonar intersticial Miosite do diafragma e da musculatura intercostal • Prejudica a incursão respiratória adequada e favorece um acúmulo de secreções e hiperventilação • Causa atelectasia e infecções respiratórias de repetição 3 Doença pulmonar intersticial • Pode preceder a Miopatia • Forma severa (lesão alveolar difusa) é semelhante a síndrome de angústia respiratória aguda • Normalmente é arrastada, com lenta evolução para fibrose • Dispneia aos esforços e tosse • Ausculta: estertores bibasais • Relacionado a um autoanticorpo contra uma sintetase (enzima citoplasmática envolvida na tradução do RNA em proteína), chamado anti- Jo-1 CARDÍACAS • Raramente sintomático • Distúrbios de ritmo e condução cardíacos → palpitações e arritmias • HBAE (hemibloqueio anterior esquerdo) e BRD mais comuns • ICC incomum MIOSITE POR CORPÚSCULO DE INCLUSÃO Fraqueza muscular • Distal e assimétrica pode ocorrer em fases iniciais, com comprometimento seletivo do quadríceps e dos flexores profundos dos dedos das mãos • Fraqueza facial leve em 1/3 dos casos • 20% dos casos associados a outras doenças autoimunes ou do tecido conjuntivo • Curso da doença é lento Níveis de CK • Normais ou moderadamente aumentados (até 10x o valor da normalidade) Diagnóstico • Biópsia muscular GRUPOS ESPECÍFICOS DE DOENÇA DERMATOMIOSITE E POLIMIOSITE ASSOCIADOS A MALIGNIDADE • Frequência de câncer em pacientes com miosite varia de 15 a 25% • Incidência de neoplasia em indivíduos com DM é 2-3 vezes maior do que a população geral • Neoplasia maligna pode ser identificada antes, no momento ou após a confirmação da DM e PN Pacientes com maior risco de associação • Idade avançada • Dano capilar na biópsia pulmonar • Lesões necróticas em tronco • Presença de vasculite leucocitoclástica Solicitar • RX de tórax, hemograma, provas de função hepática, PSA e EAS • Screening mamográfico • Screening colonoscópio • Exame de imagem abdominal + dosagem de CA125 para neoplasia de ovário DM E PM NA INFÂNCIA DMJ e PMJ • DMJ é cerca de 20x mais comum que a PMJ • Predomínio de meninas de 2:1 a 5:1 • Acometem pacientes com menos de 16 anos, com um pico de incidência em torno de 5-10 anos Manifestações clínicas • Exuberância de sinais e sintomas sistêmicos como febre e perda ponderal • Presença de vasculite no tubo digestivo • A oclusão vascular consequente ao processo inflamatório determina o surgimento de dor e distensão abdominal, muitas vezes acompanhado de sangramento e perfuração Calcinose • Raramente encontrado em adultos com DM • Observada em 40% dos casos de DMJ • Relacionada a gravidade da lesão cutânea, presença de vasculopatia e atraso no diagnóstico SÍNDROMES DE SUPERPOSIÇÃO • Associação de Miopatia inflamatória com doenças do tecido conjuntivo 4 Doença mista do tecido conjuntivo • Presença de LES, esclerose sistêmica e Polimiosite • Altos títulos de um anticorpo dirigido a um antígeno nuclear (Anti- RNP U1) Superposição de DM com esclerodermia • Altos títulos de um anticorpo contra um antígeno nucleolar chamado de PM/ Scl Associação com desordens autoimunes • Cirrose biliar primária, arterite temporal, Poliarterite nodosa, tireoidite de Hashimoto e doenças intestinais inflamatórias LABORATÓRIO AUTOANTICORPOS Anticorpos antinucleares (FAN) • 70% dos pacientes com DM e PM • Não são específicos e se apresentam em baixos títulos Síndromes de sobreposição • Titulação elevada de FAN • Anticorpos contra U1-RNP associada a superposição de miosite com esclerose sistêmica e LES • Presença de anti-Ro, anti-La e anti-Sm ENZIMAS MUSCULARES Solicitar • Creatinina Quinase (CK) – níveis mais sensíveis para a presença de miosite, sendo que a intensidade da fraqueza muscular se correlaciona com o grau de elevação enzimática • Lactato desidrogenase (LDH) • Aldolase • Aspartato aminotransferases (AST) • Alanina aminotransferases (ALT) • Dosagem antes da eletromiografia!!! OBS: CK-MB é utilizada para diagnóstico de miocardite e IAM, mas também é expressa em grandes quantidades pelas fibras musculares esqueléticas em regeneração. Para detectar acometimento miocárdico em pacientes com miosite solicitar Isoforma I da Troponina (TnI) ELETROMIOGRAFIA• Registra a atividade elétrica muscular em repouso e durante o esforço • Utilizada para diferenciar entre desordens neurogênicas e miopáticas • Músculo em repouso: eletricamente silencioso, com exceção da região da placa motora ▪ Miopatia: potenciais de fibrilação e ondas positivas de ponta (irritação da célula muscular) • Contração voluntária: Potenciais trifásicos ▪ ‘’Padrão miopático’’ Potenciais polifásicos (mais de 4 fases), de baixa amplitude (normal de 100uV até 2mV) e curta duração • Nas doenças musculares há um padrão excessivo de recrutamento de unidades motoras para a realização de uma contração voluntária BIÓPSIA MUSCULAR • Padrão – ouro para diagnóstico • Fragmento deve ser proveniente de um músculo afetado • Pode-se optar por biopsiar o músculo contralateral no qual tenha sido demonstrada a lesão pela EMG ou fazer a escolha pelo acometimento visto pela RNM Achados histológicos comuns à DM e PM • Necrose de fibra muscular 5 • Degeneração e regeneração e infiltrado de células inflamatórias mononucleares Dermatomiosite • Mediada pela imunidade humoral, em que a lesão primária se localiza nos vasos sanguíneos • Os componentes terminais do complemento – o complexo de ataque à membrana (C5b-9) são detectados na parede vascular antes do aparecimento de um infiltrado inflamatório rico em linfócitos B e TCD4, presentes na região perivascular ou nos septos interfasciculares • O achado microscópico de atrofia perivascular, decorrente da isquemia proporcionada pela obstrução dos capilares, é diagnóstico de DM Polimiosite • O infiltrado celular localiza-se no interior do fascículo, com as células inflamatórias invadindo as fibras musculares saudáveis do indivíduo – inflamação primária • Mediada pela imunidade celular, com os linfócitos TCD8 reconhecendo e destruindo determinados antígenos localizados na superfície do sarcolema • Imunofluorescência: grande expressão do MHC classe I na superfície dos miócitos Biópsia de pele na DM • Mostra atrofia leve da epiderme, com alterações vacuolares na camada de queratinócitos e presença de infiltrado linfoide perivascular • Imunofluorescência: dermatite de interface indistinguível a encontrada no LES, e complexos de ataque na junção epiderme/derme e nas paredes dos vasos da derme RESSONÂNCIA MAGNÉTICA E RESSONÂNCIA MAGNÉTICA COM ESPECTROSCOPIA RM • Pode demonstrar áreas de inflamação muscular, edema com miosite em atividade, fibrose e calcificação • Exame não invasivo, pode ser repetido em intervalos pré-determinados para avaliar o curso da doença e resposta à terapia RME • Avalia o metabolismo muscular • Miosite: a geração de compostos de alta energia no músculo, como a fosfocreatinina, encontra-se reduzida DIAGNÓSTICO Doença provável • Quando há todos os achados característicos de uma Miopatia inflamatória, mas a biópsia muscular não é confirmatória Diagnóstico definitivo de PM • Quadro clínico característico (preenchendo os critérios de exclusão para outras doenças) • Níveis de CK elevados • Biópsia muscular + 6 Diagnóstico definitivo de PM • Mesmas condições que a DM, porém, a presença do rash cutâneo típico indica a existência da doença mesmo em casos de biópsia muscular não evidenciando inflamação DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL • Miastenia Gravis • Síndrome miastênica de Eaton- Lambert • Doença do neurônio motor (esclerose lateral aminotrófica) • Hipotireoidismo • Endocrinopatias: hipercortisolismo, hiper/hipoparatireoidismo e hipertireoidismo • Distrofias musculares • Miopatia por drogas • HIV • Miofasciíte macrofágica Miastenia Gravis • Manifestações clínicas: fraqueza muscular proximal, a musculatura facial e ocular extrínseca encontram-se envolvidas • Fraqueza piora ao longo do dia • Achados nos exames complementares: níveis de enzimas musculares normais, EMG com resposta decremental dos potenciais de ação muscular e presença de anticorpos contra receptores de acetilcolina Síndrome miastênica de Eaton- Lambert • Frequentemente uma desordem paraneoplásica • Homens acima de 40 anos • Produção de autoanticorpos • Músculos proximais comprometidos, MMII afetados em maior intensidade, típica melhora da força muscular com o uso repetitivo • Ocorrem manifestações autonômicas com frequência • EMG: potencial de amplitude muito baixa que, após estímulos repetitivos (10Hz), alcança níveis dentro da normalidade (resposta incremental) Doença do neurônio motor (esclerose lateral amiotrófica) • Comprometimento concomitante do 1° e 2° neurônios motores • Fraqueza muscular proximal e disfagia podem estar presentes, entretanto a fraqueza muscular distal é mais comum do que a proximal 7 • EMG não demonstra um padrão miopático e as enzimas musculares são geralmente normais Hipotireoidismo • Fraqueza muscular simétrica e proximal com elevação da CK • Lentificação na fase de relaxamento de reflexos tendinosos profundos, pele fria e seca, bradicardia • EMG normal e ausência de inflamação na biópsia do músculo Distrofias musculares • Normalmente surgem lentamente ao longo de anos e raramente se manifestam após 30 anos de idade, porém há algumas com evolução rápida, que podem até apresentar infiltrados inflamatórios precocemente Distrofia muscular de Duchenne • Desordem autossômica recessiva ligada ao X • O início dos sintomas gira em torno dos 3 a 5 anos, apesar de uma CK elevada (20 a 100x o valor de referência) ser encontrada ao nascimento • O comprometimento muscular inicialmente é proximal, com predileção pelos MMII, afetando também a musculatura flexora do pescoço • Níveis de CK sofrem uma diminuição progressiva com o agravamento da atrofia muscular • História familiar compatível e ausência de manifestações sistêmicas e comprometimento progressivo são elementos mais característicos • Diagnóstico: Biópsia muscular que evidencia a deficiência de distrofina ou através da análise genética de leucócitos periféricos, que identifica mutação no gene Miopatia ocasionada por drogas • Penicilamina e colchicina: pode mimetizar uma apresentação típica de PM, com fraqueza muscular de início subagudo somada a elevação de enzimas musculares • Início agudo e fulminante de miosite, com presença de rabdomiólise e mioglobinúria, pode seguir-se ao uso de cocaína, heroína e combinações de drogas (fibratos e inibidores da HMG-Coa redutase) HIV • Manifestações de fraqueza muscular: Tratamento com administração de esteroides em drogas imunossupressoras 8 • Uma Miopatia pode se desenvolver com o uso de zidovudina, com o diagnóstico dessa condição sendo firmado com a biópsia muscular, que demonstra injúria mitocondrial Miofasciíte macrofágica • Mialgias difusas, fadiga e fraqueza muscular branda e a CL encontra-se elevada em metade dos casos • Cintilografia com gálio revela captação no músculo, fáscia e áreas periarticulares, sobretudo com MMII • A biópsia revela macrófagos PAS+ infiltrando o tecido conjuntivo em torno do músculo • Envolvimento histológico focal e em áreas de vacinação prévia TRATAMENTO Base Terapêutica • Imunossupressão farmacológica + prática de atividades físicas supervisionadas e personalizadas Glicocorticoides • Primeira droga de escolha • Preferencia pela prednisona oral 0,75 a 1-2 mg/kg/dia, por um mínimo de 4-12 semanas (resposta clínica em cerca de 75% das vezes) • Pacientes que abrem quadros fulminantes, com fraqueza da musculatura diafragmática e insuficiência ventilatória, devem ser tratados com pulsoterapia de metilprednisolona (1g/dia IV, por 3 dias) Tratamento atual • Glicocorticoide + imunossupressor de início de ação mais lentoTratamento prolongado com glicocorticoides • Quimioprofilaxia contra a osteoporose • Prescrever cálcio 1,2 g/dia + vitamina D 800 UI/dia + bifosfonados em dose profilática (ex: alendronato 35 mg/semana) Paciente sem sinais de pneumopatia intersticial • Segundo imunossupressor: azatioprina (2mg/kg/dia) ou metotrexate (15=25 mg/semana), junto com ácido fólico para diminuir a chance de toxicidade Paciente com pneumopatia intersticial • Ciclosfosfamida (2mg/kg/dia) ou ciclosporina A (3-5 mg/kg/dia) ou tacrolimus (0,075 mg/kg/dia) Critério de resposta clínica • Melhor: recuperação da força muscular Pacientes que não apresentam qualquer sinal de melhora após 3-6 meses de tratamento • Retirar o medicamento • Tentar outra classe ou partir direto para terapias alternativas Doença refratária • Pacientes sem pneumopatia associada: metotrexato + azatioprina • Micofenolato • Emprego de imunoglobulina humana intravenosa em altas doses (benefício temporário – readministração periódica) • Rituximab FIM
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