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Propedêutica clínica Dr.Mauro Kierpel Aula 3Cirrose Hepática A cirrose, que pode ser o estágio final de qualquer doença hepática crônica, é um processo difuso caracterizado por fibrose e pela conversão do parênquima normal em nódulos estruturalmente anormais. Esse nódulos “regenerativos” perdem a organização lobular e são circundados por tecido fibroso. O processo envolve o fígado e, de uma forma geral, é considerado irreversível. A perda progressiva de hepáticos funcionastes leva a uma série de alterações que se instalam de maneira insidiosa. Distúrbios e endócrinos e hemodinâmicos predominam nas fases iniciais da hepatopatia, enquanto problemas como encefalopatia hepática, hipoalbuminemia e coagulopatia aparecem nas fases mais avançadas. Os distúrbios endócrinos são caracterizados pelo hiperesteogenismo e hipoandrogenismo, explicando vários achados semiológicos da cirrose, como o eritema palmar, as telangiectasias, a ginecomastia, rarefação de pelos e a atrofia testicular. Principais Complicações da Cirrose Hepática Insuficiência Hepática Crônica Hiperestrogenismo/Hipoandrogenismo - Eritema palmar - Telangiectasias do tipo “aranha vascular” - Ginecomastia - Redução de massa muscular - Atrofia interósseo - Rarefação de pelos - Atrofia testicular - Perds da libido, disfunção erétil Distúrbios Hemodinâmicos - Resistência vascular periférica diminuída (vasodilatação) - Alto débito cardíaco - Retenção hidrossalina (ascite, anasarca) - Hipovolemia relativa - redução do volume circulante efetivo Outras Alterações - Braqueteamento (ou hipocratismo) digital. - Aumento de parótidas Hipertensão Portal - Ascite - Varizes esofagigogástricas - sangramento digestivo - Esplenomegalia congestiva - hiperesplenismo - plaquetopenia, leucopenia, anemia - Circulação colateral visível no abdome (“cabeça de medusa”) Insuficiência Hepatocelular - Icterícia - Encefalopatia hepática - Coagulopatia - Hipoalbuminemia - anasarca - Desnutrição - Imunodepressão - Síndrome hepatorrenal e hepatopulmonar Hepatocarcinoma As manifestações clínicas da cirrose variam amplamente, dependendo do seu estágio, de um paciente assintomático sem sinais de doença hepática crônica a um paciente que se apresenta confuso e ictérico com emaciação muscular grave e ascite. A história natural da cirrose é caracterizada por uma fase inicial, denominada cirrose compensada, seguida por uma fase progressiva rápida marcada pelo desenvolvimento de complicações da hipertensão portal ou disfunção e hepática (ou ambas), denominada cirrose descompensada. Na fase compensada, a função de síntese hepática é quase, ou totalmente, normal. A pressão portal, embora aumentada, é inferior ao valor limite necessário para o desenvolvimento de varizes ou ascite. À medida que a doença progride, a pressão portal aumenta e a função hepática diminui, o que resulta, consequentemente, no desenvolvimento de ascite, sangramento gastrointestinal, encefalopatia e icterícia. O desenvolvimento de qualquer uma dessas complicações clinicamente detectáveis caracteriza a transição da fase compensada para a fase descompensada. A progressão para a morte pode ser acelerada em decorrência do desenvolvimento de outras complicações, como sangramento gastrointestinal recorrente, insuficiência renal (ascite refratária, síndrome hepatorrenal), síndrome hepatopulmonar e sepse (peritonite bacteriana espontânea). O desenvolvimento de carcinoma hepatocelular pode acelerar o curso da doença em qualquer estágio. A transição do estágio compensado para o descompensado ocorre em uma taxa de 5% a 7% por ano. A média de tempo para a descompensação, o tempo no qual metade dos pacientes com cirrose compensada torna-se descompensada, é de cerca de seis anos. Cirrose Compensatória Neste estágio, a cirrose é geralmente assintomática e é diagnosticado durante a avaliação da doença hepática crônica ou fortuitamente durante exame físico de rotina, testes bioquímicos, endoscopia mostrando varizes gastroesofágicas ou cirurgia abdominal na qual o fígado nodular é detectado. Fadiga inespecífica, libido diminuído ou distúrbios do sono podem ser as únicas queixas. Cerca de 40% dos pacientes com cirrose compensada possuem varizes esofágicas. Varizes gastroesofágicas. Varizes gastroesofágicas não hemorrágicas são hemorrágicas são assintomáticos e sua presença (sem sangramento) não denota descompensação. Cirrose Descompensada Neste estágio, há sinais de descompensação: ascite, varizes hemorrágicas, icterícia, encefalopatia hepática ou qualquer combinação desses achados. A ascite, que é o sinal mais frequente de descompensação, está presente em 80% dos pacientes com cirrose descompensada. Ascite e Hiponatremia A ascite é a causa mais comum de descompensação na cirrose e ocorre em uma proporção de 7% a 10% por ano. Os sintomas mais geralmente associados à ascite são circunferência abdominal aumentada – que é comumente descrita pelos pacientes como aumento da cintura ou que as roupas estão apertadas ao redor da cintura – e ganho de peso recente. A ascite pode ser identificada no exame físico, quando presente em quantidades pequenas ou moderadas, por um flanco protuberante, flanco macio e macicez móvel. A hiponatremia, definida como concentração sérica de sódio inferior a 130 mEq/L, está presente em cerca de 25% dos pacientes com cirrose e ascite. No entanto, pacientes com cirrose normalmente não têm manifestações neurológicas significativas ou hiponatremia porque, presumivelmente, estas se desenvolvem de modo gradual. No entanto, a hiponatremia é um marcador de gravidade da cirrose, associada a pior qualidade de vida e ao desenvolvimento de encefalopatia hepática. A síndrome hepatorrenal é um tipo de lesão renal pré-renal que ocorre em pacientes com cirrose e ascite. Ela representa o extremo do espectro de anomalias que podem levar a ascite cirrótica, sendo o resultado da vasodilatação periférica máxima, bem como da ativação máxima de hormônios que causam a retenção de sódio, água e aumentam a vasoconstrição das artérias renais. A síndrome hepatorrenal se divide em dois tipos com base em características clínicas e prognóstico. Síndrome hepatorrenal tipo 1 é uma lesão renal aguda rapidamente progressiva na qual o aumento da creatinina sérica ocorre dentro de um período de duas semanas. A síndrome hepatorrenal tipo 2 progride mais lentamente e está associada à ascite, que é refratária a diuréticos. Os pacientes com a síndrome hepatorrenal geralmente possuem ascite tensa que responde pouco aos diuréticos, mas nenhum sintoma ou sinal típico dessa entidade. Encefalopatia Hepática É uma manifestação Neuropsiquiátrica da cirrose, ocorre em uma proporção de aproximadamente 2-3% por ano. A encefalopatia hepática associada à cirrose é de início gradual sublimidade a coma. Clinicamente, ela é caracterizada por alterações na consciência com variação comportamental de inversão do padrão de sono-vigília e transtorno de memória (grau 1); confusão, comportamento bizarro e desorientação (grau 2); letargia e desorientação profunda (grau 3); coma (grau 4). No exame físico, os estágios iniciais podem demonstrar somente um tremor distal, mas a marca registrado da encafalopatia hepática é a presença de asterixe. Além disso, os pacientes com encefalopatia podem apresentar hálito com odoro adocicado, uma característica denominada fetor hepaticus. Exame Físico No exame físico, o sinal de cirrose consiste em atrofia muscular envolvendo principalmente as regiões musculares bitemporais e as eminências tenar e hipotenar; aranhas vasculares, mais habitualmente no tronco, face e membros superiores; e eritema palmar envolvendo as eminências tenar e hipotenar e as pontas dos dedos. Embora a atrofia muscular seja uma marca de insuficiência hepática, angiomas aracnóideos e eritema palmar são marcas de vasodilatação e circulação hiperdinâmica. Os homens podem ter perda de cabelo no peito e abdome, ginecomastia e atrofia testicular.Petéquias e equimoses podem estar presentes como resultado da trombocitopenia ou tempo de protrombina prolongado. A contratura de Dupuytren, que é um espessamento da fáscia palmar, ocorre mais comumente na cirrose alcoólica. Uma característica patognomônica da cirrose é o achado no exame físico de um lobo hepático direito menor, com extensão de menos de 7 cm na percussão, e o lobo esquerdo palpável, nodular, com consistência mais densa. A esplenomegalia também pode estar presente e é indicativa de hipertensão portal. A circulação colateral na parede abdominal (caput medusae ou cabeça de medusa) também pode desenvolver-se como consequência da hipertensão portal. A ausência de qualquer achado físico anteriormente mencionado não exclui a cirrose. Goldman-Cecil Medicina, 153: Cirrose e suas sequelas| Lee Goldman and Andrew I. Schafer,https:// www.evolution.com.br/epubreader/9788535289947 Referências
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