Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
1 FUNDAÇÃO ESPERANÇA INSTITUTO ESPERANÇA DE ENSINO SUPERIOR – IESPES PÓS GRADUAÇÃO EM TRAUMATO ORTOPEDIA COM ÊNFASE EM TERAPIA MANUAL SANTARÉM/PA 2021 FISIOTERAPIA NAS DISFUNÇÕES DOS MEMBROS SUPERIORES FIAIOTERAPIA APLICADA AS DISFUNÇÕES DOS MEMBROS SUPERIOREES Profª Melina Laíse Nascimento dos Santos 2 SEMIOLOGIA ORTOPÉDICA No Sistema Musculoesquelético pode-se avaliar diversos aspectos. A avaliação funcional é sempre iniciada pela anamnese completa, além disso, o exame físico completo (inspeção, palpação e demais observações). Dentro do exame físico pode-se incluir a avaliação da força muscular, avaliação neuromuscular (testes de equilíbrio, reflexo tendinoso profundo, sensibilidade de cada dermátomo, monitorização de pulso e pressão arterial), amplitude de movimento (ADM), testes especiais, avaliação da dor, avaliação postural, testes funcionais (movimentos específicos) e avaliação da marcha. A partir da avaliação, o fisioterapeuta irá definir o diagnóstico funcional, os objetivos do tratamento (protocolo de tratamento), selecionar métodos terapêuticos adequados a serem postos em prática (conduta) e o prognóstico. A reavaliação sistemática do paciente também é fundamental pois permite uma análise do desempenho do paciente e da eficácia do tratamento proposto. 3 ⁃ ANAMNESE: IDENTIFICAÇÃO DO PACIENTE: A anamnese se inicia pela identificação do paciente, preenchendo-se a ficha com todos os dados necessários: nome, idade, gênero, profissão/ocupação, diagnóstico clínico, dentre outros. QUEIXA PRINCIPAL: Condição, sintoma, sinal ou disfunção que levou o paciente ao consultório Fisioterapêutico. É o que mais incomoda o paciente, ou seja, sua preocupação primária. Deve ser breve e preferencialmente escrito com as próprias palavras do pacientes, entre aspas. HISTÓRIA DA DOENÇA ATUAL: Descritivo; Detalhista; Cronológico (início, meio e fim); Como e quando começaram os sintomas ou sinais? Como se deu a evolução da doença? Períodos de crise ou abolição dos sintoma ou sinais? Tratamentos já realizados? Sucesso ou fracasso? Condição atual? HISTÓRIA DA DOENÇA PREGRESSA: Relacionadas ou que podem ter influência sobre o problema atual; Anotar períodos de ocorrência; Anotar seqüelas ou permanência de sintomas. HISTÓRIA DA DOENÇA FAMILIAR: Relacionadas ou que podem ter influência sobre o problema atual; Anotar grau de parentescos. ROTINA PROFISSIONAL: Horas de trabalho/dia; Posturas desempenhadas; Sinais e sintomas durante as atividades. CONDIÇÕES CO-MÓRBIDAS: Patologias ou disfunções crônicas; Anotar medicações em uso. HÁBITOS SOCIAIS: Rotinas diárias, semanais ou mensais. Hábitos de Etilismo, Tabagismo, Drogas Ilícitas. IMPRESSÃO PSICOLÓGICA: Variação de Humor, Nível de sociabilidade, Grau de concentração ⁃ EXAME FÍSICO: SINAIS VITAIS: Temperatura, Pressão Arterial (P.A.), Pulso, Freqüência cardíaca, Freqüência respiratória INSPEÇÃO: Integridade da pele, Coloração da pele e mucosas, Trofismo muscular, Distribuição pilosa, Zonas de sudorese, Deformidades, Cicatrizes, Sinais. 4 PALPAÇÃO: Temperatura, Tônus muscular, Presença de bloqueios ou limitações, Avaliação de edema, Pontos dolorosos. ANÁLISE ARTICULAR: Amplitude de movimento (A.D.M.) passiva e ativa (goniometria) EXAME NEUROLÓGICO: - Sensibilidade de cada dermátomo - Reflexo tendinoso profundo - Força muscular TESTES ESPECÍFICOS: Avaliação Traumatoortopédica: -Testes Ortopédicos - Osteomioarticulares e ligamentares. - EXAMES COMPLEMENTARES: - Raio X - Tomografia Computadorizada - Ressonância Magnética - Ultra-sonografia 5 LESÕES TRAUMATO-ORTOPÉDICAS LESÕES ÓSSEAS: FRATURAS Fratura é uma lesão traumática que acontece quando uma carga de alta magnitude é imposta ao osso, resultando na perda da mobilidade e do suporte ósseo e em dor. A fratura ocorre quando as forças aplicadas no osso são superiores ao que ele consegue suportar, principalmente em situações de quedas, pancadas e/ou traumas. Juntamente à perda de continuidade óssea, ocorre ruptura de vasos sanguíneos e lesão de tecidos moles próximos ao local da fratura. Os ossos, partes fundamentais do corpo humano, estão sujeitos a diversos tipos de fraturas, que costumam ocorrer quando sofrem uma força que não são capazes de absorver. Para resolvê-las, foram desenvolvidos diferentes métodos, que vão desde talas, passando pela aplicação de parafusos até o uso de hastes e barras de metal. O osso é um tecido impressionante porque sua recuperação, quando há uma fratura, acontece pela formação de osso novo, fato que não ocorre nos outros tecidos. Fraturas ocorrem quando uma força imposta a um osso supera a sua capacidade de absorver essa carga. Elas podem acontecer por trauma direto, indireto ou lesão em rotação e podem ser fechadas, quando a fratura fica limitada ao interior do corpo, ou abertas (também conhecidas como fraturas expostas), quando uma parte do osso é exposto ao ambiente. As fraturas, além disso, são classificadas em transversas, oblíquas, em espiral, cominutiva ou avulsão (Figura 1). Após a lesão, há o processo de cicatrização, que pode ser dividido em quatro estágios principais: hematoma, calo mole, calo duro e remodelagem (Quadro 1). 6 Após a fratura, pode haver a necessidade de realinhar o osso. Essa técnica de reestabelecimento do alinhamento da fratura é chamada de redução e pode ser feita por meios abertos ou fechados. Caso a redução seja realizada e a possibilidade de deslocamento em seguida seja latente, essa situação é chamada de fratura instável. Nesse caso, a fratura instável deve ser estabilizada por meios fechados (gessos, talas) ou abertos (exposição da fratura por meio de cirurgia com subsequente fixação interna ou externa). Normalmente, as talas são feitas de gesso e são usadas por um curto período de tempo quando o edema é preocupante e a síndrome compartimental é uma possibilidade. A consolidação óssea demanda condições mecânicas e biológicas, como: aporte sanguíneo, estímulo hormonal e imobilização. Para prover essas condições, pode ser necessária a fixação cirúrgica, que pode ser interna ou externa. Nas fixações internas, são utilizados: parafusos, que é a forma mais comum e simples de fixação — os parafusos podem ser usados isolados ou fixando uma placa óssea; hastes de titânio e aço inoxidável, que são utilizadas de forma intramedular; placa óssea, barra de metal com perfurações para a inserção de parafusos. Já as fixações externas têm uma estrutura externa na qual os pinos, que são posicionados em pontos proximais e distais da fratura, são fixados para estabilizar a fratura. São utilizadas frequentemente nas fraturas expostas ou nas fraturas cominutivas. 7 LESÕES ARTICULARES E DE TECIDOS MOLES ⁃ LUXAÇÃO: É a perda da continuidade (total) do contato de um dos ossos que constitui a articulação. Normalmente por trauma intempestivo. ⁃ SUB-LUXAÇÃO: É a perda da continuidade parcial do contato de um dos ossos que constitui a articulação. ⁃ ENTORSE: Movimento por estresse além de sua ADM normal, levando à lesão do ligamento de uma determinada articulação, encontrando como sinais e sintomas a dor, inchaço e uma incapacidade para a movimentação. ⁃ ESTIRAMENTO: Se caracteriza pelo alongamento excessivo, acima dos limites normais, das fibras musculares. ⁃ DISTENSÃO: Se caracteriza pelo alongamento excessivo, acima dos limites normais, do tendão ou da junção músculo-tendínea. ⁃ CONTUSÃO: É causado por um trauma/batida/queda/força compressiva em um tecido mole, causando a ruptura de vasos sanguíneos. 8 DISTÚRBIOS/AFECÇÕES DO MEMBRO SUPERIOR: AVALIAÇÃO ETRATAMENTO – OMBRO O êxito de um tratamento fisioterapêutico depende fundamentalmente da correta avaliação e da identificação de distúrbios. O ombro é uma estrutura complexa e com articulações de diferentes amplitudes de movimento. Por isso, a compreensão das estruturas anatômicas e funções desempenhadas por essas articulações é indispensável no planejamento de um tratamento. O complexo do ombro apresenta diferentes possibilidades de movimentos e também é a articulação mais móvel e instável do corpo humano (KENDALL et al., 1995). Além das funções de suporte e estabilização, dependemos de um ombro saudável para realizar as atividades do membro superior em sua totalidade. A seguir, veremos alguns dos principais distúrbios do ombro e técnicas fisioterapêuticas que podem ser utilizadas. Síndrome do Impacto do Ombro Ocorre quando há compressão das estruturas da região do ombro, sendo mais comumente encontrada a compressão anterior e superior das estruturas. Caracteriza-se por uma patologia inflamatória e degenerativa, geralmente resultado de uma compressão mecânica das estruturas que estão no espaço subacromial (METZKER, 2010). Esse impacto pode estar relacionado às compressões envolvendo o espaço subacromial ou coracoacromial, mas também é utilizado para definir compressões e/ou pinçamentos de qualquer outra estrutura do ombro (MAGEE, 2010). Qualquer pessoa está sujeita a esse distúrbio, que também é encontrado em atletas de arremesso ou esportes de contato. A fisioterapia é a principal escolha para tratamento nos casos de síndrome do impacto, inicialmente para controle da dor e redução de processos inflamatórios por meio de eletroterapia e crioterapia (10 a 20 minutos contínuos, dependendo da modalidade utilizada). No caso da eletroterapia, o ultrassom terapêutico é uma das indicações (1 MHz, modo pulsado, 3 a 5 minutos/área). A tração articular associada a manobras miofasciais e de alongamento passivos é indicada para o início do tratamento, assim como os exercícios pendulares de Codman. Posteriormente, devem ser incluídos exercícíos ativos para recuperação e ganho de força, sempre de maneira bilateral e funcional, buscando o equilíbrio das forças atuantes na cintura escapular (KISNER; COLBY, 2015). Deve-se iniciar com exercícios para alongamento do músculo supraespinhal e fortalecimento dos músculos do 9 manguito rotador, como o subscapular, o infraespinhal e o redondo menor. Os músculos trapézio, serrátil anterior e os romboides também devem ser fortalecidos, pois auxiliam na estabilidade da articulação (DUTTON, 2004). Lesões do manguito rotador e tendinites Tendinites são caracterizadas por inflamação nos tendões musculares que podem apresentar graus e comprometimentos variados e aparecer associadas a diferentes distúrbios do complexo do ombro, como, por exemplo, nas lesões do manguito rotador, o conjunto de quatro músculos que se originam na escápula e se inserem no úmero — redondo menor, supraespinhal, infraespinhal e subscapular — e estão envolvidos na estabilização e na movimentação escapuloumeral, envolvendo a porção superior do úmero (MAGEE, 2010). A lesão do manguito rotador é considerada multifatorial e pode ocorrer tanto por um trauma direto na região e por rupturas de tendão quanto por esforços repetitivos, tendinites e luxações, sendo um dos principais distúrbios do ombro (LECH; VALENZUELA NETO; SEVERO, 2000). É uma lesão muito encontrada em atletas, mas ocorre na população geral durante atividades da vida diária (AVDs) que associam movimentos como flexão e rotações repetidas ou com carga. O tratamento pode ser cirúrgico ou conservador, dependendo dos acometimentos causados e da extensão destes acometimentos. O principal sintoma relatado é dor, e muitos pacientes se queixam de dificuldade ou incapacidade de deitar sobre o lado acometido, sendo uma característica comumente presente em lesões do manguito (ANDRADE; CORREA FILHO; QUEIROZ, 2004). Durante o exame físico, o fisioterapeuta deve procurar por assimetrias e deformidades, sendo importante a verificação das ADMs dos ombros, pois, em geral, não são amplamente comprometidas quanto em outras lesões, como na capsulite adesiva, que veremos em seguida. Outro sinal característico nas lesões do manguito rotador é a crepitação articular durante a movimentação passiva, especialmente no movimento de rotação. Para a avaliação desse distúrbio, podem ser utilizados alguns dos testes específicos que vimos, como os testes de Neer, Hawkins e o Yocum, além de outros (ANDRADE; CORREA FILHO; QUEIROZ, 2004). O tratamento fisioterapêutico consiste primeiramente em analgesia. A crioterapia é uma técnica interessante tanto para ser realizada no local de atendimento quanto para orientar o paciente a fazer compressas em casa. Em seguida, faz-se trabalho de ganho de amplitude articular passiva seguido de alongamento dos músculos do manguito rotador dentro dos 10 limites que não causem dor ao paciente. O fisioterapeuta deve incluir no programa de tratamento exercícios ativos isométricos e também concêntricos para ganho de força do redondo menor, supra e infraespinhal, subscapular e deltoides, além de movimentos de consciência e estabilização escapular (ANDRADE; CORREA FILHO; QUEIROZ, 2004). Também pode ser incluída a terapia miofascial, o ultrassom (modo pulsado, 1MHz, 0,3- 1,0W/cm2 — (FARCIC et al., 2012), exercícios ativos e ativos resistidos com o auxílio do Theraband, especialmente para o trabalho de rotação do ombro (LECH; VALENZUELA NETO; SEVERO, 2000). Luxações e subluxações A glenoumeral é a articulação com maior mobilidade no corpo humano, o que lhe confere a característica de instabilidade articular. Essa instabilidade pode, entre outros distúrbios, acarretar luxação articular, que ocorre quando há um deslocamento ósseo de sua posição articular ideal. Um exemplo é a luxação anterior e posterior da glenoumeral, que ocorre quando a cabeça do úmero se desloca respectivamente para a frente ou para trás da glenoide, cavidade da escápula que se articula com a cabeça do úmero (KENDALL et al., 1995; MAGEE, 2010). Além de serem classificadas de acordo com a direção do deslocamento, as luxações de ombro também podem ser totais ou parciais. A subluxação (luxação parcial) ocorre quando a cabeça do úmero se desloca da glenoide e depois retorna à sua posição original. Já na luxação total, a cabeça do úmero se desloca completamente de sua posição e assim permanece. Causas comuns de luxação são sobrecargas e movimentações bruscas para a frente e para trás dos ombros, quedas, fraturas, como luxação anterior ou posterior e em atletas de esportes de contato (KENDALL et al., 1995). A fisioterapia em casos de luxação e subluxação deve priorizar o fortalecimento muscular, uma vez que costumam estar presentes nesses distúrbios frouxidão ligamentar, hipermobilidade e a própria fraqueza muscular. Uma vez que os ligamentos não são suficientes para estabilizar a articulação, exercícios posturais e de fortalecimento ativo resistido de todos os músculos do complexo do ombro e do tronco são necessários (KISNER; COLBY, 2015). 11 Capsulite adesiva A capsulite adesiva, popularmente conhecida como ombro congelado, é a inflamação da cápsula articular do ombro que causa edema, dor e perda da elasticidade. A limitação progressiva da função articular associada à dor caracteriza a capsulite adesiva. A cápsula articular do ombro é uma estrutura fl exível formada por colágeno. Nas fases iniciais de lesão, o paciente relata dor e, posteriormente, ocorre a fase restritiva de movimento ou congelamento (LECH; SUDBRACK; VALENZUELA NETO, 1993). Classicamente, a patologia se divide em três fases. Primeiro, a fase dolorosa, com aumento gradual da dor inclusive em repouso — a dor aguda pode estar presente em alguns movimentos. Em seguida,inicia-se a fase adesiva, com redução da dor e perda progressiva da ADM de movimento do ombro. A terceira e última fase são as de resolução, quando ocorre melhora na funcionalidade articular e, progressivamente, ausência de dor. Todo o processo de migração entre as fases varia, podendo levar anos até a completa resolução (LECH; SUDBRACK; VALENZUELA NETO, 1993). Nesses casos, o tratamento fisioterapêutico é fundamental para o alívio das dores e recuperação da função em menor tempo. A fisioterapia nos casos de capsulite adesiva de ombro costuma ser prolongada e com várias sessões semanais. Para a escolha do tratamento, leva-se em conta o estágio da lesão, e o foco inicial está em reduzir a dor do paciente. O segundo objetivo será aumentar o espaço articular e descomprimir as estruturas; para isso, poderão ser utilizadas técnicas como Kaltenborn, Maitilan e Mulligan para a promoção de mobilização passiva, ativa ou combinada. Exercícios pendulares de Codman e o fortalecimento isométrico são importantes para que o paciente ganhe consciência corporal e não sobrecarregue a articulação, assim como exercícios de fortalecimento concêntrico, excêntrico e resistidos, que devem ser utilizados logo que a dor e a sensação de congelamento articular diminuam. Nesse caso, prioriza-se inicialmente o fortalecimento dos músculos do manguito rotador e deltoide (KISNER; COLBY, 2015). Tendinite calcária A tendinite calcária se caracteriza por calcificação dos tendões. Sua etiologia não é totalmente conhecida, mas pode ocorrer devido ao acúmulo de cálcio nos tendões e também por uma redução da vascularização e hipoperfusão local, promovendo degeneração e calcificação. As mulheres fazem parte do grupo mais acometido, especialmente a partir dos 50 anos de idade (FERREIRA NETO et al., 2010; SANTOS et al., 2012). 12 A tendinite calcária pode ser classificada pela duração e pela gravidade dos sintomas em aguda, subaguda e crônica; quanto ao tamanho visualizado em exame de imagem, em pequena (< 0,5 cm), média (0,5 a 1,5 cm) e grande (maior do que 1,5 cm) ou até mesmo de acordo com características radiográfica (FERREIRA NETO et al., 2010). O tratamento médico prescrito, geralmente, inclui medicamentos analgésicos e anti- inflamatórios, podendo ter indicação cirúrgica para remoção da calcificação (FERREIRA NETO et al., 2010). A fisioterapia é extremamente importante e, no início, o principal objetivo é o alívio de dores. Resultados interessantes têm sido observados com o uso da eletroterapia, especialmente o ultrassom (SANTOS et al., 2012). No estudo de revisão publicado por Santos et al. (2012), a frequência do ultrassom terapêutico que apresentou resultados positivos variou de 0,89 a 3 MHz, intensidade entre 0,8 e 2,5 W/cm2 e tempo de aplicação entre 5 e 15 minutos, conforme as particularidades da lesão e do paciente. É importante lembrar que a recomendação é não exceder 15 minutos por área aplicada. O TENS (estimulação elétrica nervosa transcutânea, do inglês Transcutaneous Electrical Nerve Stimulation) também é uma boa ferramenta para a analgesia desses pacientes. Além da função de analgesia, a fisioterapia deve incorporar execícios de mobilização passiva e ativa, assim como fortalecimento muscular resistido. O ganho de força muscular de toda a cintura escapular e estabilização articular é fundamental para que o paciente não volte a sentir dor ou perda de funcionalididade. Muitos distúrbios do complexo do ombro têm indicação cirúrgica, pois podem ser ocasionados por fraturas ósseas, rupturas de tendão, calcificações irreversíveis ou outras condições que necessitem de procedimento invasivo. Porém, mesmo em casos de maior complexidade, a indicação cirúrgica dependerá da intensidade e do grau da lesão apresentada. É importante lembrar que, mesmo nos casos cirúrgicos, a fisioterapia é indicada tanto no pré quanto no pós-operatório, podendo auxiliar na redução das dores, dos quadros inflamatórios e na recuperação mais rápida das funções do paciente, assim como melhorar suas condições de retorno às AVDs. Em muitos casos, o tratamento fisioterapêutico será exclusivo, em outros, estará acompanhado de medicação como analgésicos e anti-inflamatórios. As técnicas envolvendo calor, crioterapia, massagens, eletroestimulação e outros métodos de tratamento fisioterapêuticos também podem ser aplicadas nos distúrbios do complexo do ombro, mas sempre com critérios definidos e lembrando que o fortalecimento muscular ativo é fundamental para que o ganho de função aconteça e seja mantido. 13 Além disso, fazem parte do tratamento fisioterapêutico as orientações relacionadas ao movimento articular correto. Por isso, é preciso orientar o paciente a realizar as AVDs de maneira adequada, fornecer orientações e dicas sobre como levantar e carregar um peso e treinar essas atividade com ele. Além disso, é preciso indicar como o paciente deve realizar o treinamento funcional das atividades e os movimentos realizados por um atleta. É importante ter em mente, também, que, embora a fisioterapia atue diretamente no tratamento de disfunções estabelecidas, o trabalho fisioterapêutico preventivo é fundamental. Cabe ao fisioterapeuta, por meio da avaliação física, identificar probabilidades de desenvolver futuros distúrbios no ombro e inserir no programa de tratamento as técnicas que garantam a manutenção da funcionalidade global do paciente. 14 DISTÚRBIOS/AFECÇÕES DO MEMBRO SUPERIOR: AVALIAÇÃO E TRATAMENTO – COTOVELO O formato do cotovelo e o do antebraço aumentam a mobilidade da mão no espaço, encurtando e alongando a extremidade superior e girando o antebraço. Um complexo de cotovelo bastante móvel, porém forte e estável, é necessário para a função normal da extremidade superior. Os músculos, ligamentos e cápsula fornecem controle e estabilidade à região. Mesmo assim, o cotovelo está exposto a lesões por esforço repetitivo e lesões traumáticas nas estruturas laterais, pelo estresse em valgo ou varo. O cotovelo é uma articulação muito forte e estável, mas, mesmo assim, está exposto a lesões por esforço repetitivo e lesões traumáticas nas estruturas laterais pelo estresse em valgo ou varo. Devido a sua formação óssea, o cotovelo não consegue realizar compensações, o que também favorece a ocorrência de lesões. Nos esportes, como tênis, golfe, beisebol, esgrima e outros com arremesso e/ou marcação, essa articulação está mais exposta a trauma mecânico e a esforço repetitivo. Algumas das lesões que acometem o cotovelo com mais frequência são fraturas, luxações, lesão do ligamento colateral ulnar, epicondilite medial, epicondilite lateral, bursite olecraniana e síndrome do túnel ulnar. Fraturas do cotovelo O mecanismo de lesão da fratura de cotovelo se deve a queda sobre a mão estendida ou sobre o cotovelo flexionado ou a um golpe direto ao cotovelo. Essa lesão acomete mais crianças e jovens do que adultos. Tanto o úmero quanto o rádio e a ulna podem ser fraturados por esses mecanismos. A fratura no úmero (condilar) pode causar deformidade em coronha e, nessa deformidade, quando o antebraço é estendido, cria um ângulo que se assemelha a uma coronha. Os sintomas associados com as fraturas de cotovelo são hemorragia, edema, espasmo muscular e, não necessariamente, deformidades ósseas visíveis (PRENTICE, 2012). As fraturas de cotovelo podem ser instáveis ou estáveis, e o tratamento deve ser realizado para evitar deformidades e, consequentemente, limitações de amplitude de movimento (ADM). O tratamento recomendado para as fraturas instáveis é cirurgia, para estabilizar e alinhar o foco da fratura, seguida de reabilitação física por fisioterapia. Para as estáveis, o tratamento conservador pode ser utilizado por meio de imobilização por 6 a 8 15 semanas, seguida de reabilitaçãofísica pela fisioterapia (PRENTICE, 2012; KISNER; COLBY, 2015). Luxação do cotovelo O mecanismo de lesão das luxações de cotovelo é queda sobre a mão estendida com o cotovelo em hiperextensão ou em uma torção grave com o cotovelo em posição de flexão. Nessa lesão, o rádio e a ulna podem ser luxados posterior (mais comum), anterior ou lateralmente e, ainda, pode ocorrer fratura da cabeça do rádio. Os sintomas dessa lesão são dor, limitações de movimento, edema e hemorragia devido a laceração e ruptura dos tecidos ligamentares. As complicações das luxações podem envolver lesão neural (mediano e radial), de artérias e veias, além de miositeossificante (PRENTICE, 2012; KISNER; COLBY, 2015). O tratamento da luxação consiste em redução, seguida de imobilização em flexão por três semanas e reabilitação física na fisioterapia, com o objetivo de melhorar os sintomas da lesão e prevenir recidivas no futuro (PRENTICE, 2012; KISNER; COLBY, 2015). Lesão do ligamento colateral ulnar Para que a lesão do ligamento ocorra, é preciso um trauma em valgo, que costuma ocorrer em esportes com lançamentos, na tacada do golfe e no forehand do tênis. Entretanto, o estresse repetitivo nessa região pode gerar inflamação do nervo ulnar ou dos tendões dos flexores do punho. Os sintomas são sensibilidade a palpação no ligamento colateral ulnar e a dor, podendo ocorrer parestesia. No teste de estresse do cotovelo em valgo, o paciente refere exacerbação dos sintomas e é perceptível a frouxidão no final do movimento (PRENTICE, 2012). Em função da instabilidade presente nessas lesões, o tratamento mais adequado é a reabilitação física na fisioterapia para melhorar a força muscular e a propriocepção do cotovelo. No caso de falha do tratamento conservador, a estabilização cirúrgica pode ser considerada (PRENTICE, 2012; KISNER; COLBY, 2015). Epicondilite lateral (cotovelo do tenista) O mecanismo de lesão da epicondilite lateral é a repetição dos movimentos de extensão do punho, seja no trabalho (digitação) ou no esporte (tênis), que provocam microtraumas no tendão dos extensores do punho. Geralmente, afeta o tendão do músculo extensor radial curto 16 do carpo e do extensor comum dos dedos ou do pronador redondo e do flexor radial do carpo medialmente (PRENTICE, 2012; KISNER; COLBY, 2015). As queixas do paciente serão de dor na região do epicôndilo, durante e após a atividade que causa estresse, fraqueza na mão e no punho, sensibilidade a palpação na região e dor na extensão do punho resistida e na extensão completa do cotovelo. A reabilitação física deverá incluir medidas que minimizem os sintomas, fortaleçam a musculatura, melhorem a propriocepção, recuperem a ADM, entre outros. A cirurgia não é indicada (PRENTICE, 2012; KISNER; COLBY, 2015). Epicondilite medial (cotovelo do golfista, do arremessador) A epicondilite medial ocorre pelo estresse repetitivo dos movimentos de flexão do punho e sobrecarga em valgo no cotovelo. Os tendões acometidos nessa lesão são o pronador redondo, o flexor radial e ulnar do carpo e o palmar longo. Pela proximidade com o túnel do nervo ulnar, pode haver uma neuropatia associada, produzindo dor que irradia para a parte medial do antebraço e para os dedos (PRENTICE, 2012; KISNER; COLBY, 2015). Os sintomas da epicondilite medial são muito semelhantes aos da lateral e incluem dor, sensibilidade a palpação, dor ao movimento de flexão do punho com resistência. Em relação ao tratamento, as condutas utilizadas para a epicondilite lateral também se parecem com as da medial. A escolha pelo tratamento conservador é mais indicada (PRENTICE, 2012; KISNER; COLBY, 2015). Bursite olecraniana A bursite olecraniana se caracteriza pela infl amação, por estresse repetitivo ou golpe no olecrano, da bursa do olecrano, que, por sua localização superfi cial, fi ca mais exposta a lesões. Os sintomas da bursite são dor, edema e sensibilidade na região do olecrano. O tratamento é direcionado para resolver os sintomas da fase aguda e, depois, para resolver o que causa a sobrecarga na bursa, não sendo necessária correção cirúrgica (PRENTICE, 2012). Síndrome do túnel ulnar Os mecanismos que podem gerar a síndrome do túnel ulnar são tração por uma força em valgo, irregularidades dentro do túnel, subluxação do nervo ulnar por causa de um ligamento frouxo e compressão progressiva do nervo pelo ligamento (PRENTICE, 2012). 17 Os sintomas referidos pelo paciente são dor na face medial do cotovelo com irradiação, sensibilidade a palpação e parestesia (queimação e formigamento) referida para o quarto e para o quinto dedo. O tratamento inicial indicado é repouso e imobilização por duas semanas, pois o paciente deve evitar flexão do cotovelo e estresse em valgo. Caso os sintomas piorem, pode ser realizada uma descompressão ou transposição cirúrgica de um nervo ulnar subluxado (PRENTICE, 2012; KISNER; COLBY, 2015). TRATAMENTO FISIOTERAPÊUTICO PARA AS LESÕES MUSCULOESQUELÉTICAS DA AMPLITUDE DE MOVIMENTO (ADM) DO COTOVELO O complexo do cotovelo é muito importante para o desempenho das atividades do dia a dia, e o seu formato anatômico permite que a mão tenha mais mobilidade no espaço, consiga alcançar objetos longe e que o antebraço gire para realizar todas as funções. Qualquer lesão que acometa o cotovelo, seja articular, muscular ou de tecidos moles, pode causar comprometimento da ADM e restringir a função física do paciente. Por exemplo, a perda da flexão trará prejuízos para atividades como comer e beber (ato de levar o alimento a boca), e a perda da extensão impede que a pessoa se levante da cadeira ou alcance um objeto (DUTTON, 2010, PRENTICE, 2012; KISNER; COLBY, 2015). A partir disso, o tratamento adequado dessas lesões deve ser realizado a fim de evitar essas deformidades e limitações, tão prejudiciais aos pacientes. Muitas das lesões do cotovelo se resolvem com fisioterapia, enquanto outras precisam do procedimento cirúrgico antes da reabilitação física (KISNER; COLBY, 2015). Os objetivos da reabilitação física para as lesões do complexo do cotovelo são diminuir dor e edema, controlar processo inflamatório, reduzir o espasmo muscular e contraturas, reestabelecer a ADM, melhorar força, controle neuromuscular e propriocepção do ombro, do cotovelo, do punho e da mão, permitir o retorno às atividades de vida diária e esportiva, enfim, melhorar a qualidade de vida e a função física do paciente (PRENTICE, 2012; KISNER; COLBY, 2015). Na fase aguda (logo após a ocorrência da lesão até umas três semanas) ou no pós- operatório, a intenção da fisioterapia é controlar dor, edema e o processo inflamatório, diminuir os pontos de tensão dos músculos envolvidos e favorecer a cicatrização dos tecidos lesados. Inúmeras condutas da fisioterapia podem auxiliar nessa fase, como crioterapia, TENS 18 (do inglês transcutaneous electrical nerve stimulation, estimulação elétrica transcutânea do nervo), laser, ultrassom, terapia manual, mobilizações articulares passivas, entre outros. Ainda nessa fase, a educação e orientação do paciente devem ser iniciadas. O objetivo é explicar o que é a lesão, os sintomas, causas, prognóstico e automanejo dos sintomas para realizar em casa, no trabalho e/ou durante a prática esportiva (DUTTON, 2010; KISNER; COLBY, 2015). - Crioterapia: efetivo em controlar a dor, o edema e o processo inflamatório. Ideal para a fase aguda, pode ser aplicado por até 20 minutos, a cada duas horas (TOMADON et al., 2014). - TENS: essa corrente elétrica pode auxiliar na analgesia local e ser utilizada com frequência de 100 Hz, intensidade confortável e posicionamento dos eletrodos na forma bipolar por um tempo de 20 minutos (CARDOSO; BARRETO; PÉRES, 2013). - Laser: pode favorecer o processo de cicatrização e reparo tecidual por meio de proliferação de fibroblastos,redução do processo inflamatório, aceleração na síntese de colágeno, facilitando a formação de fibrilas colágenas e o aumento na força tênsil final de tendões em processo de recuperação. Pode ser utilizado na forma de varredura ao longo do tendão, tempo e duração de pulso: 80 nseg, tempo de emissão: 0,0000008 s, comprimento de onda de 904 nm, uma potência de 50 mW, uma densidade de energia de 2,9 mW/mm2 e dose de 3 J/cm2 (JUSTINO et al., 2014). - Ultrassom: auxilia no controle do processo inflamatório, na cicatrização e no reparo tecidual; como consequência, diminui os sintomas álgicos. Pode ser aplicado por 8 minutos, com frequência de 3 MHz e potência de 1,5 W/cm2 (SILVA et al., 2013; CARDOSO; BARRETO; PÉRES, 2013). - Terapia manual: massagem, liberação miofascial, liberação de pontos gatilhos, drenagem, mobilização cicatricial, entre outros. Pode ajudar no alívio da dor, no controle do edema, na liberação de espasmos, contraturas e pontos de tensão muscular e para evitar aderências cicatriciais, no caso de pós-operatório (KISNER; COLBY, 2015). - Mobilizações articulares passivas: movimentos passivos leves, dentro da tolerância de dor do paciente, com o objetivo de manter a ADM do cotovelo livre (movimentos de flexão e extensão do cotovelo, pronação e supinação do antebraço e flexão e extensão de punho) (KISNER; COLBY, 2015). - Educação e automanejo dos sintomas: é fundamental ensinar o paciente sobre o que é a lesão, por que ela aconteceu e como será o prognóstico a partir de então, explicar a 19 importância do comprometimento do paciente com a reabilitação física em função das complicações que podem surgir e gerar limitações e restrições nessa articulação (PRENTICE, 2012; KISNER; COLBY, 2015). Se a articulação do ombro estiver sem sintomas associados com a lesão do cotovelo, é imprescindível realizar alongamentos, mobilizações ativas e exercícios para manutenção e ganho de força muscular. No caso da articulação do punho e dos dedos, pode ser difícil fazer isso na fase aguda pela relação dos tendões extensores e flexores de punho, que estão ancorados no cotovelo (KISNER; COLBY, 2015). A partir dessas condutas, alguns sintomas serão resolvidos e poderá ter início a segunda fase da reabilitação física, que tem o objetivo de reestabelecer função e desempenho físico. Esse objetivo será alcançado a partir de alongamentos musculares, treino de força muscular, treino de atividades funcionais e treino proprioceptivo (KISNER; COLBY, 2015). - Alongamentos musculares: iniciar com alongamentos passivos leves e progredir para alongamentos ativos, que devem ser ensinados ao paciente. Os alongamentos devem ser direcionados aos músculos bíceps braquial, tríceps, pronadores, supinadores, flexores de punho e extensores de punho, além dos músculos do ombro (KISNER; COLBY, 2015). - Treino de força muscular: iniciar com exercícios isométricos e progredir para dinâmicos (concêntricos e excêntricos), dos músculos bíceps braquial, tríceps, pronadores, supinadores, flexores de punho e extensores de punho, além dos músculos do ombro (KISNER; COLBY, 2015). - Exercícios isométricos: realizar tanto para extensores quanto flexores do punho, manter a contração por 6 segundos e repetir algumas vezes (KISNER; COLBY, 2015). - Exercícios concêntricos e excêntricos: iniciar com treino de resistência (3 a 5 séries de 15 a 25 repetições, com intervalo de 1 minuto entre as séries) e progredir para o treino para ganho de força muscular (3 séries de 8 a 12 repetições, com intervalo de 2 a 3 minutos entre as séries) (GARBER et al., 2011). Para passar para a terceira fase e, consequentemente, para a alta da fisioterapia, o paciente deve estar sem sintomas álgicos, com ADM ativa completa e força muscular reestabelecida para realizar suas atividades. O foco é treinar as atividades funcionais, a propriocepção e a pliometria para garantir que o paciente esteja apto para retornar às suas atividades sem dor. - Atividades esportivas e funcionais: tentar adaptar as atividades e gestos que o paciente executa normalmente e realizar na fisioterapia com carga, faixas elásticas, tornando as 20 atividades mais desafiadores e próximas da realidade (DUTTON, 2010; KISNER; COLBY, 2015). - Propriocepção e pliometria: atividades complexas que exijam que o paciente melhore o senso de posição articular e o equilíbrio, desafie com gestos em grandes amplitudes e alta velocidade (DUTTON, 2010; KISNER; COLBY, 2015). Nessa última fase, o fisioterapeuta deverá realizar adaptações ergonômicas ou reeducar gestos esportivos que tenham provocado a lesão para evitar a reincidência e/ou piora dos sintomas. A alta da fisioterapia será no momento em que todos esses objetivos forem alcançados e o paciente tiver retornado ao esporte, ao trabalho e a suas atividades sem nenhum prejuízo de movimento e/ou dor (KISNER; COLBY, 2015). 21 DISTÚRBIOS/AFECÇÕES DO MEMBRO SUPERIOR: AVALIAÇÃO E TRATAMENTO – MÃOS, PUNHOS E DEDOS As extremidades superiores são geralmente responsáveis por quase todas as atividades da vida diária (AVDs). Os movimentos repetitivos dessas estruturas podem inflamar músculos e tendões e comprimir nervos. Essas extremidades também podem estar sujeitas a lesões traumáticas causadas por acidentes. A seguir, você confere algumas lesões do punho e da mão e a intervenção fisioterapêutica para cada uma delas. Fratura do escafóide O escafoide é um dos ossos do carpo mais submetido a fraturas causadas por uma queda sobre a mão estendida ou de um golpe direto na mão. O mecanismo da lesão é descrito como uma queda sobre o punho e a mão estendidos que faz com que o escafoide seja comprimido entre o processo estiloide do rádio e os ossos carpais próximos (HANKIN; MORSE; BENNETT-CLARKE, 2015). Nos sinais e sintomas, podem ser observados déficit sensorial (dor, tumefação e hipersensibilidade) e déficit motor (desvio radial ou dor resultante da hiperextensão do punho). Para seu diagnóstico, o médico solicita radiografia do punho e da mão (HANKIN; MORSE; BENNETT-CLARKE, 2015). Muitas vezes, a fratura pode não aparecer na radiografia, sendo necessária a realização de uma tomografia computadorizada para confirmar o diagnóstico. Se o escafoide não for deslocado, o membro é imobilizado com gesso por aproximadamente seis semanas e, após a liberação médica, inicia-se o tratamento de reabilitação (VOIGHT; HOOGENBOOM; PRENTICE, 2014). Após a retirada do gesso, devem ser realizados exercícios ativos e passivos para aumentar a amplitude de movimento (ADM), que engloba movimentos de flexão do punho, desvio radial e ulnar, flexão, adução e abdução do polegar e oposição de cada dedo (VOIGHT; HOOGENBOOM; PRENTICE, 2014). Após aproximadamente 4 semanas, deve- se iniciar com exercícios de fortalecimento leve de preensão, já que esse movimento é perdido após o longo período de imobilização (DUTTON, 2010). Os exercícios de fortalecimento podem ser realizados com peso, bastão e bolas. Podem ser realizadas três séries de 10 repetições ou de acordo com a tolerância do paciente. Os 22 exercícios de fortalecimento de preensão podem ser realizados com diversos dispositivos, como massa, espuma, exercitador power web ou bolas de borracha. Tenossinovite de Quervain A tenossinovite de Quervain é a infl amação do tendão do polegar que pode estar associada aos movimentos repetitivos. Geralmente, ocorre contratura e estreitamento do túnel chamado primeiro túnel por conta da irritação causada pela inflamação do revestimento sinovial; nesse local, os tendões, o extensor curto do polegar e o abdutor longo do polegar se movem por meio de um sulco no processo estiloide do rádio — esse movimento constante do punho é a causa dessa irritação (PRENTICE, 2012). Os pacientes com a tenossinovite podemsentir dor, que irradia para a mão ou para o antebraço. Seu diagnóstico é realizado por meio do teste de Fikelstein, que é positivo quando o paciente relata sensibilidade e fraqueza durante os movimentos de extensão e abdução do polegar ou, ainda, estalido associado com dor e rigidez dos tendões durante o movimento (PRENTICE, 2012). O tratamento envolve a imobilização do membro afetado, anti-inflamatórios, crioterapia, técnicas de mobilização articular e exercícios para ganho da ADM (PRENTICE, 2012). Geralmente, é realizada a imobilização da articulação metacarpofalângica do polegar e do punho em tempo integral de 4 a 6 semanas, e a tala é retirada para a higiene das mãos ou durante o banho (VOIGHT; HOOGENBOOM; PRENTICE, 2014). Os exercícios para o ganho de ADM podem incluir oposição leve do polegar, flexão e extensão do polegar e do punho e alongamentos leves dos flexores e extensores do punho. Dedo em gatilho Essa condição é causada pelos movimentos repetitivos dos dedos e resulta na irritação entre os tendões do punho e da mão. Quando a bainha tendinosa infl ama, podem surgir crepitações, dor e edema. Afeta comumente os músculos extensor comum do carpo, extensor longo do polegar e abdutor longo do polegar (PRENTICE, 2012). Posteriormente, forma-se um nódulo na membrana sinovial que aumenta a dificuldade de deslizamento das articulações devido ao espessamento da bainha. Em relação aos sinais e sintomas, o indivíduo percebe que, ao flexionar o dedo ou o polegar, há resistência no retorno à extensão, produzindo estalidos articulares audíveis e sensibilidade durante a palpação local (PRENTICE, 2012). 23 O tratamento é feito com anti-inflamatórios sugeridos pelo médico, uso de tala durante a fase aguda e, após três semanas, são realizados exercícios para restaurar a ADM (PRENTICE, 2012). A mobilização articular pode ser passiva ou ativa. A seguir, veja duas mobilizações passivas que podem ser aplicadas no paciente com dedo em gatilho. - Mobilização articular: o paciente, em decúbito dorsal, fica à frente do fisioteraputa. São realizados movimentos articulares de deslizamentos anteroposterior e posteroanterior dos dedos e deslizamentos laterais. - Mobilização anteroposterior e posteroanterior: é realizada uma tração mantida nas metacarpofalângicas enquanto são realizados movimentos anteroposteriores e posteroanteriores das interfalângicas. Na mobilização de deslizamentos laterais, o fisioterapeuta aplica uma força de deslizamento radial ou ulnar na região distal da articulação do dedo. O tratamento fisioterapêutico relacionado às disfunções cinéticas do punho e da mão, em geral, segue o racional de intervenção segmentado em algumas etapas, a saber: - avaliação fisioterapêutica completa contendo anamnese, inspeção, testes de função e testes especiais; - manejo que controle o quadro agudo (quando for o caso) — em geral, o quadro agudo cursa com quadros inflamatórios que apresentam dor, edema, hiperemia, rubor e perda da função; - reestabelecimento das condições biomecânicas e cinesiologicas das áreas comprometidas, ou seja, reestabelecimento de ADM, mobilidade, força muscular, entre outros; - reestabelecimento da função, ou seja, integração dos movimentos únicos em movimentos em cadeia com foco na função (atividades de vida diária, esportivas ou laborais); - orientações profissionais com foco na prevenção e na educação postural relacionadas ao distúrbio. 24 FISIOTERAPIA EM TRAUMATOLOGIA-ORTOPEDIA E REUMATOLOGIA TESTES ESPECIAIS Profa. Melina Santos ⁃ Complexo do Ombro Nome do Teste Objetivo/Finalidade Procedimento Sinal Positivo Teste da Tendinite do Supraespinhoso – Teste da Lata vazia – Teste de Jobe Detectar tendinite degenerativa ou ruptura do tendão supra-espinhoso ou músculo deltóide distendido. Membro superior a 90º (entre abdução e flexão – plano da escápula) e rotação interna. Fisioterapeuta faz uma força de abaixamento e paciente tenta resistir a força. Dor e/ou fraqueza na inserção do tendão supra- espinhal ou dor sobre o músculo deltoide. Teste de Apley (coçar de Apley) Colocar em tensão os tendões do manguito rotador, e detectar qualquer inflamação destes. Orienta-se o paciente a colocar a mão do lado afetado atrás da cabeça e tocar no ângulo superior da escápula oposta, e a seguir solicita-se que ele tente tocar o ângulo inferior da escápula oposta. Exacerbação da dor no paciente pode indicar tendinite degenerativa de um dos tendões do manguito rotador, usualmente o supra- espinhoso. Teste de Impacto de Neer Identificar Tendinite do supraespinal. Com o paciente sentado, segurar o punho do paciente e mover passivamente o ombro em flexão. O movimento do ombro em flexão empurra o tubérculo maior do úmero contra a borda anteroinferior do acrômio A dor no ombro e um olhar de apreensão na face do paciente indicam um sinal positivo. Isso indica uma lesão por esforço repetitivo do músculo supraespinal ou às vezes do tendão do bíceps Teste de Impacto de Hawkins- Kennedy Identificar Tendinite do supraespinal. Com o paciente em pé, flexionar o ombro em 90º, e depois forçar o ombro em uma rotação interna, sem resistência pelo paciente. A dor local indica tendinite do supraespinal Teste de Speed Avaliação da porção Cotovelo em Dor no tendão da 25 (PALM-UP-TEST) longa do bíceps (possivelmente tendinite) – Tendinite Biciptal. extensão, antebraço supinado, flexão de ombro em torno de 45°. Fisioterapeuta coloca seus dedos sobre o sulco biciptal e sua mão oposta sobre o punho do paciente. Fisioterapeuta tenta abaixar o membro que está sendo avaliado e o paciente deve resistir. porção longa do bíceps através do sulco intertubercular. Teste de Yergason Verificar estabilidade do tendão biciptal no interior do sulco e possível tendinite. Cotovelo flexionado a 90° próximo ao tronco e antebraço em pronação. Neste momento o paciente deverá tentar fazer uma rotação externa de ombro, supinar o antebraço e flexionar o cotovelo, sempre contra a resistência imposta pelo fisioterapeuta. Dor e/ou luxação na porção longa do bíceps, próximo ao sulco intertubercular. Sinal do aperto de Botão subacromial Verificação de bursite subacromial. Com o paciente sentado, aplicar pressão na bolsa subacromial. Dor local. Teste de Dawbarn Verificação de bursite subacromial. Aplicar pressão imediatamente abaixo do acrômio anteriormente ao ombro e observar se há dor espontânea ou a palpação. A seguir, abduzir o ombro a 90º mantendo a pressão ainda aplicada no ponto abaixo do acrômio. Dor a palpação e diminuição da dor ao realizar a abdução do ombro a 90°. Teste da Queda do Braço Possíveis rupturas na bainha rotatória (manguito rotador). Principalmente o supra-espinhoso. Solicite que o paciente faça uma abdução completa do ombro, e peça que logo em seguida o paciente leve o braço Braço tende a cair bruscamente ao lado do corpo. Paciente será incapaz de abaixar suave e vagarosamente. 26 vagarosamente para o lado do tronco. Fisioterapeuta pode testar tocando levemente para baixo no braço do paciente. Teste de Patte Detectar tendinite ou ruptura do tendão do infra-espinhoso. Membro superior abduzido a 90° e cotovelo fletido a 90°. Paciente deve resistir à força de rotação interna imposta pelo fisioterapeuta. Diminuição da força para rotação externa acompanhada ou não de dor. Teste de Geber (lift off test) Detectar ruptura ou possível inflamação do tendão do subescapular. Paciente com o dorso da mão localizado na região lombar, em seguidaele deve afastar a mão numa atitude de rotação interna ativa máxima. Incapacidade de realizar o gesto descrito. Apreensão de luxação anterior Indicio de instabilidade anterior da cabeça umeral. Abduzir ombro a 90°, flexionar cotovelo a 90° e tentar rodar externamente o ombro. Dor localizada. Face apreensiva do paciente, onde ele relata sensação de que a cabeça umeral poderá luxar. Apreensão de luxação posterior Indicio de instabilidade posterior da cabeça umeral. Paciente em Decúbito Dorsal, flexão de ombro e cotovelo a 90° e ombro rodado internamente. Fisioterapeuta aplica uma pressão no cotovelo do paciente tentando deslocar a cabeça umeral posteriormente. Dor localizada. Face apreensiva do paciente, onde ele relata sensação de que a cabeça umeral poderá luxar. Teste de estiramento do plexo braquial Possível indício de lesão no plexo braquial Paciente sentado instruí-lo para inclinar lateralmente a cabeça para o lado oposto a ser testado e realizar hiperextensão de ombro e extensão de cotovelo do mesmo Dor e/ou parestesia ao longo da distribuição do plexo braquial. 27 lado da lesão. 28 ⁃ Complexo do Cotovelo Nome do Teste Objetivo/Finalidade Procedimento Sinal Positivo Cozen (cotovelo de tenista) Reproduzir a dor no epicôndilo lateral do úmero, com possível tendinite dos extensores de punho. Paciente com a mão fechada e o punho em extensão e cotovelo fletido a 90°. A seguir fisioterapeuta impõe força no sentido de flexionar o punho do paciente. Dor próximo ao epicôndilo lateral do úmero. Cozen inverso (cotovelo de golfista) Reproduzir a dor no epicôndilo medial do úmero, com possível tendinite dos flexores de punho. Paciente com mão fechada e punho em flexão, e cotovelo fletido a 90°. A seguir fisioterapeuta impõe a força no sentido de estender o punho. Dor próximo ao epicôndilo medial do úmero. Estabilidade ligamentar (stress em valgo e varo) Detectar estabilidade dos ligamentos colateral medial (ulnar) e lateral (radial). O fisioterapeuta deve realizar um esforço em valgo e/ou varo ao nível do cotovelo que deve se encontrar em semiflexão. Demonstração de uma folga (ou um espaço) e/ou dor no local são indicadores de instabilidade. Tinel Avaliar sensibilidade no nervo ulnar (possível neurite). Fisioterapeuta percuti (com o dedo ou martelo) o nervo ulnar ao nível do sulco entre olecrano e epicôndilo medial. Sensação de dor ou parestesia pelo antebraço até o dedo mínimo, no trajeto do nervo ulnar. 29 ⁃ Complexo do punho e mão Nome do Teste Objetivo/Finalidade Procedimento Sinal Positivo Tinel Avaliar sensibilidade do nervo mediano e sua possível inflamação. Percutir com martelo de reflexos na superfície anterior do punho com o antebraço supinado. Parestesia na mão ao longo da distribuição do nervo (polegar, indicador, médio e metade medial do anular). Phalen Desencadear parestesia e dor relacionado à síndrome do túnel do carpo. Flexionar ambos os punhos e aproximá- los um do outro. Manter por aproximadamente 1 minuto. Dor ou parestesia irradiada para uma ou ambas as mãos. Phalen inverso Desencadear parestesia e dor relacionado à síndrome do túnel do carpo. Instruir o paciente para estender o punho afetado e fazer o paciente apertar a mão do fisioterapeuta. Em seguida fisioterapeuta com o seu polegar comprime a face anterior do punho na linha média. Dor ou parestesia irradiada para o trajeto do nervo mediano. Finkelstein Detectar a presença de tenossinovite de De Quervain (abdutor longo do polegar e extensor curto do polegar). Instruir o paciente para fechar mão com o polegar atravessado na superfície palmar da mão e solicitar uma desvio ulnar forçado. Dor próximo ao processo estilóide do rádio e/ou na base do polegar. Froment Caracteriza lesões do nervo ulnar (através dos músculos adutor do polegar e parte do flexor curto do polegar). Paciente deve tentar pinçar uma folha de papel, aonde o fisioterapeuta irá tracionar esta folha. A falange distal do polegar entra em flexão acentuada, pois os músculos adutor do polegar e parte do flexor curto apresentam- se instáveis. 30 Allen Detectar se as artérias radial e ulnar estão suprindo adequadamente a mão. Paciente deve ser orientado a abrir e fechar a mão várias vezes, mantendo em seguida fechada. Posteriormente o fisioterapeuta deve comprimir com os dedos as artérias radial e ulnar do paciente, solicitando que o mesmo abra a mão após a compressão. Em seguida o fisioterapeuta libera uma artéria de cada vez e observa a vascularização na mão do paciente. A mão não se enrubescerá, ou a cor retorna muito lentamente, indicando que tal artéria pode se encontrar total ou parcialmente obstruída. 31 REFERÊNCIAS CIPRIANO, J. J. Manual fotográfico de testes ortopédicos e neurológicos. 5 ed. Porto Alegre. Artmed, 2012. DUTON, M. Fisioterapia Ortopédica: exame, Avaliação e Intervenção – São Paulo: Artmed,2010. O´SULLIVAN, S. B.; SHCIMITZ, T. J. Fisioterapia: Avaliação e Tratamento. 6 ed. Barueri, SP. Manole, 2018. WIBELINGER, L. M. Fisioterapia em Reumatologia. 2 ed. Rio de Janeiro. Revinter, 2015. HEGEDUS, E. J.; COOK, C. E. Testes Ortopédicos em Fisioterapia, 2ª edição. São Paulo: Manole, 2015. LEITE, C.F et al. 50 CASOS CLÍNICOS EM FISIOTERAPIA. Salvado: Sanar,2017. ZAFFAGNINI, S; GRASSI, A.; SERRA, M.; MARCACCI, M. Return to sport after ACL reconstuction: how, when and why? A narrative review of current evidence. Joints. Jan- Mar; v.3, n.1, p. 25-30, 2015. O’SULLIVAN B. Fisioterapia avaliação e tratamento. SP: Manole, 2010. REIS, LIANA ANTONUCCI. Fisioterapia: resumos, questões, respostas comentadas/ Liana Antonucci Reis. - 2º ed. Rio de Janeiro: Guanaba Koogan, 2017.
Compartilhar