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Tema Locação de coisas. Fiança. Estrutura de Conteúdo 2.1 Locação de Coisas 2.2 Fiança 2.1. Locação de Coisas Originariamente, a locação romana englobava três figuras: a) a locação de coisas (locatio res), referente ao uso e gozo de bens infungíveis; b) a locação de serviços (locatio operarum), que consistia na prestação de serviço economicamente apreciável, independentemente do resultado, atualmente denominada prestação de serviços; c) a locação de obra (locatio operis), representada pela execução de obra certa ou de determinado trabalho, visando um resultado específico, hoje denominada empreitada. Conceito: A locação de coisas é o negócio jurídico por meio do qual uma das partes (locador) se obriga a ceder a outra (locatário), por tempo determinado ou não, o uso e gozo de coisa infungível, mediante certa remuneração. Partes: Locador e locatário; arrendador e arrendatário. Elementos essenciais: a) o tempo; b) a coisa; c) a retribuição. Analisemos cada um desses elementos: a) O tempo: O contrato de locação é essencialmente temporário. Mesmo que não haja referência expressa no negócio jurídico, deve-se presumir que o contrato é finito, não podendo ser considerado vitalício. Caso estipulado por prazo determinado, o contrato cessa de pleno direito com o seu termo (CC, 573). Nessa hipótese, se o locatário não restitui o bem, sua posse se torna injusta e de má-fé. Se a circunstância é relevada pelo locador, prorroga-se o contrato por prazo indeterminado (CC, 574). Se o contrato é celebrado por prazo indeterminado, é necessária a notificação do locatário para que devolva o bem imediatamente ou em prazo razoável, sob pena de se caracterizar em mora. b) A coisa: O objeto do contrato de locação pode ser coisa móvel ou imóvel. De todo modo, é indispensável que se trate de bem infungível. A locação não pode versar sobre bens fungíveis ou consumíveis. A coisa locada pode ser incorpórea (aluguel de patente de invenção, marca etc.). Pode ser também inalienável (como os bens públicos). c) O preço: Locação é contrato essencialmente oneroso. Caso contrário, estar-se-á diante de comodato. A retribuição, denominada de preço, aluguel ou renda, é estabelecida diretamente pelas partes, podendo ser fixada mediante arbitramento administrativo ou judicial, ou ainda imposto por ato governamental, como no caso de taxis e prédios urbanos . O valor, contudo, não pode ser fixado de forma meramente potestativa por uma das partes. O preço, como na compra e venda, deve ser sério e real. Caso estipulado em valor ínfimo ou irrisório será na realidade fictício. O preço pode variar de acordo com índices estabelecidos por lei ou contratados pelas partes . O pagamento pode ser efetuado periodicamente ou em uma só vez, por todo o período da locação. Características: a) Bilateral; b) Oneroso; c) Consensual ou não-solene; d) Não é personalíssimo (v. art. 577 do CC/2002); Modalidades (casos específicos): a) Locação imobiliária urbana, disciplinada pela Lei nº. 8.245/91, abrangendo a locação residencial urbana, a locação de temporada (time sharing) e a locação não residencial (incluindo a comercial). b) Locação de vagas autônomas de garagem ou espaços para estacionamento (contratos atípicos). c) Locação de espaços para publicidade (Código Civil). d) Locação de apart-hotéis, hotéis residência ou equiparados (sua natureza irá variar). e) Arrendamento mercantil (leasing). f) Arrendamento rural (Estatuto da Terra). Aquisição da coisa por terceiro e contrato de locação: Nos termos do art. 576 do Código Civil, se a coisa for alienada durante a locação, o adquirente não ficará obrigado a respeitar o contrato, se nele não for consignada a cláusula da sua vigência no caso de alienação, e não constar de registro. § 1o O registro a que se refere este artigo será o de Títulos e Documentos do domicílio do locador, quando a coisa for móvel; e será o Registro de Imóveis da respectiva circunscrição, quando imóvel. § 2o Em se tratando de imóvel, e ainda no caso em que o locador não esteja obrigado a respeitar o contrato, não poderá ele despedir o locatário, senão observado o prazo de noventa dias após a notificação. Os arts. 27 a 34 da Lei do Inquilinato conferem ao locatário direito de preferência sobre o bem. Deveres das partes: 1. Deveres do locador (CC, 566; Lei 8.245/91, art. 22): a) Entregar ao locatário a coisa alugada; b) Manter a coisa alugada no mesmo estado; c) Garantir o uso pacífico da coisa (CC, 568). 2. Deveres do locatário (CC, 569; Lei 8.245/91, art. 23): a) Servir-se da coisa locada para o fim contratado (V. art. 570 do CC); b) Tratar a coisa alugada como se sua fosse; c) Pagar pontualmente o aluguel; d) Levar ao conhecimento do locador as turbações de terceiros; e) Restituir a coisa, ao término da locação, no estado em que a recebeu. Indenização por benfeitorias e direito de retenção: CC, 578. Extinção da locação: a) O termo do contrato (CC, 573; LI, arts. 46 e 47). b) Extinção antecipada (CC, 571; LI, 4º). c) Resilição; d) Descumprimento do contrato (resolução). 2.2. Fiança 1. Generalidades Conceito Art. 818. Pelo contrato de fiança, uma pessoa garante satisfazer ao credor uma obrigação assumida pelo devedor, caso este não a cumpra. È o contrato pelo qual se estabelece um tipo de garantia pessoal, em que alguém (fiador) se obriga ao cumprimento da obrigação de terceiro (afiançado), se este faltar à sua prestação. Fontes: O Código Civil, nos arts. 818 a 839, define as regras da fiança convencional. No entanto, a fiança pode também ser estabelecida por lei (fiança legal) ou pelo juiz (fiança judicial). Sujeitos O contrato de fiança é estabelecido entre o credor (sujeito ativo) e o fiador (sujeito passivo). O devedor do contrato principal (afiançado) não participa do contrato de fiança, que pode ser celebrada sem o conhecimento deste, ou mesmo contra sua vontade (art. 820, CC/02). Classificação a) consensual; b) unilateral; Obs: há autores que classificam a fiança como um contrato bilateral imperfeito. c) gratuito; Existem fianças que são onerosas, como a fiança bancária. Cláusula de exoneração do fiador somente com a entrega definitiva das chaves no contrato de locação urbana: entendimento consolidado do STJ, até 2007, era de nulidade. Há, no entanto, novo posicionamento, já majoritário e pacífico, determinando a validade de tal cláusula, desde que expressamente pactuada. A propósito, a Lei 12.112/2009, que alterou a Lei de Locações, confirmou a atual orientação jurisprudencial, ao prever tal entendimento no art. 40, X d) formal; e) típico; f) acessório; g) personalíssimo; Obs: subsidiariedade da fiança. O caráter subsidiário da fiança é determinado na parte final do art. 818. A subsidiariedade, no entanto, pode ser afastada através das hipóteses elencadas no art. 828, CC/02, que será objeto de comentário posterior. Requisitos a) Subjetivos Requisito genérico de validade do art. 104, I, CC/02: capacidade das partes. Requisitos específicos: - Outorga uxória: consoante o art. 1.647, III, CC/02, é necessária autorização do cônjuge para a celebração do contrato de fiança (a mera outorga não induz solidariedade entre cônjuges com relação às obrigações decorrentes da fiança). O Código Civil estabelece que a fiança prestada sem a outorga uxória é anulável, - O fiador deve ser pessoa idônea (idoneidade moral e econômica), domiciliada no Município onde tenha que ser prestada a fiança e proprietário de benslivres e desembaraçados que sirvam ao cumprimento da fiança (art. 825, CC/02). A recusa, pelo credor, do fiador oferecido deve ser sempre motivada conforme as razões descritas no art. 825, CC/02. b) Requisitos objetivos Requisito genérico, art. 104, II, CC/02: a fiança pode incidir sobre qualquer objeto, desde que este seja lícito, possível e, ao menos, determinável. Requisitos específicos: - Certeza, liquidez e exigibilidade da dívida. A fiança pode recair sobre obrigações futuras, pois as mesmas são determináveis. No entanto, a execução da fiança só será possível se a obrigação já for atual, líquida, certa e exigível (art. 821[, CC/02), o que exclui a fiança de obrigações naturais. - Limitação do valor da fiança ao valor da obrigação afiançada. A autonomia privada incide sobre a extensão da fiança, que pode abranger a totalidade da obrigação afiançada, inclusive seus acessórios. - Validade da obrigação principal :a nulidade da obrigação principal acarreta a nulidade da fiança. O art. 824, CC/02, porém, edifica controvertida exceção: é válida a fiança que garante obrigação celebrada por incapaz. A doutrina discute se essa incapacidade é apenas relativa ou abrange também as hipóteses de incapacidade absoluta. A parte final do art. 824, em consonância com o art. 588, ambos do CC/02, mantém a invalidade da fiança que garante mútuo feito a menor (exceção da exceção). c) Requisito formal Art. 104, III, c/c art. 819, primeira parte, ambos do CC/02: a fiança deve ser feita por escrito, seja através de instrumento público, seja através de instrumento particular. 2. Efeitos Benefício de ordem ou de excussão O benefício de ordem ou de excussão decorre da subsidiariedade da fiança, e significa que o fiador pode exigir que os bens do devedor sejam executados antes dos seus. Para exercer o benefício de ordem, o fiador precisa indicar tempestivamente (até a contestação da lide) bens do devedor existentes no Município em que está sendo executada a obrigação e que sejam suficientes para o pagamento da dívida. O art. 828, CC/02, exclui o benefício de ordem nas seguintes hipóteses: a) renúncia expressa pelo fiador; b) se o fiador se obrigou como pagador principal ou como devedor solidário; c) se o devedor for insolvente ou falido. Fiança conjunta Benefício da divisão: ocorre quando há, na mesma obrigação, mais de um fiador, excetuando a regra geral de solidariedade entre co-fiadores. O benefício da divisão deve ser expressamente pactuado. O art. 830, CC/02, determina que os co-fiadores podem definir as proporções da dívida que ficarão obrigados a garantir, não respondendo por valor superior ao estipulado. Sub-rogação Art. 831. O fiador que pagar integralmente a dívida fica sub-rogado nos direitos do credor; mas só poderá demandar a cada um dos outros fiadores pela respectiva quota. Parágrafo único. A parte do fiador insolvente distribuir-se-á pelos outros. Substituição processual Art. 834. Quando o credor, sem justa causa, demorar a execução iniciada contra o devedor, poderá o fiador promover-lhe o andamento. 3. Extinção da fiança Exceções Art. 837. O fiador pode opor ao credor as exceções que lhe forem pessoais, e as extintivas da obrigação que competem ao devedor principal, se não provierem simplesmente de incapacidade pessoal, salvo o caso de mútuo feito a pessoa menor. Exoneração voluntária Art. 835. O fiador poderá exonerar-se da fiança que tiver assinado sem limitação de tempo, sempre que lhe convier, ficando obrigado por todos os efeitos da fiança, durante 60 (sessenta) dias após a notificação do credor. Concessão de moratória ao devedor Impossibilidade de sub-rogação nos direitos do credor, por fato imputável ao credor Dação em pagamento Insolvência do devedor após a invocação do benefício de ordem Art. 839. Se for invocado o benefício da excussão e o devedor, retardando-se a execução, cair em insolvência, ficará exonerado o fiador que o invocou, se provar que os bens por ele indicados eram, ao tempo da penhora, suficientes para a solução da dívida afiançada.