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AULA 10: IMUNOLOGIA E CÂNCER Câncer: uma visão geral O câncer não é uma doença única e sim um conjunto de mais de 200 patologias, caracterizado pelo acúmulo progressivo de mutações no genoma das células alteradas. São necessárias de 4 a 7 mutações no genoma das células transformadas para a geração do câncer. O QUE CAUSA O CÂNCER? Célula transformada → tumor “in situ” → câncer E o que pode acontecer depois? Eliminação, evasão, equilíbrio “O tumor pode ser visto como um tecido complexo, com distorção da homeostasia tecidual original, e em que células “normais” são cooptadas a funcionar de acordo com essa nova dinâmica tecidual, ditada principalmente pelas células tumorais” AGENTES CARCINOGÊNICOS Radiação, químicos, vírus, etc. Célula Proto-oncogene → oncogene Mutação p53 Descontrole dos fatores de crescimento Alteração na produção da proteína (proteína mutada, ausente, excessiva) Descontrole do ciclo celular Crescimento de célula indiferenciada CÂNCER ONCOLOGIA EM CÃES E GATOS: ABORDAGEM E SUPORTE Oncologista: profissional que tem pelo menos 3 bases que orientam seu serviço → clínica, patologia e cirurgia Câncer: doença de origem genética → mutações sequenciais em genes específicos Etapas 1) Abordagem clínica 2) Diagnóstico 3) Estadiamento (tratamento e prognóstico) 4) Tratamento ABORDAGEM DO PACIENTE COM CÂNCER Anamnese e exame físico Investigar síndromes paraneoplásicas Investigar metástases (Rx, US abdominal) Estadiamento da neoplasia Sinais de alarme Feridas de pele que não cicatrizam Alterações dos hábitos intestinais (constipação/diarreia) ou urinários Sangramento não usual; expectoração, fezes ou urina com sangue Endurecimento ou inchaço localizado Dificuldade de deglutir Alterações do tamanho, cor, textura ou forma de “verrugas” ou sinais da pele Tosse persistente Perda de peso rápida e acentuada sem explicação Anamnese Quando observou o tumor pela primeira vez? Qual a velocidade de crescimento? (Crescendo muito rápido, crescimento gradativo) Castrado? Administração de hormônios (“anticoncepcional” – bomba de estrógeno - mama) Tratamentos prévios? Houve resultados? (Corticoide – adjuvante no protocolo de linfoma e leucemia por ter ação linfocitolítica – causando imunossupressão) (tumor expressa antígenos tumorais e é reconhecido pelo sistema imune – alguns pacientes não conseguem combater porque alguns tumores param de expressar antígenos tumorais ou produzem citocinas relacionadas a inflamação que levam o organismo do animal a um quadro de imunossupressão) Exposição solar intensa? (Carcinoma) Vacinado? (Sarcomas por aplicação) Acesso à rua? (TVT) Exame clínico Tamanho e mobilidade Eritema, ulceração Auscultação/ palpação abdominal Envolvimento de estruturas adjacentes (tumores de tecidos moles tendem a fazer metástase em estruturas adjacentes) Fazer citologia do máximo de tumores possíveis Diagnóstico por imagem Neoplasias intracavitárias Comprometimento ósseo Efusões (tumores torácicos podem cursar com efusão pleural, tumores cardíacos podem cursar com efusões pericárdicas) Mapear todos os nódulos (Para realizar um comparativo e acompanhamento de tamanho) INVESTIGAÇÃO DE METÁSTASES Palpar linfonodos → citologia Exame radiográfico de tórax: 3 incidências (LLE, LLD e VD) Ultrassom abdominal: fígado, baço (órgãos extremamente irrigados e susceptíveis a metástases) ESTADIAMENTO (procurar metástases próximas e distantes) Organização Mundial da Saúde (OMS) Determinar a extensão da doença (se a doença está só em um local ou já está em outros locais) Específico para cada neoplasia Tamanho do tumor/ número de lesões/ presença de metástases Interfere e influencia diretamente no prognóstico e tratamento Classificação T (tumor) N (nódulo) M (metástases) T: tumor primário N: linfonodos sentinelas/adjacentes à neoplasia (classificado como N0 – sem metástase e N1 – com metástase) M: metástase a distância → fígado, baço, pulmão (classificado como M0 – sem metástase e M1 – com metástase) Cada letra tem uma numeração Escalas para T é a que mais altera porque é classificada de acordo com o tamanho, quanto maior, maior a escala (T1, T2, T3, T4) DIAGNÓSTICO Biópsia Citologia aspirativa por agulha fina (CAAF) (não é um exame confirmativo – avalia apenas as características celulares) Excisional (retirada de todo o nódulo) ou incisional (retirada de apenas um fragmento) (histopatológico – avalia um conjunto de células – tecido – diagnóstico definitivo) TRATAMENTO Cirurgia Radioterapia, quimioterapia Cuidados paliativos Síndromes paraneoplásicas Cuidados paliativos Suporte nutricional, controle da dor Suporte nutricional Perda de mais de 10% de peso corpóreo Anorexia por mais de 3 dias Perda intensa de nutrientes (emese/diarreia) Hipoproteinemia Como driblar a hiporexia Controle a dor Alimente o paciente com a mão, insista para que ele se alimente Esquente o alimento antes de oferecê-lo Acrescente algum alimento com odor atrativo Troque o recipiente (profundidade e material) Recomendações nutricionais para cães e gatos com câncer Recomendações Proteína bruta Carboidratos Gordura Ácidos graxos w-3 Arginina Fibra bruta Cães 30 a 45% < 25% 25 a 40% > 5% > 2,5% > 2,5% Gatos 40 a 50% < 25% 25 a 40% > 5% > 2,5% > 2,5% Restrição importante de carboidratos e aumento de proteínas Ração de filhote Óleo de peixe: 100mg/kg SID – capacidade anti-inflamatória extremamente importante Recovery® USO DE SONDA Recomendado para pacientes desnutridos ou com alto risco de desnutrição, quando as necessidades nutricionais são podem ser alcançadas por via oral O trato gastrintestinal deve estar funcional Sonda nasogástrica: máximo 10 dias (cachorros pequenos e gatos) Sonda esofágica (substituir a cada 45-60 dias): cães de médio e grande porte (não indicado quando há risco anestésico) Gastro-tubo: quando houver comprometimento do caminho para as outras sondas (peritonite é a principal consequência) CONTROLE DA DOR O alívio da dor é uma obrigação ética Reconhecimento da dor Sensibilidade na palpação Proteger a área injuriada Atenção a área da ferida Agressividade, ansiedade, depressão, submissão Redução no apetite Classificação fisiológica da dor Somática Danos a ossos, músculos, pele Localizada e constante Visceral Alongamento, distensão ou inflamação Sem localização precisa Neuropática Envolvimento do sistema nervoso central ou periférico Compressão ou invasão de nervos Intensidade da dor Dor leve Desapercebida/ não tratada Dor moderada Alterações de comportamento, apetite e atividade Resposta à palpação Dor severa → intolerável Vocalização: choro, uivo, gemido Aumento de batimentos cardíacos, frequência respiratória, midríase, sudorese, salivação TRATAMENTO DA DOR Dor severa: opióide forte, AINE’s Dor moderada: opióide, AINE’s Dor leve: dipirona, AINE’s AINE’S Cães Gatos Acetaminofeno (Tylenol®) 10 - 15mg/kg PO/BID Não Acetaminofeno + codeína (Tylex®) 10 - 15mg/kg PO/BID Não Piroxicam (Feldene®) 0,3mg/kg PO – 24 - 48h 0,3mg/kg PO/SID ou BID 1mg/gato PO/SID (máx. 7 dias) Meloxicam (Maxicam®) 0,1 - 0,2mg/kg PO/SID 00,5 – 0,1mg/kg PO/SID Firocoxib (Previcox®) 5mg/kg PO/SID Não Carprofeno (Rimadyl®) 4,4mg/kg PO/SID Não recomendado por via oral Cetoprofeno (Ketofen®) 1mg/kg PO/SID 0,5 – 1mg/kg PO/SID Gabapentina (Neurotin®) 2 - 40mg/kg PO/SID 2 – 40mg/kg PO/SID Amitriptilina (Amytril®) 0,5 – 2mg/kg PO/SID 5 – 10mg/kg PO/SID Pamidronato (Aredia®) 1 – 2mg/kg durante 2h IV ou SC 0,1mg/kg SC / 0,05– 0,1mg/kg PO/SID Opióides Cão Gato Butorfanol (Temgesic®) 0,5 – 2mg/kg PO/TID 0,5 – 2mg/kg PO/TID Tramadol (Tramal®) 2 – 4mg/kg PO/TID 2 – 4mg/kg PO/TID Morfina (Dimorf®) 1mg/kg PO/TID Não recomendado por via oral Oxicodona (Oxycontin®) 0,1 – 0,3mg/kg PO/TID Não Corticoide ou AINE? Corticoide pode induzir a resistência a múltiplas drogas por atuar numa estrutura celular chamada glicoproteína P (a quantidade de medicação que entra na célula é controlada pela glicoproteína P) quando a glicoproteína é sensibilizada ela para de controlar o que entra e sai e passa a jogar todo o medicamento para fora da célula Deixar para usar corticoides quando ele for necessário no tratamento Tranquilizantes Cão Gato Acepromazina (Acepram®) 0,5 – 2mg/kg PO 0,1 – 2mg/kg PO Diazepam (Valium®) 0,5 – 2,2mg/kg PO 0,5 – 2,2mg/kg PO Midazolam (Dormonid®) 0,1 – 0,25mg/kg IV ou IM 0,05 – 0,25mg/kg IV ou IM SÍNDROMES PARANEOPLÁSICAS Conjunto de sinais e sintomas que antecedem ou que ocorrem concomitantemente ao câncer e que não são relacionados diretamente com a invasão, obstrução ou presença de metástases Aparecimento de sinais distantes da neoplasia primária O tumor libera substâncias que vão causar o aparecimento de sinais longe do tumor primário Exemplo: mastocitoma – liberam histamina – estômago aumenta a produção de HCl – gastrite e úlceras gástricas Anemia/ trombocitopenia Hipercalcemia Hipoglicemia Caquexia/ anorexia Alopecia Febre ANEMIA Doença crônica → mais comum Hemolítica imunomediada Perda (tumor ulcerado) / sequestro (baço) Linfoma, mastocitoma, hemangiossarcoma Fator limitante da quimioterapia (se o animal estiver anêmico não tem como fazer quimioterapia) Diminuição da sobrevida das hemácias Defeito da mobilização/utilização do ferro Resposta medular eritropoiética inadequada Aumento da síntese de ferritina (IL-1, IFNα) Síntese inadequada de EPO frente a anemia (IL-1, TNFα, TGFβ) Mecanismo (s) desconhecido (s) (IL-1, TNF α) Aumento da síntese dos receptores solúveis da transferrina Inibição dos progenitores eritrocitários (IL-1, TNFα, IFNγ) Outros mecanismos (TNFα, IL-1) Diminuição da expressão dos receptores da EPO (IFNγ) EPO (eritropoetina), IFN (interferon), IL (interleucina), TNF (fator de necrose tumoral), TGF (fator de crescimento de transformação) TROMBOCITOPENIA Destruição plaquetária Redução da produção Linfomas, leucemias, sertolioma, hemangiossarcoma Hemoparasitoses HIPERCALCEMIA Mieloma múltiplo, carcinoma de saco anal e linfoma O tumor produz substancias semelhantes ao paratormônio (PTHrp) tirando cálcio dos ossos e jogando na corrente sanguínea Sinais clínicos Neurológicos: diminuição da capacidade cognitiva, coma Gastrintestinais: anorexia, náusea, emese Cardíacos: bradicardia, arritmias Renais: incapacidade de concentrar urina (calcificação) Anorexia, fraqueza, poliúria, polidipsia Tratamento Tratamento indicado quando o cálcio dosado estiver acima de 18mg/dL Hidratação Furosemida: 5mg/kg in bolus Glicocorticóides: reduzir a absorção intestinal Medicamentos anti-reabsortivos (inibem a retirada de cálcio dos ossos) Bisfosfonatos (utilizado em neoplasias ósseas para diminuir a reabsorção óssea): efeito apoptótico e antiproliferativo sobre os osteoclastos Pamidronato (Aredia®): 1,3mg/kg IV Alendronato (Fosamax®): 0,5 a 1mg/kg SID O paciente deve ser hospitalizado imediatamente Controle da hipercalcemia: dar tempo ao tratamento antineoplásico Prognóstico desfavorável Eutanásia
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