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1 Faculdade Borges de Mendonça Professor: Sérgio Pereira do Espírito Santo CONTABILIDADE PÚBLICA ORÇAMENTO PÚBLICO O Orçamento público é o instrumento de gestão de maior relevância da administração pública. Os governos utilizam para organizar os recursos financeiros. No Brasil é uma lei constitucionalmente prevista que estima a receita e fixa a despesa para um exercício, portanto, as despesas só poderão ser realizadas se forem fixadas ou incorporadas ao orçamento por meio de créditos adicionais. No orçamento público estão estabelecidos os programas de trabalho do governo, os quais devem atender e beneficiar toda a sociedade, tais como os seguintes na esfera federal: Transporte Ferroviário (Ministério dos Transportes); Educação Superior (Ministério da Educação); Segurança Pública (Ministério da Justiça); Saneamento Básico (Ministério da Saúde) etc. Na elaboração do orçamento há necessidade de estabelecer-se as fontes de receitas, ou seja, de onde virão os recursos a serem utilizados na implantação dos programas. Assim, o orçamento público possibilita ao gestor elaborar e apresentar o programa de trabalho que deve basear-se na política de Estado, e não no seu desejo particular, bem como seguir o que está representado na Bandeira Nacional: “Ordem e Progresso”. PRINCÍPIOS ORÇAMENTÁRIOS Para a elaboração do orçamento público há necessidade de atender-se os princípios orçamentários, os quais visam estabelecer regras básicas, a fim de conferir racionalidade, eficiência e transparência aos processos de elaboração, execução e controle do orçamento público. Válidos para os Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário de todos os entes federativos - União, Estados, Distrito Federal e Municípios -, são estabelecidos e disciplinados tanto por normas constitucionais e infraconstitucionais, quanto pela doutrina. PRINCÍPIO DA UNIDADE (TOTALIDADE) De acordo com este princípio, o orçamento deve ser uno, ou seja, cada ente governamental deve elaborar um único orçamento. Este princípio é mencionado no caput do art. 2º da Lei nº 4.320, de 1964, e visa evitar múltiplos orçamentos dentro de uma mesma esfera (federal, estadual e municipal). Art. 2° A Lei do Orçamento conterá a discriminação da receita e despesa de forma a evidenciar a política econômica financeira e o programa de trabalho do Governo, obedecidos os princípios de unidade, universalidade e anualidade. (Lei nº 4.320/1964) Dessa forma, todas as receitas previstas e despesas fixadas, em cada exercício financeiro, devem integrar um único documento legal dentro de cada nível federativo, denominado de lei orçamentária anual (LOA). Em cada ano a União terá uma lei orçamentária anual, cada Estado terá a sua LOA e cada município também terá a sua, portanto, anualmente cada ente da Federação elaborará a sua própria LOA. Então, no Brasil, para cada exercício financeiro há 1 (uma) LOA federal, 26 estaduais, 1 (uma) distrital e 5.570 municipais. A lei orçamentária anual apresenta a consolidação (totalização) do orçamento fiscal (o que apresenta o maior volume de recursos, principalmente oriundos dos impostos), do orçamento da seguridade social (reúne os recursos destinados à saúde, previdência social e assistência social) e do orçamento das empresas estatais (apresenta os investimentos das empresas públicas e das sociedades de economia mista). PRINCÍPIO DA UNIVERSALIDADE Segundo este princípio, a LOA de cada ente federado deverá conter todas as receitas e todas as despesas de todos os Poderes, órgãos, entidades, fundos e fundações instituídas e mantidas pelo poder público. Este princípio é mencionado no caput do art. 2º da Lei nº 4.320, de 1964, recepcionado e normatizado pelo § 5º do art. 165 da CF. Art. 2° A Lei do Orçamento conterá a discriminação da receita e despesa de forma a evidenciar a política econômica financeira e o programa de trabalho do Governo, obedecidos os princípios de unidade, universalidade e anualidade. (Lei nº 4.320/1964) 2 Este princípio possibilita conhecer e controlar as despesas que serão realizadas (pessoal, encargos sociais, juros e encargos da dívida pública, medicamentos, obras, amortização da dívida etc.) e seu montante, bem como determinar o volume de receitas necessárias para o atendimento das despesas públicas e sua origem (impostos, taxas, contribuições, multas etc.). PRINCÍPIO DA ANUALIDADE (PERIODICIDADE) Conforme este princípio, o exercício financeiro é o período de tempo ao qual se referem a previsão das receitas e a fixação das despesas registradas na LOA. Este princípio é mencionado no caput do art. 2º da Lei nº 4.320, de 1964. Segundo o art. 34 dessa lei, o exercício financeiro coincidirá com o ano civil (1º de janeiro a 31 de dezembro). Art. 2° A Lei do Orçamento conterá a discriminação da receita e despesa de forma a evidenciar a política econômica financeira e o programa de trabalho do Governo, obedecidos os princípios de unidade, universalidade e anualidade. (Lei nº 4.320/1964) PRINCÍPIO DA DISCRIMINAÇÃO (ESPECIALIZAÇÃO OU ESPECIFICAÇÃO) As receitas e as despesas devem aparecer no orçamento de maneira discriminada, de tal forma que se saiba, pormenorizadamente, a origem dos recursos bem como onde serão aplicados. Não se admite dotações globais e sim apresentadas de maneira mais analítica possível, o que tende a tornar mais fácil a administração do orçamento, bem como o controle pelo próprio órgão ou por outros como o legislativo, os Tribunais e Contas, as organizações não governamentais etc. Este princípio pode ser observado na legislação brasileira: A Lei de Orçamento não consignará dotações globais destinadas a atender indiferentemente a despesa de pessoal, material, serviços de terceiros, transferências ou quaisquer outras, [...]. (Art. 5º, Lei nº 4.320/1964) Os vários níveis de classificação possibilitam atender à diversas necessidades de informações, por diversos escalões, conforme exemplos a seguir: PRINCÍPIO DA LEGALIDADE Apresenta o mesmo fundamento do princípio da legalidade aplicado à administração pública, segundo o qual cabe ao Poder Público fazer ou deixar de fazer somente aquilo que a lei expressamente autorizar, ou seja, se subordina aos ditames da lei. A Constituição Federal de 1988, no art. 37, estabelece os princípios da administração pública, dentre os quais o da legalidade e, no seu art. 165, estabelece a necessidade de formalização legal das leis orçamentárias: Art. 165. Leis de iniciativa do Poder Executivo estabelecerão: I – o plano plurianual; II – as diretrizes orçamentárias; III – os orçamentos anuais. POR FUNÇÃO DE GOVERNO – RECURSOS TOTAIS 10 – Saúde .... R$ 300.183.330,00 11 – Trabalho. R$ 17.978.200,00 12 – Educação R$ 390.950.948,00 POR CLASSIFICAÇÃO ECONÔMICA DA DESPESA 1 – DESPESAS CORRENTES R$ 660.663.257,00 1.1 – Pessoal e Encargos Sociais R$ 314.938.192,00 1.2 – Juros e Encargos da Dívida R$ 2.209.500,00 1.3 – Outras Despesas Correntes R$ 343.515.565,00 2 – DESPESAS DE CAPITAL R$ 648.354.549,00 [...] 3 Entende-se então, a partir da Constituição Federal, de que os orçamentos, em todos os níveis de governo, devem ser estabelecidos por lei. A elaboração do orçamento é de iniciativa do Poder Executivo e aprovado pelo Poder Legislativo, como o exemplo a seguir. LEI Nº 9264, DE 26 DE JUNHO DE 2013. APROVA O PLANO PLURIANUAL DO MUNICÍPIO DE FLORIANÓPOLIS PARA O PERÍODO COMPREENDIDO ENTRE OS EXERCÍCIOS DE 2014 A 2017 PRINCÍPIO DA TRANSPARÊNCIA Aplica-se também ao orçamento público, pelas disposições contidas nos arts. 48, 48-A e 49 da Lei de Responsabilidade Fiscal – LRF, que determinam ao governo, por exemplo: divulgar o orçamento público de forma ampla à sociedade; publicar relatórios sobre a execução orçamentária e a gestão fiscal; disponibilizar, para qualquer pessoa, informaçõessobre a arrecadação da receita e a execução da despesa. Para atender o princípio da transparência não basta a publicação, mas sim apresentar as informações de maneira mais compreensível possível. Art. 48. São instrumentos de transparência da gestão fiscal, aos quais será dada ampla divulgação, inclusive em meios eletrônicos de acesso público: os planos, orçamentos e leis de diretrizes orçamentárias; [...]. (Lei Complementar nº 101/2000 – LRF) PRINCÍPIO DA PUBLICIDADE Princípio básico da atividade da administração pública no regime democrático e que constitui requisito de eficácia dos atos administrativos. Está previsto no caput do art. 37 da Magna Carta de 1988. Justifica-se especialmente pelo fato de o orçamento ser fixado em lei, sendo esta a que autoriza aos Poderes a execução de suas despesas. Para que o orçamento seja executado precisa ser publicado no respectivo Diário Oficial, da União, do Estado, do Distrito Federal ou do Município. Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência [...] (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 19, de 1998) PRIINCÍPIO DA EXCLUSIVIDADE O princípio da exclusividade, previsto no § 8º do art. 165 da CF, estabelece que a LOA não conterá dispositivo estranho à previsão da receita e à fixação da despesa. Ressalvam-se dessa proibição a autorização para abertura de créditos suplementares e a contratação de operações de crédito, ainda que por antecipação da receita orçamentária (ARO), nos termos da lei. § 8º A lei orçamentária anual não conterá dispositivo estranho à previsão da receita e à fixação da despesa, não se incluindo na proibição a autorização para abertura de créditos suplementares e contratação de operações de crédito, ainda que por antecipação de receita, nos termos da lei. O objetivo deste princípio é evitar que matérias não relacionadas ao orçamento sejam aprovadas na mesma lei. Para dar mais flexibilidade à execução orçamentária, a lei autoriza o Poder Executivo a abrir crédito adicional, até um determinado percentual, e realizar algumas alterações na LOA sem a necessidade de encaminhar ao Poder Legislativo para aprovação. PRINCÍPIO DO ORÇAMENTO BRUTO O princípio do orçamento bruto, previsto no art. 6º da Lei nº 4.320, de 1964, preconiza o registro das receitas e despesas na LOA pelo valor total e bruto, vedadas quaisquer deduções. Art. 6º Todas as receitas e despesas constarão da Lei de Orçamento pelos seus totais, vedadas quaisquer deduções. Exemplo: na elaboração da proposta orçamentária da União estima-se que o município de Barbeirinho deverá receber, no ano seguinte, o montante R$ 2,0 milhões referentes à transferência constitucional como parte da http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/Emendas/Emc/emc19.htm#art3 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/Emendas/Emc/emc19.htm#art3 4 arrecadação do imposto de renda (IR) e do imposto sobre a produção industrial (IPI). Entretanto, o mesmo município deve R$ 500 mil à União, decorrentes de empréstimos e juros incorridos. Neste caso, a União não poderá deduzir a dívida do município, isto é, não deverá incluir no orçamento somente a transferência de R$ 1,5 milhão. Na proposta orçamentária deverá constar como despesa a transferência constitucional de R$ 2,0 milhões ao município de Barbeirinho e como receita de amortização de empréstimos e de juros o valor de R$ 500 mil a serem recebidos do mesmo município. Conclusão: a condição devedor/credor ocorre tendo em vista a repartição tributária, nas quais os municípios têm direito ao recebimento de parte da arrecadação do imposto de renda (IR) e do imposto sobre a produção industrial (IPI), entretanto também são devedores em decorrência de empréstimos tomados do governo federal. PRINCÍPIO DA NÃO VINCULAÇÃO DA RECEITA DE IMPOSTOS Estabelecido pelo inciso IV do art. 167 da CF, este princípio veda a vinculação da receita de impostos a órgão, fundo ou despesa, salvo exceções estabelecidas pela própria CF. Art. 167. São vedados: [...] IV - a vinculação de receita de impostos a órgão, fundo ou despesa, ressalvadas a repartição do produto da arrecadação dos impostos a que se referem os arts. 158 e 159, a destinação de recursos para as ações e serviços públicos de saúde, para manutenção e desenvolvimento do ensino e para realização de atividades da administração tributária, como determinado, respectivamente, pelos arts. 198, §2º, 212 e 37, XXII, e a prestação de garantias às operações de crédito por antecipação de receita, previstas no art. 165, §8º, bem como o disposto no §4º deste artigo; (Redação dada pela Emenda Constitucional no 42, de 19.12.2003); [...] §4º É permitida a vinculação de receitas próprias geradas pelos impostos a que se referem os arts. 155 e 156, e dos recursos de que tratam os arts. 157, 158 e 159, I, a e b, e II, para a prestação de garantia ou contragarantia à União e para pagamento de débitos para com esta. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 3, de 1993). PRINCÍPIO DO EQUILÍBRIO Na elaboração do orçamento público deve haver equilíbrio financeiro entre receita e despesa. No ordenamento jurídico brasileiro esse princípio é acolhido pelo artigo Art. 7°, inciso II, a Lei nº 4.320/64: § 1º Em casos de déficit, a Lei de Orçamento indicará as fontes de recursos que o Poder Executivo fica autorizado a utilizar para atender a sua cobertura. É importante que se gaste apenas aquilo que se possui, por este motivo o montante das despesas fixadas não deve ultrapassar o montante das receitas previstas. O déficit existente nas contas públicas é coberto pelas operações de crédito (empréstimos e financiamentos) que são classificadas tanto como de longo prazo, aquelas contratados para a realização de obras e aquisição de bens do imobilizado de grande valor, quanto de curto prazo, nas operações de recomposição do caixa, as quais acabam por se transformar obrigações de longo prazo pela constante rolagem por meio de colocação de títulos e obrigações emitidos pelos tesouros nacionais, estaduais e municipais. Segundo o art. 167, III, é vedada a realização de operações de crédito que excedam o montante das despesas de capital, o que faz com que cada unidade governamental tenha seu endividamento vinculado apenas à realização de investimentos e não à manutenção da máquina administrativa e outras despesas correntes. Referências BRASIL. Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão. Secretaria de Orçamento Federal. Manual técnico de orçamento MTO. Versão 2013. Brasília, 2012. GIACOMONI, James. Orçamento público. 13. ed., São Paulo : Atlas, 2005. MANUAL DE CONTABILIDADE APLICADA AO SETOR PÚBLICO: parte I – procedimentos contábeis orçamentários. Ministério da Fazenda - Secretaria do Tesouro Nacional.
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