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Síndrome Compartimental Abdominal Cirurgia Geral e Suas Especialidades - Aula 17/ 02/ 2021 Introdução: A PIA é definida como a pressão uniforme e oculta no interior da cavidade abdominal, oriunda da interação entre a parede abdominal e as vísceras em seu interior, oscilando de acordo com a fase respiratória e a resistência da parede abdominal. O valor fisiológico no adulto é de até 5 mmHg, no entanto, em pacientes com condições alteradas sem significado fisiopatológico, como em obesos, pode oscilar entre 10 a 15 mmHg; nos pacientes críticos, considera-se entre 5 a 7 mmHg. Considera-se hipertensão intra-abdominal (HIA) quando, após três mensurações com intervalos de 4 a 6 horas, a PIA encontra-se aumentada > 12 mmHg. Por ser gradual, pode evoluir para a síndrome compartimental abdominal (SCA) quando ocorre a manutenção da PIA em níveis maiores que 20 mmHg, associada a alterações ou à falência orgânica. Elevação sustentada ou repetida da pressão intra-abdominal (PIA) > 12 mmHg (hipertensão intra-abdominal), com ou sem uma pressão de perfusão abdominal < 60 mmHg e que está associada a novas disfunções/ lesões de órgãos. Pacientes com PIA > 25 mmHg têm maior risco de desenvolver a síndrome e se manifestam geralmente com efeitos pulmonares (aumento da pressão pulmonar), cardiovasculares (aumento da resistência vascular sistêmica) e urinários (oligúria). A elevação da PIA leva a uma disfunção multissistêmica. Com esse aumento, ocorrerá uma hipoperfusão do intestino e, consequentemente, uma hipofunção do TGI . PPA (pressão de perfusão abdominal) = PAM (pressão arterial média - PIA (pressão intra-abdominal) Se a PIA for igual a PAM a perfusão será igual a zero. O ideal é que a PPA seja maior que 50 mmHg. Já se a PPA for menor que 50 mmHg não haverá uma irrigação adequada do intestino, tendo que ser realizada uma Laparotomia descompressiva. Quando ocorre o aumento da pressão abdominal, pelo diafragma uma parte da pressão atinge o tórax. Como consequência, haverá problemas respiratórios e cardíacos. Se a pressão subir muito, haverá uma alta na pressão intratorácica, atrapalhando a ventilação do paciente. Além de acontecer uma dificuldade em ocorrer o retorno venoso do cérebro, também aumentando a pressão cerebral. A Hipertensão Intra-Abdominal (HIA) hiperaguda refere-se à elevação da PIA por alguns segundos, devido ao risco, tosse, espirro, defecação ou atividade física. A HIA aguda ocorre por horas, sendo resultado de um trauma ou hemorragia, podendo também levar à síndrome. A HIA subaguda aparece ao longo de dias, podendo também levar a síndrome. Por fim, a HIA crônica aparece aparece durantes meses (gestação) ou anos (obesidade mórbida); geralmente não causa a síndrome, mas o paciente tem maior risco, se desenvolver uma HIA aguda. A síndrome compartimental primária é decorrente de uma lesão, doença ou intervenção na região abdominal. Já a secundária se refere a condições que não se originam no abdome ou pelve, por exemplo, reposição volêmica, sepse, queimaduras. O compartimento abdominal possui complacência limitada e, quando é exercida uma pressão acima da fisiológica, ocorre alteração da perfusão tecidual, com possível desenvolvimento de isquemia e alterações circulatórias importantes. Hipoperfusão do TGI: PIA > 10 mmHg ↓ Fluxo Hepático ↓ Fluxo Veia Porta PIA > 20 mmHg ↓ Fluxo Artéria Mesentérica Sup. ↓ Fluxo da Mucosa intestinal * acima de 40 mmHg Fatores de risco: Diminuição da complacência da parede abdominal: cirurgia abdominal, trauma, queimaduras; Aumento do conteúdo intraluminal: distensão gástrica, íleo paralítico, pseudo-obstrução; Aumento do conteúdo abdominal: hemoperitônio, infecção ou abscesso intra-abdominal, gravidez (crônica), edema visceral, ascite (crônica); Reposição volêmica importante, controle de danos; Outras: coagulopatia, reparo de hérnia incisional, obesidade central (crônica). Patogênese: Ciclo vicioso da SCA: Fisiopatologia: Repercussões pulmonares: Qualquer variação da pressão intra-abdominal que fique entre 16 - 30 mmHg, levará a uma elevação da cúpula diafragmática, como consequência, o pulmão terá dificuldades de se expandir e poderá desenvolver áreas de atelectasia pulmonar. Existem diversas manifestações clínicas, como, aumento do CO2, hipertensão pulmonar, diminuição da complacência, diminuição do retorno venoso e consequentemente, do débito cardíaco, além de haver um aumento da resistência vascular sistêmica e pulmonar. Repercussões Cardiovasculares: Pode ocorrer disfunções a partir do momento que a PIA do paciente ficar entre 16 - 30 mmHg. Por conta da diminuição do retorno venoso, haverá uma diminuição da pré-carga, levando a uma diminuição do débito cardíaco, seguido de um aumento da resposta vascular sistêmica e uma queda do retorno venoso. Além de um aumento da pressão venosa central (PVC) por conta do aumento da pressão torácica. ↓ Retorno venoso → Diminuição da pré carga → choque → queda do débito cardíaco → aumento da resistência vascular periférica (RVS) → ↑ PVC por aumento da pressão torácica Repercussões Renais: Quando a PIA chega aos 16 mmHg já à uma disfunção renal, diminuindo o volume de urina (oligúria), no momento em que chega a 30 mmHg o rim praticamente não funciona mais, ele para de filtrar e gera um quadro de anúria. Essa manifestação é desencadeada por conta do aumento da resistência vascular renal e uma diminuição na queda na taxa de filtração glomerular, Síndrome Compartimental Renal, geralmente a sua causa é pré-renal. Além de haver um aumento de pressão na veia renal, levando a um aumento sérico de renina e aldosterona. Repercussões Gastrointestinais: Haverá uma redução do fluxo sanguíneo esplâncnico e hipertensão venosa mesentérica. Essas manifestações, podem levar a uma translocação bacteriana, pois ocorre, diminuição do fluxo, aumento da pressão e má irrigação intestinal. Sendo assim, o paciente pode evoluir para uma sepse. Repercussões da Parede Abdominal: A parede abdominal quando muito distendida por conta do aumento da PIA, pode ter uma redução do fluxo sanguíneo para o músculo reto abdominal. Diagnóstico: A medida indireta e menos invasiva da PIA é realizada pela bexiga. São injetados 25 mL de solução salina na bexiga vazia, enquanto isso o cateter está associado a um aparelho medidor de pressão. No momento da expiração final a pressão é medida, o paciente fica em posição supina. A pressão de perfusão abdominal e a pressão arterial média são menores que a PIA. Também pode se usar um transdutor, essa é uma forma direta de se medir a PIA, sendo um método pouco usado por ser muito invasivo. Os exames de imagem não são muito úteis para diagnóstico nesses casos, uma radiografia de tórax pode mostrar volumes pulmonares diminuídos, atelectasias ou hemidiafragmas elevados. A TC de abdome pode mostrar compressão extrínseca da veia cava inferior, compressão ou deslocamento do rim, espessamento da parede intestinal ou hérnia inguinal bilateral. Classificação: Grau I: 10 - 15 mmHg Grau II: 16 - 25 mmHg Grau III: 26 - 35 mmHg Grau IV: > 35 mmHg Tratamento: O tratamento se baseia nos cuidados de suporte e, se necessário, na descompressão abdominal. Suporte: Deve-se evitar a hiper-hidratação após a reanimação inicial; liberação de conteúdos intra-abdominais, como, hematoma e ascite; colocar o paciente em decúbito dorsal (a cabeceira elevada aumenta a pressão intra-abdominal); melhorar a complacência abdominal (controle da dor, sedação ou paralisia química). Promover suporte ventilatório e hemodinâmico. Não administrar volume em excesso, porém alguns pacientes se beneficiam de administração de certo volume, porque melhora o débito cardíaco, o fluxo sanguíneo renal, produção de urina e perfusão visceral. Descompressão abdominal: A maioria dos cirurgiões realiza a descompressão e mantém o abdome fechado de forma temporária. A descompressão percutânea pode ser eficaz e é menos invasiva, quando há líquido ou sangue na cavidade. Não há um padrão certo de para quais pacientes a descompressão cirúrgica é indicada, porém,na prática, algumas abordagens são feitas para: - Paciente com PIA > 25 mmHg; - Determinar a indicação de acordo com a pressão de perfusão abdominal (PPA) - PPA < 50 mmHg foi preditor de mortalidade, de acordo com um estudo. Peritoneostomia profilática, laparotomia descompressiva, drenagem percutânea, escarotomia. Em casos de complicações da Laparotomia Descompressiva