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VISÕES DOUTRINÁRIAS CONTEMPORÂNEAS SOBRE A 
DESOBEDIÊNCIACIVIL 
 
HANNAH ARENDT E A ASSOCIAÇÃO VOLUNTÁRIA 
 
 
Avançando-se ao Século XX, entrando no período histórico das guerras mundiais 
e da guerra fria, tem-se o pensamento político de Hannah Arendt. A autora tem uma obra 
política vasta e também teorizou sobre desobediência civil. Hannah Arendt não concorca com 
Thoreau e seu individualismo, pois este seria permeado por subjetividades e a ação política se 
preocuparia com interesse público e não somente com o “Eu” individual.107 
 
Na relação que traça entre a lei e a razão de sua obediência, dirá que, 
diferentemente de autores como Kant e Rosseau, a aceitação da norma advêm de uma 
associação voluntária e não de uma simples submissão voluntária, a qual denotaria apenas 
um aspecto passivo com relação as leis. Para Arendt, a população deveria consentir com as 
normas mas não apenas pelo lado passivo da questão, ou seja, tal consentimento deveria se 
expressar na aceitação das regras e na participação ativa do cidadão na vida da comunidade. 
108 
 
 
 
Seria exatamente “com embasamento na extrema necessidade deste tipo de 
consentimento por parte de cada indivíduo ao ingressar em uma comunidade que Hannah 
Arendt justifica o direito à desobediência civil”.109 Sobre a associação voluntária ela não seria 
“um consentimento de aquiescência, mas por meio da participação ativa e contínua dos 
cidadãos “em todos os assuntos de interesse público”110 
Os atos de desobediência às leis seriam “atos de reivindicação legítimos 
praticados por determinadas minorias injustiçadas por uma lei ou política governamental 
específica, buscando uma conscientização da maioria para sua causa”.111 Portanto, nesta 
toada, Hannah Arendt entendia que a desobediência civil surge quando: 
 
107 BONINI, Marcelo Casteli A Desobediência Civil como condição histórica de exercício e produção de 
sujeitos político-culturais, Dissertação apresentada ao Programa de Mestrado em Ciência Jurídica do Centro de 
Ciências Sociais Aplicadas do Campus de Jacarezinho da Universidade Estadual do Norte do Paraná (UENP), 
Jacarezinho, 2010, p. 39. 
108 Ibdem, p.41. 
109 Ibdem, p.42. 
110 Ibdem,p.41-42. 
111 Ibdem, p.44. 
30 
 
 
“Um número significativo de cidadãos se convence de que, ou os canais normais 
para mudanças não funcionam, e as queixas não serão ouvidas nem terão qualquer 
efeito, ou então, pelo contrário, o governo está em vias de efetuar mudanças e se 
envolve e persiste em modos de agir cuja legalidade e constitucionalidade estão 
expostas a graves dúvidas.”112 
 
Portanto, depreende-se do dito acima, que a desobediencia civil para a autora seria 
um ato coletivo, não violento, que vai na contramão da vontade da maioria, sendo um 
instrumento utilizado pela minoria, munida da opinião comum dos seus integrantes que se 
convenceram que os canais normais de mudança não surtirão efeitos ou que o governo está 
empreendendo atos de constitucionalidade duvidosa. 
 
Pelo fato de não se utilizar de violência se diferenciaria da ação revolucionária113 
e pelo fato de ser uma ação coletiva se diferenciaria da objeção de consciência pelo fato desta 
ser um ato individual.114 
 
Ela seria um atributo da cidadania115, sendo inerente ao agir do povo no espaço 
público, dotada de plena publicidade116, que deveria, aos olhos da autora, ter respaldo 
constitucional117 mesmo sendo uma ação extra legal118. Porém, ela não seria apenas um 
instrumento para controlar a constitucionalidade das disposições normativas do Estado, “o 
contestador objetiva ter seus direitos respeitados, para isso desobedece a lei, quando esta 
desrespeita seus direitos, justifica seu ato por amparar-se na própria constituição ou leis e 
princípios que permanecem imutáveis através do tempo.”119 
 
 
112 ARENDT, Hannah. Crises da República. Tradução de José Volkmann. 2ª ed. São Paulo: Perspectiva, 
2004,p.68 Apud. SEIXAS, R. L. da R. (2019). Desobediência Civil e Cidadania Participativa em Hannah 
Arendt. Aufklärung: Revista De Filosofia, 6(1), Universidade Federal da Paraíba (UFPB), João Pessoa, Paraíba, 
p.65-76. Disponível em: https://periodicos.ufpb.br/index.php/arf/article/view/42937. Acessado em 
02/05/2020. 
113SEIXAS, R. L. da R. (2019). Desobediência Civil e Cidadania Participativa em Hannah 
Arendt. Aufklärung: Revista De Filosofia, 6(1), Universidade Federal da Paraíba (UFPB), João Pessoa, Paraíba, 
p.69. Disponível em: https://periodicos.ufpb.br/index.php/arf/article/view/42937. Acessado em 02/05/2020. 
114 Ibdem, p.67-68. 
115CARDOSO, Silvio Cesar Gomes Hannah Arendt: Desobediência Civil e Liberdade Dissertação (Mestrado) 
— Programa de Pós-Graduação em Filosofia, Instituto de Filosofia, Sociologia e Política, Universidade Federal 
de Pelotas, Rio Grande do Sul, 2017, p. 35-41. 
116 SEIXAS, R. L. da R. (2019), Op. Cit., p.68. 
117 BONINI, Marcelo Casteli A Desobediência Civil como condição histórica de exercício e produção de 
sujeitos político-culturais, Dissertação apresentada ao Programa de Mestrado em Ciência Jurídica do Centro de 
Ciências Sociais Aplicadas do Campus de Jacarezinho da Universidade Estadual do Norte do Paraná (UENP), 
Jacarezinho, 2010, p.41. 
118 SEIXAS, R. L. da R., Op. Cit., p.67. 
119 Ibdem, p.69. 
31 
Além disso, somente poderia ser utilizada quando comprovadamente o povo já 
não poderia utilizar-se dos meios institucionais para a resolução da controvérsia.120 Ela seria 
voltada “para a mudança do status quo, a fim de resgatar a capacidade de agir 
conjuntamente, de refundar uma comunidade política e de reafirmar ou revitalizar suas 
promessas.”.121 Assim, portanto, a desobediência civil seria caracterizada pela autora como 
“ação política e forma de participação cidadã democratica direta, que não se contrapõe ou 
exclui a democracia representativa mas ao contrário atua em seu fortalecimento”.122 
 
Ainda nesta toada, Doglas Cesar Lucas dirá que Hannah Arendt reconhece “a 
desobediência civil como reafirmação da obrigação político-jurídica capaz de regenerar a 
faculdade de agir, de participar do processo de tomada de decisões políticas e, dessa 
maneira, impedir a degeneração da lei e a corrosão do poder político.”123 
 
Por derradeiro, quanto as punições aos desobedientes a autora irá além de 
Habermas e de Rawls. Estes se contentaram em explicitar que os desobedientes deveriam 
receber atitudes mais tolerantes por parte do poder público, porém a autora vai além. Ao invés 
de uma mera tolerância deveria-se criar um nicho constitucional para a desobediência civil 
(como dito acima) e, além disso, aos desobedientes deveria ser dado o direito de auxiliar e 
influenciar o próprio Congresso nacional do país.124 Portanto, não bastava a “frágil garantia 
de não serem tratados como criminosos comuns, encontraríamos em Arendt a defesa de que a 
esses mesmos cidadãos seja dado acesso aos processos políticos institucionalizados.”125 
 
 
120 ILIVITZKY, M. E. La desobediencia civil: aportes desde Bobbio, Habermas y Arendt CONfines relacion. 
internaci. ciencia política, Monterrey , v. 7, n. 13, p. 15-47, maio de 2011. P.34. Disponível em: 
<http://www.scielo.org.mx/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1870-35692011000100002>. Acessado em 
02/05/2020. 
121 CARVALHO, J. B. C. L. de. A Desobediência Civil no pensamento político de Hannah Arendt: Um 
direito fundamental Espaço Jurídico Journal of Law [EJJL],v. 13, n. 1, p. 55-66, jan./jun. 2012, Joaçaba (SC), 
p.64. Disponível em: <https://portalperiodicos.unoesc.edu.br/espacojuridico/article/view/1420>. Acessado em 
02/05/2020. 
122 SEIXAS, R. L. da R. (2019). Desobediência Civil e Cidadania Participativa em Hannah 
Arendt. Aufklärung: Revista De Filosofia, 6(1), Universidade Federal da Paraíba (UFPB), João Pessoa, Paraíba, 
p.69. Disponível em: https://periodicos.ufpb.br/index.php/arf/article/view/42937. Acessado em 02/05/2020. 
123 LUCAS, Doglas Cesar; A Desobediência Civilna Teoria Jurídica de Ronald Dworkin, Revista de Direitos 
Fundamentais e Democracia, v. 16, n. 16, julho/dezembro de 2014, Curitiba, 2014, p.120. Disponível em: < 
https://revistaeletronicardfd.unibrasil.com.br/index.php/rdfd/article/view/591 > Acessado em: 21/11/2020. 
124 SILVA, Felipe Gonçalves Desobediência Civil e o aprofundamento da democracia Pensando – Revista de 
Filosofia Vol. 9, Nº 18, 2018, P.205-206. Universidade Federal do Piauí (UFP) Departamento de Filosofia, 
Programa de pós graduação em filosofia. Disponível em: 
<https://revistas.ufpi.br/index.php/pensando/issue/view/Vol.%209%2C%20n.18%2C%202018/showToc> 
Acessado em 02/05/2020. 
125 Ibidem, p.206. 
http://www.scielo.org.mx/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1870-35692011000100002
32 
NORBERTO BOBBIO E AS TIPOLOGIAS DA RESISTÊNCIA 
 
 
Igualmente no século XX, nascido em 1909 em Turim, na Italia126, Norberto 
Bobbio escreveu sobre resistência aos governos instituídos e suas leis em várias partes de suas 
obras (notadamente em “Era dos Direitos”, “Teoria Geral da Política” e “Terceiro Ausente”). 
 
Matías Esteban, docente e investigador da faculdade de Ciências Sociais da 
Universidade de Buenos Aires, dissertando sobre Bobbio, dirá que a desobediência civil para 
o autor seria uma categoria da resistência (por seu caráter prático), originando-se, de uma falta 
no processo de constitucionalização de determinados mecanismos de controle ao abuso de 
poder na sociedade, como por exemplo, a consagração institucional da oposição e do sufrágio 
universal (voto).127 Nesse contexto, sua utilização é fruto das baixas taxas de participação 
popular nas democracias contemporâneas, seja porque haja uma baixa motivação dos 
participantes, seja em decorrência da diminuição da capacidade de realização das políticas 
públicas exigidas pelo eleitorado por parte dos governantes.128 
 
Dirá Matías Esteban que Bobbio reconhece que a teoria da desobediência civil 
sofreu variações ao longo da história, sendo em um momento resistência com usa da força, 
classificada como ativa e sem o uso da força, classificada como passiva. Norberto Bobbio 
apoia a variação sem violência, uma vez que estabelece que uma sociedade não violenta deve 
ser alcançada igualmente por práticas pacíficas. Também vai classifica-lá como um ato 
político distinguindo também a desobediência civil de outros tipos pacíficos de pressão 
exercidos por indivíduos isolados. Nesse contexto, conclui que as ações de desobediência 
passiva são tomadas não apenas de maneira coletiva, como também são medidas 
primordialmente concernentes a grupos oriundos à base da sociedade. 129 
 
Segundo Matías Esteban, para Bobbio, a desobediência civil tem um caráter 
inovador, pois é a forma que os cidadãos têm de demonstrar o seu descontentamento com as 
disposições constitucionais, consideradas por eles injustas, ilegítimas ou inválidas. Além 
disso, a desobediência civil aspira ao máximo de publicidade possível, de maneira a conseguir 
126 VANNUCHI, Paulo. Bobbio, a trajetória de um questionador. Lua Nova, São Paulo , n. 53, p. 69-97, 
2001, p.70. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102- 
64452001000200004> Acessado em 22 de Abril de 2020. 
127 Ibdem, p.18-19. 
128 Ibdem,p. 19. 
129 Ibdem,p. 19. 
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-
33 
a adesão de outros cidadãos daquela mesma sociedade em que o protesto é realizado.130 
Bobbio chegará a afirmar em “O terceiro Ausente” que aqueles que se recusam a seguir esse 
tipo de norma, dentro deste contexto, creem possuir uma relação especial com os 
legisladores.131 
 
Segundo Matías Esteban, Bobbio reconhece oito tipos de conduta cidadão frente à 
lei (em grau decrescente de acatamento): 1) Obediência Conforme; 2) Obséquio Formal; 3) 
Evasão oculta; 4) Obediência passiva; 5) Objeção de Consciência; 6) Desobediência Civil; 7) 
Resistência passiva; 8) Resistência ativa.132A desobediência civil se encontra em um ponto 
intermediário entre as formas de rebeldia frente ao sistema normativo — entre a obediência 
passiva, em que o indivíduo infringe apenas eventualmente a lei, e a resistência ativa, próxima 
à ação revolucionária.133 
 
Segundo Matías Esteban, a desobediência civil para Bobbio é uma ação 
comissiva, uma vez que pressupõe uma conduta que se encontra fora da lei com o fim de 
protestar contra ela. É, também, coletiva, pacífica, uma vez que se diferencia da ação 
revolucionária, é parcial, pois aspira modificar uma disposição específica que se considera em 
contrariedade com o resto do Direito e é passiva, pois se encontra explicitamente em 
contraposição às normas vigentes devendo ser sancionada. Apesar de questionar as normas, 
porém, aceita que são as leis que devem reger o comportamento público e privado.134 
 
Segundo Matías Esteban, para Bobbio, a desobediência civil impede a 
perpetuação de despotismos e ditaduras também servindo de uma forma de manter a 
qualidade do governo.135 Seria, em última instância, um ato de virtude cívica por parte dos 
cidadãos daquela sociedade.136 
 
 
 
130 VANNUCHI, Paulo. Bobbio, a trajetória de um questionador. Lua Nova, São Paulo , n. 53, p. 69-97, 
2001, p.20. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102- 
64452001000200004> Acessado em 22 de Abril de 2020. 
131 ILIVITZKY, Matías Esteban. La desobediencia civil: aportes desde Bobbio, Habermas y 
Arendt. CONfines relacion. internaci. ciencia política, Monterrey , v. 7, n. 13, p. 15-47, mayo 2011, p.20. 
Disponível em: <http://www.scielo.org.mx/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1870-35692011000100002> 
Acessado em 22 de Abril de 2020. 
132 Ibdem,p.20. 
133 Ibdem,p.21. 
134 Ibdem,p.21. 
135 Ibdem,p.22. 
136 Ibdem,p.22. 
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-
http://www.scielo.org.mx/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1870-35692011000100002
34 
Por outro lado, consultando os textos de Sílvia Alves, professora da Universidade 
de Lisboa, a Desobediência Civil para Bobbio seria uma ação omissiva, coletiva, pública e 
pacífica, às vezes não parcial e às vezes não passiva. Dirá a autora que, para Bobbio “A 
desobediência civil é omissiva, coletiva, pública, pacífica, não necessariamente parcial 
(como ocorreu com Gandhi) e não necessa-riamente passiva (as cam-panhas contra a 
discriminação tendem a não reconhecer ao Estado o direito de punir)”.137 Coloca também a 
citação de Gandhi que Bobbio faz em “O Terceiro Ausente”, estabelece três aspectos 
importantes e característicos da desobediência Civil que seriam a aceitação da sanção, o 
respeito a autoridade e a “ invocação de uma lei superior ou de um padrão maior que permite 
aferir a validade ou até a existência da lei a que se opõem os desobedientes.”138 
 
Em contato com as fontes primárias, notadamente “o terceiro ausente”, 
“resistência a opressão hoje” – presente tanto em “A era dos direitos” como em “teoria geral 
da política” e a parte que é intitulada “Desobediência Civil” presente em seu “dicionário de 
política” parece que as divergências se justificam, notadamente no ponto da classificação da 
Desobediência Civil como Comissiva ou Omissiva e estritamente passiva ou apenas às vezes 
passiva. Sílvia parece fazer jus mais a literalidade do texto quando estabelece que a 
Desobediência Civil para Bobbio não necessariamente seria sempre passiva. Nesse sentido há 
trecho específico em “o terceiro ausente”: 
 
Chegando à desobediência Civil, tal como é com frequencia concebida na filosofia 
política contemporrânea, que toma como modelo as grandes campanhas não- 
violentas de Gandhi ou as campanhas pela abolição das discriminações raciais nos 
Estados Unidos, ela é omissiva, coletiva, pública, pacífica, não necessariamente 
parcial ( a ação de Gandhi foi certamente uma ação revolucionária) e não 
necessariamente passiva ( as grandes campanhas contra a discriminação racial 
tendem a nãoreconhecer ao Estado o direito de punir os pretensos criminosos de 
lesa discriminação).139 
 
Essa interpretação mais literal parece ser acertada também na questão da 
classificação como não necessariamente parcial, visto que mais a frente, ao distinguir 
desobediência de constestação, Bobbio estabelece que a desobediencia, “uma vez que exclui a 
 
 
137 ALVES, Sílvia. Desobediência Civil E Democracia Civil Disobedience And Democracy Revista Duc In 
Altum Cadernos de Direito, Faculdade Damas,Recife, vol. 7, nº11, jan.-abr. 2015, p.56. Disponível em: < 
https://faculdadedamas.edu.br/revistafd/index.php/cihjur/index > Acessado em 16/11/2020. 
138 Ibdem, p.57. 
139 BOBBIO, Norberto, O Terceiro Ausente: Ensaios e discursos sobre a paz e a guerra, organização: Pietro 
Polito, Préfácio a edição brasileira: Celso Lafer, Revisão técnica do texto de Bobbio: Frederico Diehl e 
Valdemar Bragheto Junqueira, Tradução: Daniela Versiani, editora Manole, Barueri, São Paulo, 2009, p.104. 
35 
obediência, constitui um ato de ruptura contra o ordenamento ou parte dele”140 (podendo, 
portanto, ser parcial ou não). 
 
Não pareceu acertado, contudo, estabelecer que, pela citação de Gandhi, Bobbio 
estaria concordando que a desobediência civil teria como três características principais a 
aceitação da sanção, o respeito a autoridade e a invocação de uma lei superior ou de um 
padrão maior, visto que a citação é feita no contexto de explicação de uma das formas de 
justificação da desobediência civil, qual seja, sua justificação de natureza religiosa e, 
posteriormente, justificação pelo direito natural (lei moral) e Bobbio parece que não 
estabelece posição nesse trecho, apenas estabelece que uma das principais fontes de 
justificação foi a religiosa e que Gandhi tomou partido dela.141 
 
Matías classifica a Desobediência Civil para Bobbio como comissiva nos 
seguintes termos: “es una acción comisiva, ya que busca realizar algo que se encuentra por 
fuera de la ley con el fin de hacer manifiesta la protesta contra aquella”.142 Entretanto, não é 
essa a definição de comissivo dada por Bobbio nas tipologias que trabalha em “o terceiro 
ausente”. Em verdade a busca de realizar algo que se encontra fora da lei poderia ser tanto 
fazendo o que ela proibe ou não fazendo o que é comandado. 
 
Feitas tais considerações, parece mais acertado, estabelecer que, para Bobbio, ela 
não seria necessariamente passiva (como em certos casos de discriminação racial) e não 
necessariamente parcial (como no caso de Gandhi) e que ela poderia ser caracterizada como 
omissiva pela leitura de seu texto intitulado “desobediência civil” em seu livro “o terceiro 
ausente”.143 Isso é reforçado com sua constantação de que esta seria uma forma de resistência 
pacífica e por sua observação de que “(note-se que a passagem da ação não violenta para a 
ação violenta coincide muitas vezes com a passagem da ação omissiva para a ação 
comissiva)”.144 
 
140 BOBBIO, Norberto, O Terceiro Ausente: Ensaios e discursos sobre a paz e a guerra, organização: Pietro 
Polito, Préfácio a edição brasileira: Celso Lafer, Revisão técnica do texto de Bobbio: Frederico Diehl e 
Valdemar Bragheto Junqueira, Tradução: Daniela Versiani, editora Manole, Barueri, São Paulo, 2009, p. 
106/107. 
141 Ibdem, p.108. 
142 ILIVITZKY, Matías Esteban. La desobediencia civil: aportes desde Bobbio, Habermas y 
Arendt. CONfines relacion. internaci. ciencia política, Monterrey , v. 7, n. 13, p. 15-47, mayo 2011, p.21. 
Disponível em: <http://www.scielo.org.mx/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1870-35692011000100002> 
Acessado em 22 de Abril de 2020. 
143 BOBBIO, Norberto, Op. Cit., p.104. 
144 Ibdem, 103. 
http://www.scielo.org.mx/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1870-35692011000100002
36 
 
 
O texto intitulado “Desobediência Civil” presente em seu “dicionário de política” 
é idêntico ao seu texto sobre desobediência civil em “o terceiro ausente”, sendo que seu texto 
“A resistência a opressão hoje” não apresenta maiores esclarecimentos sobre essas questões, 
sendo um texto que pretende analisar a resistência num âmbito mais geral e não a 
desobediência civil em particular (tratando dela muito rapidamente em sua parte final).145 
 
Por derradeiro, têm-se que mencionar as tipologias que Bobbio usa para enquadrar 
as demais formas de resistência, são elas: a) Omissiva ou comissiva (“não fazer o que é 
mandado (...) ou em fazer aquilo que é proibido”146); b) individual e coletiva; c) Clandestina 
ou pública (“seja preparada e realizada em segredo, (...) ou, então, anunciada antes da 
execução”147); d) pacífica ou violenta (“realizada através de meios não violentos (...) ou com 
armas próprias ou impróprias”148); e) parcial ou total (“voltada para a mudança de uma 
norma ou de um grupo de normas ou até do ordenamento inteiro”149); f) Passiva ou ativa 
(“passiva aquela que se dirige as partes perceptivas da lei e não a parte punitiva(...) ativa, 
aquela que se dirige simultaneamente à parte perceptiva e à parte punitiva da lei”150). 
 
JONH RAWLS E A DESOBEDIÊNCIA EM UMA SOCIEDADE QUASE JUSTA 
 
 
Retomando temas de teoria da justiça na contemporraneidade tem-se Jonh Rawls 
(1921-2002). O autor escreveu “A Theory of Justice”151. Primeiramente, é importante ter em 
mente que o autor somente concebe a desobediência em um Estado em que haja um sistema 
democrático de governo, que seja quase justo e que haja uma constituição a qual os cidadãos a 
aceitam e consideram legitima.152 
 
 
 
145 BOBBIO, Norberto, A Era dos Direitos, Tradução: Carlos Nelson Coutinho, apresentação de Celso Lafer, 
nova ed., Rio de Janeiro, Editora Elsevier, 7ª reimpressão, 2004, p.66/67. 
146 BOBBIO, Norberto, O Terceiro Ausente: Ensaios e discursos sobre a paz e a guerra, organização: Pietro 
Polito, Préfácio a edição brasileira: Celso Lafer, Revisão técnica do texto de Bobbio: Frederico Diehl e 
Valdemar Bragheto Junqueira, Tradução: Daniela Versiani, editora Manole, Barueri, São Paulo, 2009, p.102- 
104. 
147 Ibdem, p.102-104. 
148 Ibdem, p.102-104. 
149 Ibdem, p.102-104. 
150 Ibdem, p.102-104. 
151 GARGARELLA, Roberto As Teorias da Justiça depois de Rawls: Um breve manual de filosofia política. 
Tradução: Alonso Reis Freire,WMF Martins Fontes, São Paulo, 2008, p.1. 
152 TOMÉ, Julio Rawls e a Desobediência Civil Dissertação submetida ao Programa de Pós-Graduação em 
Filosofia da Universidade Federal de Santa Catarina (PPGFIL/UFSC), Florianópolis, 2018, p.98. 
37 
Desse modo, "deve-se salientar que o autor trabalhará com a desobediência 
apenas no âmbito de um Estado democrático, mais ou menos justo, no qual os cidadãos 
reconhecem e aceitam a legitimidade da Constituição".153 Porém, em tal sociedade haveria 
sérios ataques aos princípios de justiça.154 
 
Em caráter primário, deve-se apontar alguns conceitos da teoria política do autor 
que facilitará o entendimento de sua doutrina da desobediência. Em “A Theory of Justice”, 
menciona-se um contrato hipotético (ou acordo hipotético) que é realizado com os indivíduos 
em uma condição originária que o autor denomina de "posição original". Rawls refere-se, 
portanto, a um acordo que seria firmado sobre certas condições ideais e seu objetivo seria 
definir os princípios básicos de justiça.155 
 
Os procedimentos adotados para escolher os princípios básicos da justiça nessa 
posição inicial levariam a tese de Rawls de "justiça como equidade".156 Segundo ele, os 
princípios de justiça imparciais partiriam da escolha de indivíduos "livres, racionais e 
interessadas em si mesmas (não invejosas), colocadas em uma posição de igualdade"157 que 
estariam sob o denominado "véu da ignorância".158 O indivíduo não saberia qual sua posição 
social e todas as suas outras características pessoais e econômicas e de religião, porém teria 
conhecimentos gerais sobre a sociedade humana para poder fazer suas escolhas.159 
Dessa "Posição Inicial", que é puramente hipotética, Rawlstrará dois princípios 
da justiça em sua obra, o primeiro sendo o princípio da liberdade, que consiste em dizer que 
todos os indivíduos devem possuir um direito igual ao mais abrangente sistema de liberdades 
básicas no maior grau possível e que deve ser compatível com o sistema de liberdades básicas 
de todos.160 
 
Além disso, uma liberdade somente poderá ser restringida se com isso o sistema 
de liberdades instituído para todos se fortalecer ou a desigualdade de liberdades for aceita por 
 
153 TOMÉ, Julio Rawls e a Desobediência Civil Dissertação submetida ao Programa de Pós-Graduação em 
Filosofia da Universidade Federal de Santa Catarina (PPGFIL/UFSC), Florianópolis, 2018, p.98. 
154 Ibdem,p.102. 
155 GARGARELLA, Roberto As Teorias da Justiça depois de Rawls: Um breve manual de filosofia política. 
Tradução: Alonso Reis Freire,WMF Martins Fontes, São Paulo, 2008, p.14-15 e 20-21. 
156 Ibdem, p.20. 
157 Ibdem, p.20. 
158 Ibdem, p.21. 
159 TOMÉ, Julio. Op. Cit., p.24-25. 
160 Ibdem, p.27. 
38 
quem teria uma liberdade menor. Por derradeiro, esse princípio esta hierarquicamente superior 
ao segundo, prevalecendo em todos os casos, não importando quais sejam.161 
 
Importante que se diga que Rawls não trata da "liberdade" propriamente dita, mas 
de "liberdades básicas".162 Em verdade, ele parte diretamente para uma análise de exposição 
de quais seriam tais liberdades que os indivíduos teriam acesso163. Deixa-se subentendido que, 
ao dizer que todos os indivíduos devem ter um sistema de liberdades básicas, Rawls busca 
demonstrar que há certos direitos e liberdades que devem estar hierarquicamente superiores 
do que outros direitos e liberdades.164 
 
Não entrando no mérito do porque em sua construção lexical o autor estabelece 
que todos indivíduos teriam direitos iguais a um "sistema de liberdades básicas", embora 
pode-se dizer que faz isso com intuito de deixar claro que não há hierarquia entre esses 
princípios básicos, que parte de um posição de relativa neutralidade (a "posição inicial") e 
para marcar diferenciação entre sua teoria e doutrinas abrangentes como o utilitarismo 
clássico, para o qual não haveria problemas restrição de liberdades para o bem comum do 
população (Rawls foge de concepções utilitaristas).165 
 
Mostra-se importante para nós o fato de que o autor corporifica quais seriam as 
"liberdades básicas" estabelecendo uma lista na qual estão presentes “a liberdade de 
pensamento, a liberdade de consciência, as liberdades políticas e de associação, as garantias 
jurídicas necessárias à proteção da integridade da pessoa, além dos direitos e liberdades protegidos 
pelo Estado de Direito (rule of law)”.166 Por derradeiro, o primeiro princípio trata bastante do 
indivíduo considerado individualmente e não tanto dele em coletividade (tal como o segundo 
princípio).167 
 
 
 
161 TOMÉ, Julio Rawls e a Desobediência Civil Dissertação submetida ao Programa de Pós-Graduação em 
Filosofia da Universidade Federal de Santa Catarina (PPGFIL/UFSC), Florianópolis, 2018, p.27. 
162 ARRAES, Roosevelt Rawls e a prioridade das liberdades básicas Controvérsia – v.2, n.1, p. 55-69 (jan-jun 
2006), Universidade do Vale do Rio dos Sinos (UNISINOS), Rio Grande do Sul, 2006, P.57-58. Disponível em: 
<http://revistas.unisinos.br/index.php/controversia/search/advancedResults> Acesso em 02/05/2020. 
163 Ibdem, p.57-58. 
164 Ibdem, p.57-58. 
165 Ibdem, p.57-58. 
166 Ibdem,p.57. 
167 ROSCHILDT, João Leonardo Marques O princípio da igual liberdade em john rawls: desdobramentos 
formais e materiais INTUITIO, Revista do PPG em filosofia da PUCRS, Porto Alegre, V.2 – Nº ,3 Novembro 
2009 ,pp. 164-179, Rio Grande do Sul, 2009, p.9.Disponível em: 
<http://revistaseletronicas.pucrs.br/ojs/index.php/intuitio/article/view/5996/4553>. Acesso em 02/05/2020. 
http://revistas.unisinos.br/index.php/controversia/search/advancedResults
http://revistaseletronicas.pucrs.br/ojs/index.php/intuitio/article/view/5996/4553
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O segundo princípio divide-se em duas partes. A parte que o autor chama de 
princípio da diferença, que é onde Rawls teoriza sobre a distribuição de renda e riqueza na 
sociedade e sua grande contribuição para a filosofia política. O princípio da diferença parte da 
premissa de que a desigualdade poderia ser benéfica a todos, ou seja, a desigualdade na 
sociedade seria algo justificável apenas na medida em que beneficiasse os membros menos 
favorecidos da sociedade.168 
 
Porém, não somente isso, não adiantaria a desigualdade apenas beneficiar os 
menos abastados, deveria trazer o maior benefício possível para eles. Este é o princípio da 
diferença (equidade distributiva). A outra parte do segundo princípio estabelece que as 
desigualdades econômicas e sociais são unicamente justificáveis se forem ligadas a cargos ou 
"posições" nas quais todos tiveram condições de participar, estabelecendo uma igualdade de 
oportunidades.169 
 
Pois bem, nesta teoria política de Rawls, têm-se três justificativas que o autor 
fornece para a desobediência civil. A primeira é se estiver havendo ataques graves ao primeiro 
princípio (princípio da liberdade ou da igual liberdade); A segunda é quando a razão, a 
justificação e a razoabilidade pública foram deixados de lado e nenhum mecanismo 
institucional surtirá efeito na luta contra as ordenações injustas do governo; A terceira é 
quando o Governo viola, por um período muito longo de tempo, os princípios básicos, em 
especial as liberdades básicas iguais.170 
Assim, "Tende-se a restringir a desobediência civil a sérias infrações do primeiro 
princípio da justiça, da liberdade igual e das gritantes violações da igualdade equitativa de 
oportunidades".171 Ela seria uma forma de dissensão, específica de regimes democráticos, que 
se estabeleceria como último recurso para que a estabilidade da constituição fosse 
assegurada.172 Nesse sentido a desobediência seria "um mecanismo estabilizador da 
democracia liberal, um mecanismo de luta contra as opressões"173 Pode-se dizer, em síntese, 
que: 
 
168 SEN, Amartya A ideia de Justiça, Tradução: Denise Bottman, Ricardo Doninelli Mendes, Companhia das 
Letras, São Paulo, 2011, p. 89-90. 
169 Ibdem, p. 89-90. 
170 TOMÉ, Julio Rawls e a Desobediência Civil Dissertação submetida ao Programa de Pós-Graduação em 
Filosofia da Universidade Federal de Santa Catarina (PPGFIL/UFSC), Florianópolis, 2018, p.98-99. 
171 Ibdem,p.99. 
172 Ibdem, p.101. 
173 Ibdem, p.101. 
40 
 
 
A desobediência civil rawlsiana se apoia em princípios da justiça ditados pelo senso 
comum, cuja obediência pode ser mutuamente exigida entre os homens e as 
mulheres. A desobediência, para Rawls, decorre da concepção pública da justiça que 
caracteriza a sociedade democrática, pois faz parte da teoria do governo livre, e é um 
mecanismo de dissensão que está diretamente ligado à teoria da soberania popular 
(...).174 
 
Rawls, portanto, deixa claro que um ato de desobediência civil deve apelar para a 
ideia de justiça da comunidade política. O "justo" seria mais importante e estaria 
hierarquicamente acima ao "bem", não podendo a desobediência civil se apoiar em 
concepções morais pessoais ou religiosas. É um ato que visa botar em evidências injustiças no 
sistema democrático daquele Estado e resolve-las, não podendo se inspirar em interesses 
privados de grupos privados.175 
Rawls cunha um teoria que atua em três frentes: Primeiramente dá foco na 
definição desta espécie de dissensão e na diferenciação das outras formas de desobediência; 
Na segunda parte, apresenta as razões da desobediência; Por derradeiro, explica o papel deste 
instituto em um Estado Democrático constitucional.176 
 
 
Rawls define a desobediência civil como: “um ato público, não violento, 
consciente e não obstante um ato político, contrário à lei, geralmente praticado com o 
objetivo de provocar uma mudança na lei e nas políticas do governo [...]”177 
 
Assim, dirá Julio Tomé que a DesobediênciaCivil em Rawls seria, como também 
afirma a autora Hannah Arendt “uma violação aberta da lei, sobre a qual, em prol de um 
grupo, desafia-se as leis e as autoridades estabelecidas, por meio de minorias organizadas, 
que de alguma maneira importam quantitativa e qualitativamente, na questão da opinião”.178 
 
Vale fazer algumas considerações finais quanto as definições do autor sobre quais 
seriam as características da desobediência civil. Importante estabelecer que ela seria um ato 
 
174 TOMÉ, Julio Rawls e a Desobediência Civil Dissertação submetida ao Programa de Pós-Graduação em 
Filosofia da Universidade Federal de Santa Catarina (PPGFIL/UFSC), Florianópolis, 2018, p.103. 
175 Ibdem, p.100. 
176 Ibdem, p.102. 
177 RAWLS, John. Uma teoria da justiça. Tradução de Almiro Pisseta e Linita M. R. Esteves. São Paulo: 
Martins Fontes, 1997, §55, p.404 Apud. TOMÉ, Julio Rawls e a Desobediência Civil Dissertação submetida ao 
Programa de Pós-Graduação em Filosofia da Universidade Federal de Santa Catarina (PPGFIL/UFSC), 
Florianópolis, 2018, p.103. 
178 TOMÉ, Julio, Op. Cit., p.103. 
41 
político. Seria um ato político por duas razões: i) Porque é um ato direcionado a maioria 
daquele sistema político; ii) Porque se espelha em princípios políticos que regem a sociedade: 
Os princípios de justiça “que regulam a constituição e as instituições sociais”.179 
 
Sobre isso, também tem-se a lição de Joana de Menezes Araújo da Cruz, 
sintetizada: "Segundo Jonh Rawls, a desobediência civil é um ato político. Rawls a conceitua 
dessa forma por duas razões: Por ser um ato dirigido à maioria política momentaneamente 
no poder e por ser orientada pelos princípios de justiça eleitos na posição original."180 
 
Têm-se que é um ato público também por dois motivos: i) Porque se dirige a 
princípios públicos; ii) Porque é feito em âmbito público, aberto, de modo algum em segredo. 
É “um apelo público, uma expressão de convicção política profunda e consciente, que ocorre 
no fórum público”.181 Também por esse motivo, ela seria um ato que não se utilizaria de 
violência para alcançar seus objetivos.182 
 
Por derradeiro, o autor estabelece que o agente da desobediência deveria se sujeitar as sanções 
impostas pelo sistema, afinal, Rawls não preconizava a mudança radical de sistema de 
governo com a desobediência civil. As sanções e outras leis vigentes que não estavam sendo 
questionadas pelo ato de desobediência seriam total e completamente válidas. Rawls escreve 
que, apesar disso, por todo o caráter do ato as sanções deveriam ser diminuídas ou até mesmo 
suspensas. 183 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
179 TOMÉ, Julio Rawls e a Desobediência Civil Dissertação submetida ao Programa de Pós-Graduação em 
Filosofia da Universidade Federal de Santa Catarina (PPGFIL/UFSC), Florianópolis, 2018, p.103. 
180 CRUZ, Joana de Menezes Araújo da. Desobediência Civil nos Interstícios do Estado de Direito, Editora 
Lumen Juris, 1ª ed., Rio de Janeiro, 2017, p.121. 
181 TOMÉ, Julio. Op. Cit., p.104. 
182 Ibdem, p.104. 
183 Ibdem,p.104. 
	VISÕES DOUTRINÁRIAS CONTEMPORÂNEAS SOBRE A DESOBEDIÊNCIACIVIL
	NORBERTO BOBBIO E AS TIPOLOGIAS DA RESISTÊNCIA
	JONH RAWLS E A DESOBEDIÊNCIA EM UMA SOCIEDADE QUASE JUSTA