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1 LÚRIA NIEMIC ONOFRE – MED UNIC XXXIV CEFALEIA INTRODUÇÃO – A cefaleia está entre as razões mais comuns pelas quais os pacientes procuram atendimento médico, sendo responsável por mais incapacidade do que qualquer outro problema neurológico. O sistema de classificação desenvolvido pela International Headache Society caracteriza a cefaleia como primária ou secundária. As cefaleias primárias são aquelas em que a cefaleia e suas manifestações associadas constituem o distúrbio em si e frequentemente resulta em considerável incapacidade e redução da qualidade de vida do paciente, enquanto as cefaleias secundárias são aquelas causadas por distúrbios exógenos, como a observada em associação a infecções do trato respiratório superior, é comum, mas raramente preocupa. ANATOMIA E FISIOLOGIA – A dor em geral ocorre quando nociceptores periféricos são estimulados em resposta a lesão tecidual, distensão visceral ou outros fatores. Nessas situações, a percepção da dor é uma resposta fisiológica normal mediada pelo SN saudável. A dor também pode ocorrer quando as vias de produção da dor SNP ou SNC são lesionadas ou excessivamente ativadas. A cefaleia pode originar-se de 1 ou ambos os mecanismos. Relativamente poucas estruturas cranianas geram dor; elas incluem o couro cabeludo, artéria meníngea média, seios durais, foice do cérebro e os segmentos proximais das grandes artérias da pia-máter. O epêndima ventricular, plexo coroide, veias da pia-máter e grande parte do parênquima cerebral não geram dor. As principais estruturas envolvidas na cefaleia primária parecem ser as seguintes: ➪ Grandes vasos intracranianos e a dura-máter e os terminais periféricos do nervo V que inervam tais estruturas; ➪ Parte caudal do núcleo trigeminal, que se estende até os cornos dorsais da medula cervical superior e recebe impulsos da 1ª e da 2ª raízes nervosas cervicais (complexo trigeminocervical); ➪ Regiões rostrais de processamento da dor, como o tálamo ventroposteromedial e o córtex; ➪ Sistemas moduladores da dor no cérebro que modulam o impulso dos nociceptores trigeminais em todos os níveis de vias de processamento da dor e influenciam as funções vegetativas, como as estruturas do hipotálamo e tronco cerebral. A inervação dos grandes vasos intracranianos e dura-máter pelo nervo V denomina-se sistema trigeminovascular. Os sintomas cranianos autônomos, como lacrimejamento, congestão nasal, rinorreia, edema periorbital, plenitude da aura e ptose são proeminentes nas cefalalgias autonômicas do trigêmeo, como a cefaleia em salvas e a hemicrania paroxística, podendo ser também observados na enxaqueca, mesmo em crianças. Tais sintomas refletem ativação das vias cranianas parassimpáticas, e exames de imagem funcionais indicam que as alterações vasculares na enxaqueca e na cefaleia em salvas, quando presentes, são igualmente provocadas por tais sistemas cranianos autônomos. Além disso, eles frequentemente podem ser confundidos com sinais ou sintomas de inflamação do seio craniano, o que é assim tratado de maneira inadequada. A enxaqueca e outros tipos de cefaleia primária não são “cefaleias vasculares”; esses distúrbios não manifestam alterações vasculares de maneira confiável, e os desfechos do tratamento não podem ser previstos por efeitos vasculares. A enxaqueca é um distúrbio cerebral e é mais bem compreendida e tratada como tal. CEFALEIAS PRIMÁRIAS Existem hoje 156 tipos e subtipos diferentes de cefaleia, conforme a classificação proposta pela Sociedade Internacional de Dor de Cabeça. Procurando padronizar e estruturar a abordagem das cefaleias em nível global, a Sociedade Internacional de Dor de Cabeça propõe a classificação internacional das cefaleias denominada International Headache Classification (ICHD-2). As cefaleias do tipo primária podem se classificar em: → Migrânea ou enxaqueca, e suas subdivisões; → Cefaleia tensional e suas subdivisões; → Cefaleias trigeminais autonômicas, também conhecidas por cefaleia em salvas ou, ainda, neuralgia do trigêmeo e suas subdivisões; EXAQUECA____________________________________________________ É a 2ª causa mais comum de cefaleia e a causa mais comum de incapacidade neurológica relacionada à cefaleia no mundo, aflige cerca de 15% das mulheres e 6% dos homens ao longo de um período de 1 ano. É uma cefaleia episódica associada a algumas manifestações, como sensibilidade à luz, som ou movimento, além de náuseas e vômitos que frequentemente a acompanham. MÓDULO 15 – DOR PROBLEMA 5 – SISTEMAS DE ALERTA 2 LÚRIA NIEMIC ONOFRE – MED UNIC XXXIV Uma descrição útil de enxaqueca é uma síndrome recorrente de cefaleia associada a outros sintomas de disfunção neurológica em várias combinações. Muitas vezes é reconhecida por seus desencadeadores, chamados de gatilhos. Sintomas que acompanham crises graves de enxaqueca: náusea, fotofobia, sensação de cabeça vazia, hipersensibilidade no couro cabeludo, vômitos, distúrbios visuais, parestesias, vertigem, fotopsia, alteração do nível de consciência, diarreia, espectros de fortificação, síncope, convulsões e estado confusional. O encéfalo desse paciente é particularmente sensível a estímulos ambientais e sensoriais; os pacientes propensos a enxaqueca, não se acostumam facilmente com os estímulos sensoriais. Tal sensibilidade é amplificada nas mulheres durante o ciclo menstrual. A cefaleia pode ser desencadeada ou amplificada por vários gatilhos, incluindo reflexos e luzes brilhantes, ruídos e outros estímulos aferentes; fome; cansaço por estresse; cansaço físico; tempestades ou alterações da pressão barométrica; flutuações hormonais da menstruação; ausência ou excesso de sono; e álcool ou outros estímulos químicos, como os nitratos. PATOGÊNESE – A sensibilidade sensorial, característica da enxaqueca, provavelmente se deve a uma disfunção dos sistemas de controle sensitivos monoaminérgicos localizados no tronco encefálico e no hipotálamo. Vias do tronco encefálico que modulam os impulsos sensoriais. A principal via para dor na enxaqueca é a via aferente trigeminovascular dos vasos meníngeos, que passam através dos gânglios trigeminais e fazem sinapse nos neurônios de 2ª ordem no complexo trigeminocervical (CTC). Tais neurônios seguem no trato quintotalâmico e, após cruzarem o tronco encefálico, realizam sinapse nos neurônios talâmicos. Modulação importante dos impulsos nociceptivos trigeminovasculares advém do núcleo posterior da rafe, locus ceruleus e núcleo magno da rafe. A ativação de células no núcleo trigeminal resulta na liberação de neuropeptídeos vasoativos, em particular o peptídeo relacionado com o gene da calcitonina (CGRP), nas terminações vasculares do nervo V e dentro do núcleo trigeminal. Os antagonistas do receptor CGRP foram confirmados como eficazes no tratamento agudo da enxaqueca, e os anticorpos monoclonais contra CGRP se mostraram eficazes em 2 ensaios clínicos em fase inicial. Centralmente, os neurônios trigeminais de 2ª ordem cruzam a linha média e projetam-se para os núcleos ventrobasal e posterior do tálamo para processamento adicional. Além disso, há projeções para a substância cinzenta periaquedutal e o hipotálamo, a partir das quais sistemas descendentes recíprocos estabeleceram efeitos antinociceptivos. Outras regiões do tronco encefálico propensas a ser envolvidas na modulação descendente da dor trigeminal incluem o locus ceruleus na ponte e o bulbo rostroventromedial. Dados farmacológicos e outros dados apontam para o envolvimento da serotonina (5-HT) na enxaqueca. Há 60 anos descobriu-se que a metissergida antagonizava determinadas ações periféricas da 5-HT, tendo sido introduzida como o primeiro fármaco capaz de evitar crises de enxaqueca. Os triptanos foram criados para estimular seletivamente as subpopulações dereceptores de 5-HT; existem pelo menos 14 tipos diferentes. Os triptanos são agonistas potentes dos receptores de 5-HT1B e 5-HT1D, e alguns são ativos nos receptores de 5-HT1F; os últimos são agonistas exclusivos chamados de ditanos. Os triptanos impedem a sinalização nervosa nas vias nociceptivas do sistema trigeminovascular, pelo menos no núcleo caudal do V e no tálamo sensorial trigeminal, além da vasoconstrição cerebral, enquanto os ditanos são eficazes na enxaqueca aguda, atuando apenas nos alvos neurais. A maior parte dos sintomas de enxaqueca pode ser induzida por estimulação dopaminérgica. Além disso, há hipersensibilidade dos receptores da dopamina naqueles que sofrem de enxaqueca, conforme demonstrado pela indução de bocejo, náuseas, vômitos, hipotensão e outros sintomas de uma crise de enxaqueca pelos agonistas dopaminérgicos com doses que não afetam os indivíduos que não têm enxaqueca. Os antagonistas dos receptores de dopamina são agentes terapêuticos eficazes na enxaqueca, em especial quando administrados por via parenteral ou simultaneamente com outros agentes antienxaqueca. Além disso, a ativação hipotalâmica, anterior, observada na cefaleia em salvas, tem sido vista na fase premonitória de enxaqueca usando exame de imagem funcional, e isso pode representar uma chave para a compreensão de uma parte do papel da dopamina no distúrbio. 3 LÚRIA NIEMIC ONOFRE – MED UNIC XXXIV Os genes da enxaqueca identificados em famílias com enxaqueca hemiplégica familiar (EHF) revelam envolvimento de canais iônicos, sugerindo que alterações na excitabilidade da membrana podem predispor à enxaqueca. As mutações que envolvem o gene CACNA1A do canal de cálcio dependente de voltagem tipo Cav2.1 (P/Q) são reconhecidas como as responsáveis pela EHF 1; essa mutação é responsável por 50% das EHFs. As mutações no gene ATP1A2 da Na+- K+ATPase, designadas EHF 2, são responsáveis por 20% das EHFs. As mutações de SCN1A do canal de sódio dependente da voltagem neuronal causam EHF 3. Neuroimagens funcionais sugerem que regiões do tronco encefálico na enxaqueca e a região de substância cinzenta hipotalâmica posterior próxima às células do marca-passo circadiano humano do núcleo supraquiasmático na cefaleia em salvas são boas candidatas para o envolvimento específico na cefaleia primária. DIAGNÓSTICO E QUADRO CLÍNICO – Pode ser: Migrânea sem aura caracteriza-se por localização unilateral, de intensidade moderada a forte (inibindo ou impedindo atividades diárias), caráter pulsátil e que piora com as atividades físicas rotineiras. Inicia-se durante o sono ou pela manhã, mas pode ter início em qualquer momento do dia. Além disso, tem sintomas associados a dor: fotofobia, fonofobia, osmofobia, náuseas e vômitos Migrânea com aura caracteriza-se por sintomas ou sinais neurológicos focais transitórios que não estão presentes na enxaqueca comum. Os sintomas neurológicos focais instalam-se de forma gradual, geralmente ao longo de 5 a 20 minutos, durando 60 minutos ou menos e ocorrendo na maioria das vezes antes da dor. A aura visual é a mais comum e pode se apresentar como flashes de luz, falhas no campo visual (escotomas) ou imagens brilhantes em ziguezague. O paciente pode apresentar, ainda, hemiparesia ou disfasia. A enxaqueca apresenta várias formas definidas: enxaqueca com e sem aura e enxaqueca crônica, a qual pode ocorrer por 15 dias ou + no mês, sendo a mais importante. A enxaqueca em seu nível mais básico é a cefaleia com manifestações associadas, e a cefaleia tensional é aquela que se apresenta sem manifestações. A maioria dos pacientes com cefaleia incapacitante provavelmente tem enxaqueca. Crises repetidas de cefaleia que duram 4-72 horas em pacientes com exame físico normal, nenhuma outra causa razoável para cefaleia e: Pelo menos 2 das manifestações: Pelo menos 1 das manifestações: Dor unilateral Náuseas/vômitos Dor latejante Fotofobia e fonofobia Agravamento por movimento Intensidade moderada ou grande Os pacientes com enxaqueca acefálgica (aura típica sem cefaleia) apresentam sintomas neurológicos recorrentes, com náuseas e vômitos, mas com pouca ou nenhuma dor na cabeça. A vertigem pode ser proeminente; estima-se que 33% dos pacientes encaminhados por vertigem ou tontura tiveram um diagnóstico primário de enxaqueca. A aura da enxaqueca pode apresentar sintomas proeminentes do tronco encefálico, e os termos enxaqueca da artéria basilar e tipo artéria basilar foram substituídos por enxaqueca com aura do tronco encefálico. TRATAMENTO – O tratamento da crise aguda de migrânea deve basear-se de acordo com a intensidade das crises. Além disso, é importante: Crise de fraca intensidade: o paciente pode ser orientado a repousar ou até mesmo dormir e se afastar de luzes, sons, odores que tenham desencadeado a crise. Outras medidas como uso de bolsas de gelo e/ou compressão das artérias temporais podem ser úteis. Pode ser iniciado o tratamento das crises de enxaqueca com analgésicos comuns, como a Dipirona e o AAS, assim como os AINES no início de episódios leves a moderados. Se houver náuseas ou vômitos associados ao quadro, pode-se utilizar Metoclopramida ou Domperidona. Crise de moderada intensidade: além da possibilidade de uso de analgésicos e AINEs, na crise moderada são recomendados os agonistas 5-HT1 seletivos – triptanos – e não seletivos – ergóticos. Os derivados ergóticos ligam-se receptores dopaminérgicos, o que pode explicar as náuseas que ocorrem em decorrência do seu uso. Devem ser iniciados o mais precocemente possível (não têm efeito quando utilizados tardiamente), podendo ser associados a antieméticos. Os triptanos podem ser utilizados em qualquer momento da crise, porém não devem ser associados a antieméticos. Crise de forte intensidade: recomenda-se o uso de Triptanos, Indometacina ou Clorpromazina. Dexametasona ou Haloperidol pode também ser recomendado. Pacientes com crises agudas podem apresentar boa resposta ao uso da Dipirona injetável, associada ou não a Metoclopramida e/ou antiespasmódicos. 4 LÚRIA NIEMIC ONOFRE – MED UNIC XXXIV CEFALEIA TENSIONAL______________________________________ CARACTERÍSTICAS CLÍNICAS – O termo cefaleia tensional (CT) é bastante utilizado para descrever uma síndrome de dor de cabeça crônica, caracterizada por um desconforto bilateral como uma faixa apertada. A dor costuma desenvolver-se lentamente, oscilar em intensidade e pode persistir de maneira +/- contínua por muitos dias. Pode ser: Episódica: no mínimo 10 episódios pregressos ocorridos entre 12-15 dias/mês, com duração de 30 min a 7 dias. A dor é bilateral, não é pulsátil, leve a moderada e não piora com a atividade física. Os sintomas associados incluem: ausência de náuseas e não +1 dos sintomas (fotofobia ou fonofobia). Crônica: persistem por no mínimo 15 dias a cada mês, estendem-se por no mínimo 3 meses, ou pelo menos 180 dias/ano. Os sintomas associados incluem 1: náuseas, fotofobia ou fonofobia leves. Nem náuseas moderadas a intensas nem vômitos são admitidos para o diagnóstico. Uma abordagem clínica útil é diagnosticar a CT em pacientes cujas cefaleias são completamente isentas de manifestações associadas. Tal abordagem quase distingue a enxaqueca, que tem 1 ou + dessas manifestações e é o principal diagnóstico diferencial da CT. A definição principal da International Headache Society de CT permite a presença de náuseas, fotofobia ou fonofobia em várias combinações, embora a definição do apêndice não; isso ilustra a dificuldade para distinguir essas 2 entidades clínicas. Na prática clínica, é altamente recomendado dicotomizar os pacientes com base na presença de manifestações associadas (enxaqueca) e na ausência de manifestações associadas (CT). Na verdade, os pacientes cujas cefaleias ajustam-seao fenótipo de CT e que têm enxaquecas em outros momentos, junto com história familiar de enxaqueca, doenças migranosas da infância ou gatilhos típicos para suas crises de enxaqueca, podem ser biologicamente diferentes dos que possuem CT sem nenhuma das manifestações. FISIOPATOLOGIA – O aspecto clínico mais proeminente é a hipersensibilidade acentuada à palpação dos tecidos miofasciais pericranianos. Além disso, ela está associada à intensidade e à frequência da cefaleia tensional. Ainda não está claro se isso é um fenômeno primário ou secundário. Alguns autores sugeriram que a hiperatividade muscular é uma adaptação protetora normal à dor, à isquemia muscular e às anormalidades da irrigação sanguínea. A liberação de neuropeptídios (ex. substância P e peptídeo relacionado com o gene da calcitonina) pelos músculos aferentes pode desempenhar papel importante na patogenia da dor miofascial. A hipersensibilidade da dor miofascial associada a cefaleia tensional pode ser causada por fatores centrais, como a sensibilização dos neurônios de segunda ordem, situados na altura do corno dorsal da medula espinhal/núcleo do trigêmeo ou acima. Alguns estudos sugeriram que a hipersensibilidade miofascial pode ser causada por redução do limiar da dor a compressão, por sensibilização central ou por uma combinação desses 2 mecanismos. TRATAMENTO – Deve ser orientado uso de Paracetamol ou AINEs associados ou não à cafeína quando o indivíduo apresentar dor, levando em conta a preferência pessoal, as comorbidades e o risco de efeitos adversos. É importante não oferecer opioides e monitorar o uso abusivo de medicamentos. É sugerido que, para a forma crônica, podem ser utilizados antidepressivos tricíclicos, com destaque para a Amitriptilina na dosagem de 25 mg a 75 mg/dia, em dose única, preferencialmente à noite. Como tratamento profilático pode-se considerar um curso de 10 sessões de acupuntura por 5 a 8 semanas. CEFALEIAS AUTONÔMICAS DO TRIGÊMEO______________ As cefalalgias autonômicas do trigêmeo (CATs) correspondem a um grupo de cefaleias primárias, incluindo cefaleia em salvas, hemicrania paroxística, SUNCT (crises de cefaleia neuralgiforme unilateral de curta duração com hiperemia conjuntival e lacrimejamento)/SUNA (crises de cefaleia neuralgiforme unilateral de curta duração com sintomas autônomos cranianos) e hemicrania contínua. São caracterizadas por crises de dor de cabeça de curta duração associadas a sintomas autônomos cranianos, como lacrimejamento, hiperemia conjuntival ou congestão nasal. A dor em geral é intensa e pode ocorrer +1x/dia. Devido à congestão nasal e rinorreia associadas, muitas vezes são diagnosticados de maneira errada com “cefaleia sinusal” e tratados com descongestionantes, que são ineficazes. As CATs devem ser diferenciadas das cefaleias de curta duração que não têm síndromes autonômicas cranianas proeminentes, sobretudo a neuralgia do trigêmeo, a cefaleia primária em facadas e a cefaleia hípnica. O padrão cíclico, bem como a duração, a frequência e o momento das crises, são úteis na classificação dos pacientes. Os pacientes com CAT devem submeter-se a exames de imagem e de função da hipófise, pois há um excesso de apresentações de CAT em pacientes com cefaleia relacionada com tumor hipofisário. 5 LÚRIA NIEMIC ONOFRE – MED UNIC XXXIV FISIOPATOLOGIA – Estudos recentes sugeriram que o hipotálamo é o provável gerador da cefaleia em salvas. O núcleo supraquiasmático da substância cinzenta é uma região marca-passo envolvida na regulação do hipotálamo neuroendócrino. Durante os ciclos da cefaleia em salvas e nos intervalos, foram detectados níveis baixos de testosterona e também ritmos circadianos anormais de secreção do LH, cortisol, prolactina, GH, FSH e TSH. Além disso, a melatonina está cronicamente reduzida durante a fase de atividade e nos intervalos assintomáticos. A RM detecta hiperatividade do hipotálamo ipsolateral durante as crises. Mais recentemente, na Itália e na Bélgica, a inserção de eletrodos estimuladores nessa substância cinzenta do hipotálamo de 15 pacientes com cefaléia em salvas inibiu as crises subsequentes. CEFALEIA EM SALVAS – É uma forma rara de cefaleia primária com uma frequência na população de de 0,1%. A dor é profunda, em geral retroorbital, muitas vezes de intensidade excruciante, não flutuante e de característica explosiva. Uma característica fundamental é a periodicidade. Pelo menos 1 das crises diárias de dor recorre aproximadamente na mesma hora todo dia, ao longo do episódio de salvas. O paciente típico tem surtos diários de 1 ou 2 crises de dor unilateral de curta duração por 8-10 semanas/ano, o que costuma ser acompanhado de um intervalo sem dor que dura em média um pouco menos de 1 ano. É caracterizada como crônica quando permanece em remissão menos de 1 mês sem tratamento. Em geral, os pacientes sentem-se perfeitamente bem entre os episódios. O início é noturno em 50% dos pacientes, sendo os homens acometidos com frequência 3x > que as mulheres. Os pacientes tendem a deslocar-se durante as crises, andando, balançando ou esfregando a cabeça para alívio; alguns podem tornar-se agressivos. Este é um grande contraste em relação aos pacientes com enxaqueca, que preferem permanecer quietos durante a crise. Está associada a sintomas ipsilaterais de ativação autonômica parassimpática craniana: hiperemia conjuntival ou lacrimejamento, rinorreia ou congestão nasal ou disfunção simpática craniana, como ptose. O déficit simpático é periférico e provavelmente causado por ativação parassimpática com lesão das fibras simpáticas ascendentes que circundam uma artéria carótida dilatada ao entrar na cavidade craniana. Quando presentes, há probabilidade muito maior de a fotofobia e fonofobia serem unilaterais e no mesmo lado da dor, e não bilaterais, como na enxaqueca. Tal fenômeno de fotofobia/fonofobia unilaterais é característico da CAT. A cefaleia em salvas provavelmente seja um distúrbio envolvendo os neurônios do marca-passo central na região hipotalâmica posterior. TRATAMENTO – Um dos poucos tratamentos com efetividade comprovada é o Verapamil, que é um bloqueador dos canais de cálcio com indicação para os casos de cefaleia na dosagem de 360-480 mg, diários. Quando a cefaleia em salvas é muito frequente, ou pode ser definida como crônica, o uso de corticoide, equivalente a prednisona 40 mg, oferece alívio e pode ser mantido nesta dose, iniciando-se a retirada após 3 dias de tratamento, seguindo o ritmo de 5 mg/dia. Outra opção terapêutica é a descompressão cirúrgica do 5º par craniano para pacientes com crises frequentes. COMPARAÇÃO DAS CEFALEIAS PRIMÁRIAS
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