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Geometria Plana e Espacial Um Estudo Axiomático 300 exercícios propostos Mais de 400 ilustrações 150 exemplos João Roberto Gerônimo Valdeni Soliani Franco Geometria Plana e Espacial Um Estudo Axiomático João Roberto Gerônimo Valdeni Soliani Franco fevereiro de 2006 Maringá – PR iv Índice Apresentação Neste trabalho temos como objetivo apresentar um estudo axiomático da geometria euclidiana plana e espacial. Ele está escrito em termos de geometria clássica, mas utilizando uma linguagem moderna e com um certo rigor nas demonstrações. Salientamos que na Geometria Espacial, admitiremos todos os resultados obtidos na Geometria Plana. O texto está dividido em 16 capítulos sendo que o primeiro capítulo é introdutório, os capítulos de 2 a 9 tratam da geometria plana e os capítulos de 10 a 16 tratam da geometria espacial. Mais especifica-mente, no Capítulo 1, apresentamos uma introdução histórica onde justificamos a abordagem escolhida para o texto. No Capítulo 2, estuda-mos os primeiros axiomas e seus principais resultados na geometria plana. No Capítulo 3, apresentamos os axiomas sobre medidas de segmentos e ângulos. No Capítulo 4, estudamos a congruência entre triângulos. No Capítulo 5, tratamos do principal axioma da Geometria Euclidiana, que por mais de dois mil anos acreditaram que era conseqüência dos outros axiomas. No Capítulo 6, tratamos de áreas de regiões poligonais. No Capítulo 7, estudamos os casos de semelhança em triângulos e como consequência o Teorema de Tales. No Capítulo 8, estudamos as propriedades da circunferência e do círculo. No Capítulo 9, estudamos as relações métricas existentes nos triângulos. No Capítulo 10, apresen-tamos os primeiros axiomas e seus principais resultados relativos ao espaço euclidiano. No Capítulo 11, estudamos as relações de paralelis-mo entre retas e planos e entre planos e planos. No Capítulo 12, estudamos as relações de perpendicularismo entre retas e planos e entre planos e planos. No Capítulo 13, utilizamos as relações de perpendicularismo e paralelismo para definir distâncias, ângulos, diedros e triedros. No Capítulo 14, definimos poliedros e classificamos os v poliedros regulares e os de Platão. No Capítulo 15, estudamos a esfera e suas propriedades. Para finalizar, no Capítulo 16, estudamos áreas e volumes de figuras geométricas espaciais. No Apêndice A apresentamos um pequeno relato sobre a obra “Os Elementos” de Euclides. No Apêndice B indicamos uma página na internet com a resolução dos exercícios propostos no livro em formato PDF. Deixamos também disponibilizados as figuras encontradas no texto. Para resolver estes exercícios contamos com a colaboração inicial dos ex- acadêmicos Ademir Pastor Ferreira, Vânia Batista Marinho e Waldir Soares Júnior. Neste texto empregamos uma linguagem contemporânea onde falamos de conjuntos, relações e funções, conceitos que, a priori, não precisam ser compreendidos de forma mais aprofundada, mas utilizando apenas o conhecimento do Ensino Médio. Estes conceitos podem ser vistos com detalhes em [2]. Gostaríamos de registrar nossos agradecimentos aos alunos das turmas de 1999, 2000, 2001, 2002, 2003, 2004 e 2005 do curso de matemática da UEM e ao professor Marcelo Escudeiro Hernandes, pelas sugestões apresentadas. Queremos agradecer também aos alunos de Especialização em Matemática da UEMS – Dourados – MS, pelas sugestões e correções feitas nos capítulos relacionados a Geometria Plana. Maringá, 15 de fevereiro de 2006 Índice Índice CAPÍTULO 1: INTRODUÇÃO...........................................................1 CAPÍTULO 2: INCIDÊNCIA E ORDEM NO PLANO.....................4 2.1. AXIOMAS DE INCIDÊNCIA..............................................................4 2.2. AXIOMAS DE ORDEM....................................................................4 2.3. ORDENANDO UMA RETA...............................................................4 2.4. POLÍGONOS....................................................................................4 2.5. EXERCÍCIOS...................................................................................4 CAPÍTULO 3: SEGMENTOS, ÂNGULOS E MEDIDAS.................4 3.1. MEDIDAS DE SEGMENTOS.............................................................4 3.2. MEDIDAS DE ÂNGULOS.................................................................4 3.3. CONGRUÊNCIA DE SEGMENTOS E ÂNGULOS.................................4 3.4. EXERCÍCIOS...................................................................................4 CAPÍTULO 4: CONGRUÊNCIA DE TRIÂNGULOS......................4 4.1. O CASO LAL................................................................................4 4.2. O CASO ALA................................................................................4 4.3. O CASO LLL.................................................................................4 4.4. O CASO LAAO...............................................................................4 4.5. O CASO LLA..............................................................................4 4.6. EXISTÊNCIA DE PERPENDICULARES E PARALELAS.......................4 4.7. DISTÂNCIA DE PONTO A RETA E DESIGUALDADE TRIANGULAR. .4 4.8. EXERCÍCIOS...................................................................................4 CAPÍTULO 5: AXIOMA DAS PARALELAS.....................................4 5.1. O AXIOMA DAS PARALELAS.........................................................4 5.2. TRIÂNGULOS E QUADRILÁTEROS..................................................4 5.3. TEOREMA DAS PARALELAS...........................................................4 5.4. EXERCÍCIOS...................................................................................4 CAPÍTULO 6: REGIÕES POLIGONAIS E ÁREAS........................4 6.1. REGIÕES POLIGONAIS...................................................................4 6.2. ÁREAS...........................................................................................4 6.3. TEOREMA DE PITÁGORAS..............................................................4 6.4. EXERCÍCIOS...................................................................................4 CAPÍTULO 7: SEMELHANÇA DE TRIÂNGULOS E O TEOREMA DE TALES.........................................................................4 vii 7.1. SEQUÊNCIAS PROPORCIONAIS.......................................................4 7.2. TEOREMA DE TALES......................................................................4 7.3. SEMELHANÇA................................................................................4 7.4. EXERCÍCIOS...................................................................................4 CAPÍTULO 8: CIRCUNFERÊNCIA E CÍRCULO...........................4 8.1. TANGENTES...................................................................................4 8.2. ÂNGULO INSCRITO........................................................................4 8.3. PERÍMETRO DE UMA CIRCUNFERÊNCIA.........................................4 8.4. ÁREA DE UM CÍRCULO..................................................................4 8.5. EXERCÍCIOS...................................................................................4 CAPÍTULO 9: TRIGONOMETRIA...................................................4 9.1. FUNÇÕES TRIGONOMÉTRICAS.......................................................4 9.2. RELAÇÃO FUNDAMENTAL.............................................................4 9.3. AMPLIANDO O DOMÍNIO...............................................................4 9.4. LEI DOS COSSENOS.......................................................................4 9.5. LEI DOS SENOS..............................................................................4 9.6. EXERCÍCIOS...................................................................................4CAPÍTULO 10: INCIDÊNCIA E ORDEM NO ESPAÇO.................4 10.1. AXIOMAS DE INCIDÊNCIA............................................................4 10.2. DETERMINAÇÃO DE PLANOS.......................................................4 10.3. AXIOMA DE ORDEM....................................................................4 10.4. ÂNGULOS ENTRE RETAS..............................................................4 10.5. EXERCÍCIOS.................................................................................4 CAPÍTULO 11: PARALELISMO NO ESPAÇO E SUAS CONSEQÜÊNCIAS...............................................................................4 11.1. PARALELISMO ENTRE RETAS E PLANOS......................................4 11.2. PARALELISMO ENTRE PLANOS....................................................4 11.3. TEOREMA DE TALES....................................................................4 11.4. EXERCÍCIOS.................................................................................4 CAPÍTULO 12: PERPENDICULARISMO NO ESPAÇO E SUAS CONSEQÜÊNCIAS................................................................................4 12.1. PERPENDICULARISMO ENTRE RETAS E PLANOS..........................4 12.2. PERPENDICULARISMO ENTRE PLANOS........................................4 12.3. EXERCÍCIOS.................................................................................4 CAPÍTULO 13: PROJEÇÕES, DISTÂNCIAS, ÂNGULOS, DIEDROS E TRIEDROS......................................................................4 13.1. DISTÂNCIA DE PONTO A PLANO..................................................4 13.2. DISTÂNCIA ENTRE RETAS REVERSAS..........................................4 Índice 13.3. ÂNGULO ENTRE PLANOS E ENTRE RETA E PLANO......................4 13.4. DIEDROS......................................................................................4 13.5. TRIEDROS....................................................................................4 13.6. EXERCÍCIOS.................................................................................4 CAPÍTULO 14: POLIEDROS..............................................................4 14.1. FIGURAS POLIÉDRICAS................................................................4 14.2. SUPERFÍCIES POLIÉDRICAS..........................................................4 14.3. POLIEDROS..................................................................................4 14.4. FÓRMULA DE EULER...................................................................4 14.5. POLIEDROS DE PLATÃO...............................................................4 14.6. POLIEDROS REGULARES..............................................................4 14.7. EXERCÍCIOS.................................................................................4 CAPÍTULO 15: SUPERFÍCIE ESFÉRICA E ESFERA...................4 15.1. CONCEITO E PROPRIEDADES.......................................................4 15.2. DETERMINAÇÃO DE UMA SUPERFÍCIE ESFÉRICA........................4 15.3. POSIÇÕES RELATIVAS..................................................................4 15.4. SUPERFÍCIE ESFÉRICA E SUAS PARTES........................................4 15.5. EXERCÍCIOS.................................................................................4 CAPÍTULO 16: ÁREAS E VOLUMES...............................................4 16.1. AXIOMAS.....................................................................................4 16.2. PRISMA........................................................................................4 16.3. PIRÂMIDE....................................................................................4 16.4. CILINDRO....................................................................................4 16.5. CONE...........................................................................................4 16.6. ESFERA........................................................................................4 16.7. EXERCÍCIOS.................................................................................4 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.................................................4 APÊNDICE A: O LIVRO “OS ELEMENTOS” DE EUCLIDES.....4 APÊNDICE B: RESOLUÇÃO DOS EXERCÍCIOS..........................4 ix Capítulo 1: Introdução A geometria1 surgiu há aproximadamente 4.000 anos no Egito e na Babilônia, de uma maneira intuitiva, não sistemática, com uma série de regras práticas sugeridas pela experiência, objetivando principalmente aplicações às medições. De fato, as relações desta sociedade, baseadas na propriedade, impuseram a necessidade de medir. Por outro lado, a geometria com um caráter dedutivo, apoiado em proposições gerais, teve seu início na antiga Grécia, com Tales de Mileto2 e Pitágoras3. Mas foi Euclides4, na sua famosa obra Os Elementos (Ver Apêndice A), o primeiro a apresentar um sistema axiomático para a geometria, ou seja, um sistema formado por noções primitivas, definições, axiomas e teoremas. Os axiomas são o começo dessa cadeia dedutiva e são as afirmações não demonstradas, que Euclides chamou de postulado (aquilo que não se pode). Euclides procurou escolher como postulados e afirmações que, por sua simplicidade, seriam aceitas por qualquer pessoa de bom senso e que eram, em um certo sentido, evidentes por si mesmas. 1 Palavra de origem grega: “geo” significa “terra” e “metria” significa “medida”. 2 Tales de Mileto nasceu por volta de 624 a.C. em Mileto, Ásia Menor (atualmente Turquia) e morreu por volta de 547 a.C. em Mileto. Tales de Mileto foi o primeiro filósofo grego, cientista e matemático conhecido. A ele é creditado cinco teoremas da geometria elementar [0]. 3 Pitágoras de Samos nasceu por volta de 569 a.C. em Samos, Ionia e morreu por volta de 475 a.C. Pitágoras foi um filósofo grego que fez importantes descobertas na matemática, astronomia e na teoria musical. O teorema hoje conhecido como Teorema de Pitágoras era conhecido pelos Babilônios 1000 anos atrás mas ele foi o primeiro a demonstrá-lo [0]. 4 Euclides de Alexandria nasceu por volta de 325 a.C. e morreu por volta de 265 a.C. em Alexandria, Egito. Euclides é o mais notável matemático da antigüidade. Foi mais conhecido pelo tratado sobre geometria denominado Os Elementos [0]. Acontece que os quatro primeiros postulados de Euclides, enunciados a seguir satisfazem essas condições de simplicidade e evidência, mas o quinto nem tanto, como vocês poderão perceber. 1. Dois pontos determinam uma reta. 2. A partir de qualquer ponto de uma reta dada é possível marcar um segmento de comprimento arbitrário. 3. É possível obter uma circunferência com qualquer centro e qualquer raio. 4. Todos os ângulos retos são iguais. 5. Se uma reta r corta duas outras retas5 s e t (no mesmo plano) de modo que a soma dos ângulos interiores ( e ) de um mesmo lado de r é menor que dois retos, então s e t , quando prolongadas suficientemente, se cortam daquele lado de r. s t r O próprio Euclides deve ter considerado o quinto postulado pouco evidente, tanto que ele retardou o quanto possível o uso deste postulado. Já na Antigüidade, Proclus6 não aceitava o quinto postulado, pois achava que este poderia ser demonstrado a partir dos conceitos básicos da obra euclidiana, sendo, portanto, na realidade um teorema. Mas a maior parte das tentativas de demonstração do quinto postulado admitiam fatos que ou eram equivalentes a ele, ou não podiam ser demonstrados usando unicamente os outros quatro postulados. Grandes nomes na matemática tentaram sem sucesso a demonstração do quinto postulado. 5 No início do capítulo 2 apresentaremos as notações para pontos, retas, ángulos, etc. Os desenhos também farão parte do texto como forma de fixar melhor as idéias e resultados apresentados . 6 Proclus Diadochus nasceu em 8 de fevereiro de 411 em Constantinopla(atualmente Istambul), Byzantium (atualmente Turquia) e morreu em 17 de Abril de 485 em Atenas, Grécia. Proclus não foi um matemático criativo; mas foi um expositor crítico e detalhista, com um bom conhecimento dos métodos matemáticos e um conhecimento detalhado de milhares de anos da Matemática Grega de Tales até os seus dias [0]. 1. Introdução A negação do quinto postulado, e assim sua independência em relação aos outros quatro, levaram a criação de outras geometrias. A primeira geometria não Euclidiana foi publicada de maneira independente e quase simultânea pelo matemático russo N. I. Lobachewsky7 em 1829 e pelo matemático J. Bolyai8 em 1832. Tal geometria é hoje chamada geometria hiperbólica. Durante muito tempo distinguiu-se axioma de postulado. Os axiomas eram proposições evidentes por si mesmas e postulados eram proposições que se pediam fossem aceitas sem demonstração. Hoje, axiomas e postulados são designações das proposições admitidas sem demonstração, na verdade, atualmente emprega-se sempre a palavra axioma em lugar de postulado. Existem outras versões para os postulados da geometria plana que são encontrados nos Os Elementos de Euclides. David Hilbert9 construiu um sistema de axiomas para a geometria Euclidiana [0] consistindo de cinco grupos, a saber: I - Axiomas de incidência: Neste grupo são apresentados oito axiomas dos quais três são relacionados ao plano e cinco são relacionados ao espaço. Estes axiomas estabelecem as relações mútuas entre ponto e reta. II - Axiomas de ordem: Neste grupo são apresentados quatro axiomas e com eles é possível fazer a ordenação dos pontos sobre uma reta, um plano e no espaço. 7 Nikolai Ivanovich Lobachewsky nasceu em 1 de dezembro de 1792 em Nizhny Novgorod, Rússia e morreu em 24 de fevereiro de 1856 em Kazan, Rússia. Em 1829 Lobachevsky, publicou sua geometria não-euclidiana, o primeiro tratado deste tema a ser impresso [0]. 8 Jãnos Bolyai nasceu em 15 de dezembro de 1802 em Kolozsvár, Império Austríaco (atualmente, Cluj, Romênia) e morreu em 27 de janeiro 1860 em Marosvásárhely, Império Austríaco (atualmente, Tirgu-Mures, Romênia). Entre 1820 e 1823 Bolyai preparou um tratado sobre um sistema completo de geometria não-euclidiana [0]. 9 David Hilbert nasceu em 23 de janeiro de 1862 em Königsberg, Prussia (atualmente Kaliningrad, Rússia) e morreu em 14 de fevereiro de 1943 em Göttingen, Alemanha. A publicação de Hilbert em geometria foi um dos trabalhos com mais influência nesta área depois de Euclides. Um estudo sistemático dos axiomas da geometria euclidiana levou Hilbert a propor 21 axiomas e suas conseqüências. Ele fez contribuições em muitas áreas da matemática e física [0]. 3 Geometria Plana e Espacial J. R. Gerônimo/V. S. Franco III - Axiomas de congruência: Neste grupo são apresentados cinco axiomas dos quais três são relacionados a congruência de segmentos, um relacionado a congruência de ângulos e um relacionado a congruência de triângulos. IV - Axioma das paralelas: Este axioma estabele a unicidade de uma reta paralela a uma reta dada passando por um ponto. Neste grupo temos apenas um mas é o mais importante pois é ele que caracteriza a geometria euclidiana. V - Axiomas de continuidade: Este grupo é constituído de dois axiomas a saber: axioma de Arquimedes10 e axioma de Dedekind11. Apresentar a Geometria Euclidiana de forma dedutiva utilizando o sistema apresentado por Euclides ou Hilbert é mais complicado. Aleksei Vasil’evich Pogorelov12, com o objetivo de tornar o texto [0] mais simples dividiu os axiomas em seis grupos13: I. Axiomas de incidência: Este grupo é constituído de quatro axiomas, sendo dois relacionados ao plano e dois relacionados ao espaço. II. Axiomas de ordem: Este grupo é constituído de três axiomas, sendo dois relacionados ao plano e um relacionado ao espaço. III. Axiomas de medidas: Este grupo é constituído de doze axiomas, sendo dois relacionados a segmentos, dois relacionados a ângulos, quatro relacionados a áreas e quatro relacionados a volumes. 10 Arquimedes de Siracusa nasceu em 287 a.C. e morreu em 212 a. C. em Siracusa, Sicília. A maior contribuição de Arquimedes foi em Geometira. Seu método antecipou o cálculo integral 2.000 antes de Newton e Leibniz[0]. 11 Julius Wihelm Richard Dedekind nasceu em 06/10/1831 e morreu em 12/02/1916 em Braunschweig, atual Alemanha. A maior contribuição de Dedekind foi a definição de números irracionais em termos de cortes. Ele introduziu a noção de ideal que é fundamental para a teoria de anéis[0]. 12 Aleksei Vasil’evich Pogorelov nasceu em 3 de março de 1919 na Rússia e morreu em 2002. Sua área de pesquisa é caracterizada por uma rara combinação de talento para a a matemática e engenharia. É autor de mais de 200 publicações incluindo 40 monografias e livro-textos [8]. 13 Estes grupos foram apresentados separadamente para o plano (estudo que chamou de planimetria) e o espaço (estudo que chamou de estereometria). 4 1. Introdução IV. Axioma de existência de um segmento de comprimento dado: Este axioma e garante a construção de segmentos a partir de um número real dado. V. Axioma de Congruência: Este axioma garante a congruência de triângulos e permite obter áreas e volumes de figuras congruentes. VI. Axioma das paralelas: Por último temos o axioma que caracteriza a geometria euclidiana. Se, por um lado, Pogorelov não apresenta o grupo “axiomas de continuidade”, ele acrescenta mais dois grupos relacionados a medidas que de certa forma garantem a validade deste grupo. Nestas notas, utilizaremos uma versão simplificada de Pogorelov que possui a vantagem adicional de poder ser utilizada no ensino básico da geometria. Faremos algumas adaptações, entre elas estão: Para o estudo de áreas e volumes acrescentamos o axioma do completamento. Acrescentamos ao grupo de medidas axiomas relacionados a área e volumes. No decorrer do texto faremos a construção das principais figuras geométricas planas e espaciais sem, no entanto, fazer o estudo da construção com régua e compasso. Apesar de fazermos este estudo através da apresentação axiomática, não nos preocuparemos com as questões relacionadas a consistência, independência e completude dos axiomas apresentados. Esta análise está fora do escopo deste livro e pode ser vista nos livros de Hilbert [0] e Pogorelov [0]. Nosso estudo será formado por Noções primitivas: são os conceitos aceitos sem definição. Axiomas: são os resultados aceitos sem demonstração. Definições: são os conceitos apresentados para simplificar a linguagem matemática ou para identificar um novo objeto matemático. 5 Geometria Plana e Espacial J. R. Gerônimo/V. S. Franco Teoremas: são os resultados que são demonstrados a partir de uma cadeia dedutiva de afirmações. Proposições: são o mesmo que os teoremas mas que no sistema como um todo não apresenta tanta importância quanto o teorema. Lemas: são pequenos resultados que também devem ser demonstrados e que simplificam a demonstração de um teorema. Corolários: são conseqüências imediatas de um teorema e que merece ser evidenciado. Cada uma dessas noções ficará clara no decorrer do estudo. As primeiras noções primitivas que adotaremos são as seguintes: Noção Primitiva 1: Ponto. Noção Primitiva 2: Reta. Noção Primitiva 3: Plano14. Estas noções primitivas nos dizem quem serão os objetos básicos da geometria euclidiana. Desta forma, a geometria euclidiana estudará as relações entre esses três objetos. As notações que utilizaremos para pontos, retas e planos serão as seguintes: Pontos: Letras latinas maiúsculas: A, B, C, X, Y,...Retas: Letras latinas minúsculas: a, b, c, x, y,... 14 Das noções primitivas temos um conhecimento intuitivo pela experiência, sensibilidade e observação. Por exemplo, a marca de um toque de grafite num papel, dá a idéia da noção não definida de ponto, apesar que isso é uma representação de ponto, pois ponto não tem dimensão, e a marca no papel tem. É interessante observarmos que Euclides no Livro I de “Elementos” definiu de maneira equivocada estas três noções, por exemplo, ele escreve que “ponto é aquilo que não tem partes” e deixa sem significado o termo “ter partes”. 6 1. Introdução Planos: As seguintes letras gregas maiúsculas15: , , , , , , , . Nos capítulos de 2 a 9 trabalharemos somente num plano fixado e, portanto, não haverá necessidade da notação de plano. Esta necessidade somente ocorrerá a partir do Capítulo 10. As notações gráficas que utilizaremos para pontos, retas e planos serão as seguintes: Ponto: Reta: Plano: É importante observarmos que estas notações gráficas são apenas uma maneira de fixar as idéias com relação a cada um dos objetos trabalhados e que isto, de forma alguma, representa os objetos da teoria apresentada. Em todo o texto serão apresentados desenhos que servirão para fixar as idéias no desenvolvimento de determinado conceito ou resultado. Por outro lado, devemos esclarecer que são apenas ilustrativos e não podem servir para justificar qualquer uma das propriedades geométricas. No texto falaremos de figuras geométricas (planas ou espaciais), ou simplesmente, figuras planas ou figuras espaciais, que são subconjuntos do plano ou do espaço e estaremos apresentando uma classificação das principais figuras. 15 O alfabeto grego maiúsculo é dado por: (alfa), (beta), (gama), (delta), (epsílon ou epsilo), (zeta ou dzeta), (eta), (teta), (iota), (capa), (lambda), (mi ou mu), (ni), (xi), (ômicron), (pi), (rô), (sigma), (tau), (upsilon), (fi), (chi), (psi) e. (ômega). 7 Capítulo 2: Incidência e Ordem no Plano Neste capítulo apresentaremos axiomas de incidência e ordem no plano. Os axiomas de incidência estabelecem as relações mútuas entre ponto e reta e os axiomas de ordem estabelecem uma ordenação dos pontos na reta e no plano. 2.1. Axiomas de Incidência Neste primeiro grupo estudaremos a incidência entre pontos e retas que terá o mesmo significado de interceptar, passar por, estar sobre. Começaremos pelo axioma de existência. Axioma I.1: (de existência) a) Existe ponto. b) Existe reta e qualquer que seja a reta, existem pontos que pertencem à reta e pontos que não pertencem à reta. O mais interessante deste axioma é que ele nos garante a existência dos objetos básicos, ou seja, a geometria não constitui-se de um conjunto vazio e, portanto, fará sentido o estudo da relação entre esses objetos. Axioma I.2: (de determinação): Dados dois pontos distintos existe uma única reta que contém estes pontos. Observações: 2. Incidência e Ordem no Plano 1. Como dois pontos determinam uma reta, quando falarmos de uma reta que passa por dois pontos distintos A e B, a denotaremos por rAB. 2. Este axioma constitui um bom teste de qualidade das réguas que utilizamos, ou seja, se você conseguir desenhar duas retas distintas passando por dois pontos distintos significa que esta régua não é adequada para esta geometria. 3. Dada uma reta r, que existe pelo Axioma I.1.b, tomamos um ponto P qualquer fora de r e um ponto Q em r, que existem pelo mesmo axioma; unindo P com Q, teremos uma nova reta s que é univocamente determinada pelos pontos P e Q de acordo com o Axioma I.2a. O ponto Q na reta r, é o que chamaremos de interseção de r e s, cuja notação será r s. Fazendo um abuso de notação, escreveremos r s = Q ao invés de r s = {Q}. Isto será feito com o objetivo de simplificá-la. 4. Quando duas retas possuírem um ponto de interseção, diremos que as duas retas se inter-ceptam. Como estamos estudando geome-tria, vamos visualizar geometricamente o con-teúdo das observações 3 e 4. No desenho ao lado temos as retas r e s se interceptando no ponto Q e o ponto P não pertencente a reta r. r s P Q Definição 2.3: Se três (ou mais) pontos estão sobre uma mesma reta, diremos que eles são colineares. 9 Geometria Plana e Espacial J. R. Gerônimo/V. S. Franco Exemplo 2.1. No desenho ao lado, os pontos A, B e C são colineares pertencendo a reta r, os pontos D, E e F são não colineares, onde D e E pertencem a reta s, D e F pertencem a reta t, e E e F pertencem a reta q. A B C F E D r s t q Proposição 2.3: Dadas duas retas distintas, elas possuem no máximo um ponto de intersecção. Demonstração: Se a interseção de duas retas contiver pelo menos dois pontos distintos, então pelo Axioma I.2 as retas não podem ser distintas, o que é uma contradição. Logo, as duas retas se interceptam no máximo em um ponto. Vejamos agora a quarta noção primitiva da geometria euclidiana que permitirá apresentar a noção de segmento de reta. Noção Primitiva 4: Um ponto C estar entre dois pontos A e B de uma reta r, onde A, B e C são distintos. Observemos que dizer “C está entre A e B” é o mesmo que dizer “C está entre B e A”. No desenho ao lado, os pontos A, B e C pertencem a reta r e o ponto C está entre A e B. A C B r Definição 2.3: Sejam A e B dois pontos de uma reta r. O conjunto constituído pelos dois pontos A e B e pelos pontos que estão entre A e B é chamado de segmento de reta, cuja notação será AB. Os pontos que estão entre A e B são chamados pontos interiores, ou simplesmente pontos do segmento AB; os pontos A e B, são 10 2. Incidência e Ordem no Plano denominados extremos do segmento AB. A reta r é denominada reta suporte do segmento AB e será denotada por rAB.16 Exemplos 2.2. No desenho ao lado indicamos o seg-mento AB, o interior do segmento AB e os extremos A e B na reta suporte r. Obser-vemos que o segmento AB é formado pela união dos pontos extremos com os pontos interiores. A B r Segmento AB Interiores Extremos 2.3. A noção de segmento permitirá a construção de várias figuras planas conheci-das. Com os conceitos e resultados que temos já podemos construir os triângulos, que são figuras formadas por três pontos não colineares A, B e C e pelos segmentos de reta determinados por estes três pontos. No desenho ao lado, temos um triângulo construído sobre as retas r, s e t r s B C A t que, duas a duas, se interceptam nos pontos A, B e C, formando os segmentos AB, AC e BC. Os pontos A, B e C são chamados vértices do triângulo e os três segmentos de lados do triângulo. Denotaremos esse triângulo por ABC. Um triângulo é bem determinado pelos seus três pontos pois os segmentos são bem determinados por dois pontos. 16 Não há diferença entre o segmento AB e o segmento BA. Existirá a diferença quando temos um segmento orientado. A notação é a mesma da reta que passa por dois pontos e é razoável que seja assim pois existe uma única reta suporte do segmento e que contém os extremos do segmento. 11 Geometria Plana e Espacial J. R. Gerônimo/V. S. Franco Até o momento apresentamos qua-tro classes17 de figuras geométricas planas: pontos, retas, segmentos e triângulos. No diagrama ao lado visualizamos estas classes que, conforme se observa, são disjuntas, ou seja, um ponto não pertence a classe dos segmentos, um segmento não pertence a classe dos triângulos, etc. Figuras pontos retas segmentostriângulos O diagrama apresentado não se preocupa com questões relativas ao tamanho de cada classe mas sim com a questão de conjunto propriamente dita, ou seja, consideramos o conjunto de todas as figuras planas e vamos visualizar este conjunto que está particionado em classes que poderão ser disjuntas ou não. 2.2. Axiomas de Ordem O próximo grupo estabelecerá as relações mútuas entre os pontos numa reta e no plano e pertencem ao segundo grupo de axiomas denominado axiomas de ordem. Axioma II.1: Dados três pontos colineares, um e apenas um deles localiza-se entre os outros dois. Axioma II.2: Dados dois pontos A e B numa reta, sempre existem um ponto C entre A e B e um ponto D, tal que A está entre D e B. A B C D Definição 2.3: Seja r uma reta e fixemos um ponto O em r. Consideremos os pontos A e B em r, distintos de O. Se A = B, diremos que A e B estão do mesmo lado em relação ao ponto O. Caso contrário, pelo Axioma II.1, O está entre 17 O sentido que estamos dando para a classe é o usual, ou seja, um conjunto de objetos que possuem uma propriedade em comum. 12 2. Incidência e Ordem no Plano A e B, ou não. Se O não está entre A e B diremos que A e B estão no mesmo lado em relação ao ponto O. Se O está entre A e B, diremos que A e B estão em lados diferentes em relação ao ponto O. Exemplos 2.4. No desenho ao lado temos as seis possibilidades que podem ocorrer com três pontos sobre uma reta dada. Deixamos subentendida uma ordem que será vista na próxima seção. De fato, até o momento não há diferença entre o primeiro e o sexto caso, segundo e quarto caso, terceiro e quinto caso. A B C A C B B A C B C A C A B C B A 2.5. Nos desenhos ao lado ilustramos todas as possíveis situações entre dois pontos em relação a um ponto O. No desenho onde A e B estão do mesmo lado, observemos que ainda não sabemos a diferença entre o segundo e o quarto caso. Da mesma forma com o terceiro e quarto caso. Isto também se nota quando A e B estão em lados diferentes em relação a O. Na realidade, está faltando estabelecer uma ordem nesta reta pois é a ordem que permitirá diferenciar estes casos. O mesmo ocorre com o segundo desenho. O A B O B A B A O A B O A e B estão do mesmo lado em relação a O O A=B A O B B O A A e B estão em lados diferentes em relação a O A relação entre os pontos, dada pelo ponto O, nos permite particionar a reta: 13 Geometria Plana e Espacial J. R. Gerônimo/V. S. Franco Teorema 2.3: Um ponto numa reta fornece uma partição18 da mesma. Demonstração: Dado uma reta r e um pon-to O pertencente a r, escolhamos um um ponto arbitrário A em r distinto de O, que existe pelo item b) do Axioma I.1. Vamos denotar por S o conjunto de todos os pon-tos que se encontram do mesmo lado que A em relação a O, e por S’ o conjunto de todos os pontos que se encontram em lados diferen- O A r S’ S tes de A em relação a O. Considere a família de conjuntos ={S, S’,{O}}. Vamos mostrar que é uma partição de r, ou seja: 1. S e S’ ; 2. S {O} = , S’ {O} = e S S’ = ; 3. S S’ {O} = r. De fato, vamos demonstrar cada um dos itens de 1 a 3: 1. Pela Definição 2.3, temos que o ponto A está do mesmo lado que A em relação ao ponto O. Logo, A S e, então, S . Para demonstrar a segunda parte temos, pelo Axioma II.2, que existe um ponto D tal que O está entre A e D. Logo, pela Definição 2.3, D S’ e, então, S’ . 2. Pela Definição 2.3, temos que qualquer ponto de S ou S’ é diferente do ponto O. Logo, S {O} = e S’ {O} = . Para demonstrar a terceira parte, seja B S S’, ou seja, B está do mesmo lado que A em relação a O e B está em lado diferente de A em relação a O, o que pela Definição 2.3 contradiz o Axioma II.1. 3. É claro que S S’ {O} r. Para mostrar que r S S’ {O} considere um ponto B r diferente do ponto O. 18 Dado um conjunto A, dizemos que uma família de conjuntos é uma partição do conjunto A se todos os elementos de são subconjuntos não vazios de A, quaisquer dois elementos de são disjuntos e a união de todos os elementos de fornece o conjunto A. 14 2. Incidência e Ordem no Plano Se B = A então B S, pela Definição 2.3. Se B A, pelo Axioma II.1 temos B entre O e A, ou A entre O e B, ou O entre A e B. Nos primeiro e segundo casos temos, pela Definição 2.3, temos B S. No terceiro caso, também pela Definição 2.3 temos B S’. Logo, r S S’ {O} e, portanto r = S S’ {O}. Este teorema garante a existência de uma relação de equivalência em r. Deixamos como exercício a demonstração desta afirmação (Exercício 2.6). Definição 2.3: O conjunto S da demonstração do Teorema 2.3, juntamente com o ponto O é chamado semi- reta. Analogamente, o conjunto S’ unido com {O} também é chamado semi-reta. O ponto O, é chamado origem da semi-reta. Se um ponto A S, vamos denotar a semi-reta que contém A por SOA. Analogamente, se um ponto A’ S’, a notação da semi- reta que contém A’ será SOA’. Geometricamente, a semi-reta SOA será representada como no desenho ao lado. Dizemos que SOA’ é a semi- reta oposta a SOA e vice-versa. O A Proposição 2.3: Se B está entre A e C, e C está entre B e D, então B e C estão entre A e D. Demonstração: Consideremos as semi-retas SBA e SBC. Como B está entre A e C, temos 15 Geometria Plana e Espacial J. R. Gerônimo/V. S. Franco SBA SBC = r e SBA SBC = B. É claro que A SBA e C SBC. Se D SBA então, pela Definição 2.3 e Definição 2.3, temos que B está entre C e D, o que é uma contradição. Logo, D SBC e, portanto, B está entre A e D. Consideremos, agora as semi-retas SCD e SCB. Como C está entre B e D, temos SCD SCB = r e SCD SCB = C. É claro que D SCD e B SCB. Se A SCD então, pela Definição 2.3 e Definição 2.3, temos que C está entre A e B, o que é uma contradição. Logo, A SCB e, portanto, C está entre A e D. B D C A B A C D Concluímos até agora que o ponto O, determina exatamente duas semi-retas distintas, cuja interseção é o ponto O. A seguir, vamos dividir os pontos de um plano também em duas classes. Para isso necessitamos da seguinte definição: Definição 2.3: Consideremos uma reta r e dois pontos A e B que não pertencem a esta reta. Se A = B, diremos que A e B estão em um mesmo lado em relação a reta r. Se A B, temos duas possibilidades, o segmento AB intercepta ou não a reta r. Se intercepta, diremos que A e B estão em lados contrários em relação a reta r, se não intercepta, A e B estão em um mesmo lado em relação a reta r. 16 2. Incidência e Ordem no Plano Exemplos 2.6. No desenho ao lado temos que os pontos C e D estão em lados contrários em relação a reta r e os pontos A e B estão do mesmo lado em relação a reta r. Por outro lado, C e D estão do mesmo lado em relação a reta s e os pontos A e B estão em lados contrários em relação a reta s. B A C D r s Teorema 2.3: Uma reta fornece uma partição do plano. Demonstração: Seja r uma reta do plano, a demonstração deste teorema é análoga a do Teorema 2.3. Neste caso, tomamos um ponto A não pertencente a r, que existe pelo Axioma I.1.b. Denotamos por o conjunto de todos os pontos que se encontram do mesmo lado que A em relação a r, e por ’ o conjunto de todos os pontos que se encontram em lados diferentes de A em relação a reta r. Considere a família = { , ’ ,r}. Devemos mostrar que 1. e ’ ; 2. r = , ’ r = e ’ = ; 3. ’ r é igual ao plano. De fato, vamosdemonstrar cada um dos itens de 1 a 3. 1. Pela Definição 2.3, temos que o ponto A está do mesmo lado que A em relação a reta r, e assim, A , donde . Para a segunda parte, tomamos um ponto O qualquer em r (que existe pelo do Axioma I.2.b); os pontos O e A, fornece uma reta s pelo Axioma I.2.a, cuja interseção com r é o ponto O. Pelo Axioma II.2, existe um ponto B em s, tal que O está entre A e B. Assim O pertence ao segmento AB e pela Definição 2.3, A e B estão em lados diferentes em relação a reta r. Logo B ’, donde ’ ; 17 Geometria Plana e Espacial J. R. Gerônimo/V. S. Franco 2. Pela Definição 2.3, temos que qualquer ponto de ou de ’ não está em r. Assim, r = e ’ r = . Para mostrar que a terceira interseção é vazia, observamos que se B ’, então B está do mesmo lado que A em relação a r e B está em lado diferente em relação a r, assim, pela Definição 2.3, temos uma contradição; 3. É claro que ’ r está contido no plano. Vamos mostrar que todos os pontos do plano estão contidos em ’ r. Seja B um ponto qualquer do plano, se B r, temos o desejado. Se B r, podemos ter B = A, neste caso pela Definição 2.3, B , e novamente teremos o resultado. Se B A, consideremos a reta s = rAB. Pela Proposição 2.3, r e s tem no máximo um ponto de interseção. Se r s é o conjunto vazio, então o segmento AB não intercepta r e assim, pela Definição 2.3, B está do mesmo lado que A em relação a r, ou seja, B . Se r s = {O}, então pelo Axioma II.1, ou O está entre A e B, ou não. No primeiro caso, B ’ e no segundo caso, B . Assim, esgotamos todas as possibilidades, e em todas elas, temos B r, ou B ou B ’, donde segue o resultado. Este teorema garante a existência de uma relação de equivalência no plano. Deixamos como exercício a demonstração desta afirmação (Exercício 2.7). Definição 2.3: Sejam r uma reta e A um ponto que não pertence a r. O conjunto da demonstração do Teorema 2.3, juntamente com r é chamado de semiplano determinado por r contendo A, e será representado por r,A. r A 18 2. Incidência e Ordem no Plano Exemplos 2.7. Uma reta r divide o plano em dois semiplanos distintos, a saber: os semipla-nos r,A e r,B, cuja interseção é a reta r. Aqui, o ponto B está do lado contrário de A em relação a reta r. No desenho ao lado, visualizamos estes dois semiplanos. 2.8. Com estes resultados podemos construir os quadriláteros, que são figuras formadas por quatro pontos A, B, C e D (três a três não colineares) e pelos segmentos de reta AB, BC, CD e DA tais que os segmentos podem se interceptar somente em seus extremos. Os pontos A, B, C e D são chama- dos vértices do quadrilátero e os quatro segmentos são chamados de lados do quadrilátero. Denotaremos o quadrilátero por ABCD. Para construir um quadrilátero, considere uma reta r e pontos A, B e C tais que A, C r e B r. A existência destes pontos está garantida pelo Axioma I.1.b. Considere um ponto E r, que podemos supor entre A e C. Na reta rBE considere a semi-reta oposta SEB e um ponto D pertencente a ela. Afirmamos que os pontos A, B, C e D junto com os segmentos AB, BC, CD e DA formam um quadrilátero. De fato, temos que os pares de segmentos AB e BC, BC e CD, CD e DA, DA e AB se interceptam somente em um dos extremos, pois caso contrário eles seriam iguais pela Proposição 2.3. Resta mostrar que os pares de segmentos AB e CD, AD e BC não se interceptam. Temos que os segmentos AB e BC estão no 19 Geometria Plana e Espacial J. R. Gerônimo/V. S. Franco semiplano r,B, CD e AD estão no semiplano r,D. Logo, AB e CD estão em semiplanos opostos determinado por r. Como A, C r e são distintos temos que AB e CD não se interceptam. Deixamos como exercício a verificação de que AD e BC não se interceptam (Exercício 2.10). 2.9. Dados quatro pontos três a três não colineares, sempre é possível construir um quadrilátero. De fato, sejam A, B, C e D estes pontos e escolhamos dois pontos quaisquer, digamos A e B. Temos duas opções: 1. C e D estão em semiplanos opostos determinados por rAB: Neste caso, basta considerar os segmentos AC, CB, BD e DA. 2. C e D estão no mesmo semiplano determinado por rAB: Neste caso, escolhamos um dos pontos A ou B e um dos pontos C e D, digamos A e C. Temos duas opções: a) B e D estão no mesmo semiplano determinado por AC: Neste caso, basta considerar os segmentos AC, CD, DB e BA. 20 2. Incidência e Ordem no Plano b) B e D estão em semiplanos opostos determinados por rAC: Neste caso, basta considerar os segmentos AB, BC, CD e DA. Com estes resultados o diagrama apresentado anteriormente passa a ter a visualização no diagrama abaixo. Observamos que agora temos sete classes distintas de figuras planas, todas disjuntas: pontos, retas, segmentos, semi-retas, triângulos, semiplanos e quadriláteros. Figuras pontos retas segmentos triângulos semi-retas semiplanos quadriláteros 2.3. Ordenando uma Reta Nosso objetivo agora será utilizar os axiomas anteriores para construir uma relação de ordem sobre uma reta. 21 Geometria Plana e Espacial J. R. Gerônimo/V. S. Franco Definição 2.3: Seja r uma reta arbitrária e O um ponto sobre r. Consideremos uma das duas semi- retas que tem origem comum em O. Diremos que um ponto A desta semi-reta precede um ponto B, se A está entre O e B. Chamando uma das duas semi- retas com origem O de primeira semi-reta ou semi-reta negativa e a outra de segunda semi-reta ou semi-reta positiva, podemos definir uma relação na reta r toda, estabelecendo as seguintes condições: C r A B D O 1. Sejam A e B dois pontos da semi-reta negativa. Então, na reta r, A é menor do que B se B precede A. 2. Todos os pontos da semi-reta negativa são, na reta r, menores do que o ponto O. 3. Todos os pontos da semi-reta negativa são, na reta r, menores do que todos os pontos da semi-reta positiva. 4. O ponto O, na reta r, é menor do que todos os pontos da semi-reta positiva. 5. Sejam C e D dois pontos da semi-reta positiva. Então, na reta r, C é menor do que D se C precede D. Notação: Se A é menor do que B, escreveremos “A < B” e se A é menor do que ou igual a B, escreveremos “A B”. Proposição 2.3: A relação “menor do que ou igual a” () é uma relação de ordem total na reta. A relação “menor do que” (<) é uma relação de ordem estrita na reta19. 19 Uma relação R num conjunto A é denominada relação de ordem se satisfizer as propriedades reflexiva (P(x): (x A)(x R x), anti-simétrica (P(x,y): (x,y A)(x R y e y R x x = y) e transitiva (P(x,y,z): (x,y,z A)(x R y e y R z x R z). Se além disto tivermos (x,y) R ou (y,x) R para quaisquer x, y A a ordem será total. Para ser uma ordem estrita a relação deverá satisfazer a propriedade transitiva e a propriedade P(x): (x A)(x R/ x), denominada irreflexiva. 22 2. Incidência e Ordem no Plano Demonstração: Demonstraremos a primeira parte e deixaremos como exercício a demonstração da segunda parte (Exercício 2.11). Devemos mostrar que esta relação é reflexiva, anti-simétrica, transitiva, e que dados quaisquer dois pontos A e B em r, ou A B, ou B A. i) Reflexiva: A A, pois A = A. ii) Anti-simétrica: Sejam A e B pontos da reta tais que A B e B A. Suponhamos que A e B estejam na semi-reta negativa e que sejam distintos. Temos A < B e, por (1), B precede A na semi-reta negativa, ou seja, B está entre O e A. Mas também temos que B < A e, por(1), A precede B na semi-reta negativa, ou seja, A está entre O e B, o que é uma contradição, pelo Axioma II.1. Analogamente, obtemos os outros casos. iii) Transitiva: Sejam A, B e C pontos de uma reta tais que A B e B C. Podemos supor que os pontos sejam dois a dois distintos pois, caso contrário, o resultado é imediato. Suponhamos que A, B e C estejam na semi-reta positiva. Existem seis possibilidades para A, B e C na semi-reta positiva, como mostra o desenho ao lado. Como A < B e B < C, por hipótese, só nos resta a primeira possibilidade que nos fornece B entre A e C. Além disso, temos A entre O e B. Logo, pela Proposição 2.3 temos A entre O e C. Portanto, A C. O caso em que A, B e C estão na semi-reta negativa é análogo. Suponhamos agora que o ponto A B CO A C BO A A CO B C AO B A BO C B AO C esteja na semi-reta negativa e o ponto C esteja na semi- reta positiva. Neste caso, o resultado é imediato pela Definição 2.3. Se o ponto A está na semi-reta positiva e o ponto C está na semi-reta negativa temos que o ponto B está na semi-reta positiva pois A < B. Logo, C < B, o que contradiz a hipótese. Em todos os casos concluimos que A < C e, portanto A C. 23 Geometria Plana e Espacial J. R. Gerônimo/V. S. Franco iv) Dados dois pontos A e B quaisquer em r, é imediato das cinco condições que A é menor do que ou igual a B ou B é menor do que ou igual a A. Diante do exposto acima vemos o porquê dos Axiomas II.1 e II.2 serem classificados nos grupos dos axiomas de ordem, pois por meio deles ordenamos todos os pontos de uma reta. Teorema 2.3: Entre dois pontos quaisquer de uma reta, existem infinitos pontos desta. Demonstração: Suponhamos que entre dois pontos A e B de uma reta existam n pontos distintos, digamos { P1, P2, ,Pn }. Com a relação de ordem “” podemos considerar P1 < P2 < < Pn, a menos de uma reordenação de índices. Como P1 P2, pelo Axioma II.2, existe um ponto P tal que P1 < P < P2. Assim, P é distinto P3, ,Pn, o que é absurdo, pois entre os dois pontos supusemos existir exatamente n pontos. Portanto, existem infinitos pontos entre dois pontos quaisquer de uma reta. Corolário 2.3: Existem infinitos pontos numa reta. Demonstração: Imediata, pois todo conjunto que contém um conjunto infinito é infinito. 2.4. Polígonos Estudamos nas seções anteriores as defnições e construções de triângulos e quadriláteros. Nesta seção vamos definir uma classe de figuras denominada polígonos que inclui os triângulos e quadriláteros. 24 2. Incidência e Ordem no Plano Definição 2.3: Dois segmentos são ditos consecutivos se possuirem exatamente um extremo em comum. Dado n IN, n 3, uma n- poligonal é uma figura formada por uma seqüência de n pontos A1, A2, ..., An e pelos segmentos consecutivos A1A2, A2A3, A3A4, A5A6,...,An-1An. Os pontos são chamados verti-ces da poligonal e os segmentos são chama- A1 A2 A3 A4 A5 A6An-1 An dos lados da poligonal. Denotaremos a n-poligonal por A1A2...An. Estamos interessados em poligonais com certas propriedades: Definição 2.3: Uma n-poligonal A1A2...An é denominada polígono de n lados ou n-ágono, se as seguintes condições são satisfeitas: a) A1 = An; b) Os pontos A1, A2, ..., An-1 são dois a dois distintos; c) Os lados não consecutivos não se interceptam; d) Dois lados consecutivos não são colineares. Os segmentos AiAi+1 (i=1,,n–2) e An-1A1 são denominados lados, os pontos A1, A2, ...An-1 são denominados vértices. Os segmentos determinados pelos vértices que não são lados do polígono são chamados diagonais do polígono. Observe que todo polígono é uma poligonal mas nem toda poligonal é um polígono. 25 Geometria Plana e Espacial J. R. Gerônimo/V. S. Franco Exemplos 2.10. Os desenhos a seguir ilustram alguns polígonos. O polígono (1) é um quadrilátero, o polígono (2) é um 5- ágono, os polígonos (3) e (5) são 8-ágonos, o polígono (4) é um triângulo, o polígono (6) é um 6-ágono. (1) (2) (3) (4) (5) (6) (1) (2) (3) (4) (5) (6) 2.11. Os desenhos a seguir não representam polígonos. O desenho (1), apesar de satisfazer os itens b), c) e d), não satisfaz o item a). O desenho (2) não satisfaz o item c). O desenho (3) não satisfaz os itens a) e b). O desenho (4) não satisfaz os itens b), c) e d). O desenho (5) não satisfaz os iten b), c) e d).20 (1) (2) (3) (4) (5) (1) (2) (3) (4) (5) 2.12. O desenho ao lado ilustra um polígono apesar de termos dois lados contidos numa mesma reta. O que ocorre é que estes lados não possuem extremos em comum. 2.13. Os polígonos recebem nomes especiais para alguns valores de n. Veja na tabela a seguir alguns deles: Número de lados Nome do polígono 3 triângulo 4 quadrilátero 5 pentágono 20 Observamos a diferença entre os desenhos (2) e (4), enquanto em (2) ocorre a interseção de dois segmentos, em (4) temos quatro segmentos com um vértice em comum. Os desenhos que serão feitos a partir de agora não apresentarão mais os pontos de forma explícita e ficará subentendido os vértices. 26 2. Incidência e Ordem no Plano 6 hexágono 7 heptágono 8 octógono 9 nonágono 10 decágono 12 dodecágono 15 pentadecágono Para encerrar este capítulo apresentamos um diagrama das principais figuras geométricas obtidas até o momento. Dentro da classe dos polígonos estão aqueles mencionados no exemplo anterior e as poligonais são uma classe não apresentada no desenho mas que contém a classe dos polígonos. Figuras pontos retas segmentos triângulos semi-retas semiplanos quadriláteros polígonos 2.5. Exercícios 2.1. Pela Proposição 2.3 duas retas distintas possuem no máximo um ponto em comum, o que podemos dizer de um conjunto de três retas distintas do plano? E um conjunto de quatro retas distintas do plano? E um conjunto de 5 retas distintas do plano? Obtenha um resultado para o caso de n retas distintas, justificando sua resposta. 27 Geometria Plana e Espacial J. R. Gerônimo/V. S. Franco 2.2. Mostre que três pontos não colineares determinam três retas. Quantas retas são determinadas por quatro pontos, sendo que quaisquer três deles são não colineares? E para o caso de 6 pontos? Generalize para o caso de n pontos. 2.3. Sejam P = {a,b,c}, r1 = {a,b}, r2 = {a,c} e r3 = {b,c}. Chame P de plano e, r1 , r2 e r3 de retas. Mostre que nessa “geometria” vale o Axioma I.2. Idem para o plano P = {1,2,3,4,5,6,7,8,9} e as retas como r1 ={1,2,3}, r2 = {4,5,6}, r3 = {7,8,9}, r4 = {1,4,7}, r5 = {2,5,8}, r6 = {3,6,9}, r7 = {1,5,9}, r8 = {2,6,7}, r9 = {3,4,8}, r10 = {3,5,7}, r11 = {2,4,9} e r12 = {1,6,8}. 2.4. O desenho ao lado representa um “plano”, o símbolo representa um “ponto” e as linhas unindo os pontos representam uma “reta”. Observe que há 7 “retas” e 7 “pontos” no desenho. Verifique se neste modelo de geometria valem os axiomas de existência e de determinação. 2.5. Com base nos exercícios anteriores mostre que não existe exemplo de uma geometria com exatamente seis pontos, em que sejam válidos o Axioma I.1 e o Axioma I.2 e na qual, todas as retas tenham exatamente 3 pontos. 2.6. Seja r uma reta qualquer e O um ponto de r. Mostre que a relação “estar do mesmo lado em relação ao ponto O” é uma relação de equiva-lência em r. 2.7. Seja r uma reta qualquer. Mostre que a relação “estar do mesmo lado em relação à reta r” é uma relação de equivalência no plano. 28 2. Incidência e Ordem no Plano 2.8. Mostre que, se uma reta intercepta um lado de um triângulo e não passa por nenhum de seus vértices, entãoela intercepta também um dos outros dois lados.21 2.9. Mostre que se C está entre A e D e B está entre A e C, então B se encontra entre A e D, e C se encontra entre B e D. 2.10. No Exemplo 2.8 (construção do quadrilátero), verifique que AD e BC não se interceptam. 2.11. Complete a demonstração da Proposição 2.3. 2.12. Considere a seguinte construção de quadrilátero: Para construir o quadrilátero, considere uma reta r e os pontos A, D e E tais que A, D r e E r. A existência está garantida pelo Axioma I.1.b. Construa o triângulo ADE. Utilizando o Axioma II.2, considere um ponto B entre A e E e um ponto C entre D e E. O quadrilátero é dado pelos pontos A, B, C, D e pelos segmentos AB, BC, CD e DA. a) Mostre que esta construção nos fornece um quadrilátero. b) Qualquer quadrilátero pode ser construído desta forma? Justifique sua resposta. 2.13. Podem existir dois segmentos distintos que têm exatamente dois pontos em comum ? 2.14. Utilizando semiplanos defina interior de um triângulo. 2.15. Demonstre que existem infinitas retas no plano. 21 Este resultado é também conhecido como Axioma de Pasch devido ao matemático Moritz Pasch que nasceu 8/11/1843 em Breslau na Alemanha (atualmente, Wroclaw na Polônia) e morreu em 20/09/1930 em Bad Homburg, Alemanha. Pasch trabalhou nos fundamentos da geometria e encontrou algumas hipóteses nos Elementos que ninguém havia notado antes. D. Hilbert, em [0], admite este resultado como axioma e demonstra o Axioma II.2. 29 Geometria Plana e Espacial J. R. Gerônimo/V. S. Franco 2.16. Demonstre que por um ponto P passam infinitas retas. 2.17. Desenhe as diagonais de um quadrilátero, de um pentágono e de um hexágono. Conte quantas diagonais têm cada um deles. Quantas diagonais têm um polígono de n lados ? 2.18. Um subconjunto do plano é dito convexo se o segmento ligando quaisquer dois de seus pontos está totalmente contido nele. a) Mostre que o próprio plano e qualquer semiplano são convexos. b) Nos desenhos abaixo quais representam conjuntos convexos? c) Mostre que a interseção de n conjuntos convexos é um conjunto convexo. d) Mostre que a interseção de n semiplanos é um conjunto convexo. e) A união de dois conjuntos convexos é um conjunto convexo? Mostre ou dê um contra-exemplo. 2.19. Mostre que um triângulo separa o plano em duas regiões, uma convexa e a outra não. 2.20. Classifique como verdadeiro (V) ou falso (F) justificando sua resposta. a) Ponto é o que não tem dimensão. b) Reta é o que tem uma única dimensão. c) Dois pontos determinam uma reta. 30 2. Incidência e Ordem no Plano d) Três pontos não colineares são distintos. e) Duas retas que têm um ponto em comum são concorrentes. 31 Capítulo 3: Segmentos, Ângulos e Medidas Medir um ente geométrico é antes de qualquer coisa compará-lo com outro e foi através da comparação de áreas de terras que a geometria iniciou. Neste capítulo, trabalharemos com o terceiro e quarto grupos de axiomas. Intercalaremos os dois grupos por serem recíprocos um do outro. Estes grupos fazem a conexão da geometria com os números reais. 3.1. Medidas de Segmentos O primeiro passo para esbelecer medidas de segmentos é ga-rantir que podemos associar um número a um segmento. Isto é dado pelo próximo axioma: Axioma III.1: A todo segmento de reta corresponde um número maior ou igual a zero. Este número é zero se, e somente se, os extremos do segmento são coincidentes. Ao introduzir este axioma, estamos supondo que podemos fazer esta medida através de algum instrumento conhecido, por exemplo, por meio de uma régua com escala e ao fazermos isto estamos definindo uma unidade de medida. Definição 3.4: O número a que se refere este axioma é chamado comprimento do segmento, ou distância entre os pontos A e B, extremos do segmento. Denotaremos o comprimento de um segmento AB, por AB. Axioma III.2: Se um ponto C está entre dois pontos A e B, então o comprimento do segmento AB é igual a soma do 3. Segmentos, Ângulos e Medidas comprimento do segmento AC com o comprimento do segmento CB, ou seja, CBACAB . Estes dois axiomas fazem parte do grupo III dos axiomas de medidas (estes são de medida de segmentos). Após definirmos ângulos, daremos mais dois axiomas de medidas (de ângulos). Nos Capítulos 6 e 16, necessitaremos dos axiomas de medidas de áreas e volumes, respectivamente. Uma das conseqüências do Axioma III.2 é saber a posição de dois pontos através da medida dos segmentos formados com o ponto O. Proposição 3.4: Em uma semi-reta SOA, se considerarmos o ponto B O tal que OAOB , então o ponto B estará entre O e A. Demonstração: A origem O certamente não está entre A e B, pela própria definição de semi-reta. Se o ponto A estivesse entre O e B, pelo Axioma III.2, teríamos que ABOAOB e A O B como AB tem comprimento maior ou igual a zero teríamos OAOB , o que é um absurdo. Só resta a alternativa que B está entre O e A. O axioma seguinte pode ser visto como o “recíproco” do Axioma III.1. Mas ele é colocado num quarto grupo que é constituído pelos axiomas de existência de um segmento de um dado comprimento e ângulos de uma dada medida. Na verdade, este grupo de axiomas introduz a noção de continuidade na geometria. 33 Geometria Plana e Espacial J. R. Gerônimo/V. S. Franco Axioma IV.1: Para qualquer número real d > 0, existe um segmento de reta de comprimento d, que pode ser construído a partir da origem de qualquer semi-reta dada. Agora podemos estabelecer uma unidade de medida de segmentos e construir um instrumento que servirá para comparar comprimentos. Esta unidade é denominada metro internacional e é a distância entre dois traços em uma certa barra de metal conservada no Bureau Internacional de Pesos e Medidas perto de Paris. (A barra deve estar à temperatura do gelo fundente: 0ºC). Este é o segmento cuja medida vale 1 metro.22 Para construir uma régua graduada, subdividimos o metro em 1000 partes iguais, fornecendo assim o milímetro. Cada 10 milímetros nos dá 1 centímetro. A foto a seguir ilustra em tamanho natural parte de uma régua graduada de 20 centímetros que corresponde a 200 milímetros, ou seja, 200 partes da divisão dada. 22 Historicamente, em 1790, a Assembléia Constituinte da França, criou uma comissão de cientistas, integrada por Lagrange, Laplace e Monge, entre outros, com o objetivo de analisar e propor soluções para o problema de criar uma unidade de medida de comprimento. Como conseqüência dos trabalhos dessa comissão, em 1795, criou-se uma lei que estabelecia o metro como unidade padrão de comprimento e era definido como: "a décima milionésima parte do quadrante de um meridiano terrestre". Para chegarem a essa relação, dois astrônomos franceses, Méchain e Delambre, mediram o arco de meridiano entre as cidades de Dunquerque, na França, e Barcelona, na Espanha, passando por Paris, sendo então construído um metro de platina para ser utilizado como padrão. 34 3. Segmentos, Ângulos e Medidas Exemplos 3.1. Consideremos três pontos A, B e C tais que B esteja entre A e C e AB = 2. Não importa qual seja o valor de BC, o valor de AC é 2 + BC, pelo Axioma III.2. Por exemplo, se BC = 5, teremos AC = 7. 3.2. Se considerarmos os números reais 4 e 6, pelo Axioma IV.1, existem segmentos de reta de comprimento 4 e 6, que podem ser construídos a partir de qualquer ponto da reta. No desenho ao lado, vemos que o segmento AB possui comprimento 1 cm, o segmento CD possui comprimento 0,9 cm e o segmento BCpossui comprimento 1,5. Observamos que o segmento AD possui comprimento 3,4. O próximo teorema, que utiliza estes axiomas, permitirá introduzir a noção de coordenada. Teorema 3.4: Sejam r uma reta e IR o conjunto dos números reais. Existe uma função x: r IR bijetora tal que, se x(A) e x(B) são as imagens de dois pontos A e B, o comprimento do segmento AB será igual a x(B) – x(A) . Demonstração: Seja O r um ponto qualquer, pelo Teorema 2.3 e Definição 2.3, O divide r em duas semi- retas. Escolhamos uma para ser a semi-reta negativa, denotando-a por SO–, e a outra para ser a semi-reta positiva, denotando-a por SO+. Definamos a relação x = {(A,x(A))|Ar}, onde .SAseOA SAseOA OAse0 )A(x O O Temos que x é uma função pois Dom x = r, pelo Axioma III.1. Além disso, se A = B temos x(A) = x(B), pois OA = OB 35 Geometria Plana e Espacial J. R. Gerônimo/V. S. Franco e então OBOA . Temos também que x é bijetora. De fato, x é injetora pois considerando A e B distintos, temos os seguintes casos: 1. A e B em SO–: OA OB – x(A) – x(B) x(A) x(B). 2. A e B em SO+: OA OB x(A) x(B). 3. A e B em semi-retas distintas: teremos x(A) e x(B) com sinais distintos e portanto x(A) x(B). Quanto a sobrejetividade, seja d IR, pelo Axioma IV.1, existe um segmento de reta de comprimento |d| construído a partir do ponto O. Se d> 0, contruímos o segmento OD na semi-reta positiva SO+, se d<0, construímos o segmento OD’ na semi-reta negativa SO– e se d = 0, temos que x(O) = 0. Assim, x(D) = d se d > 0 e x(D’) = d se d < 0. Logo, para qualquer d IR, sempre obtemos um ponto P em r tal que x(P) = d, onde .0dse'D 0dseO 0dseD P Para demonstrar a segunda parte, sejam A, B em r. Se A = B então x(A) = x(B) e, assim, AB = 0 = |x(B) – x(A)|. Se A B temos os seguin-tes casos: 1. A entre O e B na semi-reta positiva: OAOBABABOAOB = x(B) – x(A). 2. B entre O e A na semi-reta positiva: OBOABAABBAOBOA = = x(A)–x(B). 3. A entre O e B na semi-reta negativa: AOBOBAABAOBABO = =–x(B) – (–x(A)) =x(A) – x(B). BO A AO B OB A 1 2 3 36 3. Segmentos, Ângulos e Medidas 4. B entre O e A na semi-reta negativa: BOAOABBOABAO = = –x(A) – (–x(B)) = x(B) – x(A) 5. A na semi-reta positiva e B na negativa: OABOBA = –x(B) + x(A) = x(A) – x(B). 6. B na semi-reta positiva e A na negativa: OBAOAB =–x(A)+x(B)= x(B)– x(A). OA B AB O BA O 4 5 6 Assim, em qualquer caso, obtemos AB = x(B) – x(A) . Definição 3.4: Sejam r uma reta, O r e a função x: r IR, dada pelo Teorema 3.4. Dado A r, o número x(A) é chamado de coordenada do ponto A em relação a O e a função x é denominada um sistema de coordenadas em relação a O para a reta r. Com a relação de ordem entre os pontos de uma reta r, estabelecida no Capítulo 2, os axiomas III.1, III.2, IV.1, e o Teorema 3.4 podemos garantir o seguinte resultado: Corolário 3.4: Dado um número real d e fixado um ponto O de uma reta r, existe um único ponto de r tal que sua coordenada com relação a O é d. Demonstração: Segue diretamente do fato da função x, dada pelo Teorema 3.4, ser bijetora. A existência segue da sobrejetividade e a unicidade segue da injetividade da função x construída no Teorema 3.4. 37 Geometria Plana e Espacial J. R. Gerônimo/V. S. Franco As coordenadas dos pontos caracterizam sua posição na reta. Este é o resultado apresentado na proposição a seguir: Proposição 3.4: Sejam A, B e C pontos de uma mesma reta, cujas coordenadas, são respectivamente a, b e c. O ponto C está entre A e B se, e somente se, o número c está entre os números a e b. Demonstração: Primeiramente, suponhamos que o ponto C esteja entre A e B, então pelo Axioma III.2, temos CBACAB . Pelo Teorema 3.4, temos AB = |b – a|, AC = |c – a| e CB = |b– c|. Assim, |b – a| = |c – a| + |b – c|. Suponhamos que b>a, então |c – a| < b – a e |b – c| < b – a. Logo, c – a < b – a e b – c < b – a. Portanto, c < b e a < c, ou seja, a < c < b. No caso em que a>b, temos |c – a| < –(b – a) e |b – c| < –(b – a). Logo, c – a > b – a e b – c > b – a. Portanto, c > b e a > c, ou seja, b < c < a. Assim, em ambos os casos o número c está entre os números a e b. Reciprocamente, se a < c < b ou b < c < a, temos |c – a| + |b – c| = |b – a|. Assim, pelo Teorema 3.4, segue que ABCBAC . Em particular, ABAC . Consideremos as semi-retas determinadas pelo ponto A. Se B e C estão em semi-retas opostas, pela definição de coordenadas de pontos, as coordenadas a, b e c não poderiam satisfazer a < c < b ou b < c < a, assim, B e C estão na mesma semi- reta em relação a A e pela Proposição 3.4, temos que C está entre A e B, como queríamos demonstrar. Definição 3.4: Dado um segmento AB, dizemos que um ponto C AB é o ponto médio de AB, se CBAC .23. A C B 23 Utilizaremos os símbolos /, //, ///, ////, sobre os segmentos para representar que estes possuem o mesmo comprimento. Aqui estamos utilizando no desenho o símbolo “//”. 38 3. Segmentos, Ângulos e Medidas A existência e unicidade do ponto médio são garantidas pela proposição a seguir. Proposição 3.4: Qualquer segmento tem um único ponto médio. Demonstração: (Existência) Sejam a e b as coordenadas das extremidades deste segmento. Considere o número 2 )ba( c . Afirma-mos que o segmento de coordenada c (que existe pelo Axioma IV.1) é o ponto médio desejado. De fato: 2 b 2 a 2 ba acaAC 2 b 2 a b 2 ba bcCB donde segue que CBAC , e como o número 2 )ba( está entre a e b, segue da Proposição 3.4 que C está entre A e B. (Unicidade) Suponhamos que C e D sejam pontos médios do segmento AB, então: 0 2 BDAD 2 )b)D(x())D(xa( )D(x 2 ba )D(x)C(xCD . Portanto, x(C) = x(D), pela injetividade da função x dada pelo Teorema 3.4, temos que C = D. É importante observar que apenas a condição C AB não é suficiente para que C seja ponto médio. Se impormos apenas a condição CBAC observe que também não é suficiente pois podemos ter algo como mostra o desenho ao lado onde CBAC e C A C B 39 Geometria Plana e Espacial J. R. Gerônimo/V. S. Franco AB. Por outro lado, podemos supor somente que C está na reta rAB e teremos como como conseqüência da condição CBAC que C está entre A e B. De fato, se C AB então temos B entre A e C ou A entre B e C. No primeiro caso, CBBCABAC e no segundo caso temos ACABACCB , o que torna impossível C satisfazer a condição CBAC e, portanto, C está entre A e B. O conceito de distância permite definir circunferência e círculo. Seja O um ponto do plano e r um número real positivo. A circunferência de centro O e raio r é o conjunto constituído por todos os pontos C do plano tais que rOC . O conjunto dos pontos C que satisfazem a desigualdade rOC é dito ser o círculo de centro O e raio r (ou disco de centro O e raio r). Se um ponto A é tal que OA< r, dizemos que A está no interior do círculo. Se um ponto B é O r O r A B tal que OB> r, dizemos que B está no exterior do círculo. As propriedades das circunferências e dos círculos serão estudadas no Capítulo 8.24 A circunferência de centro O e raio r é uma figura plana onde todos os pontos pertencentes a ela distam r de O e qualquer ponto que dista r de O pertence à circunferência. Estas duas propriedades nos levam ao 24 Em geral, os termos circunferencia e disco, em qualquertexto matemático têm sentido bastante claro, ou seja, circunferencia é a linha e disco é a região determinada pela circunferencia. Já para o termo círculo existe uma ambiguidade em vários textos, significando hora circunferencia ou hora disco. Neste texto, seremos rigorosos no uso desses termos, seguindo rigorosamente a definição dada. 40 3. Segmentos, Ângulos e Medidas conceito de lugar geométrico segundo uma propriedade , que é uma figura plana tal que: a) Todos os pontos pertencentes a satisfazem a propriedade . b) Os únicos pontos do plano que satisfazem a propriedade pertencem a . O círculo é também um lugar geométrico. No decorrer do texto apresentaremos outros exemplos de lugares geométricos. O conceito de distância permite definir ainda o perímetro de um polígono. Definição 3.4: A soma das medidas dos lados de um polígono qualquer é chamada perímetro do polígono. 3.2. Medidas de Ângulos Da mesma maneira que trabalhamos com segmentos apresenta-remos os principais conceitos e resultados relacionados a ângulos. Definição 3.4: Num semiplano, chamamos de ângulo a figura formada por duas semi-retas com a mesma origem, tal que uma das semi-retas está sobre a reta que determina o semiplano. As semi- retas são chamadas de lados do ângulo e a origem comum, de vértice do ângulo. Um ângulo formado por duas semi-retas distintas de uma mesma reta é chamado de ângulo raso.25 O O 25 Alguns livros definem ângulo como a “região” determinada pelas semi-retas. Não existe diferença entre estas escolhas mas devemos lembrar que a cada ângulo determinado por uma definição está associado um ângulo determinado pela outra definição. 41 Geometria Plana e Espacial J. R. Gerônimo/V. S. Franco Existem várias maneiras distintas de denotar um ângulo. É muito usual denotar o ângulo da Definição 3.4, por AÔB ou por BÔA. Ao utilizar esta notação, a letra indicativa do vértice deve sempre aparecer com acento circunflexo entre as outras duas letras que representam os pontos das semi- O A B retas que formam o ângulo. Quando nenhum outro ângulo exibido tem o mesmo vértice, pode-se denotar por Ô, utilizando apenas a letra do vértice com acento circunflexo para designar o ângulo. 26 Voltaremos agora para o grupo III de axiomas para estabelecer medida de ângulos. Axioma III.3: A todo ângulo corresponde um número maior ou igual a zero e menor ou igual a 180. Este número é zero se, e somente se, ele é constituído por duas semi- retas coincidentes. Ao ângulo raso corresponderá o número 180. Definição 3.4: Dado um ângulo Â, o número a que se refere este axioma é chamado medida em graus do ângulo  e será denotado por m(Â). Aqui também ao introduzir este axioma, estamos admitindo que podemos fazer esta medida em graus através de algum instrumento conhecido, que definirá uma unidade de medida. Mais adiante veremos como construir e utilizar este instrumento. 26 Note que não estamos diferenciando o ângulo AÔB do ângulo BÔA, isto somente é feito quando se deseja trabalhar com ângulos orientados. 42 3. Segmentos, Ângulos e Medidas Quando não há a necessidade de explicitar os elementos de um ângulo, é bem usual a utilização de letras gregas minúsculas27 para denotar a medida do ângulo. Neste caso é conveniente escrever a letra grega em questão próxima do seu vér-tice, conforme desenho ao lado. Quando a medida é um número conhecido escreve-se o próprio número no lugar da letra. Não se sabe exatamente quando o homem começou a medir ângulos mas certamente eles já eram medidos por volta de 2.800 a.C. na antiga Mesopotâmia. Conjectura-se que a necessidade de medir ângulos surgiu na Astronomia, sendo talvez o primeiro estudo a incorporar a aplicação da matemática. Por exemplo, se quisesse saber a distância que a Lua estava acima do horizonte utilizava-se os seguintes métodos: Esticava-se o braço e se calculava quantos dedos comportava o espaço entre a Lua e o horizonte ou Segurava-se um fio entre as mãos afastadas do corpo e se media a distância. A medida era diferente de um comprimento comum sendo considerado o primeiro passo para medir ângulo. O análogo ao Axioma III.2 para ângulos é dado pelo próximo axioma. Para isto apresentamos a seguinte definição: 27 O alfabeto grego minúsculo é dado por: (alfa), (beta), (gama), (delta), (epsílon ou epsilo), (zeta ou dzeta), (eta), (teta), (iota), (capa), (lambda), (mi ou mu), (ni), (xi), (omicron), (pi), (rô), (sigma), (tau), (upsilon), (fi), (qui), (psi) e (omega). 43 Geometria Plana e Espacial J. R. Gerônimo/V. S. Franco Definição 3.4: Sejam SOA, SOB e SOC semi-retas com origem O. Se o segmento AB interceptar SOC, diremos que SOC divide o ângulo AÔB. Pode-se mostrar que se o segmento AB interceptar SOC, então SOC intercepta qualquer segmento com extremos nos lados O A B . C do ângulo. Deixamos como exercício a demonstração desta afirmação (Exercício 3.12). Axioma III.4: Se uma semi-reta SOC divide um ângulo AÔB, então a medida do ângulo AÔB é igual a soma das medidas dos ângulos AÔC e CÔB, ou seja, m(AÔB) = m(AÔC) + m(CÔB). O A B C Teorema 3.4: Considere um ângulo AÔB e SOC uma semi-reta por O onde C está no mesmo semiplano de B com relação a reta rOA. Nestas condições, temos que ou SOB divide AÔC, ou SOC divide AÔB, e em ambos os casos m(BÔC) = m(AÔC) – m(AÔB) . Demonstração: Seja A1 um ponto na semi- O B A C O B A C reta oposta a SOA. Consideremos o triângulo AA1C. Então pelo Exercício 2.8, como a reta OB corta o lado A1A do triângulo e não passa por nenhum dos seus vértices, (as semi- retas são distintas) temos que OB corta AC ou A1C. Veja o desenho ao lado. No primeiro caso AC intercepta SOB, e, assim, pela Definição 3.4 SOB r O A B C A1 44 3. Segmentos, Ângulos e Medidas divide o ângulo AÔC, portanto pelo Axioma III.4, temos: m(AÔC) = m(AÔB) + m(BÔC) m(BÔC) = m(AÔC) – m(AÔB) (1) r O A C B A1 D No segundo caso, temos que OB intercepta A1C. Chamamos de D esta interseção, e aplicamos novamente o Exercício 2.8, agora no triângulo ADA1 e a reta OC. Observamos que OC intercepta AD, pois caso a interseção fosse em A1D teríamos que a interseção de OC e A1C seriam dois pontos, o que é absurdo pela Proposição 2.3, já que as retas A1D e OC são distintas. Assim pelo Exercício 3.12, intercepta qualquer segmento com extremos nos lados de AÔB inclusive o segmento AB. Logo, SOC divide o ângulo AÔB e, portanto, pelo Axioma III.4 , obtemos: m(AÔB) = m(AÔC) + m(BÔC) m(BÔC) = m(AÔB) – m(AÔC) (2) Segue de (1) e (2) que: m(BÔC) = m(AÔB) – m(AÔC) . Proposição 3.4: Dado um número real 0 ≤ ≤ 180, apenas um ângulo AÔB medindo , pode ser colocado em um semiplano determinado pela reta que contém a semi- reta SOA. Demonstração: Suponhamos que dois ângulos AÔB e AÔC têm medida graus. Então, pelo Teorema 3.4, SOC divide AÔB ou SOB divide AÔC e em ambos os casos m(BÔC) = m(AÔC) – m(AÔB) = – =0. Assim, as semi- retas SOC e SOB coincidem. 45 Geometria Plana e Espacial J. R. Gerônimo/V. S. Franco Vamos agora apresentar o recíproco do Axioma III.3: Teorema 3.4: Para qualquer número real , tal que 0 < < 180, existe um, e somente um ângulo cuja medida em graus é . Demonstração: (Existência) Em primeiro lugar, afirmamos que existem ângulos cuja
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