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1 Stephane D’arc – Mód Proliferação Celular Neoplasias Pré-malignas e Malignas Introdução Cinquenta anos atrás, o carcinoma do colo uterino era a principal causa de morte por câncer em mulheres nos Estados Unidos, porém a taxa de mortalidade declinou em dois terços até a sua classificação atual como oitava causa de mortalidade por câncer. Em um contraste agudo com esta mortalidade reduzida, a frequência de detecção de casos precoces de lesões cancerosas e pré-cancerosas é elevada. Ai você deve provavelmente perguntar o porquê.. A resposta é justamente a eficácia do teste Papanicolau para detectar lesões pré-cancerosas cervicais e a acessibilidade do colo uterino à colposcopia (exame visual do colo uterino com uma lente de aumento) e biópsia. Embora haja uma estimativa de 11.000 novos casos de câncer cervical invasivo nos Estados Unidos anualmente, há quase 1 milhão de lesões pré- cancerosas de graus variados que são descobertas anualmente por exames citológicos. Portanto, é evidente que a triagem por esfregaço de Papanicolaou não apenas aumentou a detecção de cânceres de baixo estágio potencialmente curáveis, mas também permitiu a detecção e erradicação de lesões pré-invasivas, algumas que teriam progredido para câncer se não fossem descobertas e tratadas . Patogenia A patogenia do carcinoma cervical foi delineada por uma série de estudos epidemiológicos, clinico-patológicos e de genética molecular. Os dados epidemiológicos implicaram há muito tempo um agente sexualmente transmitido, que atualmente é estabelecido como o HPV. HPV - Os HPVs são vírus DNA que são tipificados com base em sua sequência de DNA e subagrupados em tipos de alto e baixo risco oncogênico. Estudamos isso no pinesc – Hpv baixo risco (causa verrugas, ou melhor, candiloma. Essas localizam-se na região vulvar, perineal e perianal.Os tipos que estão mais relacionados com hpv de baixo risco são Hpv-6 e Hpv-11. Quando falamos do Hpv de alto risco temos 15 subtipos atrelado, contudo do ponto de vista cervical, o hpv-16 e hpv- 18 são os mais importantes e prováveis de causarem câncer do colo de útero. O HPV 16 isoladamente responde por quase 60% dos casos de câncer cervical. o HPV 18 responde pelos outros 10% dos casos; outros tipos de HPV contribuem para menos de 5% dos casos individualmente. Fatores de Risco Os fatores de risco para câncer cervical estão relacionados a características tanto do hospedeiro quanto do vírus, como exposição ao HPV, oncogenicidade viral, ineficiência da resposta imunológica e presença de cocarcinógenos. Estes incluem: 1. Múltiplos parceiros sexuais. 2. Parceiro do sexo masculino com múltiplas parceiras sexuais prévias ou atuais. 3. Idade precoce na primeira relação sexual. 4. Alta paridade. 5. Infecção persistente por um HPV de alto risco oncogênico, por exemplo, HPV 16 ou HPV18. 6. Imunossupressão. 7. Certos subtipos de HLA. 8. Uso de contraceptivos orais. 9. Uso de nicotina. As infecções genitais por HPV são extremamente comuns; a maioria é assintomática e não causa qualquer alteração do tecido, consequentemente não sendo detectadas no teste de Papanicolau. Nessa figura temos a prevalência do Hpv de acordo com a idade. O alto pico de prevalência de HPV que ocorre na faixa etária ao redor dos 20 anos está relacionado ao início da vida sexual, enquanto a subsequente diminuição na prevalência reflete a aquisição de imunidade e relações monogâmicas. 2 Stephane D’arc – Mód Proliferação Celular A maioria das infecções por HPV é transitória e eliminada pela resposta imunológica no decorrer de meses. (é justamente por isso que não fazemos rastreio em mulheres abaixo de 25 anos). Em média, 50% das infecções por HPV são eliminadas dentro de 8 meses e 90% são eliminadas dentro de 2 anos.A duração da infecção está relacionada ao tipo de HPV; em média, infecções por HPVs de alto risco oncogênico duram mais tempo que as HPVs de baixo risco oncogênico. A infecção persistente aumenta o risco de desenvolvimento de pré-câncer cervical e em seguida carcinoma. HPVs infectam as células basais imaturas do epitélio escamoso em áreas de ruptura epitelial ou células escamosas metaplásicas imaturas presentes na junção escamocolunar. ( olhar a imagem). Obs: Os HPVs não infectam as células superficiais escamosas maduras que cobrem o ectocérvix, a vagina ou a vulva. A infecção por HPV nestes locais requer lesão do epitélio superficial, permitindo o acesso do vírus às células imaturas da camada basal do epitélio. O colo uterino, com suas áreas relativamente grandes de epitélio metaplásico escamoso imaturo, é mais vulnerável à infecção por HPV quando comparado, por exemplo, com a pele e a mucosa da vulva, que são cobertas por células escamosas maduras. Esta diferença na suscetibilidade epitelial à infecção por HPV explica a acentuada diferença na incidência de cânceres relacionados a HPV originados em diferentes locais, e explica a alta frequência de câncer cervical em mulheres ou câncer anal em homens homossexuais e a frequência relativamente baixa de câncer vulvar e peniano. Embora o vírus possa infectar apenas as células escamosas imaturas, a replicação de HPV ocorre nas células escamosas em maturação resultando em um efeito citopático, “atipia coilocítica” que consiste em atipia nuclear e um halo citoplasmático perinuclear. Para que ocorra a replicação, o HPV precisa induzir a síntese de DNA nas células hospedeiras. Uma vez que o HPV se replica em células escamosas em maturação e não proliferativas, ele deve reativar o ciclo mitótico nestas células. Estudos demonstraram que o HPV ativa o ciclo celular interferindo com a função de Rb e p53, dois importantes genes supressores de tumor. Temos duas proteínas virais E6 e E7 que são críticas no efeito oncogênico do Hpv. Eles podem: promover o ciclo celular pela ligação a RB e suprarregulação de ciclina E (E7); interromper as vias de morte celular pela ligação a p53 (E6); induzir a duplicação de centrossomos e a instabilidade genômica (E6, E7); prevenir a senescência replicativa pela suprarregulação da telomerase (E6) O E6 do HPV induz a degradação rápida de p53 por proteólise dependente de ubiquitina, reduzindo os níveis de p53 em duas a três vezes. O E7 forma complexo com a forma hipofosforilada (ativa) de RB, promovendo sua proteólise pela via proteossômica. Uma vez que o RB hipofosforilado normalmente inibe a entrada na fase S pela ligação ao fator de transcrição de E2F. Os dois oncogenes virais cooperam para promover a síntese de DNA ao mesmo tempo que interrompem a parada de crescimento mediada por p53 e a apoptose de células geneticamente alteradas. Consequentemente, os oncogenes virais são críticos para prolongar o ciclo de vida de células epiteliais – um componente necessário para o desenvolvimento do tumor. Obs. O estado físico do vírus vai ser diferente nas lesões. Por exemplo, ele estará integrado ao DNA do hospedeiro no câncer e presente como DNA viral livre nos condilomas e na maioria das lesões pré-cancerosas. Neoplasia Intraepitelial Cervical A classificação de lesões pré-cancerosas cervicais evoluiu ao longo do tempo. p53 é um gene supressor tumoral, que codifica uma fosfoproteína nuclear que desempenha um papel importante no controle do ciclo celular, no reparo do DNA e na indução da apoptose 3 Stephane D’arc – Mód Proliferação Celular O sistema de classificação antigo classificava lesões como apresentando displasia leve em uma extremidade e displasia grave/carcinoma in situ na outra. Isto foi seguido pela classificação de neoplasia intraepitelial cervical (CIN), com a displasia leve chamada de CIN I, a displasia moderada de CIN II, e a displasia grave chamadade CIN III. Houve uma mudança e de três níveis foi recentemente para um sistema de dois níveis, com CIN I renomeada para lesão intraepitelial escamosa de baixo grau (LSIL) e CIN II e CIN III combinadas em uma categoria citada como lesão intraepitelial escamosa de alto grau (HSIL) (Laís sabe tudooooo, tudooo disso aqui). LSILs estão associadas à infecção produtiva por HPV, mas não existem rupturas ou alterações significativas do ciclo da célula hospedeira. A maioria das LSILs regride espontaneamente, com apenas pequena porcentagem progredindo para HSIL. LSIL não progride diretamente para carcinoma invasivo Não é tratada como lesão pré-maligna. Na HSIL, ocorre uma desregulação progressiva do ciclo celular pelo HPV, que resulta em aumento da proliferação celular, diminuição ou parada da maturação epitelial e uma menor taxa de replicação viral, em comparação a LSIL A figura acima ilustra alterações morfológicas que varia de normal a displasia de alto grau. O diagnóstico de SIL se baseia na identificação de atipia nuclear caracterizada por aumento nuclear, hipercromasia (coloração escura), presença de grânulos grosseiros de cromatina e variação dos tamanhos e formas nucleares. As alterações nucleares podem ser acompanhadas por halos citoplasmáticos indicativos de ruptura do citoesqueleto antes da liberação do vírus para o meio ambiente. As alterações nucleares e o halo perinuclear são chamados de atipia coilocítica A classificação de SIL embaixo ou alto grau se baseia na expansão da camada de células imaturas a partir de sua localização basal normal. Se as células escamosas atípicas imaturas estiverem confinadas ao terço inferior do epitélio, a lesão é classificada como LSIL; se houver expansão para dois terços da espessura epitelial, é classificada como HSIL. Referência: Robbins 8ed. Neoplasia
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