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Lucas Melo – Medicina Ufes 103 DOENÇA INFLAMATÓRIA INTESTINAL E DOENÇAS CONGÊNITAS/MALFORMAÇÕES Doença inflamatória intestinal: As duas formas são colite ulcerativa (retocolite ulcerativa) e doença de Crohn, são idiopáticas e se manifestam com diarreia prologada (anos ou décadas, dizemos diarreia crônica quando ela persiste por mais de 6 meses). Na aula o professor mostrou a morfologia normal do intestina e a microscopia também, onde mostrou as criptas ancoradas na camada muscular, elas são retilíneas, no corte transversal (3ª imagem) vemos que são estruturas tubulares com um diâmetro parecido e distanciamento entre elas bem homogêneo (aspecto em margarida). Ainda na 2ª imagem, podemos perceber os linfócitos infiltrados perto do epitélio. A colite ulcerativa é uma inflamação difusa e inespecífica que acomete mucosa do reto e do cólon (restrito a mucosa), formando úlceras. A doença de Crohn pode acometer qualquer porção do TGI, mas é mais comum no íleo terminal, há um comprometimento segmentar multifocal formando lesões salteadas e uma inflamação transmural de todas as camadas, podendo formar fissuras, fístulas e abcessos (granulomas epitelióides sem necrose caseosa). As principais complicações dessas doenças são diarreia e distúrbios eletrolíticos, que podem ser fatais. A etiopatogênese dessas doenças está relacionada com alguns mecanismos, embora ainda desconhecida em sua totalidade: Fatores genéticos (15% dos acometidos tem um parente em primeiro grau com a doença), fatores microbióticos (inflamação tem maior grau nos lugares com uma maior densidade bacteriana, além de que bactérias e seus produtos aumentam a permeabilidade da mucosa), fatores imunitários (pode ser por conta de uma ativação imunitária anormal e continua, algum defeito intrínseco nesse sistema ou falha da supressão da RI, colite ulcerativa é resposta mediada por Th2 e doença de Crohn é mediada por Th1) e outros fatores como o aumento da permeabilidade da mucosa, uso de anti-inflamatórios não esteroidais. Doença de Crohn: É mais frequente na Inglaterra, EUA, países escandinavos, mais em mulheres brancas entre 20 e 40 anos. Na maioria dos casos as lesões são restritas ao intestino delgado, principalmente íleo terminal, mas pode acometer outras partes, podendo ir da boca até o ânus. As lesões são segmentares, bem demarcadas e há áreas intercaladas de lesão e de mucosa normal (essas áreas possuem hiperplasia de células caliciformes e hiperprodução de muco), é uma lesão granulomatosa (granuloma não necrosante) Assim como a colite ulcerativa, é uma doença que cursa com diarreia crônica e também é recidivante, a inflamação é transmural, no início o segmento fica edemaciado e congesto e há destruição epitelial com a formação de úlceras, que são profundas e estreitas e se distribuem no longo eixo do intestino. A doença evolui com fibrose, fazendo com que a área fique estreita e rígida. A serosa do segmento afetado fica com aspecto granular e pode formar aderências, que associada a úlceras podem fistulizar, pode haver a formação de abcessos na parede intestinal, cavidade abdominal ou mesentério. Lucas Melo – Medicina Ufes 103 O que chama atenção nessas lesões é que elas são bem mais circunscritas e as úlceras são bem profundas, vai deixando cicatrizes na parede também, dá para ver retrações fibróticas da parede (pontes de tecido fibroso cicatricial que deformam a luz intestinal), isso é uma característica importante pois ela é uma doença estenosante, ela vai estreitando a luz do intestino (isso pode gerar obstrução intestinal). Na microscopia vemos algumas diferenças, como granulomas epitelióides que passam do epitelio e podem chegar na lamina própria, na submucosa, etc. Observar na micro o aumento da celularidade da camada submucosa. O quadro clínico é variável, episódios intercalados e agudos de febre, diarreia e dor abdominal e quando há o comprometimento do colón, há sangue nas fezes e anemia, sendo que essas manifestações podem ser abruptas, podendo ser confundidas com uma apendicite. Outras complicações são a obstrução do intestino delgado por conta da estenose provocada, fístulas, abcessos, peritonite, megacólon tóxico, perfuração intestinal, além do risco aumentado para cânceres. Manifestações extraintestinais são artrite, eritema nodoso, espondilite anquilosante, uveíte, colelitíase, etc. Colite ulcerativa: Mais comum na faixa etária de 20 a 40 anos, predomínio do gênero feminino e etnia branca, as lesões comprometem, principalmente, reto e sigmóide (porção distal), é uma doença redicivante no indivíduo com diarreia crônica. Possui uma ótima sensibilidade terapêutica e não é uma doença granulomatosa (na doença de Crohn tem). A patogênese está relacionada com a permeabilidade aumentada da mucosa e alterada a antígenos do conteúdo intestinal, influência de fatores genéticos com mutação no gene NOD2 e fatores microbiológicos com a inflamação mais intensa onde tem mais bactéria (reto e ceco) e a inflamação é mediada por linfócitos TCD4. O quadro clínico e patológico da doença depende da intensidade e fase da doença, é uma inflamação superficial e vemos que a mucosa está hiperemiada, granular, friável, sangra com facilidade, contém menor quantidade de muco (redução das céls caliciformes) e pode apresentar pontos hemorrágicos, que vão sofrer necrose, se tornar purulentos e ulcerar. Vemos pseudopólipos (resultantes da protrusão das ilhas da mucosa remanescente), as úlceras são de Lucas Melo – Medicina Ufes 103 vários tamanhos e se dispõem ao longo eixo do cólon. Não há reação granulomatosa aqui (na doença de Crohn tem). Podemos observar na imagem a presença de pus, vemos também que as saculações do intestino grosso sumiram e ele está se assemelhando a um tubo. Na outra imagem vemos os pseudopólipos, onde a mucosa ainda está saliente, ela também mostra a mucosa antes do tratamento e depois do tratamento, provando como ela se regenera e volta a ser brilhante (fase de quiescência da inflamação), e a terceira imagem mostra um pseudopólipos e vemos que entre eles a mucosa não está existente, vemos nessa imagem que a camada muscular está preservada, ou seja, a inflamação se mantém na camada epitelial. Nos períodos de remissão ou cura, a mucosa consegue se regenerar (como vimos na imagem acima), mas há uma fibrose da submucosa, geralmente não acomete a serosa, deixando aquela região mais firme. A diarreia se manifesta de forma sanguinolenta com muco e pus, ainda vemos cólicas abdominais, desidratação, perda de eletrólitos, alterações da motilidade intestinal e desnutrição. E as manifestações extraintestinais são parecidas com as da doença de Crohn. OBS: O que caracteriza a colite ulcerativa é a subversão da arquitetura glandular principalmente. Colite colagênica e linfocítica: Fazem parte do grupo de colites microscópicas, são vistas em pacientes com diarreias crônicas que tem uma colonoscopia normal. A linfocítica pode ocorrer em adultos de ambos os gêneros, há o aumento do número de linfócitos intraepiteliais e 25% dos casos estão associados a doença celíaca. A colagênica se caracteriza pelo espessamento do colágeno subepitelial, mais comum em mulheres com mais de 40 anos e mais de 40% dos casos se relacionam com doenças sistêmicas, como artrite reumatoide, tireoidite e diabetes melito. Anormalidades congênitas Começou a aula falando sobre quais seriam os temas abordados: Esôfago (atresia, heterotopia de mucosa, cisto de duplicação e divertículos), estômago (estenose hipertrófica do piloro), duodeno (atresia), íleo (divertículo de Meckel) e intestino grosso (aganglionose). Atresias, fístulas e duplicações: Podem ocorrer em qualquer parte do TGI, quando ocorrem dentro do esôfago são descobertas mais rapidamente por conta da regurgitação alimentar, a agenesia do esôfago é rara, a atresia,que é o desenvolvimento incompleto, isso causa uma obstrução mecânica, pois o alimento não consegue passar. A atresia esofágica pode estar relacionado com fistulas, que normalmente vão conectar os segmentos do esôfago com a traqueia ou brônquios, isso pode causar aspirações, sufocamento, pneumonia, desequilíbrio de eletrólitos, etc. A atresia intestinal é menos comum que a esofágica, mas quando ocorre, normalmente, envolve o duodeno. A forma mais comum de atresia do esôfago, é a atresia da porção superior com uma fístula da porção inferior com a traqueia ou Lucas Melo – Medicina Ufes 103 brônquios, isso pode fazer com que o conteúdo gástrico retorne para a árvore respiratória e causa danos que podem ser bem graves. A estenose é uma atresia incompleta, pois a luz fica diminuída por conta do espessamento do tecido fibroso da parede, podendo causar uma obstrução parcial ou total, e a estenose pode ser adquirida por conta de uma cicatrização por fibrose de uma área de inflamação. Hérnia diafragmática, onfalocele e gastroquise: Hérnia diafragmática ocorre na formação incompleta do diafragma e permite a projeção das vísceras abdominais na cavidade torácica, quando é muito grave pode gerar hipoplasia pulmonar, sendo incompatível com a vida. Onfalocele ocorre pelo fechamento incompleto da musculatura abdominal e as vísceras se projetam dentro de um saco membranoso que fica ventral, pode ser reparada cirurgicamente. A gastroquise é semelhante a onfalocele, mas envolve todas as camadas da parede, desde peritônio até pele. Ectopia: Tecidos ectópicos (restos de desenvolvimento) são comuns no TGI, o local mais frequente de mucosa gástrica ectópica é o terço superior do esôfago. A heterotopia é um tipo de ectopia, a heterotopia gástrica aparece na mucosa do esôfago como uma ilha circular de mucosa mais vermelha, isso tem que ser diferencia do esôfago de barret, esse é uma metaplasia gástrica, ela vai ser na junção gastresofágica, a heterotopia gástrica é a mucosa gástrica for do lugar normal de uma forma não metaplásica, as complicações desse caso são raras e normalmente são achados de endoscopia. Cisto de duplicação: Ocorre na submucosa do esôfago, dá a ideia de ser translucida, intramural e no exame de imagem do esôfago conseguimos ver uma lesão cística obliterando o órgão, o cisto examinado tem a característica de possuir todas as camadas do segmento intestinal examinado (se for do esôfago tem que encontrar todas as camadas do esôfago nele). Esse cisto de duplicação é como se fosse um esôfago sequestrado na parede normal, porém sem comunicação (um mini esôfago kk), e isso pode ocorrer em todo segmento intestinal. A principal queixa dos pacientes é da sensação de engolir alguma coisa que não desceu (entalou), pode causar obstrução e pode ser invadido por agentes etiológicos, que vão causar inflamação e pode gerar dor. Divertículos: Normalmente são adquiridos, na transição faringoesofágica existe uma área de fraqueza muscular, acontece especialmente naqueles que tem uma discinesia do movimento de deglutição, a pressão intraluminal aumenta e força a mucosa a dissecar os feixes musculares dessa área e faz a extrusão para a região adventícia, podendo ser um divertículo posterior ou lateral, adquiridos por um defeito de motilidade da parede que faz com que o conteúdo do esôfago impulsione a mucosa por essa área de fraqueza muscular, isso é progressivo, vai aumentando e o tratamento é cirúrgico. Lucas Melo – Medicina Ufes 103 Estenose hipertrófica do piloro: É uma doença do recém-nascido ou do lactente muito jovem, pois ela se manifesta nas primeiras semanas de vida, o piloro tem uma grande hipertrofia da camada muscular própria, obliterando a luz da junção gastroduodenal, o piloro fica tão fechado e não consegue passar quase nada além da luz, isso se caracteriza por uma fome implacável nas crianças, o que ele comeu ele vomitou e logo depois ela já quer se alimentar de novo, ela vai perdendo peso pois não consegue progredir o alimento para o intestino. A peristalse nessas crianças é tão exagerada para tentar vencer essa obstrução, que frequentemente se percebe a onda peristáltica através da parede torácica, o ultrassom abaixo mostra a hipertrofia, comum em sexo masculino, branco, geralmente com história familiar. Atresia duodenal: Obstrução completa do duodeno proximal ou do duodeno distal, no exame de imagem se vê o estômago cheio de ar após a deglutição, o bulbo duodenal cheio de ar também (caracterizando o sinal da dupla bolha), e todo o restante do intestino vazio, sinal de que há uma obstrução completa que não passa nem ar. Essa criança já demonstra sinais de obstrução intestinal desde o nascimento, a principal complicação é a pneumonia aspirativa, pois como a criança vomita demais, ela tem uma maior chance de aspirar o conteúdo e dar uma pneumonia. Como a atresia normalmente acontece depois das saídas das vias biliares, o vômito dessa criança é biloso, o que é diferente na hipertrofia do piloro, pois as vias biliares se abrem no bulbo duodenal (que fica depois do piloro). 30% de todas essas atresias duodenais estão relacionadas com a sindrome de Down. Divertículo de Meckel: É um remanescente embrionário do conduto onfalomesentérico que comunica o íleo com o umbigo, ele pode permanecer com tecido viável e pode promover fístulas mucosas no umbigo, cistos ao longo do conduto, mas o mais comum é a permanência desse divertículo (que é verdadeiro pois possui todas as camadas intestinais) e está presente na borda antimesentérica do intestino, o problema dele é a ulcera dele que sangue, que pode dar uma hemorragia digestiva grave, pode gerar acumulo de bolo alimentar dentro do divertículo também. Aganglionose: Imagem mostrando o aspecto clássico, vemos um intestino grosso normal (para saber que é grosso reparar nas tênias) e ele sofre um estreitamento abrupto, o segmento estreitado tem todas as estruturas da parede intestinal, mas ele é espástico, portanto ele não vai ter onda peristáltica, vai estar sempre contraindo e gera obstrução, isso vai gerar uma dilatação do segmento intestinal anterior a essa área de estreitamento, levando a um megacólon congênito. A aganglionose está no segmento espástico, e a onda peristáltica vai fazer com que o segmento anterior a isso se dilate, essa espasticidade se dá pela não migração das células embriológicas neurais que deixaram de formar os neurônios que vão preencher os plexos mioentérico e submucoso dessa porção, por isso ela não tem motilidade. Lucas Melo – Medicina Ufes 103 Ela pode acometer qualquer porção do intestino, e é importante ressaltar que você não vai ter um segmento de aganglionose e depois um segmento normal, pois as células neurais pararam naquela porção, então tudo dali para frente não tem neurônio dentro do plexo e vai estar na forma de aganglionose e normalmente é uma doença segmentar distal. A manifestação clinica vai ser constipação, pode produzir colite por conta do acúmulo de fezes na região, a criança pode ter escapes de conteúdo intestinal líquido, que as vezes aparece como diarreia (curioso mas pode existir). OBS: Na microscopia até conseguimos ver os nervos e os plexos, mas eles não possuem neurônios dentro deles.
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