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São fármacos administrados por via venosa para induzir e/ou manter a anestesia geral, bem como para promover sedação durante anestesia loco- regional. Ligação proteica: com exceção da cetamina, que possui baixa ligação proteica, as demais ligam-se às proteínas e em especial à albumina, em percentual superior a 70%. Vale destacar que algumas drogas, como o midazolam e o propofol, tem um percentual superior a 90%. Quanto maior o número de droga ligada às proteínas, maior vai ser o sue tempo de ação, pois quem age no cérebro é a droga livre. O anestésico venoso ideal (não existe) teria que ter tais características: Estabilidade e compatibilidade quando em solução; Compatibilidade tissular por extravasamento e ausência de irritação venosa; Baixo potencial de liberação de histamina; Início rápido de ação sem atividade excitatória; Metabolização com metabolitos inativos; Dose sono relacionada a titularidade mínima não cumulativa; Ausência de depressão respiratória e cardiovascular; Diminuição da pressão e metabolismo cerebrais; Rápido retorno da consciência e das funções cognitivas; Ausência de náuseas, vômitos, tontura, cefaleia, reações psicomotoras e “ressaca” no pós operatório. Assim como nos anestésicos inalatórios, a distribuição do anestésico endovenoso se dá primeiramente aos órgãos mais vascularizados. Após isso, ele vai ser redistribuído aos demais órgãos. O cérebro e os rins captam rapidamente o fármaco e equilibram-se com o plasma em questão de minutos devido ao seu alto fluxo sanguíneo e relativo pequeno volume tecidual. Em contraste, o tecido muscular leva horas para equilibrar-se devido ao alto volume tecidual em comparação com seu fluxo sanguíneo. A gordura (tecido mais volumoso) apresenta baixa perfusão e leva dias para obter o equilíbrio apesar da sua alta lipossolubilidade. Após chegar à circulação central, o fármaco alcança rapidamente os leitos capilares teciduais através do fluxo sanguíneo. A partir desse ponto, pode mover- se livremente e reentrar no espaço intravascular por difusão ou transporte ativo. Essa rápida distribuição e subsequente redistribuição é seguida pelo processo de eliminação do fármaco. O corpo é dividido em compartimentos de acordo com o fluxo sanguíneo que cada tecido recebe e fornece um esquema matemático que pode ser usado para descrever as mudanças de concentrações dos fármacos durante o tempo. O compartimento central (V1), também chamado de grupo ricamente vascularizado (GRV), é composto pelos tecidos que diluem o fármaco no primeiro minuto após a injeção (volume sanguíneo dos grandes vasos, cérebro, coração, rins, fígado e pulmão). O compartimento intermediário é formado pelos músculos (V2), e o pobremente vascularizado, pela gordura (V3). A não ser que ocorra metabolização ou excreção da substância, o transporte entre o tecido e o sangue segue em um padrão bidirecional. Se a concentração no tecido se tornar maior que a plasmática, ocorre movimento da substância em direção ao plasma e vice-versa. O mecanismo primário para o término do efeito, ou seja, o despertar do paciente após o bólus inicial, é a redistribuição do fármaco a partir do compartimento central em direção ao plasma (término de efeito da injeção única). Com injeções repetidas ou infusão contínua, entretanto, a captação tecidual continuará ocorrendo sempre que a concentração plasmática do fármaco estiver acima da tecidual. Com o término da infusão, os tecidos atuam como depósito, promovendo a transferência da substância para o plasma e retardando o despertar. A única forma de reduzir a concentração total do fármaco do corpo é a eliminação. A maioria dos anestésicos venosos (lipossolúveis) é eliminada pelo metabolismo hepático. Substâncias hidrofílicas são excretadas pelo rim. Meia vida contexto dependente: O tempo que a droga leva para diminuir sua concentração em 50% depois que a infusão é parada. Ela não pode ser prevista apenas pelo tempo de eliminação do fármaco, porque depende também do tempo de redistribuição entre os compartimentos. Na figura acima podemos perceber que o Etomidato, propofol e cetamina têm meia-vida mais curta que tiopental e diazepam, o que os torna mais adequados para infusão prolongada. As drogas com meia vida contexto dependente alto, são ruins para infusão contínua. O Remifentanil é um opioide que após a pausa da sua infusão, ele demora 5 minutos para ser metabolizado totalmente. Já o propofol, é um hipnótico que demora 20 minutos para ser metabolizado totalmente após a pausa da sua infusão. Por isso, atualmente, uma dupla utilizada constantemente é Remifentanil + propofol. Tiopental Dose de indução: 3-6 mg/kg Início de ação: < 30 segundos Duração: 5-10 minutos Indicações: indução anestésica, eletroconvulsoterapia, tratamento de PIC elevada e proteção contra isquemia cerebral focal. É um agente de indução e manutenção anestésica. Era mais utilizado antes da invenção do propofol. Após dose única de tiopental, a recuperação é rápida, comparável à do propofol, pois o despertar depende da redução da concentração plasmática decorrente da redistribuição do fármaco para os tecidos inativos. Em doses repetidas ou em infusão contínua, entretanto, o despertar fica prolongado em função da longa meia-vida contexto-dependente, que reflete o lento metabolismo e a longa meia-vida de eliminação do fármaco. Seu mecanismo de ação se dá pelo estímulo dos receptores GABA-A. Efeitos no SNC: Depressão dose-dependente da atividade cerebral. Sem propriedade analgésica. O efeito amnésico é menos pronunciado do que aquele produzido por benzodiazepínicos. Provocam potente vasoconstrição cerebral, reduzindo o fluxo sanguíneo cerebral (FSC), o volume sanguíneo cerebral (VSC) e a pressão intracraniana (PIC). Efeitos no SCV: Diminuição do débito cardíaco mediante redução do retorno venoso. O aumento compensatório na frequência cardíaca (reflexo barorreceptor) limita a diminuição da PA, tornando esse efeito transitório. Efeitos no Sistema respiratório: Depressão respiratória dose-dependente. São depressores do centro respiratório, diminuindo a frequência respiratória e o volume corrente. Reduzem a resposta ventilatória à hipercapnia e à hipóxia. A supressão do reflexo laríngeo e do reflexo de tosse é incompleta com o uso isolado de barbitúricos, e o estímulo da via aérea pode levar a laringospasmo e broncospasmo. Efeitos indesejáveis: depressão da função miocárdica, depressão da ventilação e vasodilatação intensa, levando à hipotensão. Em pacientes com função miocárdica prejudicada e em hipotensos por qualquer causa, agentes como etomidato ou quetamina são preferíveis. Em pacientes asmáticos ou com DPOC submetidos à indução com tiopental, pode haver broncoespasmo durante a intubação orotraqueal. Injeção acidental intra-arterial: Causa dor intensa e vasoconstrição profunda, causando lesão tecidual grave e gangrena. O tratamento consiste em infusão de solução salina na artéria, heparinização para prevenção de trombose e bloqueio simpático (bloqueio do gânglio estrelado ou do plexo braquial) para vasodilatação. Não pode ser diluído em ringer lactato, pois seu pH 11 quando entra em contato com pH baixos, faz com que haja uma precipitação de cristais. O seu término de efeito se dá pela redistribuição rápida para outros tecidos e não pela sua metabolização (via renal e hepática). O paciente perde a consciência em até 30 segundos e acorda em 20 minutos. Os benzodiazepínicos (BZDs) são utilizados no perioperatório principalmente por seus efeitos ansiolíticos, amnésicos e anticonvulsivantes (aumentao limiar convulsivante). Possuem duração variada: Duração de efeito curta: midazolam Duração de efeito intermediário: lorazepam Duração de efeito longa: Diazepam O midazolam é o único indicado para fazer infusão contínua e prolongada. Seu efeito é função direta do nível plasmática do benzodiazepínico, ou seja, efeito x taxa de ocupação do receptor benzodiazepínico. 20%: efeito ansiolítico 30%-50%: sedação 60%: inconsciência Seu mecanismo de ação é o estímulo dos receptores gabaérgicos. Indicações: Pré operatória: São os fármacos mais comumente utilizados como pré-medicação (redução da ansiólise e amnésia anterógrada). O midazolam (0,02-0,04 mg/kg, IV/IM) é o mais usado, pois apresenta início rápido, amnésia mais intensa e menor sedação residual. O midazolam via oral é a opção mais adequada para sedação pré-anestésica em crianças (0,4-0,8 mg/kg) 30 minutos antes da indução. Indução anestésica: O midazolam é o BZD de escolha para a indução. O início da anestesia ocorre em 30- 60 segundos. Devem-se reduzir as doses em pacientes idosos. Apresenta menores efeitos hemodinâmicos na indução quando comparado ao propofol ou aos barbitúricos, porém o retardo no despertar é uma grande desvantagem Prevenção de náuseas e vômitos: Numerosos estudos têm destacado o papel dos BZDs, especificamente do midazolam, na prevenção de náuseas e vômitos pós- operatórios na dose de 0,04-0,075 mg/kg. Os BZDs têm rápido início de ação devido à alta lipossolubilidade. A redistribuição é responsável pelo término de sua atividade. O metabolismo ocorre via hepática, por oxidação ou conjugação com glicuronídeo. Principalmente nos idosos, temos que ter cuidado com a depressão respiratória causada. (Midazolam > Diazepam) Flumazenil: antagonista do midazolam. Possui vida plasmática de 1 hora. Efeitos no SNC: Diminuem o fluxo sanguíneo cerebral em menor extensão do que os barbitúricos e propofol. Causam pequena ou nenhuma mudança na PIC. Efeitos no SCV: Causam hipotensão leve devido à redução da resistência vascular periférica. Efeitos no sistema respiratório: Provocam depressão mínima na ventilação quando administrados isoladamente. Em doses de indução ou quando combinados com opioides, podem produzir apneia. Diazepam Inicio de ação 30-60 segundos. Indução anestésica: 0,3-0,5 mg/kg EV Sedação: 1-2 mg EV Causa dor e desconforto quando injetado e também causa irritação nervosa. Pode ser feito lidocaína 10 mg antes ou diluir no próprio sangue do paciente, pois sua diluição em ringer, soro fisiológico, soro glicosado ou em ABD, forma precipitados. É metabolizado no fígado. Midazolam Pode ser diluído em SF ou ringer lactato. Complicações: depressão respiratória, hipotensão arterial, hipersensibilidade, soluços, tosse, náuseas e vômitos, fenômeno paradoxal (agitação, hostilidade). Dose de indução: 0,2-0,3 mg/Kg Duração de ação: 3-8 minutos É um composto imidazólico que atua como hipnótico de ação rápida. Altera minimamente a hemodinâmica, sendo uma droga ótima para pacientes com doença cardiovascular, e não provoca depressão respiratória. O mecanismo de ação se dá nos receptores GABA- A. Indicações: Indução da anestesia: pacientes com doença cardiovascular, doença reativa das vias aéreas, hipertensão intracraniana ou qualquer combinação de distúrbios que indicam a necessidade de um agente indutor que mantenha a estabilidade cardiovascular. Efeitos no SNC: Tem efeito vasoconstritor cerebral, diminuindo a PIC. Efeitos no SCV: Causa mínima depressão cardiovascular mesmo em pacientes com doença cardíaca ou pulmonar, sendo útil em pacientes com doença valvular ou isquêmica do coração submetidos a procedimentos cirúrgicos não cardíacos. Efeitos no sistema respiratório: Produz menor depressão ventilatória do que os outros anestésicos utilizados para indução e não induz liberação de histamina. Não tem eficácia analgésica e deve ser combinado com um opioide para evitar ativação simpática durante laringoscopia e intubação. Efeitos no sistema endocrinológico: Promove inibição reversível e dose dependente da enzima 11β- hidroxilase, que resulta na diminuição da biossíntese de cortisol. Efeitos adversos: náuseas e vômitos, sensação local de queimação no momento da infusão, mioclonia e insuficiência suprarrenal quando administrado em infusão contínua nos pacientes em terapia intensiva. É uma medicação que produz depressão do SNC dose-dependente, com profunda analgesia e amnésia, embora o paciente possa permanecer consciente e manter reflexos de via aérea. A ação mais importante da cetamina é a inibição da ativação do receptor NMDA pelo glutamato, que leva à inibição da atividade excitatória no sistema límbico e no córtex, resultando em inconsciência. Como a cetamina tem um peso molecular baixo, um pKa próximo do pH fisiológico e relativamente elevada lipossolubilidade, ela atravessa a barreira hematencefálica rapidamente e tem um início de ação em 30 a 60 segundos de administração, sendo o efeito máximo em aproximadamente 1 minuto. Indicações: Indução e manutenção anestésica: ▪ Pacientes instáveis com hipovolemia, choque hemorrágico, sepse (benefício dos efeitos estimulantes cardiovasculares). ▪ Doenças cardíacas congênitas, tamponamento e pericardite constritiva. ▪ Doença reativa de vias aéreas. Sedação: ▪ Uso como pré-medicação em associação com BZD e um antissialogogo ▪ Procedimentos dolorosos de curta duração na emergência ▪ Sedação de pacientes pediátricos submetidos a procedimentos fora do centro cirúrgico Tratamento da dor aguda (analgesia multimodal): ▪ Doses subanestésicas podem ser usadas para produzir analgesia (inibição da hipersensibilização nociceptiva central e atenuação da tolerância aguda após a administração de opioides). ▪ Prevenção da hiperalgesia induzida por opioides – Efeito poupador de opioide com baixa dose (75-200 µg/kg) quando administrada como adjuvante na anestesia. Tratamento da dor crônica: ▪ Útil em casos de dor oncológica, neuropática periférica e central, dor fantasma ou do membro isquêmico, fibromialgia, síndrome complexa regional, dor visceral e enxaqueca. Efeitos gerais: dilatação pupilar e nistagmo, bem como lacrimejamento, salivação e aumento do tônus muscular esquelético. Efeitos no SNC: Apresenta alta incidência de reações psicomiméticas (alucinações, pesadelos, alteração de memória de curto prazo e de cognição) durante o período de recuperação inicial. Promove o aumento da PIC. Efeitos no SCV: Causa liberação sistêmica de catecolaminas, inibição do nervo vago e da recaptação de noradrenalina em nervos periféricos e tecidos não neuronais, como o miocárdio, além de liberação de norepinefrina dos gânglios simpáticos. Assim, aumenta a PA, a frequência cardíaca (FC), o DC e o consumo de oxigênio pelo miocárdio. Efeitos no sistema respiratório: Não produz depressão respiratória significativa. Porém, apneia pode surgir com o uso de grandes doses ou de outros anestésicos concomitantes. Exerce atividade broncodilatadora. É o agente de escolha para indução intravenosa na presença de broncospasmo. Efeitos adversos: Promove aumento da PIC, devendo, assim, ser evitada como agente único para indução anestésica de pacientes com hipertensão intracraniana. Promove aumento da pressão intraocular, estando contraindicada em pacientes com lesão ocular aberta. Está contraindicada como agente único em pacientes com doença coronariana isquêmica e aneurismas vasculares devido aos seus efeitos simpatomiméticos. Não deve ser usada em pacientes portadoresde doenças psiquiátricas, como esquizofrenia, devido aos efeitos psicomiméticos. É o agente mais empregado para indução anestésica, sendo insolúvel em água. Devido ao risco de crescimento bacteriano, a técnica estéril de uso é fundamental, assim como a utilização com no máximo 6 horas após a abertura do frasco. As formulações com glicerol associam-se à dor durante a injeção. Apresenta rápido início de ação. O despertar após injeção única também é rápido (2-8 minutos). O rápido metabolismo (clearance plasmático eficiente), em conjunto com a sua lenta redistribuição dos compartimentos pouco perfundidos de volta ao compartimento central, faz do propofol uma ótima opção para a manutenção intravenosa contínua. A meia-vida contexto-dependente do propofol é curta mesmo após a infusão prolongada, fazendo o despertar permanecer rápido. Sua ação se dá por meio da potencialização dos receptores GABA-A. A dor à injeção é uma queixa comum e pode ser atenuada com administração prévia de um opioide ou coadministração de 50 a 100 mg de lidocaína IV. Indicações: Indução anestésica: ▪ Doses de 1-2,5 mg/kg, IV, são utilizadas para a indução da anestesia geral. ▪ O aumento de idade, a redução da reserva cardiovascular ou a pré-medicação com BZDs ou opioides reduzem a dose necessária. ▪ Crianças precisam de doses maiores (2,5-3,5 mg/kg, IV). Manutenção anestésica: 100-200 µg/kg/min Sedação: 25-75 µg/kg/min Antiemético: 10-20 mg, IV, ou 10 µg/kg/min em infusão contínua Efeitos no SNC: Age como hipnótico e não apresenta propriedades analgésicas. Reduz a PIC. Efeitos no SCV: O propofol é o agente que induz maior queda da PA dentre os agentes indutores, e promove intensa vasodilatação, tanto venosa como arterial, levando à redução da pré e pós-carga, além de depressão miocárdica. Pode levar à hipotensão profunda, principalmente em idosos com depleção do volume intravascular. Efeitos no sistema respiratório: É um depressor respiratório potente, promovendo apneia após a dose de indução. Os opioides desempenham um papel fundamental na prática médica e seguem sendo o pilar fundamental do manejo da dor. Produzem analgesia sem perda da sensação de toque, da propriocepção ou da consciência. São fármacos que inibem diretamente a transmissão ascendente da informação nociceptiva e ativam circuitos de controle de dor descendentes que atuam em nível medular. São classificados em: Naturais: morfina, codeína, papaverina; Semissintéticos: heroína, diamorfina, buprenorfina. São produzidos pela modificação da molécula de morfina; Sintéticos: fentanil, sufentanil, alfentanil, remifentanil, meperidina, metadona, entre outros. São manufaturados por síntese em vez de modificação química da morfina. É possível também classificar os opioides como agonistas, agonistas-antagonistas e antagonistas de acordo com o tipo de interação com o receptor. Tanto os agonistas como os antagonistas ligam-se no receptor, mas somente os agonistas são capazes de promover ativação. Após a administração, os opioides dissociam-se em fração ionizada e não ionizada em uma proporção que depende do pH do meio e do pKa do opioide. A fração não ionizada é mais difusível que a ionizada. A elevada lipossolubilidade dos opioides facilita a sua passagem para o sítio efetor e, assim, quanto maior a lipossolubilidade do fármaco, mais rápido o início de ação. Os opioides são agentes versáteis e podem ser administrados por diversas vias, como intravenosa (IV), intramuscular (IM), subcutânea (SC), transdérmica e neuroaxial. Meia vida contexto-dependente: o tempo necessário para que a concentração plasmática do fármaco caia em 50% após o término da infusão contínua. Constante (Ke0): É uma constante de velocidade de equilíbrio e corresponde a velocidade na qual um fármaco deixa o compartimento central e entra no compartimento de ação (biofase). Quanto maior o Ke0, maior a velocidade de entrada de um fármaco no compartimento de ação. Agem como agonistas em receptores pré e pós- sinápticos no sistema nervoso central (SNC), principalmente no tronco (substância cinzenta periaquedutal) e na medula espinal (substância gelatinosa). A ativação dos receptores opioides leva à inibição da liberação pré-sináptica de neurotransmissores excitatórios, como a acetilcolina e a substância P, e da resposta pós-sináptica a esses neurotransmissores. Os receptores opioides são ativados por três peptídeos endógenos, conhecidos como encefalinas, endorfinas e dinorfinas. Os opioides simulam a ação desses ligantes endógenos e resultam em ativação da via moduladora da dor (sistema antinociceptivo). Diferentemente dos anestésicos locais, os opioides não alteram a responsividade das terminações nervosas ao estímulo nem promovem bloqueio da condução dos impulsos ao longo dos nervos periféricos. A afinidade da maioria dos agonistas opioides com o receptor correlaciona-se com sua potência analgésica. Os receptores opioides podem ser divididos em três famílias principais, chamadas de mi (μ), kappa (κ) e delta (δ). Receptores μ o São os principais responsáveis pela analgesia supraespinal e espinal. o A ativação da subpopulação μ1 é responsável pela analgesia, enquanto os subtipos μ 2 são responsáveis pela hipoventilação, bradicardia e dependência física. o A depressão respiratória, de ocorrência muito comum com receptores μ, é de menor intensidade com os receptores κ, embora a euforia seja mais frequente. Receptores κ o A ativação dos receptores κ resulta em inibição da liberação de neurotransmissores via canal de cálcio tipo N. o Os receptores κ também promovem analgesia, porém menos efetiva para o tratamento da dor intensa do que a promovida pelos receptores μ. Em humanos, os opioides produzem analgesia, sedação, náuseas, alteração de humor e confusão mental. Apesar de causarem sedação, não promovem perda de consciência e não podem ser usados isoladamente como indutores. Para a adequada prescrição dos opioides, é importante diferenciar a dor nociceptiva (transmitida por vias de dor intactas) da dor neuropática (lesão das estruturas neurais que transmitem a dor). A dor nociceptiva responde bem aos opioides, mas a dor neuropática, além de não ter boa resposta, só responde a altas doses. Os agonistas μ são mais efetivos no tratamento das sensações transmitidas pelas fibras lentas do tipo C não mielinizadas (dor visceral) e menos efetivos no tratamento do estímulo transmitido pelas fibras rápidas A-δ (dor somática). Os efeitos colaterais, assim como o efeito clínico dos opioides, têm variabilidade interindividual e podem ser revertidos com a naloxona. Sistema cardiovascular A maioria dos opioides reduz o tônus simpático e aumenta o tônus parassimpático; De forma geral, mesmo em altas doses não causam depressão miocárdica ou hipotensão em pacientes normovolêmicos. Os opioides que liberam histamina podem reduzir os níveis pressóricos; A combinação de opioides com outros anestésicos pode promover depressão cardiovascular; Pacientes que estão depletados ou que dependem de alto tônus simpático para manter a função cardiovascular estão predispostos à hipotensão com o uso de opioides; Ocorre bradicardia por estímulo de núcleo vagal central; Não têm efeito significativo na circulação e no metabolismo coronariano. Liberação de histamina A incidência e a gravidade da liberação de histamina e a hipotensão associada são variáveis; A histamina causa dilatação das arteríolas terminais e efeitos cardíacos diretos; A hipotensão pode ser minimizada por injeção lenta e otimização do volume intravascular; A pré-medicaçãocom antagonistas dos receptores H1 e H2, embora não impeça a liberação de histamina, consegue prevenir a queda da pressão e da resistência vascular sistêmica; Meperidina, fentanil, alfentanil e remifentanil não liberam histamina, e a hipotensão com esses opioides é menos comum. Ventilação Promovem depressão dose-dependente da ventilação por efeito direto nos centros respiratórios do tronco encefálico; São efetivos em reduzir a hiperventilação causada por dor ou ansiedade via redução da dor e do drive ventilatório central; Altas doses de opioides resultam em apneia, mas o paciente permanece consciente e capaz de iniciar a ventilação se for estimulado; A naloxona é o tratamento-padrão para a depressão respiratória. Fatores que aumentam o risco de depressão respiratória Altas doses, sono, idade avançada, uso de depressores do sistema nervoso central (álcool, barbitúricos, benzodiazepínicos), insuficiência renal, acidose respiratória, clearance hepático reduzido. Sistema nervoso central Em geral, reduzem de forma modesta o consumo de oxigênio, o fluxo sanguíneo cerebral e a pressão intracraniana (PIC); Não são capazes de produzir irresponsividade e amnésia mesmo das altas doses. Efeito antitussígeno A inibição da tosse é uma ação bem conhecida dos opioides e tem origem central, principalmente com a codeína; A injeção rápida de opioides durante a indução anestésica pode precipitar a tosse; Reduzem a reatividade da via aérea superior e os reflexos respiratórios inferiores, facilitando a intubação orotraqueal. Rigidez muscular Podem aumentar o tônus muscular e causar rigidez; A rigidez da musculatura esquelética, especialmente torácica e abdominal, é comum quando grandes doses intravenosas são administradas rapidamente; O tratamento pode ser realizado com a administração de bloqueadores neuromusculares (BNMs) ou antagonistas opioides. Trato biliar Ocorre aumento do tônus da musculatura lisa da vesícula biliar e do esfincter de Oddi (espasmo biliar) de forma dose-dependente; Trato gastrointestinal Ocorrem constipação e retardo no esvaziamento gástrico; A metilnaltrexona, derivada da naloxona, que não cruza a barreira hematencefálica, consegue reduzir ou prevenir a constipação sem reverter a analgesia. Náuseas e vômitos Promovem estimulação direta (dopaminérgica) da zona-gatilho quimiorreceptora no assoalho do quarto ventrículo, causando náuseas e vômitos; Quando comparados em doses equipotentes, fentanil, sufentanil e alfentanil apresentam menor incidência de náuseas e vômitos pós- operatórios do que a morfina. Trato geniturinário Promovem inibição dos reflexos de micção resultando em retenção urinária, especialmente quando administrados na via espinal. Prurido A liberação de histamina não é responsável pelo prurido dos opioides; As alterações cutâneas como eritema de face, pescoço e tórax superior ocorrem por vasodilatação. Curtos períodos de administração de opioides resultam em analgesia e efeitos colaterais, enquanto a tolerância e a dependência ocorrem após longos períodos de exposição. Tolerância É definida como a necessidade de doses maiores para a produção do mesmo efeito farmacológico por dessensibilizarão da via nociceptiva. Clinicamente, apresenta-se como redução da potência da medicação, que melhora com o aumento da dose ou com a troca por outro opioide. Dependência A dependência física é uma adaptação do corpo à presença do opioide em um período de algumas semanas. Se o opioide for interrompido abruptamente, sintomas de abstinência podem ocorrer. A dependência não se desenvolve com os antagonistas e é menos comum com agonistas- antagonistas. Os sintomas de abstinência incluem diaforese e lacrimejamento, cólicas abdominais, náuseas, vômitos e diarreia. A dependência psicológica é caracterizada por comportamento compulsivo da busca da substância para propósitos não médicos. Hiperalgesia induzida por opioides (HIO) Corresponde ao aumento da sensibilidade à dor causada por exposição ao opioide. Em contraste com a tolerância, a hiperalgesia indica uma resposta aumentada a um estímulo normalmente não doloroso. Três mecanismos têm sido propostos para explicar a HIO: ativação NMDA, aumento da liberação de neuropeptídeos excitatórios e facilitação das vias nociceptivas. Pode ocorrer tanto com o uso crônico quanto com o uso agudo. A HIO deve ser considerada quando o aumento repetido da dose falha em promover efeito analgésico, provoca exacerbação da dor ou diminui o efeito do opioide de forma inexplicável. Morfina É um opioide natural que atua como agonista puro, sendo considerado um opioide forte. Sua baixa lipossolubilidade limita sua movimentação transmembrana, tornando seu início de ação lento (10 minutos após injeção IV). Após administração intravenosa, sofre rápida redistribuição, cerca de 1,5 a 4 minutos, porém sua meia-vida de eliminação fica em torno de 3 horas. Propriedades clínicas: É um analgésico potente com ação sedativa e ansiolítica, podendo provocar euforia e disforia; Causa depressão ventilatória dose-dependente pela redução da responsividade do centro respiratório ao CO2; Reduz o reflexo de tosse por efeito no centro medular da tosse; Provoca liberação de histamina com vasodilatação periférica, por mecanismo provavelmente diferente dos receptores µ; Tem mínimos efeitos cardiovasculares, embora a redução do tônus simpático e a liberação de histamina possam causar hipotensão, especialmente em pacientes criticamente doentes; Possui efeitos no sistema gastrintestinal comuns a outros opioides. Via Dose Inidicações/particularidasdes IV • Bolus: 0,05-0,2 mg/kg • Infusão contínua: 0,01-0,03 mg/kg/h • PCA (analgesia contorlada pelo paciente): 0,5-2 mg, em intervalos de 6-10 min • Dor aguda; • PCA; • Sedação/analgesia contínua. SC • 0,05-0,2 mg/kg • Início de ação mais lento e efeito mais prolongado que por via IV Neuroaxial • Espinal: 0,1-0,3 mg • Peridural: 1-5 mg, dose única, podendo ser repetida a cada 18-24 h, via cateter peridural • Analgesia pós-operatória • Efeito prolongado (18-22 h) e início de ação lento (30-60 min) • Risco de depressão respiratória tardia (12 h após) VO • 15-60 mg, a cada 4-6 h • No caso de cápsulas de liberação prolongada, intervalo de 12-24 h • Forma de uso preferencial na dor crônica • Biodisponibilidade oral entre 10-45% • 30 mg VO equivale a 10 mg parenteral Fentanil É um opioide sintético, agonista puro, com potência 75-100 vezes superior à da morfina. É um dos opioides mais utilizados na prática anestésica. É altamente lipossolúvel, portanto, com rápido início de ação (cerca de 30 segundos), atingindo equilíbrio entre plasma e sítio efetor aproximadamente em 6 minutos. Sofre rápida redistribuição para tecidos inativos (músculo e gordura), com término de efeito rápido; contudo, com doses repetidas ou em infusão contínua, ocorre saturação dos tecidos e prolongamento progressivo do tempo de ação. É um dos opioides ideais em pacientes com insuficiência renal crônica. Possui meia-vida de eliminação de 3 a 4 horas após dose única e de até 12 horas com doses repetidas ou em infusão contínua. Propriedades clínicas: Não causa liberação de histamina; Mantém a estabilidade cardiovascular mesmo em altas doses, embora possa causar instabilidade hemodinâmica quando associado a outros fármacos depressores, como benzodiazepínicos; Reduz a frequência cardíaca e pode causar hipotensão em pacientes cujo débito cardíaco depende dela, como, por exemplo, em neonatos; Tem potencial para causar rigidez torácica e risco de depressão ventilatóriadevido à alta potência; Pode desencadear mioclonias sem atividade convulsivante na indução; Tem intensidade de prurido equivalente a de outros opioides; Apresenta efeito antitussígeno. Via Dose Particularidades IV • Indução anestésica: 2-6 µg/kg • Manutenção anestésica: bólus repetidos de 25-50 µg, a cada 15-30 min, ou infusão de 0,5-5 µg/kg/h • Pequenos procedimentos: 1-3 µg/kg • Pré-medicação: 25-50 µg • Anestesia baseada em altas doses de opioide: 5- 75 µg/kg, seguidos de infusão de 0,1-1 µg/kg/min • Deve ser administrado 3-5 min antes da laringoscopia, devido a seu Ke0 • Pode ser usado em PCA Neuroeixo • Peridural em dose única: 50-100 µg • Espinal: 5-25 µg • Efeito possivelmente sistêmico • A diluição em 10 mL de soro fisiológico para a injeção peridural prolonga o efeito • Rápido início de ação (5-10 min) e duração curta (2-4 h) Alfentanil É um análogo do fentanil, porém 5 a 10 vezes menos potente. Apresenta pKa baixo (6,5) e, assim, apresenta-se 90% não ionizado em pH fisiológico, o que determina um início de ação mais rápido que o do fentanil. Apresenta alto grau de ligação proteica e menor lipossolubilidade, resultando em volume de distribuição menor do que o fentanil e meia-vida de eliminação mais curta. Assim como os demais opioides lipossolúveis, o término de ação se dá pela redistribuição para os tecidos, porém, no caso do alfentanil, a rápida eliminação também exerce um importante papel. Propriedades clínicas: Apresenta rápido início e término de ação. É o opioide ideal para estímulos nociceptivos breves, como laringoscopia ou indução do tipo sequência rápida; Tem grande variação interpessoal no clearance; Possui meia-vida de eliminação prolongada em pacientes com falência hepática, idosos e obesos. Não se altera na insuficiência renal; Pode ser usado via peridural, com efeito predominantemente sistêmico e aparentemente sem benefício de analgesia sobre a administração IV. Indicação Dose Pequenos procedimentos Muito rápidos ou sedação: 8-20 μg/kg (doses suplementares de 3-5 μg/kg a cada 5-20 min, ou infusão contínua de 0,5-1 μg/kg/min) Outros procedimentos: 5-15 µg/kg, a cada 5-20 min Procedimentos maiores 50-75 μg/kg (doses suplementares de 5-15 μg/kg a cada 5-20 min, ou infusão contínua de 0,5-3 μg/kg/min) Sulfentanil É um opioide sintético com potência analgésica de 1.000 vezes a da morfina e de 5 a 10 vezes a do fentanil, sendo o opioide mais potente disponível. Altamente lipossolúvel, passa rapidamente a barreira hematencefálica, tendo início de ação, distribuição tecidual e término do efeito rápidos e similares aos do fentanil. Propriedades clínicas: Apresenta perfil farmacológico similar ao do fentanil, com analgesia mais prolongada e menos depressão respiratória em doses equivalentes; Mantém a estabilidade hemodinâmica mesmo em altas doses, podendo, contudo, causar bradicardia; É muito utilizado por via espinal durante a analgesia de parto. Via Dose IV Indução: 0,3-1 µg /kg Manutenção: bólus de 0,1-0,25 µg/kg, conforme necessidade, ou infusão contínua de 0,5-1,5 µg/kg/h Peridural 10-50 µg Espinal 2-10 µg Remifentanil É um opioide sintético, agonista puro com potência semelhante à do fentanil. Sua principal característica é a presença de um grupo éster funcional que o torna suscetível à hidrólise por esterases plasmáticas e teciduais não específicas, fazendo seu término de ação ocorrer principalmente por eliminação (10-20 minutos), e não devido à redistribuição como os demais opioides. Tal propriedade faz o remifentanil não acumular em infusão contínua, com uma meia-vida contexto- dependente de cerca de 4 minutos, independentemente do tempo de infusão. Propriedades clínicas: É ideal para procedimentos longos ou que requerem a combinação de altas doses de opioides e rápido despertar; Apresenta fácil titulação no transoperatório (rápido equilíbrio plasma-cérebro); Não promove analgesia pós-operatória, sendo necessária administração de outra medicação para esse fim após a interrupção da infusão; Pode desencadear hiperalgesia após suspensão. Antagonistas do receptor NMDA como cetamina (mesmo em baixas doses) reduzem esse efeito, sugerindo mecanismo relacionado à alteração desses receptores; É uma alternativa para analgesia de trabalho de parto (infusão contínua ou PCA) pela rápida ação e eliminação, com menor risco de depressão fetal, porém é menos efetivo que técnicas de neuroeixo e apresenta risco de depressão respiratória materna. Indicação Dose Indução 1 µg/kg em 60-90 s ou 0,5-1 µg/kg/min em 10 minutos antes do agente hipnótico Manutenção 0,05-2 µg/kg/min Sedação 0,05-0,1 µg/kg min Trabalho de parto Infusão: 0,05-0,1 µg/kg/min ou PCA: 0,4 µg/kg com bloqueio de 1-5 min ou infusão contínua de 0,05 µg/kg/min + bólus de 25 µg com bloqueio de 5 minutos
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