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REVISÃO ANATÔMICA GASTRITES 1. Conceito Inflamação gástrica com histopatologia de infiltrado leucocitário na mucosa gástrica. É classificado de acordo com o tempo de instalação (aguda ou crônica), histopatologia (superficial, atrófica) e etiologia (aumento de fatores agressivos, pela redução dos fatores protetores, bem como de caráter idiopático). É necessário de biopsia para estabelecer um diagnóstico, tendo em vista que a EDA não é suficiente. Existe algumas classificações para os aspectos das gastrites: • Histológica Morfológica: inflamação, atividade do processo inflamatório, atrofia ou metaplasia (geralmente intestinal). Topográfica: gastrite de antro, gastrite de corpo e pangastrite. • Endoscópica Topográfica: antro (mais liso, com pregas menos evidentes) e corpo (pregas longitudinais que não ultrapassam mm). Intensidade: leve, moderada e acentuada. Características da inflamação: edema, enantema, erosão, hiperplasia das pregas mucosas, atrofia, nodosidade. Gastrites Fatores Infecciosa H. pylori Outras bactérias (flegmonosa) Micobacteriana Sifilítica Viral Autoimune Associada à anemia perniciosa Granulomatosa Doença de Crohn Sarcoidose Etiologia incerta Linfocitária Colagenosa Eosfinofílica Tabela de classificação das gastrites pela etiologia Gastrites agudas Gastrites crônicas Induzida por H. pylori Antral por H. pylori Outras formas infecciosas Atrófica autoimune Supurativa ou flegmonosa Química, eosinofílica, hipertrófica, entre outras Tabela de classificação das gastrites pelo tempo de instalação 2. Diagnóstico EDA + análise histopatológico, já que os sintomas são inespecíficos! 3. Laudos endoscópicos Figura 1. Corte histológico da mucosa gástrica com gastrite Gastrites, gastropatias e dispepsia funcional Clínica Integrada de Gastroenterologia – aula 3 Nicole Sarmento Queiroga Figura 4. EDA: presença de área enantematosa leve antral Figura 3. EDA: presença de erosão moderada no antro Formação de solução de continuidade na mucosa, associado ao enantema periférico, recobertos por fibrina/hematina, menores que 5mm, com profundidade de até 1mm. Hemorragia subepitelial por ruptura de pequenos vasos subepiteliais, com tamanhos variados, formas irregulares e cor escuras. Podem romper e causar hemorragia no lúmen. Mais comum em gastropatias devido à ação das substâncias irritativas. Aspecto pode ser granuloso (leve) ou nodular (acentuado). Sugestivo de infecção por H. pylori. 4. Gastrites • Aguda por H. pylori Desenvolvimento de pangastrite superficial que pode ser totalmente assintomática ou se apresentar com dispepsia (dor epigástrica, náuseas e vômitos). Nesse momento, a histopatologia revela a infiltração neutrofílica. O quadro pode evoluir com resolução espontânea por algum tempo, mas sem o desaparecimento da bactéria, de modo que pode haver três tipos de evolução: I. Crônica leve: assintomática II. Antral crônica: associada à hipercloridria e úlcera péptica. H. pylori danifica as células D antrais (secreta somastotina – capazes de promover feedback negativo sobre as células G), logo há secreção de gastrina excessiva pelas células G. III. Pangastrite crônica grave (atrófica): destruição e atrofia das células oxínticas do corpo e fundo gástrico. Promove a hipocloridria. Para identificar a doença em forma ativa, deve-se fazer a pesquisa de antígeno fecal e o teste respiratório de ureia (marcada com C13). A sorologia não é indicada por não confirma a doença ativa, já que pode refletir em uma cicatriz sorológica. Para realização dos exames, deve haver suspensão dos IBP, tendo em vista que podem induzir o falso-negativo. O tratamento é realizado com antibióticos e, ao se tornar crônica, passa a ter infiltrado linfocitário. Quando pesquisar por H. pylori? 1. Doença ulcerosa péptica 2. Linfoma MALT 3. Dispepsia não ulcerosa 4. Síndrome dispéptica sem indicação de EDA 5. História de Ca gástrico em parente de 1º grau 6. Após tratamento de adenocarcinoma gástrico 7. Usuários crônicos de AINEs ou AAS 8. Diagnóstico de PTI 9. Screening da população assintomática oriental A H. pylori ao infectar o estômago, geralmente o antro, promove a reação entre ureia e água e converte em amônia e gás carbônico. Essa amônia produzida promove a neutralização de parte do ácido gástrico. Para facilitar sua sobrevivência, ela libera toxinas e promove a inflamação no estômago – gastrite, destruindo a membrana protetora. Dessa forma, o restante do ácido não neutralizado pode danificar mais o estômago. Omeprazol 20mg 12/12h Claritromicina 500mg 12/12h Amoxicilina 1g 12/12h Se alérgico a amoxicilina... Omeprazol 20mg 12/12h Claritromicina 500mg 12/12h Furazolida 200mg 12/12h O tratamento deve ser feito durante 7 dias (mas comprova-se melhor eficácia se 14 dias), devido ao grande potencial de não adesão por serem 3 drogas administradas 2x ao dia, já existem combinações Pylorid ou Pyloripac (combinação com amoxicilina). Em caso de falência do tratamento ou necessidade de esquemas alternativos, existem tratamentos de segunda linha com 3 drogas (mantidos por 10 dias) e de terceira linha com 4 drogas (mantidos por 10 a 14 dias). Omeprazol 20mg 12/12h Levofloxacino 500mg 1x/dia Amoxicilina 1g 12/12h OU Omeprazol 20mg 12/12h Levofloxacino 500mg 1x/dia A erosão, diferentemente da úlcera, NÃO ultrapassa a camada muscular da mucosa! Figura 4. EDA: presença hemorragia aguda Figura 6. EDA: presença de nódulos no antro Gastrite aguda: neutrófilos Gastrite crônica: linfócitos Atenção: nos laudos endoscópicos aparecem a denominação gastrite, mas nem sempre a condição do paciente reflete esse achado! Furazolida 200mg 12/12h OU Omeprazol 20mg 12/12h Sal de bismuto 240mg 12/12h Amoxicilina ou Doxiciclina 1g 12/12h ou 100mg 12/12h Furazolida 200mg 12/12h • Aguda flegmonosa ou supurativa Infecção bacteriana da camada muscular mucosa e da camada submucosa do estômago, com infiltração de células plasmáticas, linfócitos e polimorfonucleares. O diagnóstico é dado através da realização de uma TC de abdome total, em que há identificação de gás na camada submucosa. O tratamento é realizado com antibióticos e gastrectomia. Essa gastrite pode ter complicações de doenças sistêmicas ou septicemia. Alguns estreptococos, pneumococos, estafilococos, E. coli, Proteus vulgaris e C. welchii podem causar. Paciente não melhora o processo infeccioso mesmo com os antibióticos de largo espectro, sendo esse tipo de gastrite descoberto, muitas vezes, após a morte ou com exames de imagem. Paciente apresenta dor aguda na região superior do abdome, febre, sinais de peritonite, hemorragia digestiva alta. • Atrófica autoimune Envolve a mucosa do corpo e fundo gástricos, sendo geralmente associada a outras doenças, como Hashimoto e Graves. Autoanticorpos podem estar presentes: anticélula parietal (reduz a produção de HCl, logo há redução da absorção de ferro e aumento da secreção de gastrina e ação das células enterocromafins – feedback positivo constante gera tumor carcinoide) e antifator intrínseco (o que leva à anemia perniciosa e tumor carcinoide). • Granulomatosa 7hbv São idiopáticas ou por doenças generalizadas – sarcoidose e Crohn, mas também por tuberculose, Histoplasmose. Submissão à cirurgia pela dificuldade de diferenciar de doenças neoplásicas. • Eosinofílica Mucosa gastrointestinal e subjacente são invadidas por eosinófilos, cuja ação prejudica a motilidade antral. Tratamento baseado na coticoterapia e reconstrução de um piloro. • Linfocítica Causa desconhecida, com EDA revelando mucosa com nódulos com depressão central. Pacientes assintomáticos, apresentandodispepsia e perda de peso, pode haver associação com doença celíaca. GASTROPATIAS 1. Conceito Lesão na mucosa gástrica, com injúria e recuperação tecidual (epitelial), edema e vasodilatação, mas não acompanhada de infiltrado leucocitário. Secundário às substâncias irritantes endógenas ou exógenas. Gastropatia Fatores Química ou reativa Refluxo biliar Álcool AINEs Sais de ferro Vascular Gastr. Portadora de hipertensão Ectasia vascular antral gástrica Isquêmica Trauma Queimadura Sepse Hipovolemia Cocaína Tabela de classificação das gastropatias pela etiologia 2. Gastropatias • Aguda erosiva ou aguda hemorrágica (LAMGD) AINEs – pode ser aguda ou crônica. O uso desses medicamentos está associado à formação de petéquias, erosões e até úlceras, que geram sangramentos importantes. Pode haver sangramento crônico – oculto nas fezes – que resulta em anemia ferropriva. Esses fármacos inibem a formação de PGs pelas células das mucosas, que são protetores contra o ácido e a favorecem a regeneração epitelial. Para tratamento deve ser feita a suspensão do uso de AINES e terapia com IBP. Álcool – hemorragias subepiteliais puntiformes, com aspecto endoscópico de sangue sob envoltório plástico associados ao edema de mucosa. Tratamento com IBP, podendo ou não ser associado ao sucrafalto. Refluxo biliar – geralmente complicação cirúrgica de antrectomia. Lesão aguda da mucosa gástrica – doença grave em pacientes de CTI, nas 72 primeiras horas de internação, em que há isquemia da mucosa e as lesões promovem hemorragia digestiva alta. Como fatores de risco temos: coagulopatia e ventilação mecânica superior a 48h. Tratamento com IBP associado ao sucralfato (substância que promove proteção gástrica). Figura 7. Corte histológico da mucosa gástrica com gastropatia Figura 7. TAC abdominal demonstrando aerortia hepática e gás dissecando a parede do fundo gástrico DISPEPSIA ORGÂNICA 1. Conceito Paciente possui lesão estrutural, alterações metabólicas, sistêmicas ou bioquímicas. Sintomas associados com uma causa conhecida (DRGE, úlcera péptica, parasitoses, neoplasias, associada a H. pylori) e tratamento do problema de base para reduzir os sintomas. DISPEPSIA FUNCIONAL 1. Conceito Sintomas sem causa conhecida, alterações motoras e sensoriais. Apresentar pelo menos dois sintomas dispépticos (empachamento pós-prandial, saciedade precoce, dor epigástrica e queimação epigástrica), com sintomas presentes nos últimos 3 meses, com início de 6 meses antes. I. Síndrome da dor epigástrica (tipo úlcera) Predomínio da dor, sendo aliviada por antiácidos, bloqueadores H2 ou alimentos, sendo mais comum à noite e com caráter periódico (inclui períodos dolorosos e remissão). Ocorre no mínimo 1x por semana, com intensidade moderada e NÃO confundir com pirose (localização retroesternal). I. Síndrome do desconforto pós-prandial Predomínio do empachamento pós-prandial (ocorre após refeições e no mínimo 3x por semana) e saciedade precoce (impede término da refeição e no mínimo 3x por semana). 2. Epidemiologia 20-40% da população ocidental, com destaque maior para as mulheres. Responsável por até 70% das queixas gastroenterológicas. Predomina em pacientes mais jovens. 3. Fisiopatologia Alteração do eixo nervoso – sensorial ou motor – com o eixo entérico, podendo gerar: • Hipersensibilidade visceral • Hipersecreção ácida • Dismotilidade gástrica (retardo do esvaziamento gástrico) • Processo pós-infeccioso • Fatores psicossociais • Alteração da microbiota com disbiose e inflamação crônica 4. Diagnóstico Caracterização dos sintomas, exclusão de sinais de alarme (emagrecimento inexplicado, sangramento do TGI, disfagia, vômitos recorrentes), excluir uso de aspirina, AINEs, pesquisa por H. pylori, EDA em pacientes acima de 60 anos ou com sinais de alarme. 5. Tratamento • Relação médico-paciente • Esclarecimento sobre a síndrome • Suporte emocional • Mudança do estilo de vida – respeito às intolerâncias alimentares. Saciedade precoce – fracionamento da dieta. Plenitude pós-prandial – evitar alimentos gordurosos. • Tratamento farmacológico H. pylori – antibiótico Dor epigástrica – antisecretores (IBP e bloqueadores H2) Hipersensibilidade – medicação de ação central (antidepressivo tricíclico – amitriptilina e imitpramina – e fluoxetina) Esvaziamento gástrico lento – procinéticos (domperidona) CUIDADO: melhora com evacuações (síndrome do intestino irritável), excluir critérios de doenças biliares Dor epigástrica Sintomas predominantes Desconforto pós-prandial IBP com/sem procinétios procinétios com/sem IBP Resposta com 4-8 semanas Resposta com 4-8 semanas Iniciar antidepressivo Paciente 60 anos com sinais de alarme Investigar EDA/US/fezes/sangue H. pylori + Pesquisar H. pylori Dispepsia funcional Dispepsia associada Dispepsia secundária Paciente 60 anos sem sinais de alarme H. pylori - Sd. pós-prandial Sd. epigástrica Diagnóstico Tratamento empírico Melhora Sem melhora
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