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DOENÇA INFLAMATÓRIA INTESTINAL- INDICAÇÕES CIRÚRGICAS Definição Qualquer processo inflamatório intestinal com causa conhecida ou não. Ex: parasitoses, enterocolite actínica, isquemia, Doença de Chron (DC) e Retocolite Ulcerativa (RCU). Incidência Brancos e judeus de ocidentais; Mulheres > Homens; 2º - 3º década de vida e depois 6º década. Apresenta dois picos; Grande em países desenvolvidos e regiões Sul e Sudeste do Brasil. Fisiopatologia - Fatores relacionados à mecanismo imune desregulado por fatores ambientais e genéticos; - Mecanismo imune · Desregulação imunológica; · Aumento da resposta de linfócitos T. - Fator genético · Famílias apresentam mais casos entre si; · Gêmeos homozigóticos; · Parentes de primeiro grau; · Judeus asquenaze – casamentos cosanguineos; · Não respeita herança mendeliana – não é hereditária! · Gene NOD2 no cromossoma 16 – relacionado à suscetibilidade à doença de Chron; - Mutação em 9-27% dos pacientes; - Mutação em ambos os alelos: risco 40x maior. · OCTN 1 e 2 no cromossomo 5 – Chron; · DLG5 no cromossomo 10 – Chron; · Loco IBD2 no cromossomo 12 – RCUI. - Fator ambiental · Especialmente o Chron, apresenta maior incidência em zonas urbanas; · Associação com ingesta de açúcar e alimentos industrializados e baixa ingesta de fibras; · Infecções perinatais são mais incidentes; · Apendicite aguda; · Tabagismo – proteção pra RCU e risco/piora para Chron; · Contraceptivos; · Nível socioeconômico elevado; · Agentes infecciosos: M.paratuberculosis e Sarampo; · Queda nos níveis de lactobacilus e bifidobacterium e aumento de bactérias produtoras de sulfato de hidrogênio; · DC: imunidade via TH1; RCU: imunidade via TH2; · Aumento da produção de radicais livres. - Fatores psicológicos CLÍNICA DA DOENÇA DE CROHN Da boca ao ânus; Períodos de remissão e recidiva; Mais comumente ileocecal, causando dores abdominais tipo cólica. Pode ser colônica e provocar sangramentos e diarréia. Se for entérica, causará dor, distensão de alças e náuseas. Raramente é perineal; 90% das vezes culmina com ileíte; 40-50% das vezes é ileocecal Paciente se encontrará em desnutrição aguda; Pode haver dor e massa palpável na FID; Como é fistulizante, poderá haver acometimento extra-intestinal; Sintomas inflamatórios: enterite (diarreia, má absorção, perda de peso, dor abdominal), febre baixa, astenia, anorexia; Sintomas fibroestenóticos: obstrução crônica – vômitos, cólicas, constipação – chegando a abdome agudo obstrutivo; Sintomas perfurativos/fistulizantes – peritonite, fístula gastro-cólica, fístula entero-cutânea, fístula perianal. CLÍNICA DA RETOCOLITE ULCERATIVA Retite + segmentos mais proximais (retossigmoidite, pan-colite); Padrão contínuo, com limites bem definidos; Há períodos de remissão e recidiva (que vem com pródromo); Aumento da frequência das evacuações com pouco volume evacuado e tenesmo; Presença de sangue e muco nas fezes; A diarréia e o tenesmo associados podem causar incontinência; Dor no QIE + cólica seguida de evacuação; Taquicardia + Febre + Desidratação são sinais de doença grave. Diagnóstico Imagem: · US endorretal (Chron); · Raio X de abdome; · Exame contrastado do delgado – vê bem as estenoses; · Entero-TC de abdome e pelve ou entero-RM. · EDA; · Retossigmoidoscopia Utilizada quando o paciente está em crise, que não deve ser submetido ao preparo intestinal. Só vai até o ângulo esplênico. Assim que o paciente sair da crise deve ser realizada a colono. · Colonoscopia Classificação colonoscópica da RCU RCU distal Proctite ou Retossigmoidite RCU esquerda Envolvimento até o ângulo esplênico Pancolite A partir do cólon transverso proximal Exames de sangue – alterados mais na DC: · Hemograma e perfil de ferro – anemia que pode ser normo/normo, hipo/hipo ou megalobástica; · Leucocitose, aumento de PCR e VHS; · Hipoalbuminemia por desnutrição. Testes sorológicos · ASCA + / p-ANCA - alta especificidade para Chron; · p-ANCA + / ASCA - alta especificidade para RCU. Macroscopia Lesões salteadas – áreas sãs seguidas de áreas doentes; Alça intestinal e mesentério espessados Projeções digitiformes do mesentério que “abraça” a alça; Múltiplas aderências pois o comprometimento é transmural e causa serosite. Diagnóstico diferencial Características RCU DC Endoscópicas e Radiológicas -Inflamação difusa do cólon superficial; -Reto comprometido; -Erosão e úlceras pouco profundas; -Sangramento espontâneo. -Lesão assimétrica, transmural, descontínua, propriamente ileocecal ou no cólon direito; -Aspecto pavimentoso, úlceras longitudinais e fissuras profundas. Histopatológico -Inflamação difusa da mucosa e submucosa; -Infiltração de polimorfonucleares; -Distorção das criptas – abscesso de cripta é o achado mais específico. -Inflamação granulomatosa granuloma não caseoso (alta especificidade); -Infiltrado linfoplasmocitário; -Fissuras ou aftas; -Inflamação transmural. Marcadores p-ANCA Asca OBS!Menos de 20% das biópsias são positivas para Chron. - Atente-se! A inflamação é transmural passível para formar fístulas fístulas evoluem para abscessos abscessos cicatrizam formando aderências estenosantes. Complicações - Câncer · CA de Delgado (CA raro) – relacionado à DC; · CA Colorretal – comum na RCU – alto risco, indicado rastreio anual com Bx seriada após 8 a 10 anos da doença. - Megacólon tóxico · RCU; · Dor abdominal + sepse + distensão abdominal; · Radiografia de abdome – distenção > 10 cm; · Interna em UTI + faz volume + ATB. Manifestações Extra-intestinais Mais comum manifestação extra-intestinal na RCU; Episclerite; Musculoesqueléticas: osteopenia (50%) e artropatias (30%); Cutâneas: Eritema nodoso (mais comum) e pioderma gangrenoso (mais grave); Hepatobiliares: Colangite esclerosante primária, esteatose hepática, cirrose; Coagulopatias: maior risco de TVP, trombose mesentérica e embolia pulmonar por aumento dos reagentes de fase aguda (fator V e VIII) e diminuição da proteína S e antitrombina III. OBS! Esqueleto axial – pouco relacionada à atividade inflamatória. Esqueleto apendicular – muito relacionada à atividade inflamatória. Atividade Inflamatória Relacionada à atividade inflamatória Artropatia reativa; Episclerite; Eritema nodoso Não relacionada Sacroileíte; Espondilite anquilosante; Colelitíase (por não reabsorção dos sais biliares). Parcialmente relacionada Pioderma gangrenoso; Uveíte; Colangite esclerosante primária. Tratamento Clínico Avaliar o grau de comprometimento e realizar tratamento do mais simples para o mais complicado: Anti-inflamatórios tópicos Corticóide (não usar a longo prazo) Imunossupressores (Azatioprina) Ciclosporina ou Infliximabe. - Anti-inflamatórios · Tópicos; · RCU responde melhor que DC; · Sulfassalazina · Necessita que a sulfa seja quebrada no intestino pela ação das bactérias; · Mais usada por VO. · Mesalazina · Metabolismo direto; · Via retal por supositório ou enema. · A medicação vai ser utilizada a depender do local da lesão; · Toxicidade dose-dependente: náusea, anorexia, cefaleia, deficiência de folato, alopecia; · Toxicidade dose-independente: infertilidade masculina, rash cutâneo, anemia hemolítica, hepatite, pancreatite, agranulocitose. - Corticóides · Usado nas agudizações; · Formas moderadas a graves; · Não são eficazes na manutenção da remissão nem no tratamento das fístulas; · Remissão dos sintomas em 4-6 semanas; · Usar por curtos períodos de tempo 2-3 meses; · Prednisona 40-60mg/dia (0,75-1mg/kg); · Hidrocortisona 100mg 3-4x/dia; · Enema de hidrocortisona, espuma de hidrocortisona – bom na retite actínica e RCU; · Budesonida oral (3mg) ou retal (enemas 2mg/100mL). - Imunossupressores · Azatioprina; · Mais utilizada; · 3-4 meses para iniciar a ação; · Usados junto aos imunobiológicos, pois diminuem a formação de anticorpos contra os imunobiológicos. · 6-Mercaptopurina; · Metotrexato; · Ciclosporina; · Usado na manutenção das recorrências clínicas e cirúrgicas. - Antibióticos · Metronidazol · Uso prolongado (>4m) pode cursar com neuropatia. · Ciprofloxacina · Nãohá contraindicação de uso prolongado. - Imunobiológicos · Anticorpos anti-TNF – Infliximabe (5mg/kg)/ Adalimumabe · Formas complicadas da DC, especialmente se fístula e manifestações extraintestinais; · Usada para remissão e manutenção; · Infliximabe é 75% humano, Adalimumabe é 100% humano; · Pouco efeito colateral; · Melhora clínica, histológica e endoscópica; · Vedolizumabe – seletivo para intestino; · Ustequinumabe – droga anti-interleucina não age contra TNF. OBS! Não usar imunobiológico em paciente com lesão ativa (abscessos), pois pode provocar sepse grave. Os imunobiológicos são utilizados nas formas moderadas e complicadas da DC, principalmente na presença de fístulas, os mesmos obtém menos efeitos colaterais se comparados aos imunossupressores e corticóides. São drogas de efeito prolongado. Tratamento Doença de Cronh Moderada a grave Corticóides – Predinisona 60mg/dia Leve a moderada Budesonida 9mg/dia ou salicilatos (colônica ou ileocolônica com sulfassalazina 3-6g/dia e doença ileal mesalazina 4g/dia) Grave ou refratária Infliximabe Manutenção Imunossupressor e Imunobiológico (se grave) Complicações Tratamento Infecções ou abscessos Drenagem cirúrgica e ATB Fístula e doença perianal ATB, Infliximabe combinado ou não à cirurgia Doença oral (afta) Esteróide tópica Úlceras gastroduodenais IBP Doença difusa do delgado Infliximabe combinado ou não com cirurgia (estenoplastias) Cirúrgico Teoricamente curativa, já que é restrito ao intestino grosso - RCU; Indicações · Falha no tratamento clínico; · Retardo no crescimento; · Displasia, estenose ou CA; · Perfuração; · Megacólon tóxico; · Sangramento. Radicalidade oncológica quando houver coexistência de CA colorretal; Via laparoscópica sempre que possível; Proctocolectomia total + ileostomia definitiva: vantagem curativa e tempo único de realização da cirurgia. Desvantagem é a ileostomia definitiva, obstrução intestinal, disfunção sexual por lesão do plexo nervoso e cicatrização retardada da ferida perineal. Colectomia Total + anastomose ileorretal: há a vantagem de preservar o reto, evitando a ileostomia e a disfunção urogenital. A desvantagem é que como preserva o reto, poderá haver recidiva da doença. Contraindicada quando há fibrose retal, displasia ou CA de reto, colite aguda grave ou situações de urgência. Retocolectomia total + anastomose ileoanal: faz-se uma bolsa em “J”, para evitar a incontinência. Há queixas comuns de diarréia. Tratamento da DC Clínico Avaliar o grau de atividade da doença, extensão e o comportamento (inflamatório, estenosante ou fistulizante). Em jovens com quadro complicado, o tratamento inicia-se já com o imunobiológico. Cirúrgico Indicado quando há instabilidade clínica, estenose cólica, obstrução intestinal, perfuração bloqueada e abscesso abdominal, perfuração livre e peritonite, fístulas externas e internas, manifestações extra-intestinais, retardo do crescimento, megacólon tóxico, colite fulminante, hemorragia digestiva baixa, neoplasias. Princípios cirúrgicos: Reconhecer a extensão da doença através de exames como colonoscopia, endoscopia, TC, exame contrastado do intestino delgado e RM. Enteroplastias prioritárias em relação às ressecções; Utilizar anastomoses mecânicas latero-laterais com ampla boca anastomótica já que é doença estenosante; Evitar anastomose em paciente desnutrido ou com infecção peritoneal; Enteroplastias: cortes longitudinais com suturas transversais. Técnica de Heineke-Mikulicz quando a estenose é <7 cm. Técnica de Finney quando entre 7-15 centímetros. OBS! Colite de Chron: Quando acomete apenas cólon direito (ileocolectomia direita). Quando acomete segmento único do cólon (colectomia). Quando mais de um segmento cólico, se for reto + doença perianal (proctocolectomia total + ileostomia terminal- única situação!) e se for reto livre, sem doença perianal, (colectomia total +IRA). Indicação cirúrgica Eletivas: Intratabilidade clínica, manifestações extra-intestinais, retardo do crescimento, malignização. Urgências: Se houver HD baixa ou megacólon tóxico.
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