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Doença inflamato ria pe lvica - DIP REFERÊNCIA: MEDCurso Acadêmica: Juliana Rabelo da Silva Sousa O limite anatômico do trato genital feminino superior é o orifício interno do colo uterino. Para configurar um quadro de DIP, é necessário que as bactérias ascendam pelo orifício externo. Definição: A DIP é um conjunto de sinais e sintomas, secundário a ascensão e disseminação no trato genital feminino superior de microorganismos provenientes da vaginal e\ou endocérvice. Estes podem acometer útero, tubas uterinas, ovários, superfície peritoneal e\ou estruturas contíguas (fígado). È uma inflamação que compreende vários espectros inflamatórios e infecciosos, podendo incluir endometrite, salpingite, abcesso tubo-ovariano e peritonite pélvica. Obs1: Complicação mais comum das DSTs. Epidemiologia Devido a diversos fatores, a investigação epidemiológica no BR é limitada, sendo, portanto exposto aqui dados estrangeiros. Prevalente entre os 15-25 anos (70% dos casos) Baixa mortalidade Alta morbidade (infertilidade por fator tubário 12,5-25%; aumento da incidência de gravidez ectópica em 6-10 vezes; dispaurenia e dor pélvica em 18%). Agentes etiológicos Processo agudo, exceto quando provocados pelos microorganismos causadores da tuberculose e actinomicose. A DIP turberculosa é um processo insidioso que ocorre como consequência da disseminação hematogênica do bacilo de Koch, ou seja não é DST. Deve ser suspeitada quando o pct não melhora com o tratamento convencional. DIP por actinomyces em usuárias de DIU. Agentes mais comuns: 1. Neisseria gonorrhoeae (gonococo) 2. Chlamydia trachomatis Obs2: A DIP é polimicrobiana. Fatores de risco Idade menor que 25 anos: Adolescentes com vida sexual ativa apresenta 3 x mais risco. Estas possuem fatores predisponentes, como a baixa prevalência de anticorpos contra clamídia, muco cervical mais permeável e ectopia da JEC. Além disso, protelam a busca por auxilio médico o que retarda o diagnóstico. Inicio precoce da atividade sexual Estado civil solteiro Estado socioeconômico Tabagismo, alcoolismo e uso de drogas ilícitas: são imunossupressivos Múltiplos parceiros sexuais Historia prévia de DST ou DIP Vaginose bacteriana: facilita a ascensão de gonococo ou clamídia Método contraceptivo: ACO anticoncepcionais orais: altera o muco, dificulta ascensão de microorganismos; DIU: Interferência mecânica nos mecanismos de defesa do endométrio Fisiopatogenia e manifestações clínicas A DIP começa pela passagem dos microorganismos pelo OI do colo uterino. Processo facilitado no período perimenstrual e pós-menstrual imediato, devido a abertura do colo, fluidez do muco cervical imposta pela ação estrogênica e sucção do conteúdo vaginal promovida pela contratilidade uterina. Principal sintoma – descarga vaginal purulenta Associado à: dor abdominal infraumbilical, dor em topografia anexial, dor a mobilização do colo uterino e febre. Sintomas atípicos – Hipermenorréia ou metrorragia, dispaurenia e sintomas urinários. Obs3: Pode ser assintomático. Inicia com uma endometrite (presença de plásmócitos no estroma endometrial) que desencadeia a dor abdominal infraumbilical e à mobilização do colo uterino. A seguir, o processo infeccioso segue as tubas uterinas. O gonococo e clamídia causam lesão direta do epitélio ciliar, que induz intensa reação inflamatória caracterizada por edema e infiltrado leucocitário. A inflamação da superfície tubária pode levar a formação de aderências, estas justificam as queixas de dor pélvica crônica. As aderências podem levar a oclusão do lúmen tubário (sequela de infertilidade) ou à formação de traves (sequela de gestação ectópica). A aglutinação das fímbrias pode produzir oclusão tubária total e formação de piossalpinge. As fímbrias podem envolver o ovário e formar o abscesso tubo- ovariano. O processo infeccioso pode então progredir para a cavidade peritoneal. O conteúdo do abcesso pode cair na cavidade constituindo um abcesso em fundo de saco de Douglas, ou entre alças intestinais, ou no espaço subdiafragmático. Nesse estágio, é evidente a presença de irritação peritoneal. Infecção por gonococo e clamídia pode lesar a superfície hepática levando a síndrome de Fitz-Hugh-Curtis. A fase aguda dessa síndrome se caracteriza pela presença de exsudato purulento visível na cápsula de Glisson. Já na fase crônica há as aderências do tipo corda de violino entre a parede abdominal anterior e superfície hepática. As manifestações clínicas são dor pleurítica a direita e dor em hipocôndrio direito. Diagnóstico CLÌNICO: Presença de 3 critérios maiores ou mínimos (presença de dor) e 1 menor ou adicional (alterações no exame físico e complementares) ou 1 critério elaborado ou definitivo (biópsia de endométrio, exames de imagem e videolaparoscopia). Maiores ou mínimos Menores ou adicionais Elaborados ou definitivos Dor abdominal infraumbilical ou dor pélvica Temperatura axilar maior que 38,3 ºC Evidencia histopatológica de endometrite Dor a palpação dos anexos Conteúdo vaginal ou secreção endocervical anormal Abcesso tubo-ovariano ou de fundo de saco de Douglas em US ou RM Dor a mobilização do colo uterino Massa pélvica Videolaparoscopia com evidência de DIP Leucocitose PCR ou VHS elevados Mais de 5 leucócitos pro campo de imersão em secreção de endocérvice Confirmação laboratorial de infecção por gonococo, clamídia ou micoplasma Sinais e sintomas: Surgimento de desânimo, fácies de sofrimento e ansiedade. Disúria (20%), corrimento purulento (50%) e febre (30-40%). Dor pélvica aguda que se agrava com a palpação do hipogastro e fossas ilíacas. Ao toque vaginal a mobilização do colo é altamente dolorosa. Com a progressão da doença, sinais de irritação peritoneal, exacerbação da dor, náuseas e vômitos. Sinais de defesa a palpação, dor a descompressão. Massa palpável nas fossas ilíacas e ruídos hidroaéreos presentes. Exames complementares Hemograma – Indícios de infecção bacteriana: leucocitose com desvio a esquerda (maior que 10-12 000\mm3 e bastões), aumento de VHS (velocidade de hemossedimentação) e PCR (proteína C reativa). Teste de gravidez – Exclusão de gravidez ectópica ou abortamento séptico. EAS e urocultura – Descartar infecções do trato urinário. VDRL (sorologia para sífilis), Hepatites B e C, HIV e imunoflorescência indireta para clamídia. US abdominal e pélvica ou RM – presença de liquido livre na pelve, abcesso tubo-ovariano e pélvico. Biópsia de endométrio – endometrite Videolaparoscopia – salpingite, hiperemia da superfície tubária, edema da parede tubária, exsudato purulento cobrindo a superfície tubária ou extravasando pela extremidade fimbriada, quando se encontra pérvia. Diagnóstico diferencial Causas Ginecológicas Obstétricas Gastrointestinais Renais Musculo- esqueléticas Dismenorreia Prenhez ectópica Apendicite Cistite Psoíte Endometriose Abortamento séptico Colecistite Pielonefrite Discopatias Cisto ovariano Constipação intestinal Nefrolitiase Torção ovariana Diverticulite Uretrite Tumor ovariano Gastroenterite Tuberculose Doença inflamatória intestinal Degeneração de miomas Estadiamento – Classificação de Monif Estágio 1 – Endometrite e salpingite aguda sem peritonite. Conduta – Tratamento em nível ambulatorial. Estágio 2 – Salpingite agua com peritonite. Conduta – Tratamento hospitalar. Sinais de peritonite justificam internação. Estágio 3 – Salpingite aguda com oclusão tubária ou abcesso tubo-ovariano. Conduta – Tratamento hospitalar. Sinais de peritonite e abcesso tubo-ovariano justificam a internação. Estágio 4 – Abcesso tubo-ovariano roto com secreção purulenta na cavidade (queda acentuada do estadogeral, refrariedade ao tratamento clínico, febre persistente, comprovação na US) e abcesso acima de 10 cm. Conduta – Tratamento hospitalar e cirúrgico (remoção do abscesso e preservação dos ovários sempre que possível) Tratamento Ambulatorial Quadro clínico leve, exame abdominal e ginecológico sem sinais de pelviperitonite e que possam ingerir medicação por via oral. 1. Ceftriaxone 250 mg, IM, dose única + Doxiciclina 100mg, VO de 12\12h por 14 dias... com ou sem metronidazol 500mg, VO de 12\12h. 2. Cefoxitina 2g, IM, dose única + Probenecide 1g, VO, dose única + Doxiciclina 100mg, VO, de 12\12h por 14 dias... com ou sem metronidazol, IV, de 12\12h 3. Cefalosporina de 3º geração (cefotaxime ou ceftazidime) + Doxiciclina 100mg, VO de 12\12h por 14 dias... com ou sem metronidazol 500mg , VO, de 12\12h. Hospitalar Emergências cirúrgicas (apendicite, abcesso tubo-ovariano roto) Abcesso tubo-ovariano Sinais de peritonite, náuseas, vômitos e febre acima de 39ºC Gestantes Imunocomprometidas Ausência de resposta adequada ao tratamento ambulatorial nas primeiras 72 horas Intolerância ou baixa adesão ao tratamento ambulatorial Regime A 1. Cefotelan 2g IV de 12\12h 2. Cefoxitina 2g IV de 6\6h + Doxiciclina 100mg VO de 12\12h Regime B 1. Clindamicina 900mg IV 8\8h + Gentamicina IV ou IM (2mg\Kg) seguido por dose de manutenção de 1,5mg\kg de 8\8h Regimes alternativos 1. Ampicilina\Sulbactam 3g IV de 6\6h + Doxiciclina 100mg IV ou VO de 12\12h Cirúrgico Falha do tratamento clínico Presença de massa pélvica que persiste ou aumenta Suspeita de rotura do abcesso tubo-ovariano Hemoperitônio Abcesso do fundo de saco de Douglas 1. Videolaparoscopia – dúvida diagnóstica e ausência de resposta a terapia parenteral após 72 h. 2. Laparotomia – emergência que cursa com instabilidade hemodinâmica. Tratamento dos parceiros Em caso de contato sexual em ate 60 dias antes do aparecimento dos sintomas. 1. Azitromicina 1g VO dose única + Ciprofloxacina 500mg dose única. Acompanhamentos das pacientes - Tratadas em nível ambulatorial devem ser reexaminadas em 72h. Ausência de melhora a internação é obrigatória. - Tratadas em nível hospitalar devem ser reavaliadas em 24-48h. Ausência de melhora a intervenção cirúrgica deve ser cogitada. Obs4:Todas as pacientes devem ser reavaliadas a cada 3 meses no 1º ano. Situações especiais Gravidez – Alto risco de morbidade materna e parto pré-maturo. Devem ser hospitalizadas e tratadas com antibióticoterapia parenteral. Infecção por HIV – Mais propensas a apresentar quadros graves com necessidade de intervenção cirúrgica (ainda controvérsio). DIU – Retirada do DIU em casos de DIP aguda ou manutenção com acompanhamento rigoroso. Complicações Sequelas precoces: Abcesso tubo-ovariano, fase aguda da síndrome de Fitz-Hugh- Curtis e morte. Sequelas tardias: Infertilidade (risco proporcional a gravidade), prenhez ectópica, dor pélvica crônica (aderências), dispaurenia, recorrência da DIP, fase crônica da síndromde Fitz-Hugh-Curtis.
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