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Autora: Profa. Sueli Aparecida Martins Barberio Colaboradores: Profa. Silmara Maria Machado Prof. Nonato Assis de Miranda Metodologia e Prática do Ensino de História e Geografia Professora conteudista: Sueli Aparecida Martins Barberio Sueli Aparecida Martins Barberio Nascida em Santa Cruz do Rio Pardo, São Paulo, possui em sua formação o Magistério e a graduação em Comunicação Social com especialização em Relações Públicas, Jornalismo, Publicidade e Propaganda pela UNAERP – Universidade de Ribeirão Preto/ São Paulo. Também é graduada em Pedagogia pela FAFIL – Faculdade de Filosofia Ciências e Letras Dr. Carlos Queirós de Santa Cruz do Rio Pardo e possui especialização em Educação a Distância pela UNIP – Universidade Paulista, em São Paulo. Possui experiência profissional como diretora de comunicação no jornal A Folha e na Rádio Difusora de Santa Cruz do Rio Pardo; professora, coordenadora pedagógica, diretora de escola e analista educacional no SESI – Serviço Social da Indústria/São Paulo; professora no Magistério na rede estadual de ensino/São Paulo; professora no Ensino Superior na Instituição de Ensino Moura Lacerda em Ribeirão Preto/São Paulo; supervisora de ensino na Secretaria Municipal de Educação em Santa Cruz do Rio Pardo/São Paulo; presidente do Conselho Municipal de Educação em Jardinópolis/São Paulo; Atualmente, atua como professora na UNIP – Universidade Paulista em São Paulo. © Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou quaisquer meios (eletrônico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem permissão escrita da Universidade Paulista. Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) B234m Barberio, Sueli Aparecida Martins. Metodologia e prática do ensino de história e geografia / Sueli Aparecida Martins Barberio. - São Paulo: Editora Sol, 2020. 108 p., il. Nota: este volume está publicado nos Cadernos de Estudos e Pesquisas da UNIP, Série Didática, ISSN 1517-9230. 1. Metodologia. 2. Educação. 3. História. 4. Geografia. I. Título. CDU 372.891 U508.86 – 20 Prof. Dr. João Carlos Di Genio Reitor Prof. Fábio Romeu de Carvalho Vice-Reitor de Planejamento, Administração e Finanças Profa. Melânia Dalla Torre Vice-Reitora de Unidades Universitárias Profa. Dra. Marília Ancona-Lopez Vice-Reitora de Pós-Graduação e Pesquisa Profa. Dra. Marília Ancona-Lopez Vice-Reitora de Graduação Unip Interativa – EaD Profa. Elisabete Brihy Prof. Marcello Vannini Prof. Dr. Luiz Felipe Scabar Prof. Ivan Daliberto Frugoli Material Didático – EaD Comissão editorial: Dra. Angélica L. Carlini (UNIP) Dr. Ivan Dias da Motta (CESUMAR) Dra. Kátia Mosorov Alonso (UFMT) Apoio: Profa. Cláudia Regina Baptista – EaD Profa. Deise Alcantara Carreiro – Comissão de Qualificação e Avaliação de Cursos Projeto gráfico: Prof. Alexandre Ponzetto Revisão: Virgínia Bilatto Cristina Zordan Sumário Metodologia e Prática do Ensino de História e Geografia APRESENTAÇÃO ......................................................................................................................................................7 INTRODUÇÃO ...........................................................................................................................................................8 Unidade I 1 FORMANDO O ALUNO CIDADÃO .............................................................................................................. 11 1.1 A construção da identidade ............................................................................................................. 11 1.2 A relação do homem com a terra .................................................................................................. 12 1.3 A relação de trabalho e de poder ................................................................................................... 13 1.4 A relação com a diversidade cultural ........................................................................................... 13 2 ENSINANDO HISTÓRIA ................................................................................................................................. 14 2.1 Por que ensinar História .................................................................................................................... 15 2.2 Particularidades da História ............................................................................................................. 15 2.3 A História da História e suas diferentes visões ....................................................................... 16 2.3.1 Linha do tempo da História no contexto educacional brasileiro ........................................ 19 2.4 Objetivos gerais no ensino de História ........................................................................................ 20 2.5 Os conteúdos e sua importância no ensino de História ....................................................... 20 3 O SABER HISTÓRICO NA SALA DE AULA ................................................................................................ 22 3.1 Habilidades e competências no ensino de História .............................................................. 22 3.2 Sugestão de atividades para o Ensino Fundamental ............................................................. 23 4 PLANEJAMENTO E AVALIAÇÃO EM HISTÓRIA ...................................................................................... 44 4.1 Os quatro pilares da educação mundial .................................................................................... 46 4.2 O planejamento no ensino de História ........................................................................................ 47 4.3 Avaliação do ensino de História ..................................................................................................... 49 Unidade II 5 GEOGRAFIA E O ESPAÇO VIVIDO ............................................................................................................... 56 5.1 O indivíduo como parte integrante da construção do lugar em que vive ................... 56 5.2 As relações do homem com a natureza e com o espaço ..................................................... 57 5.3 Cartografia na escola .......................................................................................................................... 59 6 ENSINANDO GEOGRAFIA ............................................................................................................................. 60 6.1 Por que ensinar Geografia ................................................................................................................ 61 6.2 Particularidades da Geografia ......................................................................................................... 62 6.3 A Geografia e suas diferentes visões ............................................................................................ 63 6.3.1 Linha do tempo da Geografia no contexto educacional brasileiro .................................... 65 6.4 Objetivos gerais do ensino de Geografia .................................................................................... 66 6.5 Os conteúdos no ensino de Geografia ......................................................................................... 66 7 OS SABERES DE GEOGRAFIA NA SALA DE AULA ................................................................................ 72 7.1 Sugestão de atividades ...................................................................................................................... 74 8 AVALIAÇÃO DO ENSINO DE GEOGRAFIA ............................................................................................... 92 7 APRESENTAÇÃO A disciplina de Metodologia e Prática do Ensino de História e Geografia tem como objetivos gerais o desenvolvimento das competências básicas de: • adquirir a capacidade de articularo ensino e a pesquisa na produção do conhecimento e na prática educativa; • ter compromisso com uma ética de atuação profissional e com a organização da vida em sociedade; • dominar princípios técnicos e metodológicos das diferentes áreas de conhecimento que se constituam objetos de sua prática pedagógica; • compreender o processo de construção do conhecimento nas pessoas inseridas em seu contexto social e cultural; • compreender a avaliação como um processo e não como um momento previsto em calendário; • considerando as especificidades de cada área do conhecimento, espera-se, ainda, que os alunos desenvolvam as seguintes habilidades: — capacidade de elaborar, executar e avaliar planos de ação pedagógica que explicitem o processo de planejamento desenvolvido em cada área do conhecimento, em especial da História e da Geografia; — saber incorporar, às ações pedagógicas, a diversidade cultural, étnica, sexual e religiosa de nosso povo, abordagens, procedimentos e instrumentos para aplicação em práticas educativas; — aptidão para articular resultados de investigação científica com a prática escolar, visando ao seu ressignificado; — competência para desenvolver metodologias e materiais pedagógicos adequados às diferentes práticas educativas. Para atender a esses objetivos, o texto foi estruturado em duas unidades. A primeira unidade refere-se ao componente curricular de História e aborda os conteúdos conceituais, procedimentais e atitudinais a serem desenvolvidos nos anos iniciais do Ensino Fundamental. Tomando-se como referência os Parâmetros Curriculares Nacionais do Ensino Fundamental de História e Geografia e os textos de diversos autores, o trabalho está organizado em quatro títulos: Formando o aluno cidadão; Ensinando História; O saber histórico em sala de aula; e Planejamento e avaliação em História. A segunda unidade refere-se ao componente curricular de Geografia e aborda os conteúdos conceituais, procedimentais e atitudinais a serem desenvolvidos nos anos iniciais do Ensino Fundamental. Tomando-se como referência os Parâmetros Curriculares Nacionais do Ensino Fundamental de História e Geografia e os textos de diversos autores, o trabalho está organizado em quatro títulos: Geografia e 8 o espaço vivido; Ensinando Geografia; Os saberes de Geografia em sala de aula; e Avaliação do ensino de Geografia. Para concluir, apresentamos uma síntese da Didática de História e de Geografia, como orientação ao futuro professor pedagogo. INTRODUÇÃO Reflitamos um pouco sobre o ensino da História. O que é História? Como ensinar o aluno a pensar historicamente? Como selecionar os conteúdos para o ensino de História? Como permitir ao aluno uma reflexão sobre sua historicidade como agente histórico dentro das condições em que vive e como produtor de seu próprio conhecimento? Como captar os interesses da história vivida pelo aluno e relacioná-la no tempo e no espaço? Todas essas questões fundamentais para o desenvolvimento do processo de ensino-aprendizagem de História nos anos iniciais de escolarização preocupam a todos nós, educadores. Comecemos então nosso diálogo, refletindo sobre o que é História. A História é fruto da produção cultural do homem na sua interação com o meio físico, social e político. Essa interação da pessoa humana no seu mundo implica uma concepção política e consciente diante das transformações pelas quais passaram as sociedades humanas, pois a transformação e a permanência constituem a essência da História. Nada permanece igual e é através do tempo que a mudança é percebida, ditada pela relação de força, de poder ou de domínio que direciona os conflitos das sociedades. Nesta perspectiva, para que a escola forme pessoas atuantes e participantes da sociedade, é fundamental que os alunos conheçam e entendam os processos de produção do conhecimento histórico como prática social, que deve estar vinculado à vivência do aluno. Desta forma, estudar História não exige o conhecimento da humanidade em todos os tempos, mas a capacidade de reflexão sobre qualquer momento da História a partir do cotidiano do aluno e suas relações com as questões sociais. Mas como motivar a curiosidade do aluno instigando-o a sentir-se parte fundamental da História? A relacionar o ontem ao agora? A incendiar o desejo da descoberta, a busca da resposta e a sua vontade de transformação? Mantendo esse mesmo viés, pensemos agora sobre o ensino da Geografia. Cabe à Geografia levar a compreender o espaço produzido pela sociedade na qual vivemos hoje, suas desigualdades e contradições, as relações de produção que nela se desenvolvem e a apropriação que esta sociedade faz da natureza. É nestes termos que a Geografia hoje se coloca e que seu ensino adquire menção fundamental no currículo, ao buscar desenvolver nos alunos uma postura crítica diante da realidade. 9 O ensino de Geografia deve estar comprometido com o homem e com a sociedade, pois assim poderá contribuir para a sua transformação. O caminho mais significativo para explicar a produção do espaço em todas as suas dimensões foi o processo de industrialização e, por essa razão, é tomado como fio condutor dos temas sugeridos no Ensino Fundamental, tendo sempre como pano de fundo a relação sociedade/natureza, mediada pelo processo de trabalho. Nesse sentido, o ensino de Geografia enfatiza a produção do espaço nas circunstâncias do mundo atual, considerando as múltiplas experiências dessa construção. Dessa concepção emerge a necessidade de se entender o aqui e o agora, o imediato e o vivenciado, ponto de partida e de referência para a compreensão da realidade. Entender o aqui e o agora significa entendê-los simultaneamente com o Brasil e com o mundo. Por isso a compreensão da realidade requer um processo de ir e vir no espaço, do próximo ao distante e vice-versa, num processo contínuo em que ambos se expliquem. Assim, não é possível abordar a realidade delimitando-a em círculos concêntricos, pois o particular e o geral se juntam constantemente. A escola deve propor um ensino de Geografia centrado, não exclusivamente nas diferentes relações entre a cidade e o campo, mas também em suas dimensões sociais, culturais e ambientais, considerando o papel do trabalho, da tecnologia, da informação, da comunicação e do transporte. O ensino deve ser organizado partindo da realidade próxima dos alunos, para que possam observar, comparar e compreender as relações de interdependência e de determinação que existem entre o mundo urbano, rural e outros espaços estudados, explorando formas de registros próprias desta área de conhecimento, como a cartografia. 10 Unidade I 11 METODOLOGIA E PRÁTICA DO ENSINO DE HISTÓRIA E GEOGRAFIA Unidade I HISTÓRIA 1 FORMANDO O ALUNO CIDADÃO Na sociedade contemporânea, frente às modificações desencadeadas pelo avanço tecnológico, pela globalização e pelas questões sociais decorrentes, faz-se necessária uma nova forma de organização curricular nas escolas, objetivando formar seres humanos capazes de exercerem sua plena cidadania. Neste contexto, o ensino de História deve comprometer-se com a construção de uma proposta que reflita sobre a vivência cotidiana das pessoas e busque capacitá-las para a solução de problemas inerentes à sua prática social, tornando significativa a aprendizagem dos conteúdos. Tomando como referencial o aluno como sujeito concreto e cidadão, os conteúdos significativos assumem um lugar próprio no currículo, pois propõem a diversidade como um espaço de multiculturalismo, estabelecendo relações entre a cultura local e o âmbito pluralista e de transformação. Desta forma, a escola constitui-se como um espaço de convivência por meio da ação participativa e de respeito à diversidade cultural, articulando os conteúdos que possibilitem o desenvolvimento da aprendizagem nas diversas etapas de formação do educando. Nos PCN, encontramos que o ensino de História possui objetivos específicos e aponta como um dos mais importantes aqueleque se refere à construção da identidade. Para tanto, é fundamental que o professor trabalhe com as noções históricas, vinculando a identidade do aluno às identidades sociais e coletivas, destacando as que se compõem como nacionais, identificadas com a Constituição e a Lei de Diretrizes e Bases da Educação. Nesta perspectiva, para que os alunos desenvolvam a habilidade de estabelecer relações do conhecimento e adquiram competência para discussões e transformações de situações sociais vivenciadas, torna-se necessário o desenvolvimento de temas significativos como: a construção da identidade, a relação do homem com a terra, a relação de trabalho e de poder e a relação com a diversidade cultural. 1.1 A construção da identidade O ensino de História deve partir da construção da identidade do sujeito como membro de uma família e suas diferentes histórias, expandindo para as problemáticas locais nas quais as escolas e os alunos estão inseridos, de forma a propiciar a articulação dessa realidade próxima às questões regionais, nacionais e mundiais. 12 Unidade I A história familiar é construída evocando lembranças passadas, comemorações e tradições culturais. Nas tradições e costumes familiares, os alunos vão adquirindo consciência de quem são, a que grupo pertencem, que costumes os diferenciam e quais os tornam semelhantes. O estudo da história da família só tem significado quando é possível situá-la no conjunto de outras famílias, próximas ou distantes. Nesta relação de próximo e passado, a natureza das relações sociais vão sendo entendidas e assimiladas. A noção de passado é formada gradativamente por meio das vivências das crianças, dos familiares e do grupo. O estudo da sua própria história, de seu grupo e de seu local tem a finalidade de ampliar a capacidade de observação do mundo vivido e compreender de forma mais clara e significativa as relações sociais, econômicas e culturais de seu tempo. Desta forma, a criança passa a fazer uso da pesquisa, da entrevista e do relato oral e a incorporá-los como metodologia do conhecimento histórico. A diversidade passa a ser vivenciada pelo espaço fornecido pela escola, pois ultrapassa as relações de âmbito familiar, promovendo a interação com outros elementos do grupo. As relações de tempo e espaço, semelhança e diferença, mudança e permanência devem ser bem desenvolvidas junto aos alunos para que haja a compreensão da História como um processo dinâmico. O educando constrói essas noções a partir da realidade cotidiana, observando a vida em sua casa, seu bairro e sua escola, e progressivamente, vai diversificando para os contextos sociais mais amplos, percebendo assim a historicidade de sua vida pessoal e coletiva. Lembrete Para que haja a compreensão da História como um processo dinâmico, o educando constrói as noções de relações de tempo e espaço, semelhança e diferença, mudança e permanência a partir da realidade cotidiana, observando a vida em sua casa, seu bairro e sua escola. 1.2 A relação do homem com a terra O uso que o homem faz da terra, a sua apropriação, os movimentos pela sua posse, o modo de trabalho e conflitos registrados pela História propiciam discussões que envolvem aspectos ligados à cidadania. A discussão sobre a trajetória dos povos e das sociedades, articulada ao estudo de como se efetuou o domínio da terra, exerce um importante papel para a dignificação das inter-relações entre as pessoas, numa abordagem voltada para questões sociais que tenham como referencial possibilidades para transformações da realidade. Outro campo de estudo e análise é a ocupação do espaço da terra pelo homem, diante de sua ação devastadora e predatória, causando problemas de desequilíbrio populacional, inclusive quanto à 13 METODOLOGIA E PRÁTICA DO ENSINO DE HISTÓRIA E GEOGRAFIA ocupação de terras indígenas, bem como problemas de urbanização relacionados à moradia e marcados pelo comprometimento da ecologia ambiental. Esse conteúdo significativo tem como finalidade estudar, pesquisar e refletir diante da problematização produzida pela ocupação do homem e pelo uso da terra em seus diversos enfoques político, econômico e cultural. 1.3 A relação de trabalho e de poder A relação de trabalho e de poder em seus aspectos políticos, sociais e culturais, pontua uma perspectiva de abordagem das atividades humanas em diversas culturas e momentos, propiciando amplas alternativas de pesquisa e análise do cotidiano do sujeito e suas relações de trabalho. As várias dimensões da vida relacionam-se com o trabalho, iniciando com a necessidade de sobrevivência, destacando-se também pelas culturas e representações sociopolíticas, atingindo os limites de relações de poder. Portanto, a História do trabalho torna-se significativa para compreender as relações de produção vinculadas em diferentes períodos e que caracterizam mudanças econômicas em diversas organizações políticas. A produção humana pontua um significado especial nas várias gerações de trabalhadores e nas contradições sociais, permeando diversas relações nos contextos de exploração, conflito, poder e resistência. Nesta perspectiva, a reflexão e a problematização sobre o trabalho possibilitam a criação do diálogo com a realidade social na busca da ação para a transformação. 1.4 A relação com a diversidade cultural A pesquisa é de fundamental importância diante da diversidade cultural e das diversas formas de interpretação da vivência pelo aluno em seu grupo local. Ianni (1983, p.121) enfatiza esta questão: A sociedade em seu conjunto deve transformar-se em uma gigantesca escola [...] O importante é que os homens vão adquirindo cada dia mais consciência da necessidade de sua incorporação à sociedade e, ao mesmo tempo, de sua importância como motores da mesma [...]. O momento de globalização que vivenciamos neste século XXI nos deslumbra com um processo de constantes mudanças que exige transformação de concepções a respeito dos elementos que compõem essa sociedade. Entretanto, não podemos deixar de lado as questões locais e regionais e a participação social do homem como cidadão que busca desenvolver melhores condições de vida e trabalho, que reclama a proteção e a preservação do meio ambiente, superando fronteiras e atingindo o caráter universal na defesa dos direitos humanos. 14 Unidade I A diversidade, as diferenças, os antagonismos de classes e etnias, religiões e culturas, modos de vida e trabalho, modificam-se e reafirmam-se pelos reflexos e tendências impostos pela multiculturalidade, que promove a sua transformação para que surjam outras formas culturais. Neste contexto é que o processo de globalização mundial provoca transformações marcantes pelos grupos sociais locais. 2 ENSINANDO HISTÓRIA Segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais (1997), o ensino e a aprendizagem de História envolvem uma distinção básica entre o saber histórico e o saber histórico escolar. Considera-se saber histórico o conhecimento produzido no campo das pesquisas dos historiadores e especialistas; e saber histórico escolar, o conhecimento produzido no espaço escolar por meio da articulação das informações veiculadas pela população e por meios de comunicação com as representações sociais constituídas pela vivência dos alunos e professores. Esta relação compreende, de modo geral, três conceitos fundamentais: o de fato histórico, o de sujeito histórico e o de tempo histórico. Os fatos históricos estão relacionados aos eventos políticos, às festas cívicas e às ações de heróis nacionais. Podem ser entendidos como ações humanas significativas, realizadas pelos homens e pelas coletividades, que envolvem diferentes níveis da vida em sociedade, como rituais religiosos, formas de desenho, criações artísticas, comportamentos das pessoas, técnicas de produção, atos políticos. Os sujeitos históricos são os agentes de ação social que se tornam significativos para estudos históricos, sendo eles indivíduos, grupos ou classes sociais. O tempohistórico, considerado em toda sua complexidade, pode ser entendido como tempo cronológico (calendários e datas), tempo biológico (crescimento, envelhecimento), tempo psicológico interno (ideia de sucessão, de mudança), tempo cronológico e astronômico, construído pelos povos conforme suas culturas (sucessão de dias e noites, de meses e séculos). Desta forma, os conceitos de fato histórico, sujeito histórico e tempo histórico refletem distintas concepções de História e de como ela é estruturada e constituída. Orientam na definição dos fatos que serão investigados, dos sujeitos ativos e das noções de tempo histórico que serão trabalhadas. Lembrete Segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais (1997), considera-se saber histórico escolar o conhecimento produzido no espaço escolar por meio da articulação das informações veiculadas pela população e por meios de comunicação, com as representações sociais constituídas pela vivência dos alunos e professores. 15 METODOLOGIA E PRÁTICA DO ENSINO DE HISTÓRIA E GEOGRAFIA 2.1 Por que ensinar História Durante toda a História da espécie, a biologia e a cultura trabalharam juntas para que a vida humana se mostrasse solidária e unida, mas o agito do viver moderno alterou essa tentativa. Superar essa alteração é um dos objetivos do ensino de História. Não é difícil compreender por que esse trabalho é hoje mais essencial do que há trinta ou quarenta anos. A segunda metade do século XX foi pródiga em terríveis abalos sociais que fortaleceram o individualismo e reconfiguraram o modo como vivemos. O campo, com suas relações sempre próximas, foi trocado pelo anonimato das cidades onde vigora o “cada um por si”. As mulheres saíram de casa para o trabalho e a natureza da vizinhança solidária quase desapareceu. Desmanchou-se uma ligação quase compulsória com a religião, que conferia ao sacerdote o posto do conselheiro sempre acessível. A rua, antigo ponto de construção de brincadeiras e amizades, depressa se transformou em cenário de medo e perigo. As famílias se encolheram e, em lugar de reuniões ruidosas, onde sempre se aprendia a prática da solidariedade, têm-se agora pequenos núcleos de pai, mãe e filho sempre apressados, cada vez mais distantes. Agora quase não existe a “família” nuclear, substituída por uma família de quase estranhos. A vida profissional tornou-se bem mais competitiva, os encontros são marcados pela ansiedade, e as amizades, interesseiras. O celular e o computador também contribuíram para isso, pois se ampliaram os contatos, reduziram sua intensidade e sua qualidade. As redes sociais, que geravam conselhos e experiências, amparo e solidariedade, se desfizeram, restando para a escola e para os educadores vencer essa desconexão que a cada dia mais nos isola e nos faz esquecer de que é essencial ensinar a conviver e a compartilhar. O bom ensino de História não é a única saída, mas é uma saída. A qualidade no ensino de História não consiste apenas em situar acontecimentos históricos e localizá- los em uma multiplicidade de tempos, mas compreender que as histórias pessoais são partes integrantes de histórias coletivas e que conhecer modos de vida de diferentes grupos em diversos tempos e espaços, e reconhecer semelhanças e diferenças é a melhor maneira de respeitá-los. É importante que se ensine História para que os alunos possam questionar a realidade, identificando seus problemas e descobrindo formas político-institucionais que possam ajudar a resolvê-los. Aprender História é importante para que se valorize o patrimônio sociocultural e o direito de cidadania como condição de fortalecimento da liberdade de expressão e da democracia, único sistema capaz de manter o respeito às diferenças e a luta contra as desigualdades. 2.2 Particularidades da História Existe concordância entre os historiadores quanto à época do começo das noções históricas: desde o início dos tempos, quando os primatas descobriram os ciclos da Lua, do dia e da noite, os fenômenos físicos, as alterações da natureza. Também quanto à sua formação como disciplina escolar: no século XIX, incluída na Filosofia, como disciplina de Filosofia da História, da qual se desliga no início do século XX, para se tornar ciência, com seus próprios métodos de investigação, a exemplo das demais disciplinas, as denominadas ciências humanas. 16 Unidade I O aluno pode e deve organizar o próprio conhecimento, por meio de estudos e experiências, individuais ou grupais, deve ser instigado a pesquisar, encontrar informações, depoimentos, gravuras, músicas, charges e documentos. O papel do professor, portanto, consiste em mediar esse processo de construção do conhecimento de História do aluno. Várias pesquisas apontam para a ênfase ainda dada em ensinar nas aulas de História os nomes de “heróis”, datas comemorativas e fatos históricos, muitas vezes de forma descontextualizada, como se fossem produtos de ações individualizadas. O ensino de História fundamentado na ênfase de “heróis” e datas comemorativas não é atual. Essa metodologia surgiu desde a Proclamação da República, quando da necessidade de construção de uma identidade para o nosso povo, e foi idealizada sob a ótica dos governantes e da classe dominante. Esse ensino tem se mostrado ineficiente, pois seus conhecimentos não têm significado para os nossos alunos com realidades, valores, pensamentos e histórias de vidas diferentes, ou seja, não têm atingido o objetivo de promover o desenvolvimento crítico e a participação social nos alunos. Segundo Nemi e Martins (1996, p. 20), “as circunstâncias históricas são apresentadas como se fossem obras de algumas pessoas e não como ação de construção e desconstrução coletivas”. O ensino de História não tem dado ênfase ao ser humano ou aos povos como agentes do processo histórico; além disso, apresenta os fatos como se não existissem conflitos e contradições. Os autores Nemi e Martins (1996, p. 24) sugerem que as aulas de História devem possibilitar a interpretação das diferentes visões que se têm do Brasil para que o aluno faça a sua própria leitura. É necessário, portanto, que o aluno compreenda o momento histórico em que vive, e, para atingir esse objetivo, é importante disponibilizar situações em que o aluno possa analisar e interpretar os processos de transformação das relações entre os homens e destes com a natureza. Bittencourt (2009, p. 84) explica que antes da influência dos pressupostos da Psicologia cognitiva, a História era ensinada por métodos de memorização. Ela também aborda (à página 99) a preocupação atual de muitas propostas para um ensino de História significativo para as novas gerações, “público escolar” com ritmos diversos de aprendizagem, com ações de intenso consumismo e expectativas utilitárias acentuadas. Contudo, Bittencourt (2004, p. 113) reconhece a necessidade de se trabalhar com festas comemorativas no ensino de História do Brasil, ressaltando que foram introduzidos outros representantes da sociedade brasileira que devem ser festejados, sobretudo em suas respectivas datas, como o Dia do Índio (a ser comemorado todo dia 19 de abril) e o Dia da Consciência Negra (a ser comemorado todo dia 20 de novembro). Índios e negros reconhecidos, hoje, como constituintes de nossa etnia brasileira. 2.3 A História da História e suas diferentes visões A História tradicional, fortemente influenciada pelo positivismo, destaca-se pela busca de fatos passados, isolados, situados no tempo linear, contínuo e sem rupturas. Seu historiador era um estudioso imparcial, neutro, que desvinculava os acontecimentos do contexto, a fim de preservar o caráter preciso e rigoroso, objetivo da ciência da época. Sua tarefa era recolher os dados colhidos dos documentos 17 METODOLOGIA E PRÁTICA DO ENSINO DE HISTÓRIA E GEOGRAFIA escritos reconhecidos como tal, proceder a uma análise minuciosa, livre de interpretações, para chegar a uma verdade universal. A História se caracterizava, então, como relato de fatos isolados, grandesacontecimentos, grandes heróis, grandes dinastias com seus grandes impérios e altas personalidades. Tudo era muito regular, não sobrando espaço para conflitos e participação popular, parecendo que nada ocorria fora do que era definido pela sociedade dominante no poder. Era essa a História que a sociedade brasileira aceitou, e a escola desenvolveu por várias décadas. Outra História, produzindo uma renovação historiográfica, em contraposição ao positivismo, foi iniciada no final do século XIX e metade do século XX, influenciada pelas ideias de Karl Marx que, checando os idealismos e as estruturas liberais da época, acabou por abalar as convicções estabelecidas na sociedade para as classes sociais e para o povo. Segundo Marx, há muitos conflitos gerados pelas forças produtivas (os patrões e donos das indústrias) e as relações de produção (os empregados e sua força de trabalho) do mundo capitalista e da sociedade industrializada. O antagonismo gerado pelos conflitos e/ou oposições entre patrões e empregados (termos dialéticos complementares) gera a “luta de classes” que, por sua vez, provoca transformações sociais, modificando as relações do trabalho. O resultado é uma nova sociedade baseada no socialismo. Consequentemente, cada pessoa passa a ser sujeito e objeto da História e os fatos históricos deixam de ser vistos isoladamente e passam a representar, de forma mais concreta, o coletivo e o social, abrangendo os acontecimentos políticos, econômicos, sociais, antropológicos etc., que agora são interpretados do ponto de vista da economia, numa temporalidade em que presente e passado se unem para se tornarem um todo. Com a produção de novos desafios e maneiras novas de explicar o mundo, gera-se um novo paradigma a influenciar a sociedade, as relações, as nossas vidas, a educação etc. A historiografia registra a constituição da História crítica. Sob esse olhar, as pessoas e todos os eventos situados no tempo e no espaço passam a ser vistos de modo contextualizado e não isoladamente, como até então. Tudo e todos passam a ser vistos como “fazedores” da História ao mesmo tempo em que se tornam seus objetos de estudo. Nesse contexto total da sociedade, o fato histórico chega à sua essência (o pensamento concreto), isto é, pode ser visto e explicado empiricamente. A renovação da historiografia chega ao Brasil somente no final dos anos de 1960 e na década de 1970, com o desenvolvimento dos cursos de pós-graduação. Somente aí, os trabalhos acadêmicos, em suas teses e dissertações, passaram a criticar a produção do conhecimento histórico, fundamentado no positivismo, substituindo seus pressupostos pelas ideias marxistas. Somente mais tarde essa transformação passaria a orientar os livros didáticos. As transformações ocorridas no campo dos estudos aos poucos acabam por interferir no inconsciente coletivo, que também passa a ver tudo com outros olhos. No entanto, a quebra de paradigmas, se rápida para alguns com mais acesso às informações e com maior acessibilidade cultural, é lenta para a maioria de menor cultura que vive, portanto, um processo mais lento de transformações. 18 Unidade I Diante disso, podemos fazer a seguinte ponderação: encaramos os desafios do mundo com “teorias” construídas, enquanto vivemos e pensamos num processo contínuo que tem início desde o nascimento. Este é o início da nossa história vivida, constituída de imagens e argumentos tão fortes e significativos de nossa bagagem cultural mesmo antes de irmos à escola. Estas concepções que marcam a nossa existência são as âncoras para as informações históricas que serão desenvolvidas nos anos iniciais do Ensino Fundamental, por isso dizemos que a História pode contribuir para a compreensão das vivências culturais do passado que até hoje nos influenciam. Os autores César Coll e Ana Teberosky (2008, p. 7) argumentam que a História nos torna possível a análise das ações humanas significativas, ocorridas no tempo e no espaço. Acrescida da contribuição das ciências, podemos conhecer como essas ações ocorreram, por que ocorreram e ainda entendermos as relações de poder presentes nos acontecimentos históricos. As possibilidades de uma análise cada vez mais precisa, apesar da distância entre os fatos, foram sensivelmente ampliadas com outras fontes de conhecimento, além dos documentos antigos escritos. Hoje, além desses documentos, dos sítios arqueológicos, a História também nos chega pelas fotografias, jornais, revistas, depoimentos e testemunhos orais. Mesmo que estes testemunhos possam vir impregnados de percepções subjetivas, os pesquisadores atuais avaliam como significativa a força dessas percepções para explicar antagonismos ou posições arraigadas que provocam na História continuidades, descontinuidades e rupturas nos modos de relacionamento entre as pessoas e entre as pessoas e os produtos culturais: economia, política, educação, cultura, valores, trabalho, afetividade, definidos hoje como conteúdos da nossa sobrevivência. Para continuar a História da História e compreender a disciplina como relação entre as ações das pessoas e o espaço imediato e distante, devemos notar que, enquanto o Brasil vivia a Ditadura Militar, outros países vizinhos e também da Europa estavam sendo controlados por regimes fortes e autoritários. Parecia que o vento do autoritarismo soprava sobre as milhares de cabeças que habitavam os países em questão. Porém, isto é uma explicação que se aproxima do senso comum.. Do ponto de vista científico, havia razões políticas fundadas na soberania nacional, que atravessava um período marcado por instabilidades locais e receios internacionais pela invasão de ideologias indesejadas. A proposta atual para as aulas de História para crianças dos anos iniciais do Ensino Fundamental propõe a compreensão da realidade e o levantamento de possibilidades de mudanças a serem realizadas pelo homem com o objetivo de ampliar suas experiências coletivas. Aqui, deverá entrar a ética das relações, buscando a compreensão solidária e conciliadora dos diferentes pontos de vista. A reinterpretação do passado contribui para que o aluno compreenda a origem social e histórica dos conflitos de seu país e do mundo em que vive, devendo partir do seu espaço vivido, acumulado conforme seu desenvolvimento e recursos mentais. 19 METODOLOGIA E PRÁTICA DO ENSINO DE HISTÓRIA E GEOGRAFIA Fotos de familiares e relatos de pessoas do bairro também podem ser utilizados para enriquecer as aulas de História, com o objetivo de trazer mais informações aos alunos sobre sua própria vida. Isto também desperta o interesse em conhecer os grupos com os quais convive em sua comunidade e o desejo de atuar junto. 2.3.1 Linha do tempo da História no contexto educacional brasileiro 1549 - Os jesuítas chegam ao Brasil e fundam as primeiras escolas elementares brasileiras. Os textos históricos bíblicos eram usados apenas com o intuito de ensinar a ler e escrever. 1837 - O Colégio Pedro II, no Rio de Janeiro, inclui a disciplina como obrigatória. Nesse ano também é fundado o Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, que defende uma visão nacionalista. 1870 - Com a diminuição da influência política da Igreja sobre as questões de Estado, os temas que têm como base as ideias bíblicas são abolidos do currículo. 1920 - Escolas abertas por operários anarquistas tentam implantar a ótica das lutas sociais para entender a História. Mas elas são reprimidas e fechadas durante o governo de Arthur Bernardes, alguns anos depois. 1934 - É criado o primeiro curso superior de História, na USP. A academia nasce com uma visão tradicionalista, reforçando a sucessão de fatos como a linha mestra. 1957 - Delgado Carvalho publica a obra Introdução Metodológica aos Estudos Sociais, que serve de base para o processo de esvaziamento da História como disciplina autônoma. 1971 - A História e a Geografia deixam de existir separadamente. No lugar delas é criada a disciplina de Estudos Sociais e, ao mesmo tempo,a licenciatura na área. 1976 - O Ministério da Educação determina que, para dar aulas de Estudos Sociais, os professores precisam ser formados na área, fechando-se assim as portas para os graduados em História. 1986 - A Secretaria de Educação do Município de São Paulo propõe o ensino por eixos temáticos. A proposta não é efetivada, mas vira uma referência na elaboração dos PCN, anos depois. 1997 - Abolição de Estudos Sociais dos currículos escolares. História e Geografia voltam a aparecer separadamente. Especialistas começam a pensar novamente sobre as atuais especificidades de cada uma das disciplinas. 1998 - Com a publicação dos PCN, são definidos os objetivos da área. Entre eles está o de formar indivíduos de modo que eles se sintam parte da construção do processo histórico. 2003 - O Conselho Nacional da Educação determina que a História e a cultura afro-brasileira sejam abordadas em todas as escolas, o que mostra uma iniciativa oficial para desvincular o ensino da visão eurocêntrica. 20 Unidade I 2.4 Objetivos gerais no ensino de História Não se ensina História no Ensino Fundamental apenas por ser uma disciplina do currículo escolar e também não se ensina História porque professores dessa disciplina só podem ensinar História. Em outras palavras, o ensino da História no Ensino Fundamental se fundamenta em objetivos claros que, se não concretizados, abrem insuperável lacuna na formação dos estudantes. É por esse motivo que esses objetivos devem, não apenas ser bem conhecidos pelos professores, mas devem, sobretudo, constituir sua meta. Os objetivos devem estar presentes em todas as atividades e justificar toda a avaliação de aprendizagem essencial ao ensino. Os Parâmetros Curriculares Nacionais determinam como objetivos gerais do ensino de História no Ensino Fundamental que os alunos sejam capazes de: • identificar o próprio grupo de convívio e as relações que estabelecem com outros tempos e espaços; • localizar acontecimentos no tempo: presente e passado; • conhecer e respeitar o modo de vida de diferentes grupos sociais em diversos tempos e espaços; • reconhecer mudanças e permanências nas vivências humanas; • questionar sua realidade, identificando alguns de seus problemas e refletindo sobre algumas de suas possíveis soluções; • utilizar métodos de pesquisa e de produção de textos de conteúdo histórico, aprendendo a ler diferentes registros; • valorizar o patrimônio sociocultural e respeitar a diversidade; • reconhecer algumas relações sociais, econômicas, políticas e culturais; • identificar as ascendências e descendências das pessoas; • identificar as relações de poder; • utilizar diferentes fontes de informação para leituras críticas; • valorizar as ações coletivas. 2.5 Os conteúdos e sua importância no ensino de História Um substantivo é “significativo” quando conduz pensamentos e se apresenta em nossas intenções, mesmo que nos esqueçamos de pronunciá-lo. Em educação, o substantivo mais frequente é conteúdo. Conteúdo na escola é o meio para que o aluno desenvolva sua capacidade, exercite sua competência e coloque em prática as habilidades que aprendeu. 21 METODOLOGIA E PRÁTICA DO ENSINO DE HISTÓRIA E GEOGRAFIA É também pela expressão dos conteúdos que se manifestam as diferentes inteligências dos alunos, colaboradores e professores e, sem conteúdo, a escola não pode construir bens culturais, sociais e econômicos para que possamos evoluir e usufruir. Para que a aprendizagem dos alunos de História seja significativa, os conteúdos devem ser analisados e apresentados de modo a estruturarem uma rede de significações. Conteúdo, portanto, não é informação que se acumula, mas ferramenta com a qual se aprende a aprender e, por saber aprender, conseguir se transformar. Portanto, o substantivo conteúdo possui vários sentidos e é importante diferenciá- lo. Os conteúdos podem ser classificados em três grupos: conteúdos conceituais, procedimentais e atitudinais. Os conteúdos conceituais envolvem a abordagem de conceitos, fatos, teorias, hipóteses e princípios e se referem à construção ativa e dinâmica das capacidades intelectuais para que os alunos possam operar símbolos, signos, ideias, imagens que representam a realidade. Experimente pensar qualquer coisa e estará buscando conteúdo. Sem conteúdos conceituais não existe pensamento e as ideias morrem, não existe meio de buscar lembranças na memória, visto que qualquer lembrança é sempre conteúdo conceitual. A maneira como os livros apresentam os títulos e os conteúdos podem ser muito diversificados. Temas como “As relações sociais e a natureza”, “As relações do trabalho”, “História das representações e das relações de poder” e “Cidadania e cultura no mundo contemporâneo” representam conteúdos conceituais e também os “eixos” temáticos, isto é, são os polos centrais em torno dos quais diversos capítulos precisam se alinhar. Dessa forma, temas como “Os primeiros agrupamentos humanos no território brasileiro”, “Natureza e povos indígenas” e muitos outros surgem como aspectos particulares de um todo geral que são os eixos temáticos e devem caracterizar a ação pedagógica do professor. Esses eixos aparecem como verdadeiros nós de uma rede e, portanto, integram a História com outras disciplinas curriculares. Contudo, a imprescindível necessidade de conteúdos conceituais não apaga a importância dos conteúdos procedimentais. Em História, os conteúdos procedimentais correspondem aos modos de buscar e aplicar, organizar e comunicar os conteúdos conceituais. Os primeiros não se isolam dos segundos e de nada adianta um saber se o conhecimento o isola de sua ação. Assim, a observação, a experimentação, a comparação, a elaboração de hipóteses, o debate oral, o estabelecimento de relações entre fatos ou fenômenos e ideias, a leitura, a produção e a interpretação de textos são “ferramentas” que solidificam a verdadeira aprendizagem. Também a elaboração e roteiros, a pesquisa bibliográfica ou de campo, as mensagens ilustradas pelo desenho, fotos, gráficos e tabelas, o confronto entre suposições e a proposição de solução para os desafios caracterizam a diversidade de competências ou procedimentos que dão sentido e corpo aos conceitos apreendidos. 22 Unidade I A realização de um procedimento adequado garante a interpretação da aprendizagem de um conteúdo conceitual. O uso de conteúdos procedimentais é fundamental em todo processo de ensino, pois permite incluir conhecimentos (conteúdos conceituais) e vivenciar esse saber, comparando-o, analisando-o, descrevendo-o e, assim, explorando múltiplas habilidades. Os conteúdos atitudinais referem-se às normas, valores e virtudes que são atitudes que devem apresentar- se e permear todo conhecimento escolar. A não compreensão de atitudes, valores e normas como conteúdos escolares pode levar os alunos a atitudes pouco aceitáveis. Dessa forma, concluímos que os conteúdos conceituais são necessários para poder concretizar conteúdos procedimentais e estes dois grupos de conteúdos são imprescindíveis para poder materializar atitudes de forma eficaz. Saiba mais Você já leu algo de César Coll? Ele propôs um agrupamento de “novos conteúdos” conceituais, procedimentais e atitudinais, e que correspondem às seguintes questões: o que devemos saber, como devemos fazer e como devemos ser. Leia sobre esse assunto no livro: COLL, C. et al. O construtivismo na sala de aula. São Paulo: Ática, 2006. 3 O SABER HISTÓRICO NA SALA DE AULA Para o desenvolvimento de habilidades e competências relacionadas aos temas significativos no ensino de História: construção da identidade, relação do homem com a terra, relação de trabalho e de poder e relação com a diversidade cultural, apresentamos sugestões de atividades de acordo com os objetivos específicos para cada ano de escolaridade e a fundamentação teórica dos conteúdos. Para começar, vamos esclarecer o que são habilidades e competências. 3.1 Habilidades e competências no ensino deHistória Você sabe o que é “formiga”? Se sua resposta é afirmativa e você pode garantir que a pergunta se refere a um inseto conhecido por quase todos, você mostrou competência para compreender palavras em sua língua. O uso dessa competência linguística, entretanto, exigiu várias habilidades, como compreender, comparar, interpretar, responder verbalmente, responder por escrito etc. Dessa forma, competência é uma habilidade de ordem geral, enquanto habilidade é uma competência de ordem particular, específica (MACEDO, 1999). Competência, portanto, é a capacidade de mobilizarmos nossos “equipamentos” mentais para encontrar saídas quando estas parecem ausentes. É a maneira como 23 METODOLOGIA E PRÁTICA DO ENSINO DE HISTÓRIA E GEOGRAFIA articulamos nossas habilidades para alcançar um objetivo, para superar um desafio, vencer um obstáculo. Dessa maneira, ajudar os alunos em História a conquistar competências e usar habilidades não é nada diferente de ajudar alunos em outra disciplina. As competências e habilidades que se requerem para ler um texto não são as mesmas necessárias para se fazer um cálculo, mas não importa se esse texto é de Ciências ou de Literatura, de aventuras ou de História. É sempre importante que os professores ajudem seus alunos em diferentes competências, graduando seu padrão de dificuldade conforme a idade e ano de escolaridade em que o aluno se encontra. Por isso, nas aulas de História, tome como referência o quadro a seguir: Quadro 1 Competências básicas aos alunos dos anos iniciais do Ensino Fundamental Ferramentas e meios para levar os alunos ao domínio dessas competências Dominar linguagens, portanto, saber ler, compreender e interpretar textos, fotos, mapas, diagramas, gráficos, charges etc. Explorar leituras e desenvolver todos os passos da compreensão histórica significativa na interpretação de um texto. Compreender e interpretar fenômenos e, assim, mostrar-se capaz de interligar as disciplinas escolares entre si e de conectar o conteúdo aprendido com a realidade. Perceber a distinção entre fatos históricos, informações de crenças e preconceitos, interligando o fato histórico com fenômenos de outras disciplinas; conectar o aprendido com a realidade atual, o passado e as perspectivas de futuro. Solucionar problemas, identificando informações corretas sobre o fenômeno histórico estudado para interpretar o fato e tomar decisão pertinente. Perceber nos textos as informações corretas, separando teorias de hipóteses buscando identificar problemas, relacionar culturas e épocas, refletindo sobre as perspectivas de solução. Construir argumentação e, portanto, assumir pontos de vista, defendendo-os com argumentos sólidos e embasados, pautados nos conhecimentos adquiridos. Saber argumentar é encontrar pensamentos e raciocínios para se chegar a uma conclusão e, dessa forma, perceber as múltiplas interpretações possíveis em qualquer informação de natureza histórica. Raciocinar sobre os fatos apreendidos e elaborar propostas para resolver uma situação. Atribuir significação ao que aprendeu, mostrando-se capaz de formular propostas para resolver a situação do presente, com base em alternativas encontradas no passado. Essas competências, conforme o nível de conhecimento do aluno, envolvem a aprendizagem e a utilização de múltiplas habilidades como, por exemplo, descrever, reconhecer, analisar, comparar, relacionar, classificar, deduzir, interpretar, propor soluções, avaliar, compreender e muitas outras. 3.2 Sugestão de atividades para o Ensino Fundamental Primeiro ano Ao término do primeiro ano letivo, os alunos deverão ter alcançado os seguintes objetivos específicos: • conhecer a história individual, registrando e comparando com os fatos contados por outros alunos; 24 Unidade I • pesquisar e comparar as relações entre as histórias das pessoas e das famílias, usando fontes orais, escritas e de imagem; • conhecer e relacionar as normas e regras de convívio nos grupos dos quais fazem parte, como na família, na escola, no bairro etc.; • identificar as formas de convívio social, hábitos e costumes, festejos e comemorações, antigas ou atuais; • conhecer e valorizar o patrimônio cultural assegurando sua preservação; • relacionar lugares e tempos vividos no cotidiano com rotina, medições e marcadores de tempo cronológico. Atividade 1 – A criança cresce e aprende Desenvolvimento O professor solicita que os alunos levem à escola materiais como: fotos em diferentes fases de crescimento e em diversas ocasiões sociais (batizado, aniversário, reuniões com a família); fotos dos familiares mais próximos: pai, mãe, irmãos, avós, identificados com o nome; peças de roupas ou brinquedos que já não usam mais, com informações como: de quem ganhou, quando, em que momento foram mais usados. Com esses materiais, realizar ações como: • observar as suas fotos e a dos colegas e apontar as mudanças ocorridas com o tempo; • relatar também outras mudanças, além da aparência; • registrar a altura e o peso e, após alguns meses, repetir esse procedimento; • comparar a altura e o peso dos alunos: quem é o mais alto, quem é o mais baixo, quem pesa mais, quem pesa menos, quem tem a mesma altura ou o mesmo peso; • registrar o que observou com a roupa ou o brinquedo que não usa mais; • relatar sobre a história do seu nome: quem escolheu e porque; como recebeu o sobrenome; • localizar no calendário o mês e o dia do seu aniversário e também de alguns colegas; • analisar e descobrir quem é o mais velho, o mais novo, quem faz aniversário na mesma data, quem faz aniversário em um determinado mês. Ao finalizar a atividade, o professor questiona: • seu corpo, seu modo de ser e de agir mudam com o tempo? • o que você descobriu sobre a história do seu nome? 25 METODOLOGIA E PRÁTICA DO ENSINO DE HISTÓRIA E GEOGRAFIA Fundamentação Esta atividade aborda a percepção de mudanças e permanências na vida do aluno. Os conteúdos trabalhados voltam-se para o aluno como indivíduo que possui um passado e que continuamente cresce e aprende coisas novas. Num primeiro momento, é trabalhada a questão do crescimento físico e as mudanças psicológicas que ocorrem nessa fase e que o aluno observa em si mesmo e nos outros, como também as transformações que ocorrem nos adultos, que passam a envelhecer. Num segundo momento, é trabalhada a história do nome do aluno. Todos nós temos nome e sobrenome, que muitas vezes são determinados antes do nosso nascimento por nossos pais, avós ou responsáveis. As motivações da escolha do nome, o significado dele, as origens étnicas e históricas do sobrenome, nos remetem a um passado anterior ao nosso nascimento. A descoberta desses aspectos é fascinante para os alunos e torna-se um ponto de partida para o aprofundamento da compreensão de si mesmos, como sujeitos que se constituem ao longo do tempo. Ao trabalhar esse conteúdo, o professor estará: • estimulando o aluno a conhecer a história individual, registrando-a e comparando-a com os fatos narrados pelos outros alunos; • mediando seu aprimoramento da capacidade de relacionar lugares e tempos vividos no cotidiano com rotina, medições e tempo cronológico; • possibilitando a percepção de que o aluno se constitui como um sujeito histórico, inserido num determinado tempo e numa determinada organização social, mas com ligações com seus ancestrais. Roda de conversa Apresentar fotos de uma mesma pessoa em diferentes momentos da vida: infância, juventude, vida adulta e iniciar a conversa a partir da comparação entre essas fotografias. Estimulá-los a falarem sobre o que sabem e pensam a respeito do processo de crescimento e de contínua aprendizagem. O objetivo da roda de conversa é o de investigar o que os alunos já dominam do conteúdo, de modo que o professor possa acompanhar a aprendizagem e avaliar adequadamente o que aprenderam para preparar as atividades subsequentes. 26 Unidade I Saiba mais Filmes A ERA do geloIII. Dir. Carlos Saldanha; Mike Thurmeier. EUA, 2009. 94 minutos. PROCURANDO Nemo. Dir. Andrew Stanton; Lee Unkrich. Australia, EUA, 2003. 100 minutos. Nesses filmes, encontramos situações interessantes e divertidas sobre a relação de pais e filhos e a escolha de nomes. Atividade 2 – A História da família Desenvolvimento O professor exibe o filme “Tainá, uma aventura na Amazônia” e, após, direciona os alunos para as seguintes ações: • comparar as diferenças existentes entre a família do filme e as que conhece; • observar e descrever as diferenças entre o ambiente em que Tainá vive e o seu; • desenhar a família e explicar para os colegas quem são as pessoas; • escrever o nome dos familiares: avós maternos, paternos, da mãe, do pai, dos irmãos; • organizar um roteiro de perguntas para entrevistar as pessoas da família: em que cidade nasceu? Como era essa cidade? Do que brincava quando era criança? Quais as brincadeiras preferidas? O que gostava de comer? O que fazia aos domingos? Como eram as festas de que participava? Que tipos de roupa usava? Quais eram os costumes da família? • organizar uma lista com: brincadeiras preferidas dos familiares, comidas preferidas, roupas que usavam; • organizar uma exposição com: fotos antigas de familiares, roupa antiga usada por uma pessoa da família, um brinquedo da infância, acessórios (chapéus, calçados, colares, brincos etc.); • observar fotos da mesma família em momentos diferentes e assinalar as mudanças que ocorreram com o tempo; • organizar uma tabela comparando as famílias de alguns alunos da turma com os seguintes itens: nome do aluno, número de irmãos, profissão do pai, profissão da mãe, total de pessoas na família. 27 METODOLOGIA E PRÁTICA DO ENSINO DE HISTÓRIA E GEOGRAFIA Fundamentação Esta atividade aborda as mudanças que ocorrem na família dentro do espaço doméstico. Levando-se em conta as estruturas familiares diferentes, o professor trabalha a noção de diversidade social. O foco desta atividade são as abordagens das inúmeras composições familiares conhecidas pelos alunos, desde o modelo tradicional até outras realidades como: mães e pais solteiros, crianças que vivem com os avós, filhos adotivos, enteados etc. Num primeiro momento, o aluno deve ampliar sua noção de família, entendendo-a como um grupo de pessoas dentro do qual alguns de seus membros se encontram na dependência de outros, aos quais se ligam por laço consanguíneo ou por adoção. Nesse sentido, cabe ao aluno pesquisar e comparar as relações entre as histórias das pessoas e das famílias, usando fontes orais, escritas e imagens. Em seguida, o aluno deve aprofundar a compreensão acerca de sua própria estrutura familiar. É importante que estude a estrutura de sua família após ter observado outras, de modo a superar possíveis situações de preconceito em relação àquelas que sejam divergentes do padrão tradicional, como são os casos de famílias monoparentais ou com dependentes por adoção, por exemplo. Na compreensão de sua própria unidade familiar, devemos esperar que o aluno seja capaz de identificar semelhanças e diferenças, além de poder comparar sua estrutura familiar com as de outros alunos da mesma idade. Numa etapa seguinte, o aluno desenvolve e amplia sua compreensão no que diz respeito às mudanças e permanências na composição e dinâmica. Essas mudanças podem incluir as de ordem biológica, como o crescimento ou o envelhecimento dos membros de uma família, a sucessão de gerações, mudanças de residência ou modificação de hábitos e costumes. Assim, o aluno será capaz de identificar diferentes tipos de alterações que ocorrem em sua própria família e, ao mesmo tempo, observar também as permanências que lhe consentem compreender melhor sua identidade pessoal e do grupo familiar. Como a percepção e a avaliação das mudanças que ocorrem no interior da própria família envolvem uma compreensão da passagem do tempo e das vivências pessoais, enfatizamos aqui o desenvolvimento da capacidade de relacionar lugares e tempos vividos no cotidiano com rotina, medições e marcadores de tempo cronológico para aprender noções de tempo vivido. Roda de conversa Como a família representa a principal via de acesso ao mundo nos primeiros anos de vida da maioria das pessoas, as crianças muitas vezes acabam percebendo a estrutura de seu grupo familiar como algo natural e, portanto, imutável. Ao trabalharmos com as capacidades de pesquisa e comparação da história das famílias e de aprendizagem de noções de tempo vivido, visamos à ampliação dessa compreensão inicial, problematizando o senso comum e historicizando a noção de família como algo que se transforma e se constitui no tempo, com todo cuidado para não ferir o conceito familiar do aluno. 28 Unidade I O ponto de partida para a roda de conversa é a apresentação do vídeo Tainá, uma aventura na Amazônia. A personagem Tainá é órfã e vive com o avô. Ao longo da apresentação do vídeo, o professor destaca a diversidade social que existe, além das famílias ali representadas, que servem de ponto de partida para que os próprios alunos levantem exemplos de diversos tipos de família, colocando assim em evidência que o modelo tradicional é apenas um dentre inúmeras possibilidades de estrutura familiar. Após esse debate inicial, os alunos fazem uma reflexão sobre os desdobramentos temporais da estrutura familiar, como por exemplo, se conhecem situações em que a família aumentou com o nascimento de um bebê e o que pensam sobre essa experiência. Em seguida, converse sobre outras possibilidades de modificações na família com o passar do tempo, como o crescimento das crianças, o envelhecimento dos adultos. Estimule-os ainda a imaginar como era a vida em família décadas atrás. Explique que elas eram mais numerosas, as possibilidades de estudo e trabalho fora do lar eram mais escassas para as mulheres, o que implicava uma dinâmica familiar diferente das famílias em geral em relação às da atualidade. Saiba mais Leitura ALBERGARIA, L. Álbum de família. São Paulo: SM, 2007. O bisavô e a bisavó da personagem Manuela contam que as mulheres usavam chapéu quando saíam para passear e as pessoas do interior tinham o hábito de sentar na varanda e ficar contando e ouvindo histórias até bem tarde. SHELDON, A. Agora sou o irmão mais velho. Tradução de Vinícius Figueira. São Paulo: ARTMED, 2009. Neste livro você vai descobrir fatos interessantes da vida do menino Pedro quando nasce sua irmãzinha. No começo parece difícil, mas com o tempo ele percebe a importância de uma família maior e de ser o irmão mais velho. Atividade 3 – Eu e a escola Desenvolvimento O professor apresenta uma história em quadrinhos sobre uma situação em sala de aula e, após, faz os seguintes questionamentos: 29 METODOLOGIA E PRÁTICA DO ENSINO DE HISTÓRIA E GEOGRAFIA • Na sala de aula onde você estuda existem regras? • Para cada lugar e para cada situação existem regras? • Solicite que os alunos em grupo troquem ideias sobre: — O que podemos e o que não podemos fazer na sala de aula? — O que podemos e o que não podemos fazer na escola? — O que posso e o que não posso fazer em casa? Em seguida, o professor direciona ações como: • registrar as regras que devemos seguir em casa, na sala de aula e na escola para ter um bom convívio com as pessoas; • identificar outros diferentes ambientes que frequenta, como a igreja, o supermercado, o clube, a praia, a rua, a padaria, as lojas, e registrar as regras que devem ser seguidas nesses locais; • organizar um painel ilustrado com as regras que devem ser obedecidas em diferentes locais; • observar fotos antigas de escola, de alunos em sala de aula e comparar as semelhanças e diferenças, como as crianças se vestiam, como se vestem hoje, e registrar; • fazer uma entrevista com uma pessoa da família sobre a escola em que estudava utilizando questionamentos como: que tipos de tarefas realizava na escola; como se vestia para ir à escola; como era o recreio; do quebrincava; que festividades eram realizadas; como era o lanche; como era o professor; como era a roupa do professor; • organizar as respostas das entrevistas, relacionar as semelhantes e as diferentes; • organizar um texto coletivo relatando o que mudou da escola antiga para a escola atual; • pesquisar sobre a História da escola em que você estuda, por meio da coleta de fotografias, convites de formatura, trabalhos de ex-alunos, festividades, entrevistas com ex-alunos e ex- funcionários; • montar uma exposição sobre a história da escola utilizando o material coletado. Fundamentação Nesta atividade, o estudo partirá do espaço da sala de aula, representado pelo ambiente físico (carteiras, quadro, janelas etc.) e social (a relação entre colegas e entre o professor e alunos), estendendo- se para outros espaços do ambiente escolar, como o pátio, a quadra, os banheiros, os corredores, a cantina, entre outros. Nesse sentido, espera-se que o aluno desenvolva a capacidade de conhecer os diferentes espaços pelos quais circula, em particular a sala de aula e a escola. Analisado o espaço, ele deverá perceber as mudanças temporais em sua relação pessoal e social com o ambiente escolar: a cada ano ele avança uma série, pode haver mudança de sala de aula, novos professores, novos colegas. 30 Unidade I Em primeiro lugar, o aluno deve desenvolver sua capacidade de se expressar em relação à escola em que estuda, reconhecendo-a e se deslocando em diferentes espaços. É importante que o aluno compreenda o sentido da educação escolar, saiba reconhecer o que pertence ou não a esse ambiente e desenvolva mais familiaridade com esse meio com o apoio do professor e dos colegas. Em segundo lugar, devemos ter em vista que a realidade do espaço escolar no Brasil é bastante heterogênea. Há escolas públicas e particulares, escolas laicas e confessionais, escolas da zona urbana e da zona rural, escolas de diferentes regiões. As diferenças se entrelaçam com fatores culturais, que ora são causas e ora são efeitos dessas mesmas diferenças. O importante é ajudá-los a perceber que a realidade escolar é ampla e diversificada, e que todos nós somos sujeitos na construção e melhoria desse espaço. Em terceiro lugar, é preciso levar em consideração que a escola é uma realidade dinâmica, está em contínua transformação ao longo do tempo. Uma mesma escola pode sofrer mudanças na sua estrutura física (salas de aula, carteiras, biblioteca, quadras etc.), no quadro de pessoal (professores, funcionários, direção etc.) ou nas concepções pedagógicas adotadas (pedagogia tradicional, tecnicista, construtivista etc.). Diferentes escolas, no presente, podem ter aspectos que as definam como mais avançadas, outras como mais conservadoras, apegadas a práticas pedagógicas do passado. A educação se transforma continuamente, uma vez que se articula com uma realidade social que não para de mudar. Não se pode esperar de um aluno, entre cinco e sete anos de idade, uma capacidade de abstração que dê conta de um entendimento global dessas mudanças, mas a percepção delas em aspectos da realidade escolar se constitui em um primeiro passo para uma compreensão da escola numa perspectiva histórica. Essa percepção é fundamental para que o aluno possa desenvolver a capacidade de conhecer e relacionar as normas e regras de convívio na sala de aula, na escola e em outros locais. Roda de conversa O ponto de partida para a roda de conversa é uma história em quadrinhos que apresente uma situação de normas na sala de aula. Explorar com os alunos os elementos que caracterizam esse espaço específico, bem como as atitudes dos personagens. Perguntar aos alunos quais mudanças observaram em si mesmos, tanto em conhecimentos quanto em hábitos, habilidades e valores, desde o início do ano até o presente. Questione o que os alunos pensam sobre a escola e o propósito de estudarem nela. Faça uma brincadeira com os alunos: recite “Na minha escola tem...”. O aluno seguinte deverá recitar a mesma frase e acrescentar um objeto ou uma pessoa. Por exemplo: “Na minha escola tem carteira e professor”. A cada vez o número de objetos e/ou pessoas aumenta e o aluno deve recitar todos na sequência correta ou sai da brincadeira. Ganha o jogo o último que conseguir recitar todos os objetos e/ ou pessoas sem alterar a sequência correta. Para finalizar, apresente ao grupo os seguintes questionamentos: 31 METODOLOGIA E PRÁTICA DO ENSINO DE HISTÓRIA E GEOGRAFIA • Quais regras e normas devem ser seguidas nos diferentes lugares? • Qual a importância das normas e regras para vivermos em grupo? • Como a escola também mudou ao longo do tempo? Saiba mais Leitura ROSAS, A. Bibi vai para a escola. São Paulo: Scipione, 2005. Conheça a história de Bibi que, no primeiro dia de aula, descobriu como o ambiente escolar pode ser agradável e divertido. ROCHA, R. A escola do Marcelo. 2. ed. São Paulo: Salamandra, 2012. O livro mostra como as atividades escolares nos incentivam a elaborar nossas próprias ideias e desenvolver o raciocínio e a criatividade. Atividade 4 – Eu e a comunidade Desenvolvimento O professor faz a leitura do texto abaixo: “A rua é como um rio. Por ela a vida passa, pulsa, explode em movimento. A rua leva as pessoas como um rio leva seus peixes. Elas vão e vêm para o trabalho, compras, encontros, e voltam para suas casas. Pelas ruas tudo passa em enxurrada. Barulhos, cores, movimento. Mas rua não é casa. Rua é lugar de passagem. Rua é rio aberto. Todo homem, mulher, criança, adolescente, precisa de uma casa para morar com as pessoas que ama. Um lugar onde possam guardar as pequenas e grandes tristezas, as alegrias, as esperanças e onde, no final do dia, possam dormir e sonhar ao abrigo.” Fonte: MURRAY, 1991, p. 15. Em seguida, os alunos realizam ações como: • observar imagens diversas de pessoas e assinalar aquelas que não deveriam estar na rua; 32 Unidade I • registrar o que é ou não é adequado fazer na rua; • observar fotos (antigas e novas) da rua onde está localizada a escola e registrar: como era essa rua antes da escola ser construída; o que mudou ao redor da escola; o que foi preservado; • pesquisar sobre a data da fundação da escola e o nome do primeiro diretor; • pesquisar sobre a origem do nome da escola e investigar quem foi e o que fez a pessoa homenageada; • coletar e registrar informações sobre o bairro onde mora: nome, a origem do nome, tempo que mora no bairro, principal mudança observada nesse tempo; • entrevistar antigos moradores da cidade: como era a cidade, as construções que ainda permanecem, o valor histórico dessas construções, como, onde e de que brincavam as crianças; principais comemorações ou festividades; • comparar os dados coletados anteriormente com a cidade que você conhece hoje. Fundamentação Nesta atividade, trabalha-se a percepção da rua, do bairro e da cidade como espaços onde se estendem as relações sociais vivenciadas em casa e na escola e onde se verificam diferentes modos de vida (hábitos e costumes, moradia, vestuário e utensílios, festas e tradições religiosas etc.). Além da família e da escola, os alunos se relacionam com vizinhos, amigos, prestadores de serviços etc. Essa comunidade pode englobar todo o planeta, uma vez que os atuais meios de comunicação nos permitem ter acesso imediato a notícias e contatos pessoais. No entanto, se nos limitarmos ao espaço próximo do aluno, podemos considerar a rua e o bairro como o meio social com o qual o aluno e seus familiares interagem regularmente. O professor deve conscientizar o aluno sobre os prós e contras encontrados nas ruas, como espaço de socialização, bem como local de marginalidade, e estimular o aluno a buscar sua autonomia intelectual e emocional com equilíbrio. Nesse sentido, a atividade trabalha questões como as referências espaciais e históricas da rua e do bairro, mas alerta também para o descaso com crianças de rua e menores abandonados. A palavra “cidade” remonta à antiguidade clássicae, embora a noção antiga (entendida como o conjunto de pessoas) seja diferente da moderna (enfatiza as construções) é importante trabalhá- la, pois desenvolve o conceito de cidadania. Os grandes centros urbanos tiveram grande impulso nos séculos XVIII e XIX na Europa e no início do século XX no Brasil, em virtude do crescimento acelerado da indústria. Atualmente a atividade industrial continua sendo importante, mas o setor de serviços cresceu consideravelmente, ampliando o número de mão de obra. Se por um lado a cidade tem seus atrativos, por outro tem também seus problemas como poluição, violência, trânsito etc. No entanto, o que registra a História do povo é o patrimônio cultural presente nas cidades. 33 METODOLOGIA E PRÁTICA DO ENSINO DE HISTÓRIA E GEOGRAFIA Roda de conversa O ponto de partida para a roda de conversa é a leitura do texto de Roseana Murray, que servirá como elemento motivador para as discussões sobre o que é a rua, quais suas características, limites e possibilidades. É necessário que o professor atue como mediador para que os alunos sejam capazes de compreender o limite entre a liberdade da rua e os riscos que ela oferece. Explorar com os alunos o registro das pesquisas realizadas sobre o bairro, a cidade e as transformações que podem ocorrer com o passar do tempo. Refletir sobre os documentos históricos como possibilidade de se preservar a História e a memória de um povo e dos acontecimentos de uma época. Saiba mais Leitura ROCHA, R. O bairro do Marcelo. São Paulo: Salamandra, 2012. Este livro apresenta a vida do personagem Marcelo, sua família, seus amigos, colegas da escola e toda a turma da rua. LLEWELLYN, C.; GORDON, M. Tome cuidado na rua. São Paulo: SCIPIONE, 2007. Este livro traz exemplos de regras simples que podem evitar acidentes muito graves. Atividade 5 – Festas e comemorações Desenvolvimento O professor faz a leitura do texto a seguir: “Nas casas coletivas, os telhados das cozinhas ficavam coloridos pelas bacias de tomates que as italianas punham para secar ao sol e depois amassavam para o molho da macarronada dos domingos. Nesse dia, recebiam parentes, tocavam bandolim e acordeão, dançavam músicas alegres, cantavam, bebiam vinho e falavam com estardalhaço, todos ao mesmo tempo. [...] Eu era feliz ali, tinha amigos e liberdade. [...] Atravessávamos ruas de terra, avenidas movimentadas e terrenos baldios cheios de pássaros. [...] Naquela época o rio Tietê não era poluído como hoje. [...] Voltávamos para casa com peixinhos prateados, minúsculos, brilhantes, que ficavam escondidos das mães em vasilhas com água no quintal, 34 Unidade I alimentados com farelo de pão enquanto sobrevivessem. [...] Voltei algumas vezes ao Brás para visitar os amigos, meus avós, meus tios e primos que continuaram lá por mais alguns anos. Mas já não era a mesma coisa.” Fonte: DADAM, 2004. Disponível em: <http://siaibib01.univali.br/pdf/James%20Dadam.pdf>. Acesso em: 18 out. 2012. Após a leitura do texto, o professor propõe ações como: • conversar com os colegas sobre as mudanças que aconteceram nessa comunidade com o passar do tempo; • registrar os hábitos e costumes das pessoas dessa comunidade; • registrar o que acontecia aos domingos nessa comunidade; • falar sobre o que você e sua família costumam fazer aos domingos; • observar imagens antigas e novas do rio Tietê e comparar o que mudou no comportamento das pessoas em relação ao rio; • pesquisar no bairro e na cidade as festividades que existem; • falar sobre alguma comemoração festiva que sua família participa; • pesquisar junto aos seus avós sobre as comemorações que participavam; coletar fotos, objetos, trajes usados por eles e fazer um mural; • pesquisar sobre as festas típicas da sua região e comentar com seus colegas; • pesquisar e registrar sobre as comemorações festejadas na sua escola e compará-las com as festas atuais. Fundamentação No estudo da relação com a comunidade, esta atividade trabalha as questões de pluralidade cultural. E trabalhar tais questões na escola significa caminhar para um reconhecimento e para uma valorização das diferenças culturais, especialmente das minorias étnicas e sociais. Nesse sentido, a escola assume um papel fundamental, enfatizando o respeito às diferenças culturais, sem abrir mão do aprendizado de informações, valores e atitudes que definem a identidade nacional brasileira. O aluno estudará alguns aspectos dos costumes regionais em situações de festas e tradições, partindo do pressuposto de que conhecer o outro, com seus hábitos, crenças, gostos e valores, é o primeiro passo para a valorização e respeito mútuos. A partir desse trabalho, o aluno será capaz de identificar as formas de convívio social, hábitos, festejos e comemorações, antigos ou atuais. A compreensão dessas informações, articulada às vivências do cotidiano, contribuirá para 35 METODOLOGIA E PRÁTICA DO ENSINO DE HISTÓRIA E GEOGRAFIA que o aluno seja capaz de conhecer, valorizar e preservar o patrimônio material existente na rua (bancos de praça, parques, brinquedos em praças públicas, telefone público, quiosques, painéis informativos, pontos de ônibus etc.) e o patrimônio cultural de sua comunidade, assegurando sua preservação (tradições, modo de fazer, costumes etc.). Roda de conversa O ponto de partida para a roda de conversa é a leitura do texto de Dráuzio Varella, pois se refere aos costumes do povo de uma região, ao rio Tietê quando passa pela cidade de São Paulo e a relação das pessoas com o meio ambiente. Enfatiza também as tradições, os hábitos e costumes do cotidiano das pessoas em outros tempos e outros locais. O professor solicita que o aluno exponha oralmente sobre as festividades que costuma participar, quais são as características em relação aos trajes, às comidas servidas, o ritual e quais as suas preferências. Refletir como as festividades são realizadas por diferentes etnias, evidenciando as que estão presentes na sala conforme as origens e tradições dos alunos. O professor deve ampliar a conversa deixando que os alunos falem o que sabem a respeito das origens dos familiares, pois nosso país é formado por povos com diferentes etnias, e essa diversidade cultural oferece contribuições em todas as áreas. Saiba mais Leitura SANTA ROSA, N. S. Usos e costumes. São Paulo: Moderna, 2001. O livro relata como os nossos usos e costumes foram criados e desenvolvidos a partir dos costumes dos indígenas, dos portugueses, dos africanos e de todos os imigrantes que vieram para o Brasil. Site <http://meninomaluqinho.educacional.com.br/PaginaExtra/default. asp?id=1188>. De forma breve o Menino Maluquinho, personagem criado pelo cartunista Ziraldo, mostra como é a festa junina. 36 Unidade I Segundo ano Ao término do segundo ano letivo, os alunos deverão ter alcançado os seguintes objetivos específicos: • reconhecer processos de transformação e permanência na própria família e no grupo social em que vive; • observar, conhecer e registrar a História do bairro usando as diferentes fontes históricas (escritas, orais, fotos, pinturas, desenhos, músicas etc.); • conhecer os diferentes meios de transporte à disposição do homem, o trânsito, percebendo suas transformações ao longo do tempo, bem como seu impacto na vida cotidiana; • conhecer os meios de comunicação à disposição do homem, percebendo suas transformações ao longo do tempo, bem como seu impacto na vida cotidiana; • Identificar hábitos da comunidade e de outras localidades e culturas (sociedade indígena, afro-brasileira etc.) em diferentes ocasiões cotidianas e festivas; • conhecer e respeitar as leis e normas da sociedade (Estatuto da Criança e do Adolescente, Lei dos Direitos Humanos, Estatuto do Idoso etc.). Atividade 1 – Eu e os meios de comunicação Desenvolvimento • pesquisar sobre a origem do telefone e escrever um texto falando sobre seu inventor e da vinda dos primeiros aparelhos ao Brasil; • reunir-se com os colegas e conversar sobre
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