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Anna lillian canuto bittencourt Fisiopatologia da enxaqueca • A enxaqueca também é conhecida como “Migrânea”; • O termo “aura” é utilizado para os sintomas que o indivíduo sente antes de a dor de cabeça começar, como sintomas visuais ou sensitivos; • Um estudo mediu o fluxo sanguíneo cerebral regional em pacientes com ataques de enxaqueca e foi encontrado uma redução desse fluxo durante a aura; - A redução do fluxo inicia-se no polo occipital e avança progressivamente para outras regiões, sem respeitar a anatomia dos territórios vasculares (spreading hypoperfusion). Predisposição genética: • A enxaqueca, principalmente a associada a aura, possui influência genética autossômica recessiva com penetrância reduzida; • Está relacionada com quatro mutações diferentes no canal de cálcio voltagem- dependente, específico do cérebro; • Essa mutação provoca um estado de hiperexcitablidade que torna o SNC mais susceptível a estímulos externos (luminosos, alimentares, etc) e internos (estresse emocional) e ao aparecimento de DA; • A porção médica do tronco cerebral também torna-se excitável, podendo funcionar como o centro da enxaqueca; • A excitação do núcleo do trato solitário pode originar náuseas e vômitos. Depressão alastrante: • O que é essa depressão alastrante (DA)? É uma depressão na atividade elétrica que, quando experimentalmente induzido, propagava-se pelo córtex em todas as direções; • Essa depressão alastrante possui a mesma velocidade de propagação do fenômeno cortical (no córtex visual primário) responsável pela aura visual; • A passagem da depressão alastrante provoca a expressão de um marcador não específico da ativação neuronal no núcleo do trigêmeo; Cefaleias Anna lillian canuto bittencourt - Essa passagem da DA, portanto, ativa o sistema trigeminovascular. • Existem argumentos que são contra o envolvimento da DA na fisiopatologia da enxaqueca. Sistema trigeminovascular: • Existem três tipos de fibras nervosas na parede dos vasos cranianos, sobretudo entre a adventícia e a média e na adventícia; • Essas fibras possuem vesículas que possuem substâncias neurotransmissoras vasoativas, que são liberadas com a passagem do estímulo nervoso; - Fibras simpáticas (originadas no gânglio cervical superior): possuem noradrenalina e neuropeptídeo Y, ambos vasoconstrictores; - Fibras parassimpáticas (originadas no gânglio esfenopalatino): possuem acetilcolina e peptídeo intestinal vasoativo, ambos vasodilatadores. • As fibras sensitivas trigeminais do tipo C também funcionam como eferentes e possuem como neurotransmissores: - Substância P: é um peptídeo que provoca vasodilatação mais modesta e curta; - Neurocinina A; - Peptídeo relacionado ao gene da calcitonina (CGRP): um dos mais potentes vasodilatadores, que existe em abundância na divisão oftálmica do trigêmeo. Inflamação neurogênica: • O estímulo trigeminal induz a vasodilatação e extravasamento de plasma com a liberação de substância P e CGRP; • A substância P e o CGRP interagem com substâncias liberadas localmente pelo próprio vaso e por fibras nervosas simpáticas e parassimpáticas; • Os estímulos trigeminais atingem o tálamo e, posteriormente, o córtex cerebral, originando a sensação de dor. Óxido nítrico: • Algumas substâncias vasodilatadoras não atuam no músculo liso, vascular, diretamente, mas induzem à liberação, pelo endotélio, de óxido nítrico (NO); • Motivos para o NO ser relacionado com a enxaqueca: - A ativação da sua via provoca enxaqueca, ataques de cefaleia em salvas e cefaleias não específicas; Anna lillian canuto bittencourt - Alguns medicamentos agem inibindo uma ou mais etapas da via do NO ou antagonizando os efeitos dos metabólitos gerados por esta via; - Algumas substâncias que podem causar enxaqueca ativam essa via ou agem como agonista em uma ou mais etapas desta via. Serotonina: • Alguns estudos demonstraram uma maior quantidade de um metabólito da serotonina na urina dos pacientes com enxaqueca; • O sumatriptan, uma eficiente droga antienxaquecosa específica, tem atividade agonista em alguns receptores da serotonina, cuja ativação leva à vasoconstricção. 01. A alteração genética de um canal de cálcio cerebral específico provoca um estado de hiperexcitabilidade que torna o SNC mais susceptível a estímulos externos e internos e ao aparecimento da depressão alastrante; 02. Áreas específicas, na porção média do tronco cerebral, tornam-se particularmente excitáveis, podendo funcionar como centros da enxaqueca; 03. O consequente surgimento da depressão alastrante, no córtex cerebral, ativa o sistema trigeminovascular, tanto nos vasos da periferia, quanto nos núcleos trigeminal, no tronco cerebral; 04. A DA pode ser subclínica, provocando, nesse caso, a enxaqueca sem aura. O tipo de aura depende da área cortical atingida; 05. Com a consequente ativação do sistema trigeminovascular, há liberação de substâncias neurotransmissoras, vasodilatadoras, como o CGRP e a SP, que interagem com outras substâncias liberadas localmente pelo próprio vaso e por fibras nervosas simpáticas e parassimpáticas; 06. A excitação do sistema trigeminal caminha pelas redes perivasculares, difundindo o processo de inflamação neurogêniva; 07. Os estímulos trigeminais atingem o tálamo e, posteriormente, o córtex cerebral, originando a sensação de dor. • A enxaqueca não é dor, mas um estado de susceptibilidade a crises que RESUMO DA FISIOPATOLOGIA DA ENXAQUECA Anna lillian canuto bittencourt caracterizam por um complexo de sintomas que podem incluir a cefaleia; • As causas da enxaqueca (estresse, chocolate, vinho, alimentos com tiramina, alterações temporomandibulares) são, na verdade, simples fatores desencadeantes, que dependem de uma predisposição individual para o desencadeamento da crise. Diagnóstico diferencial entre cefaleias e enxaquecas Cefaleias crônicas primárias: 01. Cefaleia de tensão: • É a causa mais comum de cefaleia primária (incidência em 40-70% da população); • Mais comum no sexo feminino; • Caráter opressivo, intensidade leve a moderada; • Frontoccipital ou temporo-occipital bilateral; • Duração prolongada (horas/dias); • Não acorda o indivíduo e nem atrapalha suas atividades; • Após um dia de estresse ou algum aborrecimento. 02. Enxaqueca (migrânea): • Segunda causa mais comum de cefaleia primária (prevalência de 15% na população); • Mais comum no sexo feminino; • Caráter pulsátil, unilateral e de intensidade moderada a severa; • Pode acordar o paciente e faze-lo parar suas atividades; • Duração variável (4-72 horas); • Associada a náuseas, vômitos, fotofobia e fonofobia; • Desencadeada por consumo de vinho, período menstrual, entre outros; • Pródromo: alteração do humor, mal estar nas 24-48h antecedentes; • Enxaqueca SEM aura é conhecida como enxaqueca comum, por ser a forma mais comum; • Enxaqueca COM aura é conhecida como enxaqueca clássica e apresenta sinais e sintomas neurológicos focas que precedem, acompanham ou surgem após a crise de cefaleia; • A aura pode ser representada por: escotomas cintilantes, parestesias Anna lillian canuto bittencourt periorais ou dimidiadas, hipoestesisas, vertigem + diplopia, hemiplegia. 03 Cefaleia em salva: • Causa incomum de cefaleia; • Mais comuns em homens de meia idade; • Ocorre diariamente durante um período curto (semanas) seguindo-se de um período longo assintomático (“em salvas”); • Geralmente noturnos, muito intensa e de duração curta (15-180min); • Na região frontorbitária unilateral; • Associada alacrimejamento, congestão nasal e conjuntival e edema periorbitário ipsilateral. Cefaleias secundárias: >> Deve-se suspeitar de cefaleia secundária, quando: - As características da cefaleia não se enquadrarem em nenhum tipo de cefaleia crônica primária; - Quando a cefaleia é progressiva, ou seja, surgiu há pouco tempo ou piorou o padrão de uma cefaleia antiga; - Refratária ao tratamento convencional; - Associada a déficit neurológico ou sinais e sintomas de uma doença orgânica. 01. Cefaleia de hipertensão intracraniana: • Intensa, contínua, matinal e progressiva; • Associada a náuseas e vômitos em jato; • Ao exame físico: papiledema (inchaço do disco óptico e/ou paralisia do VI par craniano (abducente) e/ou sinais neurológicos focais e/ou rigidez da nuca e/ou alteração da consciência; • Realizar TC de crânio contrastada e, caso dê negativo, fazer exame de liquor com medida da PIC e pesquisa de meningite. Anna lillian canuto bittencourt 02. Hipertensão intracraniana benigna: • Diagnóstico de exclusão entre as causas de hipertensão intracraniana; • Exames de imagem normais (incluindo RM) e liquor hipertenso (PIC> 25mmHg); • Mais comum em mulheres obesas; • Ao exame físico: papiledema, paralisia do VI par craniano (abducente), ausência de sinais focais e de queda da consciência; • Causas: idiopáticas, gestação, anti- concepcionais, fenitoína, tetraciclina, sulfas, hipervitaminose A, endrocrinopatias (doença de Addison, síndrome de Cushing, ovários policísticos, etc). 03. Cefaleia de arterite temporal: • Frontotemporal ou temporo-occipital uni ou bilateral; • Mais comum em idosos (>60 anos); • Relacionado com sintomas gerais: perda de peso, astenia e febre, além da síndrome de polimialgia reumática (dor e rigidez escapular e pélvica) e a claudicação da mandíbula; • O exame laboratorial pode mostrar anemia normo e VHS bastante elevado (>55 ou mesmo 100). Conduta na cefaleia crônica e na enxaqueca Tratamento da enxaqueca: 01. Tratamento não farmacológico: • Estilo de vida regulado, com dieta saudável, exercícios regulares, padrões de sono regulares, exclusão de cafeína e álcool em excesso e prevenção de alterações agudas nos níveis de estresse; • Tentar diminuir resposta ao estresse por meio de ioga, meditação, hipnose, entre outros; • Quando essas medidas falham na prevenção de uma crise, as abordagens farmacológicas são necessárias para abortá-las. 02. Tratamento das crises agudas de enxaqueca: • A escolha do fármaco é criteriosa e é escolhida individualmente para cada paciente, dependendo de vários fatores, como a gravidade da crise; • Principais classes farmacológicas para o tratamento da enxaqueca: AINES, Anna lillian canuto bittencourt agonistas do receptor 5-HT e antagonistas dos receptores de dopamina. A) AINES: - A gravidade e duração de uma crise de enxaqueca podem ser reduzidas significativamente por meio de AINES; - A sua eficácia em crises moderadas ou graves é menor que o ideal; - A combinação de paracetamol, ácido acetilsalicílico e cafeína pode ser usada para o tratamento da enxaqueca branda a moderada, sendo equivalente com uma dose de sumatriptana; - Efeitos colaterais dos AINES: dispepsia e irritação gastrintestinal; - Exemplos: ibuprofeno, naproxeno e ácido tolfenâmico. B) Agonistas do receptor 5-HT: - A estimulação de 5-HT pode interromper uma crise de enxaqueca aguda; - A ergotamina e diidroergotamina são agonistas não seletivos, enquanto os triptanos (sumatriptana, rizatriptano, eletriptano, entre outros) são agonistas seletivos do receptor; - A eficácia clínica está mais relacionada com o tempo para atingir o nível plasmático máximo do que à potência, meia-vida ou biodisponibilidade; >> Analgésicos de ação mais rápida são mais eficazes do que os agentes de ação mais lenta. - A monoterapia com agonista seletivo de 5-HT oral não resulta em alívio rápido; - Os triptanos não são eficazes em enxaqueca com aura; - A recorrência da cefaleia com uso de triptanos é frequente; - A coadmnistração de um AINE de ação mais longa, como o naxopreno 500mg, com sumatriptana irá aumentar o efeito inicial do sumatriptana e, de maneira importante, reduz as taxas de recorrência da cefaleia; - Ao usar ergotamina, precisa buscar uma dose não nauseante; - A diidroergotamina e o sumatriptana pode ser usada por via parenteral para um alível mais rápido da cefaleia. B) Antagonistas da dopamina: - Os antagonistas da dopaminas administrados por via oral devem ser considerados terapia adjuvante da enxaqueca, pois a absorção do fármaco é prejudicada durante à enxaqueca devido à redução da motilidade do TGI; - Então, quando os AINES orais e/ou triptanos falham, a adição de um antagonista da dopamina, como a metoclopramida 10mg, deve ser considerada para reduzir as Anna lillian canuto bittencourt náuseas/vômitos e restaurar a motilidade gástrica normal; - Esses fármacos parenterais podem ser usados em combinação com agonistas parenterais do 5-HT (5mg de proclorperazina e 0,5mg de diidroergotamina IV por 2 minutos). 03. Tratamentos preventivos para enxaqueca: - Pacientes com crises de enxaqueca de frequência crescente, ou com crises que não respondem ou respondem precariamente a tratamentos abortivos, são os candidatos para os agentes preventivos; - Com 05 ou mais crises por mês; - Demoram 2-12 semanas para iniciar o seus efeitos; - Fármacos autorizados: propranolol, timolol, valproato de sódio, topiramato e metissergida; - Outros fármacos com eficácia profilática: amitriptilina, nortiptilina, flunarizina, fenelzina, gabapentina e ciproeptadina; 1° linha: amitriptilina, propranolol, topiramato, gabapentina ou valproato. 2° linha: metissergida ou fenelzina Tratamento da cefaleia crônica: • A cefaleia diária crônica não é uma entidade única, mas várias síndromes de cefaleias diferentes, como a cefaleia tensional crônica e a cefaleia secundária; • Quando o paciente tem cefaleia por 15 dias ou mais por mês; • Primeiro deve-se identificar o tipo de cefaleia: - Antidepressivos tricíclicos (amitriptilina ou nortriptilina): pacientes com CDC que surgem da enxaqueca ou da cefaleia tensional; Anna lillian canuto bittencourt - Anticonvulsivantes (topiramato, valproato e gabapentina): pacientes com enxaqueca. Cefaleia na infância e sua influência no aprendizado • As formas mais conhecidas de cefaleia crônica na população pediátrica são a enxaqueca e as cefaleias do tipo tensional; • As cefaleias secundárias também são raras na infância; • As cefaleias primárias crônicas têm grande repercussão social, sobretudo familiar, e forte associação com baixo rendimento escolar; Anamnese da criança com cefaleia: • Procurar informações indiretas que possam caracterizar os sintomas: - Fotofobia e fonofobia: a criança procura um lugar escuro e silencioso para ficar; - Classificação da dor: leve, a criança continua brincando; moderada, a criança mantém as atividade, mas reclama; forte, a criança para de brincar e deita. Cefaleias primárias na infância: • A cefaleia do tipo tensional é a mais comum de cefaleia primária na infância; - Localização bilateral, frontotemporal; - Em pressão ou aperto; - Não impede a criança de estudar ou brincar. • Usar o diário da dor quando for diagnosticado CTT. Enxaqueca e suas peculiaridades na infância: • A enxaqueca é a causa mais comum de cefaleia crônica em crianças; - Acompanhada de: cinetose, vertigem paroxística benigna da infância, dores nos membros, dor abdominal recorrente, febre recorrente, vômitos cíclicos e alguns distúrbios do sono; • Síndromedo vômito cíclico é crises recorrentes de vômitos pronunciados com completo desaparecimento de sintomas entre as crises; • Nos adolescentes, a enxaqueca assemelha-se com a dos adultos; - O paciente apresenta um quadro de cefaleia, que dura ente 4 a 72h, unilateral, pulsátil, de intensidade moderada ou Anna lillian canuto bittencourt forte, exacerbada por atividades físicas rotineiras, com náuseas, vômitos, fotofobia e fonofobia. Tratamento dos episódios de cefaleia: • Os AINES são bastante utilizados e seguros: - Paracetamol, uma das drogas de primeira escolha, para tratamento de curto prazo das crises de enxaqueca; - Ibuprofeno, que reduz um hipotético processo inflamatório neurogênico das cefaleias; - Dipirona.
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