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LIPÍDIOS E PROTEÍNAS 1. METABOLISMO O metabolismo, a soma de todas as transformações químicas que ocor rem em um organismo, é uma ativida de celular altamente coordenada, em que muitos sistemas multienzimáti cos (vias metabólicas) cooperam para desempenhar suas funções básicas: • Obter energia química do ambien te, por captura de energia solar ou por degradação de nutrientes; • Converter moléculas de nutrien tes em moléculas do próprio organismo; • Polimerizar precursores monomé ricos em produtos poliméricos (ex.: aminoácidos . proteínas); • Sintetizar e degradar biomoléculas requeridas em funções celulares especializadas. O metabolismo pode ser dividido em estágios que refletem o grau de com plexidade ou tamanho das moléculas geradas. No nível 1, temos as reações químicas de conversão de metabóli tos poliméricos, em seus constituin tes monoméricos. No nível 2, esses monômeros são quebrados em in termediários simples. No nível 3, em organismos aeróbicos, a principal via é o ciclo de Krebs, onde os intermedi ários do nível 2 são degradados com pletamente a CO2 e H2O. ESQUEMA GERAL DOS TRÊS ESTÁGIOS DO METABOLISMO Glicídeos Açúcares simple A informação necessária para espe cificar cada reação vem da estrutura da enzima que catalisa aquela reação. Qualquer participante de uma reação metabólica, seja ele substrato, inter mediário ou produto, é chamado de metabólito, e as moléculas que não podem ser mais utilizadas pelo orga nismo e, portanto, devem ser elimina das, são denominadas catabólitos. O metabolismo pode ainda ser dividi do em duas principais categorias: • Anabolismo (ou biossíntese): Pro cessos que envolvem primaria mente a síntese de moléculas orgânicas complexas a partir de precursores pequenos e simples. Esses processos necessitam de energia, geralmente na forma de potencial de transferência do ATP e do poder redutor de transporta dores de elétrons e baseiam-se na redução de moléculas (ganho de elétrons). • Catabolismo: Processos relacio nados à degradação de substân cias complexas com concomitante geração de energia. Parte dessa energia é conservada na forma de ATP e de transportadores de elé trons reduzidos; o restante é per dido como calor. Baseiam-se na oxidação de moléculas (Perda de elétrons). No entanto, é importante considerar que muitos substratos das vias anabó licas são formados como intermediários nos processos catabólicos e vice-versa. Algumas vias metabólicas são line ares e algumas são ramificadas, ge rando múltiplos produtos a partir de um único precursor (divergente) ou convertendo vários precursores em um único produto (convergente). Al gumas vias são cíclicas: um compos to inicial da via é regenerado em uma série de rações que converte outro componente inicial em um produto. No nosso organismo, existem molécu las que auxiliam algumas enzimas nos processos de óxido-redução e, por tanto, são denominadas coenzimas. São exemplos de coenzimas a nicotina adenina di-nucleotídeo (NAD) e a flavi no-adenino dinucleotídeo (FAD), molé culas especializadas no transporte de hidrogênio. Quando essas coenzimas estão associadas ao hidrogênio, encon tram-se “reduzidas” e quando perdem esses hidrogênios, são ditas “oxidadas”. As vias de síntese e degradação de uma dada moléculas não são as mes mas. Quase sempre os dois caminhos são bastante distintos um do outro. Embora apresentem reações enzi máticas e intermediárias comuns, são vias diferentes por possuírem dife rentes enzimas catalisando pelo me nos parte de suas reações. A regulação metabólica é realizada em nosso organismo, principalmente, pelos seguintes mecanismos: • Controle dos níveis de enzimas: As concentrações das diversas enzimas intracelulares variam de modo que aquelas envolvidas nas vias centrais de produção de ener gia devem ser mais abundantes do que as que realizam funções li mitadas na célula. Além disso, os níveis de uma mesma enzima po dem variar em função das necessi dades de um dado momento. • Controle da atividade da enzima: Pode ser controlada pela interação com um ligante ou por modificação covalente. No primeiro caso, o subs trato da enzima em alta concentra ção tende a ativá-la, enquanto seu produto final na quantidade dese jada tende a inibi-la. Já no segundo caso, normalmente, ligações cova lentes estão associadas com regula ções em cascata, ou seja, a modifi cação ativa uma enzima, a qual ativa uma segunda enzima, que pode ati var uma terceira enzima, que final mente atua sobre um substrato. • Controle por compartimentaliza ção: Em geral, a via de síntese de uma molécula ocorre em um com partimento celular distinto de onde ocorre sua via de degradação. • Regulação hormonal: Hormônios são mensageiros químicos que, por sinalização celular, induzem mudanças no comportamento da célula. Estas mudanças são efeti vadas por mecanismos regulató rios, tais como: mudanças na ativi dade ou na concentração de uma enzima e mudanças na permea bilidade da membrana para um substrato em particular. 2. CATABOLISMO DE AMINOÁCIDOS E PROTEÍNAS Apesar das proteínas corporais repre sentarem uma proporção significativa de reservas potenciais de energia, elas costumam ser utilizadas na pro dução de energia apenas em situa ções de jejum prolongado, quando os carboidratos já não estão disponíveis como combustível. Além da sua fun ção como importante fonte de carbo no para o metabolismo oxidativo e a produção de energia, as proteínas da dieta têm de fornecer quantidades adequadas dos aminoácidos que não podemos sintetizar para sustentar a síntese normal de novas proteínas. A fim da proteína da dieta contribuir tanto para o metabolismo energético quanto para o pool (conjunto) de ami noácidos essenciais, a proteína preci sa ser digerida a aminoácidos livres ou pequenos peptídeos e absorvida no intestino. A digestão da proteína começa no estômago, por ação da pepsina, em pH baixo promovido pela secreção de ácido clorídrico no suco gástrico, que é secretado por ação do hormônio gastrina. Em seguida, con tinua no intestino delgado com a in serção de secreções pancreáticas. O pâncreas libera bicarbonato de sódio para neutralizar o conteúdo gástrico, aumentando o pH para aproximada mente 7. Além disso, são secretadas enzimas pancreáticas como a tripsina, a quimotripsina e as carboxipeptida des em suas formas inativas (zimogê nios) e são ativadas no intestino. Com o auxílio de algumas enzimas proteo líticas localizadas na borda em esco va das células do intestino delgado, o processo de quebra das proteínas em aminoácidos é completado. De pois que todos os di- ou tripeptídeos remanescentes são degradados nos enterócitos, os aminoácidos livres são transportados pela veia porta ao fíga do para o metabolismo energético, ou distribuídos para outros tecidos. CORRELAÇÃO CLÍNICA! A pancre atite aguda é caracterizada como uma doença inflamatória decorrente da ati vação anormal das enzimas pancreáti cas e liberação de uma série de media dores inflamatórios, atingindo, além do pâncreas, os tecidos peripancreáticos, podendo inclusive afetar outros órgãos. Desse modo, os zimogênios são con vertidos para sua forma ativa ainda nas células pancreáticas, causando a pró pria destruição da glândula. Isso causa dores intensas e lesão ao órgão, o que pode ser fatal. É considerada a doença pancreática mais comum em crianças e adultos, e pode se manifestar com duas apresentações clínicas: leve (intersticial) – as manifestações cursam com mínima repercussão sistêmica, obtendo melhora com a reposição de líquidos e eletrólitos – ou grave (necrosante) – além das com plicações locais, há falência de órgãos e sistemas distantes. 9 LIPÍDEOS E PROTEÍNAS 2 DIGESTÃO DAS PROTEÍNAS Proteínas Resultante da clivagem As enzimas são lançadas no intestino em suas formas inativas PEPSINA do pepsinogênio Origina oligopeptídeos de diferentes tamanhos TRIPSINAAge em pH baixo QUIMIOTRIPSINA ZIMOGÊNIOS CARBOXIPEPTIDASES Proporcionado pelo HCl Atuam em pH alcalino Proporcionado peloHCO3- As proteínas, como os demais com postos constituintes de um organis mo, não são permanentes, estando em contínua degradação e síntese. Estima-se que, em um ser humano adulto com uma dieta adequada, haja uma renovação (turnover) de aproxi madamente 400g de proteínas por dia. A manutenção da concentração de uma determinada proteína é ob tida pela síntese desta proteína em uma velocidade equivalente à de sua degradação e, embora existam varia ções de concentrações em tempos muitos curtos, em geral, a concentra ção proteica mantém-se constante no indivíduo adulto e hígido. Uma consequência importante do turnover proteico é restar sempre uma certa quantidade de aminoáci dos não utilizados, porque o conjunto de aminoácidos gerados da degra dação de proteínas nunca é igual ao conjunto de aminoácidos necessários para compor as proteínas a serem sintetizadas. Sabendo que não há meio de armazenar aminoácidos em nosso organismo, satisfeitas as ne cessidades de síntese, os excedentes são degradados e seu nitrogênio ex cretado. O conjunto de aminoácidos é utilizado para a síntese de proteínas e de outras moléculas nitrogenadas (os aminoácidos são precursores de to dos os compostos nitrogenados não proteicos). Podemos concluir, então, que os ami noácidos sofrem o processo oxidativo em três diferentes circunstâncias metabólicas: • Durante a síntese e degradação normal de proteínas, alguns ami noácidos obtidos pela degradação são utilizados para a síntese de novas proteínas; • Quando a dieta é rica em prote ínas, e a ingestão excede as ne cessidades do corpo a síntese de proteínas endógenas, tal excesso é degradado, visto que os amino ácidos não podem ser estocados; • Durante o jejum ou em doenças como a diabetes melito, quando os carboidratos já não estão mais disponíveis ou não podem ser uti lizados, as proteínas celulares são utilizadas como combustível. Em todas essas condições metabó licas, os aminoácidos perdem seus grupamentos amino para formar α-cetoácidos, os “esqueletos de car bono” dos aminoácidos. Os α-ceto ácidos sofrem oxidação a e H2O ou, geralmente mais importante, forne cem unidades de 3 e 4 carbonos que podem ser convertidas em glicose. De um modo geral, as vias de degra dação convergem para vias metabóli cas centrais. No caso do metabolismo dos aminoácidos, todos eles con têm um grupamento amino; logo seu processo de degradação inclui uma etapa chave, na qual o grupamento amino é separado do esqueleto de carbonos e desviado para vias espe cíficas de utilização de aminoácidos. A cadeia de carbonos é utilizada em rotas metabólicas de gliconeogênese 3. CATABOLISMO DE AMINOÁCIDOS A degradação dos aminoácidos compreende a remoção e a excre ção do grupo amino e a oxidação da cadeia carbônica remanescente (α-cetoácido). Remoção do grupo amino O primeiro passo no catabolismo da maioria dos aminoácidos (12 deles) é a transferência de seus grupos ami no para o α-cetoglutarato, formando glutamato. Aminoácido + α-cetoglutarato ↔ α-cetoácido + glutamato α - Cetoglutarato L - Glutamato PLP Amino - transferase L - Aminoácido α - Cetoácido Figura 2. Transaminações catalisadas por enzimas. Fonte: NELSON, David L.; COX, Michael M.. Princípios de bioquímica de Lehninger. 6. ed. Porto Alegre: Art med, 2014. 1 v Estas reações são catalisadas por aminotransferases, também chama das transaminases, enzimas presen tes no citosol e na mitocôndria e que têm como coenzima piridoxal-fosfato (derivada da vitamina B6). Esse gru po prostético apresenta-se covalen temente ligado ao grupo amino de um resíduo específico de lisina no sí tio ativo da enzima. As aminotransfe rases dos tecidos de mamíferos acei tam diferentes aminoácidos como substratos doadores de grupo, mas seu nome deriva do aminoácido pelo qual a enzima tem mais afinidade. Dois exemplos importantes são: as partato aminotransferase (1) e alani na aminotransferase (2). Aspartato + α-cetoglutarato ↔ Oxaloacetato + Glutamato Alanina + α-cetoglutarato ↔ Piruvato + Glutamato O efeito das reações de transami nação é coletar grupos amino de di ferentes aminoácidos, na forma de L-glutamato. O glutamato então fun ciona como doador de grupos amino para vias biossintéticas ou para vias de excreção, que levam à eliminação de produtos nitrogenados. O glutamato formado é consumi do em duas reações importantes: uma nova transaminação e uma de saminação. Por ação do aspartato aminotransferase, o grupo amino do glutamato é transferido para o oxalo acetato, formando aspartato, o se gundo depósito do grupo amino dos aminoácidos Glutamato + Oxaloacetato ↔ Aspar tato + α-cetoglutarato SE LIGA! O aspartato aminotransferase é a transaminase mais ativa na maioria dos tecidos de mamíferos, evidenciando a importância dessa reação, e é uma ex ceção à regra de que as aminotransfera ses funilam os grupos amino para formar glutamato. Já a alanina-aminotransfe rase, também muito importante, está presente em muitos tecidos e catalisa a transferências do grupo amino da alani na para o α-cetoglutarato, resultando na formação de piruvato e glutamato. Des se modo, o glutamato atua efetivamente como coletor de nitrogênio da alanina. Por outro lado, o glutamato pode ser desaminado, ou seja, o grupo amino pode ser liberado como amônia (íon NH4+) em pH fisiológico. Esta reação é catalisada pelo glutamato desidro genase, uma enzima mitocondrial, encontrada principalmente no fígado. É a única enzima que utiliza NAD+ ou NADP+ como aceptor de equivalen tes reduzidos. Glutamato + NADP+ + H2O ↔ α-ce toglutarato + NADPH + H+ + NH4+ A glutamato desidrogenase é es pecífica para o glutamato, não se conhecem desidrogenases análogas para qualquer outro aminoácido. A ação combinada das aminotrans ferases e da glutamato desidrogena se resulta na convergência do grupo amino na maioria dos aminoácidos para dois compostos únicos: NH4+ e aspartato. T Alguns aminoácidos que não partici pam inicialmente de reações de tran saminação com o α-cetoglutarato, apresentam vias de degradação que, ao contrário dos outros doze apresen tam reações particulares a cada um deles para remoção do grupo amino. De qualquer modo, o grupo amino ou é liberado como NH4+ por reações de desaminação, ou forma glutama to através de transaminação de um intermediário aminado com α-ceto glutarato. Desta forma, os átomos de nitrogênio Transporte de amônia para o fígado A amônia é bastante tóxica para os tecidos animas, mas, como diversos processos metabólicos geram amô nia livre, a maior parte dela é con vertida em um composto não tóxico antes de ser exportada dos tecidos extra-hepáticos para o sangue e, en tão, transportada até o fígado ou até os rins. Paraessa função de transporte, o gluta mato, essencial para deste conjunto de ami noácidos convergem para os mesmos pro dutos originados pelo grupo amino dos outros aminoácidos: NH4+ ou glutamato, que pode gerar aspartato. o metabolismo intra celular do grupo ami no, combina-se com a amônia livre produzida nos tecidos e é conver tida em glutamina, por ação da glutamina-sin tetase. Essa reação re quer ATP e ocorre em duas etapas. Lisina Prolina NH4+ Na maioria dos animais terrestres, a glutamina que necessidades de biossíntese é transportada pelo sangue para o intesti no, o fígado e os rins, para ser processada. Na mito côndria desses tecidos, a enzima glutaminase con verte glutamina em gluta mato e NH4+. O NH4+ do intestino e dos rins é trans portado para o fígado, onde a amônia é utilizada na sín tese da ureia. Parte do glutamato origina do na reação da glutamina se pode ser adicionalmente processada no fígado pela glutamato-desidrogen a se, liberando mais amônia e produzindo esqueletos de carbono para utilização como combustível. Contu do, a maior parte do glu tamato entra em reações de transaminação neces sárias para a biossíntese de aminoácidos e outros processos. O transporte dos grupos amino para o fígado também pode ser desempe nhado pela alanina, por meio de uma viadenominada ciclo da glicose-ala nina. Nesse ciclo, o glutamato forma do no músculo e em alguns outros tecidos, na reação de transaminação pode transferir seu grupo amino para o piruvato, produto da glicólise mus cular, pela ação da alanina-amino transferase. Assim, a alanina produ zida segue para o fígado pelo sangue. LIPÍDEOS E PROTEÍNAS 2 19 No citosol dos hepatóci tos, o grupo amino da ala nina é transferido para o α-cetoglutarato, forman do piruvato e glutamato. O glutamato então entra na mitocôndria, onde a reação da glutamato de sidrogenase libera NH4+, ou sofre transaminação com o oxaloacetato para formar aspartato, outro doador de nitrogênio para a síntese de ureia. Essa forma de transpor te elucida uma economia de energia intrínseca dos organismos vivos, haja vista que o músculo não precisa gastar ATP na gliconeogênese, função desempenhada pelo fíga do. Assim, toda a energia produzida na glicólise é efetivamente utilizada na contração muscular. Figura 7. Ciclo da glicose – alanina. Fonte: NELSON, David L.; COX, Michael M.. Princípios de bioquímica de Lehninger. 6. ed. Porto Alegre: Artmed, 2014. 1 v SAIBA MAIS! A toxicidade da amônia – A capacidade do ciclo hepático da ureia excede as velocidades normais de produção de amônia e os níveis de amônia sérica são, normalmente, baixos. No entanto, quando a função hepática estiver comprometida, devido a defeitos genéticos no ciclo da ureia ou doença hepática, os níveis sanguíneos de amônia podem elevar-se. Essa hiperamonemia é uma emergência médica, pois a amônia apresenta efeito neurotóxico dire to no SNC, manifestando-se por sintomas como tremores, discurso inarticulado, sonolência, vômito, edema cerebral e visão borrada. Em altas concentrações, a amônia pode causar coma e morte. Ciclo da Ureia O processo de formação de um mol de ureia requer 4 mols de ATP, envol ve a participação de cinco enzimas e possui seis aminoácidos (apenas dois são aminoácidos proteicos: arginina e aspartato) como intermediários. Os dois nitrogênios de uma molécula de ureia são derivados da amônia livre e do grupo amino do aspartato. A síntese da ureia inicia-se na matriz mitocondrial dos hepatócitos, com a formação de carbamoil-fosfato a partir de CO2, na forma de íons de bicarbonato, e amônio, oriundo dos processos de degradação dos amino ácidos, e o gasto de duas moléculas de ATP. Essa reação é catalisada pela carbamoil-fosfato-sintetase I (CPSI). O carbamoil-fosfato, que funcio na como doador ativado dos grupos carbamoila, entra no ciclo da ureia, composto de 4 etapas enzimáticas. Primeiro, o carbamoil-fosfato con densa-se com ornitina, doando seu grupo carbamoila, para formar ci trulina. A reação é catalisada pela ornitina-transcarbamilase e apresen ta liberação de fosfato inorgânico (Pi). A citrulina é transportada para o ci tosol, onde reage com aspartato, pro duzido na mitocôndria por transami nação e transportado para o citosol, formando argininossuccinato. Essa reação citosólica é catalisada em pre sença de ATP pela arginino-succina to-sintetase e envolve a formação in termediária de citrulil-AMP. O argininossuccinato é então clivado pela arginino-succinase, formando arginina, que retém o nitrogênio, e fu marato. Esta é a única reação rever sível do ciclo da ureia. O fumarato é convertido, pela adição de água, em malato, o qual é oxidado, formando oxaloacetato. O oxaloacetato, então, é transaminado pelo glutamato, pro duzindo novamente o aspartato. Na última etapa do ciclo, a arginina é hi drolisada pela enzima arginase, re generando ornitina, que é transpor tada para a mitocôndria para iniciar uma nova volta no ciclo, e produzindo ureia, que é transportada ao rim e eli minada pela urina. Mecanismos de regulação do ciclo da ureia O ciclo da ureia é regulado em par te pelo controle da concentração de N-acetilglutamato, o ativador alosté rico essencial da carbamoil-fosfato- -sintetase I. A arginina é um ativador alostérico de N-acetilglutamato sinta se e é também uma fonte de ornitina, via arginase, para o ciclo da ureia. A indução das enzimas do ciclo da ureia ocorre também quando a liberação de amônia ou de aminoácidos para o fígado aumenta. A concentração dos intermediários também tem um papel importante nessa regulação. Durante a acidose, como um mecanismo para excretar prótons pela urina, a síntese e a excreção da ureia estão diminuí das e a excreção de NH4+ aumenta da. Um alto teor de proteína na dieta (excesso de fornecimento de aminoá cidos), bem como situações de jejum (aumento da degradação de proteí nas endógenas) resultam na indução de enzimas do ciclo da ureia. Estequiometria geral do ciclo da ureia Aspartato + NH4+ + HCO3- + 3 ATP Degradação da cadeia carbônica dos aminoácidos Removido o grupo amino do amino ácido, resta sua cadeia carbônica, na forma de α-cetoácido. As vinte cadeias carbônicas diferentes apresentam vias específicas de degradação diferentes, mas que convergem para a produção de apenas alguns compostos: piruvato, acetil-CoA ou intermediários do ciclo de Krebs (oxaloacetato, α-cetogluta rato, succinil-CoA e fumarato). A partir deste ponto, o metabolismo da cadeia carbônica dos aminoácidos já se con funde com o das cadeias carbônicas de carboidratos ou de ácidos graxos. O destino dos α-cetoácido, a depen der do tecido e do estado fisiológico, poderá ser: oxidação pelo ciclo de Krebs, utilização pela gliconeogêne se ou conversão a triacilgliceróis e armazenamento. A maioria dos aminoácidos produz piruvato ou intermediários do ciclo de Krebs, os glicogênicos. A leucina e a lisina originam corpos cetônicos, sendo os únicos aminoácidos exclusi vamente cetogênicos. Alguns outros aminoácidos – isoleucina, fenilala nina, tirosina, treonina e triptofano – são tanto glicogênicos quanto ceto gênicos, isto é, são glicocetogênicos. SE LIGA! No caso dos cetogênicos, a acetoacetil-CoA é convertida em aceto acetato no fígado e, então, em acetona e β- hidroxibutirato. Sua capacidade de produzir corpos cetônicos é especial mente evidente no diabetes melito não controlado, quando o fígado produz grandes quantidades de corpos cetôni cos a partir de ácidos graxos e aminoá cidos cetogênicos.Citrato Correlações clínicas com o catabolismo de aminoácidos As doenças hereditárias do meta bolismo de aminoácidos (são co nhecidas mais de 100) constituem a maioria das síndromes genéticas metabólicas, refletindo o grande nú mero de vias que compõem essa área do metabolismo. Um grande número dessas doenças é resultante de de feitos enzimáticos, os quais têm por consequência o acúmulo de um me tabólito em todos os fluidos corpóreos e a sua excreção na urina. A alteração da via metabólica que inclui a enzima afetada tem amplos reflexos sobre outras vias. Os efeitos globais variam de acordo com a enzima defeituosa. • FENILCETONÚRIA: Caracterizada como o defeito hereditário mais fre quente do metabolismo de amino ácidos, essa doença é causada por ausência de fenilalanina hidroxila se, a primeira enzima na via cata bólica da fenilalanina, ou, mais ra ramente, da tetra-hidrobiopterina. A fenilalanina hidroxilase converte fenilalanina em tirosina e utiliza te tra-hidrobiopterina como coenzi ma (raramente, a doença também pode ser causada por um déficit na enzima que regenera a tetra-hidro biopterina). Em pessoas com fenil cetonúria, uma rota secundária do metabolismo da fenilalanina, nor malmente pouco utilizada, passa a desempenhar um papel mais pro eminente. Nessa rota, a fenilala nina sofre transaminação com o piruvato, produzindo fenilpiruvato. Desse modo, a fenilalanina e o fe nilpiruvato acumulam-se no san gue e nos tecidos e são excretados na urina. Nos indivíduos afetados, grandes quantidades de fenilpi ruvato e de compostos derivados dele são excretadas na urina. Uma quantidade considerável de fenil piruvato não é excretada como tal, mas sofre descarboxilação a feni lacetato ou redução a fenil-lactato. O fenilacetato confere à urina um odor característico. Em recém-nascidos, o diagnóstico é realizado pelo teste do pezi nho que determina a concentra ção de fenilalanina no sangue. O diagnóstico nos primeiros dias de vida é importante haja vista que o tratamento da doença consiste em administrar precocemente uma dieta contendo um mínimo de feni lalanina. Desse modo, a deficiência intelectual pode ser prevenida. Os indivíduos afetados apresentam, além de retardamento mental, pig mentação deficiente de pele e ca belo, devido à síntese inadequada de melanina. LIPÍDEOS E PROTEÍNAS 2 28 quantidades da enzima sejam ex cretadas e sua oxidação torne a urina escura. Pessoas com alcap Fenilalanina Aminotransferase PLP Fenilpiruvato Alanina tonúria também são mais suscetí veis ao desenvolvimento de uma forma de artrite, devido a deposi ção do pigmento escuro no tecido cartilaginoso, com subsequente dano tecidual. Há poucos trata mentos disponíveis. • HOMOCISTINÚRIA: As homocis tinúrias compreendem um grupo de doenças envolvendo defeitos no metabolismo da homocisteína, aminoácido que faz parte do pro cesso de catabolismo da aminoáci dos sulfurados, como a metionina. Caracterizadas por níveis elevados Fenilacetato Fenil - lactato Figura 10. Rotas alternativas para o catabolismo da fenilalanina na fenilcetonúria. Fonte: NELSON, David L.; COX, Michael M.. Princípios de bioquímica de Lehnin ger. 6. ed. Porto Alegre: Artmed, 2014. 1 v • ALCAPTONÚRIA: Outra doença originada do catabolismo da feni lalanina é a alcaptonúria, na qual a enzima defeituosa é a homogen tisato-dioxigenase, que catalisa a oxidação do ácido homogentís tico, um intermediário no catabo lismo da tirosina e da fenilalani na. Essa condição produz poucos efeitos adversos, embora grandes de homocisteína e de metionina no plasma e na urina e baixos níveis de cisteína. A causa mais comum é um defeito na enzima cistationi na-β-sintetase, que converte ho mocisteína em cistationina. São caracterizadas por ectopia len tis (deslocamento do cristalino do olho), anormalidades esqueléticas, doença arterial precoce, osteopo rose e retardo mental. O tratamen to inclui restrição da ingestão de metionina e suplementação com as vitaminas B6 (cofator da cista tionina-β-sintetase) B12 e ácido fólico. • ALBINISMO: Compreende um conjunto de síndromes caracteri zadas por pigmentação deficiente da pele, cabelo e olhos, devido à incapacidade de sintetizar mela nina. A síntese de melanina é pre judicada pela ausência da enzima tirosina hidroxilase, responsável pela hidroxilação de tirosina. A importância dessa reação é ainda maior, porque o produto formado – DOPA – origina neurotransmis sores e hormônios, como dopami na, noradrenalina e adrenalina. Os albinos têm visão normal, apesar da ausência de pigmentação, mas são geralmente muito sensíveis à luz brilhante (fotofobia). • DOENÇA DA URINA EM XARO PE DE BORDO: O metabolismo normal dos aminoácidos de cadeia ramificada – leucina, isoleucina e valina – envolve a perda do grupo α-amina, seguida pela descarbo xilação oxidativa do α-cetoácido resultante. Essa etapa de descar boxilação é catalisada pela cetoá cido descarboxilase de cadeia ra mificada. Um defeito nessa enzima leva ao acúmulo do cetoácido LIPÍDEOS E PROTEÍNAS 2 30 correspondente a esse aminoáci do no sangue. Quando não é tra tada ou controlada essa patologia pode levar tanto a um retardamen to mental quanto físico do recém- -nascido, problemas alimentares, vômitos, acidose metabólica grave e ao odor característico de xaro pe de bordo na urina. Esse defeito pode ser parcialmente controlado em um dieta modificada ou pobre em proteínas, ou, em alguns casos, pela suplementação com altas do ses de pirofosfato de tiamina, um cofator para essa enzima. • ARGININEMIA: É uma desordem metabólica caracterizada pela hi peramonemia (nível aumentado de NH4+ no sangue) secundária ao acúmulo de arginina. A argina se, normalmente encontrada no fígado, nos eritrócitos e nas glân dulas salivares, é uma enzima que catalisa algumas reações do ciclo da ureia, hidrolisando a arginina para converter-se em ornitina e ureia. Seu déficit causa acúmulo de arginina, provocando uma su perprodução de amônia. Os níveis de amônia podem variar de acor do com a idade do paciente, apre sentando inicialmente estiramento anormal dos músculos, crescimen to mais lento e prejuízos ao desen volvimento e à cognição, além de convulsões, tremores, ataxia e ou tros sintomas. CONDIÇÃO MÉDICA PROCESSO DEFEITUOSO ENZIMA DEFEITUOSA SINTOMAS E EFEITOS Argininemia Síntese de ureia Arginase Deficiência intelectual Albinismo Síntese de melanina a partir de tirosina Tirosinase (Tirosina – hidroxilase) Falta de pigmentação; ca belo branco; pele rosada Alcaptonúria Degradação da tiorsina Homogentisato - dioxigenase Pigmento escuro na uri na; artrite se desenvolve posteriormente Deficiência de carbamoil – fosfato – sintetase I Síntese de ureia Carbamoil – fosfato – sin tetase I Letargia; convulsões; morte prematura Doença do xarope de bordo Degradação de isoleuci na, leucina e valina Complexo da desidroge nase dos α – cetoácidos de cadeia ramificada Vômitos; convulsões; retardo mental; morte prematura Fenilcetonúria Conversão de fenilalanina em tirosina Fenialanina - hidroxilase Vômitos no período neonatal; deficiência intelectual Homocistinúria Degradação da metionina Cistationina – sintase Desenvolvimento inade quado dos ossos; defici ência intelectual Tabela 1. Algumas doenças genéticas humanas que afetam o catabolismo dos aminoácidos. Fonte: Adaptado de NELSON, David L.; COX, Michael M.. Princípios de bioquímica de Lehninger. LIPÍDEOS E PROTEÍNAS 2 31 4. CATABOLISMO DE LIPÍDEOS Os lipídeos da dieta, absorvidos no intestinos, e aqueles sintetizados en dogenamente são distribuídos aos te cidos pelas lipoproteínas plasmáticas, para utilização ou armazenamento. Os triacilgliceróis são os lipídeos mais abundantes da dieta e servem como a principal reserva energética do or ganismo. Os triacilgliceróis são arma zenados nas células adiposas e po dem ocupar a maior parte do volume celular. Um adulto ingere cerca de 60 a 150g de lipídeos diariamente, dos quais normalmente mais de 90% são constituídos por triacilgliceróis. Os áci dos graxos liberados dos adipócitos, a partir dos triacilgliceróis (compostos por 3 ácidos graxos ligados ao glice rol), são transportados pelo sangue e utilizados efetivamente pela maioria dos tecidos como fonte de energia. Desse modo, os triacilgliceróis e os ácidos graxos são conhecidos como os principais lipídeos para o metabo lismo energético. As células podem obter combustíveis de ácidos graxos de três fontes: gor duras consumidas na dieta, gorduras armazenadas nas células como gotí culas de lipídeos e gorduras sintetiza das em um órgão para exportação a outro. Digestão e absorção de lipídeos A digestão de lipídeos começa no estômago, catalisada por uma lipase estável meio ácido, que se origina de glândulas localizadas na base da lín gua (lipase lingual). Moléculas de tria cilgliceróis, particularmente aquelas que contêm ácidos graxos com me nos de 12 carbonos, como aqueles encontrados na gordura do leite, são os principais alvos dessa enzima. Es ses mesmos triacilgliceróis são tam bém degradados por outra lipase, a li pase gástrica, secretada pela mucosa gástrica e estável em um pH ácido. SE LIGA! As lipases lingual e gástrica desempenham uma função importante na digestão de lipídeos em neonatos, para os quais a gordura do leite é a prin cipal fonte de calorias. Também são im portantes para indivíduos com insufici ência pancreáticas, como os portadores de fibrose cística, para a degradação de moléculas de triacilgliceróis, apesar da ausência da lipase pancreática. Antes que os lipídeos possam ser absorvidos através da parede intesti nal, eles precisam ser convertidos de partículas de gordura macroscópicas insolúveis em micelas microscópicas finamente dispersas e solúveis no meio aquoso do lúmen intestinal. Essa solubilização/emulsificação é realizada pelos sais biliares, sintetizados a partir do colesterol no fígado, arma zenados na vesícula biliar e liberados no duodeno (intestino delgado). Esse LI2 processo aumenta a área de super- fície das gotículas de lipídeos hidro- fóbicos, de modo que as enzimas di- gestivas, as quais atuam na interface da gotícula e da solução aquosa que a envolve, podem agir eficientemente. A ação das lipases pancreáticas so- bre os triacilgliceróis emulsificados os converte em monoacilgliceróis, diacilgliceróis, ácidos graxos livres e glicerol. Esses produtos se difundem para o interior das células da muco- sa intestinal, onde são reconvertidos em triacilgliceróis e empacotados com o colesterol da dieta e proteínas específicas em lipoproteínas, os qui- lomícrons. Os quilomícrons, então, se deslocam na mucosa intestinal para o sistema linfático e então entram no sangue, que os carrega para os mús- culos e o tecido adiposo. Nos capilares desses tecidos, a enzima extracelular lipase lipoproteica hidrolisa os triacil- gliceróis em ácidos graxos e glicerol, que são absorvidos pelas células nos tecidos-alvo. No músculo, os ácidos graxos são oxidados para obter ener- gia; no tecido adiposo, são reesterifi- cados para armazenamento na forma de triacilgliceróis. O glicerol é utilizado quase que exclusivamente pelo fíga- do para produzir glicerol-3-fosfato, o qual pode entrar tanto na glicólise como na gliconeogênese. Uso dos ácidos graxos armazenados Nos capilares, a enzima lipase lipoproteica hidrolisa natransportados aos tecidos (muscu latura esquelética, coração, fígado e A utilização do depósito de triacilgli ceróis pelo organismo e sua recons trução processam-se através de vias metabólicas diferentes, localizadas em compartimentos celulares di ferentes e submetidas a regulação antagônica. Degradação dos triacilgliceróis dos adipócitos Quando hormônios sinalizam a necessidade de energia metabólica, os triacilgliceróis armazenados no tecido adiposo são mobilizados e córtex renal) nos quais os ácidos graxos podem ser oxidados para produção de energia. A mobilização do de pósito de triacilgliceróis é obtida por ação da lipase dos adipócitos, uma enzima sujeita a regulação hormo nal, que hidrolisa os triacilgliceróis a ácidos graxos e glicerol. Essa enzi ma é ativada por ação dos hormônios adrenalina e glucagon, secretados em resposta aos baixos níveis de glicose ou atividade iminente. LIPÍDEOS E PROTEÍNAS 2 35 Figura 12. Hidrólise dos triacilgliceróis. Fonte: https://slideplayer.com.br/slide/7002601/ Os ácidos graxos liberados dos adipócitos são transportados pelo sangue ligados à albumina e utili zados pelos tecidos como fonte de energia; o tecido nervoso e as he mácias são exceções, pois obtêm energia exclusivamente a partir da oxidação de glicose. Nos tecidos- -alvo, os ácidos graxos se disso ciam da albumina e são levados por transportadores da membrana plasmática para dentro das células para servir de combustível. O glicerol liberado pela ação da li pase é fosforilado e oxidado a gli cerol-fosfato, podendo entrar nas vias glicolítica ou gliconeogênica. Alternativamente, o glicerol-fos fato pode ser usado na síntese de triacilgliceróis ou de fosfolipídios. Degradação de ácidos graxos Ativação Para serem oxidados, ainda no cito sol, os ácidos graxos são primeira mente convertidos em uma forma ativada, uma acil-Coa, em uma rea ção catalisada por acil-CoA sintetase, associadas à membrana externa da mitocôndria. Ácido graxo + CoA + ATP . Acil-CoA graxo + AMP + PPi Nesta reação, forma-se uma ligação tio éster entre o grupo carboxila do ácido graxo e o grupo SH da coenzi ma A, produzindo a acil-CoA. É um composto rico em energia, haja vista que sua ligação tio éster é formada à custa da energia derivada da quebra de uma ligação anidrido fosfórico – cli vagem do ATP em AMP e pirofosfato inorgânico. O processo de ativação é irreversível, pois ocorre a hidrólise do pirofosfato a 2 Pi, um processo tam bém irreversível. OBS.: O prefixo acil– pode se referir a qualquer ácido graxo. Incorporação na mitocôndria Os ácidos graxos com comprimento de cadeia de 12 carbonos ou menos entram na mitocôndria passivamente, sem a ajuda de transportadores de membrana. Aqueles com um número maior de carbonos, que constituem a maioria dos ácidos graxos livres ob tidos na dieta ou liberados do tecido adiposo, não conseguem passar li vremente através das membranas mitocondriais – primeiro eles preci sam passar pelo ciclo da carnitina, um processo envolvendo três reações enzimáticas. Ciclo da carnitina Carnitina Como a membrana interna da mito côndria é impermeável a acil-CoA, os radicais acila são introduzidos na organela apenas ligados à carnitina. Para tal, temos um ciclo composto das seguintes etapas: • A carnitina-acil transferase I trans fere o radical acila da coenzima A para a carnitina na face externa da membrana interna. • A acil-carnitina resultante é trans portada através da membrana inter na por uma translocase específica. • Na face interna, a carnitina-acil transferase II doa o grupo acila da acil-carnitina para uma coenzima A da matriz mitocondrial, liberando a carnitina • A carnitina retorna ao citosol pela mesma translocase e reinicia o ciclo. Desse modo, o radical acila dos áci dos graxos atinge o interior da mito côndria, onde ocorre sua oxidação. A carnitina pode ser obtida da dieta, sendo encontrada principalmente em carnes. Pode também ser sintetizada a partir dos aminoácidos lisina e me tionina por enzimas encontradas no fígado e nos rins, mas não no mús culo esquelético e no cardíaco. Assim, esses tecidos são totalmente depen dentes da carnitina distribuída pelo sangue, proveniente dos hepatóci tos ou da dieta. Porém, é importante destacar que cerca de 97% de toda a carnitina presente no corpo encontra- -se nos músculos esqueléticos. SE LIGA! Ainda não há evidências que possam afirmar se a acil-Coa passa através da membrana externa e é con vertida no éster de carnitina (acil-car nitina) no espaço intermembrana ou se o éster de carnitina é formado na face citosólica da membrana externa, e então é deslocado para o espaço intermem branas. Em qualquer um dos casos, a passagem para o espaço intermembra na ocorre por meio de grandes poros na membrana externa e o éster de carnitina entra na matriz por meio do transporta dor específico da membrana interna. Oxidação de ácidos graxos β-Oxidação de ácidos graxos Uma vez na matriz mitocondrial, o áci do graxo passará por uma sequência LIPÍDEOS E PROTEÍNAS 2 38 de quatro reações, conhecida como β-oxidação. Ao final desta via, a acil- -CoA é encurtada de dois carbo nos, liberados sob a forma de acetil- -CoA, além da produção de NADH e FADH2. Na primeira reação, uma enzima cha mada acil-CoA desidrogenase retira dois H (hidrogênios) da molécula do acil-CoA e os entrega para o FAD, ou seja, formando FADH2. Assim, a acil-Coa se oxida enquanto o FAD se reduz. Como produto desta reação, forma-se o trans-∆2-enoil-CoA. Ob serve que a nova ligação dupla tem configuração trans, enquanto as liga ções duplas nos ácidos graxos insatu rados que ocorrem naturalmente com frequência estão na configuração cis. RELEMBRANDO! Como visto no material anterior, o ∆ in dica a formação de uma dupla ligação entre os carbonos 2 e 3. Na segunda reação, a enzima enoil- -CoA hidratase hidrata o enoil-CoA, formando o L-3- hidroxiacil-CoA. Para isso, a dupla ligação se desfaz para a inserção da hidroxila da molé cula de água. Na terceira reação, a enzima L-3-hi droxiacil-CoA desidrogenase oxida mais uma vez a molécula, mas neste caso, utiliza NAD+ que recebe os H da molécula e passa a NADH + H+. Com isso, forma-se uma nova dupla ligação, agora entre o carbono 3 e o oxigênio. Esse composto se chama 3-cetoacil-CoA. Na quarta e última reação da β-oxi dação, ocorre a quebra da molécula propriamente dita. Esta reação é ca talisada pela β-ceto tiolase ou ape nas tiolase. Com isso, ocorre a quebra da 3-cetoacil-CoA através dareação com uma molécula de CoA, formando acetil-CoA e uma acil-CoA com dois carbonos a menos; esta acil-CoA re faz o ciclo várias vezes, até ser total mente convertida a acetil-CoA. Desse modo, ao usar como exemplo o palmitato, ácido graxo que apresen ta 16 carbonos, podemos dizer sua completa β-oxidação gera 8 molécu las de acetil-CoA (8 X 2 carbonos por acetil-CoA); 7 moléculas de FADH2 e 7 moléculas de NAD + H+. Em suma, temos: Palmitoil-CoA + 7 FAD + 7 NAD+ + 7 CoA + 7 H2O . 8 acetil-CoA + 7 FADH2 + 7NADH + 7 H+ O processo completo da β-oxidação ocorre na mitocôndria e os nucleotí deos reduzidos (FADH2 e NADH + H+) são utilizados diretamente para a síntese do ATP pela fosforilação oxidativa. No caso do músculo, o acetil-CoA for mado é jogado no ciclo de Krebs, uma vez que a concentração de oxaloa cetato lá presente permite que isto ocorra. Já no fígado, em momentos de jejum, esse órgão utiliza o oxalo acetato para produzir glicose. Logo o acetil-CoA não pode ser jogado no ciclo de Krebs, pois não há oxaloace tato disponível. Então, o acetil-CoA é transformado em corpos cetônicos. A sequência descrita de β-oxidação dos ácidos graxos é típica de ácidos graxos saturados. Entretanto, a maioria dessas moléculas nos triacilgliceróis e fosfolipídeos de animais é insaturada, tendo uma ou mais ligações duplas. A para enoil-CoA hidratase, enzima que atua apenas sobre ligações trans. A oxidação de ácidos graxos poli-insa turados exige ainda a participação de, além da isomerase, um redutase in dependente de NADPH. Essa enzima reduz uma ligação dupla cis à custa de NADPH. Com a ação conjunta dessas enzimas, o ácido poli-insaturado pode transformar-se em um intermediário insaturado para a β-oxidação. Oleoil - CoA β - Oxidação oxidação de ácidos graxos insatura dos produz menos energia que a dos saturados, porque eles estão menos reduzidos e, portanto, menos equiva lentes reduzidos podem ser produzi dos a partir de suas estruturas. Assim como os saturados, a degra dação dos ácidos graxos insaturados começa pela conversão a acil-CoA, seguida pela entrada na mitocôndria por meio do ciclo da carnitina. Usare mos como exemplo o oleato, um ácido graxo monoinsaturado com 18 áto mos de carbono e com uma ligação dupla cis entre o C-9 e C-10. A oxida (três ciclos) β – Oxidação (cinco ciclos) 3 Acetil - CoA cis - ∆3– Dodecenoil - CoA trans - ∆2– Dodecenoil - CoA ção do oleato requer uma enzima adi cional, a 3,2-enoil-CoA-isomerase, que converte o derivado cis-∆3 após três voltas da β-oxidação em deriva do trans-∆2 , que serve de substrato 6 Acetil - CoA Figura 17. Oxidação de um ácido graxo monoinsatura do. Fonte: NELSON, David L.; COX, Michael M.. Prin cípios de bioquímica de Lehninger. 6. ed. Porto Alegre: Artmed, 2014. 1 v LIPÍDEOS E PROTEÍNAS 2 42 será convertido a succinil-CoA, que contém 4 carbonos, e assim, poderá β – Oxidação (três ciclos) 3 – Acetil - CoA ∆3,∆2 - enoil – CoA - isomerase β – Oxidação Linoleoil – CoA cis - ∆9, cis - ∆12 cis - ∆3, cis - ∆6 trans - ∆2, cis - ∆6 completar a β-oxidação. SE LIGA! O succinil-CoA é um interme diário do ciclo de Krebs. Dessa forma, quando um ácido graxo com número ímpar de carbonos é metabolizado, há um aumento na concentração dos inter mediários do ciclo de Krebs e, por con seguinte, de oxaloacetato. Logo, con (um ciclo e primeira oxidação do segundo ciclo) 2,4 – dienoil – CoA - redutase Enoil – CoA - isomerase β – Oxidação (quatro ciclos) Acetil - CoA NADPH + H+ NADP+ trans - ∆2, cis - ∆4 trans - ∆3 trans - ∆2 cluímos que o excesso de oxaloacetato produzido por esse ácido graxo reduz a produção de corpos cetônicos. Ciclo do ácido cítrico (ou ciclo de Krebs) Após a β-oxidação, os grupos acetil da acetil-CoA são oxidados a no ciclo do ácido cítrico, que também ocorre na matriz mitocondrial. A acetil-CoA derivada dos ácidos graxos entra numa via de oxidação final comum com a acetil-CoA derivada da glicose 5 Acetil - CoA Figura 18. Oxidação de um ácido graxo poli - insatura do. Fonte: NELSON, David L.; COX, Michael M.. Prin cípios de bioquímica de Lehninger. 6. ed. Porto Alegre: Artmed, 2014. 1 v Além dos ácidos graxos insaturados, ainda temos os ácidos graxos com número ímpar de átomos de carbo no. Nesses casos, o que vai diferir é o produto da última volta da β-oxida ção. Depois de passar por esse ciclo diversas vezes, restará um propio nil-CoA, com 3 átomos de carbono que não pode passar por uma nova rodada de oxidação. Nesse caso, ele procedente da glicólise e da oxidação do piruvato. Juntamente com β-oxi dação, essa etapa do catabolismo dos ácidos graxos produz os transporta dores de elétrons reduzidos NADH e FADH2, que entrarão na terceira eta pa do processo, onde há a fosforilação de AMP em ATP resultante da passa gem de oxigênio com esses elétrons pela cadeia respiratória mitocondrial. LIPÍDEOS E PROTEÍNAS 2 43 Etapa 1 Etapa 2 β Oxidação 8 Acetil - CoA NADH, FADH2 Etapa 3 Cadeia respiratória (transferência de elétrons) Figura 19. Etapas da oxidação de ácidos graxos. Fon te: NELSON, David L.; COX, Michael M.. Princípios de bioquímica de Lehninger. 6. ed. Porto Alegre: Artmed, 2014. 1 v Cadeia Transportadora de Elétrons A estratégia adotada pelas células para produção de energia consiste na transformação da energia contida nas coenzimas reduzidas em um gradien te de prótons e utilizá-lo para a síntese de ATP. A produção desse gradiente é conseguida pela transferência dos elétrons das coenzimas para o oxigênio indiretamente através de passagens intermediárias por vários compostos, que constituem uma cadeia transportadora de elé trons. Esses compostos corres pondem a complexos proteicos organizados na membrana inter na mitocondrial de forma crescen te em relação ao seu potencial de oxirredução. Os quatro complexos proteicos nessa membrana são: • Complexo I – também chamado NADH desidrogenase ou NA DH-CoQ oxidorredutase. Nesse complexo, o NADH é utilizado como substrato para uma reação de desidrogenação. Apresenta como cofator, flavina mononucleotídeo (FMN), além de centros ferro-enxofre (Fe-S). O complexo transporta dois elé trons para a ubiquinona e quatro prótons da matriz mitocondrial para o espaço intermembranas. • Complexo II – também chamado succinato desidrogenase ou succi nato-CoQ oxidorredutase. É um complexo independente, que aceita elétrons apenas do FADH2 e os transfere também para a ubi quinona. Apresenta duas proteínas ferro-enxofre e flavoproteínas 2 onde o FAD encontra-se covalen temente ligado. LIPÍDEOS E PROTEÍNAS 2 44 • Complexo III – também chamado citocromo bc1. Catalisa a transferência de elé trons da ubiquinona ao citocromo c, acompanhada de movimentação de quatro prótons. SE LIGA! Além desses complexos pro teicos, existem dois componentes mó veis da cadeia: a ubiquinona (também chamada coenzima Q e representada como UQ ou CoQ) e o citocromo c. A ubiquinona passa seus elétrons para o citocromo c num ciclo redox único cha mado ciclo Q, além de bombear prótons. Ela tem a capacidade de aceitar um par de elétrons e passá-los, um de cada vez, até o complexo III. Já o citocromo C cons titui um componente móvel da cadeia que sofrerá oxidação, enquanto passam seus elétrons para o próximo compo nente, o complexo IV. • Complexo IV – também chamado citocromo oxidase. Ao chegar nessa etapa da cadeia, iremos encontrar dois citocromos reduzidos pela transferência de elétrons. O papel da citocromo oxidase é aceitar elétrons do cito cromo c e usá-los para reduzir o oxigênio, formando duas molécu las de água. Além disso, esse com plexo também é responsável pelo último ponto de bombeamento de prótons. SE LIGA! A redução de uma molécula de oxigênio para formar duas moléculas de água requer quatro elétrons. Entretan to, o citocromo c, como vimos anterior mente, transporta apenas um elétron de cada vez. A redução incompleta do oxi gênio pode gerar peróxidos ou radicais livres de oxigênio, espécies altamente reativas. O funcionamentoeficiente da citocromo oxidase impede a formação desses radicais. A utilização de oxigênio pelo comple xo IV corresponde a cerca de 95% de todo o oxigênio consumido pelo orga nismo humano; a produção de água nesse processo chega a 300mL diá rios e é, muitas vezes, referida como água metabólica. Concluindo, as principais funções da cadeia transportadora de elétrons são: regenerar os transportadores de elétrons, NAD+ e FAD que deixaram seus elétrons e retornam para cum prir suas funções como carreadores de elétrons no metabolismo, e produ zir um gradiente de prótons, com uma concentração maior de H+ no espaço intermembrana e uma concentração menor na matriz mitocondrial. Esse gradiente representa uma forma ar mazenada de energia que pode ser utilizada para produzir energia por fosforilação oxidativa. LIPÍDEOS E PROTEÍNAS 2 45 Cadeia Transportadora de Elétrons Espaço intermembranas Cit C Matriz mitocondrial Membrana mitocondrial interna Figura 20. Cadeia Transportadora de Elétrons. Fonte: https://pt.khanacademy.org/science/biology/cellular-res piration-and-fermentation/oxidative-phosphorylation/a/ oxidative-phosphorylation-etc Fosforilação Oxidativa – Quimiosmose Os complexos I, III e IV da cadeia transportadora de elétrons são bombas de prótons. À medida que os assemelha a um turbina de usina hidroelétrica. Porém, ao invés de ser acionada por água, é acionada pelo fluxo de íons H+ movendo-se a fa vor do seu gradiente eletro químico. À medida que a ATP sintase transforma a energia, ela catalisa a fosforilação, ou seja, adição de um fosfato, ao ADP, capturando a energia do gradiente de prótons na forma de ATP. Espaço intermembranas Cit C elétrons se movem para níveis de energia mais baixos, os complexos cap turam a energia liberada e a utilizam para bombear íons H+ da matriz para o ATP sintase Matriz Ciclo do ácido cítrico espaço intermembrana. Este bombeamento forma um gra diente eletroquímico através da mem brana mitocondrial interna. Na membrana mitocondrial interna, íons H+ têm apenas um canal dis ponível, o complexo V, também co nhecido como ATP sintetase. Ela se Figura 21. Cadeia transportadora de elétrons acoplada ao transporte de prótons para fosfori lação oxidativa. Fonte: https://pt.khanacademy. org/science/biology/cellular-respiration-an d- -fermentation/oxidative-phosphorylation/ a/ oxidative-phosphorylation-etc 46 LIPÍDEOS E PROTEÍNAS 2 CATABOLISMO DE LIPÍDEOS Glicólise Hormônios adrenalina e glucagon estimulam Triacilgliceróis Oxidado a Ação da Glicerol Glicerol - fosfato Gliconeogênese nos adipócitos Nos tecidos - alvo lipase dos adipócitos Ácidos graxos Ligam – se para o transporte no sangue Albumina Síntese de lipídeos Ativação Entrada na mitocôndria Ácido graxo → Acil - CoA < 12 carbonos > 12 carbonos Não precisam de transportadores de membranaCiclo da carnitina Oxidação Beta - oxidação Ciclo do ácido cítrico Cadeia Transportadora de elétrons Fosforilação Oxidativa 47 LIPÍDEOS E PROTEÍNAS 2 CATABOLISMO DE LIPÍDEOS Atuam no duodeno Liberam mono e Armazenada na vesícula biliar Emulsificação das gorduras diacilgliceróis, ácidos graxos, glicerol e colesterol Lipases pancreáticas Hidrólise dos Armazenamento Tecido adiposo Reserva energética LIPÍDEOS Via gliconeogênica Via glicolítica Bile Fígado Pâncreas Órgãos Estômago Lipase lingual triacilgliceróis Digestão Produtos Transporte Lipoproteínas Glicerol Ácidos graxos Acil - CoA Ativação Lipase gástrica Transporte passivo < 12 carbonos Entrada na mitocôndria Atuam em pH ácido > 12 carbonos Ciclo da carnitina Ciclo de Krebs Cadeia transportadora β - Oxidação de elétrons Fosforilação oxidativa LIPÍDEOS E PROTEÍNAS 2 48 5. LIPOGÊNESE E PROTEOGÊNESE A maioria dos ácidos graxos de que os humanos necessitam provém da alimentação; no entanto, a via para sua síntese – lipogênese – a partir de compostos de 2 carbonos está pre sente em muitos tecidos como fígado, cérebro, rim, glândulas mamárias e tecido adiposo. Em geral, a via de sín tese se encontra ativa principalmente em situações de excesso de consumo energético, sobretudo na forma de excesso de carboidrato e proteínas. Síntese de ácidos graxos O acetil-CoA é um composto mitocon drial, precursor da síntese de ácidos graxos e originado do catabolismo de carboidratos e proteínas. No entanto, esse processo ocorre no citoplasma das células. Então é importante sa lientar que a saída do acetil-CoA da mitocôndria se dá por meio do citrato, um intermediário do ciclo de Krebs, que ocorre na mitocôndria, formado pela união do aceti-CoA e do oxaloacetato. Em situações de excesso de glicose, a concentração de citrato também au menta e ele acaba saindo da organela através de um translocador de citrato localizado na membrana mitocondrial interna. No meio citoplasmático, o ci trato é quebrado pela citrato liase em acetil-CoA e oxaloacetato. SE LIGA! E para onde vai o oxaloace tato? Essa molécula pode ser convertida em malato, pela malato desidrogenase, que utiliza NADH. O malato formado pode ser convertido em piruvato pela enzima málica, resultando na formação de NADPH. Esse NADPH terá função importante na síntese dos ácidos gra xos, como veremos a seguir. Tanto o piruvato quanto o malato podem voltar para a mitocôndria sendo reconvertidos em oxaloacetato. Membrana interna Membrana externa Citosol CoA citrato citrato Citrato liase oxaloacetato + Acetil - CoA Acetil - CoA Para síntese de palmitato Oxaloacetato Volta para a mitocôndria Figura 22. Saída do citrato na mitocôndria e formação de acetil – CoA no citoplasma. Fonte: Bioquímica 2, v.2. / An drea Thompson Da Poian – Rio de Janeiro : Fundação CECIERJ, 2009 LIPÍDEOS E PROTEÍNAS 2 49 No primeiro estágio da biossíntese de ácido graxo, o acetil-CoA, deriva do principalmente do metabolismo de carboidratos, é convertido em malonil- -CoA por ação da enzima acetil-CoA carboxilase, uma enzima dependente de biotina (vitamina B7). Assim, essa reação se dá em estágios: primeiro, há a carboxilação da biotina, envol vendo ATP, seguida da transferência do grupo carboxila para o acetil-CoA, produzindo o malonil-CoA. acetilCoA + + ATP . malonil-CoA + ADP + Pi SE LIGA! As células animais não são ca pazes de realizar anabolismo com mo léculas tão pequenas como o . Então a molécula apresentada na reação acima será liberada na condensação apresen tada a seguir, funcionando apenas como um intermediário, mas que não é incor porada da biossíntese. A segunda enzima que participa da síntese de lipídeos é o complexo do ácido graxo sintase (AGS). É uma en zima grande e capaz de desempe nhar diversas funções. A fosfopanto teína e a cisteína, presentes em sua estrutura, possuem grupamentos SH que servem para ligar os diversos substratos dessa enzima. Primeiro, um acetil-CoA se liga à cis teína e, em seguida, o malonil-CoA se liga à fosfopantoteína. Para tal, am bos perdem a CoA e se ligam como acetato e malonato. Depois, há ação de duas enzimas sobre esses subs tratos, uma enzima de condensação, que une os carbonos das duas mo léculas, e uma enzima de descar boxilação, que retira um carbono do produto formado, originando, ao fi nal, um composto de quatro carbo nos. É um composto formado sobre a fosfopantoteína que recebe o nome acetoacetil-PCA. Em seguida, essa nova molécula so fre uma redução dependente de NA DPH, catalisada por uma redutase do complexo AGS. O NADPH cede seu H, formando NADP+ e forma- -se o produto hidroxibutiril-PCA, que passa por uma desidratação catali sada por uma desidratase do com plexo AGS. O produto desta reação é butenenoil-PCA. A quarta reação é uma redução ca talisada por um outra redutase que também utiliza NADPH, formando NADP+ e butiril-PCA. Esse composto é transferido da fosfopantoteína para a cisteína, deixando a primeira livre para a entrada de um novo malonato. Na segunda rodada do processo, o butiril, composto de 4 carbonos li gado à cisteína, passa pelas reações de condensaçãoe descarboxilação com o novo malonato que encontra- -se ligado à fosfopantoteína. Da mes ma forma, esse composto vai sofrer uma redução, seguida de uma desi dratação e uma nova redução. Ago ra, o composto formado apresenta 6 LIPÍDEOS E PROTEÍNAS 2 50 carbonos (4 do butiril + 2 do malonato) e é trans ferido de volta à cisteína para deixar a fosfopanto teína livre para que essa via reinicie. Figura 22. Adição de dois carbonos a uma cadeia acil graxo em crescimento: uma sequência de quatro etapas. Fon te: NELSON, David L.; COX, Michael M.. Princípios de bioquímica de Lehnin ger. 6. ed. Porto Alegre: Artmed, 2014. 1 v Grupo malonila Grupo acetila (primeiro grupo acila) Ácido graxo - sintase Condensação Redução Desidratação Redução Grupo acila saturado, aumentado em dois carbonos 51 LIPÍDEOS E PROTEÍNAS 2 ADIÇÃO DE DOIS CARBONOS A UMA CADEIA ACIL GRAXO EM CRESCIMENTO: UMA SEQUÊNCIA DE QUATRO ETAPAS MITOCÔNDRIA Citosol Acetil - CoA Acetil - CoA Malonil - CoA Acetil – CoA Acetil - CoA ++ Oxaloacetato Oxaloacetato carboxilase Fosfopanteína Complexo do ácido Cisteína Citrato liase Citrato Citrato Redução graxo sintase (AGS) Malonato Acetato Condensação e descarboxilação Hidroxibutiril - PCA Desidratação NADP+ NADP+ Acetoacetil - PCA NADPH NADPH Butenenoil - PCA Butiril - PCA Redução LIPÍDEOS E PROTEÍNAS 2 52 Esse processo repete-se 7 vezes, até a formação do palmitato (molécula de 16 carbonos) no complexo AGS. O palmitato, ou ácido palmítico, é o precursor utilizado para a formação ácidos graxos mais longos. Ele é, en tão, transportado ao tecido adiposo onde será armazenado como reserva energética. Acetil-CoA + 7 malonil-CoA + 14 NADPH + 14 H+ . Palmitato + 7 CO2 + 8 CoA + 14 NADP+ + 6 H2O SE LIGA! Como já foi explicado anterior mente, parte do NADPH utilizados nes se processo advém da ação da enzima málica, convertendo malato em piruvato. No entanto, esse NADPH não é o sufi ciente, sendo necessária a complemen tação a partir do NADPH produzido na via das pentoses fosfato. Para síntese de ácidos graxos mais longos, é necessária a participação de um outro complexo multienzimáti co, a ácido-graxo alongasse, que atua no retículo endoplasmático. O alon gamento da cadeia ocorre através da adição de novos fragmentos de 2 carbonos derivados do malonil-CoA. Os ácidos graxos também podem ser alongados na mitocôndria por outro sistema dependente de NADH que utiliza acetil-CoA como fonte de frag mentos de dois carbonos. Regulação da biossíntese de ácidos graxos A reação catalisada pela acetil-CoA- -carboxilase é a etapa limite do ana bolismo de ácidos graxos, de modo que essa enzima atua como um im portante ponto de regulação. A ace til-CoA-carboxilase sofre dois con troles. O primeiro é exercido pelo citrato, que atua como modulador da atividade dessa enzima, ao orientar o metabolismo celular de consumo de combustível metabólico para o de armazenamento de combustível na forma de ácidos graxos. Quando as concentrações mitocondriais de ace til-CoA e ATP aumentam, o citrato é transportado para fora da mitocôn dria, onde funciona como precursor de acetil-CoA e como sinal alostérico para a polimerização e ativação da acetil-CoA-carboxilase. O segundo controle exercido sobre a acetil-CoA-carboxilase é a fosfo rilação promovida pelas ações dos hormônios glucagon e adrenalina, li berados em situações de jejum e de exercício físico elevado, que inativa a enzima e reduz sua sensibilidade à ativação por citrato. Com isso, eles reduzem a velocidade da síntese de ácidos graxos. LIPÍDEOS E PROTEÍNAS 2 53 glicerol-3-fosfato é formado por re dução de diidroxiacetona fosfato, ob tida da glicose, por ação da glicerol- -3-fosfato desidrogenase. No fígado, a única via para obtenção de glicerol- -3-fosfato é a fosforilação do glicerol pela glicerol quinase. Glicose Glicólise Di – hidroxiacetona - Glicerol fosfato Figura 23. Regulação da síntese dos ácidos graxos. Fonte: NELSON, David L.; COX, Michael M.. Princípios H+ + NADH ATP de bioquímica de Lehninger. 6. ed. Porto Alegre: Art med, 2014. 1 v Glicerol – 3 – fosfato - desidrogenase Glicerol - cinase Síntese de triacilgliceróis A maior parte dos ácidos graxos sin tetizados ou ingeridos na dieta pode seguir por dois caminhos, a depen der da demanda do organismo: a in corporação em triacilgliceróis para o armazenamento energético ou a in corporação em componentes fosfoli pídicos da membrana plasmática. As duas vias iniciam no mesmo ponto: a formação de ésteres acil graxo de glicerol. Os triacilgliceróis são sintetizados a partir de moléculas de acil-CoA derivadas de ácidos graxos e glice rol-3-fosfato. No tecido adiposo, o ADP NAD+ L – glicerol – 3 - fosfato Figura 24. Vias de formação do glicerol – 3 – fosfato. Fonte: NELSON, David L.; COX, Michael M.. Princípios de bioquímica de Lehninger. 6. ed. Porto Alegre: Art med, 2014. 1 v O glicerol-3-fosfato é acilado em duas etapas, formando o ácido fos fatídico (diacilglicerol-3-fosfato) que, por hidrólise do grupo fosfato, origina diacilglicerol. Esses dois últimos com postos são intermediários também da síntese de fosfolipídeos. Os triacilgli ceróis são formados pela acilação, ou LIPÍDEOS E PROTEÍNAS 2 54 seja, adição de ácido graxo ao diacil glicerol. As enzimas que executam esse processo estão ligadas ao retí culo endoplasmático, na superfície citosólica. Figura 25. Biossíntese do ácido fosfatídico. Fonte: NELSON, David L.; COX, Michael M.. Princípios de bioquímica de Lehninger. 6. ed. Porto Alegre: Artmed, 2014. 1 v A maioria dos tecidos humanos são ca pazes de produzir triacilgliceróis, mas os principais são o fígado e o tecido adiposo. Os triacilgliceróis sintetizados no fígado são, na maior parte, incorpo rados em lipoproteínas plasmáticas e, assim, distribuídos pelos tecidos ex tra-hepáticos. O tecido adiposo encar rega-se da síntese e armazenamento de triacilgliceróis, formados a partir de ácidos graxos da dieta ou a partir da quele sintetizados pelo fígado. Além disso, os adipócitos realizam a hidróli se dessas moléculas, liberando ácidos graxos para uso interno ou exportação a outros tecidos. Já os fosfolipídeos, necessários na síntese de membra nas, são sintetizados, praticamente, por todas as células. Regulação da biossíntese de triacilgliceróis A biossíntese e a degradação de tria cilgliceróis são reguladas de modo que a via favorecida depende das fontes metabólicas e das necessida des em um dado momento. A velo cidade da biossíntese é alterada pela ação de diversos hormônios, como a insulina, que estimula a conversão de carboidratos em triacilgliceróis. SE LIGA! Pessoas com diabetes meli to grave, devido à falha de secreção ou ação da insulina, além de não serem ca pazes de utilizar glicose adequadamen te, falham na síntese de ácidos graxos por meio de carboidratos ou aminoáci dos. Se o diabetes não for tratado, essas pessoas tendem a apresentar velocida de aumentada na oxidação de gorduras e síntese de corpos cetônicos, portanto, perdem peso. LIPÍDEOS E PROTEÍNAS 2 55 Além disso, um fator adicional no ba lanço entre a biossíntese e o catabo lismo de triacilgliceróis é que cerca de 75% dos ácidos graxos liberados pela lipólise são reesterificados, formando triacilgliceróis, em vez de serem uti lizados como combustível. Essa rela ção persiste mesmo em situações de jejum, quando o metabolismo ener gético utiliza a oxidação de ácidos graxos como fonte de energia. Quando a mobilização dos ácidos graxos é necessária para satisfazer as necessidades energéticas, sua li beração do tecido adiposo é estimu lada pelo glucagon e pela adrenalina. Simultaneamente, esses hormônios diminuem a velocidade da glicólise e aumentam a velocidade da gliconeo gênese no fígado. O ácido graxo libe rado é captado por diversos tecidos, incluindo os músculos, onde é oxida do para geração de energia. No fíga do, a maior parte do ácido graxo não é oxidada, mas é reciclada a triacilgli cerol e retorna ao tecido adiposo. Síntesedo Colesterol O colesterol do organismo huma no pode ser obtido através dos ali mentos ou por síntese endógena. Os principais órgãos responsáveis pela produção do colesterol são o fígado e o intestino, que produzem em tor no de 25% do colesterol endógeno. A acetil-CoA é precursora de todos os átomos de carbono presentes no colesterol (C27), e o agente redutor é o NADPH. As enzimas que catalisam a síntese localizam-se no citosol e no retículo endoplasmático. É uma via que envolve diversas reações em um processo de “montagem” do coleste rol, organizadas em quatro estágios: • Condensação de três moléculas de acetil-CoA, formando o mevalona to (C6); • Conversão do mevalonato em uni dades de isopreno (C5) ativadas; • Polimerização das seis unidades de isopreno, formando o esquale no linear (C30); • Ciclização do esqualeno para for mar os quatro anéis do núcleo es teroide, com mudanças adicionais, para produção do colesterol. Ao total, são mais de 20 reações, in cluindo consumo de O2 e NADPH, remoção de grupos metila e migração de duplas ligações, que levam, final mente, à síntese do colesterol. Por tanto, trata-se de um processo redu tivo com grande consumo de energia: para cada molécula produzida são gastos 18 ATP e dezenas de NADPH. LIPÍDEOS E PROTEÍNAS 2 56 Acetato Mevalonato isopreno hepatócitos. Porém a maior parte dele é exportada em uma de três formas: • Ácidos biliares • Colesterol biliar • Ésteres de colesterol (transpor tados em partículas lipoproteicas secretadas para outros tecidos que utilizam colesterol ou armaze nados no fígado em gotículas de gordura) Isopreno ativado Esqualeno Colesterol Figura 26. Resumo da biossíntese de colesterol. Fonte: NELSON, David L.; COX, Michael M.. Princípios de bioquímica de Lehninger. 6. ed. Porto Alegre: Artmed, 2014. 1 v A maior parte da síntese do coleste rol ocorre no fígado. Uma pequena fração do colesterol sintetizado ali é incorporada nas membranas dos Em outros tecidos, o colesterol é con vertido em hormônios esteroides ou na vitamina D, compostos que atuam como sinalizadores extremamente potentes por meio de receptores nu cleares proteicos. Regulação do metabolismo do colesterol Os quilomícrons, responsáveis pelo transporte dos lipídeos da dieta pelo sangue, são ricos em colesterol e, após cumprirem sua função, são re tirados da circulação pelo fígado. Em situação pós prandial, o fígado sinte tiza ativamente triacilgliceróis e coles terol, que se somam aos provenientes dos quilomícrons. Os triacilgliceróis e o colesterol que excedem as neces sidades dos próprios hepatócitos são utilizados para a síntese de lipopro teínas. Desses compostos, as LDL (Low Density Lipoproteins) consti tuem o principal veículo de colesterol LIPÍDEOS E PROTEÍNAS 2 57 no sangue: os tecidos (exceto o fíga do e o intestino) obtêm a maior parte de seu colesterol exógeno por meio da endocitose de LDL. A síntese de receptores de LDL é inibida por ní veis elevados de colesterol intracelu lar, reduzindo a incorporação celular de LDL-colesterol e aumentando sua concentração no plasma. As HDL atuam no sentido inverso aos das LDL, ou seja, efetuam a re moção do colesterol dos tecidos. São sintetizadas no fígado e intestino, se ligam à superfície dos tecidos perifé ricos e o excesso de colesterol intra celular é translocado para a o interior das HDL, como ésteres de colesterol. As HDL enriquecidas em colesterol podem ser diretamente absorvidas pelo fígado, onde esse lipídeo será utilizado para a produção de sais bi liares, ou podem transferir colesterol para outras lipoproteínas que tam bém são absorvidas pelo fígado. SAIBA MAIS! ATEROSCLEROSE Essa doença caracteriza-se pela deposição de lipídeos – especialmente colesterol e éste res de colesterol – na parede interna de artérias, formando placas, denominadas ateromas. Inicialmente, os ateromas são pastosos, podendo evoluir para placas fibrosas e calcificadas que estreitam as artérias e desencadeiam a formação de coágulos, que podem resultar na oclusão dos vasos. Sem a passagem do sangue, os tecidos deixam de ser irrigados e podem morrer, devido à interrupção do aporte de oxigênio. A ocorrência de aterosclerose depende diretamente do nível de colesterol presente nas LDL (LDL-colesterol). Já o nível de HDL tem um efeito protetor contra aterosclerose, haja vista que remove o excesso de colesterol e en caminha para o fígado. Com isso costumam denominar o LDL-colesterol e o HDL-colesterol de “mau” e “bom” colesterol, respectivamente. É uma denominação associada ao papel de sempenhado por essas lipoproteínas, mas ambas são de importância fundamental para o metabolismo do colesterol. O principal ponto da regulação da via do colesterol é a reação envolvendo a HMG-CoA redutase, que atua na formação do mevalonato, através de alterações na atividade e na concen tração da enzima. Sua atividade é mo dulada por fosforilação (inativação), promovida por glucagon e adrenalina, e desfosforilação (ativação), determi nada pela insulina. A concentração da enzima é regulada por variação da expressão gênica e da velocidade de degradação da enzima. Colesterol e mevalonato inibem a síntese e a tra dução da HMG-CoA redutase e au mentam a velocidade de degradação dela. LIPÍDEOS E PROTEÍNAS 2 58 FATORES QUE AUMENTAM A CONCENTRAÇÃO INTRACELU LAR DE COLESTEROL LIVRE FATORES QUE REDUZEM A CON CENTRAÇÃO INTRACELULAR DE COLESTEROL LIVRE FATORES QUE INFLUENCIAM A ATIVIDADE DA HMG – COA REDUTASE Biossíntese Inibição da biossíntese de colesterol Concentração intracelular de HMG – CoA Hidrólise dos ésteres de colesterol intracelulares Regulação negativa do receptor de LDL Concentração intracelular de colesterol Ingestão na dieta de colesterol e absorção dos quilomícrons Esterificação intracelular do colesterol Hormônios: insulina, tri – iodotiro nina (+); glucagon, cortisol (-) Absorção das lipoproteínas con tendo colesterol (LDL) Liberação de colesterol para as lipoproteínas (HDL) Conversão do colesterol a ácidos biliares ou hormônios esteroides Tabela 2. Regulação do colesterol intracelular. Fonte: Adaptado de Bioquímica Medica, John Baynes SAIBA MAIS! ESTATINAS – Os inibidores da HMG-CoA redutase conhecidos como estatinas, são fármacos diminuidores de lipídeos que são usados para reduzir as concentrações de LDL circulantes em pacientes com, ou em, risco de doença cardiovascular aterosclerótica. Eles reduzem o colesterol por inibir competitivamente a enzima hepática. Isto causa uma redução na con centração intracelular de colesterol e, como resultado, aumento na expressão de receptores de LDL. A eliminação de LDL aumenta, e o colesterol-LDL circulante (e o colesterol total no plasma) diminui. 59 LIPÍDEOS E PROTEÍNAS 2 MAPA MENTAL – BIOSSÍNTESE DO COLESTEROL Condensação da acetil - CoA Conversão do mevalonato em isopreno Fígado Intestino Acetil - CoA Polimerização do isopreno Ciclização do esqualeno Estágios Órgãos Precursor Agente redutor BIOSSÍNTESE DE NADPH Reação da HMG – CoA redutase Regulação COLESTEROL Enzimas Citosol Retículo Transporte Formas de exportação endoplasmático Lipoproteínas Ésteres de colesterol Colesterol biliar Ácidos biliares LIPÍDEOS E PROTEÍNAS 2 60 Síntese de aminoácidos O processo de síntese proteica requer que estejam presentes na célula, si multaneamente, todos os 20 aminoá cidos. No entanto, é importante lem brar que nenhuma célula dispõe de reservas de aminoácidos e não são todos os aminoácidos que podem ser sintetizados pelo organismo humano. Dos 20 aminoácidos encontrados nas proteínas, 9 devem ser obrigatoria mente obtidos da dieta, chamando- -se, por isto, aminoácidos essenciais. Além disso, a tirosina é sintetizada pelos humanos unicamente a partir de aminoácidos essenciais. Enquanto isso, os outros 10 aminoácidos podem ser sintetizados a partir de compos tos intermediários do metabolismo de carboidratos e lipídeos. No total, os 11 aminoácidos que o nosso corpo é capaz de produzir são chamadosde aminoácidos não essenciais. CONCEITO! Os aminoácidos essenciais são aqueles obtidos pelo organismo a partir da dieta, enquanto os não-essen ciais são aqueles produzidos endogena mente pelo organismo. ESSENCIAIS NÃO – ESSENCIAIS Fenilalanina Alanina Histidina Arginina Isoleucina Asparagina Leucina Aspartato Lisina Cisteína Metionina Glutamato Treonina Glutamina Triptofano Glicina Valina Prolina Serina Tirosina Todos os aminoácidos são derivados de intermediários da glicólise, do ciclo do ácido cítrico ou da via das pento ses-fosfato. O nitrogênio entra nes sas vias por meio do glutamato ou da glutamina. Os aminoácidos não- -essenciais podem ser agrupados de acordo com o composto precursor de seu esqueleto de carbono. α-cetoglutarato Nos mamíferos, o glutamato é sinte tizado por transaminação de α-ce toglutarato com a maioria dos outros aminoácidos, e é a partir do mesmo que os seguintes aminoácidos serão produzidos; A glutamina é sinteti zada, a partir de NH4+ e glutamato, pela glutamina sintetase. Neste caso, a incorporação de NH4+ é feita como um grupo amida, e portanto este ni trogênio não pode participar de tran saminações; A prolina tem todos os seus átomos de carbono e seu átomo LIPÍDEOS E PROTEÍNAS 2 61 de nitrogênio provenientes do gluta mato e se forma a partir de reações de redução e ciclização do glutamato; A arginina é sintetiza a partir do glu tamato, via ornitina, usando reações do ciclo da ureia. Oxaloacetato O aspartato é obtido a partir do es queleto de carbono de oxaloacetato e do grupo amino de glutamato, por transaminação catalisada pela as partato transaminase; A asparagina é sintetizada a partir de aspartato e pela transferência de um grupo ami da da glutamina, por ação da aspara gina sintetase. Piruvato A alanina é formada por transamina ção entre piruvato e glutamato, pro movida pela alanina transaminase. Fosfoglicerato O 3-fosfoglicerato é um intermediá rio da via glicolítica. Por meio de uma redução, uma transaminação e a hi drólise de um grupo fosfato, forma a serina. A glicina é sintetizada a partir da serina, com a transferência de um de seus átomos de carbono para o te traidrofolato (FH4). É uma reação re versível, então a serina também pode ser sintetizada a partir de glicina. Serina + FH4 ↔ Metileno – FH4 + Glicina A cisteína é derivada da serina, por substituição do oxigênio da hidroxila da serina por enxofre, proveniente de metionina. 3 - fosfoglicerato Fosfoglicerato - desidrogenase 3 – Fosfo - hidroxipiruvato Fosfosserina - aminotransferase 3 – Fosfosserina Fosfosserina - fosfatase Serina Serina – hidroximetil - transferase Glicina Figura 27. Biossíntese de serina a partir de 3 – fosfo glicerato e biossíntese de glicina a partir de serina, em todos os organismos. Fonte: NELSON, David L.; COX, Michael M.. Princípios de bioquímica de Lehninger. 6. ed. Porto Alegre: Artmed, 2014. 1 v LIPÍDEOS E PROTEÍNAS 2 62 Fenilalanina A tirosina origina-se de fenilalani na, catalisada pela fenilalanina hi droxilase. É a única reação conheci da para a fenilalanina, em indivíduos normais, além de sua participação na síntese proteica. Desse modo, quando a dieta inclui tirosina, as ne cessidades de fenilalanina diminuem consideravelmente. α – CETOGLUTARATO OXALOACETATO PIRUVATO 3 - FOSFOGLICERATO FENILALANINA Arginina Asparagina Alanina Cisteína Tirosina Glutamato Aspartato Glicina Glutamina Serina Prolina MAPA MENTAL – SÍNTESE DE AMINOÁCIDOS Glutamina Sintetizados pelo organismo Obtidos da dieta Arginina Prolina Glutamato Não - essenciais Essenciais AMINOÁCIDOS Tirosina α – cetoglutarato Oxaloacetato Aspartato Asparagina Precursores Piruvato Alanina Fenilalanina 3 – fosfoglicerato Serina Cisteína Glicina LIPÍDEOS E PROTEÍNAS 2 63 Síntese proteica A síntese proteica consiste na tra dução do DNA. Para isso, existe o código genético, um sistema de cor respondência direta entre um trio de bases nitrogenadas no RNA mensa geiro (RNAm) – códon – transcritos a partir do DNA, e um aminoácido na proteína. Assim, o RNA transportador (RNAt) deve levar ao ribossomo, lo cal da síntese proteica, o aminoácido exato exigido pela trinca do RNAm. O código genético é caracterizado por sua especificidade, ou seja, um determinado códon sempre codifica o m o s s o b i R o mesmo aminoácido, sua universa lidade entre os seres vivos e sua re dundância, pois, embora cada códon corresponda a único aminoácido, um aminoácido pode possuir mais de uma trinca que o codifica. Cada molécula de RNAt contém uma sequência de bases nucleotídicas – o anti-códon – que reconhece um có don específico no RNAm. Isso garante a correspondência entre qual amino ácido é necessário para a sequência da proteína e qual molécula está sen do levada pelo RNAt ao ribossomo. Figura 28. Síntese proteica. Fonte: https://www.biologianet.com/biologia-celular/sintese-proteica.htm 64 LIPÍDEOS E PROTEÍNAS 2 RESUMO GERAL LIPOGÊNESE E PROTEOGÊNESE Códon Código genético Precursor Enzimas Ácidos graxos Acetil - CoA Acetil – Co A carboxilase Citoplasma Ponto de regulação Aminoácido Ribossomos Tradução do DNA LIPOGÊNESE E Complexo do ácido graxo sintase (AGS) Ligadas ao retículo endoplasmático Local de síntese Proteínas Triacilgliceróis PROTEOGÊNESE Aminoácidos Colesterol Não - essenciais Enzimas Precursores Locais de síntese Glicerol - 3 - fosfato Acil - CoA Fígado α – cetoglutarato Oxaloacetato 3 - fosfoglicerato Fenilalanina Piruvato Precursores Precursor Enzimas Locais de síntese Acetil - CoA Tecido adiposo Retículo endoplasmático Citosol Fígado Intesti 65 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Morales JA, Sticco KL. Arginase Deficiency (Argininemia) [Updated 2019 Nov 27]. In: Sta tPearls [Internet]. Treasure Island (FL): StatPearls Publishing; 2020 Jan-. Available from: ht tps://www.ncbi.nlm.nih.gov/books/NBK482365/ NELSON, David L.; COX, Michael M.. Princípios de bioquímica de Lehninger. 6. ed. Porto Alegre: Artmed, 2014. 1 v Bioquímica 2, v.1. / Andrea Thompson Da Poian – Rio de Janeiro : Fundação CECIERJ, 2009 Bioquímica 2, v.2. / Andrea Thompson Da Poian – Rio de Janeiro : Fundação CECIERJ, 2009 MARZZOCO, Anita; TORRES, Bayardo Baptista. Bioquímica Básica. 2. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1999. https://pt.khanacademy.org/science/biology/cellular-respiration-and-fermentation/ oxidative-phosphorylation/a/oxidative-phosphorylation-etc POLONI, Soraia. HOMOCISTINÚRIA CLÁSSICA NO BRASIL: Um estudo clínico e genético com foco na investigação da relação entre composição corporal e metabolismo lipídico em pacientes tratados. 2016. 134 f. Tese (Doutorado) - Curso de Programa de Pós-graduação em Genética e Biologia Molecular, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2016. BAYNES, John W.; DOMINICAZK, Marek H. Bioquímica Médica. 3. ed. Rio de Janeiro: Else vier, 2010 CHAMPE, Pamela C.; HARVEY, Richard A.; FERRIER, Denise R.. Bioquímica Ilustrada. 3. ed. Porto Alegre: Artmed, 2006 DUARTE, Amanda Santos et al. Fisiopatologia e tratamento da pancreatite aguda: revisão de literatura. : revisão de literatura. Pará Research Medical Journal, [s.l.], v. 3, n. 1, p. 1-8, 2019. Editora Cubo.http://dx.doi.org/10.4322/prmj.2019.006
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