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Medicina Ana Catarina Dutra Rebelo Abdome agudo obstrutivo Generalidades - Situação de emergência de gravidade variável e caráter evolutivo que necessita de rápida intervenção, geramente cirúrgica. - Obstrução intestinal: qualquer afecção capaz de dificultar o trânsito intestinal, 80% ocorre no intestino delgado. - Pode ocorrer por causas mecânicas e funcionais: - É a segunda síndrome abdominal aguda mais frequente. - Tem alta morbimortalidade por atraso no diagnóstico e/ou manejo inapropriado. - Pode haver sofrimento de alças intestinais (contribui para a morbimortalidade). - Fatores etiológicos mais comuns: aderências (bridas), hérnias, tuberculose, doença de Crhon, câncer de cólon, megacólon chagásico. Fisiopatologia • Obstrução do intestino delgado 1) Distúrbios hidroeletrolíticos: obstruções no intestino dificultam a função absortiva e secretór ia , resul tando em depl eção hidroeletrolítica. Vômitos frequentes resultam no distúbio eletrolítico, hipocalemia e hipovolemia, levando a um quadro grave. 2) Distenção abdominal: o segmento anterior à obstrução terá absorção e eliminação de gases e fluidos pela mucosa intestinal e o posterior terá distensão por acúmulo desses componentes. Há afluxo de secreções biliares e pancreáticas, agravando o quadro. Gases (ar ingerido + gás da fermentação das bactérias intestinais). - A distensão progressiva aumenta a pressão luminal e compromete a drenagem venosa. 3) Oligúria: perda de sódio e água para o lúmen intestinal aumenta enquanto a função absortiva permanece diminuída, causando depleção do volume intravascular efetivo com redução da excreção urinária de sal e água, causando oligúria, deslocando água do espaço extra para o intravascular. 4) Ausência de RHA: primeiramente há aumento (peristalse de luta) e depois por conta da fadiga da musculatura lisa os movimentos intestinais cessam. • Obstrução do intestino grosso - Determinado pela competência da válvula íleocecal, que reduz a pressão do lúmen do cólon com refluxo de conteúdo para o íleo. 1) Válvula ileocecal (VIC): obstrução em “alça fechada” entre VIC e ponto de obstrução em casos que a válvula permanece competente, levando à dilatação progressiva do cólon e causando posteriormente comprometimento vascular que pode gerar necrose e perfuração do segmento acometido. Ceco - local mais vulnerável. 2) Volvo intestinal: em “alça fechada”, o segmento rotaciona sobre o mesentério, Mecânicas Aderências/ bridas, hérnias da parede abdominal, neoplasias Funcionais Íleo pós operatório/ adinâmico, Peritonites, Íleo metabólico (geralmente diminuição de K+), Megacólon Página de 1 5 Medicina Ana Catarina Dutra Rebelo ocasionando sofrimento vascular. Pode ser primário (má formação congênita) ou secundário (rotação através de um orifício ou de aderência). 3) Sofrimento vascular: estrangulamento de alça intestinal por aderência ou angulação, que causa aumento da pressão na parede intestinal, reduzindo a drenagem venosa, e por fim necrose. 4) Translocação bacteriana: quando a parede intestinal está danificada, há translocação bacteriana, gerando peritonine localizada ou difusa. • Obstrução funcional 1) Distúrbios metabólicos e/ou hidroeletrolíticos: causa obstrução intestinal sem fator mecânico exi s tente (h ipoca l emia , u remia ou DM descompensado). 2) Síndrome de Ogilvie: pseudo-obstrução in tes t ina l com d i s tensão co lôn ica por disautonomia nervosa. Gera sofrimento vascular e isquemia intestinal. Síndrome de Ogilvie ou pseudo-obstrução aguda do cólon é uma entidade rara, que geralmente ocorre em pacientes hospitalizados portadores de alguma doença clínica ou cirúrgica. É caracterizada principalmente por acentuada distensão do grosso intestino com ausência de qualquer mecanismo de obstrução mecânica. Patogênese - Distensão da alça intestinal a montante (proximal à obstrução) ⇢ Edema de parede intestinal ⇢ perda de líquido para o terceiro espaço (interstício) ⇢ Perda de função absortiva. - Hipovolemia por desidratação ⇢ Choque ⇢ I s q u e m i a ⇢ n e c ro s e d a m u c o s a ⇢ translocação bacteriana. Quadro clínico - Levar em consideração o local e tempo de osbtrução, presença de compl icações (sofrimento vascular e perfurações), grau de contaminação e status clínico do paciente. ⇢ Anamnese A: Abaulamento na região inguinal ou ventral? B: Blood - perda de sangue nas fezes? C: Cirurgias abdominais prévias? D: Dor - características da dor? E: Eliminação de fezes e flatos? F: Febre? ⇢ Exame físico - Distensão abdominal. - Alterações de RHA (normal 5-30/min). - Hipertimpanismo à percussão. - Toque retal (geralmente s/ fezes em dedo de luva porque a ampola retal está vazia). - Exame da região inguinal. Dor abdominal de início súbito, em cólica e difusa Náuseas e vômitos Parada de eliminação de gases e fezes (interrupção do trânsito intestinal) Distensão abdominal (centralmente na obstrução do intestino delgado e em flancos ou em abdome superior nas obstruções baixas) Página de 2 5 Medicina Ana Catarina Dutra Rebelo - Taquicardia, hipotensão por desidratação (hipovolemia). - Febre, irritação peritoneal ⇢ achados tardios. • Sinais e sintomas de acordo com o local da obstrução: 1) Obstrução intestinal alta (intestino delgado) 2) Obstrução intestinal baixa (transição ileocecal e intestino grosso) - Mais frequentes : neoplasia mal igna e megacólon (fecaloma e volvo de sigmóide). Complicações - Principal complicação: iquemia mesentérica. - Sinais de desidratação e choque hipovolêmico associados ao quadro clínico. - Sensibil idade/ reatividade à palpação abdominal ⇢ peritonite secundária ao estrangulamento de alças. - Presença de massas abdominais sugere processo inflamatório ou neoplásico. Diagnóstico - Anamnese + exame físico minucioso + exame de imagem. - Avaliação do estado geral. - Confirmação do diagnóstico e identificação da condição subjacente ao quadro obstrutivo. • Exames complementares 1) Laboratoriais - Alcalose metabólica (aumento de PH), hipocalêmica (baixa de K+) e hipoclorêmica (baixa de Cl-). - “Quem vomita perde K+ na urina”, pelo mecanismo compensatório dos rins. - Hemograma: Leucocitose (acima de 15000 com desvio à esquerda ⇢ sugere sofrimento de alça). - Glicemia: DM descompesado associado a obstrução funcional. - Função renal (ureia e creatinina): desidratação em níveis baixos, injúria renal aguda de origem pré-renal na vigência de desidratação grave ou choque hipovolêmico quando elevados. - E l etró l i tos : perdas , suger indo causas metabólicas ou indicar estrangulamento e comprometimento vascular. - Gasometria arterial: acidose metabólica em comprometimento vascular, aumento do lactato e redução do bicarbonato. Alcalose metabólica (dependendo do nível de depleção de cloreto). Dor cólica em região peri-umbilical (central) Vômitos precoces e biliosos Distensão abdominal Som metálico à ausculta (peristaltismo de luta) e obstipação tardia Dor constante de início súbito e com aumento de intensidade ⇢ sugere comprometimento vascular Náuseas e vômitos tardios de aspecto fecalóide (loc. Abdome inferior) Parada de eliminação das fezes e flatos precocemente associada à distensão abdominal importante ⇢ obstipação absoluta Pode haver comprometimento vascular com isquemia, necrose e perfuração por conta da dilatação severa Página de 3 5 Medicina Ana CatarinaDutra Rebelo 2) Imagem - Raio X rotina de abdome agudo: raio x abdome AP em ortostase; raio X de abdome AP em decúbito; raio X de tórax em PA. - Imagem: sinal do U invertido (grão de café), tríade de Rigler (achado de íleo biliar - aerobilia + cálculos ectópico + sinais de obstrução intestinal), empilhamento de moedas, níveis hidroaéreos. - Na dilatação do jejuno: pode-se verificar vá lvulas con iventes com aspecto de empilhamento de moedas. - Dilatações ileais: apresentam válvulas menos demarcadas. - Dilatação crônica: “padrão de moldura”, delineando a parede abdomial marginalmente. Sem presença de gás no reto abaixo do fator obstrutivo. - No vólvulo de sigmoide: dilatação de alça associada ao megacólon. Pode h aver impactação fecal com imagens em “miolo de pão” dentro da alça. ⇢ Na síndrome de Olgivie: dilatação do cólon ascendente e transverso sem o fato obstrutivo associado. Pneumoperitônio e líquido na cavidade pode acontecer em casos de sofrimento de alça com perfuração intestinal. 3) Uso de contraste ⇢ Preferência por contrastes hidrossolúveis do que o bário, por ter potencial de causar peritonite grave. Tratamento • Objetivos: reposição hidroeletrolítica (volume e eletrólitos + glicose), dieta zero + sonda nasogástrica (descompressão do TGI) + antibioticoterapia (profilaxia - ceftriaxona e metronidazol) + sondagem vesical de demora (quantificação da diurese > 0,5 ml/kg/h ⇢ desidratação e resposta do tratamento) ⇢ fator de perfusão tecidual. Página de 4 5 Medicina Ana Catarina Dutra Rebelo • Alguns casos: conduta conservadora - bolo de àscaris, invaginação intestinal, volvo de sigmoide, fecaloma e aderências (caso não haja estrangulamento de alça). • Na maioria das obstruções do intestino delgado, não havendo melhora no tratamento conservador em até 48h, recomenda-se cirurgia. • A cirurgia é necessária em 20-30% dos casos. 1) Tratamento cirúrgico - Principais táticas: enterotomia, sem abertura de alça, ressecção + anastomose primária, confecção de estroma. - Existência de causa subjacente como tumores ou hérnias. - Falha no tratamento conservador. - Sinais de irritação peritoneal. - Laparotomia de exploração. - Melhorar condição do paciente antes da cirurgia para reduzir morbimortalidade. 2) Tratamento conservador - Vo l vo s i g m o i de : de s co m p re ss ã o p or retossigmoidoscopia. - Intussuscepção intestinal: enema opaco, o contraste vence a obstrução e desfaz a invaginação. - Síndrome de Olgivie: colonoscopia para descompressão dos cólons direito e transverso + neostigmina. - Distúrbios de motilidade sem fator mecânico obstrutivo: reposição hidroel etrol ít ica, colocação de sonda nasogástrica e tratamento da causa subjacente. 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