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CENTRO UNIVERSITÁRIO DE ITAJUBÁ - FEPI Curso Fisioterapia Heloise Gabriele Silvério Milena Ferreira Gomes Ana Júlia Martins da Silveira Sthefany Caroline Sales Silva Victoria Werner Caixeta Viviane Rodrigues Fernandes Moura PÉ TORTO CONGÊNITO ITAJUBÁ-MG 2021 Heloise Gabriele Silvério Milena Ferreira Gomes Ana Júlia Martins da Silveira Sthefany Caroline Sales Silva Victoria Werner Caixeta Viviane Rodrigues Fernandes Moura PÉ TORTO CONGÊNITO Atividade Avaliativa apresentada a Profa. Ma. Maria Paula Pereira Ferreira para obtenção de nota parcial do primeiro bimestre na disciplina Fisioterapia Neurofuncional do 7º período do curso de Fisioterapia do Centro Universitário de Itajubá – FEPI. ITAJUBÁ-MG 2021 http://lattes.cnpq.br/6737234655653918 PÉ TORTO CONGÊNITO Introdução O pé torto congênito (ptc) é uma deformidade caracterizada por um mau alinhamento complexo do pé que envolve partes moles e ósseas, com deformidade em equino e varo do retropé, cavo e adução do médio e antepé. O osso que apresenta maior deformidade é o tálus, que tem seu colo encurtado e sua superfície medial diminuída. Ainda não se sabe a causa exata dessa deformidade, mas existem algumas teorias para explicar a origem do PTC, envolve causas intrínsecas e extrínsecas, entre as teorias estão: posição intrauterina do feto, deficiências vasculares, deformidade gênica, deformidade do desenvolvimento ósseo, alterações musculares e neurológicas. E acredita-se que o desenvolvimento do PTC ocorra durante o segundo trimestre de gestação; por isso, é raramente detectado com ultrassonografia, antes da 16ª semana de gestação. A incidência é de 1 para cada 1.000 nascidos vivos, sendo mais comum no sexo masculino 2:1; 50% dos casos ocorre bilateralmente. Alterações Presentes As relações entre os ossos estão alteradas de forma complexa e as deformidades mais graves encontram-se no retropé, pois o tálus e o calcâneo estão em equino acentuado. O tálus apresenta deformidades, onde o colo está angulado medial e plantarmente, em comparação com um pé normal. E também, o colo está encurtado e, em alguns casos, ausente. O calcâneo encontra-se voltado medialmente no plano horizontal, em equino, aduzido e invertido, com a tuberosidade anterior direcionada para o maléolo lateral e sob a cabeça do tálus (varo). Nos casos mais graves, o eixo longo do calcâneo esta medializado. O navicular está em extrema inversão, medializado e deslocado sobre a cabeça do tálus de modo a articular com a porção medial da cabeça do tálus e, não sendo raro, em contato com o maléolo medial. O cuboide desloca-se medialmente em relação ao calcâneo. As articulações tarsometatarsais e as diáfises dos metatarsais estão medializadas e causam adução do antepé que está pronado em relação ao retropé, pois o primeiro e o segundo metatarsais encontram-se angulados plantarmente em relação ao quinto, que, em geral, está alinhada com o retropé. Tal relação origina o cavo. Os ligamentos posteriores do tornozelo e posteromediais do retropé apresentam complexas e amplas anomalias, como retrações que exercem forças deformantes e resistências as correções. O ligamento deltoide e o ligamento calcaneonavicular plantar (´ligamento em mola`) estão encurtados e espessados. Os músculos da panturrilha são menores, o tamanho do pé, como um todo, e dos ossos, individualmente, também é menor. Desta forma, o músculo tríceps sural encontra-se invariavelmente contraturado e encurtado, embora não seja claro se o encurtamento é primário ou secundário. O PTC apresenta também más-formações vasculares, cuja origem pode ser congênita, ou então, adaptativa a deformidade grave e prolongada. A anomalia mais frequente é a ausência ou hipoplasia da artéria tibial anterior, que está presente proximalmente na perna, mas termina abruptamente no tornozelo ou na panturrilha, com rede anastomótica deficiente ou ausente. A ausência do pulso pedioso é mais frequente e de maior gravidade nas crianças mais velhas. Em situações mais raras, pode haver insuficiência vaculares mais acentuadas, que comprometem também a perfusão fornecida pela artéria tibial posterior. Nestes casos, o suprimento sanguíneo ocorre isoladamente pela artéria fibular. Diagnóstico O diagnóstico pode ser realizado mesmo antes do nascimento do bebê pela identificação da deformidade na ultrassonografia pré-natal. Quando isso não acontece, é nitidamente visível logo ao nascimento, pois o aspecto externo do pé é bem característico. Classificação O PTC tem expressão variável e há classificações que consideram somente aspectos clínicos e, outras, que levam em consideração os aspectos radiográficos, nenhum sistema de classificação prevaleceu até o momento. As principais classificações são a de Dimeglio e a de Pirani, a classificação de Pirani é mais simples e mais recente, porém ainda está em fase de validação. O método de Pirani é baseado num sistema de graduação simples, composto por três variáveis no retropé e três no mediopé, cada variável pode ser pontuada em zero, meio e um ponto. Alterações radiográficas O diagnóstico do PTC no recém-nascido é essencialmente clínico. Existe grande dificuldade em avaliar e reproduzir as medições radiográficas. Os núcleos de ossificação são arredondados e excêntricos em seus moldes cartilaginosos, impossibilitando, por vezes, o correto traçado de seus eixos. Além disso, raramente conseguem-se radiografias com adequado posicionamento dos pés. O pé deve ser segurado na posição de melhor correção e, preferencialmente, com carga ou, ao menos, apoio. A incidência em ântero-posterior (AP) é feita com dorsiflexão e rotação externa; o perfil (P), com dorsiflexão e eversão máximas. A ampola é direcionada para o retropé na incidência de frente e transmaleolar no perfil. No AP avaliamos os ângulos talocalcâneo (normal de 20o a 50o), talo- primeiro meta (normal de 0o a 20o) e talo-quinto meta (normal é 0o). No perfil avaliamos o ângulo talocalcâneo (normal 25o a 50o), o tibiotalar (70o-100o) e o tibiocalcâneo com dorsiflexão máxima (25o-60o). As radiografias são úteis em crianças maiores para confirmar a correção, ajudar na identificação dos sítios de eventual deformidade residual, principalmente após o tratamento conservador e, ainda, para direcionar o tratamento cirúrgico, quando indicado. Critérios de avaliação A graduação quanto à gravidade do PTC é fundamental para a comparação dos métodos de tratamento e de seus resultados. Dimeglio et al desenvolveram um método no qual o examinador aplica uma força corretiva "gentil" e observa quatro parâmetros principais: o equino no plano sagital, o varo no plano frontal, a derrotação do bloco calcâneo-antepé (supinação) e a adução do antepé, ambas no plano horizontal; cada um desses parâmetros é avaliado quanto à redutibilidade aplicando-se uma escala de quatro pontos, a partir do grau de deformidade residual. Adiciona-se mais um ponto na presença de cada uma das quatro outras alterações observadas. Já o método de avaliação de Pirani et al baseia-se em seis sinais clínicos de contratura. 2) Avaliam-se, então, outros quatro parâmetros e adiciona-se mais um ponto para a presença de cada um deles: Prega posterior 1 ponto Prega medial 1 ponto Cavo 1 ponto Condição muscular ruim 1 ponto Dessa forma, a nota máxima é 20 e a graduação é feita da seguinte forma: Grau 1 - < 5 Benigno; Grau 2 - 5 < 10 Moderado; Grau 3 - 10 < 15 Grave; Grau 4 - 15 < 20 Muito grave Entende-se como condição muscular ruim: contratura do tríceps, do tibial posterior e fibulares e ausência de dorsiflexão voluntária em eversão e pronação.Um estudo comparativo entre as duas classificações, que investigou a correlação entre a avaliação e a gravidade do PTC, demonstrou que o método preconizado por Pirani et al apresenta alto coeficiente de correlação e tem melhor reprodutibilidade. Simons enfatiza a importância da avaliação radiográfica prévia nas incidências AP e P com correção máxima para avaliar melhor a extensão da deformidade residual após o tratamento conservador. Tratamento O tratamento para o PTC tem passado por grandes avanços, antes o processo cirúrgico era regra e a primeira opção de tratamento. Atualmente, o método Ponseti apresenta resultados satisfatórios e diminui as chances de passar pela cirurgia. A fisioterapia é uma importante aliada para esses pacientes visando tornar o pé funcional, flexível, plantígrado e indolor. Tratamento conservador No tratamento conservador o bom resultado depende de um ínicio precoce do tratamento, do grau de deformidade e da rigidez do pé. As abordagens do tratamento conservador que são mais amplamente utilizadas são as técnicas de Ponseti e de Kite. O método Ponseti é, em muitos países, a primeira opção de tratamento. Ele consiste em manipulações durante semanas, buscando o alongamento de tecidos moles. A primeira manobra visa corrigir o cavo, uma mão estabiliza a cabeça do tálus, enquanto a outra realiza a supinação do antepé. Após isso, mantendo a supinação é realizada uma abdução, dessa forma, a adução do antepé e o cavo do retropé são simultaneamente corrigidos. Após essas manipulações é confeccionado um gesso inguinopodalico para manter a correção, com trocas semanais pelo período de 5 a 7 semanas e a cada troca é realizada a manipulação. Após a resolução da adução e do varo, inicia-se a correção do equino, nesse momento, o pé deve estar abduzido até pelo menos 60º. Em 70% dos casos é necessária a tenotomia percutânea do tendão calcâneo. São necessárias, em média, oito a 10 trocas de gesso para que seja obtida a correção completa do pé e, então, o tratamento continua mediante o uso da órtese de Denis-Browne pelos próximos três meses e no período noturno até os três anos de idade de criança. O método de Kite é um método de manipulação mais gentil que visava a corrigir cada componente do PTC separadamente, e não simultaneamente. A correção do aduto consistia na abdução do pé com fulcro no mediopé e apoio na articulação calcaneocuboidea. A correção do varo era feita com eversão do retropé, com cunhas ou trocas gessadas. As manipulações forçavam sucessivamente a abdução e pronação do antepé. Após a correção do aduto e da inversão, os equinos do antepé e do retropé eram corrigidos com a dorsiflexão progressiva. Em geral, a média de duração do tratamento é de seis meses, sendo dois meses para a correção da adução do antepé e varo do retropé, dois meses para a correção do equinismo e finalmente dois meses de manutenção para os músculos e ligamentos se adaptarem à posição de correção. Tratamento cirúrgico Na ocorrência de resultados insatisfatórios com o tratamento conservador, considerados a partir da resistência à correção, manutenção da deformidade e rigidez do pé, segundos critérios clínicos e radiográficos, após o quinto ou sexto mês de vida, passa a ser indicado o tratamento cirúrgico. As técnicas da cirurgia visam a liberação de partes moles posterior, medial, lateral e plantar. Esta liberação deve ser feita de forma seletiva, o que significa dizer que todas as estruturas de partes moles que se encontrarem encurtadas ou retraídas devem ser liberadas, sejam elas capsulares, ligamentares ou musculotendíneas. Juntamente, as articulações luxadas e/ou subluxadas devem ser reduzidas e mantidas, às vezes, com fixação interna. Após a cirurgia, o pé operado é mantido imobilizado com tala gessada, o que facilita a realização de curativos pós operatório. A retirada da fixação interna é realizada em torno da terceira ou quarta semana de pós-operatório e, em seguida, o pé é colocado em gesso coxopodálico, inicialmente na posição equino e com ganho progresso de dorsiflexão, por mais 45 dias. Após 10 a 12 semanas, deve-se substituir o gesso por órtese suropodálica e dar início a fisioterapia. Os objetivos da fisioterapia no pós-operatório incluem o ganho de amplitude de movimento especialmente para dorsiflexão e eversão, a liberação de aderências e retrações cicatriciais, o alongamento de estruturas encurtadas e retraídas com ênfase nos músculos tríceps sural e tibial posterior, a estimulação do fortalecimento muscular focando no tibial anterior e nos fibulares, o treino de marcha estimulando o apoio plantígrado dos pés evitando, desta forma, a recidiva da deformidade. REFERÊNCIAS: Dimeglio A, Bensahel H, Souchet P, Mazeau P, Bonnet F. Classification of clubfoot. J Pediatr Orthop. 1995;4:129-36. FINCATO, F.C; HOLANDA, R.L. et al. Pé torto congênito: métodode Ponseti e sua aplicabilidade pelo fisioterapeuta. FisioterBras, 2020. LANZA, F.C; et al. Fisioterapia em pediatria e neonatologia: da UTI ao ambulatório. 2ª edição MARANHO, D.A.C; VOLPON, J.B. Pé torto congênito. Scielo,2011. MERLLOTTI, M.H.R; BRAGA, S.R; SANTILI, C. Pé torto congênito. Revista brasileira de ortopedia, 2006.
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